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Universidade Federal do Piauí Centro de Ciências da Natureza Departamento de Física Notas de Aulas Indutância Prof. Alexandre Maciel Atualizada em 07 de Abril de 2021 Referências Básicas: • Resnick, R. Halliday, D. e Krane, K.S., Física, vol. III, 5ª ed., Livros Técnicos e Científicos, Rio de Janeiro (1994). • Nussenzveig, H. M., Curso de Física Básica, vol. III, 2ª ed., Edgard Blucher, São Paulo (1996). Sumário Parte 1 ................................................................................................................................................. 3 Revisão 1: Lei de Biot-Savart ........................................................................................................... 3 Revisão 2: Fluxo Magnético ............................................................................................................ 3 Revisão 3: Lei da Indução de Faraday ............................................................................................. 4 Revisão 4: Lei da Indução de Faraday ............................................................................................. 4 Parte 2 ................................................................................................................................................. 6 Indutância Mútua ............................................................................................................................ 6 Autoindutância ................................................................................................................................ 7 Autoindutância de um solenoide .................................................................................................... 7 Capacitor, resistor e indutor ........................................................................................................... 8 Parte 3 ................................................................................................................................................. 9 A indutância de um solenoide ........................................................................................................ 9 A indutância de um toróide ............................................................................................................ 9 Indutores com materiais magnéticos ........................................................................................... 10 Parte 4 ............................................................................................................................................... 11 Circuito RL ..................................................................................................................................... 11 Energia Armazenada no Campo Magnético de um Indutor ......................................................... 12 Parte 5 ............................................................................................................................................... 14 Oscilações eletromagnéticas ........................................................................................................ 14 Oscilador LC ................................................................................................................................... 14 Oscilador Amortecido RLC ............................................................................................................ 15 Parte 6 ............................................................................................................................................... 21 Oscilador Amortecido Forçado ..................................................................................................... 21 Ressonância e fator de qualidade ................................................................................................. 23 Parte 1 Revisão 1: Lei de Biot-Savart A lei de Biot-Savart nos permite calcular o campo magnético total em uma dada posição do espaço gerado por condutor com geometria conhecida pela qual passa uma corrente. Esta lei parte do princípio de que é possível calcular o elemento de campo magnético 𝑑𝐵⃗⃗⃗⃗ ⃗ gerado por um elemento de comprimento 𝑑𝑙⃗⃗ ⃗ que conduz uma corrente 𝑖 em um ponto do espaço. A posição deste ponto em relação ao elemento de comprimento é representada pelo vetor 𝑟 . Dada a natureza da geração de campos magnéticos pelo movimento de cargas, é de se esperar que o campo 𝑑𝐵⃗⃗⃗⃗ ⃗ seja um vetor proporcional ao produto externo entre o elemento de corrente 𝑑𝑖⃗⃗ ⃗ = 𝑖𝑑𝑙⃗⃗ ⃗ e o vetor unitário na direção da posição relativa �̂� = 𝑟 𝑟 . Também, como em outras grandezas que conservam o fluxo total sobre uma área esférica, é de se esperar que a intensidade de 𝑑𝐵⃗⃗⃗⃗ ⃗ seja inversamente proporcional ao quadrado da distância entre o elemento de corrente e o ponto do espaço onde está sendo calculado o campo. Dessa forma, 𝑑𝐵⃗⃗⃗⃗ ⃗ = ( 𝜇0 4𝜋 ) (𝑑𝑖⃗⃗ ⃗ × �̂�) ( 1 𝑟2 ) = 𝜇0𝑖 4𝜋 𝑑𝑙⃗⃗ ⃗ × 𝑟 𝑟3 , (Eq. 1.1) onde o termo 𝜇0 4𝜋 é uma constante de proporcionalidade no SI e 𝜇0 = 4𝜋. 10 −7𝑇.𝑚/𝐴. O campo total na posição de interesse pode ser então obtido integrando todas as contribuições 𝑑𝐵⃗⃗⃗⃗ ⃗ de todos os elementos que compõem o fio. Assim, �⃗� = ∫ 𝑑𝐵⃗⃗⃗⃗ ⃗ 𝑓𝑖𝑜 = 𝜇0𝑖 4𝜋 ∫ 𝑑𝑙⃗⃗ ⃗ × 𝑟 𝑟3𝑓𝑖𝑜 . (Eq. 1.2) Perceba que essa integral depende fortemente da geometria do fio, tornando-se impraticável a solução analítica do campo na maioria dos casos em que não existe uma simetria que favoreça o cálculo da integral. No entanto, nos casos em que a geometria permite, essa equação permite o cálculo exato do campo magnético em função da distância e orientação do ponto no espaço (Ex.: fios ou seções de fios retilíneos e espiras ou arcos de círculos.) Revisão 2: Fluxo Magnético O fluxo magnético (𝚽𝑩) é uma grandeza escalar que mede a quantidade de campo magnético que passa por uma certa área. No caso mais simples, onde o campo magnético �⃗� é constante no espaço (tanto em módulo quanto em direção) e a área A é uma seção finita de um plano perpendicular à direção do campo magnético. O vetor 𝐴 é definido como um vetor cujo módulo é igual à área total da seção finita aponta na mesma direção e sentido de �⃗� . Neste caso, o fluxo magnético pode ser calculado como Φ𝐵 = |�⃗� |. |𝐴 |. A unidade de medida do fluxo é weber (Wb) tal que 1 𝑊𝑏 = 1 𝑇.