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HABILIDADES EM PESQUISA I Introdução: Finalidades do projeto de pesquisa: PROJETO DE PESQUISA: O projeto de pesquisa é um documento formal, em que se planejam e organizam os passos de uma pesquisa científica. O termo “projeto” deriva etimologicamente do latim projicere (ou projectus, projectum) e corresponde à ação de “lançar à frente”. São os passos a serem executados. Trata-se de autêntico trabalho intelectual que exige foco, disciplina e concentração. Como regra, precede a execução da pesquisa científica, e deve ser pormenorizado e sistematizado em todas as etapas. Dessa forma, o projeto de pesquisa deverá fornecer os elementos preparatórios e fundamentais, bem como responder com clareza questões elementares, do tipo “o que pesquisar”, “por que pesquisar” e “como pesquisar”. Por um lado, o projeto de pesquisa deverá contemplar todas as informações necessárias, mas, por outro, deverá ser um documento sucinto e bem organizado. Recomenda-se evitar superficialidades, e quando se tem autonomia, sugere-se que totalize de 10 a 25 páginas, no máximo; ou que siga o que é proposto oficialmente nos editais de agências de fomento ou de programas de pós-graduação, a qual será destinatária a submissão do projeto. Regularmente, os projetos de pesquisa são analisados por consultores anônimos oriundos de diferentes instituições. Para facilitar a elaboração do parecer e o deferimento, o estilo de lin-guagem deverá ser claro e objetivo, e a formatação, padronizada. O projeto de pesquisa, paralelamente à função de auxiliar no planejamento, apresenta outros múltiplos desígnios. No âmbito acadêmico, por exemplo, se presta à formulação de propostas de pesquisa para o Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (PIBIC), mestrado, doutorado, pós-doutorado, etc. O projeto é o mesmo em sua estrutura, mas varia em profundidade e em significância do problema de estudo para os diferentes níveis, pois o projeto de doutorado deverá ser mais significativo em termos de contribuição, objetivos e metas, quando comparado ao mestrado ou PIBIC, por exemplo, mesmo porque supõe-se que o doutorando esteja melhor capacitado e com experiência oriunda do mestrado para a execução de um projeto mais ambicioso. Quadro de finalidades do projeto de pesquisa: • Delinear a pesquisa científica em todas as etapas futuras, dando-se a oportunidade de refletir sobre a pesquisa antes de iniciá-la. • Instrumentar o debate científico e acadêmico da proposta de pesquisa. • Levantar dados sobre a linha de pesquisa a que se propõe estudar e verificar contradições ou lacunas do conhecimento. • Evitar a repetição de pesquisas já realizadas. • Padronizar metas e passos para o pesquisador e equipe durante o percurso de investigação. Escolhendo o que pesquisar • Instrumentar propostas junto à instituição proponente, patrocinadores, comitê de ética em pesquisa (CEP) e órgãos financiadores (a toda comunidade científica pertinente). • Julgar a relevância e mérito da pesquisa. • Apreciar os princípios éticos aplicados à pesquisa científica. • Captar recursos financeiros. • Estimar o tempo de duração (cronograma). • Estimar o custo financeiro (orçamento). • Evitar desperdícios, de tempo e financeiro. • Estimar a viabilidade da execução da pesquisa (em termos de recursos metodológicos, institucionais, éticos, cronológicos, orçamentários, capacitação dos pesquisadores, etc.). A seleção do tema sobre o que pesquisar constitui uma dúvida frequente do pesquisador neófito. Esta etapa não se resume na escolha simples e cega do assunto, mas envolve saber delimitá-lo e argumentá-lo perante a literatura científica atualizada, afim de verificar o estado da arte e a originalidade da proposta. Portanto, presta-se inclusive a identificar as lacunas do conhecimento e elaborar as prováveis hipóteses científicas. Para isso, são propostos cinco passos que antecedem a redação do projeto de pesquisa propriamente dito. Passo 1: seleção do tema O primeiro passo para a elaboração do projeto de pesquisa é a escolha da ideia central, que se traduz na seleção do assunto (exemplo, no campo odontológico: cárie dentária, doença periodontal, má oclusão, materiais dentários, infecção do canal radicular, etc.). A seleção do assunto a ser pesquisado passa, muitas vezes, pela linha de pesquisa do orientador e/ou pela afinidade ou aptidão do orientado. O assunto deve instigar e desafiar o pesquisador. A dedicação à execução do projeto pode ser norteada pelo entusiasmo existente entre o pesquisador e o tema. Ter satisfação com o assunto é essencial, bem como um estímulo adicional, pois o trabalho de pesquisa é considerado árduo e meticuloso. Como o assunto é naturalmente amplo, faz-se necessária o segundo passo neste processo de seleção: a delimitação do tema. Assuntos, naturalmente amplos, se afunilarão a propostas temáticas mais específicas. O tema é um campo específico do conhecimento, o que constitui a linha de pesquisa (no exemplo da cárie dentária, o afunilamento poderá ser: epidemiologia, etiologia, diagnóstico, prognóstico, prevenção, tratamento, etc.). Cárie dentária > Cárie radicular > Fator de risco > Idosos > Idosos com câncer > Pós- radioterapia Passo 2: Realização de busca por informações na literatura Antes de iniciar o projeto de pesquisa, faz-se necessário conhecer o estado da arte, ou seja, verificar qual é o nível do conhecimento atualizado sobre o tema. Assim, busca-se por informações sobre o que já se sabe, se outros estudos semelhantes à pretensa proposta atual já foram realizados, ou quais variáveis ainda não foram investigadas. Dessa forma, objetiva-se evitar a repetição de pesquisas já realizadas e contribuir efetivamente para a edificação do novo conhecimento. O levantamento preliminar da literatura científica é essencial nesta etapa, tanto para se obter informações quantitativas quanto qualitativas. Em termos quantitativos, faz-se uma verificação nas plataformas de bases para analisar sobre o que, quando e quanto já se foi publicado, e verifica-se o quão original é o tema que está sendo proposto; em termos qualitativos, garante-se a qualidade da evidência, por meio da análise crítica individual dos artigos publicados. Esse levantamento quali-quantitativo fornece dire- trizes para o prosseguimento do projeto de pesquisa. A matéria-prima dessa informação é a literatura científica pré-existente, e, para obtê-la, é necessária uma estratégia de busca. Por estratégia de busca se define o conjunto de estratégias com o objetivo de potencializar o levantamento da literatura científica. Uma sugestão é iniciar por livros que são referências nas áreas temáticas do projeto e, em seguida, afunilar a busca em artigos científicos. O conhecimento sobre evidência e de revisão sistemática empresta o princípio da estratégia de busca sistematizada, fundamentando o levantamento de artigos clássicos, com elevada citação, relevantes e atuais de periódicos de maior impacto científico para compor a fundamentação teórica do projeto de pesquisa. Para isso, é necessário identificar o vocabulário estruturado, que são descritores indexados nos DeCS4 e MeSH.5 Em seguida, realiza-se a estratégia de busca que envolva as plataformas específicas da área do conhecimento. Na área da saúde, as principais bases de dados incluem o Pubmed, Cochrane, Web of Sciece, Embase, Scopus e Lilacs. Com maior abrangência, inclui-se também o Google Scholar. Passo 3: delimitação do problema e formulação da pergunta de pesquisa Por definição, o problema de pesquisa é a lacuna ou dúvida do conhecimento que merece ser investigada dentro de determinada linha de pesquisa. O problema deve ser revestido por relevância, teórica ou prática, para que respalde a elaboração da pesquisa e passe a contribuir como conhecimento original. O problema deverá ser específico e poderá ser apresentado por meio de uma indagação, constituindo-se numa questão ou pergunta de pesquisa (ou do inglês, search question), algumas vezes levadas a intitular a pesquisa, como nos casos de títulos interrogativos. A pergunta depesquisa bem formulada serve para orientar a pesquisa, em termos de enquadrar os conceitos envolvidos, bem como de dar foco ao escopo da pesquisa. A formulação da pergunta de pesquisa empresta da revisão sistemática a estratégia PICO para estudos intervencionais (ou PECO e PIRO, respectivamente, para estudos observacionais e acurácia diagnóstica). Esse acrônimo representa a seguinte decomposição: P para paciente ou problema; I para intervenção; C para comparação; e O para outcomes, ou, em português, desfecho. Essa metodologia compõe os elementos fundamentais para a delimitação do problema e formulação da pergunta de pesquisa. Caso o pesquisador não formule a pergunta de pesquisa com argumentos válidos, criativos e capazes de despertar o interesse e instigar a reflexão, a pesquisa, ainda no seu estágio de projeto, se torna injustificada. Ao final desse terceiro passo, uma pergunta de pesquisa específica, concisa e clara deve ser elaborada. Passo 4: certificação da originalidade da pergunta de pesquisa Após selecionado o tema, feito o levantamento da literatura, identificado o problema e formulada a pergunta inicial, certifica-se sobre a originalidade do tema proposto. Checar a originalidade da pergunta de pesquisa é um confronto direto com a literatura pré-existente. Não se caracterizando um projeto original, deve-se assumir que a proposta já foi analisada previamente e, caso viável, propor alternativas. Passo 5: proposição de uma hipótese A hipótese científica é uma resposta provisória ao problema/ questão, com intenções de ser posteriormente demonstrada. Ela é formulada necessariamente como uma afirmação, escrita em linguagem simples e objetiva, que consiste em uma resposta à pergunta definida como problema de pesquisa, que ainda não foi testada. A hipótese será declarada falsa ou verdadeira conforme o resultado obtido com a realização da pesquisa. Além disso, a análise estatística é realizada para auxiliar a tomada de decisão de aceitar (H0, hipótese de nulidade) ou rejeitar (H1 ,hipótese alternativa) uma hipótese estatística. Portanto, como hipótese científica, ela é sujeita à confirmação ou negação. Ressalta-se, todavia, que nem a toda pesquisa científica caberá formulação de hipótese. As pesquisas descritivas (ou exploratórias), por exemplo, visam levantar informações preliminares sobre um determinado tema, como a prevalência, incidência, etc. A partir desse levantamento, hipóteses poderão ser formuladas. Os passos que antecedem a elaboração do projeto de pesquisa estão destacados a seguir: Estrutura do projeto de pesquisa O projeto de pesquisa deve ser escrito de maneira que se possa organizar as ideias e discriminar os elementos estruturais presentes. No Brasil, os princípios gerais que especificam a elaboração de projeto de pesquisa são regulamentados pela ABNT 15287/2011 e propõem elementos obrigatórios e opcionais.7 A proposta de padronização da estrutura do projeto de pesquisa é útil por facilitar comparações, especialmente quando há busca por fomento ou julgamento de pre- miações. Mesmo assim, a estrutura é dividida em partes (ou seções) que podem variar minimamente conforme a área do conhecimento; as normas estabelecidas por agências de fomento ou programas de pós-graduação; o tipo de estudo proposto; e o estilo do pesquisador. Apesar disso, seções indispensáveis são facilmente identificadas na maioria dos projetos, as quais darão suporte a fundamentação teórica, descrição metodológica e acomodação dos elementos complementares. Como regra, o projeto de pesquisa é detalhado e sequenciado; e é dotado de certa “elegância científica” na estruturação, redação e normatização. A estrutura do projeto de pesquisa proposta pela ABNT pode ser dividida em três grupos conforme o seguinte conteúdo em:7 1. Elementos pré-textuais: parte que antecede o texto com informações que auxiliam na identificação e utilização do projeto – capa (opcional), folha de rosto (obrigatória), lista de ilustrações (opcional), lista de tabelas (opcional), lista de abreviaturas e siglas (opcional), lista de símbolos (opcional); sumário (obrigatório). 2. Elementos textuais: parte em que é exposto o conteúdo do projeto propriamente dito – introdução (tema, problema, hipótese, objetivo, justificativa); referencial teórico, metodologia, recursos, cronograma. 3. Elementos pós-textuais: parte que sucede o texto e complementa o projeto (referências bibliográficas, anexo, apêndice). Em seguida, uma proposta didática e padronizada das seções que instruem um projeto de pesquisa é apresentada no Quadro abaixo. Em geral, contemplam informações destinados aos programas de pós- graduação, comitês de ética e agências financiadoras. Elementos que compõem um projeto de pesquisa: Capa Folha de rosto Identificação Resumo Resumo / Palavras-chave Sumário 1. Introdução 2. Revisão de literatura 3. Objetivos e metas 4. Justificativas 5. Metodologia 6. Resultados esperados 7. Produtos a serem gerados 8. Infraestrutura e apoio técnico 9.Cronograma 10. Orçamento 11.Referências Anexo Apêndice Capa: A capa é a parte que protege e traz informações à identificação do projeto. É regulamentada pela ABNT 15287:2011 (item 3.5), e é considerada um elemento opcional. As informações são apresentadas na seguinte ordem: a) nome da instituição; b) nome (s) do (s) autor (es); c) título do projeto de pesquisa; d) local (cidade); e) ano. Folha de rosto: A folha de rosto é um elemento obrigatório. Contêm elementos básicos de identificação do projeto de pesquisa, os quais podem ser ordenados da seguinte ordem: a) nome(s) do(s) autor(es); b) título do projeto de pesquisa; c) propósito; d) nome do orientador (ou coordenador); e) local (cidade); f) ano. A descrição do propósito do projeto na folha de rosto visa discriminar suscintamente a sua destinação. Ou seja, a análise de agências financiadoras, comitês de ética e programas de pós-graduação, por exemplo. Identificação: A seção introdutória do projeto de pesquisa visa identificá-lo. Uma seção especialmente direcionada à identificação visa detalhar informações e aprimorar a compreensão. Essas informações podem estar dispostas em um quadro, com o seguinte conteúdo: a) título do projeto de pesquisa; b) enquadramento da temática; c) instituição(ões) envolvida(s), d) equipe de pesquisadores; e e) previsão de tempo para a execução do projeto. Resumo e palavras-chave: Um breve resumo do projeto de pesquisa tem sido solicitado por agências e comitês. Deverá ser em texto corrido e incluir breve referencial teórico, justificativas, objetivo geral hipótese e metodologia. Ao final, são acrescentadas de 3 a 5 palavras-chave. Sumário: Sumário é a lista das principais seções ou divisões abordadas no projeto de pesquisa. Como regra, é posicionado após a identificação da proposta e antecede a introdução. Cada seção enumerada do sumário é acompanhada pela correspondente paginação. É considerado elemento obrigatório. Introdução: Como o próprio nome menciona, a introdução é a seção do projeto de pesquisa que introduz o leitor ao tema da pesquisa. O conteúdo da introdução promove a contextualização do tema (aspecto abrangente) e a exposição lúcida do problema de pesquisa (aspecto específico). A citação de fontes é relevante nesse contexto e deve ser redigida de forma didática e apresentada em 2 a 5 parágrafos. A introdução deve iniciar com a contextualização, que visa expor um breve referencial teórico sobre o tema, e expor o cenário e tendências, não suprimindo o conhecimento teórico mais recente. Em seguida, é realizado o levantamento de questões, conflitos e/ou controvérsias. Apontar incongruências presentes na literatura é respaldar a elaboração do problema. A pesquisa científica visa elucidar ou explorar um problema. Para isso, o problema deve ser claro e contextualizado. Em suma, a introdução deverá promover a fundamentação teórica e a exposição clara do problema, de tal forma que o leitor compreenda o contexto e se sinta interessado na continuidade da leitura. Revisão da literatura: Nestemomento, uma revisão da literatura mais bem elaborada é requerida. Fundamentalmente, a revisão de literatura se destina a fundamentar o referencial teórico e confirmar se outros estudos semelhantes já foram realizados. Além disso, pro- porcionará informações que serão utilizadas na discussão dos resultados, quando a pesquisa já estiver em fase de análise de dados. Sugere-se que a revisão seja dividia em capítulos relacionados aos conceitos básicos do tema e do problema formulados. Os artigos clássicos e recentes são incluídos nessa etapa, e, caso o número de artigos levantados seja abrangente, há a necessidade de realizar um processo seletivo com base na validade e relevância do estudo. Ao ler os artigos científicos, não se deve ater apenas aos resultados encontrados, mas também aos aspectos metodológicos. O fichamento e a sinopse devem ser individualmente realizados e podem ser apresentados em ordem cronológica de publicação e/ou por tipo de assunto. Cabe ressaltar que a manutenção e a fidelidade com o trabalho original são aspectos imperativos que devem ser rigorosamente obedecidos. Objetivos e metas: O objetivo de um projeto de pesquisa define a finalidade da pesquisa, ou seja, o que se pretende atingir. Devem ser propostos um ou vários objetivos, mas que tenham viabilidade. Em caso de vários objetivos, podem ser categorizados conforme a abrangência da proposição em: geral (ou primário) e específicos (ou secundários). O objetivo geral vincula-se a visão abrangente do tema; enquanto, o objetivo específico delimita o alvo particular ou as variáveis individuais a serem analisadas. A lista de objetivos é redigida com clareza, com o verbo no infinitivo, logo no início da frase. Os objetivos podem ter propostas mais descritivas (como: identificar, descrever, sistematizar, caracterizar, indicar, levantar) ou mais explicativas e interpretativas (como: comparar, testar, relacionar, analisar). Cada objetivo específico é atrelado a uma meta. Metas são objetivos quantificados; devem ser apresentadas como produtos concretos, mensuráveis e factíveis de avaliação quantitativa. Servem de instrumento para o acompanhamento e a avaliação do projeto. Justificativas Nesta seção argumenta-se a relevância e mérito do estudo para a área do conhecimento à qual o trabalho está vinculado. Por essa razão, esta seção deverá se localizar após a seção dos objetivos e metas, ou seja, se justifica após conhecer o que estudar. Por relevância da pesquisa entende-se a abrangência do tema e o impacto (aplicabilidade do resultado) no contexto científico, inovação, clínico, social, tecnológico, educacional ou econômico. Nesta seção, a clareza no avanço do conhecimento científico, a real inovação científica e o impacto dos resultados esperados deverão ser mencionados com ênfase. Essa é a parte do projeto que imprime grande relevância no julgamento por entidades financiadoras. Dessa maneira, a justificativa é redigida com criatividade e capacidade argumentativa, além do indispensável conhecimento científico do pesquisador. Isso é discutido com base na literatura, referenciando as fontes apropriadas. O que se procura responder é que a pesquisa deverá ser bem estruturada e justificada. A resposta, com descrições abreviadas, é fundamentada na possibilidade concreta de responder a incertezas ou solucionar problemas, e está diretamente relacionada à relevância da pesquisa. Vale relembrar que a pesquisa visa gerar conhecimento, para que a longo prazo melhore a qualidade de vida da população. Em termos práticos, a justificativa poderá responder de maneira velada as seguintes indagações: • Qual é a importância do problema/ pergunta a ser pesquisada? • Por que esta pesquisa deve ser realizada (razão)? • Quais os benefícios de se realizar a presente pesquisa? • Porque investir financeiramente nesta pesquisa? • Qual o nível de evidência proposto pelo estudo? • O estudo é original ou confirmatório? Metodologia: A metodologia expõe os procedimentos, o material e as técnicas a serem empregados