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ABORDAGEM INICIAL CLÍNICA E LABORATORIAL NA NEFROLOGIA

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Rafael Venâncio de Souza 
 
➢ Abordagem Clínica e Laboratorial do Paciente com Doença Renal 
 
1. Considerações Gerais 
- para a elaboração de um diagnóstico, é necessária a realização de uma boa anamnese e de um adequado exame físico 
- a anamnese deve conter: identificação, queixa principal, história da moléstia atual, história patológica pregressa, história fisiológica, história familiar, 
história social e revisão de sistemas 
- assim, o diagnóstico é feito mediante dados subjetivos fornecidos pelo paciente e de dados objetivos obtidos pelo exame físico 
- os exames laboratoriais fornecem dados complementares aos dados obtidos pela história clínica e o exame físico 
- HISTÓRIA CLÍNICA + EXAME FÍSICO + EXAMES COMPLEMENTARES = SÍNDROMES NEFROLÓGICAS 
2. Síndromes em Nefrologia 
- Insuficiência Renal Aguda (IRA) - Doença Renal Crônica (DRC) - Síndrome Nefrítica Aguda (SNA) 
- Síndrome Nefrótica (SN) - Anormalidades Assintomáticas do Trato Urinário - Infecção do Trato Urinário (ITU) 
- Obstrução do Trato Urinário - Tubulopatias - Nefrolitíase 
- Hipertensão Arterial 
3. Abordagem do Paciente 
- em geral, o paciente pode aparecer com sinais e sintomas inespecíficos, devendo detalhar cada um desses a fim de se fazer o diagnostico diferencial: 
cansaço fácil, diminuição do apetite, náuseas e vômitos, prurido cutâneo, distúrbios do sono, alterações miccionais, hematúria micro ou macroscópica, 
urina espumosa, proteinúria, dor em flancos, alteração do estado mental, palidez, edema, hipertensão arterial não controlada e efusão pleural, pericárdica 
e/ou ascite 
- além disso, no diagnóstico diferencial, é importante estabelecer se a doença é aguda, subaguda ou crônica – exames laboratoriais podem auxiliar nessa 
conclusão: p.ex. um resultado antigo de creatinina normal e um resultado recente alterado fala a favor de uma doença aguda 
- ainda, deve-se avaliar qual segmento ou componente anatômico está envolvido: PRÉ-RENAL (perfusão diminuída), RENAL OU PÓS-RENAL (obstrução do 
trato urinário) 
PRÉ-RENAL RENAL PÓS-RENAL 
DIMINUIÇÃO DO VOLUME 
INTRAVASCULAR: 
- perda de sangue 
- perdas gastrointestinais 
- interstício (“terceiro espaço”) ou 
redistribuição de liquido) 
GLOMERULAR: 
- glomerulonefrite rapidamente progressiva 
(GNRP) 
- púrpura trombocitopênica trombótica 
UROPATIA OBSTRUTIVA: 
• Intrínseca: 
- nefrolitíase 
- necrose papilar 
- próstata 
- doenças vesicais 
• Extrínseca: 
- fibrose peritoneal 
- tumor de colo uterino 
HIPOTENSÃO: 
- IAM 
- sepse 
TUBULAR: 
- necrose tubular aguda 
- isquemia 
- nefrotoxicidade (rabdomiólise, nefropatia por 
contraste e uso de aminoglicosídeos) 
 
PERFUSÃO RENAL DIMINUÍDA: 
- insuficiência cardíaca congestiva (ICC) 
- estenose da artéria renal 
- medicações (AINEs, IECA, BRA, diuréticos) 
INTERSTICIAL: 
- nefrite intersticial aguda (NIA) – drogas, 
antibióticos, infecções 
 
 VASCULAR: 
- vasculite 
- trombose de artéria/veia renal 
 
 
 
