Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Situação Problema 09 – SP09 OBJ 1: Classificar os agrotóxicos de acordo com o mecanismo de ação, natureza da praga combatida e classe toxicológica (DL50). AGROTÓXICOS No Brasil o consumo de pesticidas aumentou bastante, transformando o país em um dos líderes mundiais em consumo, o qual passou a ocupar o quarto lugar neste mercado (CANTARUTTI, 2005; FARIA; FASSA; FACHINI, 2007). Em consequência, a população está mais exposta, principalmente por meio do consumo de alimentos de origem agropecuária, bem como pelo contato direto em aplicadores rurais ou manipuladores, além de tentativas de suicídio, ou por contato indireto, como em populações que necessitam da aplicação de agrotóxicos para o controle de vetores das endemias (ANVISA, 2002). Os pesticidas recebem diversas classificações quanto à sua natureza química e função, podendo ser divididos em acaricidas, antimicrobianos, avicidas, fungicidas, herbicidas, inseticidas, moluscicidas e piscicidas. Além disso, podem ser classificados de acordo com sua estrutura química em orgânicos ou inorgânicos. Os inseticidas orgânicos conforme seu mecanismo de ação, podem ser divididos em inibidores da colinesterase (organofosforados e carbamatos), piretrinas e piretroides e organoclorados (OGA, 2003; FENIK et al., 2011). Os inseticidas inorgânicos são aqueles que não contêm nenhum átomo de carbono em sua estrutura química e podem ser classificados em arsenicais (arsênico branco, arseniato de alumínio, cálcio e chumbo), fluorados (criolita, fluoreto de sódio) e miscelânea (calda sulfo cálcica, sulfatos, carbonatos). São pouco utilizados devido ao alto risco ao meio. Referência: Revista Facmais CLASSIFICAÇÃO DOS AGROTÓXICOS Os agrotóxicos podem ser classificados, de acordo com a praga a que se destinam, como • inseticidas (contra insetos em geral), • larvicidas (contra larvas de insetos), • formicidas (contra formigas), • acaricidas (contra ácaros de plantas) • carrapaticidas (contra Garrapatos de animais), • nematicidas (contra nematóides parasitas de plantas, que formam nodulos ou "galhas" nas raízes), • moluscicidas (para combate a moluscos), • rodenticidas (para combate a roedores em geral), • raticidas (para combate a ratos, em particular), • avicidas (para controle de algumas aves comedoras de sementes), • fungicidas (contra fungos), • herbicidas (contra ervas daninhas e outros vegetais indesejáveis, mesmo do porte de arbustos ou árvores). CLORADOS ORGÂNICOS Os inseticidas poluentes ambientais (p. ex., DDT, BHC, aldrin, dieldrin, endrin, clordano, heptacloro e mirex), que pertencem ao grupo dos compostos clorados orgânicos, têm sido proibidos em numerosos países, por causa de sua longa persistência no solo, nos alimentos e nos seres vivos, inclusive no homem. A proibição destes poluentes é também devida ao fato de serem eles cancerígenos para camundongos e para ratos, produzindo tumores malignos primários no fígado. RESÍDUOS NO HOMEM Com o uso amplo e excessivo de DDT desde a década de 40, seus resíduos persistentes no solo foram sendo transferidos para as plantas e para o homem, que está no fim da cadeia alimentar. Atualmente, todos nós temos DDT armazenado no tecido adiposo e circulando no sangue periférico. As crianças já nascem com DDT que receberam através da placenta. Em seguida, ingerem mais DDT que contamina também o leite materno. Nos países chamados desenvolvidos, o uso do DDT e de outros praguicidas clorados orgânicos poluidores ambientais tem sido bastante diminuído e mesmo proibido nestes últimos 20 anos. Em conseqüência, os resíduos no tecido adiposo, no sangue e no leite humano foram diminuindo gradativamente. Os últimos trabalhos indicam que o leite humano, nestes países, apresenta resíduo de DDT comparável ao máximo permitido em leite de vaca pela OMS e pela FAO. Ao contrário, nos países em desenvolvimento, o uso abusivo do DDT e de outros poluentes ambientais tem continuado, sem quaisquer medidas eficientes para seu controle. Como reflexo desta situação, o nível de DDT no leite materno continua bastante alto. Trabalhos efetuados em muitos países da América Latina têm demonstrado claramente este triste quadro. Também no Brasil, o teor de DDT no leite materno é cerca de quatro vezes mais elevado do que o máximo permitido no leite de vaca, conforme trabalho recentemente efetuado no Instituto Adolfo Lutz da Secretaria da Saúde do Estado de São Paulo. As atividades dos laboratórios de análises do Ministério da Agricultura e também dos grandes frigoríficos no Brasil cooperam para diminuir os resíduos de praguicidas clorados orgânicos na. população dos países importadores; porém nada de eficiente é feito para reduzir os altos níveis de resíduos de pesticidas na população brasileira. ORGANO-FOSFORADOS Os inseticidas organo-fosforados (p. ex., paration, dissulfoton, malation, etc.) e os carbamatos (p. ex., carbaril, carbofuran, aldicarbe, propoxur, metomil, etc.) pertencem ao grupo dos compostos inibidores das colinesterases. Muitos deles são extremamente ou altamente tóxicos para o homem e, infelizmente, ainda são de venda livre no Brasil, porque a obrigatoriedade da receita agronômica não está em vigor na maioria dos Estados. Alguns inseticidas fosforados orgânicos acarretam lesões de nervos longos, com perda da bainha de mielina, produzindo paresias e paralisias por ação neurotóxica retardada. PIRETRÓIDES Um grupo de inseticidas novos é formado pelos piretróidês. São menos tóxicos do que os clorados orgânicos e os inibidores das colinesterases; entretanto, são responsáveis por numerosos casos de irritação ocular e de acessos de asma. Em doses altas, produzem também lesões neurotóxicas retardadas. CLORDIMEFORME O clordimeforme (Galecron ou Fundai) é um acaricida muito eficiente para ácaros que são pragas de algodão e de citros; entretanto, ele acarreta cistite hemorrágica no homem e também tumores malignos na bexiga de ratos e de camundongos. Por estes motivos, o clordimeforme tem sido bastante restringido em muitos países e é proibido em outros, inclusive no Brasil. DINITROFENÓIS Os dinitrofenóis (p. ex., Dinoseb, DNOC, etc.) e o penta-clorofenol (p. ex., Pentox, Penetrol, etc.) acarretam lesões nos centros termorreguladores de mamíferos, com conseqüente hipertermia, que pode ser extremamente grave para o homem. HERBACIDAS Entre os herbicidas, destaca-se o paraquat (ou Gramoxone) por sua elevada toxicidade para o homem. Apresenta ação corrosiva para as mucosas e produz uma fib rose pulmonar irreversível no homem, levando à morte em cerca de duas semanas. Outro grupo de herbicidas é constituído pelo 2,4-D e pelo 2,4,5-T. Estes compostos produzem neurite periférica e também um quadro diabetiforme com glicemia alta e glicosúria no homem. O 2,4,5-T apresenta uma impureza extremamente tóxica, a dioxina TCDD, responsável por lesões teratológicas e por morte fetal. Estes herbicidas (2,4-D e 2,4,5-T) foram aplicados no percurso da linha de transmissão de energia elétrica que vai desde Tucuruí até Barcarena (perto de Belém do Pará), passando por Marabá, Raiais, Goianésia e Tailândia. O relatório elaborado após um estudo cuidadoso do problema assinala a ocorrência de intoxicações (com neurite periférica) na população da área e também morte de animais silvestres e domésticos. FUNGICIDAS Os fungicidas do grupo dos compostos trifenil-estânicos (p. ex., Outer e Brestan) interferem com a produção dos leucocitos imunologicamente competentes e acarretam, por isso, baixa das defesas orgânicas. Os fungicidas mercuriais orgánicos, do grupo metilmercúrico, têm sido responsáveis por surtos gravíssimos de lesões cerebrais irreversíveis, como o ocorrido no Iraque há alguns anosatrás e também na Guatemala, pela ingestão de pão preparado com farinha proveniente de sementes tratadas e que deveriam ser exclusivamente destinadas ao plantio. Um outro fungicida, o tridemorfo (ou Calixin), acarreta atrofia testicular. O DBCP (ou Dibromocloropropano) é um nematicida, já proibido no Brasil, que produz azospermia com conseqüente esterilidade masculina. Referência: artigo da scielo LEGISLAÇÃO De acordo com a Lei Federal nº 7.802, de 11 de julho de 1989, agrotóxicos são os produtos e os agentes de processos físicos, químicos ou biológicos, destinados ao uso nos setores de produção, no armazenamento e beneficiamento dos produtos agrícolas, nas pastagens, na proteção de florestas, nativas ou implantadas, e de outros ecossistemas e também de ambientes urbanos, hídricos e industriais, cuja finalidade seja alterar a composição da flora ou da fauna, a fim de preservá-las da ação danosa de seres vivos considerados nocivos. A lei dispõe sobre as atividades realizadas com agrotóxicos no território nacional, desde a sua produção ou importação até o destino final de seus resíduos e embalagens. As disposições dessa lei foram regulamentadas pelo Decreto nº 4.074, de 4 de janeiro de 2002. Outros aspectos do uso de agrotóxicos dispostos nas leis incluem: classificação, certificação de prestadores de serviços, transporte, aplicação, segurança