para testar a hipótese e alcançar os objetivos. Essa seção poderá também ser designada por “Material e métodos”, “Casuística e métodos”, “Pacientes e métodos” ou simplesmente “Métodos”, que etimologicamente deriva do grego meta (objetivo) e hodos (via, caminho), ou seja, “o caminho para se alcançar os objetivos”. Evita-se usar a palavra “Materiais”, isoladamente ou acompanhada, por se tratar de palavra com o sentido coletivo ou no plural. Essa seção é similar à encontrada em artigos científicos. A diferença é que, em um artigo, o conteúdo é a descrição do que já foi executado, com o tempo verbal no passado. No projeto, a descrição será futura. Demonstra-se, em linha geral, que as téc- nicas são adequadas para a resolução do problema formulado. As informações são ordenadas e detalhadas visando a adequada coleta de dados, permitir a análise do erro, enfim, validar a pesquisa. As subseções que compõe a metodologia podem incluir: tipo de estudo, informações éticas, cálculo amostral, critérios de elegibilidade, amostragem, coletas e análise de dados. Podem variar conforme o delineamento. Resultados esperados: Esta seção trata da provável resposta ao problema/pergunta formulados. Essa antecipação provisória não será necessariamente semelhante após a análise definitiva dos dados. Em linhas gerais, os resultados esperados se equivalem à hipótese científica, algumas vezes presente, opcionalmente, em etapas introdutórias do projeto de pesquisa, em substituição à presente seção. Os objetivos (geral e específicos) embasam a elaboração dos resultados esperados. Produtos a serem gerados: Esta é a seção que elenca, em termos quantitativos e qualitativos, as principais contribuições que poderão ser gerados pelo projeto de pesquisa. Incluem os seguintes produtos: a) técnico-científico (apresentação oral ou em forma de pôster em congressos, dissertações, teses, artigos publicados, produtos tecnológicos, patentes); b) gerados para a sociedade (a proposição de novos tratamentos, por exemplo); c) formação de recursos humanos especializados; dentre outros. Infraestrutura e apoio técnico: A infraestrutura preexistente e a disponibilidade de apoio técnico são citadas nesta parte. O desafio é convencer os revisores de que os pesquisadores têm condição e equipamento para realizar os estudos propostos, como, por exemplo, ambulatório, clinicas odontológicas, laboratórios de pesquisa, serviço social para auxiliar no processo de amostragem, demanda de pacientes, técnicos de laboratório, etc. Cronograma: O cronograma é o planejamento das etapas a serem desenvolvidas ao longo do tempo. As etapas são ordenadas por cronograma pré-estabelecido e organizados por coerência racional. Por exemplo, as pesquisas envolvendo seres humanos e animais deverão iniciar a coleta dos dados somente após aprovação do projeto de pesquisa perante um CEP. Além disso, o tempo delimitado para a execução da pesquisa deverá ser realista para contemplar a obtenção dos objetivos e produtos propostos. Recomenda-se iniciar com breve descrição do aspecto temporal e finalizar com a inserção de tabela, cujas colunas representem o tempo (mês/ano) e as linhas, as etapas. Orçamento: O orçamento enumera os itens necessários à execução da pesquisa, acompanhados da estimativa dos recursos financeiros. É normalmente apresentado no formato de tabela, abaixo da qual informa-se qual será a provável fonte financiadora (p. ex., se serão despesas custeadas pelos pesquisadores, agência de fomento, patrocínio, etc.). A viabilidade da pesquisa considerará a compatibilidade orçamentária entre as despesas e os recursos. Geralmente, o orçamento detalhado se subdivide em: custeio (material de consumo, serviços terceirizados) e capital (material permanente). Referências Elemento obrigatório. Nesta seção, elencam-se os documentos impressos ou virtuais utilizadas para dar suporte ao projeto. Constituem-se principalmente de estudos científicos do tipo artigos publicados, mas podem incluir livros, teses, dissertação, monografia,anais, censos demográficos, etc. Quando citadas no corpo do projeto, denominam-se referências bibliográficas, e, quando presentes na forma de recomendação para leitura, sem citação, como bibliografia. São normatizadas conforme as recomendações da ABNT NBR 6023/2002. Na área da saúde, é também comum a utilização das normas bibliográficas em estilo Vancouver, em virtude de inúmeros periódicos internacionais adotarem-na. Dessa feita, muitos projetos são referenciados por tal norma. Caso a lista de referência seja numerosa, uma estratégia de seleção por relevância deverá ser adotada. Dá-se preferência para a citação de referências que tenham relevância histórica, sejam inovadoras, suportem a metodologia e se sustentem por índices bibliométricos, como o fator de impacto de artigos (que se refere ao número de citações, por exemplo da base Scopus da editora Elsevier, ou da Web os Science) ou da reputação de periódicos (Qualis da CAPES e o JCR, ou seja o Journal Cita-tion Reports). Revisões de literatura abrangentes e relevantes, como as revisões sistemáticas, englobam outras referências. As autocitações também devem ser limitadas. Apêndice e anexo: Apêndice e anexo são elementos complementares opcionais, pós-textuais. Limitam-se ao armazenamento de textos ou documentos de fundamentação ou comprovação. Sua função é enriquecer e/ou elucidar as informações contidas no corpo do projeto e que permitem serem consultados na íntegra. Quando utilizados, devem estar citados no texto entre parênteses. O apêndice recebe os textos formulados pelos autores, como, por exemplo, o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), o Termo de Assentimento Livre e Esclarecido (TALE) ou a ficha clínica especialmente elaborada para a pesquisa, visando o levantamento de dados. Já no anexo são inseridos documentos não elaborados pelos autores, como o parecer do CEP, questionários validados na íntegra, escalas previamente publicadas, mapas, etc. Formatação do projeto de pesquisa: A formatação do projeto de pesquisa é regida por normas, que chegam a minúcias de diagramação. De maneira geral, as regras de apresentação gráfica são subordinadas à ABNT, as quais incluem: Formato: Papel A4 Impressão somente no anverso da folha. Usar apenas cor preta. Impressão colorida apenas para ilustrações Fonte: Times New Roman 12 para todo o texto. Excetuam-se apenas as citações de mais de três linhas, notas de rodapé, paginação e legenda das ilustrações e de tabelas, que devem ser em tamanho menor e uniforme. No caso de citações de mais de três linhas deve-se observar um recuo de 4 cm da margem esquerda. Margem: Esquerda: 3,5 ou 4,0 cm Direita: 2,0 ou 2,5 cm Superior: 3,0 ou 3,5 cm Inferior: 2,0 ou 2,5 cm Espacejamento: Espaço 1,5 entrelinhas. Excetuam-se apenas as citações de mais de três linhas, notas de rodapé, referências, paginação e legenda das ilustrações e de tabelas, tipo de projeto de pesquisa e nome da entidade, que devem usar espaço simples As referências, ao final do projeto, devem ser separadas entre si por dois espaços simples. Os títulos das subseções devem ser separados do texto que os precede ou os sucede por dois espaços de 1,5. O título do projeto e o nome da entidade na folha de rosto devem ser alinhados no meio da página. Notas de rodapé: Devem ser digitadas dentro das margens e ser separadas do texto por um espaço simples e um filete de 3 cm, a partir da margem esquerda. Indicativos de seção: O indicativo de seção é alinhado à margem esquerda, precedendo o título, dele separado por um espaço. Não se usa hífen ou ponto entre o número da seção e a sua denominação. Títulos sem indicativo numérico: Estes títulos, com listas de ilustrações, listas de abreviaturas, sumário, referência, apêndice, índice, devem ser centralizados. Numeração progressiva: Usa-se numeração progressiva nas seções. Os títulos das seções primárias devem iniciar em folhas distintas. Paginação: Todas as folhas do projeto, a partir da folha de rosto, devem ser contadas, mas não numeradas. A numeração é colocada na primeira folha da parte textual, em algarismos arábicos, no canto superior direito da folha, a 2 cm da borda superior, ficando o último algarismo a 2 cm da borda direita da folha. No caso do projeto ter mais de um volume, a numeração das folhas deve manter uma única sequência, do primeiro ao último volume. Havendo apêndice ou anexo, a numeração das folhas deve ser contínua ao texto, e a paginação, da mesma forma. Citações: As citações devem ser feitas como na ABNT NBR 10520. Abreviaturas e siglas: Mencionada pela primeira vez no texto, a forma completa do nome precede a abreviatura ou a sigla colocada entre parênteses. Por exemplo: Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT); Norma Brasileira (NBR). lustrações: Os desenhos, esquemas, fluxogramas, fotografias, gráficos, mapas, plantas, etc. devem ser identificados na parte inferior, precedidos da palavra designativa, a qual é seguida de seu número de ordem de ocorrência no texto, em algarismos arábicos, e, então, de seu título ou legenda explicativa e da fonte. Por exemplo: Figura 1-Dupla hélice do DNA. Tabelas: Devem ser apresentadas conforme as normas do IBGE, ou seja, sem bordas laterais, com designação do número e título acima da tabela e fonte abaixo dela, etc. Considerações finais: O projeto de pesquisa descreve as etapas de uma pesquisa a ser realizada. Quanto mais original, justificável e detalhado for, maior deverá ser o seu impacto para a formação de novas evidências científicas que subsidiem a tomada de decisão clínica. AULA 9: ÉTICA EM PESQUISA Os negros dos EUA que foram utilizados como cobaias humanas para “pesquisar” a sífilis: No dia 16 de maio de 1997, o presidente dos Estados Unidos, Bill Clinton, fez um pedido oficial de desculpas a um grupo de cinco idosos negros, todos já com mais de 80 anos de idade. “O governo dos EUA fez algo errado –profundamente, moralmente errado…”, disse. “O que o governo dos EUA fez foi vergonhoso, e eu sinto muito. Digo a nossos cidadãos afro-americanos: sinto