𝑚2. No caso em que a área plana não é perpendicular à direção de �⃗� , é necessário levar em conta apenas a componente do campo que atravessa a área. Isso porque a componente tangente ao plano nunca atravessa a área e, portanto, não contribui para o fluxo total. A componente do campo que atravessa a área é a projeção de �⃗� na direção de 𝐴 , que pode ser encontrada usando o termo |�⃗� |𝑐𝑜𝑠𝜃 onde 𝜃 é ângulo formado pelas direções do campo magnético e a perpendicular ao plano. Assim, temos que Φ𝐵 = |�⃗� |𝑐𝑜𝑠𝜃|𝐴 | = �⃗� ⋅ 𝐴 (Eq. 1.3) Por fim, vamos analisar o caso geral, em que a área não é necessariamente plana e o campo magnético varia no espaço. Aqui vamos denotar como S a superfície gerada por um circuito fechado. Nesse caso, a solução para o cálculo de Φ𝐵 total está na integração de elementos de fluxo 𝑑Φ𝐵 que passam por elementos de área 𝑑𝐴 plano representado pelo vetor 𝑑𝐴⃗⃗⃗⃗ ⃗. Esse vetor 𝑑𝐴⃗⃗⃗⃗ ⃗ tem módulo igual à área do elemento 𝑑𝐴 e sua direção e sentido é determinada pela direção perpendicular à superfície do elemento de área. Considerando que o elemento de área é pequeno o suficiente tal que as variações de campo magnético em sua extensão sejam desprezíveis podemos usar a equação 1.3 para calcular o elemento de fluxo 𝑑Φ𝐵 = �⃗� ⋅ 𝑑𝐴⃗⃗⃗⃗ ⃗. Assim, o fluxo total pode ser encontrado a partir da integração Φ𝐵 = ∫ 𝑑Φ𝐵 𝑆 = ∫ �⃗� ⋅ 𝑑𝐴⃗⃗⃗⃗ ⃗ 𝑆 (Eq. 1.4)Revisão 3: Lei da Indução de Faraday A Lei da Indução de Faraday diz que a intensidade da fem (força eletromotriz) induzida em um circuito é igual à taxa com que o fluxo magnético que o atravessa varia com o tempo. Para um circuito fechado, tipo uma espira, temos que a intensidade da fem |ℰ| é |ℰ| = | 𝑑Φ𝐵 𝑑𝑡 | (Eq. 1.5) Se o circuito for composto por N espiras idênticas, temos uma bobina e a intensidade da fem será |ℰ| = 𝑁 | 𝑑Φ𝐵 𝑑𝑡 | (Eq. 1.6) Revisão 4: Lei de Lenz A Lei de Lenz diz que o fluxo do campo magnético gerado pela corrente induzida opõe-se à variação no fluxo que causa a corrente induzida. Para entender essa lei vamos analisar um caso simples de uma espira circular por onde passa uma corrente i. Considere a sequência de fatos observáveis: 1. A corrente i na espira vai gerar um campo magnético. Vamos nos concentrar na área formada pela superfície plana (disco) delimitada pelo circuito da espira. Por disco temos um fluxo total Φ𝐵. 2. Olhando para o centro do disco e usando a regra da mão direita podemos identificar a direção e sentido do campo magnético �⃗� . 3. O campo magnético varia com a posição dentro do disco, mas se a corrente i for constante, o valor do campo magnético em cada posição será constante no tempo. Portanto, a taxa de variação do fluxo de campo magnético será nula e segundo a equação 1.5 a fem induzida será nula também. 4. Se a corrente i variar no tempo, o valor do campo magnético vai variar e por sua vez, mantendo a área do disco constante teremos que 𝑑Φ𝐵 𝑑𝑡 será diferente de zero. A lei da indução de Faraday diz que nesse caso será estabelecida uma fem ℰ segundo a equação 1.5. 5. A fem induzida ℰ vai gerar no circuito uma corrente induzida 𝑖𝑖𝑛𝑑 que por sua vez gera também um campo magnético induzido �⃗� 𝑖𝑛𝑑. Perceba que até agora, não foi estabelecido o sinal da fem induzida ℰ e, portanto, a direção da corrente e a orientação do campo magnético induzido �⃗� 𝑖𝑛𝑑. Isso não é definido pela Lei de Indução de Faraday (observe que a eq. 1.5 e 1.6 são escritas em termos de módulos). Entretanto, a Lei de Lenz nos permite avaliar o sinal da fem induzida ℰ. Vamos considerar que a corrente original i tem sentido anti-horário e que esse será por definição nosso sentido positivo. No caso em que a corrente aumenta temos 𝑑𝑖 𝑑𝑡 > 0 e, portanto, 𝑑Φ𝐵 𝑑𝑡 > 0. A Lei de Lenz diz que �⃗� 𝑖𝑛𝑑 será gerado tal que o fluxo Φ𝐵𝑖𝑛𝑑 seja contrário à variação do fluxo original 𝑑Φ𝐵 𝑑𝑡 . Se 𝑑Φ𝐵 𝑑𝑡 > 0 então �⃗� 𝑖𝑛𝑑 apontará no sentido contrário ao de �⃗� para diminuir o fluxo magnético total na espira, ou seja, se opondo ao crescimento do fluxo magnético. O sentido de �⃗� 𝑖𝑛𝑑, apontando para baixo de acordo com o desenho, indica que devido à regra da mão direita, a corrente induzida 𝑖𝑖𝑛𝑑 deve estar no sentido horário e que a fem induzida ℰ que o gerou deve ir no sentido oposto ao sentido positivo determinado pela corrente original. Portanto, se 𝑑Φ𝐵 𝑑𝑡 > 0 temos que ℰ < 0. É possível mostrar por argumentos semelhantes que se se 𝑑Φ𝐵 𝑑𝑡 < 0 teremos ℰ > 0. Por fim, podemos escrever a conclusão de que a Lei de Indução de Faraday e a Lei de Lenz, juntas, afirmam que ℰ = − 𝑑Φ𝐵𝑡𝑜𝑡𝑎𝑙 𝑑𝑡 (Eq. 1.7) onde Φ𝐵𝑡𝑜𝑡𝑎𝑙 é o fluxo de campo magnético total no caso de uma ou mais espiras. Parte 2 Indutância Mútua O conceito de indutância mútua se refere ao fenômeno de geração de fem induzida ℰ em um circuito quando o campo magnético que compõe o fluxo variável em questão é gerado por outro circuito. Considere dois circuitos fechados 1 e 2. No circuito 1 temos uma corrente 𝑖1 que gera um campo magnético �⃗� 1. Esse campo �⃗� 1 permeia o espaço e pode ser calculado usando a Lei de Biot-Savart. �⃗� 1 = 𝜇0𝑖1 4𝜋 ∮ 𝑑𝑙⃗⃗ ⃗ × 𝑟 𝑟3𝑐1 . (Eq. 2.1) A passagem �⃗� 1 pela área formada pelo circuito 2 gera um fluxo Φ𝐵2 = ∫ �⃗� 1 ⋅ 𝑑𝐴⃗⃗⃗⃗ ⃗Á𝑟𝑒𝑎 2 . Utilizando a eq. 2.1, temos que Φ𝐵2 = ∫ ( 𝜇0𝑖1 4𝜋 ∮ 𝑑𝑙⃗⃗ ⃗ × 𝑟 𝑟3𝑐1 ) ⋅ 𝑑𝐴⃗⃗⃗⃗ ⃗ Á𝑟𝑒𝑎 2 . Φ𝐵2 = [ 𝜇0 4𝜋 ] [∫ ∮ 1 𝑟3𝑐1 (𝑑𝑙⃗⃗ ⃗ × 𝑟 ⋅ 𝑑𝐴⃗⃗⃗⃗ ⃗) Á𝑟𝑒𝑎 2 ] [𝑖1]. (Eq. 2.2) A eq. 2.2 apresenta Φ𝐵2 como o produto de três termos (separadas por colchetes). O primeiro termo é uma constante que muda de acordo com o sistema de medidas utilizado (SI nesse caso). O segundo termo, dado por uma integral de superfície e uma integral de contorno. Observe que essas integrais se dão para cada combinação de elemento de comprimento no circuito 1 e cada elemento de área no circuito 2. Portanto, todo esse termo será calculado usando a posição relativa entre os dois circuitos. Desde que os circuitos não mudem de posição relativa e nem sem respectivos formatos, o valor da integral será constante. Ou seja, o segundo termo é uma constante geométrica. O terceiro termo é a corrente que flui no circuito 1. Considerando a situação em que a geometria dos circuitos não varia, podemos combinar os dois primeiros termos em uma constante denotada por M. 