Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Manejo de ferimentos Discente: Alice Sampaio da Cruz Ferida é uma ruptura ou perda da continuidade celular ou anatômica da pele ou de algum órgão. Classificação de feridas: . ● Feridas fechadas: Camada superficial intacta, as camadas subjacentes estão lesionadas -> proteção da ferida contra qualquer risco de contaminação; Exemplos: hematomas e contusões; ● Feridas abertas: representam uma descontinuidade ao nível da pele ou das mucosas, das quais são exemplo lacerações, avulsões, queimaduras, úlceras de decúbito e, inclusive, incisões cirúrgicas. Devido ao risco de contaminação associado, as feridas abertas podem ser categorizadas segundo o seu grau e duração de contaminação. Quanto ao grau de contaminação: ● Feridas limpas: são as feridas cirúrgicas realizadas sob condições de assepsia que não envolvam os tratos respiratório, digestivo ou urogenital; ● Feridas limpas-contaminadas: feridas limpas que apresentem um ligeiro comprometimento das condições de assepsia cirúrgica, feridas cirúrgicas ao nível dos tratos respiratório, digestivo ou urogenital, e outras feridas ligeiramente contaminadas; ● Feridas contaminadas: dizem respeito a feridas traumáticas abertas, feridas cirúrgicas com elevado comprometimento das condições de assepsia, e incisões em zonas inflamadas/contaminadas; ● Feridas sujas/infectadas: abrangem feridas traumáticas não recentes, feridas que ostentam infecção clínica ou que envolvam vísceras perfuradas Duração da contaminação:. ● Limpa classe 1: baixo grau de contaminação e duração da contaminação de 0 a 6 horas. ● Limpa-contaminada classe 1: baixo grau de contaminação e duração da contaminação de 0 a 6 horas. ● Contaminada classe 2: médio grau de contaminação e duração da contaminação de 6 a 12 horas. ● Contaminada classe 3: elevado grau de contaminação e duração da contaminação de >12 horas. ● Suja/infectada classe 3: elevado grau de contaminação e duração da contaminação de >12 horas. Tipos de feridas: . ● Incisões e lacerações: são cortes de objetos cortantes que se deslocam num plano paralelo à superfície cutânea. A definição de incisão aplica-se quando o corte resultante se apresenta de forma regular em toda a sua extensão, enquanto o termo laceração se reserva para cortes de conformação e profundidade irregulares. ● Feridas puntiformes: resultam do movimento de objetos pontiagudos num plano perpendicular à pele originando um pequeno défice ou orifício. Existem 2 tipos: 1. Feridas perfurante:, nas quais o objeto trespassa os tecidos promovendo um ponto de entrada e outro de saída. 2. Feridas penetrantes: em que o objeto penetra os tecidos sem emergir além destes. ● Abrasões: Têm origem no movimento paralelo da pele em superfícies rugosas sob forças de fricção e correspondem a feridas cutâneas Manejo de ferimentos Discente: Alice Sampaio da Cruz superficiais, isto é, sem lesões da camada dérmica. ● Avulsões e desluvamentos ambos apresentam uma aparência semelhante e o mesmo tipo de complicação. 1. Avulsão corresponde a uma separação violenta (rasgamento) dos tecidos dos seus ligamentos normalmente com envolvimento de tecido muscular. 2. Desluvamento mecânico ocorre quando a pele é arrancada das junções subdérmicas e ocasiona a exposição de tecidos profundos. 3. Desluvamento fisiológico decorre de lesões ao nível da vascularização cutânea e consequente necrose e perda de tecido cutâneo. ● Lesões por cisalhamento: são lesões características dos membros. Ocorre perda de tecidos profundos, nomeadamente pele, tendões, músculos e, por vezes, ossos. Resultam habitualmente de acidentes rodoviários à semelhança dos desluvamentos. ● Queimaduras: são lesões cutâneas causadas por temperaturas extremas ou pelo contato com substâncias químicas, eletricidade ou radiação. Classificam-se em: 1. Queimaduras de 1º grau: quando limitadas à região epidérmica; 2. Queimaduras de 2º grau: quando englobam lesões da epiderme e porções variáveis da derme (mediante o prejuízo da derme são ainda classificadas em superficiais ou profundas); 3. Queimaduras de 3º grau: quando há envolvimento de toda a espessura cutânea; 4. Queimaduras de 4º grau: lesão de tecidos profundos, como o muscular e ósseo. ● Feridas por pressão: típicas de pacientes em decúbito ou em cães de raça gigante nas zonas de saliência óssea. Normalmente surgem em regiões do olecrânio e calcâneo e podem representar feridas abertas ou fechadas, nomeadamente úlceras de decúbito e higromas. Os higromas são uma bolsa de fluido subcutâneo como resultado de sucessivos traumatismos contusos da pele em superfícies rígidas e, por vezes, culminam em lesões ulceradas. Tipos de cicatrização: . ● Cicatrização por primeira intenção: ocorre em feridas limpas, não contaminadas, nas quais se pode aproximar bem os bordos por uma sutura precisa, ficando assim, a cicatriz mais estética. ● Cicatrização por segunda intenção: Pode ter ou não infecção, no entanto, não sendo possível aproximar os bordos, essa fica aberta para fazer com que ocorra a contração e a reepitelização das feridas. ● Cicatrização por terceira intenção: Fechamento cirúrgico de uma cicatriz granulosa (segunda intenção) após a remoção do tecido de granulação e o reavivamento dos bordos epiteliais. Estágios da cicatrização . ● Fase inflamatória: Esta fase é caracterizada pelo aumento na permeabilidade vascular, quimiotaxia das células circulatórias (processo de migração das células em direção a um gradiente químico), liberação de citocinas e fatores do crescimento e ativação de células inflamatórias. Manejo de ferimentos Discente: Alice Sampaio da Cruz Mecanismo de ação I. Vasodilatação; II. Vasos sanguíneos se contraem de 5 a 10 min para evitar a hemorragia, porém depois dilatam