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SERVIÇO PÚBLICO FEDERAL UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DA AMAZÔNIA – UFRA PLANO DE FORMAÇÃO NACIONAL DE PROFESSORES - PARFOR LICENCIATURA PLENA EM PEDAGOGIA MARIA LOURENÇA PEREIRA NUNES TATIANE DE PAULA NUNES PANTOJA ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO NO 3° ANO DO ENSINO FUND AMENTAL: TEORIAS E PRÁTICAS GURUPÁ 2015 MARIA LOURENÇA PEREIRA NUNES TATIANE DE PAULA NUNES PANTOJA ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO NO 3º ANO DO ENSINO FUND AMENTAL: TEORIAS E PRÁTICAS Trabalho de Conclusão de Curso, apresentado como requisito parcial para obtenção do grau de Licenciatura em Pedagogia pela Universidade Federal Rural da Amazônia no PARFOR. Orientadora: Professora Maria Flaviana do Couto da Silva. GURUPÁ 2015 MARIA LOURENÇA PEREIRA NUNES TATIANE DE PAULA NUNES PANTOJA ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO NO 3º ANO DO ENSINO FUND AMENTAL: TEORIAS E PÁTICAS Trabalho de Conclusão de Curso, apresentado como requisito parcial para obtenção do grau de Licenciatura em Pedagogia pela Universidade Rural da Amazônia no PARFOR. Orientadora: Professora Maria Flaviana do Couto da Silva. BANCA EXAMINADORA: 1. Maria Flaviana do Couto da Silva Orientador Prof./UFRA 2. Jandira de Nazaré Bastos Coimbra Membro Prof./UFRA 3. Eduardo Lucena Xavier Membro Prof./UFRA Julgado em: 29/10/2015. Conceito: Excelente. GURUPÁ 2015 Dedicamos esta pesquisa aos educadores e amigos que passaram pela nossa trajetória acadêmica, que abraçaram nossas ideias quando muitos eram reticentes, que nos promoveram e depositaram a confiança nesses alunos sonhadores. A vocês nossa sincera gratidão e carinho. AGRADECIMENTOS A Deus o supremo todo poderoso por nos dar força coragem e humildade para seguir nesta jornada e não desistir, porque tudo posso naquele que me fortalece. Obrigado Deus querido. A família, a grande instituição formada por mim, a qual eu amo muito, agradeço os momentos de alegria e tristeza de forma agradável, compartilhada, vivenciada e compreensiva. Aos amigos pelo companheirismo, nos momentos que rimos e choramos, abraçando a mesma causa e de chegar ao final com a certeza da vitória. A nossa querida orientadora Maria Flaviana do Couto da Silva que muito se empenhou para o bom andamento deste trabalho, nos incentivando e por acreditar que somos capazes, nossos sinceros agradecimentos. “O verdadeiro conhecimento ocorre com o amadurecimento profissional da informação”. Ângela Santos RESUMO Esta pesquisa tem como objetivo analisar a prática do professor mediante o seu trabalho de alfabetização e letramento no 3º ano do Ensino Fundamental. Para melhor compreender essa temática, tivemos diálogos com os autores: Magda Soares, Emília Ferreiro, Ana Teberosky, Freire e outros que foram necessários no decorrer dessa pesquisa. Adotamos como procedimento metodológico, a pesquisa bibliográfica e de campo. Adotamos o método descritivo e interpretativo a partir de aplicações de questionários para os sujeitos envolvidos na pesquisa, alunos, profesores que estão atuando no 3º ano do Ensino Fundamental da Escola Municipal Raimundo Ribeiro Dias, lócus da Pesquisa. Verificamos que os professores demonstraram preocupação em desenvolver uma metodologia que se aproxime da realidade dos alunos, valorizando o seu cotidiano principalmente sua cultura, buscando significados concretos para sua aprendizagem. Concluímos que é possível atingir a qualidade da educação nas classes de alfabetização, com práticas educacionais que utilizem diferentes métodos, que proporcione tanto o desenvolvimento da alfabetização, quanto do letramento de cada sujeito, no qual ele possa contribuir para a transformação da sociedade. Palavras-Chave: Alfabetização. Letramento. Práticas Pedagógicas ABSTRACT This research aims to analyze the practice of the teacher through his literacy work and literacy in the 3rd year of elementary school. To better understand this issue, we had dialogues with authors: Magda Soares, Emilia Ferreiro, Ana Teberosky, Feire and others who took the course of this research. We adopted as a methodological procedure, bibliographical research and field. We conducted a descriptive and interpretative method from questionnaires applications to the subjects involved in research, teachers and students who are working on the 3rd year of elementary school of the School Raimundo Ribeiro Dias, locus of research. We found that teachers were concerned to develop a methodology that approximates the reality of students, valuing their daily lives especially their culture seeking concrete meaning to their learning. We conclude that it is possible to achieve the quality of education in literacy classes, educational practices that use different methods to provide both the development of literacy, as the literacy of each subject in which it can contribute to the transformation of society. Keywords: Literacy. Literacy. Teaching practice LISTA DE GRÁ FICOS Gráfico 01 - Professores da pesquisa que alfabetizam letrando. 45 Gráfico 02 - Metodologias aplicadas pelos professores participantes da pesquisa. 45 Gráfico 03 - Fundamentos como base norteadora do trabalho dos professores participantes da entrevista. 46 Gráfico 04 - Professores participantes da pesquisa que desenvolve boa interação e pouca interação com os alunos. 46 Gráfico 05 - Alunos participantes da pesquisa com e sem o domínio da leitura e da escrita. 47 Gráfico 06 - Faixa etária dos alunos participantes da pesquisa. 47 Gráfico 07 - Sexo dos alunos participantes da pesquisa. 48 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO........................................................................................... 10 2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA............................ ..................................... 14 2.1 2.2 CONSIDERAÇÕES INICIAIS..................................................................... ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO......................................................... 14 28 2.3 A PRÁTICA DA LEITURA E DA ESCRITA NAS SÉRIES INICIAIS........... 29 2.4 ORALIDADE, LEITURA E ESCRITA: PRINCIPAIS CAMINHOS PARA APRENDIZAGEM....................................................................................... 31 2.5 A LEITURA E ESCRITA COMO FATORES FUNDAMENTAIS NO PROCESSO DE ALFABETIZAÇÃO........................................................... 33 2.6 ALUNOS E PROFESSORES COMO PRINCIPAIS SUJEITOS DO PROCESSO DE APRENDIZAGEM........................................................... 34 3 METODOLOGIA...................................... .................................................. 35 3.1 TIPO DE PESQUISA.................................................................................. 35 3.2 CONTEXTUALIZANDO O LÓCUS DA PESQUISA................................... 35 3.3 CONTEXTO/PARTICIPANTES DA PESQUISA........................................ 37 3.4 3.5 COLETA DOS DADOS.............................................................................. ANÁLISE DOS DADOS............................................................................. 38 38 4 RESULTADO E DISCUSSÃO............................ ....................................... 39 4.1 4.1.1 A PESQUISA DE CAMPO......................................................................... A atuação do professor mediante o seu trabalho de a lfabetização eletramento no 2º ano do ensino fundamental......... ............................... CONSIDERAÇÕES FINAIS............................... ........................................ REFERÊNCIAS.......................................................................................... APÊNDICES............................................................................................... APÊNDICE A – Roteiro da Entrevista................. .................................... 