𝑀 = 𝜇0 4𝜋 ∫ ∮ 1 𝑟3𝑐1 (𝑑𝑙⃗⃗ ⃗ × 𝑟 ⋅ 𝑑𝐴⃗⃗⃗⃗ ⃗) Á𝑟𝑒𝑎 2 . (Eq. 2.3) tal que, Φ𝐵2 = 𝑀𝑖1. (Eq. 2.4) Segundo a eq. 2.4, uma variação temporal de 𝑖1 gera uma variação temporal de Φ𝐵2 e, portanto, segundo a eq. 1.7, teremos uma fem induzida ℰ2 no circuito 2. ℰ2 = − 𝑑Φ𝐵2 𝑑𝑡 = −𝑀 𝑑𝑖1 𝑑𝑡 . (Eq. 2.5) A grandeza M da equação 2.5 é chamada de Indutância Mútua e representa a proporcionalidade entre uma taxa de variação da corrente no circuito 1 e a fem induzida no circuito 2. Usando a Lei de Lenz podemos concluir que 𝑀 > 0. A unidade de medida no SI da Indutância Mútua é o henry (H) onde 1 𝐻 = 1𝑉. 𝑠/𝐴. A indutância mútua caracteriza a capacidade que um circuito tem de gerar uma fem induzida em outro circuito. É uma grandeza que depende exclusivamente da geometria dos dois circuitos. Aqui, avaliamos o efeito do circuito 1 no circuito 2 e a indutância mútua deveria ser indicada como 𝑀12. O caso oposto resultará em ℰ1 = −𝑀21 𝑑𝑖2 𝑑𝑡 . Fica como exercício avançado mostrar que 𝑀12 = 𝑀21. Autoindutância A autoindutância se refere ao fenômeno de geração de fem induzida ℰ pela variação de corrente no mesmo circuito (diferentemente do que ocorre na indutância mútua). Considere o circuito C que delimita uma área A. Se pelo circuito C passa uma corrente i que gera um campo magnético no espaço �⃗� então teremos um fluxo Φ𝐵 pela área A. Uma variação temporal da corrente vai gerar uma fem induzida. De maneira bastante parecida com o demonstrado na seção anterior podemos concluir que ℰ = −𝐿 𝑑𝑖 𝑑𝑡 (Eq. 2.6) onde 𝐿 = 𝜇0 4𝜋 ∫ ∮ 1 𝑟3C (𝑑𝑙⃗⃗ ⃗ × 𝑟 ⋅ 𝑑𝐴⃗⃗⃗⃗ ⃗) 𝐴 (Eq. 2.7) é a autoindutância do circuito C. A interpretação da autoindutância é semelhante à da indutância mútua com a diferença de que a autoindutância se dá pela influência de um circuito nele mesmo. As eqs. 2.3 e 2.7 são as definições formais da indutância mútua e autoindutância, respectivamente. Entretanto, o cálculo de indutância raramente é feito usando estas equações pois existem métodos mais simples e diretos de se obter essas grandezas. Mostrarei um exemplo disso a seguir. Autoindutância de um solenoide Considere um solenoide com N espiras idênticas conduzindo uma corrente i. É possível demonstrar que no caso de um solenoide onde a extensão total seja muito maior que o raio das espiras o campo magnético �⃗� gerado dentro do solenoide é constante e nulo fora do solenoide. O fluxo magnético total é Φ𝐵𝑡𝑜𝑡𝑎𝑙 = 𝑁Φ𝐵, (Eq. 2.8) onde Φ𝐵 é o fluxo em uma espira. Usando a eq. 1.7 e a eq. 2.6 podemos concluir que ℰ = − 𝑑Φ𝐵𝑡𝑜𝑡𝑎𝑙 𝑑𝑡 = −𝐿 𝑑𝑖 𝑑𝑡 . Agora, usando a eq. 2.8 podemos escrever: 𝑑 𝑑𝑡 (𝑁Φ𝐵 − 𝐿𝑖) = 0, ou seja, 𝑁Φ𝐵 − 𝐿𝑖 = cte, (Eq. 2.9) onde cte é uma constante. Isolando o termo Φ𝐵 naeq. 2.9, temos Φ𝐵 = 1 𝑁 (𝐿𝑖 + 𝑐𝑡𝑒) (Eq. 2.10) Considerando que, na ausência de campos magnéticos externos, o campo dentro de cada espira é nulo se a corrente for nula, temos que Φ𝐵(𝑖 = 0) = 0. Isso implica que nossa constante da eq. 2.10 deve ser igual a zero. Dessa forma, podemos concluir que 𝐿 = 𝑁Φ𝐵 𝑖 (Eq. 2.11) Isso demonstra que a autoindutância pode ser calculada sem a necessidade da eq. 2.7. Continuaremos esse exemplo em breve. Capacitor, resistor e indutor Vale ressaltar a comparação entre um capacitor, um resistor e um indutor. Em todos os casos, considere o potencial elétrico no terminal b maior que o potencial elétrico no terminal a. Elemento Diagrama Equações Energia Capacitor 𝑉𝑏 − 𝑉𝑎 = 𝑞 𝐶 𝑉𝑏 − 𝑉𝑎 = ( 1 𝐶 ) . 𝑞 Armazenada no campo elétrico Resistor 𝑉𝑏 − 𝑉𝑎 = 𝑅𝑖 𝑉𝑏 − 𝑉𝑎 = (𝑅). 𝑑𝑞 𝑑𝑡 Dissipada por Efeito Joule Indutor 𝑉𝑏 − 𝑉𝑎 = −𝐿 𝑑𝑖 𝑑𝑡 𝑉𝑏 − 𝑉𝑎 = (−𝐿). 𝑑2𝑞 𝑑𝑡2 (Vb − Va não é devido à voltagem externa e sim devido à fem induzida) Armazenada no campo magnético E daí? E agora? ❖ Uma variação constante de corrente produz uma corrente induzida constante. Por outro lado, uma variação não constante de corrente gera uma corrente induzida não constante. Onde isso nos leva? Por exemplo, imagine (ou calcule) o que acontece com uma corrente que varia de forma senoidal. Pense na corrente induzida variante como a geradora de uma nova corrente induzida. E assim por diante. Por que não levamos em consideração isso? Em que situação isso deve ser relevante? Parte 3 A indutância de um solenoide Vamos continuar a análise de um solenoide. Considere que N espiras idênticas são arranjadas de forma bem compacta tal que o comprimento total 𝑙 do solenoide é muito maior que o raio 𝑅 da espira circular. Isso nos dá uma densidade de espiras 𝑛 = 𝑁 𝑙 . Além disso, como mencionado anteriormente, o campo magnético no interior do solenoide é constante. Mais especificamente, a magnitude do campo magnético dentro do solenoide é |�⃗� | = 𝜇0𝑛𝑖. O fluxo magnético em uma espira pode ser calculado. Φ𝐵 = |�⃗� |𝐴 = (𝜇0𝑛𝑖)(𝜋𝑅 2) (Eq. 3.1) Combinando as eqs. 2.11 e 3.1 e usando a densidade de espiras podemos ver que 𝐿 = (𝑛𝑙)(𝜇0𝑛𝑖)(𝜋𝑅 2) 𝑖 Organizando e dividindo os dois lados pelo comprimento do solenoide temos 𝐿 𝑙 = 𝜋𝜇0𝑛 2𝑅2. (Eq. 3.2) Essa é a autoindutância por unidade de comprimento de um solenoide. Perceba que somente constantes e fatores geométricos definem essa grandeza. Isso é esperado e está de acordo com o indicado pela eq. 2.7. Além disso, podemos observar outro aspecto importante: autoindutância por unidade de comprimento de um solenoide é proporcional ao quadrado da densidade de espiras. Isso ocorre pois o fenômeno de autoindutância se dá através de dois fenômenos proporcionais à densidade de espiras. i) Quanto maior a densidade de espiras, maior é o campo magnético no interior do solenoide fazendo com que as variações de fluxo magnéticos sejam maiores. ii) Quanto maior a densidade de espiras maior será a fem