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CAPACITISMO, ENSINO E O DECRETO 10.502 Amós Santos medeiros Resumo O presente trabalho tem como tema Capacitismo, ensino e o decreto 10.502. Tendo como objetivo falar sobre a situação das pessoas com deficiência no Brasil e como o atual contexto aprofundou desigualdades que já existiam, como a falta de acesso a determinados espaços e serviços básicos, discutindo as implicações do decreto 10.502 de 30 de setembro de 2020 que abre brechas para a manutenção de comportamentos institucionais de segregação. Além disso, o presente texto faz um apanhado histórico da intolerância e discriminação de pessoas com deficiência tendo como metodologia a revisão bibliográfica por meio da qual fora coletadas as informações necessárias para o seu desenvolvimento. Palavras chave: Capacitismo, pandemia, ensino, acessibilidade, história. Capacitismo, ensino e o decreto 10.502 Capacitismo, segundo Mello: Alude a uma postura preconceituosa que hierarquiza as pessoas em função da adequação dos seus corpos a uma corponormatividade. É uma categoria que define a forma como as pessoas com deficiência são tratadas de modo generalizado, como incapazes de produzir, de trabalhar, de aprender, de amar, etc. (MELLO, 2016, p. 3272) O capacitismo então, seria a discrimação praticada contra esses indivíduos, ao tratá-los como incapazes de gerir suas próprias vidas ou ocuparem determinados espaços. Foi no século XIX que se criou uma explicação "científica" para justificar a intolerância à deficiência, através da figura de Francis Galton, pai da teoria eugenista, a qual defendia a existência de corpos geneticamente perfeitos dentro de um modelo estético europeu de civilização. Essa teoria é apropriada posteriormente pelo Nazismo, que se encarregou de desenvolver políticas de esterilização e extermínio dessa parcela da população na Alemanha. O século XIX também é quando o mundo está inserido no processo da revolução industrial, quando as relações passam a ser pensadas em termos de produtividade. Tem-se aí a emergência de um discurso biomédico que cataloga os indivíduos de acordo com o quanto podem produzir, criando-se um binarismo bem demarcado entre norma e desvio, e os corpos de PCDs (pessoas com deficiência) não se encaixam no ideal produtivo de uma sociedade capitalista estabelecida. No Brasil, segundo o censo de 2010, aproximadamente 24% da população declara ter algum tipo de deficiência (quase 46 milhões de brasileiros). A estas pessoas sempre são negados direitos fundamentais como saúde, educação e trabalho, que em teoria seriam garantidos por lei a qualquer cidadão, mas para a população PCD, ainda é uma realidade com diversos obstáculos como discriminação, falta de mobilidade urbana e escassas vagas de emprego. Com a chegada da pandemia a situação de desigualdade se agravou. No campo do ensino observa-se o abismo estrutural e a falta de assistência governamental ao chamado público alvo da educação especial (PAEE) que deveria contar com o apoio do atendimento educacional especializado: serviço formado por profissionais habilitados em parceria com os professores. Contudo, mesmo que existam esses profissionais, o poder público não disponibiliza recursos suficientes para a manutenção dessa educação especializada em diversas escolas, como a compra de aparatos tecnológicos e infraestrutura para auxiliá-los no desenvolvimento de suas atividades. Consequentemente, no ensino remoto, observa-se a dificuldade de aprendizado dos alunos que não conseguem se adequar a essa modalidade, seja porque precisam de assistência mais direta do auxílio educacional especializado (AEE), seja porque não possuem apoio material dentro de suas casas. Além disso, muitas vezes, os pais não são habilitados para ajudar esses jovens nos procedimentos escolares. Outro retrocesso em relação à educação das pessoas com deficiência foi o