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Júlia Figueirêdo – FADIGA, PERDA DE PESO E ANEMIAS ANEMIA MEGALOBLÁSTICA: A anemia megaloblástica é uma das representantes das anemias macrocíticas, nas quais alterações morfológicas atingem precursores de todas as linhagens sanguíneas. Nessa condição, um achado clássico é o assincronismo do desenvolvimento do núcleo e citoplasma, criando células grandes, com cromatina reticulada. A síntese de RNA ocorre mais rápido do que a divisão celular. As principais causas para esse tipo de anemia são a carência de vitamina B12 (cobalamina) ou de ácido fólico (folato). Para a primeira substância, a anemia também pode ser chamada de perniciosa quando o organismo é totalmente incapaz de absorver a cobalamina. ETIOPATOGENIA: Para que a fisiopatologia dessa manifestação de anemia seja compreendida, é necessário relembrar algumas informações sobre os nutrientes envolvidos: Vitamina B12: presente principalmente em proteínas, é liberada ainda no estômago e quebrada no duodeno, onde se liga ao fator intrínseco (produzido por células parietais), facilitando sua absorção. Sua importância reside no metabolismo dos ácidos nucleicos, no qual desempenha papel crucial para a síntese das purinas, e na formação de succinil- CoA. Papel da cobalamina no organismo Folato: encontrados majoritariamente em vegetais e na proteína animal, apresenta absorção intestinal complexa, que depende de processos de metilação e redução, formando THF (tetraidrofolato), capaz de atuar em processos de síntese do DNA. Com o impacto direto sobre a replicação do material genético, a anemia megaloblástica induz erros diversos na formação de diversas células, não estando restrita ao sangue. Pode ocorrer atrofia de células epiteliais do TGI, criando um círculo vicioso de mal absorção, interrompido só com o tratamento. Origens da deficiência de vit. B12 e folato Júlia Figueirêdo – FADIGA, PERDA DE PESO E ANEMIAS ACHADOS CLÍNICOS: Ainda que conte com múltiplos casos assintomáticos, o quadro clínico causado pela carência de vitamina B12 e de folatos é bastante parecido, com sintomas comuns à anemia crônica. No entanto, uma diferença é bastante perceptível, a presença de comprometimento neurológico na deficiência de cobalamina. O paciente com esse tipo de anemia aparenta estar muito doente, apresentando aspecto envelhecido, icterícia, perda de peso e anorexia. A glossite (língua lisa e avermelhada) é comum. Se a anemia tem origem autoimune, pode ser observado aumento da tireoide, ao passo que manifestações graves cursam com esplenomegalia leva, resultado da hematopoese extramedular. Língua afetada por glossite Na deficiência de vitamina B12, os sintomas neurológicos resultam de um processo de desmielinização de colunas medulares, associado ou não à anemia. Evidenciam-se: Parestesia com distribuição em bota e luva; Fraqueza muscular; Espasticidade; Distúrbios da marcha e ataxia; Impotência e incontinência de esfíncteres; Labilidade emocional; Distúrbios cognitivos. DIAGNÓSTICO: Na abordagem ao paciente com suspeita de anemia megaloblástica, é importante diferenciá-la de outras anemias macrocíticas, para, em seguida, determinar o nutriente em carência e, por fim, identificar o causador desse déficit. Evidenciam-se, como principais exames laboratoriais usados na investigação do quadro, os seguintes: Hemograma: podem ocorrer alterações em todas as três séries, destacando-se a macrocitose de hemácias (VCM > 110 fl), com poucos reticulócitos. Alguns dos sinais de maior acurácia diagnóstica são a hipersegmentação de neutrófilos e a presença de macrovalócitos (eritrócitos ovais e dilatados). Esfregaço periférico na anemia megaloblástica, com macrovalócitos (A) e neutrófilos com núcleo muito segmentado (B) Esfregaço medular: ocorre hiperplasia, com domínio de precursores eritroides. Destaca-se a presença do A atrofia gástrica pode induzir o desenvolvimento de anemia ferropriva por meio da menor absorção de ferro não heme (redução na produção de ácido clorídrico) Júlia Figueirêdo – FADIGA, PERDA DE PESO E ANEMIAS megaloblasto, com cromatina semelhante a uma “peneira”. Há também alterações na Leucopoese, ao passo que a síntese de plaquetas é pouco afetada. Megaloblastos (setas) em várias etapas de diferenciação Dosagem de cobalamina e folato: a análise busca inicialmente por níveis séricos baixos dessas substâncias. Para o folato, esse teste é suficiente, porém, para a cobalamina, é necessária a avaliação de metabólitos do ácido metilmalônico ou de homocisteína; Fluxograma de investigação laboratorial da anemia megaloblástica causada pela cobalamina Autoanticorpos: a identificação de anticorpos antifator intrínseco ocorre em até 70% dos pacientes com anemia perniciosa, apresentando especificidade > 95%. Etapas diagnósticas para a detecção de deficiência de vitamina B12 TRATAMENTO: Assim como na anemia ferropriva, o objetivo do manejo da anemia megaloblástica é o reabastecimento dos estoques de folato e cobalamina. No entanto, cada um desses nutrientes deve ser reposto de forma diferente, a saber: Correção da deficiência de ácido fólico: o controle é feito por via oral, normalmente com dose diária de 1 mg dessa substância (respostas favoráveis na maior parte dos pacientes), mantida por um mês. Correção da carência de vitamina B12: a forma mais usada é a reposição parenteral de 1000 mcg de cobalamina (intramuscular) por semana, durante 4 semanas, seguidas por injeções mensais, mantidas até a resolução da causa-base. A reposição por via oral segue como um tratamento de exceção, com doses que variam de 500 a 2000 mcg/dia. A eritropoese ocorre de modo ineficiente, o que é refletido no aumento dos estoques de ferro na medula óssea. Esse processo também gera elevação da bilirrubina indireta (impacto da hemólise) A endoscopia digestiva alta pode ser usada para identificar anemias de origem atrófica associadas ao estômago Júlia Figueirêdo – FADIGA, PERDA DE PESO E ANEMIAS A avaliação da resposta terapêutica deve ser feita por meio de exames laboratoriais, que indicam correção dos níveis de Hb em cerca de 4 a 8 semanas. A diminuição no número de megaloblastos medulares ocorre bastante rápido, com correções sendo observadas em 10 horas após o tratamento. Respostas positivas ao teste terapêutico com vitamina B12 confirmam o diagnóstico de anemia por deficiência, ao passo que resultados subótimos frequentemente sugerem outra etiologia associada.
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