induzida. A indutância de um toróide Um toróide circular com seção retangular e N espiras tem as seguintes dimensões de interesse: o raio interno e externo são, respectivamente a e b e a altura da seção retangular é h. A corrente que passa pelo toróide é i e as espiras são enroladas tal que o campo magnético no interior do toróide está orientado como na figura ao lado. A magnitude do campo magnético no interior do toróide depende da distância r em relação ao eixo de simetria. |�⃗� | = 𝜇0𝑖𝑁 2𝜋𝑟 𝑝𝑎𝑟𝑎 𝑎 ≤ 𝑟 ≤ 𝑏. (Eq. 3.3) O fluxo magnético pode ser obtido por integração do campo em elementos de área na seção transversal do toróide. Considere a figura ao lado onde mostramos uma seção do toróide com um elemento de área 𝑑𝐴 = ℎ𝑑𝑟. Como o campo magnético atravessa os elementos de área de forma perpendicular, temos que Φ𝐵 = ∫ |�⃗� | ⋅ 𝑑𝐴 𝑠𝑒çã𝑜 = ∫ 𝜇0𝑖𝑁 2𝜋𝑟 ⋅ ℎ𝑑𝑟 𝑏 𝑎 = 𝜇0𝑖𝑁ℎ 2𝜋 𝑙𝑛 ( 𝑏 𝑎 ) (Eq. 3.4) Combinando as eqs. 2.11 e 3.4 temos que 𝐿 = 𝜇0𝑁 2ℎ 2𝜋 𝑙𝑛 ( 𝑏 𝑎 ). (Eq. 3.5) Assim como em um solenoide, a autoindutância de um toróide também depende apenas de constantes físicas e fatores geométricos, incluindo a dependência quadrática no número de espiras. Indutores com materiais magnéticos Até agora só discutimos elementos indutores com interior vazio. Vamos considerar o interior de um indutor, tipo um solenoide ou um toróide, composto de um material magnético com permeabilidade magnética 𝜅𝑚 (𝜅𝑚 para o vácuo é exatamente 1 e para o ar aproximadamente 1). Na presença de um campo magnético externo constante �⃗� 0 o campo magnético �⃗� dentro da região onde reside o material magnético pode ser escrito como �⃗� = 𝜅𝑚 �⃗� 0. e por sua vez, devido à natureza linear da relação entre a taxa de variação do fluxo magnético e campo magnético, é possível demonstrar que a indutância do indutor também seja multiplicada por 𝜅𝑚. Assim, 𝐿 = 𝜅𝑚 𝐿0, (Eq. 3.6) onde 𝐿0 é a indutância do indutor na ausência do material magnético. Os materiais magnéticos apresentam valores de 𝜅𝑚 > 1. Ou seja, a indutância é amplificada na presença de materiais magnéticos. Para materiais ferromagnéticos como a ferrita, amplamente usados como núcleos de dispositivos indutores, podem apresentar valores de 𝜅𝑚 que variam de 40 a 20.000, gerando amplificações de até quatro ordens de grandeza na indutância. E daí? E agora? ❖ A unidade de medida da indutância é o henry (H) onde 1 H = 1 V.s/A. Como uma grandeza com eqs. 3.2 e 3.5, que apresentam dependências puramente geométricas, pode gerar tal unidade de medida? Onde está o vínculo entre geometria e eletromagnetismo? ❖ Faça uma pesquisa sobre onde o fenômeno de indutância é usado no dia a dia. Onde estão os indutores na sua vida eletrônica? Parte 4 Circuito RL Vamos analisar a aplicação de um elemento indutivo em um circuito do tipo RL. Esse circuito é composto de um resistor com resistência R, um indutor com autoindutância L, uma bateria com voltagem ℰ. Além disso, o circuito conta com uma chave S que pode conectar um dos terminais do resistor ao terminal a (incluindo a bateria em série com o resistor e o indutor) ou b (retirando a bateria do circuito). A análise se dará através do estudo da corrente que flui no circuito em função do tempo. Para isso, um ponto de partida é avaliar os valores de diferença de potencial nos terminais de cada elemento e aplicar a Lei das Malhas para a voltagem no circuito. ∑(𝑓. 𝑒.𝑚. ) =∑(𝑑. 𝑑. 𝑝. ), (Eq. 4.1) Primeiramente, vamos estabelecer que em 𝑡 = 0 a corrente no circuito 𝑖(𝑡 = 0) = 0. Nesse momento a chave é colocada na posição a estabelecendo um circuito RL em série com bateria. Existem dois elementos capaz de produzir 𝑓𝑒𝑚 nesse circuito: bateria (ℰ) e o indutor (ℰ𝐿). E existe um elemento capaz de gerar 𝑑𝑑𝑝: o resistor (ΔV𝑅). Dessa forma, usando a eq. 4.1, ℰ + ℰ𝐿 = ΔV𝑅 , e depois a eq. 2.6 e a Lei de Ohm, temos que ℰ − 𝐿 𝑑𝑖 𝑑𝑡 = 𝑅𝑖 𝐿 𝑑𝑖 𝑑𝑡 + 𝑅𝑖 − ℰ = 0 (Eq. 4.2) A eq. 4.2 é uma equação diferencial de primeira ordem não homogênea do tipo 𝑎�̇� + 𝑏𝑥 + 𝑐 = 0 (Eq. 4.3) Para encontrar a solução geral da eq. 4.3 precisamos encontrar a solução da equação homogênea (onde 𝑐 = 0) e a solução particular. A solução geral será uma combinação linear das duas soluções mencionadas. A solução para a eq. homogênea 𝑎�̇� + 𝑏𝑥 = 0 é 𝑥(𝑡) = 𝐴𝑒− 𝑏 𝑎 𝑡, (Eq. 4.4) sendo 𝐴 uma constante a ser determinada. A solução particular é 𝑥(𝑡) = − 𝑐 𝑏 (Eq. 4.5) Comparando as eqs. 4.2 e 4.3, podemos fazer a correspondência entre os parâmetros das equações: 𝑎 = 𝐿, 𝑏 = 𝑅 e 𝑐 = −ℰ. Dessa forma, a solução geral para a eq. 4.2 pode ser encontrada comouma combinação linear das eqs. 4.4 e 4.5. Segue a solução: 𝑖(𝑡) = 𝐴𝑒 − 𝑡 𝜏𝐿 + ℰ 𝑅 onde 𝜏𝐿 = 𝐿 𝑅 é chamado de constante de tempo indutiva. Usando a condição inicial para a corrente em 𝑡 = 0 podemos encontrar o valor que 𝐴 = − ℰ 𝑅 . 𝑖(𝑡) = ℰ 𝑅 (1 − 𝑒 − 𝑡 𝜏𝐿) (Eq. 4.6) No limite 𝑡 ⟶ ∞ a corrente no circuito tende a ser constante com valor de ℰ 𝑅⁄ . A corrente nesse limite é exatamente igual ao esperado caso não existisse um indutor no circuito. Isso ocorre devido ao fato de que o indutor só afetará o circuito a medida em que existir uma variação de corrente no indutor. Com o passar do tempo a taxa de variação da corrente tende a zero e, portanto, o valor de ℰ𝐿 tende a zero. Vamos considerar que após um certo tempo 𝑡 > 0 a chave S é mudada da posição a para a posição b. Com isso a bateria deixa de fornecer uma 𝑓𝑒𝑚 para o circuito e teremos apenas o resistor e o indutor no circuito. Se a mudança ocorrer de forma instantânea, tal que, a corrente 𝑖0 no instante antes da mudança é exatamente a corrente inicial do circuito com a chave na posição b, então podemos usar argumentos semelhantes aos anteriores para determinar a corrente como uma função do tempo para o novo circuito. Por simplicidade, vamos reiniciar o tempo tal que no instante da troca da chave temos 𝑡 > 0 e 𝑖(𝑡 = 0) = 𝑖0. Assim, partindo da eq. 4.1 e reconhecendo que teremos apenas a 𝑓𝑒𝑚 produzida pelo indutor e a 𝑑𝑑𝑝 nos terminais do resistor, temos ℰ𝐿 = ΔV𝑅, 𝐿 𝑑𝑖 𝑑𝑡 + 𝑅𝑖 = 0 (Eq. 4.7) Diferentemente da eq. 4.2, a eq. 4,7 é uma equação diferencial