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62 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a Unidade II Unidade II 5 FÁRMACOS QUE ATUAM NO SISTEMA NERVOSO CENTRAL (PARTE 3) 5.1 Tratamento de doenças neurodegenerativas As doenças neurodegenerativas do SNC incluem a doença de Parkinson e a doença de Alzheimer. Essas doenças graves são caracterizadas pela perda progressiva de neurônios específicos em áreas cerebrais limitadas, resultando em distúrbios característicos de movimento, de cognição ou de ambos. 5.1.1 Mal de Alzheimer A doença de Alzheimer é uma doença neurodegenerativa crônica que geralmente começa lentamente e piora ao longo do tempo. É a causa de 60% a 70% dos casos de demência. O sintoma inicial mais comum é a dificuldade em lembrar eventos recentes (perda de memória de curto prazo). À medida que a doença avança, os sintomas podem incluir problemas com a linguagem, desorientação (incluindo facilmente se perder), mudanças de humor, perda de motivação, não gerenciamento de autocuidado e problemas comportamentais. Conforme a condição de uma pessoa diminui, ela geralmente se afasta da família e da sociedade. Gradualmente, as funções corporais são perdidas, levando finalmente à morte. Embora a velocidade da progressão possa variar, a expectativa de vida média após o diagnóstico é de três a nove anos. A causa da doença de Alzheimer é mal compreendida. Cerca de 70% do risco é considerado genético, com muitos genes geralmente envolvidos. Outros fatores de risco incluem história de lesões na cabeça, depressão ou hipertensão. O processo da doença está associado a placas e emaranhados no cérebro. Um diagnóstico provável baseia-se no histórico da doença e testes cognitivos com imagens médicas e exames de sangue para descartar outras causas possíveis. Os sintomas iniciais são muitas vezes confundidos com o envelhecimento normal. O exame do tecido cerebral é necessário para um diagnóstico definitivo. Praticar exercícios físicos e mentais e evitar a obesidade pode diminuir o risco da doença. No entanto, a evidência para apoiar essas recomendações não é forte, não há medicamentos ou suplementos que diminuam o risco. Nenhum tratamento interrompe ou reverte sua progressão, embora alguns possam melhorar temporariamente os sintomas. As pessoas afetadas confiam cada vez mais em outros para obter assistência, muitas vezes colocando um fardo no cuidador. As pressões podem incluir elementos sociais, psicológicos, físicos e econômicos. Os programas de exercícios físicos podem ser benéficos em relação às atividades da vida diária e, potencialmente, podem 63 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a FARMACOLOGIA APLICADA À ENFERMAGEM melhorar os resultados. O tratamento dos problemas comportamentais – ou psicose – devido à demência com antipsicóticos é o indicado, mas geralmente não é recomendado, uma vez que há pouco benefício, com um risco aumentado de morte precoce. Os principais fármacos utilizados no tratamento da doença de Alzheimer são: • Inibidores de acetilcolinesterase: são exemplos desta classe terapêutica a donepezila, a galantamina e a rivastigmina. — Mecanismo de ação: numerosos estudos relacionaram a perda progressiva de neurônios colinérgicos e, presumidamente, da transmissão colinérgica no córtex com a perda da memória, que é o sintoma característico da doença de Alzheimer. Postula-se que a inibição da acetilcolinesterase no SNC melhora a transmissão colinérgica, pelo menos nos neurônios que continuam funcionando. Todos os fármacos desta classe apresentam seletividade pela acetilcolinesterase do SNC em detrimento da periferia. — Indicação: oferecem redução modesta da velocidade de perda da função cognitiva em pacientes com Alzheimer. — Efeitos adverso: náuseas, diarreia, êmese, anorexia, tremores, bradicardia e caibras musculares. • Antagonista de glutamato (NMDA): é exemplo de fármaco desta categoria a memantina. — Mecanismo de ação: a estimulação de receptores de glutamato no SNC parece importante na formação de certas memórias. Contudo, a superestimulação de receptores de glutamato, particularmente o NMDA, pode resultar em efeitos tóxicos nos neurônios e é sugerida como mecanismo dos processos neurodegenerativos. — Indicação: evitar a perda neuronal em doenças neurodegenerativas, como o Mal de Alzheimer, e pode ser associada aos inibidores de acetilcolinesterase. — Efeitos adversos: confusão, agitação e intranquilidade. 5.1.2 Mal de Parkinson A doença de Parkinson é um transtorno degenerativo de longo prazo do sistema nervoso central que afeta principalmente o sistema motor. Os sintomas geralmente ocorrem lentamente ao longo do tempo. No início da doença, os mais óbvios são tremores, rigidez, lentidão do movimento e dificuldade em caminhar. Problemas de pensamento e comportamentais também podem ocorrer. A demência torna-se comum nos estágios avançados da doença. A depressão e a ansiedade também são comuns em mais de um terço das pessoas com a doença de Parkinson. Outros sintomas incluem problemas sensoriais, de sono e emocionais. Os principais sintomas motores são coletivamente chamados de parkinsonismo, ou uma síndrome parkinsoniana. 64 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a Unidade II A causa da doença de Parkinson é geralmente desconhecida, mas acredita-se que envolve fatores tanto genéticos quanto ambientais. Pessoas que possuem um membro da família afetado são mais propensas a obter a doença. Há também um risco aumentado em pessoas expostas a certos pesticidas e entre aqueles que tiveram lesões anteriores na cabeça, enquanto há um risco reduzido nos fumantes de tabaco e entre aqueles que bebem café ou chá. Os sintomas motores da doença resultam da morte de células na substância negra, uma região do mesencéfalo. Isso resulta em pouca dopamina nessas áreas. O motivo dessa morte celular é mal compreendido, mas envolve a acumulação de proteínas em corpos de Lewy nos neurônios. O diagnóstico de casos típicos baseia-se principalmente em sintomas, com testes, como a neuroimagem, sendo usados para descartar outras doenças. Não há cura para a doença de Parkinson. O tratamento é direcionado para melhorar os sintomas. O tratamento inicial é tipicamente com a medicação antiparkinsoniana levodopa (L-DOPA), sendo utilizados agonistas de dopamina, uma vez que a levodopa torna-se menos eficaz. À medida que a doença progride e os neurônios continuam a morrer, esses medicamentos tornam-se menos efetivos e, ao mesmo tempo, produzem uma complicação marcada por movimentos involuntários de contorção. A dieta e algumas formas de reabilitação demonstraram alguma eficácia na melhora dos sintomas. A cirurgia para colocar microeletrodos para estimulação cerebral profunda tem sido usada para reduzir os sintomas motores em casos graves em que as drogas são ineficazes. Lembrete A doença de Parkinson é muitas vezes acompanhada por alguns problemas adicionais, que podem ser tratáveis, como dificuldade de memória, surgimento de problemas cognitivos, demências, dificuldades de raciocínio, depressão e alterações emocionais, dificuldades com a deglutição, problemas e distúrbios do sono, problemas de bexiga, prisão de ventre, alterações da pressão arterial, problemas de olfato, fadiga excessiva, prostração, dor e disfunção sexual. Os principais fármacos utilizados para aliviar os sintomas do Mal de Parkinson são: • Levodopa e carbidopa — Mecanismo de ação: a levodopa é um precursor metabólico da dopamina. Ela restabelece a neurotransmissão dopaminérgica noestriato, aumentando a síntese de dopamina nos neurônios ainda ativos da substância negra. No início da doença, a levodopa responde melhor, pois há ainda muitos neurônios dopaminérgicos disponíveis. A carbidopa é um inibidor 65 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a FARMACOLOGIA APLICADA À ENFERMAGEM da dopamina descarboxilase que diminui a biotransformação da levodopa na periferia e aumenta a biodisponibilidade da levodopa no SNC. — Indicação: a associação entre levodopa e carbidopa é eficaz no tratamento da doença de Parkinson. — Efeitos adversos: causam anorexia, náusea, êmese, hipotensão, midríase, discrasias sanguíneas, alteram a coloração da saliva e urina (marrom), alucinações visuais e auditivas, discinesias, alteração de humor, depressão, psicose e ansiedade. • Selegilina — Mecanismo de ação: inibidor seletivo da MAO cerebral, aumentando os níveis de dopamina no cérebro por diminuir sua metabolização cerebral. — Indicação: é usada no tratamento de transtornos de humor e no Mal de Parkinson. Se associada à levodopa, torna o tratamento mais eficaz. — Efeitos adversos: hipertensão, insônia e distúrbios gastrointestinais. • Inibidores da O-metil transferase (COMT): são exemplos desta categoria de fármacos a entacapona e a tolcapona. — Mecanismo de ação: são inibidores reversíveis e seletivos da COMT, reduzem a concentração de 3-O-metildopa no plasma, aumentam a captação central de levodopa e elevam as concentrações cerebrais de dopamina. Os dois fármacos diminuem os sintomas de desvanecimento vistos em pacientes que recebem levodopa e carbidopa e diferem nos efeitos adversos. — Indicação: são indicados para diminuir os sintomas do Mal de Parkinson. — Efeitos adversos: diarreia, hipotensão postural, náusea, anorexia, discinesias, alucinações e distúrbios do sono. Raramente apresentam necrose hepática fulminante. • Agonista de receptor de dopamina: este grupo de fármacos inclui a bromocriptina, derivados de ergot, ropinirol, pramipexol, rotigotina, apomorfina. — Mecanismo de ação: estes fármacos apresentam maior duração de ação do que a levodopa e são mais eficazes em pacientes que apresentam flutuações em resposta à levodopa. Contudo, são ineficazes em pacientes que não mostraram resposta terapêutica à levodopa. — Indicação: são eficazes em pacientes com doença de Parkinson complicada por flutuações motoras e discinesias. 