 
Rafael Venâncio de Souza 
 
4. Caso Clínico 
 
→ Anamnese 
IDENTIFICAÇÃO 
RBS, 13 anos, masculino, branco, solteiro, natural e residente de Juiz de Fora (MG), estudante. 
QUEIXA PRINCIPAL (QP) 
“inchaço no corpo” 
HISTÓRIA DA MOLÉSTIA ATUAL (HMA) 
Relata que há aproximadamente 20 dias observou edema na face (região periorbital bilateral) e, posteriormente, passou a observar também edema nos 
MMII. Refere, ainda, que notou a presença de urina espumosa (a presença de urina espumosa tem grande relação com proteinúria) e diminuição do 
volume urinário. Nega quaisquer outras alterações. 
HISTÓRIA PATOLÓGICA PREGRESSA (HPP) 
Não relata doença anterior e nem uso de medicação. Vacinação em dia. 
HISTÓRIA FISIOLÓGICA 
Sono e apetite conservado. Ritmo intestinal com 01 exoneração/dia. Ritmo urinário com 03 micções diurnas (o habitual é que se tenha 6-8 micções no 
período diurno e até 1 micção no período noturno). 
HISTÓRIA FAMILIAR (HF) 
Avós paterno portadores de HAS 
Avô materno falecido por IAM 
Avó materna portadora de DM2 
Pais sem doenças conhecidas 
HISTÓRIA SOCIAL: 
Renda familiar com 3 salários mínimos. Família reside em casa própria, estuda em escola pública estando em concordância com a faixa e etária e 
apresenta bom aproveitamento. 
→ Exame Físico 
Bom estado geral, hidratado, corado, anictérico e acianótico. Afebril (TAX: 36°C), peso 43Kg, altura 1,45m. 
Presença de edema periorbital bilateral 
ACV: RCR 2T BNF S/S FC: 72bpm PA: 100/60mmHg 
AR: MV em AHT FR: 18irpm 
ABD: Plano, flácido, indolor à palpação superficial e profunda, fígado palpável no rebordo costal e indolor. Baço não percutível ou palpável. Sem sinais de 
ascite 
MMII: Edema 3+/4+, simétrico e depressível com Cacifo + 
OBS: o edema foi o dado que marcou a história clínica e o exame físico, sendo que uma queixa comum na prática médica 
→ Exames Laboratoriais 
- MATERIAL SANGUE: creatinina, colesterol total e frações, proteínas totais e frações, sódio, potássio, hemograma completo e glicose 
- MATERIAL URINA: EAS 
- MATERIAL URINA DE 24 HORAS: análise de proteinúria 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
SISTEMA URINÁRIO 
• Volume Urinário: 
Normal: 700-2000mL/dia Anúria: ≤ 100mL/dia 
Oligúria: ≤ 400mL/dia Poliúria: ≥ 2500mL/dia 
• Sintomas: 
Polaciúria Urgência Miccional Dor 
Noctúria Disúria 
Incontinência Hematúria 
Rafael Venâncio de Souza 
 
5. Elementos Anormais e Sedimentos (EAS) 
- também chamado de urina tipo 1, sumário de urina e uroanálise 
- é um exame de solicitação frequente para triagem de diagnósticos 
- é um exame chave na abordagem de doenças uronefrológicas 
- COLETA DO MATERIAL: ① habitualmente ② higienização ③ eliminação do primeiro jato ④ coleta de volume de 50-100mL ⑤ tempo adequado 
para análise é de até 2 horas, devendo estar em refrigeração para análises posteriores ⑥ situações especiais: uso de sonda vesical ou punção 
suprapúbica 
 
 
 