39 39 49 51 52 53 10 1 INTRODUÇÃO Esta pesquisa tem como objetivo desenvolver um estudo sobre a prática e teoria do ensino de alfabetização e letramento no 3º ano do Ensino Fundamental buscando assim compreender quais que fatores que interferem no desenvolvimento do trabalho do professor alfabetizador. Já que se tem feito muitas discussões sobre ensino e aprendizagem o que desperta muitos olhares, revelando grande preocupação na busca de uma melhor compreensão no processo de alfabetização através do interesse em contribuir para uma educação efetiva. Neste sentido, almeja-se compreender através desta pesquisa, quais as principais dificuldades das crianças do 3°ano do Ensino Fundamental para assimilarem a aprendizagem na leitura e na escrita, as causas dessas dificuldades e analisar os efeitos das intervenções pedagógicas para a resolução do problema. Essas discussões que envolvem tais dificuldades de aprendizagem não é algo novo. Há muitos anos já se houve falar em dificuldades na leitura e na escrita pelas crianças das séries iniciais. Entretanto, nas últimas décadas os problemas vêm se agravando, gradativamente, principalmente no que se refere à área da alfabetização, o que aponta para a necessidade de uma preocupação maior a respeito do que se aprende, e não do que se ensina. As dificuldades de aprendizagem envolvem alunos comuns, ou seja, aparentemente sem danos de natureza médica ou psicológica que necessitam de práticas educativas especiais. Apresentam dificuldades de aprendizagem crianças que não rendem de acordo com o seu nível escolar em uma ou mais áreas, dentre elas as seguintes: expressão oral, compreensão oral, expressão escrita com ortografia adequada, habilidade básica de leitura, compreensão da leitura, cálculo matemático. Portanto, para a alfabetização avançar em qualquer escola, é necessário que esta ofereça condições e estruturas não só na prática pedagógica, mas no geral, já que é um direito de todos garantido por lei (ECA) como: espaço adequado, atrativo, lúdico, etc., tornando o ensino com qualidade e sucesso no decorrer de seu desenvolvimento. Entende-se que a escola é lócus responsável para a promoção da aprendizagem, uma vez que o esse processo é o caminho que a criança deverá 11 percorrer para compreender as características, o valor e a função da escrita, desde que essa se constitua no objeto da sua atenção, por conseguinte, do seu conhecimento, pois se trata do seu campo educacional. PROBLEMA A leitura e a escrita são habilidades que permitem ao indivíduo se inserir em nossa sociedade e atuar de forma organizada em torno de cultura letrada. As escolas estão preparando seus alunos para ler e escrever, porém parece haver uma distância cada vez mais extensa entre as exigências sociais e as habilidades da leitura e da escrita apresentadas por esses alunos. . Neste sentido, é preocupante como a leitura e a escrita tem ocupado lugar de destaque como um dos maiores problemas para os educadores que muito se engajam em repensar métodos e práticas para se ensinar a ler e escrever, e ainda assim existe um grande número de alunos que não sabem ler e escrever, mostrando-nos numa totalidade o fracasso escolar nas aprendizagens iniciais onde o aprender constitui base do seu desenvolvimento para vida. Geralmente, esses alunos são acompanhados pelo abandono da escola por persistirem causas que o provocam. Esse descarrilamento do aprender é atribuído, na maioria das vezes, a inúmeros problemas gerados pela acentuada diferença das condições sociais, étnicas, econômicas e geográficas, e também de outras mazelas como o círculo vicioso da escola, a falta da merenda escolar, a forma de avaliação e a evasão escolar muito presente. Diante desta problemática questiona-se: Como devem ser as práticas de leitura e escrita nas series iniciais? Como deve ser o tipo de relação no ambiente escolar entre alunos e educadores para estimular os alunos ao aprendizado da leitura e da escrita? Quais são as práticas educativas que vêm sendo desenvolvidas nas escolas de séries iniciais de Gurupá? De que forma o professor pode trabalhar para amenizar a deficiência do seu aluno na dificuldade da leitura, da escrita e interpretação? 12 JUSTIFICATIVA O letramento e a alfabetização têm ocupado lugar em destaque na preocupação dos educadores. Porém, apesar da variedade de métodos ensaiados para ensinar a ler, existe um grande número de crianças que não aprende, justamente como um cálculo elementar, a deficiência da escrita constitui um dos objetivos da instrução básica e sua aprendizagem, condição de sucesso ou fracasso escolar. O cotidiano no contexto da escola observou que a dificuldade de aprendizagem é um problema digno de atenção, pois repercute no fracasso escolar nas séries iniciais. O que se observa também é a persistência das causas que o provocam, embora se busque traçar algumas estratégias o problema subsiste. De acordo com as cifras oficinas - UNESCO, 2014 mostram de toda educação escolarizada apenas 53% chegam a 4°serie, o limiar mínimo indispensável para uma alfabetização definitiva. Dois terços do total de repetente localizam-se nos primeiros anos de escolaridade e em torno de 60% dos alunos egressos da escola, repetiram o ano uma ou mais vezes. Portanto, este trabalho tem como Objetivo: OBJETIVO GERAL Analisar a prática do professor mediante o seu trabalho de alfabetização e letramento no 3°ano do Ensino Fundamental. OBJETIVOS ESPECIFICOS � Investigar como se desenvolvem as práticas da leitura e da escrita nas series iniciais. � Verificar como deve ser o tipo de relação no ambiente escolar entre educandos e educadores para estimular os mesmos ao aprendizado da leitura e da escrita. � Analisar de que forma o professor pode trabalhar para amenizar a deficiência do seu aluno na dificuldade da leitura, da escrita e interpretação. 13 RELEVÂNCIA DA PESQUISA Acredita-se que esta pesquisa é relevante por buscar desenvolver um estudo para aprofundar os conhecimentos teóricos e práticos acerca dos fatores que interferem na aprendizagem dos alunos do 3° ano do Ensino Fundamental e as metodologias que o professor pode trabalhar para amenizar a deficiência do seu aluno na dificuldade da leitura, da escrita e interpretação. Uma vez que, aos profissionais de hoje, já não bastam ter conhecimentos teóricos e sim devem exercerem práticas que busquem a produção de novas ideias e conhecimentos. Quanto à relevância acadêmica, esta pesquisa consiste na produção de novos conhecimentos, e que este estudo possa ser utilizado para contribuir com outras pesquisas da área da educação, onde a relevância social se caracteriza pelo respaldo adquirido pelos cursos de pedagogia ampliando seu conhecimento e sua forma de produzir ciências, em que o pedagogo não seja visto apenas como professor, mas como um profissional capaz de atuar em diversas áreas da sociedade e do mercado atual. ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO Para a concretização dos objetivos expostos, este trabalho está dividido em uma introdução, três capítulos, considerações finais, referências e apêndice, conforme descritos a seguir: Na introdução consta da justificativa, onde é feita uma discussão no que tange às dificuldades de aprendizagem. Tem-se também o estabelecimentodo problema, os objetivos, escolha do tema, a metodologia e a organização do trabalho. No Capítulo I, são abordadas a fundamentação teórica que embasou este estudo acerca dos fatores que interferem no processo de alfabetização dos alunos do 3° ano do ensino fundamental e as metodologias adequadas para resolução da deficiência da leitura, da escrita e interpretação. Para isso, buscamos autores como: Emília Ferreiro, Ana Teberosky e Magda Soares e Freire, os quais desenvolvem em sua fala um trabalho de pesquisa em relação à preocupação da problemática como ponto relevante na alfabetização e letramento, seus fracassos e suas mazelas. No capitulo II, são abordadas a metodologia, o contexto e os sujeitos da pesquisa, os procedimentos adotados para a coleta e análise dos dados e como 14 considerações finais apresentamos uma reflexão com relação ao tema em estudo. 