66 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a Unidade II — Efeitos adversos: alucinações, confusão, delírio, náuseas, hipotensão ortostástica, discinesia, fibrose pulmonar e retroperitoneal. Os efeitos adversos graves limitam a utilidade dos agonistas de dopamina. • Amantadina — Mecanismo de ação: apresentam vários efeitos em inúmeros neurotransmissores implicados no parkinsonismo, incluindo maior liberação de dopamina, bloqueio dos receptores colinérgicos e inibição do receptor de glutamato (NMDA). — Indicação: é indicada para tratamento de gripe para aliviar os sintomas do Mal de Parkinson. — Efeitos adversos: intranquilidade, agitação, confusão e alucinações. • Antimuscarínicos: são exemplos desta categoria os fármacos benzotropina, triexilfenidil, prociclidina e o biperideno. — Mecanismo de ação: agem bloqueando a transmissão colinérgica que resulta em efeitos similares aos do aumento da transmissão dopaminérgica, pois ajuda a corrigir o desequilíbrio na relação de dopmina e acetilcolina. — Indicação: esses fármacos são menos eficazes do que a levodopa e somente têm papel auxiliar no tratamento do parkinsonismo. — Efeitos adversos: podem causar alteração no humor, xerostalmia, constipação e problemas visuais típicos dos bloqueadores antimuscarínicos. São contraindicados em pacientes com glaucoma, hiperplasia de próstata e estenose pilórica. Tirosina Tirosina Dopa Dopa Dopa Carbidopa Efeitos indesejados Menos efeitos indesejados Levodopa administrado Levodopa administrado Menor metabolismo no TGI Menor metabolismo nos tecidos periféricos Metabolismo nos tecidos periféricos Dopamina Dopamina Receptor de dopamina Neurônio Vesícula sináptica Metabolismo no TGI B. Destino do levodopa administrado com carbidopa A. Distribuição do levodopa administrado Figura 9 – Síntese de dopamina a partir da levodopa na ausência e na presença da carbidopa, um inibidor da dopamina descarboxilase nos tecidos periféricos 67 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a FARMACOLOGIA APLICADA À ENFERMAGEM Observação Os sintomas mais reconhecidos na doença de Parkinson são relacionados a movimentos, mas os sintomas não motores, que incluem disfunção autonômica, problemas neuropsiquiátricos (humor, cognição, comportamento ou alterações do pensamento), sensoriais (especialmente o sentido do olfato alterado) e dificuldades de sono também são comuns. 5.2 Analgésicos opioides Os opioides são substâncias que atuam sobre receptores de opioides para produzir efeitos semelhantes à morfina. São utilizados principalmente para alívio da dor, incluindo anestesia. Outros usos médicos incluem a supressão da diarreia, o tratamento de vícios, a reversão da sobredosagem de opioides, a supressão da tosse e a supressão da constipação induzida por opioides. Os opioides extremamente potentes, como o carfentanil, são aprovados apenas para uso veterinário. Os efeitos colaterais dos opioides podem incluir coceira, sedação, náuseas, depressão respiratória, constipação e euforia. Tolerância e dependência desenvolver-se-ão com uso contínuo, exigindo doses crescentes e levando a uma síndrome de abstinência após descontinuação abrupta. A euforia estimula o uso recreativo, e, frequentemente, o uso recreacional crescente de opioides resulta em dependência. Uma sobredosagem ou uso concomitante com outros medicamentos depressivos geralmente resulta em morte por depressão respiratória. Os opioides agem ligando-se aos receptores opioides que se encontram principalmente no sistema nervoso central e periférico e no trato gastrointestinal. Esses receptores medeiam os efeitos psicoativos e somáticos dos opioides. Os fármacos opioides incluem agonistas parciais – como o fármaco antidiarreia loperamida – e antagonistas – como o naloxegol para a constipação induzida por opioides –, que não atravessam a barreira hematoencefálica, mas podem deslocar outros opioides da ligação nesses receptores. Entre os principais opioides utilizados na terapêutica encontram-se: • Agonista opioide potente: fentanila, heroína, hidrocodona, hidromorfona, meperidina, metadona, morfina, oxicodona e oximorfona. • Agonista opioide fraco: codeína. • Antagonista opioide: naloxona, naltrexona e naloxegol. • Outros: tapendatol e tramadol. 68 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a Unidade II Devido à reputação dos fármacos opiáceos quanto ao vício e à overdose fatal, a maioria é de substâncias controladas. Em 2013, entre 28 e 38 milhões de pessoas utilizaram ilegalmente opiáceos (entre 0,6% e 0,8% da população global entre 15 e 65 anos). Em 2017, estima-se que quatro milhões de pessoas nos Estados Unidos usaram opioides de forma recreativa ou dependiam deles. As atuais taxas aumentadas de uso recreativo e dependência são atribuídas à prescrição excessiva de medicamentos opioides e ao uso de heroína ilícita barata. 5.2.1 Indicação de uso terapêuticoA seguir, algumas indicações de uso terapêutico de opioides: • Dor: os opioides são indicados para o alívio de dor de leve a severa, mas geralmente são reservados para dor de moderada a grave. • Dor aguda: os opioides são eficazes para o tratamento da dor aguda (como a dor pós- cirúrgica). Para o alívio imediato da dor aguda de moderada a grave, os opioides são frequentemente o tratamento de escolha, devido ao seu rápido início, eficácia e menor risco de dependência. Eles também foram considerados importantes nos cuidados paliativos para ajudar com a dor severa, crônica e incapacitante, que pode ocorrer em algumas condições terminais, como o câncer, e em condições degenerativas, como a artrite reumatoide. Em muitos casos, os opioides são uma estratégia bem-sucedida de cuidados de longo prazo para aqueles com dor crônica devido ao câncer. • Dor crônica sem câncer: as diretrizes sugeriram que o risco de opioides é provavelmente maior do que seus benefícios quando usado para a maioria das condições crônicas não cancerosas, incluindo dores de cabeça, dor nas costas e fibromialgia. Assim, eles devem ser usados com cautela na dor crônica sem câncer. Se usado, os benefícios e danos devem ser reavaliados pelo menos de três em três meses. No tratamento da dor crônica, os opioides são uma opção a ser testada depois que outros analgésicos menos arriscados foram considerados, incluindo paracetamol/acetaminofeno ou AINEs, como ibuprofeno ou naproxeno. Alguns tipos de dor crônica, incluindo a dor causada por fibromialgia ou enxaqueca, são preferencialmente tratados com drogas diferentes dos opioides. A eficácia do uso de opioides para diminuir a dor neuropática crônica é incerta. Os opioides são contraindicados como um tratamento de primeira linha para a dor de cabeça porque prejudicam o estado de alerta, trazem risco de dependência e aumentam o risco de que as dores de cabeça episódicas se tornem crônicas. Os opioides também podem causar maior sensibilidade à dor de cabeça. Quando outros tratamentos falham ou não estão disponíveis, os opioides podem ser apropriados para tratar dor de cabeça se o paciente puder ser monitorado para prevenir o desenvolvimento de dor de cabeça crônica. Os opioides estão sendo usados mais frequentemente no tratamento da dor crônica não maligna. Essa prática levou agora a um problema novo e crescente com o vício e o uso indevido de opioides. Devido a vários efeitos negativos, o uso de opioides para o tratamento prolongado da dor crônica não é indicado, a menos que outros analgésicos menos arriscados tenham sido ineficazes. A dor crônica que ocorre apenas periodicamente, como a dor nervosa, enxaqueca e fibromialgia, frequentemente é mais bem tratada com medicamentos que não sejam opioides. 