Rafael Venâncio de Souza 
 
→ Aspecto 
- NORMAL: claro, límpido e transparente 
- TURVO: ① urina alcalina – precipitação de fosfatos amorfos ② urina ácida – precipitação de uratos amorfos ③ presença de eritrócitos, de leucócitos 
ou de bactérias 
→ Cor 
- NORMAL: amarelo (pálido à âmbar) 
- ALTERAÇÕES: ① vermelha – hematúria, hemoglobinúria e mioglobinúria ② amarelo escuro ou marrom – bilirrubina ③ drogas – rifampicina 
(alaranjada/vermelha), fenitoína (vermelha), metildopa, metronidazol e imipenem + cilastatina (cor escura quando em repouso) ④ alimentos – beterraba 
(urina vermelha) e caroteno (cor castanha) 
→ pH 
- o pH reflete a presença de íons hidrogênio, porém não reflete a carga ácida total devido à excreção de amônia 
- NORMAL: 5,0-7,5 
- pH BAIXO: ① acidose metabólica ② alimentos ricos em proteínas – há uma maior geração de carga ácida e de amônia ③ depleção de volume 
- pH ALTO: ① acidose tubular renal, especialmente tipo 1 distal – é o impedimento da secreção de hidrogênio no túbulo distal, resultando em pH 
urinário persistentemente elevado (> 5,5) e acidose sistêmica ② dieta vegetariana ③ infecção por bactérias produtores de amônia 
→ Densidade 
- analisa-se a concentração de solutos na urina, refletindo o peso de volume de urina em comparação com o mesmo volume de água destilada 
- NORMAL: 1,003-1,035 
- URINA DILUÍDA (1,000-1,003): diabetes insipidus ou intoxicação pela água 
- ISOTENÚRIA (1,010): apresenta valor semelhante à osmolaridade do plasma; é observada nos casos de necrose tubular aguda e doença renal crônica 
- URINA CONCENTRADA (> 1,040): quase sempre significa presença de agentes osmóticos externos como contrastes 
OBS: a osmolaridade pode ser calculada multiplicando as duas últimas casas decimais do resultado da densidade por 35 (1,0ab x 35 = X mOSm/Kg) 
→ Odor 
- ODOR ALTERADO:① ingestão de alguns alimentos ② maioria das ITUs bacterianas (odor amoníaco) ③ algumas doenças raras como fenilcetonúria 
(odor de mofo) 
→ Proteinúria 
- a avaliação pode ser feita por meio de fita reagente (mais sensível à albumina e pouca sensibilidade à globulinas, cadeias leves das imunoglobulinas, 
mucoproteínas e hemoglobina), proteinúria de 24 horas e razão proteína creatinina 
- PROTEINÚRIA FISIOLÓGICA: ① adulto não excede 150mg/24 horas ② criança: < 140mg/m2 
- o resultado pode ser de 0 à 3+ ou 4+ e o limite de detecção é de 250-300 mg/L 
→ Glicose 
 NORMAL: ausência de glicose 
- praticamente toda glicose que é filtrada no glomérulo é reabsorvida no TCP 
- o limiar renal (limite superior ao qual o nível de glicemia plasmática supera a capacidade de reabsorção tubular) é de 160-180 mg/dL 
- as fitas reagentes detectam quando o valor de glicosúria ultrapassa 50 mg/dL do limiar renal, logo a fita reagente detecta quando a glicemia plasmática 
se encontra em torno de 210 mg/dL 
- ainda, há situações em que há glicosúria sem hiperglicemia, a qual acontece quando há uma perda de função tubular, como é vista na Síndrome de 
Fanconi 
→ Corpos Cetônicos 
- NORMAL: ausentes 
- QUANDO PRESENTES: cetoacidose diabética, jejum, quadro de vômitos ou exercícios extenuantes 
→ Hemoglobina 
- NORMAL: ausentes 
- QUANDO PRESENTES: significa uma marcada hematúria, a qual pode acontecer por uma lise de eritrócitos 
- pode ocorrer um falso positivo devido liberação de mioglobina em casos de rabdomiólise 
→ Bilirrubinas e Urobilinogênio 
- normalmente estão ausentes 
- esse tipo de detecção perdeu seu valor clínico na detecção de doenças hepáticas por conta do advento de testes séricos de função hepática 
- quando há a presença desses elementos na urina, se fala a favor de doenças hepáticas e doenças hemolíticas 
 
Rafael Venâncio de Souza 
 
→ Nitritos 
- NORMAL: ausente 
- a presença de nitritos ocorre pela presença de bactérias no trato urinário que convertem nitratos a nitritos, como Escherichia coli, Klebsiella, 
Enterobacter, Proteus mirabilis, Pseudomonas 
→ Esterase Leucocitária 
- enzima liberada a partir da degeneração de neutrófilos, podendo sinalizar a presença de leucocitúria, o que refere processos infecciosos no trato urinário 
→ Piócitos (Leucócitos) 
- NORMAL: 5-10 piócitos por campo ou até 10.000/mL 
- o aumento do número de piócitos pode significar processo infeccioso ou inflamatório em curso 
- os piócitos podem ser do tipo: ① neutrófilos ② eosinófilos – necessitam de coloração específica ③ linfócitos – necessitam de coloração específica 
④ macrófagos – na síndrome nefrótica, os macrófagos podem englobar gotículas de gordura presentes na urina, o que é observado na microscopia 
→ Hemácias 
- NORMAL: 3-10 piócitos por campo ou até 10.000/mL 
- TIPOS DE HEMÁCIAS OBSERVADOS: ① isomórficas – hemácia normal, hemácia crenada (urina hipertônica) ou hemácia em forma de esfera (urina 
hipotônica) ② dismórficas – codócitos (forma de alvo) e acantócitos 
 
 
Rafael Venâncio de Souza 
 
- a presença de hemácias dismórficas caracterizam uma hematúria de origem glomerular, porém ainda não existe um critério único de dismorfismo 
eritrocitário 
 
• HEMATÚRIA GLOMERULAR X EXTRAGLOMERULAR 
- é importante fazer essa distinção de modo a orientar a pesquisa diagnóstica para doença urológica ou nefrológica 
- por exemplo, um paciente acima de 40 anos com marcadores de hematúria extraglomerular pode ser portador de neoplasia renal ou extra-renal 
 