2 REFERENCIAL TEÓRICO 2.1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS O estudo aprofundado sobre os fatores que interferem no processo de alfabetização dos alunos do 3° ano do ensino fundamental e as metodologias adequadas para resolução da deficiência da leitura, da escrita e interpretação foi motivado pelo fato de ser um tema de grande relevância, uma vez que, a deficiência de leitura e escrita por parte dos alunos é uma problemática que há muito tempo tem afetado os educandos levando-os a apresentarem um baixo rendimento nas suas tarefas por não conseguirem compreender o que leem. Esta pesquisa tem o embasamento teórico de autores como: Magda Soares, Emília Ferreiro, Ana Teberosky, Jean Piaget, Luiz Carlos Cagliari, e outros, os quais ressaltam em suas falas um trabalho de pesquisa em relação à preocupação com uma problemática relevante, em si tratando de alfabetização e letramento, seus fracassos e suas mazelas. Magda Soares, doutora e livre-docente em educação, professora titular e emérita da Universidade Federal de Minas Gerais aponta um olhar histórico sobre a alfabetização escolar no Brasil. Revela uma trajetória de sucessivas mudanças conceituais, e consequentemente metodológicas. Atualmente, parece que se enfrenta novamente um desses momentos de mudanças. É o que prenuncia o questionamento a que vêm sendo submetidos os quadros conceituais e as práticas deles decorrentes que prevaleceram na área da alfabetização. Nas últimas três décadas, pesquisas que têm identificado problemas nos processos e resultados da alfabetização de crianças no contexto escolar, insatisfações e inseguranças entre alfabetizadores, perplexidade do poder público e da população diante da persistência do fracasso da escola em alfabetizar, evidenciada por avaliações nacionais e estaduais, vêm provocando críticas e motivando propostas de reexames das teorias e práticas atuais da alfabetização. Um momento como este é, sem dúvida, desafiador, porque estimula a revisão dos caminhos já trilhados e a busca de novos caminhos, mas é também ameaçador, 15 porque pode conduzir a uma rejeição simplista dos caminhos trilhados e a propostas de solução que representem desvios para indesejáveis descaminhos. Letramento é palavra e conceito recentes, introduzidos na linguagem da educação e das ciências linguísticas apouco mais de duas décadas, seu surgimento pode ser interpretado como decorrência da necessidade de configurar e nomear comportamentos e práticas sociais na área da leitura e da escrita que ultrapassem o domínio do sistema alfabético e ortográficos, nível de aprendizagem da língua escrita perseguido, tradicionalmente, pelo processo de alfabetização,(SOARES, 2004, p. 19). Esses comportamentos e práticas sociais de leitura e de escrita foram adquirindo visibilidade e importância à medida que a vida social e as atividades profissionais tornaram-se cada vez mais centradas e dependentes da língua escrita, revelando a insuficiência de apenas alfabetizar no sentido tradicional a criança ou o adulto. Em um primeiro momento, essa visibilidade traduziu-se ou em uma adjetivação da palavra alfabetização funcional e tornou-se expressão bastante difundida ou em tentativas de ampliação do significado de alfabetização/alfabetizar por meio de afirmações como: Segundo Soares (2004), “alfabetização não é apenas aprender a ler e escrever”, “alfabetizar é muito mais que apenas ensinar a codificar e a decodifica”, e outras semelhantes. A insuficiência desses recursos para criar objetivos e procedimentos de ensino e de aprendizagem que efetivamente ampliassem o significado de alfabetização, alfabetizar e alfabetizado, é que pode justificar o surgimento da palavra letramento, consequências das necessidades de destacar e claramente configurar, nomeando-os, comportamentos e práticas de uso do sistema de escrita, em situações sociais em que a leitura e/ou a escrita estejam envolvidas. Entretanto, provavelmente devido ao fato de o conceito do letramento ter sua origem em uma ampliação do conceito de alfabetização, esses dois processos têm sido frequentemente confundidos e até mesmo fundidos. Pode-se admitir que no plano conceitual, talvez a distinção entre alfabetização e letramento não fosse necessária, bastando que se resinificasse o conceito de alfabetização. Para Ferreiro (2002), no plano pedagógico, porém, a distinção torna-se conveniente, embora também seja imperativamente conveniente, ainda que distintos, os dois processos sejam reconhecidos como indissociáveis e interdependentes. 16 Para autora, é necessário reconhecer que alfabetização é entendida como aquisição do sistema convencional de escrita. Distingue-se letramento-entendido como o desenvolvimento de comportamento e habilidades de uso competente da leitura e da escrita em práticas sociais percebendo-se tanto em relação aos objetos de conhecimento quanto em relação aos processos cognitivos e linguísticos de aprendizagem e, portanto, também de ensino desses diferentes objetos. Tal fato explica porque é conveniente a distinção entre os dois processos. Por outro lado, também é necessário reconhecer que embora distintos, a alfabetização e letramento são interdependentes, indissociáveis; alfabetização só tem sentido quando desenvolvida no contexto de práticas sociais de leitura e de escrita e por meio dessas práticas, ou seja, em um contexto de letramento e por meio de atividades de letramento; este, por sua vez, só pode desenvolver-se na dependência da e por meio da aprendizagem do sistema de escrita. Aprendizagem da língua escrita: alfabetização e/ou letramento? Uma análise das mudanças conceituais e metodológicas ocorridas ao longo da história do ensino da língua escrita no início da escolarização revela que, até os anos 80, o objetivo maior era a alfabetização (tal como acima definida), isto é, enfatizava-se fundamentalmente a aprendizagem do sistema convencional da escrita. Em torno desse objetivo principal, métodos da alfabetização alternaram-se em um movimento pendular; ora a opção pelo princípio da síntese, segundo o qual a alfabetização deve partir das unidades menores da língua- os fonemas, as sílabas - em direção as unidades a maiores- a palavra, a frase, o texto (método fônico; método silábico); ora a opção pelo princípio da análise, segundo o qual a alfabetização, deve ao contrário, partir das unidades maiores e portadoras de sentido- a palavra, a frase, o texto em direção as unidades menores (método da palavração, método da sentenciarão método global). Em ambas as opções, porém a meta sempre foi à aprendizagem do sistema alfabético e ortográfico da escrita, embora se possa identificar, da segunda opção, uma preocupação também com o sentido veiculado pelo código, seja no nível do texto (método global), seja no nível da palavra ou da sentença (método da palavração, método da sentenciação), este – textos, palavras, sentenças – são postos a serviço da aprendizagem do sistema de escrita: palavras sãointencionalmente selecionadas para servir a sua decomposição em sílabas e fonemas, sentenças e textos são artificialmente construídos com rígido controle 17 léxico e morfossintático para servir a sua decomposição em palavras, silabas e fonemas, pois como afirma Magda Soares (2004, p. 20): Assim, pode se dizer que até os anos 80 a alfabetização escolar no Brasil caracterizou-se por uma alternância entre métodos sintéticos e métodos analíticos, mas sempre com mesmo pressuposto – o de que a criança, para aprender o sistema de escrita, dependeria de estímulos externos cuidadosamente selecionados ou artificialmente construídos. E sempre com o mesmo objetivo – o domínio desse sistema, considerado condição e pré- requisito para que a criança desenvolvesse habilidades de uso da leitura e da escrita, isto é, primeiro aprender a ler e a escrever, verbos nesta etapa considerados intransitivos, para só depois de vencida essa etapa atribuir complementos a esses verbos: ler textos, livros, escrever histórias cartas e etc. Essa mudança paradigmática permitiu identificar e explicar o processo através do qual a criança constrói o conceito de língua escrita como um sistema de representação dos sons da fala, os sinais gráficos, ou seja, o processo através do qual a criança torna-se alfabética; por outro lado, e como consequência disso, sugeriu as condições em que mais adequadamente se desenvolve esse processo, revelando o papel fundamental de uma interação (e) diversificada da criança com práticas e matérias reais de leitura e escrita afim de que ocorra o processo de conceptualização de língua escrita. No entanto, o foco no processo de conceptualização da língua escrita pela criança e a ênfase na importância de sua interação com praticas de leitura e de escrita como meio para provocar e motivar esse processo tem subestimado, na prática escolar da aprendizagem inicial da língua escrita, o ensino sistemático das relações entre a fala e a escrita, de que se ocupa a alfabetização, tal como anteriormente definida. Como consequência de o construtivismo ter evidenciado processos espontâneos de compreensão da escrita pela criança, ter condenado os métodos que enfatizavam o ensino direto e explícito do sistema da escrita e, sendo fundamentalmente uma teoria psicológica e não pedagógica, e não ter proposto uma metodologia de ensino, os professores foram levados a supor que, apesar de sua natureza convencional e com frequência arbitrária, as relações entre a fala e a escrita seriam construídas pala criança de forma incidental e assistemática, como decorrência natural de sua interação com inúmeras e variadas práticas de leitura e de escrita, ou seja, através de atividades de letramento, prevalecendo, pois, estas sobre as atividades de alfabetização. 