69 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a FARMACOLOGIA APLICADA À ENFERMAGEM Paracetamol e anti-inflamatórios não esteroides, incluindo ibuprofeno e naproxeno, são considerados alternativas mais seguras. Eles são frequentemente usados combinados com opioides – como o paracetamol combinado com oxicodona (percocet) e ibuprofeno combinado com hidrocodona (vicoprofeno) –, o que aumenta o alívio da dor, mas também destina-se a dissuadir o uso recreativo. • Tosse: a codeína já foi vista como imprescindível para supressor da tosse, mas essa posição agora é questionada. Alguns recentes ensaios controlados com placebo descobriram que não pode ser melhor do que um placebo para algumas causas, incluindo tosse aguda em crianças. Assim, não é recomendado para crianças. Além disso, não há evidências de que a hidrocodona seja útil em crianças. Da mesma forma, uma orientação holandesa de 2012 sobre o tratamento da tosse aguda não recomenda seu uso. O análogo opioide dextrometorfano, reivindicado há muito como um supressor da tosse como a codeína, demonstrou de forma semelhante poucos benefícios em vários estudos recentes. Baixa dose de morfina pode ajudar no tratamento da tosse crônica, mas seu uso é limitado por efeitos colaterais. • Diarreia e constipação: nos casos de síndrome do intestino irritável predominantemente de diarreia, os opioides podem ser usados para suprimir a diarreia. A loperamida é um opioide seletivo periférico disponível sem receita médica para suprimir a diarreia. A capacidade de suprimir a diarreia também produz constipação quando os opioides são usados além de várias semanas. Naloxegol, um antagonista opioide perifericamente seletivo, está agora disponível para tratar constipação induzida por opioides. • Falta de ar: os opioides podem ajudar a evitar ou a tratar a falta de ar, especialmente em doenças avançadas, como câncer DPOC, entre outros. 5.3 Anestésicos locais Os anestésicos locais bloqueiam a condução dos impulsos sensoriais, e, em concentrações mais alta, os impulsos motores da periferia ao SNC. Os canais de sódio são bloqueados, prevenindo o aumento transitório na permeabilidade da membrana do nervo ao sódio, o que é necessário para o potencial de ação. Quando a propagação dos potenciais de ação é bloqueada, a sensação não pode ser transmitida desde a fonte do estímulo até o cérebro. As técnicas de administração incluem via tópica, infiltração, bloqueio de nervo periférico e bloqueio neuraxial (espinal, epidural ou caudal). As fibras não mielinizadas, pequenas, para a dor, temperatura e atividade autônoma, são mais sensíveis aos anestésicos locais. Os anestésicos locais mais usados são bupivacaína, lidocaína, mepivacaína, procaína, ropivacaína e tetracaína. O início e a duração do efeito dos anestésicos locais são influenciados por vários fatores, incluindo pH do tecido, morfologia dos nervos, concentração e lipossolubilidade do fármaco. Destes, o pH do tecido é o fator mais importante. 70 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a Unidade II 5.3.1 Indicações e ações Os anestésicos locais causam vasodilatação, levando à rápida difusão para fora do local de ação e diminuindo a duração quando esses fármacos são administrados sozinhos. Acrescentando um vasoconstritor, a velocidade de absorção e de difusão do anestésico local diminui. Isso minimiza a toxicidade sistêmica e aumenta a duração da ação. A função hepática não afeta a duração de ação da anestesia local, que é determinada pela redistribuição, e não por biotransformação. Alguns anestésicos locais têm outros usos terapêuticos, por exemplo, a lidocaína, que pode ser usada com um antiarritímico. 5.3.2 Efeitos adversos As reações adversas mais importantes dos anestésicos locais são as reações alérgicas. Seu uso deve ser cauteloso em crianças e idosos. Antes de administrar um anestésico local em uma criança, deve ser calculada a dose máxima com base na sua massa corporal para prevenir dosagem excessiva acidental. É prudente ficar bem abaixo da dosagem máxima recomendada em pacientes idosos, que com frequência têm comprometimento da função hepática. Como pode haver certo grau de comprometimento cardiovascular em pacientes idosos, pode ser prudente reduzir a dose de epinefrina. Os anestésicos locais são seguros para pacientes suscetíveis à hipertermia maligna. Quadro 3 – Resumo das propriedades farmacológicas de alguns anestésicos locais Fármaco Potência Início Duração Procaína Baixa Rápido Curta Cloroprocaína Baixa Rápido Curta Tetracaína Alta Lento Longa Lidocaína Baixa Rápido Intermediária Mepivacaína Baixa Moderado Intermediária Bupivacaína Alta Lento Longa Ropivacaína Alta Moderado Longa Fonte: Whalen; Finkel; Panavelil (2016, p. 188). Saiba mais Para saber mais sobre a conduta médica e de enfermagem nas intoxicações por anestésicos locais,recomendamos a leitura do seguinte artigo: BARBOSA, M. P. L.; BONI, C. L. A.; ANDRADE, F. C. J. Conduta na intoxicação por anestésicos locais. Revista Médica de Minas Gerais. 2017. Disponível em: <http://rmmg.org/artigo/detalhes/1022>. Acesso em: 21 nov. 2017. 71 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a FARMACOLOGIA APLICADA À ENFERMAGEM 5.4 Anestésicos gerais A anestesia geral é um estado reversível de depressão do sistema nervoso central; causa perda da percepção e de resposta a estímulos. A anestesia oferece cinco vantagens importantes para os pacientes submetidos à cirurgia e a outros procedimentos médicos: • Sedação e diminuição da ansiedade. • Perda da consciência e amnésia. • Relaxamento da musculatura esquelética. • Supressão dos reflexos indesejados. • Analgesia. Como nenhum fármaco sozinho é capaz de promover esses efeitos desejados, várias classes de fármacos são associadas para produzir uma anestesia ideal. A medicação pré-anestésica ajuda a acalmar o paciente, aliviar a dor e a prevenir efeitos indesejados do anestésico administrado na sequência ou do próprio procedimento cirúrgico. Bloqueadores neuromusculares facilitam a intubação e a cirurgia. Anestésicos gerais potentes são administrados por inalação e/ou por injeção intravenosa. Com exceção do óxido nitroso, os anestésicos inalatórios são hidrocarbonetos halogenados e voláteis. Os anestésicos IV consistem em vários tipos de fármacos, comumente usados para induzir rapidamente a anestesia. 5.4.1 Fatores do paciente na seleção da anestesia Os fármacos são escolhidos para obter a anestesia segura e eficiente baseada no tipo de procedimento e nas características do paciente, como função dos órgãos, condições médicas e medicações concomitantes. A seguir, algumas indicações: • Sistema cardiovascular: os anestésicos suprimem a função cardiovascular em graus variados. Isso é uma consideração importante em pacientes com doença arterial coronariana, insuficiência cardíaca, disritmias e doença valvar. Pode ocorrer também hipotensão durante a anestesia, resultando em baixa pressão de perfusão e lesão isquêmica aos tecidos. • Sistema respiratório: a função respiratória deve ser considerada para todos os anestésicos. Asma e anormalidades de ventilação ou perfusão complicam o controle dos anestésicos inalatórios. Os fármacos inalados suprimem a respiração, mas também atuam como broncodilatadores. • Fígado e rins: esses tecidos influenciam a distribuição de longo prazo e a depuração dos fármacos e são também alvos orgânicos para efeitos tóxicos. 72 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a Unidade II • Sistema nervoso: a presença de distúrbios neurológicos, como a epilepsia, miastenia grave, doença neuromuscular e circulação cerebral comprometida influenciam a seleção dos fármacos. • Gestação: precauções especiais devem ser observadas quando o anestésico ou os fármacos adjuvantes são administrados durante a gestação. Os efeitos organogênicos no feto são as principais preocupações no começo da gestação. O uso de óxido nitoso causa anemia aplástica no feto. Os benzodiazepínicos não devem ser utilizados no parto, pois resultam em hipotonia temporária e em alteração da termorregulação do recém-nascido. 5.4.2 Fármacos adjuvantes É comum os pacientes receberem um ou mais destes pré-anestésicos: bloqueador H2 (famotidina, ranitidina) para reduzir a acidez gástrica; benzodiazepínicos (midazolam, diazepam) para diminuir a ansiedade e facilitar a amnésia; analgésicos não opioides (paracetamol, celecoxibe) ou opioides (fentanila); anti-histaminícos (difenidramina) para prevenir reações alérgicas; antieméticos (ondasertrona) para prevenir náuseas; anticolinérgicos (glicopirrolato) para prevenir bradicardia e secreções de líquidos no trato respiratório. A pré-medicação facilita a indução da anestesia e reduz a dosagem de anestésico. 