HEMATÚRIA 
ASPECTOS Extraglomerular Glomerular 
COR (SE MACROSCÓPICA) Vermelho ou rósea Vermelha, cor de “Coca-Cola” 
COÁGULO Pode estar presente Ausente 
PROTEINÚRIA < 500 mg/dL Pode ser > 500 mg/dL 
MORFOLOGIA DAS HEMÁCIAS Normal Dismórficas 
CILINDROS HEMÁTICOS Ausente Pode estar presente 
 
→ Células Epiteliais 
- sua presença raramente irá refletir na presença de doenças 
- TIPOS DE CÉLULAS: ① células epiteliais tubulares renais – resultado da exfoliação do epitélio tubular ② células epiteliais transicionais – resultado da 
exfoliação do uroepitélio ③ células epiteliais escamosas – são derivadas da uretra e da genitália externa 
OBS: a presença de morfologia alterada ou atipias nucleares necessitam de avaliação específica 
 
 
 
Rafael Venâncio de Souza 
 
→ Cilindros 
- os cilindros se formam na luz dos túbulos renais distais e nos ductos coletores, tendo como matriz a glicoproteína de Tamm-Horstall (também chamada 
de uromodulina) secretada pelas células do ramo ascendente espesso da alça de Henle 
- de acordo com cada elemento figurado que é agregado à essa matriz glicoproteica, haverá a formação de diversos tipos de cilindros 
SIGNIFICADO CLÍNICO DOS CILINDROS 
Hialino Indivíduo normal, doença renal (associado a proteinúria) 
Granular Doença renal, NTA 
Ceroso Doença renal com déficit funcional 
Gorduroso Doença glomerular associada a proteinúria - SN 
Hemático Hematúria glomerular 
Leucocitário NIA; PNA; GN proliferativa 
Epitelial NTA; NIA; GN proliferativa; SN 
Hemoglobina Hematúria glomerular; hemólise intravascular de qualquer causa. 
Mioglobina Rabdomiólise 
Bilirrubina Icterícia causada pelo aumento da bilirrubina direta 
Bacteriano/Fúngico Infecção renal 
Contendo cristais Indivíduo normal, Litíase renal; IRA cristalúrica 
Misto De acordo com os componentes 
NTA: necrose tubular aguda; SN: síndrome nefrótica; NIA: nefrite intersticial aguda; PNA: pielonefrite aguda; GN: 
glomerulonefrite; IRA: insuficiência renal aguda 
 
 
→ Cristais 
- pode haver presença de cristais em pessoas normais, logo a pesquisa é informativa nos pacientes com litíase renal, em alguns distúrbios metabólicos 
hereditários raros (p.ex. cistinúria e oxalose) e suspeição de nefrotoxicidade por drogas 
- os cristais podem ser do tipo: cristais comuns, cristais patológicos, cristais causados por drogas e outros cristais 
• CRISTAIS COMUNS 
- cristais de ácido úrico e uratos amorfos 
- cristais de oxalato de cálcio 
- cristais de fosfato de cálcio (bruxita) e fosfato amorfo 
- cristais de estruvita (fosfato amoníaco-magnesiano) 
• CRISTAIS PATOLÓGICOS 
- cristais de colesterol 
- cristais de cistina 
• CRISTAIS CAUSADOS POR DROGAS 
- algumas drogas podem determinar uma cristalúria em situações de overdose por drogas, desidratação e hipoalbuminemia associado a um pH urinário 
que favorece a cristalização da droga 
- EXEMPLOS: Sulfadiazina, amoxicilina, ciprofloxacino, aciclovir etc 
• OUTROS CRISTAIS 
- cristais de ácido hipúrico, carbonato de cálcio e biurato de amônio são raros e sem significado clínico 
 
 
 
 
 
Rafael Venâncio de Souza 
 
CRISTAL SIGNIFICADO CLÍNICO 
Ac. Úrico, oxalato de 
cálcio e fosfato de 
cálcio 
Pode ser transitório e nenhum significado (pode ser causado por ingestão de alguns 
alimentos ou leve desidratação). Persistência pode refletir hipercalciúria, 
hiperoxaluria ou hiperuricosúria. 
 