muito que nosso governo federal tenha orquestrado um estudo tão claramente racista. Não se pode permitir que isso jamais aconteça de novo.” https://www.cdc.gov/tuskegee/clintonp.htm O estudo a que Clinton se referia constitui uma das páginas mais vergonhosas da história da Medicina. Entre 1932 e 1972, 399 homens negros contaminados com sífilis foram mantidos sem tratamento, utilizados como cobaias humanas pelo Serviço Público de Saúde para supostamente pesquisar a cura para a doença. Outros 201 pacientes negros sem sífilis participaram da experiência, como grupo de controle. Recrutados com a promessa de que teriam atendimento médico gratuito, nenhum deles foi informado de que portava a doença nem tratado com penicilina, embora o antibiótico houvesse mostrado eficácia sobre a sífilis desde 1947. Os pacientes recebiam apenas placebo, como aspirinas, embora estivessem ficando cegos, com problemas mentais ou morrendo em virtude da doença. “Nós fomos tratados todo o tempo como se não fôssemos humanos, como porcos idiotas, como porquinhos-da-índia (“guinea pigs”, “cobaias” em inglês). Ninguém sabe o que passamos a não ser alguns de nós que ainda sobrevivemos”, disse Herman Shaw, um dos participantes. Shaw tinha 95 anos quando ouviu o pedido de “perdão” do presidente dos EUA. Após o “experimento”, chamado oficialmente “Estudo sobre a sífilis não tratada em homens negros de Tuskegee” (foi feito em parceria com a Universidade de Tuskegee, Alabama), 28 dos 399 homens haviam morrido de sífilis e 100 deles de complicações relacionadas à doença; 40 esposas tinham sido infectadas e 19 crianças nasceram com sífilis congênita. Durante os 40 anos em que durou o “estudo”, os negros, todos agricultores pobres do Alabama, ouviam dos médicos que estavam sendo tratados de “sangue ruim”, e eram levados a crer que tinham doenças comuns, como problemas no estômago ou reumatismo. “Sangue ruim” era a expressão utilizada nos panfletos espalhados pelo Estado do Alabama em 1932, dirigidos às “pessoasde cor”. “Teste de sangue grátis; tratamento grátis fornecido por médicos do governo. Você pode estar se sentindo bem e ainda assim ter ‘sangue ruim’. Venha e traga toda a sua família.” Centenas de negros compareceram à convocação, atraídos pela promessa de tratamento e até refeições gratuitas. Nunca deram autorização por escrito para serem cobaias do experimento “científico”. “Eu fui lá e eles me disseram que eu tinha ‘sangue ruim’. E foi o que continuaram a me dizer desde então”, contou outro sobrevivente, Charles Pollard, em 1972. “Eles vinham de tempos em tempos e diziam: ‘Charlie, você tem sangue ruim’. Eles nunca mencionaram sífilis, nem uma única vez.” Já nos anos 1960, Bill Jenkins, um epidemiologista negro que atuava como estatístico no Serviço Público de Saúde, tentou denunciar o estudo às autoridades como “antiético”. Procurou seu supervisor, que disse a ele para “não se preocupar”. Inconformado, Jenkins escreveu um artigo e enviou a cientistas e jornalistas, mas nem assim conseguiu ser ouvido. https://pt.wikipedia.org/wiki/Grupo_de_controle https://www.baltimoresun.com/news/bs-xpm-1997-08-24-1997236123-story.html https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/13177830 https://www.nytimes.com/1972/07/27/archives/survivor-of-32-syphilis-study-recalls-a-diagnosis.html https://www.the-scientist.com/news-opinion/bill-jenkins--tuskegee-syphilis-study-whistleblower--dies-65556 Em 1966, Peter Buxton, um epidemiologista branco, transmitiu ao diretor do Departamento de Doenças Sexualmente Transmissíveis dos Estados Unidos suas preocupações éticas sobre o estudo de Tuskegee, mas seus superiores também rejeitaram a denúncia, dizendo que o estudo ainda não estava completo. Dois anos depois, em 1968, tentou levar o caso novamente às autoridades e novamente foi ignorado. A diferença é que Buxton tinha amigos na imprensa, a quem vazou a informação. Finalmente, seis anos depois, em 1972, a jornalista Jean Heller, da Associated Press, publicou o furo no Washington Star, informando ao país que durante 40 anos vítimas da sífilis nos EUA, “induzidas a servir como cobaias”, permaneceram sem tratamento; no dia seguinte, o texto seria replicado com chamada na primeira página pelo New York Times. Anos depois, em uma entrevista, a repórter definiria o estudo de Tuskegee como “uma das mais grosseiras violações de direitos humanos” de que teve notícia. “Usaram, abusaram e mataram pessoas. O que há pior do que isso? E a parte horrível é que começou na mesma época das atrocidades nazistas na Alemanha, e fomos nós que julgamos os alemães. Isto parece correto? O estudo de Tuskegee não foi tão difundido quanto atrocidade, mas não é menos horrível do que os nazistas fizeram”, disse Heller. “Desde Hipócrates, a primeira regra da Medicina é: não causar dano aos pacientes. Bem, isso foi jogado pela janela. Eles queriam causar dano. Queriam que estas pessoas morressem.” Faz sentido comparar o malfadado estudo com as experiências nazistas, já que um dos princípios promulgados no julgamento de Nuremberg, em 1948, quando Tuskegee estava em pleno andamento, diz que “é absolutamente essencial o consentimento voluntário” de seres humanos ao serem submetidos a experimentos científicos. Para os cientistas, o mais absurdo é que já havia sido feito um estudo idêntico na Suécia anos antes, que teve o mesmo resultado: nenhum. Por que eles fizeram de novo?, é o que todo mundo se pergunta. No dia seguinte à publicação da reportagem pelo New York Times, o sobrevivente Charles Pollard procurou o advogado especialista em direitos civis Fred Gray para processar o governo dos EUA pelos danos causados à comunidade negra de Tuskegee. Gray pedia uma indenização de 1,8 bilhão de dólares; conseguiu 10 milhões. Os participantes vivos com sífilis receberiam 37.500 dólares cada um; os descendentes dos mortos receberiam 5 mil dólares, e as mulheres e crianças infectadas teriam direito a tratamento durante toda a vida. Pouco dinheiro para “reparar” uma monstruosidade. Até hoje os descendentes das cobaias humanas de Tuskagee lutam contra o estigma de estarem conectados ao experimento. Os parentes das vítimas querem vê-las reconhecidas por suas biografias, não só como objetos de uma pesquisa digna de Joseph Mengele. “Ele era um homem sábio, gentil. Amava sua família. Tinha senso de humor e era um bom dançarino”, disse Lille Tyson Head, uma das filhas de Freddie Lee Tyson, um dos negros utilizados no estudo, à AP, em 2017. http://tuskegeestudy.weebly.com/uploads/2/4/3/2/24321511/nhd_interview_jean_heller_.pdf https://www.cremesp.org.br/?siteAcao=Historia&esc=3 https://www.al.com/news/2017/05/descendants_of_men_in_tuskegee.html Um estudo publicado em 2016 também traz evidências de que o “efeito Tuskegee” é uma das explicações para a desconfiança que os negros dos EUA têm com médicos e o serviço de saúde em geral. Como disse o então vice-presidente Al Gore na cerimônia em que Clinton pediu desculpas, muitos pensam duas vezes ao doar sangue, vacinar seus filhos ou assinar uma autorização para doar órgãos. Os negros têm os piores indicadores de saúde entre todos os grupos étnicos, raciais e demográficos dos EUA. Homens afro-americanos têm expectativa de vida mais curta que os brancos e morrem mais de câncer e doenças cardíacas. A escravidão nos EUA acabou em 1861. O estudo de Tuskegee prova que, mais de 100 anos depois, homens negros ainda eram tratados como “coisas” pelo governo do país e por cientistas, supostamente a parte mais “consciente” da sociedade. Nenhum pedido de perdão ou dinheiro jamais será capaz de apagar este fato. UPDATE: os leitores lembraram que existe um filme sobre o estudo de Tuskegee, Cobaias (Miss Evers Boys), de 1997 –mesmo ano do pedido de perdão de Bill Clinton–, dirigido por Joseph Sargent. EUA: Nova York. Escola Estadual de Willowbrook: Willowbrook era uma instituição para crianças “mentalmente deficientes” em Staten Island, Nova York. Em 1965, o Senador Estadunidense Robert Kennedy visitou a instituição Willowbrook sem avisar. Ele declarou mais tarde que as enfermarias eram menos confortáveis e alegres do que a jaula em que colocamos os animais no jardim zoológico. Em 1972, o documentário para televisão do repórter Geraldo Rivera sobre a instituição mostrou como crianças deficientes eram mantidas em condições deploráveis de negligência, em um ambiente insalubre e sujo. Posteriormente, ele documentou o que viu em um livro. As condições inaceitáveis de higiene de Willowbrook facilitaram a disseminação de muitas doenças parasitárias e infecciosas, incluindo hepatite A e B, e tornaram-se foco de pesquisa sobre doenças infecciosas, o que mais tarde foi criticado como quebra de ética médica33. Entre 1956 e 1972, a pesquisa em Willowbrook tinha o objetivo de definir as diferenças entre hepatites infecciosas dos tipos A e B. Como parte desta pesquisa, crianças com deficiência mental eram expostas a preparações contendo os vírus de hepatite. Beecher escreve que os pais davam consentimento para a injeção intramuscular ou administração oral do vírus, mas nada é dito sobre o que era informado a eles com relação aos riscos consideráveis envolvidos. De acordo com Rothman, Experimentos baseados na privação social são suscetíveis de manipular o consentimento dos sujeitos. Os pesquisadores argumentaram que o risco inerente de hepatite era alto e que a infecção controlada traria benefícios que superavam os riscos. A instituição foi fechada em 1987, após um processo de desinstitucionalização. A privação social, que consiste nos numerosos fatores correlatos que contribuem para a exclusão social, mencionados por Rothman, era claramente o caso de ambos os estudos, Willowbrook e Tuskegee. https://www.nber.org/digest/aug16/w22323.html O Amapá: cenário do conflito. O Estado do Amapá foi criado em 05 de outubro de 1988, tendo apenas 23 anos, e está localizado no extremo Norte do Brasil, quase que inteiramente no hemisfério Norte, fazendo parte da região Amazônica devido suas características geofísicas, sociais, políticas e econômicas. Limita-se ao nortee a noroeste com a Guiana Francesa e Suriname, a leste e nordeste com Oceano Atlântico e o rio Amazonas, ao sul e sudeste com o Canal do Norte e braço esquerdo do rio Amapá e a oeste e sudoeste com o rio Jarí. Possui litoral com 242 Km de extensão, que vai do Cabo Orange ao Cabo Norte, isto é, da foz do rio Oiapoque à foz do rio Amazonas, somando uma área total de 143.453 Km². Possui uma população estimada em 648.553 habitantes (IBGE, 2010; PORTO, 2005). São Raimundo do Pirativa é uma comunidade que está localizada à margem do Rio Pirativa, pertencente ao município de Santana, no Estado do Amapá. É uma pequena comunidade quilombola com apenas 175 habitantes, os quais vivem essencialmente da pesca e da agricultura. Pirativa está localizada apenas a 50 km de Macapá, capital do estado do Amapá, que fica ao sul, na margem esquerda do braço norte do rio Amazonas, cortada pela linha imaginária do Equador e considerada cidade de médio porte com área territorial de 6.407 Km², possui 253 anos, e, uma população estimada em 387. 