de primeira ordem homogênea e que já resolvemos anteriormente. A solução é do tipo da eq. 4.4. Aplicando a condição inicial discutida, temos que 𝑖(𝑡) = 𝑖0𝑒 − 𝑡 𝜏𝐿 (Eq. 4.8) No limite 𝑡 ⟶ ∞ a corrente no circuito tende a zero. Perceba que tanto na eq. 4.6 quanto na eq. 4.8 o papel de 𝜏𝐿 é de controlar a velocidade com que a corrente varia. Quanto maior o valor da constante de tempo indutiva, mais lentamente a corrente varia. Veja que 𝜏𝐿 é diretamente proporcional ao valor de L e inversamente proporcional ao valor de R. A dependência dessa constante de tempo com a indutância fica clara quando lembramos que a indutância vem da reação à variação de fluxo de campo magnético que é, em geral, causando pela variação de corrente no circuito. A reação à variação de corrente imposta pela indutância desempenha um papel similar ao da resistência inercial que a massa causa em um sistema mecânico. Energia Armazenada no Campo Magnético de um Indutor Uma das maneiras de se obter uma equação para a energia armazenada no campo magnético de um indutor é através da análise das potências em cada elemento de um circuito que contêm um indutor. Vamos analisar, por exemplo, o circuito RL discutido anteriormente. Considere um intervalo infinitesimal de tempo 𝑑𝑡. Na bateria, durante esse intervalo, teremos um infinitesimal de carga 𝑑𝑞 se movimento contra o campo elétrico interno na bateria. Isso acontece devido a um trabalho realizado pela bateria 𝑑𝑊𝑏𝑎𝑡 = ℰ𝑑𝑞. Portanto a potência instantânea na bateria é 𝑃𝑏𝑎𝑡 = 𝑑𝑊𝑏𝑎𝑡 𝑑𝑡 = ℰ 𝑑𝑞 𝑑𝑡 = ℰ𝑖. No resistor, a potência dissipada é 𝑃𝑅 = 𝑅𝑖 2. Multiplicando a corrente 𝑖 em todos os termos da eq. 4.2, obtemos 𝐿𝑖 𝑑𝑖 𝑑𝑡 + 𝑅𝑖2 − ℰi = 0. (Eq. 4.9) Um olhar atento à eq. 4.9 reconhecerá que o segundo e o terceiro termos são, respectivamente, 𝑃𝑅 e 𝑃𝑏𝑎𝑡. No limite para 𝑡 ⟶ ∞, sabemos que a corrente tende a ser constante nesse circuito. Então 𝑑𝑖 𝑑𝑡 ⟶ 0 e o primeiro termo tende a zero. Isso significa que no regime estacionário, toda a potência gerada pela bateria e colocada no circuito é dissipada no resistor. No indutor, o campo magnético é constante devido à corrente ser constante. Por outro lado, quando a corrente está aumentando, o campo no indutor varia e, portanto, a energia acumulada no campo magnético também varia. A variação da energia acumulada no indutor se dá com uma potência descrita pelo primeiro termo da eq. 4.9, tal que 𝑃𝐿 = 𝐿𝑖 𝑑𝑖 𝑑𝑡 . Sabendo que a potência no indutor é a taxa de variação da energia no indutor, temos também que 𝑃𝐿 = 𝑑𝑈𝐵 𝑑𝑡 . Usando essas duas igualdades para 𝑃𝐿 podemos escrever que 𝑑𝑈𝐵 = 𝐿𝑖𝑑𝑖. Considerando que inicialmente a corrente no circuito é nula e, portanto, o campo magnético no indutor também é nulo, podemos encontrar a energia armazenada no campo magnético usando as integrais ∫ 𝑑𝑈𝐵 𝑈𝐵(𝑖) 0 = 𝐿∫ 𝑖′𝑑𝑖′ 𝑖 0 . 𝑈𝐵(𝑖) = 𝐿𝑖2 2 . (Eq. 4.10) Vamos usar essa equação para calcular a densidade de energia do campo magnético. Para isso vamos usar um exemplo de indutor bem simples como um solenoide descrito na seção 3. A densidade de energia é simplesmente 𝑢𝐵 = 𝑈𝐵 𝑣𝑜𝑙𝑢𝑚𝑒 . Para uma seção de tamanho 𝑙 do solenoide o volume será 𝜋𝑅2𝑙. Assim, usando as eqs. 3.2 e 4.10, temos 𝑢𝐵 = 𝐿𝑖2 2 𝜋𝑅2𝑙 = 𝜇0𝑛 2𝑖2 2 Lembrando que |�⃗� | = 𝜇0𝑛𝑖, podemos escrever a densidade de energia do campo magnético como 𝑢𝐵 = |�⃗� | 2 2𝜇0 . (Eq. 4.11) É interessante fazer um paralelo com a densidade de energia do campo elétrico 𝑢𝐸 = 𝜖0|𝐸| 2 2 . Da mesma forma que essa equação para 𝑢𝐸 é um resultado válido para qualquer situação em que exista campo elétrico, o resultado da eq. 4.11 é válido para qualquer situação em que exista campo magnético, embora, aqui, só foi demonstrado para o interior de um solenoide. E daí? E agora? ❖ Qual é a propriedade de um circuito RL que faz com que a corrente tenha uma dependência exponencial com o tempo? ❖ Onde a noção de constante de tempo indutiva pode ser usada? ❖ Um circuito real com uma bateria e um resistor, pode ser considerado como um circuito RL? Parte 5 Oscilações eletromagnéticas Vamos considerar o circuito ao lado onde em um instante de tempo 𝑡 < 0 a chave S é conectada ao terminal a e o capacitor C começa a carregar, tal que a carga no capacitor é 𝑞0 em 𝑡 = 0. Em 𝑡 = 0 a chave S muda para o terminal b e o circuito RLC fica conectado em série sem a participação da bateria. Usando a eq. 4.1 e sabendo que ΔV𝐶 = 𝑞 𝐶 ℰ𝐿 = ΔV𝐶 + ΔV𝑅 𝑞 𝐶 + 𝑅𝑖 + 𝐿 𝑑𝑖 𝑑𝑡 = 0 Considerando que 𝑖 = 𝑑𝑞 𝑑𝑡 ⁄ , temos a EDO de 2ª ordem homogênea 𝐿�̈� + 𝑅�̇� + 1 𝐶 𝑞 = 0. (Eq. 5.1) As condições iniciais para esse caso são 𝑞(0) = 𝑞0 𝑖(0) = �̇�(0) = 0 Vamos analisar duas situações diferentes: i) quando 𝑅 = 0 o circuito fica livre de resistência elétrica e é conhecido como oscilador LC. ii) Quando 𝑅 > 0 o circuito é conhecido como oscilador amortecido RLC. Oscilador LC Vamos considerar o caso sem resistência à passagem de corrente de condução (caso idealizado pois desconsidera todas as possíveis resistências nos fios condutores e assume que o capacitor e indutor são ideais). Neste caso, 𝑅 = 0 e a eq. 5.1 torna-se 𝐿�̈� + 1 𝐶 𝑞 = 0. (Eq. 5.2) Esta equação é a mesma equação de um oscilador harmônico simples. Portando sua solução geral deve ser a mesma. Aqui temos que a carga é a variável em função do tempo que precisa ser encontrada. A solução para a eq. 5.2 é 𝑞(𝑡) = 𝐴 cos(𝜔0𝑡 + 𝜙), (Eq. 5.3) onde A e 𝜙 são constantes que dependem das condições iniciais e representam a amplitude da oscilação e a fase. A amplitude A é o valor máximo de carga no capacitor enquanto a fase 𝜙 está ligada ao momento em que o circuito é ligado (Chave S vai para terminal b). A grandeza 𝜔0 pode ser obtida substituindo eq. 5.3 na eq. 5.2. Para isso precisamos calcular as derivadas de 𝑞(𝑡). �̇�(𝑡) = −𝜔0𝐴 sin(𝜔0𝑡 + 𝜙) �̈�(𝑡) = −𝜔0 2𝐴 cos(𝜔0𝑡 + 𝜙) Assim, 𝐿(−𝜔0 2𝐴cos(𝜔0𝑡 + 𝜙)) + 1 𝐶 𝐴 cos(𝜔0𝑡 + 𝜙) = 0 o que leva a 𝜔0 = √ 1 𝐿𝐶 A grandeza 𝜔0 é conhecida como frequência natural de oscilação ou frequência de oscilação não-amortecida.Aplicando as condições iniciais temos que 𝑞(0) = 𝑞0 = 𝐴𝑐𝑜𝑠(𝜙) (Eq. 5.4) �̇�(0) = 0 = −𝜔0𝐴 sin(𝜙) (Eq. 5.5) A eq. 5.5 