para os trabalhadores e destino final dos resíduos e embalagens vazias. Em 2005, o Ministério do Trabalho criou a Norma Regulamentadora de Segurança e Saúde no Trabalho na Agricultura, Pecuária, Silvicultura, Exploração Florestal e Aquicultura, a NR nº 31, a qual estabelece os preceitos a serem observados na organização e no ambiente de trabalho, em qualquer atividade da agricultura, incluindo as atividades industriais desenvolvidas no ambiente agrário. A NR nº 31 deixa claro os procedimentos e as exigências a serem atendidas com relação ao uso de agrotóxicos na agricultura, tanto por parte do empregador como dos empregados. Os principais agrotóxicos usados na cultura do arroz de terras altas são os inseticidas, herbicidas e fungicidas. Vale lembrar que aqueles que fizerem uso irregular de agrotóxicos podem ser punidos com multa ou mesmo prisão. CLASSIFICAÇÃO A toxicidade da maioria dos agrotóxicos é expressa em valores referentes à Dose Média Letal (DL50), por via oral, representada por miligramas do ingrediente ativo do produto por quilograma de peso vivo, necessários para matar 50% da população de ratos ou de outro animal teste. A DL50 é usada para estabelecer as medidas de segurança a serem seguidas para reduzir os riscos que o produto pode apresentar à saúde humana. Os agrotóxicos são agrupados em classes, de acordo com a sua toxicidade. RÓTULOS O rótulo do produto é a principal forma de comunicação entre o fabricante e os usuários. As informações constantes no rótulo são resultados de anos de pesquisa e testes realizados com o produto antes de receber a autorização do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) para ser comercializado. Portanto, antes de manusear qualquer agrotóxico, deve ser feita leitura criteriosa de seu rótulo. Impressas nas embalagens ou anexadas a elas devem ser encontradas as seguintes informações: • as pragas que o agrotóxico deve controlar; • as culturas para as quais o agrotóxico pode ser aplicado; • as dosagens recomendadas para cada situação; • a classificação toxicológica do agrotóxico; • a forma pela qual o agrotóxico pode ser utilizado; • o local onde o agrotóxico pode ser aplicado; • a época em que o agrotóxico deve ser usado: pré-plantio, pré-emergência ou pós-emergência; • o período de carência, ou seja, o intervalo de tempo, em dias, que deve ser observado entre a aplicação do agrotóxico e a colheita do produto agrícola. A observância do período de carência é, portanto, essencial para que o alimento colhido não possua resíduo do agrotóxico em níveis acima do limite máximo permitido pelo Ministério da Saúde. A comercialização de produtos agrícolas contendo resíduo de agrotóxico em níveis acima do limite máximo fixado por aquele Ministério é ilegal; • se o agrotóxico pode ser misturado a outros de uso frequente, em situações semelhantes; • se o agrotóxico pode causar injúria às culturas para as quais é recomendado. Referência: site da EMBRAPA OBJ 2 + OBJ 3: Apresentar a fisiopatologia dos organofosforados, quadro clínico, diagnóstico, tratamento, toxicocinética e formas de contaminação + Discutir a fisiopatologia dos carbamatos, quadro clínico, diagnóstico, tratamento, toxicocinética e formas de contaminação. ORGANOFOSFORADOS E CARBAMATOS A intoxicação exógena aguda por inseticidas carbamatos e organofosforados tem sido um problema frequente nos serviços de emergência dos grandes hospitais, seja por ingestão acidental em crianças ou por tentativa de suicídio. No Estado do Rio de Janeiro, principalmente no Grande Rio, há um importante problema de saúde pública relacionado a esses inseticidas, a utilização irregular de carbamatos e organofosforados como raticida (principalmente o carbamato Aldicarb, classificado como extremamente tóxico), e comercializado ilegalmente com os nomes de Chumbinho e Japan, entre outros. Tais intoxicações tem causado inúmeros óbitos no Rio de Janeiro. EMPREGO Tais produtos são utilizados como medicamentos e inseticidas fitossanitários, nematicidas, larvicidas e acaricidas sistêmicos ou como zoossanitários, no campo ou no lar, sendo responsáveis por intoxicações humanas e em animais domésticos. O Aldicarb, puro ou misturado com outros carbamatos e/ou organofosforados vem sendo comercializado ilegalmente como raticida, com o nome vulgar de CHUMBINHO. O produto ilícito, por vezes, contém ainda materiais espúrios, como pólvora, semente (alpiste), raticidas cumarínicos, areia, entre outros. ABSORÇÃO E DISTRIBUIÇÃO Os organofosforados, dependendo de sua solubilidade nos tecidos, vão desenvolver mais prontamente ou tardiamente os sinais clínicos da intoxicação. Assim, por exemplo, por inalação de vapores do produto no ambiente os primeiros sintomas aparecem em poucos minutos, enquanto que pela ingestão oral ou exposição dérmica pode haver um aparecimento tardio dos sintomas. Se ocorrer uma exposição cutânea localizada, o efeito tende a se restringir a área exposta, sendo a reação exacerbada se houver lesão cutânea ou dermatite. Exemplo: sudorese intensa e miofasciculações (tremor involuntário) localizadas no membro afetado; visão borrada e miose do olho exposto (contração da pupila); ou sibilância (assobio agudo durante a respiração) e tosse no caso de exposição pulmonar de pequenas quantidades. A absorção por via oral ocorre nas intoxicações agudas acidentais, nas tentativas de suicídio, sendo, portanto, a principal via implicada nos casos atendi- dos nos serviços de emergência. A via dérmica contudo, é a via mais comum de intoxicações ocupacionais, seguida da via respiratória. A absorção prolongada e insidiosa destas substâncias OF pode determinar a agudização da resposta à doses baixas do produto. No caso de carbamatos, a exposição dérmica torna-se crítica quando o organismo se encontra em temperatura ambiente elevada.Experimentalmente, quantidades apreciáveis de alguns carbamatos e seus metabólitos tem sido encontradas no leite de mães a eles expostas. Assim como, pode-se esperar a presença de resíduos de carbamatos em produtos comestíveis, quando estes forem aplicados como inseticidas em hortifrutigranjeiros. Os inseticidas organofosforados e carbamatos são absorvidos pelo organismo, pelas vias oral, respiratória e cutânea. MECANISMO DE AÇÃO Os compostos organofosforados e carbamatos são inibidores da colinesterase, impedindo a inativação da acetilcolina, permitindo assim, a ação maisintensa e prolongada do mediador químico nas sinapses colinérgicas, a nível de membrana pós-sináptica. A acetilcolina é sintetizada no neurônio a partir da acetilcoenzima A e da colina. É inativada por hidrólise sob ação da acetilcolinesterase, com formação de colina e acido acético que, por sua vez, são reutilizados para formação da acetilcolina. A acetilcolina é o mediador químico necessário para transmissão do impulso nervoso em to- das as fibras pré ganglionares do SNA, todas as fibras parassimpáticas pós-ganglionares e algumas fibras simpáticas pós-ganglionares. Ainda é o transmissor neuro-humoral do nervo motor do músculo estriado (placa mioneural) e algumas sinapses interneurais do SNC. Para que haja a transmissão sináptica é necessário que a acetilcolina seja liberada na fenda sináptica e se ligue a um receptor pós-sináptico. Em seguida, a Ach disponível é hidrolizada pela acetilcolinesterase. Quando há a inibição da acetilcolinesterase, ocorre um acúmulo de acetilcolina na fenda, levando a uma hiperestimulação colinérgica. ORGANOFOSFORADOS Os organofosforados (OFs) passaram a ser muito utilizados por se mostrarem extremamente eficazes contra uma ampla variedade de pragas, principalmente os agrícolas. Além disso, constituem pesticidas mais práticos, pois degradam-se rapidamente no meio ambiente, causando um impacto ambiental menos significativo (GUEVARA; PUEYO, 1995). Contudo, o mecanismo de ação dos OFs dá-se pela inibição das enzimas esterases, especialmente a acetilcolinesterase (AChE) nas sinapses químicas (SILVA et al., 2012). A intoxicação por organofosforados no Brasil e em países subdesenvolvidos ou emergentes apresenta elevada incidência, mesmo ocorrendo queda na sua utilização (KORBES, 2010). Segundo o Sistema Nacional de Informações Tóxico-Farmacológicas (SINITOX), em 2014 foram registrados 4.758 casos de intoxicação por uso de agrotóxicos, tanto no manejo agrícola quanto doméstico, sendo a faixa etária mais acometida de um e quatro anos de idade, representando um contingente de 20,45% do total. Em seguida estão os indivíduos entre 20 a 29 anos, com uma porcentagem de 14,2%, sendo o maior registro de casos na zona rural (SINITOX, 2014). A acetilcolinesterase trata-se de uma enzima de extrema atividade na degradação do neurotransmissor acetilcolina presente na fenda sináptica durante a transmissão do impulso nervoso. A administração de organofosforados faz com que estes compostos se liguem ao sítio ativo da enzima, inibindo sua ação. Isso resulta no acúmulo de acetilcolina nos colinoceptores gerando elevado grau de toxicidade no organismo (GOLAN, 2009; KATZUNG, 2014). Os pacientes acometidos pela intoxicação por agentes