539 habitantes (IBGE, 2010; SANTOS; GOIS, 2007). Aspectos éticos da pesquisa com seres humanos: Nos experimentos científicos envolvendo seres humanos é preciso verificar os conflitos entre o interesse do indivíduo submetido à pesquisa e o interesse da ciência tendo como pano de fundo os potenciais benefícios sociais (CABRAL, 2006). Muitos foram os abusos cometidos no passado em relação às pesquisas com seres humanos, podendo- se citar como exemplo as atrocidades cometidas durante a 2ª Guerra Mundial nos campos de concentração da Alemanha, nos quais havia uma total falta de ética, de justiça e de leis para puni-las (SANTOS; GOIS, 2007). O Código de Nuremberg, de 1947, tem sido uma inspiração constante para as declarações modernas sobre ética em pesquisa. Esse documento determina a necessidade do consentimento voluntário dos indivíduos envolvidos na pesquisa após o seu devido esclarecimento sobre os objetivos e os riscos do projeto (DICKENS, 1999). A primeira regulamentação sobre pesquisa em saúde no Brasil foi estabelecida pelo CNS por meio da Resolução CNS n.º 1/88. Esse documento abordava aspectos éticos das pesquisas, de biossegurança e de vigilância sanitária. Atualmente os aspectos éticos das atividades de pesquisa em seres humanos no Brasil são regulados pela Resolução CNS n.º 196/96 que estabelece os princípios básicos para apreciação ética dos protocolos de pesquisa, e cria os Comitês de Ética em Pesquisa (CEP) e a Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (CONEP) (CNS, 1996). O CONEP é uma comissão do CNS e tem como competência o examinar os aspectos éticos das pesquisas envolvendo seres humanos, junto com os CEP institucionais, em todos os estados da Federação. São atribuições do CEP de cada instituição revisar todos os protocolos de pesquisa envolvendo seres humanos, cabendo-lhe responsabilidade primária pelas decisões sobre a ética das pesquisas a serem desenvolvidas na instituição, resguardando e garantindo a integridade e os direitos dos voluntários participantes das mesmas. Terá também a atribuição de receber denúncias, requerer sua apuração, além de desempenhar um papel consultivo e educativo, fomentando a reflexão em torno da ética na pesquisa científica. (ALVES, 2007). A Resolução 196 reconhece que toda pesquisa com humanos envolve riscos. Não obstante é admitida quando permitir entender, prevenir ou aliviar problema que afete o bem-estar dos sujeitos ou da comunidade e quando os benefícios forem maiores que os prejuízos (ALVES, 2007). O consentimento voluntário, no Brasil, denominado Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), é um documento apresentado em forma de formulário ou termo de consentimento, específico para a pesquisa, para a apreciação pelo CEP, incluindo informações sobre as circunstâncias sob as quais o consentimento será obtido, quem irá tratar de obtê-lo e a natureza da informação a ser fornecida aos sujeitos da pesquisa (CNS, 1996). Neste sentido, é crucial que haja sensibilidade para as diferenças culturais e linguísticas, e os profissionais envolvidos na pesquisa devem se dedicar para comunicar as informações relevantes, precisas e compreensíveis de forma adequada. Sob nenhuma hipótese deve-se supor que a ignorância sobre a ciência leva as pessoas à incapacidade de compreensão e julgamento. A participação do indivíduo na pesquisa deve ser absolutamente voluntária, não podendo ser utilizado nenhum tipo de mecanismo ou influência para pressioná-lo ou obrigá-lo a fazer parte do estudo (CABRAL, 2006). Este trabalho tem como objetivo descrever um relato de caso sobre conflito ético em pesquisa envolvendo seres humanos que ocorreu, recentemente, no estado do Amapá, para alertar pesquisadores sobre sua importância. Relato de caso: Relata-se caso real sobre uma série de denúncias da promotoria do município de Santana - Amapá a respeito dos procedimentos éticos de uma pesquisa norte- americana realizada na comunidade de Pirativa. Segundo Buarque (2007) a denúncia iniciou-se quando os moradores denunciaram à promotoria da cidade de Santana, a realização de uma pesquisa sobre a malária que pagava em média R$ 12,00 a alguns moradores daquela localidade para servirem de cobaias humanas. A pesquisa em questão se chamava “Heterogeneidade de vetores de malária no Amapá” e, que foi coordenada pela Universidade da Flórida e financiada pelo Instituto Nacional de Saúde dos EUA (NHI), com a parceria da Fundação Oswaldo Cruz (FIOCRUZ), da Universidade de São Paulo (USP), da Fundação Nacional de Saúde (FUNASA) e da Secretária Estadual de Saúde do Amapá (SESA), com o objetivo de analisar os vários tipos de transmissores de malária na região (MPA, 2006). Iniciada, em 2003, a pesquisa era coordenada, no Amapá, pelo Instituto de Estudos e Pesquisas do Amapá (IEPA), que através de seu pesquisador/coordenador, acompanhou um norte-americano não identificado, até o povoado de Pirativa, Amapá, para propor que os moradores participassem de uma pesquisa sobre a malária. Assim, por nove noites de trabalho por mês os ribeirinhos receberiam R$ 108,00 capturando e alimentando mosquitos transmissores da malária, ou seja, R$ 12,00 por noite. Os voluntários para a pesquisa que, sem ler, pois muitos mal sabiam escrever o nome, assinaram o contrato no qual constava que a pessoa será voluntária para alimentar mosquitos nos braços ou pernas para estudo de marcação e recaptura (BUARQUE, 2007). Em nota oficial a FIOCRUZ explicou que apesar do projeto da pesquisa ter sido aprovado pelo CEP da FIOCRUZ e pela CONEP do CNS, quando o foi, em 2001, não mencionava o pagamento aos colaboradores nem a sua utilização como “isca humana”. Foi constatado, posteriormente, que uma frase do texto original do projeto previa a utilização de cobaias humanas, mas esse parágrafo teria sido omitido na versão em português, à qual as instituições brasileiras teriam tido acesso e isso foi uma forma de o projeto ser aprovado pela CONEP, pois os órgãos dos comitês de ética só lêem a versão em português (MPA, 2006). Em dezembro de 2005, o CNS decidiu, diante das denúncias e das explicações pedidas pelo senador Cristovam Buarque, suspender temporariamente a pesquisa, até que todas as denúncias fossem apuradas. Conselheiros e representantes do CNS confirmaram in loco que os pesquisadores utilizaram, como cobaias humanas, moradores do município de São Raimundo do Pirativa em troca de um pagamento diário de R$ 12,00 (MPA, 2006). O CNS decidiu, em fevereiro de 2006, encaminhar ao Ministério Público pedido para que uma ação de indenização fosse movida em favor de moradores de São Raimundo do Pirativa, no Amapá, que serviram de cobaias humanas na pesquisa financiada pela Universidade da Flórida. Além disso, enviou recomendação para que revistas científicas não publicassem artigos sobre a pesquisa, já que parte do trabalho já havia sido apresentada em congressos científicos internacionais (MPA, 2006). Discussão: É preciso ter em mente a importância dos valores éticos nas pesquisas que envolvem seres humanos,sendo fundamental a defesa, antes de mais nada, do direito à vida e à dignidade da pessoa humana. Portanto, acredita-se que este relato reforça a necessidade de mudanças éticas no campo da pesquisa envolvendo seres humanos, especialmente, quanto à participação voluntária do indivíduo sem utilização de mecanismos ou influências para pressioná-lo ou obrigá-lo a fazer parte do estudo, respeitando diferenças culturais e linguísticas com informações relevantes, precisas, compreensíveis, de forma adequada e livre de riscos. AULA 10: ÉTICA EM PESQUISA (REGULAMENTAÇÕES): Princípios básicos para toda pesquisa clínica 10. É dever do médico, na pesquisa clínica, proteger a vida, a saúde, a privacidade e a dignidade do ser humano. 11.A pesquisa clínica envolvendo seres humanos deve estar em conformidade com os princípios científicos geralmente aceitos e deve ser baseada no conhecimento minucioso da literatura científica, em outra fonte de informação relevante e em experimentação laboratorial e, quando apropriado, experimentação animal. 12.Cuidados apropriados devem ser tomados na conduta da pesquisa que possa afetar o ambiente, e o bem-estar de animais usados para pesquisa deve ser respeitado. 13. O desenho e a realização de cada procedimento experimental envolvendo seres humanos devem ser claramente discutidos no protocolo experimental. Esse protocolo deve ser submetido à análise, com comentários, orientações e, quando apropriado, à aprovação de um comitê de ética médica especialmente indicado, que deve ser independente do pesquisador e do patrocinador de estudo ou qualquer outro tipo de influência indevida. Esse comitê de ética independente deve estar de acordo com as regulações e leis do país no qual a pesquisa clínica será conduzida. 14. O comitê tem o direito de monitorar estudos em andamento. O pesquisador tem obrigação de fornecer informações de monitoração ao comitê, especialmente qualquer evento adverso sério. O pesquisador deve também submeter ao comitê, para revisão, informações sobre financiamento, patrocinador, afiliações institucionais, outros conflitos de interesses em potencial e incentivos aos sujeitos. 