leva a 𝜙 = 0 pois o termo 𝜔0𝐴 é não nulo para a solução não-trivial. Com o valor de 𝜙 sendo substituído na eq. 5.4 temos que 𝐴 = 𝑞0. Portanto a solução geral pode ser escrita de forma determinada como 𝑞(𝑡) = 𝑞0 cos(𝜔0𝑡) (Eq. 5.6) 𝑖(𝑡) = −𝑖𝑚𝑎𝑥 sen(𝜔0𝑡) (Eq. 5.7) onde 𝑖𝑚𝑎𝑥 = 𝜔0𝑞0. As eqs. 5.6 e 5.7 mostram o comportamento harmônico da carga e da corrente em um oscilador LC com frequência de oscilação 𝜔0 determinada pelos valores de L e C. Vamos relembrar que 𝑞(𝑡) é a carga acumulada em uma das placas do capacitor e 𝑖(𝑡) é a corrente que flui no circuito. A energia armazenada em um capacitor é dada por 𝑈𝐶(𝑞) = 𝑞2 2𝐶 e a energia armazenada em um indutor é dada pela eq. 4.10. Na figura ao lado vemos os gráficos da carga, corrente e das energias armazenadas no capacitor e no indutor para um período de oscilação da carga. Observe que durante o período de oscilação da carga a energia, inicialmente toda acumulada no capacitor, é transferida através da corrente entre o capacitor e o indutor. Use as equações carga, corrente e das energias armazenadas no capacitor e no indutor para demonstrar que a soma das energias é conservada. Oscilador Amortecido RLC Vamos agora considerar o caso em que a resistência R na eq. 5.1 tem um valor não nulo. Dessa forma, é de se esperar que a energia no sistema deixe de ser conservada devido à dissipação de energia no resistor por Efeito Joule. Assim, temos a combinação do efeito oscilante promovido pelo conjunto LC e um amortecimento devido à presença da resistência. Uma proposta de solução para a eq. 5.1 é 𝑞(𝑡) = 𝑒𝜆𝑡 . (Eq. 5.8) A aplicação da eq. 5.8 na eq. 5.1 produz a equação auxiliar 𝐿𝜆2 + 𝑅𝜆 + 1 𝐶 = 0, (Eq. 5.9) onde as soluções para 𝜆 são as raízes dessa equação quadrática (𝜆+ e 𝜆−) e podem ser encontradas usando 𝜆± = −𝛾 ± √𝛾 2 −𝜔0 2 (Eq. 5.10) e a solução geral é a combinação linear de duas funções do tipo da eq. 5.8 usando os dois valores de 𝜆. Na equação 5.10 a grandeza 𝛾 = 𝑅 2𝐿 é o coeficiente de amortecimento e 𝜔0 = √ 1 𝐿𝐶 é a frequência natural de oscilação. Existem 3 diferentes casos de interesse que dependem da relação entre 𝛾 e 𝜔0. { 𝐶𝑎𝑠𝑜 1: 𝛾 > 𝜔0 → 𝜆+ ≠ 𝜆− (∈ ℝ), 𝐶𝑎𝑠𝑜 2: 𝛾 = 𝜔0 → 𝜆+ = 𝜆− (∈ ℝ), 𝐶𝑎𝑠𝑜 3: 𝛾 < 𝜔0 → 𝜆+ ≠ 𝜆− (∈ ℂ) Vamos estudar os diferentes casos. Caso 1: Situação Superamortecida 𝜸 > 𝝎𝟎 → 𝝀+ ≠ 𝝀− (∈ ℝ) A solução geral para esse caso é 𝑞(𝑡) = 𝐴𝑒𝜆+𝑡 + 𝐵𝑒𝜆−𝑡 (Eq. 5.11) onde 𝜆± foram definidos na eq. 5.10 e as constantes A e B dependem das condições iniciais. Após aplicarmos as condições iniciais na eq. 5.11, os valores de A e B podem ser encontrados tal que { 𝐴 = ( 𝜆− 𝜆− − 𝜆+ ) 𝑞0 𝐵 = − 𝜆+ 𝜆− 𝐴 (Eqs. 5.12) Vamos reunir alguns detalhes importantes a respeito dessas grandezas (Use as eqs. 5.10 e 5.12 para se convencer!): ❖ Os valores de 𝜆+ e 𝜆− são reais e negativos ❖ |𝜆+| < |𝜆−| ❖ 𝐴 > 0 ❖ 𝐵 < 0 e |𝐵| < 𝐴 Isso nos permite concluir que a solução geral 𝑞(𝑡) é a soma de duas funções exponenciais decrescentes com o segundo termo (𝐵𝑒𝜆−𝑡) tendo amplitude negativa, com módulo de amplitude menor e decrescendo mais rápido do que o primeiro termo (𝐴𝑒𝜆+𝑡). Veja a figura ao lado. A solução geral normalizada 𝑞(𝑡)/𝑞0 em função do tempo decresce de forma monotônica, partindo do valor inicial normalizado e tendendo a zero a medida que o tempo passa. Ou seja, a carga no capacitor sai de 𝑞0 a zero de forma contínua e sem oscilar. Por isso chamamos essa situação de superamortecida. A corrente de descarga do capacitor pode ser encontrada derivando a carga na eq. 5.12 em função do tempo. 𝑖(𝑡) = 𝐴𝜆+𝑒 𝜆+𝑡 + 𝐵𝜆−𝑒 𝜆−𝑡 (Eq. 5.13) Vejamos como a relação entre 𝛾 e 𝜔0 influenciam o comportamento da descarga do capacitor. Quanto maior for o valor do coeficiente de amortecimento 𝛾 mais lentamente o capacitor descarrega gerando uma corrente menor. O sinal negativo na corrente vem do fato de que por definição a corrente de carga do capacitor foi considerada como positiva e fluía dentro do capacitor no sentido contrário à corrente de descarga. Podemos integrar a corrente durante toda a descarga e mostrar que a carga total 𝑞𝑇 que passa em qualquer parte do circuito é igual (em módulo) a 𝑞0. 𝑞𝑇 = ∫ 𝑖(𝑡)𝑑𝑡 ∞ 0 = 𝐴𝜆+∫ 𝑒 𝜆+𝑡𝑑𝑡 ∞ 0 + 𝐵𝜆−∫ 𝑒 𝜆−𝑡𝑑𝑡 ∞ 0 = −𝐴− 𝐵 = −𝑞0 Vamos estudar dois limites a qual esse circuito pode ser levado. Para isso, por questão de simplicidade, vamos definir a grandeza 𝒻 = (1 − ( 𝜔0 𝛾 ) 2 ) − 1 2 , tal que podemos escrever as eqs. 5.12 da seguinte maneira { 𝐴 = 1 2 (1 + 𝒻)𝑞0 𝐵 = 1 2 (1 − 𝒻)𝑞0 Embora 𝒻 não tenha nenhum significado físico importante nesse momento, ele é um parâmetro fácil de usar nos limites de interesse e deixa as equações para A e B bem simplificadas. Considere dois limites: • Circuito com 𝑅 ≫ √ 𝐿 𝐶 : { 𝛾 → ∞ 𝒻 → 1 𝐴 → 𝑞0 𝐵 → 0 Nesse limite, o circuito possui uma resistência à passagem de corrente muito alta comparado com os elementos que geram oscilações eletromagnéticas. A carga no capacitor decresce de forma mono-exponencial (𝐴𝑒𝜆+𝑡). No entanto, 𝜆+ tende a zero, levando a um decrescimento lento da corrente. Isso faz sentido para você? (Dica: deveria! Se não, imagine que um dos fios ligando o circuito fosse cortado em t=0, fazendo com que a resistência à passagem de corrente fosse ‘infinita’. O que aconteceria com a carga no capacitor? ... Entendeu agora?) 