18 É, sobretudo, essa ausência de ensino direto, explícito e sistemático da transferência da cadeia sonora da fala para a forma gráfica da escrita que tem motivado as críticas que atualmente vêm sendo feitas ao construtivismo. Além disso, é ela que explica porque vem surgindo, surpreendentemente, propostas de retorno a um método fônico como solução para os problemas que estamos enfrentando na aprendizagem inicial da língua escrita pelas crianças. Cabe salientar, porém, que não é retornando a um passado já superado e negando avanços teóricos incontestáveis que esses problemas serão esclarecidos e resolvidos. Por outro lado, ignorar ou recusar a crítica aos atuais pressupostos teóricos e a insuficiência das práticas que deles tem decorrido resultará, certamente, em mantê-los inalterados e persistentes. Em outras palavras o momento é de procurar caminhos e recusar descaminhos. Para Magda Soares (2004, p. 21): Caminhos e descaminhos, na aprendizagem da língua escrita tem sido objeto de pesquisa e estudo de várias ciências nas últimas décadas cada uma delas privilegiando uma das facetas dessa aprendizagem. Para citar as mais salientes: a faceta fônica, que envolve o desenvolvimento da consciência fonológica, imprescindível, para que a criança tome consciência da fala como um sistema de sons e compreenda como o sistema de escrita como um sistema de representação desses sons, e a aprendizagem das relações fonemas – grafemas e demais convenções de transferência da forma sonora da fala para forma gráfica da escrita; a faceta da leitura fluente, que exige o reconhecimento holístico de palavras e sentenças; a faceta da leitura compreensiva, que supõem ampliação de vocabulário e desenvolvimento de habilidades como interpretação, avaliação, inferência, entre outras; a faceta da identificação e do uso adequado das diferentes funções da escrita, dos diferentes portadores de texto, dos diferentes tipos e gênero de textos, etc. Cada uma dessas facetas é fundamentada por teorias de aprendizagem, princípios fonéticos e fonológicos, princípios linguísticos, psicolinguísticos e sociolinguísticos, teorias da leitura, teorias da produção textual, teorias do texto e do discurso, entre outras. Consequentemente, cada uma dessas facetas exige metodologia de ensino específico, de acordo com sua natureza. Algumas dessas metodologias caracterizadas por ensino direto e explícito, como é o caso da faceta para qual se volta à alfabetização, outras caracterizadas por ensino muitas vezes incidental e indireto, por que dependente das possibilidades e motivações das crianças, bem como das circunstâncias e do contexto em que se realize a aprendizagem, como é o caso das facetas que se caracterizam como de letramento. 19 A tendência, porém tem sido privilegiar na aprendizagem inicial da língua escrita apenas uma de suas várias facetas e, por conseguinte, apenas uma metodologia: assim fazem os métodos hoje considerados como os “tradicionais”, que, como supracitado, voltam-se predominantemente à faceta fônica, isto para o ensino e a aprendizagem do sistema de escrita; por outro lado, assim também tem feito o chamado “construtivismo”, que se volta predominantemente ao letramento, privilegiando o envolvimento da criança com a escrita em suas diferentes funções, seus diferentes portadores, com os mais variados gêneros textuais, no entanto os conhecimentos que atualmente esclarecem tantos os processos quanto os objetos da aprendizagem da língua escrita e as relações entre aqueles e estes, evidenciam que privilegiar uma ou algumas facetas, subestimando ou ignorando outras, é um equívoco, um descaminho no ensino e na aprendizagem do assunto em pauta, mesmo em sua etapa inicial. Talvez, por isso se tenha fracassado nas tentativas de melhorar o ensino aprendizagem, e que o caminho das pedras seja a articulação de conhecimentos e metodologias fundamentadas em diferentes ciências e sua tradução em uma prática docente que integre as suas várias facetas, articulando a aquisição do sistema de escrita que é favorecida por ensino direto, explícito e ordenado, aqui compreendido como sendo o processo de alfabetização com o desenvolvimento de habilidades e comportamentos de uso competente da língua escrita nas práticas sociais de leitura e de escrita, aqui compreendidos como sendo o processo de letramento. O emprego dos verbos integrar e articular retoma a afirmação anterior de que os dois processos - alfabetização e letramento - são, no estado atual do conhecimento sobre a aprendizagem inicial da língua escrita, indissociáveis, simultâneos e interdependentes: a criança alfabetiza-se, por um lado, construindo (constrói) seu conhecimento do sistema alfabético e ortográfico da língua escrita, em situações de letramento, isto é, no contexto, por meio de interação com material escrito real e não artificialmente construído, e também de sua participação em práticas sociais de leitura e de escrita; por outro lado, por meio de habilidades e comportamentos de uso competente da língua escrita nas práticas sociais que envolvemo contexto e em dependência do processo de aquisição do sistema alfabético e ortográfico da escrita. E se alfabetizar letrando, ou letrar alfabetizando, pela integração e pela articulação de várias facetas do processo de aprendizagem inicial da língua escrita, 20 é sem dúvida o caminho para superação dos problemas que se tem enfrentado nessa etapa da escolarização, descaminhos serão tentativas de voltar a privilegiar esta ou aquela faceta, como se fez no passado, como se faz hoje, sempre resultando em fracasso, esse reiterado fracasso da escola brasileira em dar às crianças acesso efetivo e competente ao mundo da escrita. Emília Ferreiro e Ana Teberosky, autoras que pertencem à escola do grande epistemólogo e psicólogo Jean Piaget, em um campo que o próprio Piaget não havia estudado, introduziram o essencial da sua teoria e do seu método científico. Elas mostram que as crianças têm ideia, teorias (no profundo significado do termo) e hipóteses que continuamente colocam à prova frente à realidade e que confrontam com as ideias do outro. Segundo as autoras a questão crucial da alfabetização inicial é de natureza conceitual. Isto é, a mão que escreve e o olho que lê estão sobre o comando de um cérebro que pensa sobre a escrita que existe em seu meio social e com a qual toma contato através da sua própria participação em atos que envolvem o ler e o escrever em práticas sociais mediadas pela escrita. Portanto, do ponto de vista político, a maior contribuição das autoras foi exatamente explicitar o papel desta rede de atos de leitura e escrita que hoje chamamos ambiente alfabetizador. Foi mostrar que a diferença no desempenho escolar inicial entre as crianças pobres das escolas públicas e as de classe média não tinha origem em nem um tipo de déficit intelectual, linguístico ou cultural. Para as autoras, nem uma criança entra na escola regular sem nada saber sobre a escrita e que o processo de alfabetização é longo e trabalhoso para todas, não importa a classe social. Mais ainda, que a diferença no desempenho decorre do fato que a criança de classe média já está, em geral, no final do processo de alfabetização quando chega a escola regular, enquanto a de classe baixa ainda tem habitualmente, hipóteses primitivas sobre a escrita, não porque seja menos capaz e sim porque teve menos oportunidades de participar de eventos de leitura e de escrita. Cabe, portanto, à escola garantir, a quem precisa este ambiente alfabetizador em lugar de manter as crianças às margens das oportunidades de aproximação da língua escrita, como se fazia 20 anos atrás, no tempo em que se pensava que primeiro era preciso desenvolver habilidades perceptuais de prontidão, para só depois deixar a criança ter contato com a escrita. Aqui, cabe uma ressalva: é 21 importante frisar que não é o ambiente que alfabetiza tampouco o fato de pendurar coisas escritas nas paredes que produz por se um feito alfabetizador. Essa expressão designa, de maneira condensada, um ambiente pensado para propiciar inúmeras alterações com a língua escrita, interações mediadas por pessoas capazes de ler e de escrever. Segundo, Ferreiro e Teberosky (2007, p. 20): Para compreender a situação é preciso analisar os fatores apontados como causas do fracasso. Menciona-se o absenteísmo escolar. Com efeito, há muitas crianças que se ausentam da escola por longos períodos. Mas quais seriam as causas? Existem casos nas zonas rurais, em que as condições climáticas ou de distância influem, impedindo a frequência regular à escola. Em outros casos, as necessidades de serem úteis à família em tarefas produtivas determinam a ausência ou o abandono. Esta é a realidade: sem uma melhora nas condições de vida da população, dificilmente se poderá mudar tal