5.4.3 Estágios da anestesia A classificação introduzida por Arthur Ernest Guedel em 1937 descreve quatro estágios da anestesia: • Estágio 1: também conhecido como indução, é o período entre a administração de agentes de indução e a perda de consciência. Durante este estágio, o paciente progride da analgesia sem amnésia para analgesia com amnésia. Os pacientes podem conversar no momento. • Estágio 2: também conhecido como o estágio de excitação, é o período após a perda de consciência e marcado pela atividade excitada e delirante. Durante este estágio, a respiração e a frequência cardíaca do paciente podem tornar-se irregulares. Além disso, pode haver movimentos descontrolados, vômitos, suspensão da respiração e dilatação pupilar. Como a combinação de movimentos espásticos, vômitos e respiração irregular pode comprometer a via aérea do paciente, as drogas de atuação rápida são usadas para minimizar o tempo nesta fase e alcançar o estágio 3 o mais rápido possível. • Estágio 3: também conhecido como anestesia cirúrgica, os músculos esqueléticos relaxam, o vômito para, a depressão respiratória ocorre e os movimentos oculares são lentos e depois param. O paciente está inconsciente e pronto para a cirurgia. Este estágio é dividido em quatro planos: os olhos rolam, depois se fixam; os reflexos da córnea e da laringe estão perdidos; as pupilas dilatam- se e o reflexo leve é perdido; paralisia intercostal e respiração abdominal superficial ocorrem. • Estágio 4: também conhecido como overdose, ocorre quando há muita medicação anestésica em relação à quantidade de estimulação cirúrgica e o paciente possui tronco encefálico grave ou depressão medular, resultando em uma cessação da respiração e potencial colapso cardiovascular. Este estágio é letal sem suporte. 73 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a FARMACOLOGIA APLICADA À ENFERMAGEM Os agentes anestésicos podem ser administrados por várias vias, incluindo inalação, injeção (intravenosa, intramuscular ou subcutânea), oral e retal. Uma vez que entram no sistema circulatório, os agentes são transportados para os seus sítios bioquímicos de ação nos sistemas nervoso central e autônomo. A maioria dos anestésicos gerais são induzidos por via intravenosa ou por inalação. A injeção intravenosa funciona mais rapidamente do que a inalação, levando cerca de 10 a 20 segundos para induzir inconsciência total. Isso minimiza a fase excitatória (estágio 2) e, portanto, reduz as complicações relacionadas à indução da anestesia. Os agentes de indução intravenosa comumente utilizados incluem propofol, tiopental de sódio, etomidato e cetamina. A anestesia inalatória pode ser escolhida quando o acesso intravenoso é difícil de obter (por exemplo, em crianças), quando a dificuldade em manter a via aérea é antecipada, ou quando o paciente a prefere. O sevoflurano é o agente mais utilizado para a indução inalatória, porque é menos irritante para a árvore traqueobrônquica do que outros agentes. Temos a seguinte sequência de drogas de indução como exemplo: • Pré-oxigenação para preencher os pulmões com oxigênio e permitir um período mais longo de apneia durante a intubação sem afetar os níveis de oxigênio no sangue. • Lidocaína para sedação e analgesia sistêmica para intubação. • Fentanila para analgesia sistêmica e intubação. • Propofol para sedação e intubação. Após administrar os anestésicos, os sinais vitais e a resposta a estímulos são monitorados continuamente para balancear a quantidade de fármaco inalada ou infundida com a profundidade da anestesia. Comumente, a manutenção é feita com anestésicos voláteisque oferecem um bom controle da profundidade da anestesia. Opioides como a fentanila são usados para a analgesia junto com os anestésicos voláteis, pois estes últimos não são bons analgésicos. No pós-operatório, a mistura de anestésicos é retirada, e o paciente é monitorado para o retorno à consciência. Para a maioria dos anestésicos, a recuperação é o reverso da indução. O paciente é monitorado para assegurar completa recuperação, com funções fisiológicas normais (respiração espontânea, pressão arterial e frequência cardíacas aceitáveis, reflexos intactos e sem reações atrasadas, como a depressão respiratória). 5.4.4 Anestésicos inalatórios Um anestésico inalatório é um composto químico que possui propriedades anestésicas gerais que podem ser administradas por inalação. Eles são administrados por máscara de anestesia ou tubo traqueal conectado a um vaporizador anestésico e a um sistema de entrega anestésica. Agentes de significativo interesse clínico contemporâneo incluem agentes anestésicos voláteis, como isoflurano, sevoflurano, desflurano e halotano, bem como certos gases anestésicos, como o óxido nitroso. 74 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a Unidade II Os agentes anestésicos voláteis compartilham a propriedade de serem líquidos à temperatura ambiente, mas evaporando facilmente para a administração por inalação. Todos esses agentes compartilham a propriedade de serem bastante hidrofóbicos (ou seja, como líquidos, não são miscíveis livremente com água e, como gases, se dissolvem em óleos melhor do que em água). O agente anestésico volátil ideal oferece indução e manutenção confiáveis de anestesia geral com efeitos mínimos em outros sistemas de órgãos. Além disso, é inodoro ou agradável para inalar, seguro para todas as idades e também na gravidez, não é metabolizado, rápido no início e no deslocamento, potente e seguro para exposição ao pessoal da sala de operações. Esse agente também é barato para fabricar, fácil de transportar e armazenar e apresenta uma longa vida útil; fácil de administrar e monitorar com equipamentos existentes; estável para a luz, plásticos, metais, borracha e cal sodada; não inflamável e ambientalmente seguro. Nenhum dos agentes atualmente em uso é ideal, embora muitos tenham algumas das características desejáveis. Por exemplo, o sevoflurano é agradável de inalar e é rápido no início e no deslocamento, também é seguro para todas as idades. No entanto, ele é caro, aproximadamente de três a cinco vezes mais caro que o isoflurano. 5.4.5 Anestésicos intravenosos Embora existam muitos fármacos que podem ser usados por via intravenosa para produzir anestesia ou sedação, as mais comuns são: barbitúricos (amobarbital, metohexital, tiamilal e tiopental), benzodiazepínicos (diazepam, lorazepam e midazolam), etomidato, cetamina e propofol. Os dois barbitúricos mencionados, tiopental e metohexital, são de ação ultracurta e são usados para induzir e manter a anestesia. No entanto, embora eles produzam inconsciência, eles não fornecem analgesia (alívio da dor) e devem ser usados com outros agentes. Os benzodiazepínicos podem ser usados para sedação antes ou após a cirurgia e podem ser usados para induzir e manter anestesia geral. Quando os benzodiazepínicos são utilizados para induzir anestesia geral, o midazolam é preferido. Os benzodiazepínicos também são usados para sedação durante procedimentos que não exigem anestesia geral. Como os barbitúricos, os benzodiazepínicos não possuem propriedades de alívio da dor. O propofol é um dos fármacos intravenosos mais utilizados para induzir e manter a anestesia geral. Também pode ser usado para sedação durante procedimentos ou na UTI. Como os outros agentes mencionados anteriormente, torna os pacientes inconscientes sem produzir alívio da dor. Por causa de seus efeitos fisiológicos favoráveis, o etomidato tem sido usado principalmente em pacientes doentes. A cetamina é muito usada na anestesia por causa das experiências desagradáveis que às vezes ocorrem no início da anestesia, que incluem sonhos vívidos, experiências extracorpóreas e ilusões. No entanto, como o etomidato, ela é frequentemente usada em situações de emergência e com pacientes doentes, porque produz menos efeitos fisiológicos adversos. 75 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a FARMACOLOGIA APLICADA À ENFERMAGEM Ao contrário dos medicamentos anestésicos intravenosos mencionados anteriormente, a cetamina produz alívio profundo da dor, mesmo em doses inferiores às que induzem a anestesia geral. Também, ao contrário dos outros agentes anestésicos citados, os pacientes que recebem cetamina isoladamente parecem estar em um estado cataléptico, ao contrário de outros estados de anestesia que se assemelham ao sono normal. Os pacientes anestesiados com cetamina têm analgesia profunda, mas mantêm os olhos abertos e muitos reflexos. 