15.As pesquisas clínicas envolvendo seres humanos somente deverão ser conduzidas por indivíduos cientificamente qualificados e sob a supervisão de um médico competente. A responsabilidade pelo paciente deverá sempre ser designada a indivíduo medicamente qualificado e nunca a critério do próprio paciente, mesmo que este tenha dado seu consentimento para isso. 16. Todo projeto de pesquisa clínica envolvendo seres humanos deve ser precedido pela avaliação cuidadosa dos possíveis riscos e encargos para o paciente e outros. Isso não impede a participação de voluntários saudáveis em pesquisa clínica. O desenho de todos os estudos deve estar publicamente disponível. 17. Os pesquisadores devem abster-se de se envolver em estudos clínicos com seres humanos, a menos que estejam confiantes de que os riscos foram avaliados adequadamente e podem ser gerenciados de modo satisfatório. Os pesquisadores devem interromper qualquer pesquisa se a relação risco/benefício tornar-se desfavorável ou se não houver provas conclusivas de resultados positivos e benéficos. 18.As pesquisas clínicas envolvendo seres humanos deverão ser conduzidas apenas se a importância dos objetivos exceder os riscos e encargos inerentes ao paciente. Isso é de especial importância quando os seres humanos são voluntários saudáveis. 19.A pesquisa clínica é justificada apenas se há uma probabilidade razoável de que as populações nas quais a pesquisa é realizada se beneficiarão de seus resultados. 20. Os sujeitos devem ser voluntários e participantes informados do projeto de pesquisa. 21. O direito do paciente de resguardar sua integridade deve sempre ser respeitado. Toda precaução deve ser tomada para respeitar a privacidade de sujeito, a confidencialidade das informações e para minimizar o impacto do estudo na integridade física e mental, bem como na personalidade de paciente. 22. Em qualquer pesquisa envolvendo seres humanos, cada paciente em potencial deve estar adequadamente informado dos objetivos, métodos, fontes de financiamento, quaisquer possíveis conflitos de interesse, aflições institucionais do pesquisador, os benefícios antecipados e riscos em potencial do estudo e qualquer desconforto a que possa estar vinculado. O sujeito deverá ser informado da liberdade de se abster de participar do estudo ou de retirar seu consentimento para sua participação em qualquer momento, sem retaliação. Após assegurar-se de que o sujeito entendeu toda a informação, o médico deverá então obter seu consentimento informado espontâneo, preferencialmente por escrito. Se o consentimento não puder ser obtido por escrito, o consentimento não-escrito deve ser formalmente documentado e testemunhado. 23.Ao obter o consentimento informado, o pesquisador deverá dar especial atenção àqueles pacientes que apresentam relação de dependência com médico ou possam consentir na realização do estudo sob coação. Nesses casos, o consentimento informado deverá ser obtido por pesquisador bem-informado, não envolvido com a pesquisa e que seja totalmente independente deste relacionamento. 24. Para sujeitos de pesquisa que forem legalmente incompetentes, incapazes física ou mentalmente de dar o consentimento ou menores legalmente incompetentes, o pesquisador deverá obter o consentimento informado do representante legalmente autorizado, de acorde com a legislação apropriada. Esses grupos não devem ser incluídos em pesquisas, a menos que sejam necessárias para promover a saúde da população representada e não podem, em seu lugar, ser realizadas em indivíduos legalmente competentes. 25. Quando um sujeito considerado legalmente incompetente, como uma criança menor, é capaz de aprovar decisões sobre a participação no estudo, o pesquisador deve obter esta aprovação, além do consentimento, do representante legalmente autorizado. 26. Pesquisas com indivíduos dos quais não é possível obter consentimento, incluindo consentimento por procuração ou superior, deverão ser realizadas apenas se a condição físico-mental que impede a obtenção do consentimento informado for uma característica necessária para a população da pesquisa. As razões específicas para envolver sujeitos de pesquisa com uma condição que os torne incapazes de fornecer o consentimento informado devem estar declaradas no protocolo experimental, para consideração e aprovação do Comitê de Ética. O protocolo deve declarar que o consentimento para permanecer na pesquisa deve ser obtido, o mais rápido possível, do indivíduo ou representante legalmente autorizado. 27.Autores e editores têm obrigações éticas. Na publicação de resultados de pesquisa, o pesquisador é obrigado a preservar a precisão dos resultados. Resultados negativos bem como positivos devem ser publicados, caso contrário, devem estar disponíveis para publicação. As fontes de financiamento, afiliações institucionais e quaisquer conflito de interesse devem ser declarados na publicação. Relatórios dos experimentos que não estejam de acordo com os princípios presentes nesta Declaração não devem ser aceitos para publicação. Princípios adicionais para pesquisa clínica combinada a cuidados médicos. 28. O pesquisador pode associar pesquisa clínica a cuidados médicos apenas até o ponto em que a pesquisa é justificada por valor profilático, diagnóstico e terapêutico em potencial. Quando a pesquisa clínica é combinada a cuidados médicos, aplicam-se padrões adicionais para proteção dos pacientes que são sujeitos de pesquisa. 29. Os benefícios, riscos, encargos e eficácia de um novo método devem ser testados comparativamente com os melhores métodos atuais profiláticos, diagnósticos e terapêuticos existentes. Isso não inclui o uso de placebo ou de não-tratamento em estudo que não existam métodos profiláticos, diagnósticos ou terapêuticos comprovados. 30. Na conclusão do estudo, todo paciente nele incluído deve ter o acesso assegurado aos melhores métodosprofiláticos, diagnóstico e terapêuticos comprovados, identificados pelo estudo. 31. O médico deve informar detalhadamente ao paciente quais aspectos do tratamento estão relacionados à pesquisa. A recusa do paciente em participar do estudo nunca deve interferir na relação médico-paciente. 32. No tratamento de um paciente, quando métodos profiláticos, diagnósticos e terapêuticos comprovados não existirem ou forem ineficazes, o médico com o consentimento informado do paciente, deverá ser livre para utilizar medidas profiláticas, diagnósticas e terapêuticas não comprovadas ou inovadoras, se, em seu julgamento, estas oferecerem a esperança de salvar a vida, restabelecer a saúde e aliviar o sofrimento. Quando possível, essas medidas devem ser objeto de pesquisa, programada para avaliar sua segurança ou eficácia. Em todos os casos, as novas informações devem ser registradas e, quando apropriado, publicadas. As outras diretrizes relevantes desta Declaração devem ser seguidas. Nota de esclarecimento sobre o parágrafo 29 da Declaração de Helsinque do Conselho da Associação Médica Mundial, em outubro de 2001, a respeito do uso de placebo nas pesquisas O consentimento voluntário do ser humano é absolutamente essencial. Isso significa que as pessoas que serão submetidas ao experimento devem ser legalmente capazes de dar consentimento; essas pessoas devem exercer o livre direito de escolha sem qualquer intervenção de elementos de força, fraude, mentira, coação, astúcia ou outra forma de restrição posterior; devem ter conhecimento suficiente do assunto em estudo para tomar uma decisão. Esse último aspecto exige que sejam explicados às pessoas a natureza, a duração e o propósito do experimento; os métodos segundo os quais será conduzido; "A Associação Médica Mundial está preocupada com o parágrafo 29 da Declaração de Helsinque, revisada em outubro de 2000 (Edimburgo), que gerou interpretações divergentes e confusão. Ela reafirma sua posição de que se deve tomar cuidado extremo no uso de pesquisas com placebo e que em geral esta metodologia somente pode ser utilizada na inexistência de terapia. Contudo, pesquisas que utilizam placebo podem ser eticamente aceitáveis, mesmo se a terapia estiver disponível, sob as seguintes circunstâncias: • Quando por sérias razões metodológicas e científicas o seu uso for necessário para determinar a eficácia ou a segurança de um método profilático, diagnóstico ou terapêutico; ou • Quando um método profilático, diagnóstico ou terapêutico estiver sendo pesquisado por uma condição irrelevante e os pacientes que receberem o placebo não foram sujeitos a qualquer risco adicional de dano sério ou irreversível. Todas as outras disposições da Declaração de Helsinque devem ser seguidas, em especial a necessidade de uma apropriada revisão ética e científica". O Código de Nuremberg: foi formulado em agosto de 1947 por juízes dos EUA para julgar os médicos nazistas acusados. Foram julgados 23 réus dos quais somente três não eram médicos. Dezesseis foram declarados culpados, sete dos quais foram sentenciados à pena de morte e cinco a prisão perpétua. Sete foram absolvidos. Para o fiscal acusador, o julgamento era de assassinato. Apesar disto, ele sustentou que não era um "mero julgamento de assassinato", porque os réus eram médicos que tinham realizado o juramento de Hipócrates de não causar o mal. Os defensores alegaram que o Estado tinha ordenado aos médicos que realizassem experimentos no campo de concentração de Dachau para determinar como proteger e tratar melhor aos soldados e aviadores alemães. Eles argumentaram que estes experimentos eram necessários e que o "bem do Estado" tem precedência sobre o bem do indivíduo. O acusador declarou que "o Estado pode ordenar experimentos fatais em seres humanos, mas os médicos permanecem responsáveis por não realizá-los" (CÓDIGO DE NUREMBERG, 1947). O Código de Nuremberg é constituído por dez tópicos, dos quais o primeiro é o que melhor contempla seus preceitos: as inconveniências e os