e liberam fibrinogênio e fatores de coagulação; III. Agregação plaquetária e a coagulação formam um coágulo para hemostasia; IV. Transudato de fibrina e plasma enchem o ferimento e tapam os vasos linfáticos, localizando a inflamação e “colando” as bordas do ferimento; V. O coágulo de sangue seca e forma as crostas. VI. As células da fase inflamatória secretam fatores do crescimento, ou citocinas, que iniciam e mantêm a fase proliferativa da cicatrização; VII. Os glóbulos brancos que vazam dos vasos sanguíneos para os ferimentos iniciam a fase de desbridamento. ● Fase de desbridamento: o exsudato, composto de glóbulos brancos, tecido morto e fluidos, forma-se no ferimento durante esta fase. Os quimioatratores incentivam os neutrófilos e monócitos a aparecerem nos ferimentos (aproximadamente 6 horas e 12 horas depois da lesão, respectivamente) e iniciam o desbridamento. Mecanismo de ação I. Os neutrófilos degenerados liberam enzimas e produtos tóxicos do oxigênio que facilitam a decomposição das bactérias, resíduos extracelulares e material necrótico, além de estimularem os monócitos; II. Os monócitos são essenciais para a cicatrização do ferimento, já os neutrófilos não. Os monócitos são células excretoras importantes, sintetizando os fatores de crescimento que participam na formação e remodelagem do tecido. Os monócitos tornam-se macrófagos nos ferimentos em 24–48 horas; III. Os macrófagos secretam colagenases, removendo o tecido necrótico, bactérias e material estranho; IV. As plaquetas liberam fatores do crescimento que são importantes para a atividade fibroblástica; ● Fase de reparo: normalmente começa 3–5 dias depois da lesão. Mecanismo de ação I. Os macrófagos estimulam DNA e a proliferação dos fibroblastos; II. As citocinas, em coordenação com as moléculas da matriz extracelular, estimulam os fibroblastos no tecido circunjacente para proliferar, expressar os receptores de integrina apropriados e migrar para os ferimentos; III. Os fibroblastos são estimulados transformando o β–fator de crescimento para produzir a fibronectina, que facilita a ligação celular e o movimento dos fibroblastos; IV. Os fibroblastos migram para os ferimentos um pouco antes dos novos leitos capilares, à medida que a fase inflamatória se ameniza (2–3 dias); V. Eles invademos ferimentos para sintetizar e depositar colágeno, elastina e proteoglicanos que amadurecem para o tecido fibroso; VI. A fibrina do ferimento desaparece à medida que o colágeno é depositado; VII. Os capilares invadem os ferimentos atrás dos Manejo de ferimentos Discente: Alice Sampaio da Cruz fibroblastos que estão em migração, através do processo da angiogênese; VIII. A combinação de novos capilares, fibroblastos e tecido fibroso forma um tecido de granulação carnudo e vermelho brilhante 3–5 dias depois da lesão. Quando não é saudável, ele é branco e tem um alto conteúdo de tecido fibroso com poucos capilares. IX. Em seguida ocorre a epitelização (barreira importante contra as infecções internas e a perda do fluido interno. O reparo epitelial envolve mobilização, migração, proliferação e diferenciação das células epiteliais). ● Fase de maturação: I. A maturação do ferimento começa assim que o colágeno foi depositado adequadamente nos ferimentos (17–20 dias depois da lesão) e pode continuar por anos; II. As fibras de colágeno remodelam com a alteração de sua orientação e um aumento da ligação cruzada, que melhora a força do ferimento; III. O colágeno de tipo III diminui gradualmente e o de tipo I aumenta; IV. Em seguida, ocorre um aumento mais lento na força do ferimento, porém a força normal do tecido nunca é reconquistada nos ferimentos (apenas 80% da força original podem ser recuperados). Cicatrização úmida . Um ambiente úmido possibilita uma cicatrização ideal. Neste meio, o desbridamento é acelerado e seletivo, a formação do tecido de granulação é promovida e a epitelização é mais rápida. Permitir que o fluido permaneça em contato com os ferimentos promove o desbridamento autolítico pelas enzimas endógenas que decompõem o tecido necrótico, mas não o saudável (72-96h) sob uma bandagem oclusiva. O fluido do ferimento também contém citocinas e fatores do crescimento que estimulam o tecido de granulação, a angiogênese e a reepitelização. Os fatores quimiotáticos no fluido do ferimento atraem neutrófilos e macrófagos que secretam enzimas adicionais, citocinas e fatores do crescimento. Os ferimentos úmidos limitam as infecções porque mais glóbulos brancos são encontrados no ferimento e existe uma fagocitose aumentada e um pH inferior. As crostas não se formam na cicatrização do ferimento úmido; portanto, os glóbulos brancos não são aprisionados na crosta e os medicamentos tópicos penetram melhor no ferimento; Bandagens hidrófilas, oclusivas ou semioclusivas ajudam a manter o ferimento quente e úmido. O calor elevado melhora a atividade enzimática; Um ferimento úmido é menos dolorido e prurítico, os tecidos não desidratam e a formação de cicatriz é menor. Fatores que afetam . a cicatrização do ferimento . ● Animais mais velhos têm a cicatrização mais lenta. ● Animais desnutridos e os que apresentam uma concentração sérica de proteínas abaixo de 1,5-2g/dL (cicatrização atrasada ou força reduzida do ferimento); ● Doença hepática (deficiência no fator de coagulação); ● Hiperadrenocorticismo (atrasa a cicatrização pelo excesso de glicocorticóides circulantes); ● Diabetes melito (cicatrização atrasada e predisposição a infecções); ● Uremia ocorrendo 5 dias após a lesão (compromete a cicatrização pois altera os sistemas de enzimas, trajetos bioquímicos e metabolismo celular); ● Obesidade (aumenta o risco de infecção). Manejo de ferimentos Discente: Alice Sampaio da Cruz ● Radioterapia; ● Corticoide (deprime todas as fases da cicatrização e aumenta as chances de infecção); ● A aspirina pode atrasar a coagulação; ● Alguns fármacos quimioterapêuticos (p. ex., ciclofosfamida, metotrexato, doxorrubicina) inibem a cicatrização do ferimento; Terapêutica dos ferimentos . ● Manejo de feridas abertas ou superficiais: ➔ Cobrir temporariamente a ferida para evitar mais traumas e contaminações; ➔ Avaliar o animal traumatizado e estabilizar sua condição; ➔ Realizar a tricotomia e preparar assepticamente a área ao redor do ferimento; ➔ Cultivar o ferimento; ➔ Desbridar tecido morto e remover debris estranhos do ferimento; ➔ Lavar completamente a ferida; ➔ Fornecer drenagem da ferida; ➔ Promover a cicatrização ao estabilizar e proteger a ferida limpa; ➔ Realizar o fechamento adequado da ferida. Relação entre o tempo e o tratamento da ferida ● Ferimentos com menos de 6–8 horas de ocorridos, com trauma e contaminação mínimos, são tratados por lavagem, desbridamento e fechamento primário; ● Os ferimentos severamente traumatizados ou contaminados, com mais de 6-8 horas ou infeccionados devem ser tratados como abertos, para possibilitar o desbridamento e a redução do número de bactérias. A maioria dos ferimentos é cirurgicamente corrigida depois que a infecção foi controlada; no entanto, alguns cicatrizam pela contração e a epitelização; Passo a passo dos procedimentos iniciais para tratamento de feridas abertas 1- Se necessário realizar a anestesia para a inspeção inicial; o objetivo dos cuidados com um ferimento aberto (e contaminado) é transformá-lo em um ferimento cirurgicamente limpo, que pode ser fechado; 2- A área que cerca o ferimento deve passar pelo processo de tricotomia- o ferimento deve ser protegido contra os pelos, para isso, pode-se utilizar: detergentes, gel KY, ou esponjas com soro fisiológico e depois cobrir com uma atadura ou toalha estéril- Os pelos podem ser cortados da margem do ferimento com uma tesoura mergulhada em óleo mineral para impedir que eles caiam dentro do ferimento; 3- Em seguida deve-se realizar esfregaços de povidona-iodo ou gluconato de clorexidina para preparar a pele limpa- obs: os detergentes nos esfregaços antissépticos causam irritação e toxicidade, o álcool também é muito prejudicial ao tecido e deve ser usado apenas na pele íntegra; 4- Nesse momento, deve-se lavar o ferimento com soro fisiológico estéril, ou com ringer com lactato, por meio de a uma seringa de 20-30 mL acoplada a uma agulha de 18G 5- Realizar o desbridamento (indicada na presença de tecido necrótico ou detritos na ferida que não tenham sido removidos após a lavagem inicial da lesão), ou seja, é uma prática que consiste na remoção de: tecido necrótico/danificado, corpos estranhos e microorganismos que possam comprometer os mecanismos de defesa do local e Manejo de ferimentos Discente: Alice Sampaio da Cruz atrasar o processo de cicatrização- CONVERSÃO DE FERIDA ABERTA CONTAMINADA EM UMA FERIDA LIMPA DE CONTORNOS CIRÚRGICOS; OBS: existem várias técnicas de desbridamento, as quais serão citadas após esse tópico. Técnicas de desbridamentos: Cirúrgico, mecânico, químico, autolítico, enzimático e biocirúrgico , a escolha depende das características da ferida e do próprio paciente. Vários fatores importantes contribuem para esta decisão, tais como a quantidade de tecido necrótico, a laxidão e elasticidade do tecido circundante, a presença/ausência de uma linha de demarcação clara entre tecido viável e tecido necrótico, e a tolerância ao procedimento de anestesia geral por parte do paciente. ● Desbridamento cirúrgico O desbridamento cirúrgico é considerado a técnica de referência, na medida em que permite a remoção meticulosa de tecido contaminado, necrótico ou desvitalizado, enquanto os tecidos saudáveis e estruturas essenciais são identificados e preservados. Depois do desbridamento cirúrgico, os ferimentos são frequentemente tratados como ferimentos abertos, com curativos hidrófilos e bandagens. O fornecimento de uma drenagem adequada e um leito vascular viável é importante para a cicatrização do ferimento. O ferimento deve ser fechado quando parecer saudável, ou quando um leito de tecido degranulação saudável se formou. ● Desbridamento autolítico É realizado por meio da criação de um ambiente úmido do ferimento, para permitir que enzimas endógenas dissolvam o tecido inviável. Frequentemente ele é preferível ao desbridamento cirúrgico ou de bandagem nos ferimentos com tecido de viabilidade questionável, por ser altamente seletivo para o tecido desvitalizadoe acentuadamente menos doloroso que outros métodos de desbridamento; no entanto, é um processo muito mais lento. O desbridamento autolítico é realizado com bandagens hidrófilas, oclusivas ou semioclusivas, que permitem que o fluido do ferimento permaneça em contato com o tecido inviável. ● Desbridamento com bandagem (mecânico) Os curativos que são deixados para secar no ferimento, como as bandagens úmidas-secas ou secas-secas, aderem à superfície do ferimento e puxam os detritos e removem as camadas superficiais do leito do ferimento quando removidos. Além do desbridamento mecânico, os curativos úmidos-secos fornecem proteção e cobertura adequadas para o ferimento, conservam um ambiente úmido e absorvem quantidades moderadas de exsudato. Esses curativos são mais eficientes nas primeiras fases da cicatrização do ferimento ou no controle da infecção. No entanto, o desbridamento é doloroso e não é seletivo, porque o tecido saudável ou que está Manejo de ferimentos Discente: Alice Sampaio da Cruz cicatrizando pode ser traumatizado. ● Desbridamento enzimático Os agentes de desbridamento enzimático são usados como auxílio para a lavagem e o desbridamento cirúrgico do ferimento. Eles são