6 ANTIBIÓTICOS (PARTE 1) Os antibióticos também são chamados de medicamentos antimicrobianos e usados nos tratamentos e prevenções de infecções. Eles podem matar ou inibir o crescimento de bactérias ou outros microorganismos. Um número limitado de antibióticos também possui atividade antiprotozoária. Os antibióticos não são eficazes contra vírus, como o resfriado comum ou a gripe; as drogas que inibem vírus são chamadas de medicamentos antivirais ou antivirais. Às vezes, o termo antibiótico (que significa “vida oposta”) é usado para se referir a qualquer substância usada contra micróbios, sinônimo de antimicrobiano. Algumas fontes distinguem entre antibacteriano e antibiótico; antibacterianos são usados em sabões e desinfetantes, enquanto os antibióticos são usados como medicamento. Os antibióticos revolucionaram a medicina no século XX. Juntamente com a vacinação, os antibióticos levaram à quase erradicação de doenças como a tuberculose no mundo desenvolvido. No entanto, sua eficácia e fácil acesso também levaram ao seu uso excessivo, levando os microorganismos a desenvolver resistência. Isso ocasionou problemas generalizados, tanto quanto para induzir a Organização Mundial da Saúde a classificar a resistência antimicrobiana como uma “séria ameaça que não é mais uma previsão para o futuro, está acontecendo agora em todas as regiões do mundo e tem o potencial de afetar qualquer pessoa, de qualquer idade, em qualquer país”. O tratamento antimicrobiano aproveita-se das diferenças bioquímicas que existem entre os microorganismos e os seres humanos. Os fármacos antimicrobianos são eficazes no tratamento de infecções, pois são seletivamente tóxicos, ou seja, eles têm capacidade de lesar ou matar os microorganismos invasores sem prejudicar as células do hospedeiro. Na maioria das situações, a toxicidade seletiva é relativa em vez de absoluta, exigindo que a concentração do fármaco seja cuidadosamente controlada para atingir o microorganismo enquanto ainda está sendo tolerada pelo hospedeiro. A caracterização do microorganismo é decisiva para selecionar o fármaco apropriado. Uma avaliação rápida da natureza do patógeno às vezes pode ser feita com base na coloração de Gram, que é particularmente útil na identificação da presença e das características morfológicas do microorganismo nos líquidos orgânicos que, em geral, são estéreis (sangue, soro, urina, líquor, pleural, sinovial e peritoneal). Entretanto, com frequência é necessário cultivar o microorganismo para chegar a um diagnóstico conclusivo e determinar a susceptibilidade aos antimicrobianos. 76 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gram ad or - d at a Unidade II Assim, é essencial obter uma amostra do microorganismo para cultura antes de iniciar o tratamento. De outra forma, seria inviável diferenciar se uma cultura negativa é devida à ausência de microorganismos ou se é resultado dos efeitos antimicrobianos do fármaco administrado. Fungos Bactérias Vírus Figura 10 – Aspectos morfológicos dos três principais microorganismos causadores de doenças nos seres humanos Os antibióticos são comumente classificados com base em seu mecanismo de ação, estrutura química ou espectro de atividade. Os antibióticos que visam à parede celular bacteriana (penicilinas e cefalosporinas) ou à membrana celular (polimixinas), ou interferem com enzimas bacterianas essenciais (rifamicinas, lipiarmicinas, quinolonas e sulfonamidas) têm atividades bactericidas, ou seja, agem levando o microorganismo à morte. Os inibidores da síntese de proteínas (macrolídeos, lincosamidas e tetraciclinas) são geralmente bacteriostáticos, impedem o crescimento e a proliferação do microorganismo (com exceção dos aminoglicosídeos bactericidas). A categorização adicional é baseada na especificidade de seu destino. Os antibióticos de espectro estreito visam a tipos específicos de bactérias, como gram-negativos ou gram-positivos, enquanto os antibióticos de amplo espectro afetam uma vasta gama de bactérias. Após uma interrupção de 40 anos na descoberta de novas classes de compostos antibacterianos, quatro novas classes de antibióticos foram trazidas para o uso clínico no final dos anos 2000 e início de 2010: lipopeptídeos cíclicos (como daptomicina), glicilciclinas (como tigeciclina), oxazolidinonas (como linezolide) e lipiarmicinas (como a fidaxomicina). Neste livro-texto, optou-se por classificar os agentes antimicrobianos pela sua estrutura química, apresentando as principais classes de antimicrobianos usadas na terapêutica. 77 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a FARMACOLOGIA APLICADA À ENFERMAGEM Membrana celular Parede celular Ribossomos DNA ATHF PABA RNAm Inibidores do metabolismo Sulfonamidas Trimetoprima b-Lactâmicos Vancomicina Daptomicina Telavancina Fosfomicina Tetraciclinas Aminoglicosídeos Macrolídeos Clindamicina Cloranfenicol Linezolida Fluoroquinolonas Rifampicina Isoniazida Anfotericina B Polimixina Inibidores da síntese da parede celular Inibidores da função ou síntese dos ácidos nucleicos Inibidores das funções da membrana celular Inibidores da síntese de proteínas Figura 11 – Classificação de alguns antibacterianos pelo seu local de ação. ATHF: ácido tetra-hidrofólico; PABA: ácido para amino benzoico 6.1 Antibacterianos A terminologia antibacterianos se refere a fármacos que têm efeito sobre bactérias, sendo bactericidas ou bacteriostáticos. Em algumas situações, esses fármacos podem também desencadear respostas em outros microorganismos. 6.1.1 Sulfonamidas As sulfas raramente são prescritas como fármacos únicos, exceto em países em desenvolvimento, em que continuam sendo empregadas graças a seu baixo custo e à sua eficácia. Entre as sulfas empregadas na terapêutica, encontram-se o sulfametoxazol e o cotrimoxazol. • Sulfametoxazol e cotrimoxazol — Mecanismo de ação: em vários microorganismos, o ácido di-hidrofólico é sintetizado a partir do ácido para amino benzoico (PABA). Todas as sulfonamidas empregadas atualmente são análogos sintéticos do PABA. Devido à sua semelhança estrutural com o PABA, elas competem com esse substrato pela enzima bacteriana, a di-hidropteroato sintase. As sulfas são consideradas bacteriostáticas. — Indicação/espectro de ação: as sulfas são ativas contra infecções do trato urinário por enterobactérias e Nocardia. Além disso, podem ser usadas se associadas a outros fármacos para o tratamento da toxoplasmose ou como antimalárica. 78 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a Unidade II — Resistência: bactérias que conseguem obter o folato de ambiente são naturalmente resistentes às sulfonamidas. A resistência bacteriana pode ser adquirida pela transferência de plasmídeos ou por mutações aleatórias. A resistência em geral é irreversível e pode ser devida (1) à alteração da di-hipteroato sintase; (2) à diminuição da permeabilidade celular às sulfonamidas; (3) à maior produção do substrato natural, o PABA. — Efeitos adversos: entre os principais efeitos adversos observados estão a cristalúrica (formação de cristais do fármaco nos rins), hipersensibilidade, distúrbios hematopoiéticos e icterícia nuclear (kernicterus). Atualmente, as sulfas são empregadas em associação com a trimetoprima, um inibidor da di- hidrofolato redutase bacteriana. Assim, têm eficácia maior que quando administradas isoladamente. 6.1.2 b-lactâmicos e inibidores da b-lactamase Os fármacos denominados b-lactâmicos são assim chamados devido ao fato de apresentarem em suas estruturas químicas um anel heterocíclico denominado b-lactâmico. Entre os fármacos desta classe encontram-se as penicilinas, cefalosporinas, carbapenamas e monobactamas. 6.1.2.1 Penicilinas As penicilinas estão entre os fármacos mais amplamente eficazes e também entre os menos tóxicos conhecidos, mas o aumento da resistência limitou o seu uso. Os membros dessa família diferem entre si apenas em uma porção da estrutura química, porém essa diferença afeta o espectro antimicrobiano, a estabilidade no suco gástrico, a hipersensibilidade cruzada e a susceptibilidade às enzimas bacterianas de degradação, conhecidas como b-lactamases. Entre os fármacos desta família estão a amoxicilina, ampicilina, benzilpenicilina (penicilina G), dicloxacilina, oxacilina e ticarcilina. • Penicilinas — Mecanismo de ação: as penicilinas interferem na última etapa da síntese da parede bacteriana (transpeptidação ou ligações cruzadas), resultando em exposição da membrana osmoticamente menos estável. Então, a bactéria fica mais susceptível à lise celular, seja pela pressão osmótica, seja pela ativação de autolisinas. As penicilinas são eficazes em microorganismos que estão em crescimento rápido e que sintetizam a parede celular de peptidoglicano. — Indicação/espectro de ação: o espectro das várias penicilinas é determinado em parte pela sua capacidade de atravessar a parede celular da bactéria. Fatores que determinam a susceptibilidade a esses antimicrobianos incluem tamanho, carga e hidrofobicidade dos antimicrobianos. Em geral, os microorganismos gram-positivos têm parede celular facilmente atravessada pelas penicilinas e, por isso, na ausência de resistência, eles são susceptíveis a esses fármacos. Os microorganismos gram-negativos têm uma membrana lipopolissacarídica externa, que envolve a parede celular e atua como barreira contra penicilinas hidrossolúveis. 79 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a FARMACOLOGIA APLICADA À ENFERMAGEM — Resistência: resistência natural ocorre em microorganismos que não possuem parede celular de peptidoglicano ou que têm paredes impermeáveis a esses fármacos. A aquisição de resistência às penicilinas por b-lactamases mediadas por plasmídeos tornou-se um problema clínico importante. A multiplicação dessas cepas resistentes aumenta a disseminação dos genes de resistência. Obtendo resistência por plasmídeo, a bactéria pode adquirir uma ou mais propriedades descritas a seguir, permitindo-lhe sobreviver na presença de antimicrobianos b-lactâmicos. Entre as formas de resistência estão a presença de b-lactamases – enzimascapazes de destruir fármacos b-lactâmicos –, a diminuição da permeabilidade celular ao antimicrobiano e alterações nos componentes da parede bacteriana, como os peptidoglicanos. — Efeitos adversos: entre as principais reações adversas apresentadas pelas penicilinas estão a hipersensibilidade, diarreia, nefrite, neurotoxicidade e toxicidade hematológica. 