decreto nº 10.502 de 30 de setembro de 2020 (criado durante a pandemia) que institui a política nacional de educação especial. No CAPÍTULO II DOS PRINCÍPIOS E DOS OBJETIVOS, art.3 no item VI está escrito que “haverá participação de equipe multidisciplinar no processo de decisão da família ou do educando quanto à alternativa educacional mais adequada”. O problema reside no próprio corpo multidisciplinar que não existe dentro das instituições, não há um conjunto de profissionais como psicopedagogos, fonoaudiólogos entre outros, capacitados para analisar e permitir uma escolha digna à família. Observando-se este fato, o decreto parece tentar tirar a responsabilidade governamental das escolas e colocá-la no próprio indivíduo e em sua família, que acaba optando por escolher uma escola especializada. Isso leva a crer que, se a escola não atende a demanda do aluno, deve-se procurar outra instituição que atenda essa demanda ao invés de mobilizar recursos para garantir a inclusão. Importante destacar que as escolas regulares muitas vezes já carecem de estrutura para receber esses estudantes e mesmo que por lei não possam negar matrícula, ainda há muitas que o fazem. O decreto abre brechas para a manutenção desse comportamento, além disso o governo diz haver uma escolha quando, na verdade, não se investe nas escolas para atender esse público, limitando as opções, impedindo a convivência com a diversidade e dificultando a quebra de preconceitos dentro do ambiente escolar ao segregar pessoas com e sem deficiência no processo educacional. Assim sendo, o decreto 10.502 vai contra qualquer ideia de escola inclusiva. É importante salientar que a deficiência não se define somente pela lesão, mas também é construída na relação indivíduo e sociedade. De fato, pessoas com deficiência vivem em um mundo que não os abraça em vários âmbitos, seja na mobilidade urbana, escola, trabalho e até mesmo em família. Fazendo-se necessária não só a tomada de consciência por outros membros da sociedade, mas também a criação e a prática real de políticas públicas para permitir a existência desses corpos em ambientes deficientes de acessibilidade. Referências BRASIL. Decreto-lei no 10.502, de 30 de setembro de 2020. LEX: Presidência da República Secretaria-Geral Subchefia para Assuntos Jurídicos. DIAS, Adriana. Por uma genealogia do capacitismo: da eugenia estatal à narrativa capacitista social. São Paulo, 2013. MELLO, Anahi Guedes. Deficiência, incapacidade e vulnerabilidade: do capacitismo ou a preeminência capacitista e biomédica do Comitê de Ética em Pesquisa da UFSC. Ciência e saúde coletiva, 2016. OLIVEIRA, Marinalva Silva; SILVA, Maria do Carmo Lobato. O aprofundamento do capacitismo na pandemia. 6. ed: Revista trabalho política e sociedade, 2021. PESSOAS com deficiência. IBGE. Disponível em: Pessoas com deficiência | Educa | Jovens - IBGE. Acesso em: 14/08/2021. LEME, Fabiana. Entendendo a nova Política Nacional de Educação Especial - Decreto 10.502 de 30 de Setembro de 2020. 2020. (17:41). Disponível em: <(93) Entendendo a nova Política Nacional de Educação Especial - Decreto 10.502 de 30 de Setembro de 2020 - YouTube>. Acesso em 14 ago. 2021. PATRON, Lau. O futuro anti-capacitista: curar preconceitos e celebrar diversidades. 2020. (15m 3s). Disponível em: <(93) O futuro anti-capacitista: curar preconceitos e celebrar diversidades | Lau Patron | TEDxSaoPaulo - YouTube>. Acesso em: 14 ago . 2021. https://educa.ibge.gov.br/jovens/conheca-o-brasil/populacao/20551-pessoas-com-deficiencia.html https://educa.ibge.gov.br/jovens/conheca-o-brasil/populacao/20551-pessoas-com-deficiencia.html https://www.youtube.com/watch?v=byZ2VYRyxzc https://www.youtube.com/watch?v=byZ2VYRyxzc https://www.youtube.com/watch?v=byZ2VYRyxzc https://www.youtube.com/watch?v=0XEZmh86EhE https://www.youtube.com/watch?v=0XEZmh86EhE
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