benéficos para os pacientes que apresentam alto risco anestésico ou quando o desbridamento cirúrgico pode danificar os tecidos saudáveis necessários para a reconstrução. Os agentes enzimáticos decompõem o tecido necrótico e liquefazem o coágulo e a biopelícula bacteriana, permitindo um contato melhor do antibiótico com os ferimentos e uma exposição aprimorada para o desenvolvimento da imunidade celular e humoral; eles não danificam os tecidos vivos se forem usados adequadamente. Obs: as enzimas disponíveis não digerem pele queimada, tecido necrótico e conjuntivo. ● Desbridamento biocirúrgico A terapia com as larvas da mosca varejeira (Lucilia sericata), desbrida os ferimentos à medida que as larvas excretam enzimas para o ferimento (larvas medicinais estéreis que são criadas especificamente para a biocirurgia). A terapia com larvas é mais adequada para ferimentos necróticos, infeccionados ou crônicos que não cicatrizam. As larvas removem o tecido necrótico, desinfetam o ferimento e promovem a formação de tecido de granulação. 6- Uso de antibiótico para prevenir/ controlar as infecções cutâneas. OBS: Ferimentos mínima ou moderadamente contaminados com menos de 6 a 8 horas de idade podem ser limpos e fechados ou tratados sem antibióticos. Ferimentos severamente contaminados, esmagados ou infeccionados, ou com mais de 6–8 horas, tipicamente se beneficiam com o tratamento com antibióticos. Os ferimentos contaminados e os que apresentam infecção estabelecida devem ser cultivados antes que os antibióticos sejam administrados, e a seleção do antibiótico deve ser baseada principalmente na cultura e no teste da suscetibilidade. Indicações dos tipos de antibióticos Os antibióticos sistêmicos devem ser administrados se houver um alto risco de bacteremia ou infecção disseminada; Um antibiótico de amplo espectro deve ser administrado enquanto se aguardam os resultados da cultura; Medicamentos tópicos para o ferimento ● Os antibióticos tópicos, e não sistêmicos, são preferíveis para os ferimentos abertos. ● Ferimentos branda ou moderadamente contaminados não se beneficiam com o tratamento com antibióticos tópicos e sistêmicos combinados; no entanto, a terapia combinada é vantajosa em ferimentos altamente contaminados. Os antibióticos aplicados dentro de 1–3 horas após a contaminação frequentemente impedem a infecção; Manejo de ferimentos Discente: Alice Sampaio da Cruz ● Os antibióticos são usados efetivamente como pomadas tópicas ou adicionados a soluções de lavagem são a penicilina, ampicilina, carbenicilina, tetraciclina, canamicina, neomicina, bacitracina, polimixina e cefalosporinas; Obs: O coágulo do ferimento impede que os antibióticos tópicos alcancem níveis efetivos nos tecidos profundos e também impede que os antibióticos sistêmicos atinjam as bactérias superficiais. Esses ferimentos devem ser desbridados para permitir o acesso do antimicrobiano às bactérias. Pomadas recomendadas e suas indicações ● Pomada antibiótica tripla Essa camada com três antibióticos (bacitracina, neomicina, polimixina) é eficiente contra um amplo espectro de bactérias patogênicas que comumente infectam os ferimentos superficiais da pele. No entanto, sua eficácia contra os pseudomônades é ruim. Essa pomada é mais indicada para prevenir infecções do que para trata-las. ● Sulfadiazina de prata é eficiente contra a maioria das bactérias Grampositivas e Gram-negativas e a maioria dos fungos. Ela também atua como uma barreira antimicrobiana, podendo penetrar no tecido necrótico e melhora a epitelização do ferimento. Este é o fármaco de escolha para tratar as queimaduras. A pomada continua eficiente por até 3 dias, enquanto os curativos podem ser deixados no lugar por 7 dias. Esses produtos também são hidrófilos, ajudando a manter o ambiente úmido do ferimento e absorvendo os exsudatos. ● Nitrofurazona tem propriedades hidrófilas e antibacterianas de amplo espectro. Ela tem pouco efeito contra o Pseudomonas spp. Ajuda a diluir exsudatos persistentes para que possam ser absorvidos pelas bandagens. A nitrofurazona retarda a epitelização do ferimento. Ela perde uma parte de seus efeitos antibacterianos na presença da matéria orgânica. ● Sulfato de gentamicina Está também disponível em forma de pó, mas a solução é preferível. Ele é particularmente eficiente para controlar o crescimento de bactérias Gramnegativas (Pseudomonas spp., Escherichia coli, Proteus spp.). Frequentemente é usado antes e depois do enxerto e para os ferimentos que não respondem a uma pomada antibiótica tripla. No entanto, a gentamicina em uma solução isotônica não inibe a contração e promove a epitelização. ● Cefazolina é um antimicrobiano eficiente contra os organismos Grampositivos e alguns Gram-negativos. A cefazolina tópica (a dose sistêmica e tópica combinada não deve exceder 22mg/kg) fornece altos níveis deantibiótico no fluido do ferimento. A cefazolina de aplicação tópica é 95% biodisponível e rapidamente absorvida. ● Mafenida Manejo de ferimentos Discente: Alice Sampaio da Cruz é um composto de sulfato tópico disponível como um spray aquoso. Ela tem um amplo espectro contra muitas bactérias Gram-positivas e Gram-negativas, incluindo Pseudomonas spp., e também algumas cepas anaeróbias como o Clostridium spp., sendo particularmente útil nos ferimentos severamente contaminados. Estimuladores tópicos da cicatrização de ferimentos ● Aloe vera É um gel extraído das folhas do aloe vera (babosa), que possui 75 componentes potencialmente ativos. O aloe vera tem sido usado nas queimaduras por causa da sua atividade antibacteriano contra o Pseudomonas aeruginosa. Ele também inibe o crescimento de fungo. Os medicamentos com aloe vera também podem estimular a replicação fibroblástica. O aloe vera tem a