situação. Trata-se, pois de condições sociais, e não de responsabilidades pessoais. Percebe-se a preocupação das autoras Ferreiro e Teberosky, quando elas abordam a questão da repetência, ainda como um dos maiores problemas da educação primária (fenômeno este que, conforme já foi visto, concentra-se nos primeiros anos). Questionam as autoras: O que é a repetência? Quando uma criança fracassa na aprendizagem, a escola lhe oferece uma segunda oportunidade: recomeçar o processo de aprendizagem. É esta uma solução? Reiterar uma experiência de fracasso em condições idênticas não é por o caso obrigar a criança a “repetir seu fracasso”? Quantas vezes um sujeito pode repetir seus erros? Supomos que tantas quantas sejam necessárias até que abandona o propósito. E chegamos ao aspecto central do problema educativo: a deserção escolar (Ferreiro e Teberosky, 2007, p. 20). O termo “deserção” leva, implicitamente, uma carga significativa que supõem a responsabilidade voluntária do sujeito, neste caso, crianças que abandonam um grupo ou um sistema ao qual pertencem. No caso do sistema educacional, poder-se- ia perguntar se não é este que abandona o desertor no momento em que não possui estratégias para conservá-lo nem interesse em reintegrá-lo. Ou, pelo menos, se essa “deserção” obedece a uma atitude individual, como a palavra que o sugere, ou com ela coincidem indivíduos que compartilham de circunstâncias econômico-sociais que dificultam o permanecer dentro das regras do jogo que são propostas pelo sistema. 22 É algo que temos procurado em vão nessa literatura, é o próprio sujeito: o sujeito cognocente, o sujeito que busca adquirir conhecimento, o sujeito que a teoria de Piaget nos ensinou a descobrir. O que quer isto dizer? O sujeito que conhecemos através da teoria de Piaget é aquele que procura ativamente compreender o mundo que o rodeia e trata de resolver as interrogações que este mundo provoca. Não é um sujeito o qual espera que alguém que possui um conhecimento o transmita a ele por um ato de benevolência. É um sujeito que aprende basicamente através de suas próprias ações sobre os objetos do mundo e que constrói suas próprias categorias de pensamento ao mesmo tempo em que organiza seu mundo. (FERREIRO E TEBEROSKY,2007 p.29) Para as autoras, pretende-se ainda demonstrar que, além dos métodos, dos manuais, dos recursos didáticos, existe um sujeito buscando a aquisição do conhecimento, sujeito este que se propõe problemas e trata de soluciona-los, seguindo sua própria metodologia. Insistiremos sobre o que segue: trata-se de um sujeito que procura adquirir conhecimentos e não simplesmente de um sujeito disposto ou mal disposto a adquirir uma técnica particular. Um sujeito que a psicologia da lectoescrita esqueceu em favor de buscar aptidões específicas, habilidades particulares ou uma sempre mal definida maturidade. Tradicionalmente, conforme uma perspectiva pedagógica de Emília Ferreiro e Ana Teberosky, o problema da aprendizagem da leitura e da escrita tem sido exposto como uma questão de métodos. A preocupação dos educadores tem-se voltado para a busca do “melhor” ou “mais eficaz” deles, levantando-se, assim, uma polêmica em torno de dois tipos fundamentais: métodos sintéticos, que partem de um elemento menor que é a palavra, e métodos analíticos, que partem da palavra ou de unidades maiores. Em defesa das respectivas virtudes de um e de outro, originou-se uma discussão registrada em extensa literatura; literatura que tanto faz referência ao aspecto metodológico em si, como aos processos psicológicos subjacentes. Recordemos primeiro qual é o enfoque didático para, em seguida, insistirmos nos supostos psicológicos relativos aos métodos, assim como as concepções implícitas ou explicitas sobre o processo da aprendizagem. Ressaltam as autoras: O método sintético insiste, fundamentalmente, na correspondência entre o oral e o escrito, entre o som e a grafia. Outro ponto chave para esse método é estabelecer a correspondência a partir dos elementos mínimos, num processo que consiste em ir das partesao todo. Os elementos mínimos da escrita são as letras durante muito tempo se ensinou a pronunciar as letras, estabelecendo-se as regras de sonorização da escrita no seu idioma correspondente. Os métodos alfabéticos mais tradicionais abonam tal postura. Posteriormente, sobre a influência da linguística, desenvolve-se o 23 método fonético propondo que se parta do oral (FERREIRO e TERORKY, 2007, p. 21). A unidade mínima do som de tal é o fonema. O processo, então, consiste em iniciar pelo fonema, associando-o a sua representação gráfica. É preciso que o sujeito seja capaz de isolar e de reconhecer os diferentes fonemas de seu idioma para poder, em seguida, relacioná-los aos sinais gráficos referimo-nos fundamentalmente ao método fonético posto que o alfabético já caiu em desuso. Quando se analisa a literatura sobre a aprendizagem da língua escrita, encontramos, basicamente, dois tipos de trabalho: os dedicados a difundir tal ou qual metodologia como sendo a solução para todos os problemas, os trabalhos dedicados a estabelecer as listas das capacidades ou das aptidões necessárias envolvidas nessa aprendizagem, obviamente, todos os trabalhos que se ocupam em estabelecer quais são as condições necessárias para iniciar essa aprendizagem, condições comumente denominadas “maturidade para lectoescrita”. É necessário explicar por que, ao considerarmos a literatura psicológica dedicada a estabelecer a lista das aptidões ou das habilidades necessárias para aprender a ler e a escrever, vemos aparecer, continuamente, as mesmas variáveis: laterização espacial, descriminação visual, discriminação auditiva, coordenação viso- motora, boa articulação etc. Dos trabalhos que tentam sintetizar essas investigações parciais, surge uma visão bastante curiosa: todos esses fatores se correlacionam positivamente com uma boa aprendizagem da língua escrita, dizendo em termos banais se uma criança estiver bem lateralizada, se seu equilíbrio emocional é adequado, se ela tem uma boa discriminação visual e auditiva, se seu quociente intelectual é normal, se sua articulação é também adequada, então, também é provável que aprenda a ler e a escrever sem dificuldades. Em suma, se tudo vai bem, também a aprendizagem da lectoescrita vai bem vai. Jean Piaget, considerado uma das maiores autoridades mundiais nas ciências psicológicas, dedicou grande parte da sua obra a análise da evolução no pensamento infantil. Fundador da epistemologia genética, desenvolveu, também, uma teoria do conhecimento consciente como produto de uma estrutura cognitiva, que conceitua a vida como criação contínua de formas, cada vez mais complexa, e de sua progressiva adaptação ao meio exterior, para o grande cientista suíço a inteligência é a expressão mais específica desse comportamento de adaptação. Na 24 realidade a inteligência consiste na capacidade individual de acomodação ao meio, e desta forma, o processo cognitivo teria início nos reflexos fortuitos e difusos da criança, desenvolvendo-se por estágios até alcançar o nível adulto do raciocínio lógico. O método piagetiano de exploração das noções infantis por meio do diálogo, durante o qual o experimentador elabora hipóteses sobre as razões do pensamento das crianças, provoca perguntas e cria situações para testar no próprio momento, suas hipóteses, o que acaba sendo neste campo, como em muitos outros, o mais frutífero método. Este permite distinguir as ideias básicas sustentadas por uma grande quantidade de crianças, das reações imediatas da criança interrogada que pensa ser necessário dizer ou fazer algo simplesmente para responder. Mais ainda, este método permite ao experimentador que sabe usá-lo com tanta habilidade, quanto as autoras Ferreiro e Teberosky que veem a maneira como se modificam as noções da criança até chegar a adquirir, reconstituindo-o, um conceito que a humanidade custou tanto a elaborar. O que confirma segundo a teoria de Piaget, onde ele afirma que: A inteligência não aparece, de modo algum, num determinado momento do desenvolvimento mental, como um mecanismo inteiramente montado, e radicalmente distinto dos que o precederam. Pelo contrário, apresenta uma notável continuidade com os processos adquiridos ou mesmo inata, proveniente da associação habitual e do reflexo, processos esses em que a inteligência se baseia ao mesmo tempo em que os utiliza. Portanto, antes de analisarmos a inteligência como tal, convém averiguar como o nascimento dos hábitos e mesmo como o exercício dos reflexos preparam o advento daquela. (2008, p. 31) A importância do estudo do desenvolvimento humano, a