organofosforados podem apresentar sintomas muscarínicos, nicotínicos e neurológicos. A intensidade dos sintomas está relacionada ao tipo de produto, tempo de exposição, bem como a via pela qual o produto foi exibido (OLIVEIRA; BURIOLA, 2009). QUADRO CLÍNICO E DIAGNÓSTICO A intoxicação por inbidores da colinesterase têm um quadro clínico característico de hiperestimulação colinérgica, conforme indicado no Quadro III na página ao lado. A maioria dos carbamatos, em geral, não causam sintomatologia exuberante a nível de sistema nervoso central (SNC) entretanto, quando esses sinais estão presentes, são considerados sinais de gravidade (ver Quadro IV). A frequência com que esses sinais se apresentam na admissão pode ser observado no Quadro V. Ainda com relação à intoxicação por inibidores da acetilcolinesterase, ambos os grupos levam à hiperglicemia transitória até 05 vezes superior aos valores normais, sendo contudo contra-indicado o uso de Insulina. Há ainda relatos na literatura de pancreatite com todo o cortejo de manifestações abdominais, elevação da amilase sanguínea em valores três ou mais vezes superiores aos normais, e parotidite, ambas relacionadas à ingestão de organofosforados (ver item 1.1. B) e/ou carbamatos (ver item 1.1. A). Pode ainda ocorrer arritmias cardíacas (fibrilação atrial e ventricular) até 72 horas após a intoxicação. Apesar da dificuldade em diferenciar o quadro colinérgico agudo, em relação à classe do agente etiológico, suspeita- se de intoxicação por organofosforado quando o paciente é oriundo de área rural, tem exposição ocupacional, ou quando apresenta sintomatologia importante de acometimento do SNC (convulsões), ou quando a atropinização é feita corretamente, sem melhora da sintomatologia muscarínica. Contudo, alguns carbamatos podem causar intoxicações graves, não diferenciadas clinicamente dos organofosforados, como é o caso do Aldicarb. No Quadro VI se apresentam algumas afecções que devem ser usadas para diagnóstico diferencial na intoxicação por OF e Carbamatos. EXAMES LABORATORIAIS 3.1 - Gerais Ao hemograma completo pode-se observar leucocitose ou leucopenia reversíveis. São descritas alterações na coagulação sanguínea (consumo de fator VII e aumento na agregação plaquetária). Em tais intoxicações pode haver hiperglicemia transitória. Os níveis de amilase e lipase podem estar 3 ou mais vezes acima do normal, representando, em alguns casos, pancreatite. Ver Quadro VIII. 3.2 - Específicos Há uma boa correlação entre a inibição da colinesterase e a intoxicação aguda. A acetilcolinesterase eritocitária geralmente é um recurso mais específico e sensível do que a colinesterase plásmatica, pois apresenta na maioria dos casos, correlação com a gravidade do quadro clínico. Isto se explica pela similaridade funcional que apresenta com a acetilcolinesterase que se encontra nas fendas sinápticas das placas mioneuráis. Contudo, a colinesterase plasmática em alguns casos é um bom indicador de exposição uma vez que compostos como Diclorvos, Malation e Diazinon (organofosforados) inibem primeiramente esta enzima, mas não tem boa correlação com o quadro clínico. Tais exames específicos devem ser solicitados sempre que possível, porém, deve-se levar em consideração variações individuais e fisiológicas, podendo haver falsos positivos e negativos. TRATAMENTO O tratamento das intoxicações agudas pode ser dividido em medidas gerais e medidas específicas. 4.1. Medidas Gerais • manter a permeabilidade das vias aéreas; • oxigenoterapia, se necessário; • hidratação venosa; • lavagem corporal exaustiva, em casos de contaminação dérmica; • esvaziamento gástrico; (*) • carvão ativado; (**) • uso de catártico. (***) (*) Lavagem Gástrica • recém nascido: 500 ml de soro fisiológico (SF) a 0,9 %. • lactentes: 2 a 3 litros de SF a 0,9 %. • pré-escolares: 4 a 5 litros de SF a 0,9 %. • escolares: 5 a 6 litros de SF a 0,9 %. • adultos: 6 a 10 litros de SF a 0,9 %. (**) Carvão Ativado (CA) Ministrar doses, diluídos em SF a 0,9 %. de 4/4:00 h ou 6/6:00 h, via sonda naso-gástrica (SNG), mantendo a SNG aberta em sifonagem. Contra indicado em casos de ausência de peristalse. (Ministrar até 4 doses) crianças: 0,5 g de CA/kg corporal/dose - (diluido a 10 %, em SF a 0,9 %) - até 1 g/kg corporal adultos: 25 g de CA/dose - (diluido a 10 % em SF a 0,9 %) (***) Catártico Deve-se utilizá-lo 1:00 h após o carvão ativado (CA). Sulfato de Sódio (sol. a 10 %): • crianças: 250 mg/kg corporal • adultos: 15 a 20 g da solução a 10 % • Sorbitol (sol. a 35 %): • crianças: 4 ml/kg corporal • adultos: 300 ml da solução a 35 % Referência: Guia de Intoxicação Aguda pôr ORGANOFOSFORADOS – Governo de São Paulo OBJ 4: Citar os EPIs necessários para a utilização de agrotóxicos e formas de utilização. USO DE EPI Os agrotóxicos podem causar intoxição nas pessoas que os utilizam, por isso foram criados os Equipamentos de Proteção Individual -EPIs. Estes existem para reduzir a exposição do trabalhador aos produtos químicos e assim aumentar a segurança durante o manuseio. Quando se fala de segurança na aplicação de agrotóxicos, deve-se considerar os seguintes aspectos: exposição, toxicidade e risco. (CERTIFICAÇÃO) Para serem comercializados, os EPIs devem possuir o Certificado de Aprovação (CA) do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE). A Lei 6.514 de 1977 instituiu a obrigatoriedade do CA para que um equipamento seja considerado EPI. A Portaria 121 do MTE de 30/9/2009 determinou critérios quanto à realização de ensaios para atestar a qualidade das vestimentas (calça, jaleco e touca/capuz) utilizadas para a proteção de quem manuseia produtos químicos no campo. Os ensaios devem ser realizados por laboratórios credenciados e representam condição essencial para que o CA seja obtido. As vestimentas devem atender a ISO 27065, segundo a qual os materiais e costuras utilizados devem passar por testes químicos e físicos. Após esses testes serão submetidas a ensaio de pulverização direta. Uma vez submetidas a todos esses ensaios, as vestimentas serão classificadas em um dos dois grupos abaixo: • Proteção de nível 2. Vestimentas adequadas à baixa e média exposição, como aquelas usadas por tratoristas. • Proteção de nível 3. Vestimentas adequadas para elevadas exposições, como no caso da utilização de pulverizadores costais ou semi-estacionários em culturas altas (acima da altura da cintura). Com essas classificações, as vestimentas recebem etiquetas contendo informações como nível de proteção, procedimento e número de lavagens. Além disso, o fabricante é obrigado a fornecer um manual de instruções contendo resultados dos ensaios e explicações acerca de lavagem e conservação das vestimentas. (QUALIDADE DOS TECIDOS E TECNOLOGIA EMPREGADA) Hidrorrepelência é a tecnologia utilizada nos tecidos que compõem a vestimenta. Ao contrário dos impermeáveis, os tecidos hidrorepelentes permitem a troca de ar, melhorando o conforto térmico. Importante: o tecido hidrorrepelente possui um limite de saturação. Ou seja, a proteção pode ser quebrada quando a exposição é maior do que a hidrorrepelência suporta. CARACTERÍSTICAS DOS EPI Para cada atividade envolvendo o uso de agrotóxicos existem EPIs específicos e que constam nas bulas dos produtos. Ao escolher e adquirir EPIs deve-se observar as características que determinam sua eficiência e performance. VESTIMENTAS As vestimentas (calça, jaleco e touca/capuz) devem ser confeccionadas em algodão ou em tecidos mistos e devem receber tratamento hidrorrepelente. Elas são apropriadas para proteger o corpo contra névoa do produto formulado e não para conter exposições acentuadas ou jatos dirigidos. Tecidos com tratamento hidrorrepelente ajudam a evitar o molhamento e a passagem do produto tóxico para o interior da roupa sem impedir a troca térmica, tornando o equipamento seguro e confortável. Devem ter cores claras para reduzir a absorção de calor. Há calças com reforço adicional nas pernas para serem usadas nas aplicações onde exista alta exposição do aplicador à calda do produto ou desgaste mecânico como, por exemplo, no caso de pulverização com equipamento manual. Para a escolha do nível de proteção deve-se observar o modelo e o material dos EPIs e dependerá da intensidade de exposição na qual o aplicador irá trabalhar: • Aplicação de baixa a média exposição (quando ao longo do trabalho a vestimenta não apresentar áreas de molhamento): Proteção de Nível 2 (conforme legislação brasileira). O aplicador deverá utilizar vestimenta sem reforços e sem partes impermeáveis. • Aplicação de média a alta exposição (quando ao longo do trabalho a vestimenta apresentar áreas de molhamento): Proteção de Nível 2 (conforme legislação brasileira). O aplicador deverá utilizar vestimenta com reforços e partes impermeáveis nas áreas de maior molhamento. • Aplicação de alta exposição (quando ao longo do trabalho a vestimenta molha por completo): Proteção de Nível 3 (conforme legislação brasileira). O aplicador deverá utilizar vestimenta impermeável. LUVAS As luvas são muito importantes pois protegem uma das partes do corpo