0 1 2 3 4 5 i(t) = = 0 q(t) t (1/ 0 ) = • Circuito com 𝑅 → 2√ 𝐿 𝐶 : { 𝛾 → 𝜔0 𝒻 ≫ 1 𝐵 → −𝐴 Nesse limite, as amplitudes (com sinais contrários) das exponenciais tendem a se igualar em módulo. Os valores de 𝜆+ e 𝜆− também tendem a se igualar. Isso significa que as duas exponenciais tendem a serem iguais em módulo com sinais contrários levando a anulação total da carga para todo o intervalo de tempo. Mas isso vai contra nossa condição inicial (𝑞(0) = 𝑞0 > 0) e não deve ser alcançado. Esse caso vai no limite de validade das nossas equações pois aqui estamos interessados em 𝛾 > 𝜔0. Percebeu que forçar esse limite é forçar a combinação linear de duas soluções LINEARMENTE DEPENDENTES como solução geral de uma EDO de 2ª Ordem? Nem só de segmentos de reta orientados vive a álgebra linear! Teremos equações adequadas para esse limite na próxima seção. Caso 2: Situação Criticamente Amortecida 𝜸 = 𝝎𝟎 → 𝝀+ = 𝝀− (∈ ℝ) A solução geral para esse caso é 𝑞(𝑡) = (𝐷 + 𝐸𝑡)𝑒𝜆𝑡 com 𝜆 = −𝛾. O termo 𝐸𝑡𝑒𝜆𝑡 é a nossa tentativa de gerar duas soluções linearmente independentes e evitar o problema descrito no segundo limite da seção anterior. Após aplicarmos as condições iniciais, os valores de D e E podem ser encontrados tal que { 𝐷 = 𝑞0 𝐸 = −𝜆𝐷 . Assim temos que 𝑞(𝑡) = 𝑞0(1 − 𝜆𝑡)𝑒 𝜆𝑡 (Eq. 5.14) 𝑖(𝑡) = −𝑞0𝜆 2𝑡𝑒𝜆𝑡 (Eq. 5.15) As eqs. 5.14 e 5.15 se comportam exatamente como as eqs. 5.11 e 5.13, respectivamente, no limite 𝛾 → 𝜔0. Veja a figura ao lado onde temos uma curva q(t) usando a eq. 5.14 em verde e uma curva para q(t) usando a eq. 5.11 em vermelho. Não há muito o que discutir sobre esse caso além do fato de que esse caso representa a passagem do circuito do regime superamortecido para o regime subamortecido que será discutido em seguida. Se tempo não for um problema, você poderia tentar se convencer de que a carga total que flui no circuito continua a mesma do caso anterior. Caso 3: Oscilação Subamortecida 𝜸 < 𝝎𝟎 → 𝝀+ ≠ 𝝀− (∈ ℂ) 0 1 2 3 4 5 q(t) t (1/ 0 ) = = Neste caso, os valores de 𝜆+ e 𝜆− são complexos e conjugados (Não confie em mim. Use a eq. 5.10 para se convencer disso!).Considere 𝜆± = −𝛾 ± 𝑗𝜔 ′ 𝑜𝑛𝑑𝑒 𝑗 = √−1 𝑒 𝜔′ = √𝜔0 2 − 𝛾2. A solução geral para a carga no capacitor é 𝑞(𝑡) = 𝐻𝑒−𝛾𝑡 cos(𝜔′𝑡 − 𝜑), (Eq. 5.16) onde H é amplitude e 𝜔′ é a frequência de oscilação amortecida. A corrente pode ser encontrada usando a eq. 5.16. 𝑖(𝑡) = −𝐻𝑒−𝛾𝑡[𝛾 cos(𝜔′𝑡 − 𝜑) + 𝜔′ sen(𝜔′𝑡 − 𝜑)] Podemos simplificar essa equação usando as identidades trigonométricas seno e cosseno da soma. 𝑖(𝑡) = −𝐻𝜔0𝑒 −𝛾𝑡 sen(𝜔′𝑡), (Eq. 5.17) Aplicando as condições iniciais temos que 𝐻 = 𝜔0 𝜔′ 𝑞0 𝑒 𝜑 = arccos( 𝜔′ 𝜔0 ). As soluções para a carga e corrente no regime de oscilação subamortecida são compostas por parte de natureza oscilatória com amplitude decrescente no tempo. Veja na figura abaixo (esquerda) que para valores de 𝛾 < 𝜔0, a carga decresce em função do tempo inicialmente (assim como nos outros dois casos!). No entanto, eventualmente, a carga chega a zero e inverte de sinal e começa a aumentar em módulo. Esse comportamento se repete no sentido contrário, porém com menor amplitude. 0 1 2 3 4 5 = i(t) = = 0 q(t) t (1/ 0 ) = 0 5 10 15 20 = = = 0 q(t) t (1/ 0 ) Na figura acima (direita) temos o mesmo gráfico com uma maior duração de tempo. Podemos ver claramente a natureza oscilante da carga com amplitude decrescente. Para comparar, temos em azul o caso de oscilação criticamente amortecida, que separa os regimes subamortecido e superamortecido. Resumo dos 3 casos Para encerrar a comparação entre as três situações possíveis para um circuito RLC temos abaixo um resumo das eqs. 5.11, 5.14 e 5.16 arranjadas em um formato que é possível fatorar o termo 𝑞0𝑒 −𝛾𝑡. 𝑞(𝑡) = 𝑞0𝑒 −𝛾𝑡 × { 1 2 [(1 + 𝒻)𝑒 𝛾𝑡 𝒻 + (1 − 𝒻)𝑒 − 𝛾𝑡 𝒻 ] , (𝛾 > 𝜔0) (1 + 𝛾𝑡) , (𝛾 = 𝜔0) 𝜔0 𝜔′ cos(𝜔′𝑡 − 𝜑) , (𝛾 < 𝜔0) (Eq. 5.18.a) (Eq. 5.18.b) (Eq. 5.18.c) As eqs. 5.18 deixam evidente que independente da situação, um circuito RLC submetido às condições iniciais discutidas terá um efeito de descarregamento total do capacitor a longo prazo (𝑡 → ∞) garantido pelo termo fatorado 𝑒−𝛾𝑡. Isso significa que a carga e a corrente vão tender a zero com o passar do tempo dando um caráter transiente aos efeitos das condições iniciais. Por fim, é possível mostrar, como é de se esperar de um sistema físico com grandezas que podem variar continuamente, que as eqs. 5.18.a e 5.18.c no limite 𝛾 → 𝜔0 tendem a se igualar à eq. 5.18.b. Essa demonstração não é complicada e fica como diversão para você. (Dica: funções trigonométricas hiperbólicas são suas amigas) E daí? E agora? ❖ Qual a utilidade de um circuito elétrico RLC? ❖ É possível mostrar que em algum limite físico um circuito LC é uma situação ideal de um circuito RLC? ❖ E quanto a comparação entre um circuito RLC e um RL? Ou mesmo um RC? Parte 6 Oscilador Amortecido Forçado Vamos considerar o circuito ao lado onde temos um circuito RLC em série com uma fonte de voltagem ℰ. A fonte de voltagem produz uma fem que pode variar no tempo. Assim, de forma similar ao que foi feito anteriormente, a lei das malhas produz a seguinte equação. 𝐿�̈� + 𝑅�̇� + 1 𝐶 𝑞 = ℰ(𝑡). (Eq. 6.1) A eq. 6.1 continua sendo uma EDO de 2ª ordem. Entretanto, a presença de ℰ(𝑡) faz com que essa equação seja considerada uma EDO de 2ª ordem não-homogênea. A solução geral para a eq. 6.1 é composta por duas soluções: 𝑞(𝑡) = 𝑞𝑡(𝑡) + 𝑞𝑒(𝑡). Nesse contexto, 𝑞𝑡(𝑡) é conhecida como solução transiente pois sabemos que ela tende a zero independentemente do caso. Como sabemos disso? Por definição, 𝑞𝑡(𝑡) é a solução da versão homogênea da eq. 6.1, (que é, não por acaso, a eq. 5.1). E já resolvemos esse problema na Parte 5. Se não lembra, volta lá. Então não precisamos resolver novamente. A solução transiente só depende das condições iniciais e dos parâmetros R, L e C e todas as soluções para 𝑞𝑡(𝑡) tendem a zero. Por outro lado, 𝑞𝑒(𝑡) é conhecida como solução estacionária pois ela permanecerá existente pelo tempo que ℰ(𝑡) se fizer presente. Existem alguns casos de interesse para ℰ(𝑡): • uma dependência em potências de 𝑡 (polinomial) • exponenciais reais de 𝑡 (crescentes ou decrescentes) • termos harmônicos (senos e cossenos). Vamos considerar aqui somente um dos casos: ℰ(𝑡) = ℰ𝑚cos (𝜔 ′′𝑡) Essa forma simples (com apenas o cosseno) representa qualquer combinação harmônica com uma única frequência desde que possamos escolher quando iniciamos a contagem do tempo, ou seja, quando teremos 𝑡 = 0. Aqui, ℰ𝑚 é a amplitude da voltagem e 𝜔 ′′ é a frequência de oscilação da fonte que forçará o circuito. Essas duas grandezas são arbitrárias, ou seja, só dependem do tipo de fonte e não precisam estar relacionadas com ou valores de R, L e C. Como consequência disso ℰ𝑚 e 𝜔 ′′ podem assumir quaisquer valores possíveis (dentro das limitações físicas da fonte). No caso mais simples, a solução estacionária 𝑞𝑒(𝑡) deve conter as seguintes características: • Deve ser uma solução