capacidade de penetrar e anestesiar o tecido. estimula o reparo do tecido nos ferimentos supurantes e úlceras resistentes, promovendo o crescimento epitelial. O uso nos ferimentos de espessura total é desestimulado, por causa de seus efeitos anti-inflamatórios O aloe vera combate os efeitos inibidores da sulfadiazina de prata quando os dois sãocombinados. ● Acemannan está disponível como um hidrogel tópico ou na forma de um gel seco por congelamento. Ele também é indicado para controlar queimaduras superficiais e profundas de espessura parcial, lacerações, úlceras dérmicas, abrasões e ferimentos que não cicatrizam. ue fortalece as primeiras fases da cicatrização. Ele estimula os macrófagos a liberar a interleucina-1 e o fator alfa de necrose do tumor, que melhoram a proliferação dos fibroblastos, a neovascularização, o crescimento epidérmico e a motilidade, e a deposição de colágeno para formar o tecido de granulação. O momento mais eficiente para iniciar a aplicação tópica é o início da fase inflamatória da cicatrização, com a aplicaçãodiária sob uma bandagem, continuando até a fase de reparo. Os efeitos mais fortes são observados nos primeiros 7 dias de aplicação. ● Complexo de tripeptídeo-cobre estimula a cicatrização do ferimento e é um quimioatrator para mastócitos, monócitos e macrófagos, que estimulam o desbridamento, a angiogênese, a síntese de colágeno e epitelização. O melhor momento para iniciar a aplicação do complexo de tripeptídeo-cobre é no final da fase inflamatória e no início da fase de reparo, com o tratamento continuando até o final da fase de reparo. Ela foi eficiente para acelerar a cicatrização em ferimentos crônicos, isquêmicos e abertos. Os efeitos mais fortes são observados nos primeiros 7 dias de uso. ● Polissacarídeo D-glicose (maltodextrina NF) está disponível em uma forma de pó ou gel hidrófilo, indicado para uso em ferimentos contaminados Manejo de ferimentos Discente: Alice Sampaio da Cruz e infeccionados, como estimulante da cicatrização. A maltodextrina é quimiotática e puxa neutrófilos, linfócitos e macrófagos para dentro do ferimento. Ela também tem propriedades antibacterianas e bacteriostáticas. Reduz o odor, exsudatos, inchaço e infecção e pode promover a formação inicial do tecido de granulação e a epitelização. Depois do desbridamento e lavagem, uma camada de 5–10mm de maltodextrina é aplicada no ferimento e coberta com uma bandagem desde a fase inflamatória inicial, entrando na fase de reparo da cicatrização. São recomendadas a troca diária da bandagem, lavagem e reaplicação. ● Mel Os benefícios propostos incluem a promoção do desbridamento do ferimento, a redução do edema e inflamação, a promoção da formação de tecido de granulação e da epitelização, e a melhora da nutrição do ferimento. Ele tem um amplo efeito antibacteriano através da produção enzimática do peróxido de hidrogênio a partir da glicose, hipertonicidade, pH baixo, teor de inibina e outros componentes não identificados. O mel aumenta o conteúdo de colágeno, acelera a maturação de colágeno. O mel deve ser usado no início da cicatrização do ferimento e descontinuado assim que um leito de granulação saudável esteja presente. Ele é aplicado impregnando uma gaze estéril (30mL em uma gaze de 10 × 10), que então é posicionada no ferimento e coberta com uma bandagem absorvente grossa. A bandagem é trocada uma a três vezes por dia, dependendo da quantidade de exsudato. ● Açúcar O açúcar tem efeitos hipertônicos semelhantes aos do mel e também atrai macrófagos, acelera a descamação do tecido desvitalizado, fornece uma fonte de energia celular e promove a formação de um leito de granulação saudável. O açúcar granulado é aplicado em uma camada de 1cm de espessura e as bandagens absorventes são colocadas para absorver o excesso de fluido do ferimento. A bandagem é trocada uma a três vezes por dia, dependendo da quantidade de exsudato. Tipos de pensos Em geral, os pensos proporcionam um ambiente apropriado para a cicatrização de feridas, condições húmidas, temperatura ótima (35-37ºC) e pH próximo de 6 estabelecem um ambiente ideal de cicatrização. Camadas e material de penso Os pensos são constituídos por três camadas: a camada primária: material aplicado diretamente na superfície da ferida; Camada secundária: camada intermédia geralmente com propriedades absorventes e que sustenta a posição da camada primária; Camada terciária: Camada exterior que protege a camada secundária do paciente, do ambiente e de possível traumatismo. 1- Camada primária Manejo de ferimentos Discente: Alice Sampaio da Cruz A camada primária, também designada por camada de contato, representa um papel crucial no estabelecimento de um ambiente favorável ao processo de cicatrização, pode promover o desbridamento dos tecidos, absorção dos exsudatos, veículo de medicamentos ou a vedação oclusiva da ferida. Essa camada pode ser classificada em: aderente e não aderente e em oclusiva ou semioclusiva. 1.1 Aderentes: são indicadas quando há necessidade de desbridamento e, apenas, em estádios iniciais da cicatrização. Estas promovem a absorção de exsudados e o desbridamento mecânico da ferida. 1.2 Não aderente: Após o aparecimento de tecido de granulação o uso de camadas não aderentes é fundamental, de forma a não danificar o tecido normal saudável aquando da sua remoção. Como o nome indica, as camadas não aderentes não aderem à superfície da ferida e são na sua maioria semioclusivas; 1.3 Oclusiva: São impermeáveis ao ar e fluidos e, assim, recomendadas em feridas pouco exsudativas de forma a preservar um ambiente úmido, estas apresentam um maior risco de maceração dos tecidos comparativamente às semioclusivas, e podem estimular a produção excessiva de tecido de granulação; 1.4 Semioclusiva: Permitem a entrada de ar e a evasão de exsudado da superfície da ferida. Estas propriedades proporcionam um ambiente húmido favorável à cicatrização da ferida e permitem a drenagem simultânea do fluido em excesso, reduzindo tanto o risco de desidratação como de maceração dos tecidos. 