criança não é um adulto em miniatura. Ao contrário, apresenta características próprias de sua idade. Compreender isso é compreender a importância do estudo do desenvolvimento humano. Estudos e pesquisas de Piaget demonstram que existem formas de perceber, compreender e se comportar diante do mundo próprio de cada faixa etária, isto é, existe uma assimilação progressiva do meio ambiente que implicam uma acomodação das estruturas mentais a este novo dado do mundo exterior. Estudar o desenvolvimento humano significa conhecer as características comuns de uma faixa etária, permitindo-nos reconhecer as individualidades, o que nos torna mais aptos para observação e interpretação do comportamento. Todos esses aspectos levantados tem importância para a educação. Planejar o que e como 25 ensinar implica saber quem é o educando. Por exemplo, a linguagem que usamos com a criança de quatro anos não é a mesma que usamos com os jovens de quatorze anos. E, finalmente, estudar o desenvolvimento humano significa descobrir que ele é determinado pela interação de vários fatores. Luiz Carlos Cagliari, professor de fonética e fonologia no departamento de linguística do instituto de estudos da linguagem, UNICAMP, mestre em linguística em geral, UNICAMP, doutor pelo departamento de linguística da universidade de Edimburgo, Escócia, livre-docente na área de fonética e fonologia no departamento de linguística UNICAMP, autor de trabalhos publicados na área da alfabetização. Segundo o referido autor, alfabetização tem sido uma questão bastante discutida pelos que se preocupam com a Educação, já que há muitas décadas se observam as mesmas dificuldades de aprendizagem, as inúmeras reprovações na evasão escolar. Atualmente, esta questão vem recebendo uma atenção especial por parte dos órgãos oficiais, os quais, entretanto, não têm obtido resultados expressivos em suas tentativas de solucionar os problemas citados. Primordialmente, a alfabetização é a aprendizagem da escrita e da leitura. Note-se que ler e escrever são atos linguísticos, no entanto, só recentemente tem havido a participação significativa de linguistas em projetos educacionais. Preocupando-se, sobretudo com os problemas técnicos relativos à fala e à escrita no processo de alfabetização e aplicando princípios linguísticos na interpretação e solução dos mesmos, Para o autor, a compreensão da natureza da escrita, de suas funções e usos, é indispensável ao processo de alfabetização, mas o que se vê comumente nas salas de aula e nos livros didáticos, é um total desconhecimento do assunto. Por outro lado, toda consciência que a criança tem da linguagem oral se deturpa quando ela entra na escola e aprende a escrever; de tal modo que depois, adulta só será capaz de observar sua fala, sem as interferências da forma gráfica das palavras após treinamento fonético. Não tratando adequadamente da escrita e fala na alfabetização a escola encontrará sérias dificuldades para lidar com a leitura. Afinal, a leitura, na sua função mais básica, nada mais é do que a realização do objetivo de quem escreve. O fato de a escola em geral não saber fazer de seus alunos bons leitores traz consequências graves para o futuro deles, que terão dificuldades enormes em continuarna escola, onde a leitura se faz necessária a todo instante, e serão fortes candidatos à evasão escolar. 26 Se por um lado os problemas da alfabetização estão apoiados na maneira imprópria como a escola trata as questões de fala, escrita e leitura, a incompetência dessa instituição por outro lado, é alimentada nas escolas de formação: escola de habilitação específica de 2º grau para o magistério e faculdade. Porém, a falta de visão de muitos associada à falta de conhecimento linguístico, tem atribuído ao fracasso escolar ora o aluno, visto como um ser incapaz, carente, cheios de deficiências, ora o professor. Uma das causas desse fracasso, é a incompetência técnica, ocorre que quem orienta a educação (escola de formação, secretarias de educação, autores de livros de didáticos, professores,...) não sabe ensinar devidamente, porque desconhece muitos aspectos básicos da fala, da escrita e da leitura. Evidentemente, não basta a formação técnica e linguística para se ter automaticamente um procedimento didático. Mas é certo que, sem o conhecimento competente da realidade linguística compreendida no processo de alfabetização, é impossível qualquer didática, metodologia ou solução de outra ordem (CAGLIARI, 1990, p. 9). O processo de alfabetização inclui muitos outros fatores, e quanto mais ciente estiver o professor de como se dá o processo de aquisição de conhecimento, de como acriança se situa em termos de desenvolvimento emocional, de como vem evoluindo o seu processo de interação social, da natureza da realidade linguística envolvida no momento em que está acontecendo a alfabetização, mais condições terá esse professor de encaminhar de forma agradável e produtiva o processo de alfabetização sem os sofrimentos habituais. Agindo dessa forma, o professor estará mais livre para selecionar os métodos, as técnicas; buscará os rumos e os ritmos que considere mais adequados a sua turma, colocando sua sensibilidade acima de qualquer modelo preestabelecido. É preciso que os professores que atuam nas escolas procurem aprofundar seus conhecimentos teóricos, desenvolvam o hábito de refletir sobre seu trabalho, deixem de ser menos aplicadores de pacotes educacionais e sejam de fato educadores, agentes transformadores e facilitadores da aquisição de conhecimento por parte do educando (CAGLIARI, 1990, p. 14). A escrita é algo com o qual os adultos estão tão envolvidos que nem se dão conta de como vive alguém que não lê e não escreve, de como a criança encara essas atividades, de como de fato funciona esse mundo caótico e complexo, que nos parece tão familiar, de uso fácil. O ensino do português tem sido fortemente dirigido para a escrita, chegando mesmo a se preocupar mais com aparência da escrita do que com que ela realmente faz e representa. 27 Um dos objetivos mais importantes da alfabetização é ensinar a escrever. A escrita é uma atividade nova para a criança e por isso mesmo requer um tratamento especial na alfabetização. Espera-se que a criança, no final de um ano de alfabetização, saiba escrever e não que saiba escrever tudo com correção absoluta esse é um ponto importante que relega a um plano secundário: a preocupação com a ortografia durante o primeiro ano escolar. A escola é talvez seja o único lugar onde se escreve muitas vezes sem motivos... Certas atividades da escola representam um puro exercício de escrever. Na alfabetização isso pode trazer problemas sérios para certos alunos. Estamos tão acostumados a ler e a escrever em nossas vidas diárias, que não percebemos que nem todos leem e escrevem como nós. [...] Antes de ensinar a escrever, é preciso saber o que os alunos esperam da escrita qual julgam ser sua utilidade e, a partir daí, programar as atividades adequadamente. (CAGLIARI, 1990, p. 101). Se refletirmos, por um momento, sobre o processo da aquisição da linguagem oral, veremos que as crianças aprendam a falar naturalmente, dotadas de características genéticas para falar em contato como o modelo, uma criança em pouquíssimo tempo adquiriu o domínio verbal de sua língua. Nesse contato tem a oportunidade, a liberdade de atuar sobre o objeto (a fala), de formular hipóteses sobre suas formas, de tentar generalizações, de errar (porque não) na busca dos caminhos permitidos pelo modelo. Quando suas tentativas não são bem sucedidas, os falantes adultos, de vários modos, atuam como mediadores entre a criança e o modelo, de tal modo que ela acaba construindo naturalmente o seu sistema linguístico de maneira adequada. Mas, com relação à escrita, o que vemos é a imposição de um modelo, sem qualquer possibilidade, espacial ou temporal, para a experimentação, tentativas e descobertas de cada criança, que se limitam, como tarefas, a fazer cópias de vários traçados num verdadeiro exercício de treinamento manual. Porém, muitos exercícios de “controle motor” que se encontram nas cartilhas são desprovidos de qualquer planejamento educativo para escrita, ou, na maioria dos casos, não é elaborada com o objetivo específico de treinar a arte de escrever preocupados demais com a ortografia, a escola por vezes esquece que o principal, no primeiro momento, é que as crianças transportem suas habilidades de falantes para os textos escritos. Aos poucos se cuidará da ortografia, mas isso deve ser feito de uma forma que não amedronte quem ainda não sabe escrever. 