harmônica; • Deve ter a mesma frequência (𝜔′′) da fonte que força o circuito; • Deve ter uma amplitude (𝑀) e fase (𝜃) que dependem dos parâmetros R, L e C. Pense a respeito dessas características e veja se você consegue entender exatamente como eu cheguei a elas. Não avance sem entender isso! A não ser que leve mais de 8 horas para entender. Nesse caso pode seguir e me pergunta depois. A solução é 𝑞𝑒(𝑡) = 𝑀𝑐𝑜𝑠(𝜔 ′′𝑡 − 𝜃) (Eq. 6.2) tal que, 𝑀 = ℰ𝑚 𝐺 (Eq. 6.3) 𝜃 = 𝑎𝑟𝑐𝑐𝑜𝑠 (𝐿 ∙ 𝜔0 2 −𝜔′′ 2 𝐺 ) (Eq. 6.4) 𝐺 = 𝐿√(𝜔0 2 −𝜔′′2) 2 + 4𝛾2𝜔′′2 (Eq. 6.5) Perceba que as eqs. 6.2 a 6.5 dependem apenas de ℰ𝑚, 𝜔 ′′, 𝜔0 e 𝛾. Ou seja, a solução estacionária só depende das características do circuito e não dependem das condições iniciais. As condições iniciais só influenciam a solução transiente e seus efeitos tendem a deixar de influenciar com o passar do tempo. Discutiremos isso depois. Vamos considerar alguns limites: • 𝜔′′ → 0: { 𝐺 → 1 𝐶 𝑀 → 𝐶ℰ𝑚 𝜃 → 0 Esse limite é conhecido como limite DC ou limite estático. Nesse limite o circuito se comporta como se a voltagem da fonte ℰ(𝑡) fosse constante e a carga no capacitor torna-se 𝑞 = 𝐶ℰ𝑚 . A fase entre a carga e a fonte tende a zero pois a tensão da fonte varia com frequência tão baixa que circuito tem tempo de acompanhar as mudanças impostas pelas variações de voltagem no capacitor e corrente no indutor. • 𝜔′′ → ∞: { 𝐺 → ∞ 𝑐𝑜𝑚𝑜 𝐿𝜔′′ 2 𝑀 → 0 𝑐𝑜𝑚𝑜 ℰ𝑚 𝐿𝜔′′2 ⁄ 𝜃 → 𝜋 Esse limite é conhecido como limite de altas frequências. Nesse limite a voltagem da fonte ℰ(𝑡) oscila tão rapidamente que o circuito não tem tempo para acompanhar as mudanças. O tempo de carga no capacitor é muito maior que o período de oscilação da fonte e a taxa de variação de corrente é muito alta tal que os efeitos indutivos impedem a passagem de corrente. Por isso a amplitude 𝑀 de carga acumulada no capacitor tende a zero. A solução para 𝑞𝑒(𝑡) é apenas uma solução harmônica de mesma frequência e com uma diferença de fase em relação a fonte que força o circuito. Nada especial na solução. Já a solução geral 𝑞(𝑡) = 𝑞𝑡(𝑡) + 𝑞𝑒(𝑡) vai depender em qual dos casos (superamortercido, criticamente amortecido ou subamortecido) os parâmetros R, L e C impõem ao circuito. Usando os resultados da Parte 5, incluindo as condições iniciais, podemos escrever as soluções em todos os casos: 𝑞(𝑡) = 𝑀𝑐𝑜𝑠(𝜔′′𝑡 − 𝜃) + 𝑞0𝑒 −𝛾𝑡 × { 1 2 [(1 + 𝒻)𝑒 𝛾𝑡 𝒻 + (1 − 𝒻)𝑒 − 𝛾𝑡 𝒻 ] , (𝛾 > 𝜔0) (1 + 𝛾𝑡) , (𝛾 = 𝜔0) 𝜔0 𝜔′ cos(𝜔′𝑡 − 𝜑) , (𝛾 < 𝜔0) (Eq. 6.6.a) (Eq. 6.6.b)(Eq. 6.6.c) Na figura abaixo temos o comportamento da carga em função do tempo para dois casos, superamortecido (verde) e subamortecido (roxo). Perceba a influência do efeito transiente devido às condições iniciais. Perceba como após alguns ciclos as respostas oscilantes da carga tornam-se harmônicas. A diferença de fase entre os dois sinais é devido aos diferentes valores de 𝛾. É importante conhecer esse fenômeno e os efeitos da solução transiente nas funções para a carga e corrente em função do tempo. Em alguns casos, a solução transiente pode ser considerável, embora decrescente em importância com o passar do tempo. Em eletrônica e engenharia elétrica, os efeitos de transientes são importantes para o entendimento e desenvolvimento de medidas de proteção contra ‘picos’ de energia causados pelas ‘respostas transientes’. Ressonância e fator de qualidade A eq. 6.2 representa a carga no capacitor C em função do tempo no regime estacionário. Vamos encontrar a corrente no circuito. Usando a derivada da carga temos 𝑖𝑒(𝑡) = −𝑖𝑒 𝑚𝑎𝑥𝑠𝑒𝑛(𝜔 ′′𝑡 − 𝜃) (Eq. 6.6) onde 𝑖𝑒 𝑚𝑎𝑥 = 𝜔 ′′𝑀 é a amplitude da corrente no regime estacionário. Perceba, olhando para as eqs. 6.3 e 6.5, que 𝑀 é uma função de 𝜔′′. Com isso em mente, é fácil demonstrar que 𝑖𝑒 𝑚𝑎𝑥 tem um máximo em 𝜔 ′′ = 𝜔0. Quando a frequência da fonte externa 𝜔 ′′ se iguala à frequência natural de oscilação 𝜔0 do circuito RLC, temos o fenômeno de ressonância. Ou seja, o fenômeno de ressonância ocorre quando a corrente gerada pelo circuito tem sua máxima amplitude. O gráfico da amplitude da corrente em função da frequência 𝜔′′ é dado ao lado. Nesse gráfico podemos observar que temos apenas um máximo onde ocorre a ressonância e que a amplitude da corrente obedece aos limites de baixas e altas frequências discutidos anteriormente e aplicados para a definição de 𝑖𝑒 𝑚𝑎𝑥. Considerando que em 𝜔′′ = 𝜔0 temos 𝐺 = 2𝐿𝛾𝜔′′ , o valor da amplitude da corrente na ressonância é 𝑖𝑒 𝑚𝑎𝑥 = ℰ𝑚 2𝐿𝛾 = ℰ𝑚 𝑅 Isso indica que o a magnitude do fenômeno de ressonância é inversamente proporcional à resistência do circuito RLC. De fato, na ressonância a amplitude da corrente obedece a lei de Ohm como se o indutor e o capacitor não participassem do circuito. Por fim, podemos falar sobre o fator de qualidade 𝑄 do circuito RLC. O fator de qualidade pode ser definido como 𝑄 = 2𝜋 𝐸𝑚á𝑥 𝐸𝑑𝑖𝑠𝑠/𝑐𝑖𝑐𝑙𝑜 (Eq. 6.7) Nessa definição temos 𝐸𝑚á𝑥 como a quantidade máxima de energia armazenada no circuito e 𝐸𝑑𝑖𝑠𝑠/𝑐𝑖𝑐𝑙𝑜 é o valor máximo de energia dissipada no circuito dentro de um ciclo de oscilação na condição de ressonância. O valor de 𝐸𝑚á𝑥 pode ser encontrado avaliando a energia máxima no indutor ou no capacitor. No indutor podemos obter diretamente esse valor tal que 𝐸𝑚á𝑥 = 1 2 𝐿𝑖𝑒 𝑚𝑎𝑥 2. Precisamos obter o valor de 𝐸𝑑𝑖𝑠𝑠/𝑐𝑖𝑐𝑙𝑜. A dissipação de energia ocorrerá no resistor por Efeito Joule. Sendo assim, a potência instantânea de energia dissipada é 𝑃𝑑𝑖𝑠𝑠(𝑡) = 𝑑𝐸𝑑𝑖𝑠𝑠 𝑑𝑡 = 𝑅𝑖𝑒(𝑡) 2 Portanto, na ressonância, ou seja, quando 𝜔′′ = 𝜔0, temos que 𝐸𝑑𝑖𝑠𝑠/𝑐𝑖𝑐𝑙𝑜 = 𝑅𝑖𝑒 𝑚𝑎𝑥 2∫ 𝑠𝑒𝑛2(𝜔0𝑡 − 𝜃)𝑑𝑡 2𝜋 𝜔0 0 = 𝜋𝑅𝑖𝑒 𝑚𝑎𝑥 2 𝜔0 Usando valores de 𝐸𝑚á𝑥 e 𝐸𝑑𝑖𝑠𝑠/𝑐𝑖𝑐𝑙𝑜 podemos obter o fator de qualidade 𝑄 = 𝐿𝜔0 𝑅 Como era de se esperar, o fator de qualidade é inversamente proporcional ao valor da resistência do circuito. E daí? E agora? ❖ O que você acha que aconteceria se tivéssemos mais de uma fonte de voltagem externa com frequências diferentes forçando o circuito RLC? ❖ Pense sobre o que está acontecendo na ressonância para que a amplitude da corrente ser independente dos valores de L e C.
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