com maior risco de exposição: as mãos. Existem vários tipos de luvas no mercado e a escolha deve levar em conta o tipo de formulação do produto a ser manuseado. Produtos que contêm solventes orgânicos como, por exemplo, os concentrados emulsionáveis, devem ser manipulados com luvas de borracha nitrílica ou de Neoprene, que são materiais resistentes a qualquer tipo de formulação. Luvas de Látex ou de PVC podem ser usadas para produtos sólidos ou formulações que não contenham solventes orgânicos. RESPIRADORES Os respiradores (ou máscaras) têm o objetivo de evitar a inalação de vapores orgânicos, névoas ou finas partículas tóxicas. Existem basicamente dois tipos de respiradores: descartáveis são aqueles que possuem vida útil relativamente curta, sem manutenção e que recebem a sigla PFF de Peça Facial Filtrante; e os duráveis, de baixa manutenção e que possuem filtros especiais para reposição. Os mais utilizados são os que possuem filtros P1 ou P2. Quando se manuseiam produtos que emitem vapores orgânicos ou cheiro forte, recomenda-se o uso de respiradores com filtro de carvão ativado. Os respiradores são equipamentos importantes, mas que podem ser dispensados em situações quando não há presença de névoas, vapores ou partículas no ar, como por exemplo, aplicação tratorizada de produtos granulados incorporados ao solo. VISEIRA FACIAL OU ÓCULOS DE PROTEÇÃO Protege os olhos e o rosto contra respingos durante o manuseio e aplicação. Devem ter a maior transparência possível, não distorcer as imagens e não devem embaçar com facilidade. Devem proporcionar conforto ao usuário e permitir o uso simultâneo do respirador, quando for necessário. Quando não houver a presença ou emissão de vapores, o uso da viseira com touca árabe pode dispensar o uso do respirador, aumentando o conforto do trabalhador. Este item deve ser consultado na bula do produto a ser aplicado. Existem algumas recomendações de uso de óculos de segurança para proteção dos olhos. Entretanto, a viseira mostra- se mais segura e eficiente, pois protege não somente os olhos, mas também o rosto do aplicador. TOUCA ÁRABE Confeccionada em tecido de algodão ou misto com tratamento hidrorrepelente, a touca árabe protege a cabeça e o pescoço contra a névoa da pulverização. Usada em conjunto com a viseira oferece proteção dérmica e ocular. AVENTAL Produzido com material resistente e impermeável (PVC, Bagum ou emborrachados), aumenta a proteção do aplicador contra respingos de produtos concentrados durante a preparação da calda, podendo ser utilizado como capa, num eventual vazamento do equipamento de aplicação costal. Existem vários tipos de avental: curtos, longos, de colheita, etc. Devem ser escolhidos de acordo com as necessidades específicas. A legislação determina que os aventais tenham um número de CA próprio, o que significa uma proteção a mais para o aplicador. BOTAS Devem ser preferencialmente de cano alto, impermeáveis e resistentes aos solventes orgânicos como, por exemplo, de PVC. Sua função é a proteção dos pés. Estão disponíveis em várias cores e modelos. Recomenda-se as brancas por absorverem menos calor. COMO COLOCAR E RETIRAR O EPI Para garantir proteção adequada, os EPIs deverão ser vestidos e retirados de forma correta. VESTIR CALÇA E JALECO A calça e o jaleco devem ser vestidos sobre a roupa comum (camiseta de algodão e bermuda), fato que permitirá a retirada da vestimenta em locais abertos. O EPI pode ser usado sobre uma bermuda e camiseta de algodão, para aumentar o conforto. Vestir uma roupa comum por baixo do EPI aumenta o tempo de proteção pois evita que o suorsature o tecido hidrorepelente. O aplicador deve vestir primeiro a calça do EPI e em seguida o jaleco, certificando-se que este fique sobre a calça e perfeitamente ajustado. O velcro deve ser fechado com os cordões para dentro da roupa. Caso o jaleco de EPI possua capuz, o aplicador deve assegurar-se que estará devidamente vestido pois, caso contrário, servirá de compartimento facilitando o acúmulo e retenção de produto. Vale ressaltar que o EPI deve ser compatível com o porte físico do aplicador. Importante: vestir uma roupa comum por baixo da vestimenta aumenta o tempo de proteção, pois evita que o suor sature o tecido hidrorrepelente. A roupa comum não pode ser de uso pessoal, conforme descrito na NR31. BOTAS Impermeáveis, devem ser calçadas sobre meias de algodão de cano longo, para evitar atrito com os pés, tornozelos e canelas. As bocas da calça do EPI sempre devem estar para fora do cano das botas, a fim de impedir o escorrimento do produto para o interior do calçado. AVENTAL IMPERMEÁVEL Deve ser utilizado na parte da frente do jaleco durante o preparo da calda e pode ser usado na parte de trás do jaleco durante as aplicações com equipamento costal. Para aplicações com equipamento costal é fundamental que o pulverizador esteja funcionando bem e não apresente vazamentos. RESPIRADOR Deve ser colocado de forma que os dois elásticos fiquem fixados corretamente e sem dobras, um na parte superior da cabeça e outro na parte inferior, na altura do pescoço, sem apertar as orelhas. O respirador deve encaixar perfeitamente na face do trabalhador, não permitindo que haja abertura para a entrada de partículas, névoas ou vapores. Para usar o respirador, o trabalhador deve estar sempre bem barbeado. VISEIRA FACIAL/ ÓCULOS DE PROTEÇÃO Deve ser ajustada firmemente na testa, mas sem apertar a cabeça do trabalhador. A viseira deve ficar um pouco afastada do rosto para não embaçar. BONÉ ÁRABE Deve ser colocado na cabeça sobre a viseira ou óculos. O velcro do boné árabe deve ser ajustado sobre a viseira facial, assegurando que toda a face esteja protegida, assim como o pescoço e a cabeça. LUVAS Último equipamento a ser vestido. Devem ser usadas de forma a evitar o contato do produto tóxico com as mãos. As luvas devem ser compradas de acordo com o tamanho das mãos dos usuários. Não devem ser muito justas para facilitar sua colocação e retirada. Não podem ser muito grandes, pois podem atrapalhar o tato e causar acidentes, bem como permitir que caia produto dentro delas. As luvas devem ser colocadas para dentro das mangas do jaleco normalmente. No entanto, se o jato de pulverização for dirigido para cima da linha dos ombros do trabalhador, elas devem ser vestidas para fora das mangas do jaleco. O objetivo é evitar que o produto aplicado escorra para dentro das luvas e atinja as mãos. RETIRADA DO EPI Após a aplicação, normalmente a superfície externa do EPI está contaminada. Portanto, na retirada do EPI, é importante evitar o contato das áreas mais atingidas com o corpo do usuário. Antes de começar a retirar o EPI, recomenda-se que o aplicador lave as luvas vestidas. Isto ajudará a reduzir os riscos de exposição acidental. Veja agora o exemplo de uma rotina correta para a retirada dos EPI: • Boné árabe: Deve-se desprender o velcro e retirá-lo com cuidado. • Viseira facial/ óculos: Deve-se desprender o velcro e colocá-la em um local de forma a evitar arranhões. • Avental: Deve ser retirado desatando-se o laço e puxando- se o velcro em seguida. • Jaleco: Deve-se desamarrar o cordão. Em seguida curvar o tronco para baixo e puxar a parte superior (os ombros) simultaneamente, de maneira que o jaleco não seja virado do avesso e a parte contaminada atinja o rosto. • Botas: Durante a pulverização, principalmente com equipamento costal, as botas são as partes mais atingidas pela calda. Devem ser retiradas em local limpo, onde o aplicador não suje os pés. • Calça: Deve-se desamarrar o cordão e deslizar pelas pernas do aplicador sem serem viradas do avesso. • Luvas: Deve-se puxar a ponta dos dedos das duas luvas aos poucos, de forma que elas possam ir se desprendendo simultaneamente. Não devem ser viradas ao avesso, o que dificultaria o próximo uso e contaminaria a parte interna. • Respirador: Deve ser o último EPI a ser retirado, sendo guardado separado dos demais equipamentos, dentro de um saco plástico limpo, para evitar contaminação das partes internas e dos filtros. Referência: cartilha UFV LEGISLAÇÃO SOBRE EPI A legislação brasileira sobre EPI é a Norma Regulamentadora no 6 (NR-6)5. A NR-6 considera EPI todo dispositivo ou produto, de uso individual utilizado pelo trabalhador, destinado à proteção de riscos suscetíveis de ameaçar a segurança e a saúde no trabalho. A NR-6 condiciona o uso e a comercialização de EPI à obtenção de um Certificado de Aprovação (CA) expedido pelo Ministério do Trabalho e Emprego e de- fine os procedimentos para o fabricante interessado em comercializar EPI. A norma ainda define como competência do em- pregador (no que se refere ao uso de EPI): adquirir o EPI adequado ao risco de cada atividade; exigir seu uso; fornecer ao trabalhador somente o EPI aprovado pelo órgão nacional competente em matéria de segurança e saúde no trabalho; orientar e treinar o trabalhador sobre o uso adequado, a guarda e a conservação; substituir imediatamente quando danificado ou extraviado; responsabilizar-se pela higienização e manutenção periódica; e comunicar ao MTE qualquer irregularidade