Estruvita 
ITU e presença microrganismos que desdobram a ureia (Ureaplasma urealyticum e 
Corynebacterium urealyticum), podendo levar a formação de grandes cálculos 
coraliformes, os quais podem causar infecções ou obstruções que levam à 
destruição do parênquima renal 
Colesterol Associam-se a quadro de marcada proteinúria 
Associado a drogas A cristalúria pode ser isolada e assintomática ou associada com hematúria, uropatia 
obstrutiva ou IRA (precipitação de cristais em túbulos renais) 
 
→ Muco 
- pode existir em condições normais ou pode estar aumentado em condições inflamatórias ou de irritação de vias urinárias 
→ Fungos, Bactérias e Protozoários 
- a presença de bactérias é um frequente achado, podendo refletir condições inadequadas de coleta e armazenamento, além de retardo na realização; 
SÓ SE DEVE PENSAR EM ITU QUANDO A URINA OBTIDA É EXAMINADA EM CONDIÇÕES ADEQUADAS E COM LEUCÓCITOS PRESENTES 
- a presença de Candida (fungo) e de Trichomonas vaginallis (protozoário flagelado) fala a favor de contaminação por secreçõesvaginais 
MODELO URINÁRIO DOENÇA RENAL 
Hematúria com cilindros hemáticos, 
hemácias dismórficas, proteinúria maciça ou 
lipidúria. 
Virtualmente diagnóstico de glomerulopatia ou vasculite. 
Cilindros epiteliais e granulares múltiplos 
com células epiteliais livres. 
Grandemente sugestivo de necrose tubular aguda em paciente com 
IRA. 
Piúria com leucócitos e cilindros granulares 
ou céreos e proteinúria leve ou ausente. 
Sugestivo de tubulopatia, doença intersticial ou obstrução do trato 
urinário. 
Hematúria e piúria com ou sem cilindros 
variados (excluindo cilindros hemáticos). 
Pode ser observado na nefrite intersticial aguda, doença glomerular, 
vasculites, obstrução e infarto renal. 
Hematúria isolada. Variável de acordo com o caso clínico. 
Piúria isolada. Usualmente infecção; piúria estéril sugere tuberculose do trato 
urinário ou doença túbulo-intersticial. 
Poucas células com poucos ou nenhum 
cilindro ou proteinúria (normal ou quase-
normal). 
Na IRA, pré-renal, obstrução do TU, hipercalcemia, rim do mieloma, 
alguns casos de NTA ou doença vascular com isquemia glomerular 
sem infarto (esclerodermia, ateroembolismo); na falência renal 
crônica, nefroesclerose, obstrução do TU, e doença tubulo- 
intersticial. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Rafael Venâncio de Souza 
 