28 2.2 ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO O termo letramento “começou a ser usado nos meios acadêmicos numa tentativa de separar os estudos sobre o ‘impacto social da escrita’ dos estudos sobre a alfabetização, cujas conotações escolares destacam as competências individuais no uso na prática da escrita”. Esse conceito, segundo Soares (2004), diz respeito ao estado ou à condição assumida pelos que aprendem a ler e escrever. Portanto, esse conceito está relacionado à ideia de que – tanto para o grupo social em que a escrita seja introduzida quanto para o indivíduo que aprenda a fazer uso dela – a escrita traz diversas consequências: sociais, culturais, políticas, econômicas, cognitivas, linguísticas. Assim, ao aprender a ler e escrever, ao tornar- se alfabetizado, ao adquirir a “tecnologia”, a habilidade do ler e escrever, ao envolver-se nas práticas sociais de leitura e escrita, o indivíduo passa a sofrer consequências, alterações de diferentes ordens no seu estado ou condição. Contudo, Soares (2004) salienta que é importante entender que os estudos sobre letramento – ao apontarem que indivíduos ou grupos sociais que se envolvem com práticas sociais de leitura e escrita sofrem consequências sociais – não estão fazendo referência propriamente ao ato “de mudar de nível ou de classe social, cultural, mas de mudar seu lugar social, seu modo de viver na sociedade, sua inserção na cultura – na sua relação com os outros, com o contexto, com os bens culturais”. Soares (2004), ainda chama a atenção para o fato de que “um indivíduo pode não saber ler e escrever, isto é, ser analfabeto, mas ser, de certa forma, letrado”; (grifos da autora), pois esse indivíduo pode viver em um contexto no qual a leitura e a escrita estejam fortemente presentes. Se ele solicita, por exemplo, que outras pessoas lhe leiam placas, cartas, avisos, se ele se interessa que outros façam a leitura de jornais para ele, esse indivíduo está fazendo uso da escrita, está envolvendo-se em práticas sociais de leitura e de escrita. Entretanto, devido ao fato de o conceito de letramento ter sua origem numa ampliação do conceito de alfabetização, esses dois processos tem sido frequentemente confundidos e até mesmo fundidos. Pode-se admitir que, no plano conceitual, talvez a distinção entre alfabetização e letramento não fosse necessária, bastando que se resinificasse o conceito de alfabetização (como sugeriu Emília 29 Ferreiro em recente entrevista concedida à revistaNova Escola no plano pedagógico, porém a distinção torna-se conveniente, ainda que distintos, os dois processos sejam reconhecidos como indissociáveis e interdependentes). Assim, por um lado, é necessário reconhecer que alfabetização: - entendida como a aquisição do sistema convencional de escrita, distingue- se de letramento; - entendida como o desenvolvimento de comportamento e habilidades de uso competente da leitura e da escrita em práticas sociais: distinguiu-se tanto em relação aos objetos de conhecimento quanto em relação aos processos cognitivos e linguísticos de aprendizagem e, portanto, também de ensino desses diferentes objetos, isso explica porque é conveniente a distinção entre os dois processos. Por outro lado, é necessário também reconhecer que, embora distintos, alfabetização e letramento são interdependentes e indissociáveis: alfabetização só tem sentido quando desenvolvida no contexto das práticas sociais da leitura e da escrita, ou seja, em um contexto de letramento por meio de atividades de letramento; este por sua vez só pode desenvolver-se na dependência da e por meio da aprendizagem do sistema da escrita. 2.3 A PRÁTICA DA LEITURA E DA ESCRITA NAS SÉRIES INICIAIS Segundo Libâneo (2000), cada dia percebe-se como a caminhada enquanto educador vai se passando ao longo de nossos trabalhos e rapidamente a cada passo se descobre nossas realidades e nossas possibilidades, onde se possa compreender a importância da pesquisa para a vivência acadêmica, e a necessidade de pensar o complexo para entender e enxergar a totalidade da interdisciplinaridade no campo da leitura e da escrita nas séries iniciais. A alfabetização é uma das etapas que contribui para a evolução intelectual do aluno, e é um processo contínuo que ocorre de maneira gradativa. Não basta apenas codificar e decodificar. O aluno precisa interpretar compreender e assimilar o conteúdo para que efetivamente ocorra o ensino e aprendizagem da leitura e escrita. No processo de alfabetização, o professor e o aluno ocupam papel de destaque, caminhando juntos na construção do conhecimento e objetivando as mesmas ideias. Durante esse percurso, é significativa a importância dada aos trabalhas desenvolvidos coletivamente, pois priorizam ações e posturas que 30 desencadeiam interações entre alunos, contribuindo de forma expressiva, para o processo pedagógico, o qual também auxiliará na formação do aluno como sujeito ativo e pensante na sociedade. Atualmente, com o ensino fundamental de nove anos, os alunos iniciam a etapa da alfabetização aos seis anos de idade e um dos grandes desafios do professor é trabalhar com alfabetização e letramento em sala de aula. O parecer nº 4/2008 (Brasil, 2008) define a obrigatoriedade da matrícula da criança com seis anos de idade completo até o inicio do ano letivo, no primeiro ano do ensino fundamental. Esse parecer, também ressalta que: os três anos iniciais são importantes para a qualificação básica, voltados à alfabetização e ao letramento, é necessário que a ação pedagógica assegure nesse período o desenvolvimento das diversas expressões e o aprendizado das áreas de conhecimento. A alfabetização de uma maneira geral tem sido uma questão bastante discutida, principalmente pelos profissionais de educação, por se observar ainda uma grande dificuldade na aprendizagem da leitura e da escrita da criança. Na atualidade, esta questão vem recebendo atenção especial, principalmente se considerarmos a alfabetização não apenas como o aprendizado da leitura e da escrita, mas a importância de todo seu contexto social, histórico e econômico, aos quais está inserido o sujeito, tendo como base o contexto do letramento muito defendido por Magda Soares (doutora em educação, licenciada em letras) que dá ênfase a discussão da importância de uma alfabetização voltada a um contexto, onde a leitura e a escrita tenha sentido com o real. É preciso defender a importância da linguagem relacionada também às bases naturais da criança e à estimulação da aquisição desta linguagem levando-se em consideração processos básicos essenciais para o seu desenvolvimento. É por meio dela, que deixamos nossas marcas no tempo em que contribuímos com a evolução humana do conhecimento. Uma das grandes pesquisadoras que discute os processos da língua escrita é a psicóloga e psicolinguística argentina Emília Ferreiro que concentra suas pesquisas em mecanismos cognitivos relacionados à leitura e à escrita comprovando o importante papel que a criança tem na construção do seu próprio conhecimento. Assim, diferente do que ouvimos dizer, Emília Ferreiro não desenvolveu um método, mas observou como se realiza a construção da linguagem escrita, percebendo que a criança reinventa a escrita. 31 Outros pesquisadores também concentraram seus estudos na realidade educacional da alfabetização a exemplo de Ana Teberosky que também desenvolveu pesquisas na área da linguagem. Várias são as perspectivas que norteiam o processo da leitura e da escrita referente à criança, onde busca localizar a alfabetização como processo vinculador aos usos sociais da língua destacando as diferenças dialetais, e, por outro lado à linguística que concebe a alfabetização como um processo de formação gramatical da escrita. Assim a criança terá não somente que compreender, mas entender os elementos da linguagem oral e escrita, apropriando-se desta nova aprendizagem. Nesse processo, é de fundamental importância a interação da criança com o meio. Pelo processo de alfabetização perpassam por vários fatores, desde o seu desenvolvimento emocional, social da natureza linguística que está inserida, da relação escolar e sociedade, pois o trabalho de alfabetização não se restringe apenas a sala de aula. 2.4 ORALIDADE, LEITURA E ESCRITA: PRINCIPAIS CAMINHOS PARA A APRENDIZAGEM Para Cagliari (1990), um dos objetivos mais importantes da alfabetização é ensinar a escrever. A escrita é uma atividade nova para criança, e por isso mesmo requer um tratamento especial na alfabetização. A criança que se inicia na alfabetização já é um falante capaz de entender e falar a língua portuguesa com desembaraço e precisão nas circunstâncias de sua vida em que precisa usar a linguagem. Mas não sabe escrever nem ler. Esses são usos novos da linguagem para ela, e é sobretudo o que ela espera da escola. (CAGLIARI, 1990, p. 29). Conforme Cagliare (1990), atualmente no âmbito educacional percebe-se grande influência da fala cotidiana do aluno em relação à escrita proporcionando reflexão dos profissionais da educação em busca de alternativas para a melhoria da linguagem oral e escrita de forma contextualizada permitindo uma aprendizagem de qualidade em que a expressão verbal oral e escrita possibilita aos alunos reelaborar e organizar suas representações sociais, adequando a fala às diferentes formas de comunicação para que o aluno compreenda as diferenças entre a oralidade e a escrita. 