observada. Quanto ao empregado: compete a este usar o EPI apenas para a finalidade a que se destina; responsabilizar-se pela guarda e conservação; comunicar ao empregador qualquer alteração que o torne impróprio para uso; e cumprir as determinações do empregador sobre o uso adequado. MANUTENÇÃO, LIMPEZA, ARMAZENAMENTO E DESCARTE DO EPI As orientações sobre métodos de uso, manutenção e armazenagem dos EPIs não são validadas nos diversos tipos de situações de trabalho. Em conseqüência, os métodos prescritos não correspondem aos métodos praticados. Os rótulos e bulas dos agrotóxicos podem não apresentar uma boa legibilidade, com dimensões de letras inadequadas aos usuários. A redação também pode dificultar a comunicação das informações relevantes para o usuário, considerando- se a escolaridade da maioria dos trabalhadores rurais. Normalmente, o projeto dos produtos não inclui aspectos relativos à sua manutenção. É difícil limpar resíduos presos ou absorvidos pelas linhas de costuras em aventais e outras roupas, assim como em d bradiças de óculos, dobras no interior de botas, luvas, protetores auriculares e assim por diante. Não se encontram usualmente informações sobre manutenção, além da simples limpeza, em que o trabalhador também pode se contaminar. Além disso, a informação sobre manutenção não é adequada à realidade do usuário. A guarda de EPIs em uso e com manutenção inadequada facilita a contaminação dos armários e a dispersão de material contaminante entre os EPIs. O descarte dos EPIs também não parece ser con- templado nos projetos. Os materiais empregados não são biodegradáveis nem biodestrutíveis. O descarte usual desses equipamentos como lixo comum sugere a ausência de avaliação do perigo representado pela concentração de materiais tóxicos neles presentes. Ca- recem de avaliação os efeitos decorrentes da adoção da queima de EPIs em fogueiras ou do enterro, constatadas no estudo de caso apresentado em Veiga et al. (2006). Portanto, as lacunas funcionais no projeto, na con- cepção, no uso, na manutenção, no armazenamento e no descarte dos EPIs empregados nos estudos de caso analisados comprometeram a saúde humana, a qua- lidade da vida no trabalho rural e agravaram os pro-blemas ambientais. Referência: artigo scielo OBJ 5: Diferenciar a intoxicação crônica da intoxicação aguda. Apresentando as condutas trabalhistas. INTOXICAÇÕES AGUDAS E CRÔNICAS Os agrotóxicos podem causar diversos efeitos sobre a saúde, sendo muitas vezes fatais. Classicamente tais efeitos são divididos em intoxicação aguda e intoxicação crônica. INTOXICAÇÃO AGUDA Pode ocorrer de forma leve, moderada ou grave, a depender da quantidade de veneno absorvido, do tempo de absorção, da toxicidade do produto e do tempo decorrido entre a exposição e o atendimento médico. Manifesta-se através de um conjunto de sinais e sintomas, que se apresentam de forma súbita, alguns minutos ou algumas horas após a exposição excessiva de um indivíduo ou de um grupo de pessoas a um agrotóxico. Tal exposição geralmente é única e ocorre num período de até 24 horas, acarretando efeitos rápidos sobre a saúde. INTOXICAÇÃO AGUDA LEVE. Quadro clínico caracterizado por cefaléia, irritação cutâneo-mucosa, dermatite de contato irritativa ou por hipersensibilização, náusea e discreta tontura. INTOXICAÇÃO AGUDA MODERADA. Quadro clínico caracterizado por cefaléia intensa, náusea, vômitos, cólicas abdominais, tontura mais intensa, fraqueza generalizada, parestesias, dispnéia, salivação e sudorese aumentadas. INTOXICAÇÃO AGUDA GRAVE. Quadro clínico grave, caracterizado por miose, hipotensão, arritmias cardíacas, insuficiência respiratória, edema agudo de pulmão, pneumonite química, convulsões, alterações da consciência, choque, coma, podendo evoluir para óbito. INTOXICAÇÃO CRÔNICA Os efeitos danosos sobre a saúde humana, incluindo a acumulação de danos genéticos, surgem no decorrer de repetidas exposições ao toxicante, que normalmente ocorrem durante longos períodos de tempo. Nestas condições os quadros clínicos são indefinidos, confusos e muitas vezes irreversíveis. Os diagnósticos são difíceis de serem estabelecidos e há uma maior dificuldade na associação causa/efeito, principalmente quando há exposição a múltiplos produtos, situação muito comum na agricultura brasileira. A intoxicação crônica manifesta-se através de inúmeras patologias, que atingem vários órgãos e sistemas, com destaque para os problemas imunológicos, hematológicos, hepáticos, neurológicos, malformações congênitas e tumores. Referência: site fiocruz INTOXICAÇÃO AGUDA A conduta terapêutica diante de qualquer intoxicação aguda por agrotóxicos, como em qualquer outra emergência médica, requer uma avaliação inicial rápida das condições clínicas do paciente para identificar e corrigir situações de risco iminente à vida: obstrução de vias aéreas, parada respiratória e/ou cardiorrespiratória, hemorragias e déficit neurológico. As condições que oferecem risco imediato devem ser identificadas e tratadas concomitantemente à realização das medidas de descontaminação, que visam limitar a exposição e diminuir a absorção do agente tóxico. Alguns agentes tóxicos podem apresentar efeitos tardios ou podem continuar sendo absorvidos e, apesar do paciente estar estável e/ou assintomático no momento da avaliação clínica inicial, ele poderá evoluir rapidamente para várias complicações como convulsões, hipoglicemia, instabilidade hemodinâmica e respiratória e necessitar de medidas de reanimação. QUADRO CLÍNICO Na busca e interpretação dos achados clínicos das intoxicações por OF/ CARB deve-se levar em conta que o surgimento dos sinais e sintomas depende do grau de inibição das enzimas colinesterases, e, de alguma forma, da rapidez desse processo; a apresentação clínica pode ser bastante variável em intensidade e espectro, de acordo com o grau de intoxicação. • As intoxicações por OF podem se apresentar em três formas clínicas: a intoxicação aguda, a síndrome intermediária e a neurotoxicidade tardia; • As intoxicações por CARB manifestam-se exclusivamente de forma aguda, uma vez que esses compostos são rapidamente degradados no organismo; • As manifestações agudas são comuns aos organofosforados e carbamatos. SINTOMAS Os sintomas apresentam-se sob várias combinações, típicos daqueles por excessiva estimulação dos diferentes receptores pela acetilcolina no sistema nervoso central e autônomo, assim como na junção neuromuscular esquelética, e podem ser agrupados em três síndromes de base colinérgica, a saber: síndrome muscarínicas, síndrome nicotínica ou síndrome do sistema nervoso central. • Receptores Muscarínicos – Síndrome Muscarínica • Glândulas exócrinas: sialorréia, sudorese, lacrimejamento; Olhos: miose, borramento visual, iperemia conjuntival, dificuldade de acomodação visual; Trato gastrintestinal: anorexia, náusea, vômito, diarreia, tenesmo, dor abdominal, incontinência fecal; Sistema respiratório: hipersecreção brônquica, rinorreia, sibilos, broncoespasmo, dispneia, cianose, dor torácica; Sistema cardiovascular: bradicardia, hipotensão, arritmias, bloqueio AV; Aparelho urinário: umento frequência urinária, incontinência urinária. • Receptores Nicotínicos – Síndrome Nicotínica Sistema cardiovascular: taquicardia, hipertensão, palidez, midríase; Músculo esquelético: fasciculações musculares, fraqueza muscular, fadiga, cãibras, paralisia, tremores, arreflexia, paralisia flácida, insuficiência ou parada respiratória por fraqueza muscular. Sinapses ganglionares: cefaleia, hipertensão transitória, náuseas, palidez, taquicardia. • Receptores no Sistema Nervoso Central – Síndrome do Sistema Nervoso Central Ansiedade, sonolência, letargia, labilidade emocional, coma, cefaleia, confusão mental, ataxia, tremores, Babinski, respiração tipo Cheyne-Stokes, dispneia, fadiga, convulsões, depressão respiratória e cardiovascular. DESCONTAMINAÇÃO É o conjunto de procedimentos para eliminar, diminuir ou evitar a absorção de um agente tóxico, na dependência da via de intoxicação, tempo decorrido, dose e tipo de agente. Atenção: a equipe de assistência deve usar equipamentos de proteção: aventais impermeáveis, luvas de borracha (luvas cirúrgicas ou de procedimentos não garantem proteção), máscaras, óculos, especialmente ao manipular roupas contaminadas, vômitos, secreções, ou realizar manobras de esvaziamento gástrico. As medidas de descontaminação nem sempre estão isentas de risco; quando indicadas, a precocidade de sua realização é decisiva para o prognóstico do paciente. DESCONTAMINAÇÃO INALATÓRIA – RESPIRATÓRIA • Na intoxicação por gases e vapores tóxicos a absorção cessa ao se retirar a vítima do ambiente contaminado, levando-a para ambiente bem ventilado. • Assegurar permeabilidade das vias aéreas e administrar O2 úmido em fluxo de 12-15 litros/minuto por máscara com reservatório ou ventilação mecânica assistida; DESCONTAMINAÇÃO CUTÂNEO-MUCOSA • Tirar toda a roupa e acessórios (relógio, anéis, brincos) do paciente, e armazená-los em sacos plásticos bem fechados para posterior higienização; • Sapatos e outros