6.1.2.2 Cefalosporinas As cefalosporinas são uma classe de antibióticos b-lactâmicos originalmente derivados do fungo Acremonium, que anteriormente era conhecido como Cephalosporium. Juntamente com cefamicinas, eles constituem um subgrupo de antibióticos b-lactâmicos chamados cefamas. As cefalosporinas foram descobertas em 1945 pelo farmacologista italiano Giuseppe Brotzu e foram vendidas pela primeira vez em 1964. • Cefalosporinas — Mecanismo de ação: as cefalosporinas são bactericidas e têm o mesmo modo de ação que os outros antibióticos b-lactâmicos (como penicilinas), mas são menos suscetíveis às b-lactamases. As cefalosporinas perturbam a síntese da camada de peptidoglicano, formando a parede celular bacteriana. A camada de peptidoglicano é importante para a integridade estrutural da parede celular. — Indicação/espectro de ação: as cefalosporinas são classificadas de acordo com as gerações em primeira, segunda, terceira, quarta e quinta (ou avançada), com base principalmente no padrão de susceptibilidade bacteriana e resistência às b-lactamases. - Primeira geração: entre os fármacos desta geração estão a cefazolina, cefodroxila e cefalexina. São ativas contra gram-positivo estafilococos sensíveis à meticilina e estreptococos produtoras de penicilinase (embora não sejam as drogas de escolha para tais infecções). Não há atividade contra estafilococos resistentes à meticilina ou enterococos. Em gram-negativo, tem atividade contra Proteus mirabilis, algumas Escherichia coli e Klebsiella pneumoniae. - Segunda geração: fazem parte desta geração a cefuroxima e a axetil cefuroxima. Tem ação sobre gram-positivo menos do que a primeira geração, porém agem em gram-negativo mais do que a primeira geração, entre elas em Haemophilus influenzae, Enterobacter aerogenes e algumas Neisserias. 80 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a Unidade II - Terceira geração: são integrantes desta geração a cefixima, ceftriaxona e ceftibuteno. Agem em gram-positivo, em especial em alguns membros deste grupo (principalmente aqueles disponíveis em uma formulação oral e aqueles com atividade antipseudomonal). Já em gram-negativos, as cefalosporinas de terceira geração possuem um amplo espectro de atividade e um aumento da atividade em relação aos organismos gram-positivos. Eles podem ser particularmente úteis no tratamento de infecções adquiridas no hospital, embora os níveis crescentes de b-lactamases de espectro estendido estejam reduzindo a utilidade clínica desta classe de antibióticos. Eles também são capazes de penetrar no sistema nervoso central, tornando-os úteis contra a meningite causada por pneumococos, meningococos, H. influenzae e suscetíveis à E. coli, Klebsiella e N. gonorrhoeae resistentes à penicilina. Desde agosto de 2012, a cefalosporina de terceira geração, ceftriaxona, é o único tratamento recomendado para a gonorreia (além da azitromicina ou doxiciclina para o tratamento concomitante de Chlamydia). A cefixima já não é recomendada como tratamento de primeira linha devido a evidências de susceptibilidade decrescente. A atividade contra estafilococos e estreptococos é menor com os compostos de terceira geração do que com os compostos de primeira e segunda geração. - Quarta geração: está entre os membros desta geração a cefipima. São agentes do espectro estendido com atividade similar contra organismos gram-positivos, como cefalosporinas de primeira geração. Eles também têm uma maior resistência às b-lactamases do que as cefalosporinas de terceira geração. Muitos podem atravessar a barreira hematoencefálica e são eficazes na meningite. Eles também são usados contra Pseudomonas aeruginosa. - Quinta geração ou geração avançada: o ceftobiprole foi descrito como cefalosporina de “quinta geração”, embora a aceitação desta terminologia não seja universal. O ceftobiprole apresenta características antipseudomonais poderosas e parece ser menos suscetível ao desenvolvimento da resistência. A ceftarolina também foi descrita como cefalosporina de “quinta geração”, mas não tem cobertura antipseudomonal. Ceftolozane é uma nova opção para o tratamento de infecções intra-abdominais complicadas (CIAI) e infecções com trato urinário complicado (cUTI). O ceftolozano é combinado com o inibidor de b-lactamase tazobactam, uma vez que as infecções bacterianas multirresistentes a fármacos geralmente apresentam resistência a todos os antibióticos de b-lactâmicos, a menos que esta enzima seja inibida. — Resistência: os mecanismos de resistência bacteriana às cefalosporinas são essencialmente os mesmos descritos para as penicilinas. — Efeitos adversos: incluem diarreia, náuseas, erupção cutânea, distúrbios eletrolíticos, dor, inflamação no local da injeção, vômitos, dor de cabeça, tonturas, candidíase oral e vaginal, colite pseudomembranosa, superinfecção, eosinofilia, nefrotoxicidade, neutropenia, trombocitopenia e febre. 81 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a FARMACOLOGIA APLICADA À ENFERMAGEM 6.1.2.3 Carbapenemos Os carbapenemos são antimicrobianos b-lactâmicos sintéticos e possuem como representantes o imipeném e meropeném. O imipeném resiste à hidrólise pela maioria das b-lactamases. Esses fármacos têm papel no tratamento empírico devido à sua atividade contra microorganismos produtores de b-lactamases gram-positivos e gram-negativos, anaeróbicos e P. aeruginosa. Entre os efeitos adversos causados por esses fármacos, encontram-se náuseas, êmeses e diarreia. 6.1.2.4 Inibidores da b-lactamase As b-lactamases são uma família de enzimas envolvidas na resistência bacteriana aos antibióticos b-lactâmicos. Elas atuam quebrando o anel b-lactâmico que permite que os antibióticos tipo penicilina funcionem. Estratégias para combater esta forma de resistência incluíram o desenvolvimento de novos antibióticos b-lactâmicos, que são mais resistentes à clivagem e ao desenvolvimento da classe de inibidores enzimáticos denominados inibidores da b-lactamase. Embora os inibidores de b-lactamase tenham pouca atividade antibiótica própria, impedem a degradação bacteriana de antibióticos b-lactâmicos e, portanto, estendem a gama de bactérias afetadas. Os inibidores de b-lactamase atualmente comercializados não são vendidos como drogas individuais. Em vez disso, eles são coformulados com um b-lactâmico que tem uma semivida sérica semelhante. Isso é feito não só para conveniência de dosagem, mas também para minimizar o desenvolvimento da resistência que pode ocorrer como resultado da exposição variável a um ou outro medicamento. As principais classes de antibióticos b-lactâmicos utilizados para tratar infecções bacterianas gram-negativas incluem penicilinas (em ordem de resistência intrínseca à clivagem por b-lactamases), cefalosporinas de terceira geração e carbapenemas. As variantes individuais de b-lactamase podem atingir uma ou várias dessas classes de drogas e apenas um subconjunto será inibido por um determinado inibidor de b-lactamase. Os inibidores de b-lactamase expandem o espectro útil desses antibióticos de b-lactâmicos, inibindo as enzimas de b-lactamase produzidas por bactérias para desativá-las. Entre eles estão os ácidos clavulânico ou clavulanato, geralmente combinado com amoxicilina (Augmentin) ou ticarcilina (Timentina),o ácido sulbactam, geralmente combinado com ampicilina (Unasyn) ou cefoperazona (Sulperazon), e o ácido tazobactam, geralmente combinado com piperacilina (Zosyn). 