2.0 Os materiais da 1a camada podem ser classificados em: 2.1 Aderente úmida É usada quando a superfície do ferimento possui tecido necrótico, matéria estranha ou exsudato viscoso. Uma gaze estéril de malha larga umedecida pode absorvê-la. O tecido necrótico e o material estranho aderem à gaze quando ela seca e são removidos do ferimento junto com a bandagem. As bandagens úmidas absorvem mais rapidamente que as secas e são mais confortáveis. As possíveis desvantagens de uma camada de contato aderente úmida são a dor e o dano ao tecido durante as trocas de bandagem, a proliferação de bactérias, a maceração do tecido e o vazamento. Obs: . O reumedecimento do curativo seco com soro fisiológico morno facilita a remoção e reduz a dor durante as trocas de bandagem; no entanto, também diminui o efeito do desbridamento mecânico. 2.2 Aderente seca Esse tipo de camada de contato é usado com pouca frequência porque é doloroso para ser removido, as células viáveis podem ser removidas com os detritos necróticos e o ferimento pode dissecar. Uma camada de contato aderente seca era principalmente usada quando a superfície do ferimento tinha uma grande quantidade de exsudato de baixa viscosidade, Manejo de ferimentos Discente: Alice Sampaio da Cruz que não agregava. Com essa bandagem, uma gaze absorvente de malha larga é usada sem enchimento de algodão. A gaze seca absorve o exsudato e adere ao tecido necrótico e aos detritos. A bandagem é removida depois que a camada primária absorveu o fluido e os detritos e então secou. 2.3 Não aderente Os curativos não aderentes são usados quando os ferimentos acabaram de formar o tecido de granulação e um pouco de exsudato permanece, mas ainda não epitelizaram. As camadas de contato não aderentes não grudam na superfície da pele e a maioria é semioclusiva. Elas são usadas para promover uma cicatrização úmida do ferimento e epitelização e impedir a desidratação dos ferimentos, enquanto permitem a drenagem do excesso de fluidos, reduzindo assim a maceração do tecido. 2.4 Soro fisiológico hipertônico/Curasalt Esses curativos são indicados para escaras e ferimentos infeccionados, necróticos e com exsudato pesado. Eles são usados nas fases inflamatórias da cicatrização, durante os primeiros dias de cuidados com ferimento. A ação osmótica disseca as bactérias e o tecido necrótico e reduz o edema, resultando em uma perfusão melhorada. Esses curativos convertem rapidamente os ferimentos necróticos em ferimentos com granulação e exsudato moderado. Esses curativos geralmente são acompanhados pela colocação dos curativos de alginato, hidrogel ou espuma, assim que o tecido de granulação começar a se formar. As bandagens de soro fisiológico hipertônico devem ser trocadas pelo menos a cada 1–3 dias para impedir a diluição do soro fisiológico e a dissecação do ferimento; esse cronograma é dependente da quantidade e característica dos exsudatos. 2.5 Hidrogel Eles são hidrófilos e incham quando interagem com soluções aquosas; contêm aproximadamente 90%–95%de água quando hidratados. Os géis retêm a umidade, são não aderentes e não oclusivos e altamente confortáveis, fornecendo um efeito calmante e fresco e certo alívio da dor. Esses curativos são altamente absorventes, criando um ambiente úmido que promove o desbridamento, a granulação e a epitelização. Eles são usados para tratar ferimentos secos, flácidos ou necróticos e abrasões, lacerações, queimaduras e irritações secundárias da pele. Os curativos devem ser cortados no tamanho do ferimento para impedir a maceração do tecido adjacente. Uma bandagem externa é usada para prender o curativo na superfície do ferimento. As bandagens são trocadas a cada 4–7 dias. 2.6 hidrocoloides Os curativos são úteis nos ferimentos de espessura parcial ou total com base limpa ou necrótica, incluindo úlceras de pressão, queimaduras secundárias ou ferimentos com granulação e tecido necrótico; porém, não foram desenvolvidos para ferimentos infeccionados ou com exsudato intenso. Manejo de ferimentos Discente: Alice Sampaio da Cruz Os exsudatos são absorvidos e o hidrocoloide incha, formando um gel sobre a superfície do ferimento. O gel expande, enchendo a cavidade do ferimento e o mantendo úmido. Os hidrocoloides mantêm um ambiente úmido, promovem o desbridamento autolítico e isolam o leito do ferimento. Eles aumentam a epitelização e o conforto, porém a adesão ao tecido adjacente pode reduzir a contração e causar a hipergranulação. 2.7 Alginato de cálcio Alginatos de cálcio são não oclusivos, não aderentes, hidrofílicos e curativos. Eles são classificados como dextrômeros fibrosos. É usado como um enchimento de feridas ou curativo, que estimula a granulação em feridas após terem sido debridado e aumenta a epitelização. Estes pensos também absorvem moderada a grande quantidade de exsudato (20 a 30 vezes o seu peso em líquido) e são apropriados durante as fases inflamatórias ou reparação de cicatrização para feridas. OBS: Colocação de pensos de alginato de cálcio e exposição excessiva do músculo, tendão, osso ou tecidos necróticos secos não são recomendados. Pensos são trocados a cada 1-5 dias, dependendo da quantidade de exsudado da ferida. 2.8 Espumas Curativos de espuma de poliuretano (p. ex., Hydrosorb ® , Covidien., Mansfield, Massachusetts) são altamente absorventes, curativos hidrofílicos com uma superfície de contato não aderente. Eles mantêm um ambiente úmido na ferida, debridamento autolítico apoiando e promovendo a epitelização e são, portanto, adequado para feridas parcialmente ou de espessura total com pequenas quantidades de exsudato, feridas necróticas úmidas, limpas a moderadamente limpas. 