6. Dosagem de Proteinúria 
- a proteinúria é um achado importante que pode representar um fator de risco cardiovascular e renal 
- apresenta valor diagnóstico e prognóstico renal, além de ser utilizada como rastreamento de doenças renais 
- a utilização de fitas reagentes na urina para sua detecção praticamente identifica apenas albumina 
- outros testes como o teste do Ácido Sulfossalicílico são necessários para detectar outras proteínas 
- a excreção normal de proteinúria é ≤ 150mg/24 horas (20-30mg de albumina, 10-20mg de proteínas de baixo peso molecular e 40-60mg de proteínas 
secretas nas vias urinárias) 
- a BARREIRA GLOMERULAR é essencial para que o fluido que atinge o espaço de Bowman tenha baixa concentração de proteínas 
- a REABSORÇÃO TUBULAR é essencial para que as proteínas que atravessam a barreira glomerular sofram reabsorção a nível de túbulo contorcido 
proximal 
- MECANISMOS DE FORMAÇÃO DE PROTEINÚRIA: ① aumento da filtração de albumina através da parede do capilar glomerular – a presença de 
proteinúria nesse caso significa defeito na permeabilidade glomerular ② quebra da capacidade de reabsorção tubular de proteínas filtradas – isso pode 
acontecer devido doenças intersticiais, tendo uma maior presença de proteínas de baixo peso molecular e não de macromolécula como a albumina 
③ mecanismo de overflow – é a superprodução de proteínas que excede a capacidade de reabsorção tubular 
→ Proteinúria Tubular 
- nas doenças tubulares, pode-se encontrar valores de proteinúria < 2,0g/24 horas 
- os marcadores de proteinúria são: α1-microglobulina, β2-microglobulina, proteína carreadora de retinol, dentre outros 
- a proteinúria tubular, quando é acompanhada por uma proteinúria glomerular, confere um prognóstico adverso ao paciente, indicando um dano túbulo-
intersticial avançado 
→ Proteinúria Overflow 
- a proteinúria por superprodução de imunoglobulinas de cadeia leve é vista nos quadros de mieloma múltiplo 
- apesar da quantidade grande existente de proteinúria, os testes com fitas reagentes podem se mostrar negativos 
→ Métodos Diagnósticos de Proteinúria 
- uso de fitas reagentes – detectam apenas proteinúrias maiores, em torno de 300-500mg, além de serem mais sensíveis à albumina e denotarem 
presença de lesão renal em pacientes diabéticos 
- coletas de urina em tempo cronometrado 
- dosagem em amostra de urina isolada 
- dosagem em amostra aleatória pela relação proteína/creatinina 
- análise de microalbuminúria – é a excreção de albumina entre 30-300mg/24 horas, o que equivale numa relação albumina/creatinina de 0,03-0,3g/g, a 
qual apresenta valor diagnóstico por ser marcador de lesões endoteliais 
OBS: proteinúria nefrótica significa valores de proteínas na urina ≥ 3,5g/24 horas 
• COLETAS CRONOMETRADAS 
- a urina de 24 horas é ainda considerada o padrão-ouro para a detecção de proteinúria, porém há dificuldades inerentes à coleta e ao manuseio 
laboratorial difícil de grandes volumes 
- ainda, há algumas situações de impossível coleta sem cateterização, como crianças sem controle esfincteriano 
• AMOSTRAS ISOLADAS 
- estudos buscam validar dosagem em amostras isoladas para realizar a relação proteína/creatinina 
- nesse caso, há uma maior praticidade de realização 
- deve-se coletar, quando possível, a 2ª micção matinal, apesar de poder utilizar qualquer outra micção 
• RELAÇÃO PROTEÍNA/CREATININA 
- a utilização da creatinina como fator de correção para a excreção de proteína se dá devido a sua excreção relativamente uniforme, não sofrendo qualquer alteração de 
acordo com o estado hídrico do paciente ou sua concentração urinária 
- é um método bastante simples, prático e de baixo custo, além de se contrapor aos erros de coleta da urina de 24 horas (até 35% de erro), bem como ao desconforto de sua 
coleta 
- VALOR DE REFERÊNCIA: ≤ 0,3g 
• MICROALBUMINÚRIA 
- marcador de risco cardiovascular e renal, sendo reconhecida como um marcador de lesão vascular endotelial 
- quanto maior o seu valor, maior é o risco cardiovascular do paciente 
- existem condições que podem aumentar o seu valor transitoriamente: febre, exercícios extenuantes, insuficiência cardíaca, hematúria e ITU 
- pode-se quantificar a microalbuminúria por meio de: urina de 24 horas, amostra isolada e amostra overnight (12 horas) 
 
Rafael Venâncio de Souza 
 
7. Dosagem de Creatinina Plasmática 
- a creatinina é o produto final do catabolismo muscular da fosfocreatina, bem como daquela ingerida na carne ou dos suplementos de creatina 
- assim, a creatinina é gerada proporcionalmente à massa muscular em uma taxa constante em condições fisiológicas 
- VALOR DE REFERÊNCIA: 0,6-1,3mg/dL (sua variação ocorre de acordo com o sexo, com a raça e a própria dieta do paciente) 
- por meio da creatinina sérica, consegue-se inferir sobre a TFG do paciente (quanto maior o valor de creatinina, menor será a TFG do paciente) 
- ao observar um aumento da creatinina fora da taxa de normalidade, consegue-se prever uma taxa de redução da TFG superior à 50% 
→ Fatores que Afetam os Níveis Séricos de Creatinina 
VARIANTES EFEITO MECANISMO 
Idade Diminui Redução da massa muscular 
Sexo feminino Diminui Reduzida massa muscular 
Afro-americano Aumenta Elevada massa muscular 
Dieta vegetariana Diminui Redução da taxa de geração de Cr 
Dieta rica em carnes Aumenta Aumento da taxa de geração de Cr 
Malnutridos/amputados Diminui Reduzida massa muscular, reduzida ingestão 
proteica 
Obesidade Não altera 
 
Trimetoprima/cimetidina Diminui Redução da secreção tubular de creatinina 
Cetoácidos/algumas cefalosporinas Aumentam Interferem no ensaio do picrato alcalino para 
dosagem da creatinina 
 
→ Importância como Marcador 
- DIABETES MELLITUS: nesses pacientes, o uso de creatinina para estimar a TFG por meio de equações matemáticas associadas à dosagem albuminúria 
pode auxiliar na detecção precoce de doença renal crônica 
- TRANSPLANTE RENAL: a elevação dos níveis de creatinina nos pacientes transplantados renais é um marcador de risco de perda de enxerto, bem como é 
um marcador de risco 
→ Uso de Creatinina Sérica para Estimar a Taxa de Filtração Glomerular (TFG) 
- devido às dificuldades técnicas, alto custo e baixa disponibilidade, foram criadas equações matemáticas para estimar a TFG 
- LIMITAÇÕES: pacientes amputados, ingestão de carne na dieta (baixa ou alta), pacientes com perda muscular, pacientes muito grandes ou pequenos 
→ Fórmulas para Estimar a TFG a partir da Creatinina Plasmática 
 