acessórios de couro não podem ser descontaminados adequadamente, por isso devem ser descartados; • Os agrotóxicos podem também contaminar a superfície interior de luvas, chapéus, bonés, botas; caso não possam ser adequadamente descontaminados, deverão ser descartados; • A descontaminação cutânea correta consiste em banho de arraste, ou seja, lavar o paciente demorada e sistematicamente da cabeça aos pés, com abundante quantidade de água limpa, corrente e morna, por tempo não inferior a 15-20 minutos, em chuveiro ou em ducha manual, se o paciente não está em condições de ficar em pé. • O banho deve ser cuidadoso, ordenado e repetido, enfatizando pregas cutâneas, espaços interdigitais, atrás das orelhas e sob as unhas; lavar também os cabelos. • Utilizar sabão ou xampuse o agente tóxico tiver característica oleosa. • Evitar fricção vigorosa da pele, sobretudo ao utilizar esponjas ou escovas, isso facilita a absorção do tóxico. • Enxugar o paciente e vesti-lo com roupas limpas. DESCONTAMINAÇÃO OCULAR • A lavagem ocular com abundante água limpa ou solução salina isotônica, a baixa pressão, por tempo não inferior a 15 minutos, é eficaz para descontaminação e sem contraindicações. • Manter as pálpebras bem separadas, retirar lentes de contato, utilizar anestésico tópico e remover partículas cuidadosamente. • Caso a irritação ocular persista após a lavagem, ocluir o olho. • Os pacientes devem ser avaliados por oftalmologista. DESCONTAMINAÇÃO GASTROINTESTINAL CERCA DE 70% DAS INTOXICAÇÕES AGUDAS POR AGROTÓXICOS OCORRE POR INGESTA DO AGENTE, SEJA POR CAUSA ACIDENTAL OU INTENCIONAL. EMESE PROVOCADA A emese provocada não deve ser realizada em pacientes intoxicados por agrotóxicos. Seu uso não melhora o prognóstico clínico e retarda a administração de carvão ativado ou outros antídotos orais, quando indicados. DILUIÇÃO DO TÓXICO Está indicada dentro dos primeiros 30 minutos após a ingesta de CORROSIVOS, com a finalidade de diminuir o efeito local dos mesmos. Paciente consciente, que pode engolir sem risco de broncoaspiração broncoaspiração: administrar água fresca, máximo de 250 ml para adultos e 30 ml para crianças. A administração excessiva de líquido é contraproducente, pois propicia o rápido trânsito do conteúdo gástrico para o trato intestinal. ASPIRAÇÃO-LAVAGEM GÁSTRICA Indicada para casos potencialmente letais, somente quando a quantidade ou a natureza do agente tóxico constituem sério risco de vida e o procedimento pode ser realizado dentro da primeira hora pós ingesta. Realizar previamente intubação orotraqueal de pacientes em coma (Escala de Glasgow ≤ 8), com transtornos de deglutição, em descompensação hemodinâmica ou que tenham ingerido tóxico com potencial convulsivante ou que contenham hidrocarbonetos como veículo, para evitar broncoaspiração. Nesses casos pode-se optar por fazer apenas aspiração gástrica sem lavagem. Não é recomendado realizar lavagem gástrica com carvão ativado; apenas quando finalizada a lavagem o carvão poderá ser instilado através da mesma sonda. Utilizar boa técnica – posicionamento do paciente, medidas e calibres adequados de sonda, volumes parciais de acordo com a faixa etária do paciente (200 a 300 ml por vez em adultos, 10 ml/kg por vez em crianças). CARVÃO ATIVADO Terapia de primeira linha para ingesta de dose potencialmente tóxica de agente adsorvível, até uma hora após a intoxicação. Dose: 1 g/kg de peso corporal. Diluir em água, soro fisiológico ou soro glicosado na proporção de 1 g de carvão : 8 ml de líquido. Não utilizar o carvão ativado combinado com leite, iogurte, sorvete ou outros alimentos; isso reduz sua capacidade adsortiva. Administrar por via oral lentamente, para evitar o vômito, ou por sonda oro ou nasogástrica, em dose única. Não se recomenda o uso de cápsulas, comprimidos ou tabletes de carvão ativado; essas apresentações possuem baixa efetividade nas intoxicações. Nas intoxicações por agrotóxicos organofosforados ou organoclorados está indicado o uso de carvão ativado em doses repetidas (= carvão ativado seriado); nesse caso, administrar a cada 4 horas, associado a catárticos não oleosos, por no máximo 48 horas. CATÁRTICOS Não há indicações definitivas para o uso de catárticos nas intoxicações agudas por agrotóxicos. Caso sejam utilizados, administrar em dose única para minimizar efeitos adversos como o desequilíbrio hidroeletrolítico, especialmente em crianças. MÉTODOS ADICIONAIS PARA ELIMINAÇÃO DE AGENTES TÓXICOS • MANTER DIURESE ADEQUADA – pelo menos 50 ml/hora em adultos ou 3 ml/kg/hora para crianças. • HEMODIÁLISE – HEMOPERFUSÃO – DIURESE FORÇADA – ALCALINIZAÇÃO DA URINA – Na dependência do agente tóxico. • UTILIZAÇÃO DE ANTÍDOTOS / ANTAGONISTAS - Na dependência do agente tóxico. Referência: cartilha governo do Paraná CONDUTAS TRABALHISTAS O trabalhador rural que mais sofreu intoxicações por agrotóxicos foi o responsável pela pulverização dos venenos, com quase metade das notificações. Os dados não mostram se o agricultor aplicava os produtos manualmente, por trator ou avião. Mas é possível saber que 53% das intoxicações ocorreram por via respiratória, e 29% via cutânea (pela pele). O problema ocorreu em lavouras de café, fumo, soja, milho e cana de açúcar. INFORMALIDADE Entre as vítimas, 2.331 trabalhadores tinham carteira assinada. Dentro dos 67% informais, encontram-se 2251 profissionais autônomos, 885 não registrados e 357 trabalhadores temporários. De acordo com a Confederação Nacional dos Trabalhadores Assalariados Rurais (Contar), os dados confirmam o cenário de informalidade no campo que diversos levantamentos mostraram nos últimos anos. A Pesquisa Nacional por Amostragem de Domicílios (PNAD), realizada em 2015, apontou para a existência de um índice de informalidade de quase 59% de todos os empregados rurais brasileiros. Em alguns estados a informalidade alcança mais de 80% das relações de trabalho rural, como na Bahia (81%), Sergipe (86%), Piauí (89.7%), Ceará (92.3%) e Amazonas (93,8%). “Quando ocorre a intoxicação, a empresa manda o funcionário para casa sem direito a nada. O INSS não pode fazer o pagamento do auxílio doença, porque não há comprovação de vínculo trabalhista na carteira”, explica o presidente da Contar, Gabriel Bezerra. (INFORMAL VAI A JUSTIÇA) Com isso, resta ao funcionário recorrer à Justiça. “Em todo município temos um sindicato de trabalhadores rurais. O sindicato acaba movendo uma ação na Justiça para reconhecer os direitos, e muitas vezes sai vencedor. Mas é um processo bastante lento e difícil. Torna-se ainda mais grave quando a intoxicação acaba levando o trabalhador ao óbito e a família fica desassistida, sem o mantenedor ”, conta. PAGAMENTO AOS DE CARTEIRA ASSINADA O pagamento do auxílio-doença é feito pelo governo federal. Quando o médico, empresa ou funcionário fazem a comunicação de acidente de trabalho (CAT), o INSS abre um processo para verificar se o caso pode gerar o benefício. O trabalhador deve, então, passar por uma perícia médica para comprovar sua situação. O auxílio só é pago depois de ficar caracterizado o acidente de trabalho. Mas até mesmo entre os trabalhadores formais, apenas um em cada três casos de intoxicação foi notificada ao INSS. (FALTA DE PREENCHIMENTO DO CAT NO AMBIENTE HOSPITALAR) “A primeira dificuldade acontece dentro do ambiente hospitalar, com o médico não querendo preencher o CAT. O preenchimento é feito em formulário eletrônico, e pode levar até mais de 20 minutos para ser realizado. Já fomos informados de diversos casos em que o médico não quis preencher e disse ao paciente que não entraria na prerrogativa de se foi ou não acidente de trabalho para não atrasar o seu plantão”, explica Gabriel Bezerra, presidente da confederação dos trabalhadores rurais. COMUNICAÇÃO PELA EMPRESA OU EMPREGADOR DOMÉSTICO Por meio da assessoria de imprensa, a Secretaria Especial de Previdência e Trabalho do Ministério da Economia, informou que, de acordo com o art. 22 da Lei nº. 8.213, de 1991, não comunicar o acidente de trabalho é passível de multa. “A empresa ou o empregador doméstico deverão comunicar o acidente do trabalho à Previdência Social até o primeiro dia útil seguinte ao da ocorrência e, em caso de morte, de imediato, à autoridade competente, sob pena de multa variável entre o limite mínimo e o limite máximo do salário de contribuição, sucessivamente aumentada nas reincidências, aplicada e cobrada pela Previdência Social”, disse. O INSS disponibilizou um site orientado trabalhadores e sindicatos a como fazer o preenchimentodo CAT. A pasta destacou ainda que os auxílios só são pagos pelo governo a partir do 16º dia de afastamento do trabalhador. “Logo, os primeiros 15 dias são por conta da empresa. Assim, intoxicação com menos de 15 dias de afastamento não gera benefícios no INSS. O trabalhador pode recorrer do indeferimento. Ele deve entrar com recurso pelo Meu INSS ou telefone 135 e o mesmo será analisado. Em caso de concessão de benefício não enquadrado como acidente de trabalho também cabe recurso”, disse em nota. Referência: entrevista do conteúdo da aula de saúde coletiva. OBJ 