2.9 Curativos de gaze antimicrobianos (poli-hexametileno biguanida) Diversos agentes antimicrobianos, como iodo, prata, polihexametileno biguanida (PHMB), carvão ativado e antibióticos, podem ser incorporados em material de penso. Os pensos antimicrobianos têm indicação para feridas infetadas ou sob risco de infeção, especialmente em regiões próximas de articulações. A maioria destes pensos não promove a retenção de humidade e o emprego simultâneo de películas de poliuretano revela-se de grande utilidade para prevenir a dessecação da ferida. O carvão ativado além de promover a absorção de bactérias, previne a formação excessiva de tecido de granulação, contribui na redução do odor e proporciona um ambiente húmido no local da lesão. 3.0 curativos bioativos Curativos bioativos estão com propósito de materiais que se originam de tecidos vivos. Pensos bioativos incluem aquelas culturas de tecidos celulares, derivadas a partir de fibroblastos, pele artificial derivada de queratinócitos e matriz extracelular derivada a Manejo de ferimentos Discente: Alice Sampaio da Cruz partir das de camadas da submucosa do intestino delgado suíno ou bexiga urinária, assim como ligaduras biológicas, tais como enxertos de pele, antibiótico, membranas e peritônio. Curativos biológicos podem servir como camadas de contato em feridas com exsudação mínima. 2- Camada intermediária (secundária) A camada secundária de uma bandagem é uma camada absorvente, ou seja, há a absorção de exsudado, sangue, soro, detritos, bactérias e enzimas presentes no local da ferida. Adicionalmente, protege a ferida de eventuais traumatismos, restringe o movimento e assegura a posição da camada primária. A camada intermediária deve ter capilaridade para a absorção e deve ser espesso o suficiente para recolher fluido. A camada intermediária contém almofada protegendo a ferida de traumatismo e talas para impedir o movimento e manter a camada de contato contra a ferida. Pode ser usado algodão hidrofílico em rolo e material absorvente de tecidos. A espessura da camada secundária depende da quantidade expectável de exsudado absorvido, das propriedades de oclusão da camada primária, e do grau de proteção e suporte requerido. A pressão exercida no momento da aplicação é crucial para eliminar espaços mortos entra a ferida e a camada primária e entre a camada primária e a camada secundária; esta deve ser aplicada essencialmente sobre a ferida e nas regiões distais, com o objetivo de minorar qualquer compromisso venoso ou linfático. O penso deve ser mudado com frequência em feridas muito exsudativas, geralmente uma vez por dia, de forma a remover o exsudado absorvido pela camada secundária e preferencialmente antes de atingir a camada terciária. A presença de fluidos na camada terciária ocasiona a introdução de bactérias exógenas em direção à superfície da ferida. Para minimizar este risco pode-se recorrer ao uso de rolos de gaze antimicrobianos como camada secundária. Quando ocorre menor absorção de fluidos pela camada secundária, a sua mudança torna-se menos frequente. 3- Camada externa (terciária) A camada terciária faculta essencialmente proteção das camadas subjacentes da contaminação externa, como também assegura a posição das mesmas. Recomenda-se para este fim o uso de material elástico aderente ou autoaderente, malha tubular, fita oclusiva impermeável ou adesivo cirúrgico perfurado. Materiais com propriedades oclusivas, como fita oclusiva impermeável, estabelecem eficazmente uma barreira a material exógeno, no entanto podem ser responsáveis pela retenção excessiva de fluidos e implicarem deste modo uma maior frequência na troca de pensos. Tipos de bandagens Bandagens absorventes Manejo de ferimentos Discente: Alice Sampaio da Cruz são indicados para feridas abertas contaminadas e infectadas. Detritos absorvidos são removidos da superfície da ferida para permitir uma melhor recuperação. A camada de contato é um material hidrofílico absorvente, seguido por uma camada intermediária absorvente para segurar o curativo no lugar. A espessura para fazer um revestimento absorvente intermediário varia com a quantidade de drenagem esperada. Um envoltório de contorno elástico (bandagens elásticas ou Kling) é colocado sobre o envoltório absorvente para confeccionar o curativo e aplicada uma leve pressão. A fita adesiva ou elástica é o revestimento final. Dependendo da capacidade de absorção da camada de contato, as trocas de bandagem variam diariamente (mais frequentemente, se ocorre contaminação) ou uma vez a cada 3–7 dias. Bandagens aderentes Os tipos de curativos aderentes são:1- úmidos-secos, 2- molhado-molhado, 3- secoseco. Estas bandagens são utilizadas no início do curso de tratamento de feridas para desbridamento mecânico não seletivo do tecido inviável e material estranho. 1- Umidas- secas Ataduras úmidas-secas são o tipo mais comum de bandagem aderente usado em medicina veterinária. A bandagem úmida ajuda no debridamento por liquefação do coágulo e absorção de detritos necróticos, deixando intacto o tecido viável. OBS: a remoção do curativo é dolorosa. 