6.1.3 Tetraciclinas A tetraciclina é um antibiótico usado para tratar uma série de infecções. Isso inclui acne, cólera, brucelose, peste, malária e sífilis. • Tetraciclinas — Mecanismo de ação: a tetraciclina inibe a síntese das proteínas bloqueando a ligação do aminoacil-tRNA carregado ao local A no ribossomo. A tetraciclina se liga à subunidade 30S 82 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a Unidade II dos ribossomos microbianos. Assim, impede a introdução de novos aminoácidos na cadeia de peptédeos nascente. A ação geralmente é inibitória e reversível após a retirada do fármaco. As células de mamíferos são menos vulneráveis ao efeito das tetraciclinas, apesar do fato de que a tetraciclina se liga à subunidade ribossômica pequena de ambos os procariotas e eucariotas (30S e 40S, respectivamente). Isso ocorre porque as bactérias ativam a tetraciclina em seu citoplasma, mesmo contra um gradiente de concentração, enquanto as células de mamíferos não o fazem. Isso explica o efeito relativamente pequeno fora do local da tetraciclina em células humanas. — Indicação/espectro de ação: as tetracicilinas são antimicrobianos eficazes contra uma ampla variedade de microorganismos, incluindo bactérias gram-positivas e gram-negativas, protozoários, espiroquetas, microbactérias e espécies atípicas. — Resistência: a resistência natural às tetraciclinas mais frequente é uma bomba de efluxo que as expele das células, impedindo o seu acúmulo intracelular. Outros mecanismos de resistência às tetraciclinas incluem a inativação enzimática e a produção de proteínas bacterianas que impedem a ligação da tetraciclina no ribossomo. — Efeitos adversos: os efeitos adversos mais comuns incluem vômitos, diarreia, erupção cutânea, perda de apetite, desenvolvimento dentário deficiente – se usado por crianças com menos de oito anos de idade –, problemas renais e queimaduras solares. O uso durante a gravidez pode prejudicar o bebê. 6.1.4 Anfenicol O principal fármaco desta categoria é o cloranfenicol, um antimicrobiano de amplo espectro e restrito às infecções de alto risco, para as quais não existem alternativas. • Anfenicol — Mecanismo de ação: o cloranfenicol se liga reversivelmente à subunidade ribossomal bacteriana 50S e inibe a síntese proteica. Devido a alguma semelhança dos ribossomos mitocondriais de mamíferos e das bactérias, a síntese de ATP nessas organelas pode ser inibida com níveis elevados de cloranfenicol circulantes, produzindo toxicidade na medula óssea. — Indicação/espectro de ação: é ativo contra vários microorganismos, entre os quais clamídias, riquétsias, espiroquetas e anaeróbios. Ele é primariamente bacteriostático, mas, dependendo da concentração e do microorganismo, pode ser bactericida. — Resistência: a resistência é oferecida pela presença de enzimas que inativam o cloranfenicol. Outros mecanismos incluem diminuição da capacidade de penetrar no microorganismo e alterações no local de ligação ribossomal. — Efeitos adversos: entre os principais efeitos estão anemia, síndrome do bebê cinzento e interações farmacológicas com fenitoína e varfarina. 83 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a FARMACOLOGIA APLICADA À ENFERMAGEM 6.1.5 Aminoglicosídeos Os aminoglicosídeos são usados para tratamento de infecções graves decorrentes de bacilos gram- negativos aeróbicos. Contudo, sua utilidade clínica é limitada por graves efeitos tóxicos. O termo aminoglicosídeo se origina da sua estrutura: dois açúcares unidos por ligação glicosídica a um núcleo de hexose central. • Aminoglicosídeos: são derivados de Streptomyces sp (têm sufixo micina) ou de Micromonospora sp. São exemplos de fármacos desta classe a estreptomicina, gentamicina e neomicina. — Mecanismo de ação: os aminoglicosídeos difundem-se por meio de canais porina na membrana externa dos microorganismos suscetíveis. Dentro das células, ele se fixa na subunidade ribossomal 30S, na qual interferem com a montagem do aparelho ribossomal funcional e causam a leitura incorreta do código genético pela subunidade 30S do ribossomo completo. Os antimicrobianos que atuam na inibição da síntese proteica são bacteriostáticos, porém os aminoglicosídeos são bactericidas. — Indicação/espectro de ação: são eficazes contra a maioria dos bacilos aeróbicos gram- negativos, incluindo os que podem ser resistentes a múltiplos fármacos, como Pseudomonas aeruginosa, Klebisiela pneumoniae e Enterobacter sp. Além disso, os aminoglicosídeos são associados com frequência a antibióticos b-lactâmicos para obter efeito sinérgico. — Resistência: a resistência aos aminoglicosídeos ocorre via (1) bomba de efluxo, (2) diminuição da captação e (3) modificação e inativação por síntese de enzimas associada a plasmídeos. Cada uma dessas enzimas tem sua própria especificidade, portanto, a resistência cruzada não pode ser presumida. — Efeitos adversos: os principais efeitos adversos são ototoxicidade, nefrotoxicidade, reações alérgicas e paralisia neuromuscular. 6.1.6 Macrolídeos Os macrolídeos são um grupo de antimicrobianos com uma estrutura lactona macrocíclica à qual estão ligados um ou mais açúcares. Entre os fármacos desta classe estão a eritromicina, azitromicina, claritromicina e telotromicina. • Macrolídeos. — Mecanismo de ação: os macrolídeos são inibidores da síntese protéica. O mecanismo de ação dos macrolídeos é a inibição da biossíntese de proteínas bacterianas, e eles impedem a elongação da cadeia polipetídica nos ribossomos de forma semelhante ao cloranfenicol, bem como inibindo a tradução ribossomal. Outro mecanismo potencial é a dissociação prematura do peptidil-tRNA do ribossomo. Os antibióticos macrolídeos fazem isso ligando-se reversivelmente ao local na subunidade 50S do ribossomo bacteriano. Essa ação é considerada bacteriostática. 84 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a Unidade II — Indicação/espectro de ação: os macrolídeos são usados para tratar infecções causadas por bactérias gram-positivas (por exemplo, Streptococcus pneumoniae), limitadas gram-negativas (por exemplo, Bordetella pertussis e Haemophilus influenzae) e algumas infecções do trato respiratório e do tecido mole. O espectro antimicrobiano dos macrolídeos é ligeiramente maior do que o da penicilina, portanto, os macrolídeos são um substituto comum para pacientes com alergia à penicilina. Os estreptococos b-hemolíticos, pneumococos, estafilococos e enterococos são geralmente suscetíveis a macrolídeos. Ao contrário da penicilina, os macrolídeos demonstraram ser eficazes contra Legionella pneumophila, micoplasma, micobactérias, rickettsia e clamídia. — Resistência: o principal meio de resistência bacteriana aos macrolídeos ocorre pela metilação pós-transcricional do ARN ribossômico bacteriano 23S. Essa resistência adquirida pode ser mediada por plasmídeo ou pode ser cromossômica, isto é, por mutação, e resulta em resistência cruzada a macrolídeos. Outros dois tipos de resistência adquirida raramente vistos incluem a produção de enzimas inativadoras de drogas (esterases ou quinases), bem como a produção de proteínas de efluxo dependentes de ATP ativo, que transportam o medicamento fora da célula. — Efeitos adversos: os principais são irritação e motilidade gástricas, incterícia colestática e ototoxicidade. Observação Macrolídeos não devemser tomados com colchicina, pois podem levar à toxicidade da colchicina. Os sintomas da toxicidade da colchicina incluem distúrbios gastrointestinais, febre, mialgia, pancitopenia e insuficiência orgânica. Bactéria Cápsula com antibiótico Figura 12 – Ilustração do dano que os antibióticos que agem na parede podem causar às bactérias. 85 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a FARMACOLOGIA APLICADA À ENFERMAGEM 6.2 Antifúngicos As doenças infecciosas causadas por fungos são denominadas micoses e, com frequência, são de natureza crônica. As infecções micóticas podem ser superficiais e envolver apenas a pele (micoses cutâneas), e outras podem penetrar a pele, causando infecções subcutâneas ou sistêmicas. As características dos fungos são singulares e diversas, sendo eucariontes com paredes celulares rígidas compostas largamente de quitina em vez de peptidoglicano. Além disso, a membrana do fungo contém ergosterol, em vez de colesterol, encontrado nas membranas de células de mamíferos. Essas características estruturais são úteis no direcionamento dos fármacos a serem empregados. A seguir estão categorizadas e sistematizadas as principais classes de antifúngicos utilizados na terapêutica. 6.2.1 Poliênicos Um polieno é uma molécula com múltiplas ligações duplas conjugadas. Um antifúngico de polietileno é um polieno macrocíclico com uma região altamente hidroxilada no anel oposto ao sistema conjugado. Isso o torna um antifúngico de polietileno de caráter anfifílico. Os antimicóticos de polieno se ligam com esterois na membrana celular fúngica, principalmente o ergosterol. Isso altera a temperatura de transição da membrana celular, colocando a membrana em um estado menos fluido e mais cristalino. Como resultado, o conteúdo da célula, incluindo íons monovalentes (K+, Na+, H+ e Cl-) e pequenas moléculas orgânicas vazam do ambiente intracelular para o ambiente extraceluar, sendo essa a causa de morte do fungo. As células animais contêm colesterol em vez de ergosterol, portanto, são muito menos suscetíveis. No entanto, em doses terapêuticas, a anfotericina B podem se ligar ao colesterol da membrana animal, aumentando o risco de toxicidade humana. A anfotericina B é nefrotóxica quando administrada por via intravenosa. À medida que a cadeia hidrofóbica de polieno é encurtada, a sua atividade de ligação ao esterol é aumentada. Portanto, uma redução adicional da cadeia hidrofóbica pode resultar em ligação ao colesterol, tornando-o tóxico para os animais. Os principais fármacos desta classe são a anfotericina B e a nistatina. • Anfotercina B — Mecanismo de ação: se liga ao ergosterol nas membranas plasmáticas das células dos fungos sensíveis. Ali ela forma poros (canais) que precisam de interações hidrofóbicas entre o segmento lipídico do antifúngico polieno e o esterol. O poro desorganiza a função da membrana, permitindo o vazamento de eletrólitos e pequenas moléculas. — Indicação: é eficaz contra uma ampla variedade de fungos, incluindo Candida albicans, Histoplasma capsulatum, Cryptococus neoformans e várias cepas de Aspergillus. Também pode ser indicada no tratamento de infecções por protozoários (leishmaniose). — Efeitos adversos: pode causar febres e calafrios, lesão renal, hipotensão e tromboflebites. 