6: Explicar os exames solicitados na intoxicação por organofosforado e suas principais alterações. DIAGNÓSTICO LABORATORIAL DETERMINAÇÃO DA ATIVIDADE DA COLINESTERASE As dosagens de atividade da colinesterase (pseucocolinesterase plasmática (butirilcolinesterase) e colinesterase eritrocitária (acetilcolinesterase ou colinesterase verdadeira) são exames úteis na intoxicação aguda, mas com pouco valor na intoxicação crônica. No entanto esses testes não estão disponíveis na grande maioria dos serviços de saúde que prestam assistência aos pacientes agudamente intoxicados. Mesmo obtidos esses exames, a interpretação pode ser difícil, pois os níveis podem não correlacionar com o estado clínico e, além disso, uma determinação da colinesterase isolada pode não confirmar, nem excluir uma exposição, porque o nível normal é baseado na população estimada (valores de referência) e existem altas variações intra e inter- individuais nos níveis de colinesterase eritrocitária e plasmática. Cerca de 3% da população apresenta baixa atividade enzimática determinada geneticamente. Além disso alguns quadros patológicos podem levar à diminuição da atividade da colinesterase plasmática: hepatite, cirrose, uremia, câncer, alergias, gravidez, parasitoses intestinais, desnutrição, alcoolismo crônico e diabetes, dentre outros. Por sua vez, alguns fármacos podem diminuir a atividade enzimática: sulfatos, fluoretos, citratos, fenotiazinas, codeína e outros. A diminuição da atividade enzimática após a intoxicação aguda acontece nas primeiras 24 horas. A colinesterase plasmática diminui e se recupera antes da eritrocitária; a diminuição de sua atividade geralmente persiste por vários dias a poucas semanas; a colinesterase eritrocitária permanece diminuída por mais tempo (algumas vezes de um a três meses), motivo pelo qual a determinação de seus níveis é o método de laboratório de eleição nos sistemas de vigilância das intoxicações crônicas. Uma inibição de 25 a 30% (ou menos, na vigência de sintomas característicos) confirma o diagnóstico da intoxicação aguda. Após a eliminação do agente intoxicante, a colinesterase plasmática recupera sua atividade a taxas de cerca de 7% ao dia, enquanto a colinesterase eritrocitária em taxas próximas a 1% ao dia. Se disponíveis, podem ser realizados exames de urina para detecção dos metabólitos dos organofosforados (fosfatos alquílicos e fenóis), que podem ser detectados até 48 horas após a exposição. O diagnóstico das intoxicações por CARB usualmente é fundamentado na avaliação clínica, pois os níveis de colinesterase normalizam- se rapidamente. Também podem ser detectados metabólitos de carbamatos na urina, por exemplo o 1-naftol na exposição ao carbaril e o 2-isopropoxifenol nas intoxicações por propoxur. OUTRAS PROVAS LABORATORIAIS Outras provas laboratoriais podem ser úteis para detectar/monitorar outras situações presentes nas intoxicações por OF/CARB: hipoxemia, acidose metabólica, hiperglicemia, hiperpotassemia, níveis diminuídos de TGO/TGP, aumento de gamaglobulina, trombocitopenia, leucopenia, anemia, eosinopenia, leucocitose com neutrofilia e linfocitopenia; Ante a necessidade de esclarecer ou confirmar o diagnóstico de intoxicação por inibidores de colinesterase, pode-se realizar uma prova diagnóstica- terapêutica com atropina; essa prova consiste em administrar sulfato de atropina em dose única de 1 mg em adultos (0,01 mg/kg em crianças), por via endovenosa, e observar. Se o paciente não está intoxicado por OF/CARB, desenvolverá em poucos minutos taquicardia, rubor facial, xerostomia e midríase. Nenhum desses sintomas surgirá se realmente se trata de intoxicação por OF/CARB. TRATAMENTO Medidas de suporte de funções vitais Conforme descrito na seção “atendimento inicial do paciente intoxicado”, prover cuidados gerais de proteção de vias aéreas, ventilação/oxigenação, circulação e condição hemodinâmica e alterações do nível de consciência/ coma. DESCONTAMINAÇÃO/ ELIMINAÇÃO DO AGENTE TÓXICO (ORGANOFOSFORADOS E CARBAMATOS) • Via Inalatória Retirar o indivíduo do local e exposição para um local ventilado; Administrar oxigênio rapidamente. • Via Cutânea Retirar toda a roupa do paciente e prover anho de arraste, om abundante água e sabão, com ênfase em espaços interdigitais e ob as unhas (ver seção atendimento inicial do paciente intoxicado); Utilizar aventais mpermeáveis e evitar fricção vigorosa da pele do paciente; Evitar manipulação da roupa e objetos contaminados para evitar novas exposições. • Via Ocular Irrigar abundantemente com água ou solução salina isotônica a baixa pressão por no mínimo 15 minutos. • Via Digestiva Realizar lavagem gástrica com bundante soro fisiológico em até 1 hora após ingesta; Nos casos com alteração do nível de consciência, proteger dequadamente as vias aéreas com intubação orotraqueal; Na suspeita de hidrocarboneto como substancia diluente do agente toxicante, redobrar cuidados de proteção das vias aéreas pelo risco de broncoaspiração e pneumonite química; Referência: cartilha governo do Paraná OBJ 7: Compreender a notificação e sua importância nos casos de intoxicação. MOTIVOS DA SUBNOTIFICAÇÃO As intoxicações por agrotóxico no ambiente de trabalho representam metade dos mais de 14 mil casos confirmados pelo Ministério da Saúde na última década. Mas os números devem ser muito maiores, principalmente entre os pequenos agricultores. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), para cada caso notificado de intoxicação, existem outros 50 não computados. Com isso, os números de intoxicações por agrotóxico no Brasil superariam 1,4 milhões em uma década. (FALTA DE INFORMAÇÃO) A promotora Margaret Matos de Carvalho, do Ministério Pública do Trabalho do Paraná, diz que vários motivos explicam a subnotificação, incluindo um trabalho de “lavagem cerebral” de que o agrotóxico não é tão perigoso. “Temos trabalhadores que sofrem consequências de intoxicações todos os dias. Dores de cabeça, enjoo e etc. Mas não procuram atendimento médico porque acreditam ser consequências do cansaço ou do estresse. A cooperativa que vende os agrotóxicos não os informa sobre os riscos dos produtos, então eles não os relacionam com os sintomas. O trabalhador só procura atendimento quando chega a uma situação extrema, como desmaiar na plantação, por exemplo”, explica. (DENTRO DOS HOSPITAIS) Até mesmo dentro dos hospitais os sintomas iniciais da intoxicação não costumam ser associados ao contato com agrotóxicos. “Existe um protocolo, um roteiro que o médico deveria seguir. Com ele, dentro da consulta seria possível identificar alguns tipos de alteração no organismo da pessoa intoxicada. Mas sabemos que as consultas no SUS são muito rápidas, esse roteiro não é seguido. Os trabalhadores muitas vezes não tem instrução para relacionarem sozinhos os sintomas com suas atividades, quem dirá saber preencher sozinho um comunicado de acidente de trabalho”, diz. O estado do Paraná é o que mais registrou intoxicações na última década, e o segundo com mais casos no ambiente de trabalho. A bióloga da Divisão de Vigilância de Zoonoses e Intoxicações Exógenas da Secretaria de Saúde do Paraná, Juliana Cequinel, explica que o estado investiu em capacitação e sensibilizaçãodos profissionais de saúde para detectar o problema, fazer o diagnóstico e notificar os casos. “Os sintomas da intoxicação por agrotóxico são muito comuns, então é necessário que o profissional de saúde faça o link entre a história ocupacional do paciente com os sinais e sintomas que ele está mostrando. Nos últimos anos estamos trabalhando na qualificação e sensibilização dos profissionais de saúde para detectar o problema e fazer o diagnóstico”, diz. A dificuldade de estabelecer o nexo causal é o principal motivo das subnotificações. “Já é difícil com as intoxicações agudas, com as crônicas é pior ainda, é necessário um acompanhamento de toda uma vida, de cinco a 10 anos. Por isso é importante também passar o conhecimento aos trabalhadores do que o agrotóxico pode ocasionar a longo prazo”, diz a médica. Referência: entrevista do conteúdo da aula de saúde coletiva. NOTIFICAÇÃO As intoxicações por agrotóxicos devem ser notificadas na ficha de notificação de Intoxicação Exógena (encontra-se em anexo, bem como o instrutivo de preenchimento). Esse é um agravo de notificação compulsória, de acordo com a Portaria GM-MS 204, de 16 de fevereiro de 2017. O profissional de saúde deve estar atento para preencher corretamente e coletar todas as informações contidas ali. Devem ser devidamente investigados e encerrados os casos, oportunamente, em até 180 dias da notificação de caso suspeito. Em casos de óbitos por intoxicação exógena, é necessário preencher roteiro complementar à ficha de notificação. Esse roteiro é encaminhado via SESA e Regionais de Saúde. A notificação é a principal fonte a partir da qual se desencadeia o processo informação – decisão – ação. A partir da informação (notificação), processamento, análise e interpretação dos dados, é possível promover ações de prevenção e controle relacionadas ao agravo. Segundo a OMS, a