riscos esperados; os efeitos sobre a saúde ou sobre a pessoa do participante que eventualmente possam ocorrer devido à participação no experimento. O dever e a responsabilidade de garantir a qualidade do consentimento repousam sobre o pesquisador que inicia ou dirige um experimento ou se compromete nele. São deveres e responsabilidades pessoais que não podem ser delegados a outrem impunemente; O experimento deve ser tal que produza resultados vantajosos para a sociedade, que não possam ser buscados por outros métodos de estudo, mas não podem ser feitos de maneira casuística ou desnecessariamente; O experimento deve ser baseado em resultados de experimentação em animais e no conhecimento da evolução da doença ou outros problemas em estudo; dessa maneira, os resultados já conhecidos justificam a condição do experimento; O experimento deve ser conduzido de maneira a evitar todo sofrimento e danos desnecessários, quer físico, quer materiais; Não deve ser conduzido qualquer experimento quando existirem razões para acreditar que pode ocorrer morte ou invalidez permanente; exceto, talvez, quando o próprio médico pesquisador se submeter ao experimento; O grau de risco aceitável deve ser limitado pela importância do problema que o pesquisador se propõe a resolver; Devem ser tomados cuidados especiais para proteger o participante do experimento de qualquer possibilidade de dano, invalidez ou morte, mesmo que remota; O experimento deve ser conduzido apenas por pessoas cientificamente qualificadas; O participante do experimento deve ter a liberdade de se retirar no decorrer do experimento; O pesquisador deve estar preparado para suspender os procedimentos experimentais em qualquer estágio, se ele tiver motivos razoáveis para acreditar que a continuação do experimento provavelmente causará dano, invalidez ou morte para os participantes (Código de Nuremberg, 1949). A pesquisa clínica deve adaptar-se aos princípios morais e científicos que justificam a pesquisa médica e deve ser baseada em experiências de laboratório e com animais ou em outros fatos cientificamente determinados; A pesquisa clínica deve ser conduzida somente por pessoas cientificamente qualificadas e sob a supervisão de alguém medicamente qualificado; A pesquisa não pode ser legitimamente desenvolvida, a menos que a importância do objetivo seja proporcional ao risco inerente à pessoa exposta; Na Declaração de Helsinki (1964) há cinco Princípios Básicos para a pesquisa biomédica envolvendo seres humanos: Todo projeto de pesquisa clínica deve ser precedido de cuidadosa avaliação dos riscos inerentes, em comparação aos benefícios previsíveis para a pessoa exposta ou para outros; Precaução especial deve ser tomada pelo médico ao realizar a pesquisa clínica na qual a personalidade da pessoa exposta é passível de ser alterada pelas drogas ou pelo procedimento experimental. AULA 11: ÉTICA EM PESQUISA (LEGISLAÇÃO BRASILEIRA) Resolução do Conselho Nacional de Saúde 466/2012; RESUMIDO A resolução nº 466/2012 que trata de pesquisas e testes em seres humanos foi publicada ontem, dia 13 de junho, no Diário Oficial da União. A resolução foi aprovada pelo Plenário do Conselho Nacional de Saúde (CNS) na 240ª Reunião Ordinária, em dezembro de 2012. Diretrizes e normas regulamentadoras estabelecidas na resolução devem ser cumpridas nos projetos de pesquisa envolvendo seres humanos que devem ainda atender aos fundamentos éticos e científicos também elencados na resolução nº 466/ 2012 do CNS. Dentre as exigências da resolução, está a obrigatoriedade de que os participantes, ou representantes deles, sejam esclarecidos sobre os procedimentos adotados durante toda a pesquisa e sobre os possíveis riscos e benefícios. A resolução traz termos e condições a serem seguidos e trata do Sistema CEP/CONEP, integrado pela Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (CONEP/CNS/MS do CN) e pelos Comitês de Ética em Pesquisa (CEP) compondo um sistema que utiliza mecanismos, ferramentas e instrumentos próprios de inter-relaçãoque visa à proteção dos participantes de pesquisa. A resolução incorpora, sob a ótica do indivíduo e das coletividades, referenciais da bioética, tais como, autonomia, não maleficência, beneficência, justiça e equidade, dentre outros, e visa assegurar os direitos e deveres dos participantes da pesquisa. Plataforma Brasil: A Plataforma Brasil é uma base nacional e unificada de registros de pesquisas envolvendo seres humanos para todo o sistema CEP/CONEP. Ela permite que as pesquisas sejam acompanhadas em seus diferentes estágios - desde sua submissão até a aprovação final pelo CEP e pela CONEP, quando necessário - possibilitando inclusive o acompanhamento da fase de campo, o envio de relatórios parciais e dos relatórios finais das pesquisas (quando concluídas). O sistema permite, ainda, a apresentação de documentos também em meio digital, propiciando à sociedade o acesso aos dados públicos de todas as pesquisas aprovadas. Todos os protocolos de pesquisa envolvendo seres humanos devem ser submetidos ao Sistema CEP/CONEP por meio da Plataforma Brasil, sendo assim, o pesquisador não precisa protocolar projeto, anexar documentos no CEP/UFRPE, tudo é feito de forma on-line pela Plataforma Brasil. Capítulo XII: Ensino e pesquisa médica. É vedado ao médico: Art. 99. Participar de qualquer tipo de experiência envolvendo seres humanos com fins bélicos, políticos, étnicos, eugênicos ou outros que atentem contra a dignidade humana. Art. 100. Deixar de obter aprovação de protocolo para a realização de pesquisa em seres humanos, de acordo com a legislação vigente. Art. 101. Deixar de obter do paciente ou de seu representante legal o termo de consentimento livre e esclarecido para a realização de pesquisa envolvendo seres humanos, após as devidas explicações sobre a natureza e as consequências da pesquisa. Parágrafo único. No caso do sujeito de pesquisa ser menor de idade, além do consentimento de seu representante legal, é necessário seu assentimento livre e esclarecido na medida de sua compreensão. Art. 102. Deixar de utilizar a terapêutica correta, quando seu uso estiver liberado no País Parágrafo único. A utilização de terapêutica experimental é permitida quando aceita pelos órgãos competentes e com o consentimento do paciente ou de seu representante legal, adequadamente esclarecidos da situação e das possíveis consequências. Art. 103. Realizar pesquisa em uma comunidade sem antes informá-la e esclarecê-la sobre a natureza da investigação e deixar de atender ao objetivo de proteção à saúde pública, respeitadas as características locais e a legislação pertinente. Art. 104. Deixar de manter independência profissional e científica em relação a financiadores de pesquisa médica, satisfazendo interesse comercial ou obtendo vantagens pessoais. Art. 105. Realizar pesquisa médica em sujeitos que sejam direta ou indiretamente dependentes ou subordinados ao pesquisador. Art. 106. Manter vínculo de qualquer natureza com pesquisas médicas, envolvendo seres humanos, que usem placebo em seus experimentos, quando houver tratamento eficaz e efetivo para a doença pesquisada. Art. 107. Publicar em seu nome trabalho científico do qual não tenha participado; atribuir-se autoria exclusiva de trabalho realizado por seus Código de Ética Médica 49 subordinados ou outros profissionais, mesmo quando executados sob sua orientação, bem como omitir do artigo científico o nome de quem dele tenha participado. Art. 108. Utilizar dados, informações ou opiniões ainda não publicados, sem referência ao seu autor ou sem sua autorização por escrito. Art. 109. Deixar de zelar, quando docente ou autor de publicações científicas, pela veracidade, clareza e imparcialidade das informações apresentadas, bem como deixar de declarar relações com a indústria de medicamentos, órteses, próteses, equipamentos, implantes de qualquer natureza e outras que possam configurar conflitos de interesses, ainda que em potencial. Art. 110. Praticar a Medicina, no exercício da docência, sem o consentimento do paciente ou de seu representante legal, sem zelar por sua dignidade e privacidade ou discriminando aqueles que negarem o consentimento solicitado. AULA 12: ÉTICA EM PESQUISA (RELATO DE CASOS E USO DE ANIMAIS EM PESQUISA): Carta Circular no 166/2018: Assunto: Esclarecimentos acerca da tramitação dos estudos do tipo “relato de caso” no Sistema CEP/Conep para a área biomédica. Prezados (as) Coordenadores (as) dos Comitês de Ética em Pesquisa, pesquisadores e demais interessados, 1. Em virtude das inúmeras consultas que a Conep tem recebido acerca da maneira com que os estudos do tipo relato de caso devem tramitar no Sistema, faz-se necessário esclarecer e orientar sobre o assunto. a) Compreende-se “relato de caso” a modalidade de estudo na área biomédica com delineamento descritivo, sem grupo controle, de caráter narrativo e reflexivo, cujos dados são provenientes da prática cotidiana ou da atividade profissional. Portanto, no momento da elaboração do relato do caso, os eventos narrados estarão consumados, não estando previstos experimentos como objeto do estudo. Tem como finalidade destacar fato inusitado ou relevante, ampliando o conhecimento ou sugerindo hipóteses para outros estudos. b) Não se enquadram na modalidade “relato de caso” as descrições de novo procedimento ou técnica cirúrgica, novo dispositivo ou novo medicamento. c) Os estudos realizados com informações provenientes do cotidiano ou da prática profissional, como os relatos de caso, são eticamente aceitáveis, desde que respeitados os preceitos relacionados à privacidade dos participantes, à confidencialidade dos dados e a dignidade humana. d) O “relato de caso” não é isento de riscos, podendo ocorrer quebra da confidencialidade. Esta pode trazer danos, materiais e morais, ao participante e a terceiros. Não é permitida qualquer forma de identificação do participante sem o seu consentimento. Qualquer informação que possibilite a identificação deve ser evitada, tais como: nome, codinome, iniciais, registros individuais, informações