Rafael Venâncio de Souza 
 
→ Estadiamento da Doença Renal Crônica a partir das Fórmulas Matemáticas 
 
8. Taxa de Filtração Glomerular (TFG) 
-a TFG reflete a TFG por cada néfron multiplicada pelo nº de néfrons (cada rim apresenta, aproximadamente, 1 milhão de néfrons) 
- VARIAÇÕES: idade, sexo, tamanho corporal, atividade física, dieta, farmacoterapia e situações fisiológicas como gravidez 
- a TFG no homem jovem é 8% maior que na melhor, mesmo após ajuste para superfície corporal 
- há um declínio médio da TFG após 40 anos, em torno de 0,75mL/min/ano 
- uma redução da TFG pode resultar de: declínio no nº de néfrons ou alterações fisiológicas ou hemodinâmicas na TFG por néfron 
- a chamada hiperfiltração adaptativa diz respeito à uma adaptação frente a um dano renal com diminuição do nº de néfrons, o que faz aumentar a TFG 
dos néfrons remanescentes – isso gera um dano renal importante SEM redução da TFG 
- IMPORTÂNCIA: ① diagnóstico de doenças renais em rins nativos e transplantados ② indicação de início de terapia de substituição renal (TSR) 
③ adequação de dose de medicações ④ avaliar TFG como fator de risco de doença cardiovascular 
- a TFG não é medida diretamente, mas sim é medido o clearence urinário de um marcador de filtração 
- MARCADOR IDEAL: 100% filtrado, não reabsorvível, não secretado, concentração constante no meio interno (varia só em função da TFG), pode ser 
determinado rapidamente, não dispendioso, não sofre influência de fatores extrarrenais, não necessita de administração exógena, não varia com idade ou 
com a composição corporal 
- MARCADORES DE FILTRAÇÃO: ① exógenos – inulina, iotalameto, Cr51 – EDTA (ácido etileno-diamino-tetra acético marcado com cromo), Tc99m - DTPA 
(ácido etileno-diamino-tetra acético marcado com tecnésio) e o Iohexol ② endógenos – creatinina, ureia, cistatina C etc 
→ Clearence ou Depuração de Marcadores de Filtração 
- a TFG é medida como “clearence” urinário de um marcador de filtração ideal 
- CLEARENCE OU DEPURAÇÃO: volume de plasma clareado de um marcador numa unidade de tempo (é o quanto de uma determinada substância X, em 
uma unidade de tempo, é retirado do plasma) 
- o clearence plasmático de X é a soma das depurações das vias renal e extrarrenal 
𝑪𝒙 = 
𝑨𝒙
𝑷𝒙
 
• CLEARENCE URINÁRIO 
- é a quantidade de uma substância X excretada na urina em uma unidade de tempo 
- para esse cálculo, requer a coleta do volume urinário 
𝑪𝒙 = 
𝑼𝒙 × 𝑽
𝑷𝒙
 
 
 
 
 
Cx = expresso em volume/unidade de tempo 
Ax = quantidade de X eliminada do plasma 
Px = concentração plasmática média de X 
Ux = concentração urinária de X 
V = volume urinário em mL por minuto 
Px = concentração plasmática média de X 
Rafael Venâncio de Souza 
 
→ Principal Marcador Exógeno 
- a inulina é o polímero da frutose, de peso molecular 5000 daltons 
- é considerado o padrão-ouro para se estimar a TFG, porém é um método bastante trabalhoso, com necessidade de dosagens urinárias frequentes e 
ensaio químico difícil 
- é considerada o padrão-ouro de marcador da TFG pois ela passa pela filtração glomerular e não é reabsorvida nem secretada 
→ Principais Marcadores Endógenos 
• CREATININA 
- a creatinina é o produto final do catabolismo muscular, com peso molecular de 113 daltons 
- deriva-se do metabolismo da fosfocreatina presente nos músculos, na dieta rica em carne e no suplemento de creatina 
- sua geração é proporcional à massa muscular do indivíduo 
- apresenta fácil medição, baixo custo e ampla disponibilidade de ensaios para sua dosagem 
- a creatinina é uma molécula que é filtrada livremente, não sofre reabsorção, porém sofre secreção a nível tubular, o que pode SUPERESTIMAR A TFG 
- algumas drogas como Cimetidina e Trimetropim podem inibir a secreção tubular de creatinina 
- nos quadros de DRC, a secreção tubular de creatinina pode aumentar em 50% 
- a creatinina também está presente nas secreções intestinais, sendo degradada por bactérias ali presentes 
- quando ocorre a queda da TFG, a eliminação da creatinina pela rota extrarrenal pode estar significativamente aumentada 
- ao se fazer uso de antibióticos que levam à destruição da flora intestinal, principalmente nos paciente que já apresentam TFG reduzida, pode-se 
aumentar o nível de creatinina sérica 
- ao se fazer o cálculo de clearence utilizando a creatinina, deve-se fazer a correção pela superfície corpórea: 
 𝑪𝒄𝒓 = 
(𝑼𝒄𝒓 × 𝑽)
𝑷𝒄𝒓
 𝑪𝒄𝒓 = 
𝑼𝒄𝒓 × 𝑽
𝑷𝒄𝒓
×
𝟏,𝟕𝟑𝒎𝟐
𝑺𝒄
 