subnotificação das intoxicações por agrotóxicos é da ordem de 1 : 50, para cada caso notificado, existem outros 50 que não foram notificados. Os desafios e dificuldades para a notificação podem estar relacionados ao serviço de saúde e ao indivíduo intoxicado. Podemos citar alguns exemplos como causa de subnotificação, de acordo com monitoramento de municípios integrantes do Plano de Vigilância de Populações Expostas a Agrotóxicos - Paraná (VSPEA-PR): • O acesso ao serviço de saúde: em que o paciente tem dificuldades de acesso ao serviço seja por distância, dificuldade de locomoção, restrição de horário de funcionamento, entre outros. • A falta de procura pelo atendimento: quando o paciente sofre a intoxicação, mas não procura atendimento médico; em casos de intoxicação recorrente em que o paciente intoxicado realiza automedicação; casos em que o paciente intoxicado não deixa de trabalhar mesmo tendo sinais/sintomas e não procura atendimento médico. • O desconhecimento da equipe de saúde sobre os riscos de seu território de atuação: em que a equipe de saúde não faz nexo causal dos sinais/ sintomas com a história epidemiológica. • A falta de comprometimento da equipe de saúde: quando não há uma anamnese detalhada, a insuficiência das informações não faz vínculo que leve a suspeitar de uma intoxicação por agrotóxicos. Partindo do princípio que o critério clínico-epidemiológico é salutar nas intoxicações por agrotóxicos. • A falta de vigilância em saúde ativa: quando há investigação superficial dos casos notificados, falta de busca ativa de casos nas propriedades agrícolas, minimização da problemática dos agrotóxicos, falta de estratégias para coleta de informações sobre intoxicações por agrotóxicos. • Falta de integração do setor saúde: quando não há integração entre vigilâncias e atenção a saúde, ficando restrita a socialização das informações, precariedade no atendimento, na investigação, busca ativa de casos. • Dificuldades de preenchimento da ficha de notificação: informação precária e ineficiente, desconhecimento da ficha de notificação, falha na interpretação da ficha de notificação, desconhecimento da importância de preenchimento da ficha de notificação. • Diante da subnotificação dos casos pelas dificuldades acima descritas e outras a investigar, é muito importante a sensibilização e capacitação continuada dos profissionais de saúde e sensibilização da população exposta, para que cada vez mais, possamos ter as notificações referentes a esse agravo mais perto da realidade. Referência: cartilha governo do Paraná OBJ 8: Conhecer os neurotransmissores de ação rápida e seus efeitos. NEUROTRANSMISSORES Mais de 50 substâncias químicas foram demonstradas ou sugeridas como transmissores sinápticos. Um dos grupos se constitui por neurotransmissores com moléculas pequenas e de ação rápida. O outro é formado por grande número de neuropeptídeos, de tamanho molecular muito maior e que são em geral de ação muito mais lenta. Os neurotransmissores com moléculas pequenas e de ação rápida são os que induzem as respostas mais agudas do sistema nervoso, como a transmissão de sinais sensoriais para o encéfalo e dos sinais motores do encéfalo para os músculos. 1. Classe I: acetilcolina 2. Classe II: aminas (norepinefrina, epinefrina, dopamina, serotonina, histamina) 3. Classe III: aminoácidos (ácido gama-aminobutírico – GABA, glicina, glutamato e aspartato) 4. Classe IV: óxido nítrico – NO Em muitos casos, os neurotransmissores constituídos por pequenas moléculas são sintetizados no citosol do terminal pré-sináptico e entram nas vesículas sinápticas situadas no terminal por meio de transporte ativo. Dessa forma, cada vez que o potencial de ação atinge o terminal pré-sináptico, poucas vesículas liberam ao mesmo tempo seu neurotransmissor na fenda sináptica. Esse evento normalmente ocorre em questão de milissegundos ou menos pelo mecanismo descrito nateriormente. A ação subsequente desse neurotransmissor de molécula pequena, nos receptores de membrana do neurônio pós-sináptico, geralmente ocorre também no período de milissegundos ou menos. Na maioria das vezes, o efeito que o neurotransmissor provoca é no sentido de aumentar ou diminuir a condutância dos canais iônicos; exemplo é o aumento da condutância ao sódio, que provoca excitação, ou a elevação da condutância ao potássio ou ao cloreto, o que causa inibição. ACETILCOLINA A acetilcolina é típico neurotransmissor de moléculas pequenas de ação rápida que obedece aos princípios de síntese e de liberação já citados. Esse neurotransmissor é sintetizado no terminal pré-sináptico, da acetilcoenzima A e da colina na presença da enzima colina acetiltransferase. É então transportado para as vesículas específicas. Quando essas vesículas, em seguida, liberam a acetilcolina na fenda sináptica durante a transmissão sináptica neuronal, a acetilcolina é rapidamente hidrolisada a acetato e colina pela enzima colinesterase, presente no retículo de proteoglicanos, que preenche o espaço da fenda sináptica. Depois, novamente no terminal présináptico, as vesículas são recicladas, e a colina é transportada ativamente de volta ao terminal para ser utilizada mais uma vez na síntese de nova molécula de acetilcolina. A acetilcolina é secretada por neurônios em diversas áreas do sistema nervoso, mas especificamente por (1) terminais das grandes células piramidais do córtex motor; (2) vários tipos diferentes de neurônios nos gânglios da base; (3) neurônios motores que inervam os músculos esqueléticos; (4) neurônios pré-ganglionares do sistema nervoso autônomo; (5) neurônios pós-ganglionares do sistema nervoso parassimpático; e (6) alguns dos neurônios pós- ganglionares do sistema nervoso simpático. Em muitos casos, a acetilcolina tem efeito excitatório; entretanto, sabe- se que tem efeitos inibitórios em algumas terminações nervosas parassimpáticas periféricas, tal como a inibição do coração pelo nervovago. NOREPINEFRINA A norepinefrina é secretada por terminais de diversos neurônios, cujos corpos celulares estão localizados no tronco cerebral e no hipotálamo. Especificamente, os neurônios secretores de norepinefrina, localizados no locus ceruleus situado na ponte, enviam fibras nervosas para áreas encefálicas muito disseminadas do encéfalo auxiliando no controle da atividade geral e na disposição da mente, tal como o aumento do nível de vigília. Em muitas dessas áreas, a norepinefrina provavelmente se liga a receptores excitatórios, mas, ao contrário, em poucas áreas liga-se a receptores inibitórios. A norepinefrina é secretada também pela maioria dos neurônios pós-ganglionares do sistema nervoso simpático, onde excita alguns órgãos e inibe outros. DOPAMINA A dopamina é secretada por neurônios que se originam na substância negra. Esses neurônios se projetam principalmente para a região estriatal dos gânglios da base. O efeito da dopamina é em geral inibitório. GLICINA A glicina é secretada principalmente nas sinapses da medula espinal. Acredita-se que sempre atue como neurotransmissor inibitório. GABA O GABA é secretado por terminais nervosos situados na medula espinal, no cerebelo, nos gânglios da base e em diversas áreas do córtex. Acredita-se quetenha sempre efeito inibitório. GLUTAMATO O glutamato é secretado por terminais pré-sinápticos, em muitas vias sensoriais aferentes, assim como em diversas áreas do córtex cerebral. Seu efeito, provavelmente é sempre excitatório. SEROTONINA A serotonina é secretada por núcleos que se originam na rafe mediana do tronco cerebral e se projetam para diversas áreas encefálicas e da medula espinal, especialmente para os cornos dorsais da medula espinal e para o hipotálamo. A serotonina age como inibidor das vias da dor na medula espinal, e acredita-se que sua ação inibitória nas regiões superiores do sistema nervoso auxilie no controle do humor do indivíduo, possivelmente até mesmo provocando o sono. ÓXIDO NÍTRICO O óxido nítrico é especialmente secretado por terminais nervosos em áreas encefálicas responsáveis pelos comportamentos a longo prazo e pela memória. Assim, esse sistema de neurotransmissão poderá, futuramente, explicar algumas funções do comportamento e da memória que até hoje têm sido um desafio. O óxido nítrico difere dos outros neurotransmissores de pequena molécula por seu mecanismo de formação, no terminal pré-sináptico, e por sua ação no neurônio pós-sináptico. O óxido nítrico não é formado e armazenado em vesículas no terminal pré- sináptico, como os outros neurotransmissores. Na verdade, é sintetizado quase instantaneamente, conforme sua necessidade, quando se difunde para fora dos terminais pré-sinápticos, durante segundos, em vez de ser liberado em embalagens vesiculares. Em seguida, difunde-se para os neurônios pós-sinápticos adjacentes. No neurônio pós- sináptico, o óxido nítrico, em geral, não induz grandes alterações do potencial de membrana, mas, na verdade, modifica as funções metabólicas intracelulares que promovem alterações na excitabilidade do neurônio por segundos, minutos ou até mesmo por mais tempo.
Compartilhar