postais, números de telefone, endereços eletrônicos, fotografias, figuras, características morfológicas, entre outros. O campo “Propósito Principal do Estudo (OMS)” (localizado na aba 2 da PB) deve ser preenchido como ‘estudo observacional e de braço único’; Os campos da PB sobre o detalhamento do estudo (aba 4) devem ser preenchidos em coerência com o caso a ser relatado, e os campos que não forem pertinentes devem ser preenchidos com a informação “não se aplica” ou expressão equivalente; Na impossibilidade de se obter o consentimento e o assentimento (quando for o caso), o pesquisador deve solicitar a dispensa de aplicação do termo apresentando justificativa pertinente no campo localizado na aba 5 da PB; O TCLE e o Termo de Assentimento (quando for o caso) devem conter: o motivo para a publicação do relato de caso, as garantias relacionadas à confidencialidade, privacidade e, quando necessário, uso da imagem do participante. Deve apresentar, de forma clara e afirmativa que, em caso de danos decorrentes do relato de caso, será assegurado o direito à assistência integral e gratuita, pelo tempo que for necessário, além do direito de buscar indenização. Nas situações em que for imprescindível a identificação do participante, tal fato deve estar plenamente justificado em documento próprio (anexado na PB como “outros” na opção “tipo de documento”) e explicitamente descrito no TCLE e no Termo de Assentimento. Nessa situação, o consentimento formal do participante (ou do representante legal) é obrigatório. O Cronograma (localizado na aba 5 da PB) deve ser preenchido indicando as fases que serão desenvolvidas a partir da aprovação e a data provável em que se pretende publicar ou divulgar o relato. O Orçamento (localizado na aba 5 da PB) deve conter os custos relacionados com a elaboração, publicação ou divulgação. Sempre que o relato de caso requerer o uso de imagem do participante, deverá ser obtida a autorização do uso de imagem no TCLEou em documento separado, preservando-se a autoria de quem coletou a imagem, nos termos da lei. e) O consentimento do participante (ou responsável legal) para a elaboração do “relato de caso” é essencial e deve ser obtida previamente à publicação ou divulgação, por meio de termo de consentimento livre e esclarecido (TCLE), acompanhado do termo de assentimento quando necessário. A dispensa do termo de consentimento será analisada pelo Comitê de Ética em Pesquisa, mediante apresentação de justificativa pertinente. Diante do exposto, a Conep faz as seguintes orientações aos Comitês de Ética em Pesquisa e aos pesquisadores para a tramitação de propostas de “relato de caso”: a) A proposta deve ser submetida via Plataforma Brasil (PB) e apreciada pelo sistema CEP/Conep, previamente à sua publicação ou divulgação; b) Serão consideradas duas modalidades de submissão na PB, a critério do pesquisador: “relato de caso” e “projeto de relato de caso”. c) Em ambas as modalidades, deve-se atender ao seguinte: Deve ser anexado na PB o “relato de caso” na forma final que será submetido para publicação ou divulgação, como tipo de documento “Projeto Detalhado”; O consentimento e o assentimento (quando for o caso) devem ser obtidos formalmente ANTES da apresentação da proposta na PB, devendo ser assinado pelo participante (ou responsável legal) e anexados como tipo de documento “TCLE/Termo de Assentimento”. Quando pertinente, serão solicitadas adequações aos termos apresentados, havendo necessidade de tomada de novo consentimento com a versão corrigida do documento; O conteúdo apresentado como “relato de caso” e aprovado pelo CEP deve ser idêntico ao que será submetido para publicação ou divulgação. Propostas de adição no conteúdo do relato devem tramitar por meio de emenda. Deve-se anexar o “Projeto Detalhado” na PB, com descrição de todas as etapas da proposta; O consentimento e o assentimento (quando for o caso) devem ser obtidos formalmente APÓS a apresentação e aprovação da proposta na PB, devendo ser anexados os modelos a serem utilizados, como tipo de documento “TCLE” / “Termo de Assentimento”; Propostas de adição ou modificação devem tramitar por meio de emenda. d) Na modalidade de submissão do tipo “relato de caso”, deve-se atender ao seguinte: e) Na modalidade de submissão do tipo “projeto de relato de caso”, os campos da Plataforma Brasil devem ser preenchidos de acordo com o item 3 (“Protocolo de pesquisa”) da Norma OperacionalCNS n° 001 de 2013. A confecção do relato de caso e a tomada do consentimento (e do assentimento, quando for o caso) devem ser realizadas APÓS a aprovação do protocolo pelo Sistema CEP/Conep, devendo-se anexar na PB o modelo de TCLE que será utilizado. Nesta modalidade, deve-se atender ao seguinte: f) Independentemente da forma de submissão, o CEP tem a prerrogativa de solicitar esclarecimentos e modificações do relato de caso e de qualquer documento anexado na PB. Lei no 11.794, de 8 de outubro de 2008: De acordo com a lei, a utilização de uso de animais fica restrita às atividades de ensino nos estabelecimentos de ensino técnico de nível médio da área biomédica e aos de ensino superior. O uso também fica permitido nas atividades relacionadas à ciência básica e aplicada, desenvolvimento tecnológico, produção e controle da qualidade de drogas, medicamentos, alimentos, imunobiológicos, instrumentos e quaisquer outros testados em animais. Práticas zootécnicas ligadas à agropecuária não são consideradas como atividades de pesquisa. Além de credenciar as instituições, o Concea passou a ter a atribuição de monitorar e avaliar a introdução de técnicas alternativas que substituam o uso de animais tanto no ensino quanto nas pesquisas científicas. Compete também ao conselho estabelecer e rever normas técnicas para instalação e funcionamento de centros de criação, biotérios e laboratórios de experimentação. Para conseguir credenciamento no Concea, as instituições devem constituir previamente uma Comissão de Ética no Uso de Animais (Ceua). Essas comissões são compostas por veterinários, biólogos, docentes, pesquisadores e um representante de sociedade protetora de animais legalmente estabelecida. A partir das informações remetidas por essas comissões, o Concea constitui um cadastro atualizado dos procedimentos de ensino e pesquisa, realizados com animais, em andamento no país. A lei estabelece penalidades para as instituições que descumprirem os termos nela definidos, com advertência; multa; interdição temporária; suspensão de financiamentos oficiais e interdição definitiva. Segundo o pesquisador Renato Sérgio Balão Cordeiro, as primeiras iniciativas para regulamentar a pesquisa com animais de laboratório no Brasil surgiram no governo de Getúlio Vargas, em julho de 1934, com o Decreto nº 24.645, e em 1941, quando foi publicado o Decreto-Lei 3.688, que tratava das leis de contravenções penais. Quase quatro décadas depois, em 8 de maio de 1979, foi publicada a Lei 6.638, que estabelecia “normas para a prática didático-científica da vivissecção de animais”, que não teve eficácia prática, pois não foi regulamentada pelo Executivo após aprovação pelo Congresso, caindo no esquecimento. O Concea também passou a estabelecer normas para uso e cuidados com animais para ensino e pesquisa em consonância com as convenções internacionais das quais o Brasil seja signatário; criar normas técnicas para instalação e funcionamento de centros de criação, biotérios e laboratórios de experimentação animal, bem como sobre as condições de trabalho de tais instalações. Outra de suas funções é a de estabelecer e rever, periodicamente, normas para credenciamento de instituições que criem ou usem animais para ensino e pesquisa. De acordo com Cordeiro, é “importante lembrar o caráter essencialmente democrático do conselho, que tem representantes de sociedades protetoras de animais legalmente constituídas e de sociedades e instituições científicas”. Para que as instituições sejam credenciadas pelo Concea e possam desenvolver atividades de ensino e pesquisa, deverão criar Comissões de Ética no Uso de Animais (CEUAs, celula mater do sistema, já existentes na maior parte das instituições brasileiras), compostas por veterinários, biólogos, docentes, pesquisadores e representante de sociedade protetora de animais. Resolução Normativa CONCEA nº 17, de 03.07.2014: Dispõe sobre o reconhecimento de métodos alternativos ao uso de animais em atividades de pesquisa no Brasil e dá outras providências. O CONSELHO NACIONAL DE CONTROLE DE EXPERIMENTAÇÃO ANIMAL – CONCEA, no uso das atribuições que lhe confere o art. 5º, inciso III, da Lei nº 11.794, de 8 de outubro de 2008, resolve: CAPÍTULO I DAS DISPOSIÇÕES PRELIMINARES: Art. 1º. Esta Resolução Normativa dispõe sobre o reconhecimento no país de métodos alternativos validados que tenham por finalidade a redução, a substituição ou o refinamento do uso de animais em atividades de pesquisa, nos termos do inciso III do art. 5 da Lei nº 11.794, de 8 de outubro de 2008, e sua regulamentação. Art. 2º. Para os efeitos desta Resolução Normativa, considera-se: I – Método Alternativo: qualquer método que possa ser utilizado para substituir, reduzir ou refinar o uso de animais em atividades de pesquisa; II – Método Alternativo validado: método cuja confiabilidade e relevância para determinado propósito foram determinadas por meio de um processo que envolve os estágios de desenvolvimento, prévalidação, validação e revisão por especialistas, o qual está em conformidade com os procedimentos realizados por Centros para Validação de Métodos Alternativos ou por estudos colaborativos internacionais, podendo ter aceitação regulatória internacional; III – Método Alternativo Reconhecido: é o método alternativo validado que foi reconhecido pelo CONCEA. CAPÍTULO II DA VALIDAÇÃO E RECONHECIMENTO DE MÉTODOS ALTERNATIVOS AO USO DE ANIMAIS EM ATIVIDADES DE PESQUISA: Art. 3º. As instituições interessadas em validar métodos alternativos ao uso de animais em atividades de pesquisa deverão
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