86 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a Unidade II • Nistatina — Mecanismo de ação: sua estrutura química se assemelha à anfotericina B e apresenta o mesmo mecanismo de ação. — Indicação: é usada para tratamento de infecções cutâneas e orais por Candida. A absorção por via oral é desprezível e não é usada por via parenteral devido à sua toxicidade. — Efeitos adversos: são raros, pois não são absorvidos por via oral. Saiba mais Para mais informações e para o aprofundamento dos estudos sobre a anfotericina B, recomendamos a seguinte leitura: AGÊNCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA (ANVISA). Anfotericina B. União Química Farmacêutica Nacional S.A. [s.d.]. Disponível em: <http:// www.anvisa.gov.br/datavisa/fila_bula/frmVisualizarBula.asp?pNuTransacao =9032052015&pIdAnexo=2892182>. Acesso em: 1º nov. 2017. 6.2.2 Imidazólicos Os antifúngicos azois são feitos de duas classes diferentes de fármacos: imidazois e triazois. Ainda que esses fármacos tenham mecanismos de ação e espectros similares, sua farmacocinética e seus usos terapêuticos variam significativamente. Em geral, os imidazois são administrados topicamente contra infeções cutâneas, ao passo que os triazois são usados por via sistêmica para o tratamento e profilaxia de infecções fúngicas cutâneas ou sistêmicas. São fármacos pertencentes a essa classe o cetoconazol, miconazol, terconazol, fluconazol, itraconazol, voriconazol, entre outros. • Imidazólicos — Mecanismo de ação: os azois são predominantemente fungistáticos. Eles inibem a biossíntese do ergosterol no fungo. Essa inibição desorganiza a estrutura e a função da membrana, o que, por sua vez, inibe o crescimento da célula fúngica. — Indicação: são utilizados para o tratamento de inúmeras infecções fúngicas, entre elas a blastomicose, esporotricose, paracoccidioidomicose e histoplasmose. — Efeitos adversos: incluem náuseas, vômitos, urticária, hipopotassemia, hipertensão, edema, cefaleia e hepatotoxicidade. 87 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a FARMACOLOGIA APLICADA À ENFERMAGEM Observação Cetoconazol é um fármaco antimicótico ou antifúngico derivado do imidazol usado topicamente (creme, gel ou xampu). Descoberto nos anos 1980, não é mais usado na forma oral por ser muito mais tóxico que outros antifúngicos. 6.2.3 Aliaminas Os fármacos pertencentes a esta classe apresentam estuturas que se assemelham ao ergosterol. Entre os fármacos, encontram-se a terbinafina, naftifina e butenafina. • Aliaminas — Mecanismo de ação: esses fármacos atuam inibindo a esqualeno epoxidase, bloqueando a biossíntese do ergosterol, um componente essencial da membrana celular dos fungos. O acúmulo de quantidades tóxicas de esqualeno resultam no aumento da permeabilidade da membrana e na morte da célula fúngica. — Indicação: são ativas contra Trichophyton. Também podem ser eficazes contra Candida e Epidermophyton. — Efeitos adversos: distúrbios gastrointestinais (diarreia, dispepsia e náuseas), cefaleia, urticária e distúbios visuais e de paladar. 6.2.4 Caspofunginas (equinocandinas) A caspofungina foi o primeiro membro dos antifúngicos da classe das equinocandinas. • Caspofunginas — Mecanismo de ação: inferem com a síntese da parede fúngica por inibir a síntese dos glicanos, levando à lise e à morte celular. Estão disponíveis para a administração IV, uma vez ao dia. — Indicação: apresentam atividade contra todos os Aspergillus e Candida, incluindo as cepas resistentes aos azois. — Efeitos adversos: são bem toleradas, podendo apresentar eventualmente efeitos adversos, como febre, urticária, náuseas e flebite no local da injeção. Se infudidas rapidamente, podem provocar vermelhidão sistêmica. 88 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a Unidade II Saiba mais Para entender melhor os efeitos terapêuticos das caspofunginas, recomendamos a leitura da seguinte bula ampliada: AGÊNCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA (ANVISA). Cancidas. Merck Sharp & Dohme Farmacêutica Ltda. [s.d.] Diponível em: <http:// www.anvisa.gov.br/datavisa/fila_bula/frmVisualizarBula.asp?pNuTransacao=29347362016&pIdAnexo=4357435>. Acesso em: 1º nov. 2017. 6.2.5 Griseofulvina A griseofulvina causa ruptura do fuso mitótico e inibição da mitose do fungo. Ela é amplamente substituída pela terbinafina oral para tratamento de onicomicose, embora continue em uso contra dermatofitoses de escalpo e de cabelos. A griseofulvina é fungistática e requer longa duração de tratamento. A duração do tratamento depende da velocidade de substituição da pele e das unhas. Preparações cristalinas ultrafinas são adequadamente absorvidas no trato gastrointestinal; a absorção aumenta com alimentos rico em gorduras. A griseofulvina se concentra na pele, nos pelos, nas unhas e nos tecidos adiposos. O uso de griseofulvina é contraindicado para gestantes. Resumo Nesta unidade foram apresentados os principais tratamentos para doenças neurodegenerativas, como o Mal de Alzheimer e Parkinson. Além disso, foi estudada a anestesia, que é um estado reversível de depressão do sistema nervoso central e que causa a perda de percepção e reposta a estímulos. A anestesia oferece cinco vantagens importantes para os pacientes submetidos à cirurgia e a outros procedimentos médicos, como sedação e diminuição da ansiedade, perda da consciência e amnésia, relaxamento da musculatura esquelética, supressão dos reflexos indesejados e analgesia. Já os opiodes são fármacos naturais ou sintéticos que produzem efeito tipo morfina. O controle da dor é um dos maiores desafios da clínica médica. A dor é definida como uma sensação desagradável, que pode ser aguda ou crônica, e é consequência de processos neuroquímicos complexos no SNC e no periférico. Outro assunto abordado nesta unidade foram os agentes antimicrobianos com ação em bactérias e fungos. O tratamento antimicrobiano aproveita-se 89 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a FARMACOLOGIA APLICADA À ENFERMAGEM das diferenças bioquímicas que existem entre os microorganismos e os seres humanos. Os fármacos antimicrobianos são eficazes no tratamento das infecções, pois são seletivamente tóxicos, ou seja, eles têm capacidade de lesar ou matar os microorganismos invasores sem prejudicar as células do hospedeiro. Na maioria das situações, a toxicidade seletiva é relativa, em vez de absoluta, exigindo que a concentração do fármaco seja cuidadosamente controlada para atingir o microorganismo enquanto ela ainda está sendo tolerada pelo hospedeiro. Exercícios Questão 1. (Coseac/UFF 2014) Em relação à farmacologia dos opioides no período neonatal: A) A morfina apresenta menor meia-vida quando comparada ao paciente adulto. B) O fentanil administrado em doses equivalentes (em µg/kg) resulta em níveis plasmáticos menores nesta faixa etária, comparando-se com adultos. C) A meia-vida contexto-sensitiva do remifentanil está significativamente aumentada para períodos de infusão maiores que quatro horas. D) A farmacocinética do alfentanil não se altera nesta faixa etária. E) O volume de distribuição do alfentanil está reduzido. Resposta correta: alternativa B. Análise das alternativas A) Alternativa incorreta. Justificativa: considerando-se o uso da morfina em infusão contínua em recém-nascidos, os estudos de farmacocinética mostraram também aumento do clearance e da meia-vida de eliminação se comparados com pacientes adultos. B) Alternativa correta. Justificativa: o fentanil é muito usado em neonatologia devido à sua capacidade de prover rápida analgesia com estabilidade hemodinâmica. C) Alternativa incorreta. Justificativa: a meia-vida contexto-sensitiva após quatro horas de infusão é de apenas quatro minutos, fazendo com que o término da ação independa do tempo de infusão. Assim, a recuperação 90 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a Unidade II dos efeitos do remifentanil ocorre rapidamente (dentro de cinco a dez minutos), e um nível fixo de concentração é atingido de cinco a dez minutos da mudança na velocidade de infusão. D) Alternativa incorreta. Justificativa: de maneira geral, o clearance do alfentanil está diminuído nos recém-nascidos e sua meia-vida é prolongada. E) Alternativa incorreta. Justificativa: o volume de distribuição pode estar aumentado pela maior porcentagem de água corporal e/ou pela diminuição da ligação com as proteínas. Questão 2. (Cesgranrio 2011) A administração de antibióticos pode produzir efeitos colaterais de natureza tóxica. Qual órgão está sofrendo esse efeito quando o profissional de enfermagem identifica agitação, confusão mental e queixa de cefaleia? A) Rins. B) Fígado. C) Pâncreas. D) Sistema hematopoiético. E) Sistema nervoso central. Resolução desta questão na plataforma.