2- Úmida- úmida Um curativo úmido-úmido é semelhante a um curativo úmido-seco, exceto que a camada de contato deverá permanecer úmido e não é permitido secar antes da remoção do curativo. O curativo pode ser mantido úmido entre as mudanças de atadura por inserção de um dreno fenestradoentre camadas de gaze e injectar fluido para dentro do curativo a cada 4–6 horas. Ele cria um ambiente úmido para ajudar a limpar a ferida, mas tem pouca capacidade de desbridamento. Este tipo de curativo é usado em feridas com grandes quantidades de exsudado viscoso e pouco detritos ou tecido necrosado. Depois de 3–5 dias, uma camada de granulação saudável deve ter-se formado e a atadura úmidaúmida é substituída com um curativo não aderente. Seca- seca Curativos secos são utilizados em feridas com tecido necrótico e restos soltos ou uma grande quantidade de exsudado de viscosidade baixa. Bandagens não aderentes Bandagens úmida-úmida, seca-seca e seca-úmida são trocadas por curativos não aderentes quando a drenagem se torna serosanguinolenta e com formação de tecido de granulação na ferida. Bandagens oclusivas Curativos oclusivos permitem que o fluido da ferida e a umidade normal do corpo previnam o acúmulo de fluido externo contaminando a ferida. Bandagens são oclusivas quando a camada Manejo de ferimentos Discente: Alice Sampaio da Cruz exterior é impermeável de fita adesiva, de borracha ou plástico. Curativos oclusivos são usados para reter a umidade sobre as feridas de espessura parcial sem necrose ou infecção. Bandagens Tie-Over O contato e camadas absorventes de uma bandagem podem ser mantidos no lugar com um curativo tie-over, quando a ferida está em uma área inacessível às técnicas de ligaduras padrão (p. ex., o quadril, ombro, axila ou períneo) Bandagens estabilizadoras Bandagens de estabilização ajudam a imobilizar fraturas para minimizar ainda mais os danos no tecido durante o transporte para a fixação definitiva de fraturas. Estas bandagens são fortemente acolchoadas e muitas vezes são referidos como bandagens de Robert Jones. Após a fixação da fratura com talas, fixadores externos ou fixação interna, estabilização com bandagens podem ser utilizados para apoiar o tecido lesionado, reduzir o inchaço e tratar feridas abertas. O tipo de ferida e da condição do tecido determinam o tipo de ligadura aplicada sobre a ferida. Bandagens de Ferida Pós-operatória ou Fechada Bandagens podem ser aplicadas em áreas sem uma ferida aberta para absorver o fluido de uma linha de drenagem ou a incisão, para apoiar a incisão, para comprimir o espaço morto, para aplicar pressão ou para evitar traumas ou contaminação. Estas ligaduras melhoram o conforto do paciente, protegendo as feridas. Bandagens de Pressão Bandagens que facilitam o controle por pressão de pequena hemorragia, edema e o excesso de tecido de granulação. A aplicação direta de uma pomada de corticosteroide para o ferimento pode ajudar a controlar o excesso de tecido de granulação. Aplicar uma camada de contato com absorventes não aderentes sobre a área de hemorragia ou excesso de tecido de granulação. Usar uma camada de espessura intermediária absorvente e fita adesiva elástica para a camada exterior à atadura. Enrolar a fita elástica com cuidado para evitar o excesso de pressão, o que pode prejudicar a circulação arterial, venosa e linfática, causando necrose do tecido ou danos nos nervos. Obs: Remover o curativo dentro de 24–48 horas se for aplicada para controlar a hemorragia. Bandagens de Alívio de Pressão Pensos concebidos para evitar a pressão sobre uma área (geralmente uma proeminência óssea) são utilizados para tratar ou prevenir a úlcera de pressão. A maioria das ataduras de alívio de pressão usam um curativo em formato de rosquinha, espuma ou tubo de isolamento para distribuir a pressão em torno da ferida, em vez de ser sobre a ferida. O curativo deve ser grande e espesso o suficiente para impedir que a pressão sobre a saliência óssea. Drenagem Manejo de ferimentos Discente: Alice Sampaio da Cruz A utilização de drenos é indicada na remoção de fluido ou ar em feridas e na obliteração de espaços mortos, frequentemente presentes após o emprego de técnicas reconstrutivas. É uma prática comum de uso profilático após o encerramento de feridas, afim de impedir a formação de seromas (reação inflamatória causada pelo próprio sistema imunológico). Todos os drenos devem ser entretanto protegidos por material de penso. Os drenos devem ser removidos quando ocorre uma notória diminuição da produção de fluidos. A maioria dos drenos é removido no espaço de 2-5 dias e o orifício resultante da remoção do dreno cicatriza normalmente por segunda intenção. ● Dreno passivo removem o fluido da ferida por ação capilar, extravasão de conteúdo e efeito da gravidade. O dreno deve ser fixado à pele por meio de suturas na zona dorsal da ferida e o ponto de saída ventral posicionado de forma a beneficiar do efeito da gravidade devendo distanciar pelo menos 1cm das margens da ferida. A utilização destes drenos é contraindicada na lavagem de feridas, visto que a porção exterior do dreno se encontra evidentemente contaminada. ● Dreno ativo Representam sistemas de drenagem dependentes da ação do vácuo. O vácuo remove o fluido da ferida por sucção, suprimindo a dependência do efeito da gravidade, o que possibilita a utilização deste tipo de drenos em qualquer região do corpo. Este método apresenta menor risco de infeção e constitui um método mais eficaz de drenagem. Os drenos ativos são especialmente úteis na drenagem de feridas profundas e após a realização de enxertos. Esse tipo de dreno pode ser classificado em aberto ou fechado. Dreno abeto: representam tubos de drenagem com vias destinadas à passagem de ar em direção ao local da ferida. Por este motivo, estes drenos criam condições propensas a contaminação retrógrada, potencialmente minoradas pelo uso de filtros; Dreno fechado: correspondem a drenos rígidos conectados a uma câmara coletora de fluidos. Este reservatório possibilita a contabilização dos fluidos drenados e deve ser esvaziado frequentemente de forma a preservar a pressão negativa necessária ao funcionamento do sistema de drenagem.
Compartilhar