 
EXEMPLO: 
- paciente do sexo feminino, 60kg, 1,62m de altura teve os seguintes resultados para avaliação da depuração da creatinina: creatinina sérica 1,2mg/dL 
creatinina urinária 100mg/dL e volume urinário de 1,2L (paciente masculino apresenta taxa de excreção de 20-25mg/kg/dia e paciente feminina apresenta 
uma taxa de excreção de creatinina de 15-20 mg/kg/dia) 
- lembrar que o V é volume em mL por minuto, logo deve-se transformar horas em minutos (24 horas = 1440 minutos) e litros em mililitros; no caso do 
exemplo o cálculo é 1200/1440 = 0,83 
𝑪𝒄𝒓 = 
(𝑼𝒄𝒓 × 𝑽)
𝑷𝒄𝒓
=
𝟏𝟎𝟎 × 𝟎, 𝟖𝟑
𝟏, 𝟐
 = 𝟔𝟗, 𝟏𝟔𝒎𝑳/𝒎𝒊𝒏 
𝑪𝒄𝒓 = 
𝑼𝒄𝒓 × 𝑽
𝑷𝒄𝒓
×
𝟏, 𝟕𝟑𝒎𝟑
𝑺𝒄
 = 𝟔𝟗, 𝟏𝟔 × 
𝟏, 𝟕𝟑
𝟏, 𝟔𝟐
 = 𝟕𝟑, 𝟖𝟓 𝒎𝑳/𝒎𝒊𝒏/𝟏, 𝟕𝟑𝒎𝟐 
• UREIA 
- é o produto final do catabolismo proteico, com peso molecular de 60 daltons 
- alguns fatores estão associados ao seu aumento de nível: hemorragia no TGI, hiperalimentação e estados catabólicos (infecções, uso de 
corticosteroides e quimioterapia) 
- a ureia é livremente filtrada, é reabsorvida a nível dos túbulos contorcidos proximais e distais e não é secretada, o que pode SUBESTIMAR A TFG 
- o processo de reabsorção de ureia no TCP e no TCD está bastante aumentado nas situações de HIPOVOLEMIA (a reabsorção da ureia está relacionada de 
forma inversa com o fluxo renal) 
- assim, pelo fato da ureia subestimar e da creatinina superestimar a TFG, em pacientes com TFG < 20mL/min/1,73m2 deve-se fazer a média da depuração 
de ureia e de creatinina para se aproximar da TFG medida 
• CISTATINA C 
- é uma proteína com 122 aminoácidos e peso molecular de 13 kilodaltons e é produzida por todas as células nucleadas em um ritmo constante 
- é facilmente filtrada e é 99% reabsorvida e catabolizada no TCP 
- os níveis séricos não sofrem influência do sexo, do estado nutricional, da raça e da idade 
- a cistatina C se apresenta como um marcador promissor para o futuro 
 
 
Pcr = creatinina plasmática 
Ucr = creatinina urinária 
V = volume urinário em mL por minuto 
Sc = superfície corporal do paciente 
Rafael Venâncio de Souza 
 
9. Biópsia Renal 
- é um exame descrito no início da década de 1950 que permite avaliação histológica renal a fim de se fazer o diagnóstico etiológico da doença em 95% 
dos casos 
- apresenta taxa de complicações com risco de morte < 0,1% 
→ Indicações de Biópsia Renal 
 
→ Contraindicações para Biópsia Renal 
 
→ Complicações da Biópsia Renal 
 
 
Rafael Venâncio de Souza 
 
→ Critérios para Realização de Biópsia Renal

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