32 Há muito preconceito na sociedade com relação às falas dialetais. No entanto, cabe ao professor não desvalorizar a fala dos alunos, mas saber adequar o registro às formas de comunicação mostrar-lhes a grande variedade de usos da fala, trabalhar com eles os diferentes níveis a partir do coloquial ao mais formal. É relevante considerar que o sucesso do processo de alfabetização se dá através do posicionamento do professor em sensibilizar o aluno a encontrar o caminho e o prazer pela descoberta de falar, de ler e escrever, utilizando-as para desenvolver a capacidade de pensar e crescer, proporcionando atividades significativas como: trabalhos em grupos, debates, histórias, dramatização, entre outros, considerando o nível de desenvolvimento cognitivo do aluno. Sendo assim, um sujeito atuante, que sente liberdade, prazer e gosto em ser alfabetizado, sentindo-se valorizado ao participardesse processo. Segundo Freire (1996) “A educação sozinha não transforma a sociedade, sem ela tampouco a sociedade muda.”. Percebe-se que a sociedade moderna nos bombardeia com uma série de informações, na maioria das vezes sem significados, fazendo com que essa violência simbólica torne as pessoas individualistas, consumistas e meras reprodutoras do sistema, ou seja, seres alienados, impossibilitando a reflexão sobre as relações e problemas sociais e sobre a práxis pedagógica. Deve-se então, quebrar os grilhões que aprisionam todos a uma prática mecanicista de ensino, onde os alunos ainda são vistos como meros armazenadores de “determinados” conhecimentos e procurar sair do discurso e buscar uma práxis para que se forme não apenas leitores de textos, mas leitores de mundo e agentes transformadores da realidade. Deve-se trabalhar a oralidade, a leitura e a escrita como base para alfabetizar, proporcionando ao educando a oportunidade se apaixonar. Sim, e porque não se apaixonar pelas letras? Pois, a finalidade da educação é formar apaixonados pela vida, pelo conhecimento, pelo outro, para tornar o ambiente (em que) no qual se vive, mais humano e significativo, comprometido consigo e com a sociedade. 33 2.5 A LEITURA E A ESCRITA COMO FATORES FUNDAMENTAIS NO PROCESSO DE ALFABETIZAÇAO Segundo Cagliari (2001) escrever e ler são duas atividades da alfabetização conduzidas mais ou menos paralelamente. Ensina-se a ler e escrever letras, famílias silábicas, palavras, frases e textos. Na prática, ao longo do ano escolar, se dá muito mais ênfase a escrita do que a leitura. Exige-se muito mais do aluno com relação à escrita do que com relação à leitura. Isso se deve ao fato de que a escola sabe avaliar mais facilmente os acertos e erros de escrita e não sabe muito bem o que o aluno faz quando lê, e a escola tem a mania de querer controlar tudo. O privilégio da escrita sobre a leitura na escola se deve a essa maior facilidade de avaliação escolar. Porém, ler, principalmente nos primeiros anos da escola, parece uma atividade tão importante quanto a produção espontânea de textos, ou talvez até mais importante. É preciso repensar esses procedimentos em relação à escrita e à leitura na escola, dando lugar de maior prestigio a leitura desde o início do processo de alfabetização. Uma criança que aprende a ler toma velocidade no aprendizado da primeira série. Um aluno que não lê aprenderá o resto com dificuldade e pode passar a ter uma relação delicada com a escrita, não entendendo muito bem o que esta é e nem como funciona. É fundamental, para alfabetização, evidenciar as relações lógicas possíveis, buscando a produção de significados e sentidos a partir do funcionamento concreto da escrita. As práticas pedagógicas que se distanciam da reflexão linguística, da discussão das regularidades, do reconhecimento da complexidade que envolve a compreensão do sistema alfabético e ortográfico da escrita, podem levar a uma aprendizagem sem significado, afastando os alunos da leitura e da escrita. Essas discussões sobre a alfabetização sempre despertaram muito interesse, revelando a grande preocupação na busca de maior compreensão dos aspectos envolvidos no processo de alfabetizar. A dificuldade enfrentada pela escola em seu trabalho de ensinar os alunos a ler e a escrever vem instigando a realização de muitas pesquisas que se propõem a apontar caminhos para efetivação de um trabalho que, de fato, promova o acesso dos alunos em geral ao mundo que é organizado e orientado pela escrita. 34 2.6 ALUNOS E PROFESSORES COMO PRINCIPAIS SUJEITOS DO PROCESSO DE APRENDIZAGEM A interação professor-aluno é um aspecto fundamental da organização “situação didática”, tendo em vista alcançar os objetivos do processo de ensino: “a transmissão e assimilação dos conhecimentos, hábitos e habilidades.” Entretanto, esse não é o único fator determinante da organização de ensino, razão pela qual ele precisa ser estudado com outros fatores, principalmente a forma de aula (atividade individual, atividade coletiva, atividade em pequenos grupos, atividade fora da classe.). Podem-se ressaltar dois aspectos da interação professor-aluno no trabalho docente: o aspecto cognitivo (que diz respeito às formas de comunicação dos conteúdos e às tarefas escolares indicados aos alunos) e o aspecto sócio emocional (que diz respeito às relações pessoais entre professor e aluno e às normas disciplinares indispensáveis ao trabalho docente). Reforçando os princípios antes propagados por Piaget (2008), a aprendizagem se processa em uma relação interativa entre o sujeito e a cultura em que vive. Isso quer dizer que, ao lado dos processos cognitivos de elaboração absolutamente pessoal (ninguém aprende pelo outro), há um contexto que, não só fornece informações específicas ao aprendiz, como também motiva, dá sentido e “concretude” ao aprendido, e ainda condiciona suas possibilidades efetivas de aplicação e uso nas situações vividas. Entre o homem e os saberes próprios de sua cultura, há que se valorizar os inúmeros agentes mediadores da aprendizagem (não só o professor, nem só a escola, embora estes sejam agentes privilegiados pela sistemática pedagogicamente planejada, objetivos e intencionalidade assumida). 35 3 METODOLOGIA 3.1 TIPOS DE PESQUISA Esta pesquisa tem caráter exploratório e descritivo, além de uma abordagem qualitativa e quantitativa cuja natureza dos dados é de fontes objetivas. O método principal aplicado foi a coleta de dados que consiste na sistematização de informações encontradas sobre o tema, ou seja, o levantamento de dados relacionados ao tema da pesquisa; a busca realizada através de observações não participativas em sala de aula. Este método é usado quando o problema da pesquisa deseja saber a causa, o por quê. Será realizada por meio da pesquisa etnográfica no âmbito escolar, a qual irá possibilitar compreender não de forma dedutiva, mais de forma crítica e reflexiva as causas dos problemas. Portanto, realizaram-se quatro visitas a uma escola da rede pública no meio urbano, por se encaixar no perfil desejado desta pesquisa, sendo detalhada a seguir: 3.2 CONTEXTUALIZANDO O LÓCUS DA PESQUISA HISTÓRICO DA ESCOLA Figura 1 - Raimundo Ribeiro Dias Fonte: Arquivo Pessoal Figura 2 - Raimundo Ribeiro Dias 2 36 Fonte: Arquivo Pessoal Figura 3 - Raimundo Ribeiro Dias 3 Fonte: Arquivo Pessoal A Escola Municipal de Ensino Fundamental Raimundo Ribeiro Dias localiza- se na travessa Dulcicléia Torres, nº 756, neste município de Gurupá. Com (O) código do INEP 15545857. Foi fundada em maio de 1996, com prédio próprio e é composta por uma infraestrutura com dez salas de aula; 1 sala de vídeo que funciona de acordo com o planejamento dos professores; 1 biblioteca; 1 laboratório de informática que funciona de segunda à sexta-feira em todos os horários; 1 secretaria; 1 diretoria; sala de professores; 10 banheiros sendo masculino e 37 feminino; cozinha, 1 depósito de merenda e a área de refeitório; 1 horta que é tratada por uma equipe de funcionários que contribui com o projeto “Amigo da horta”. A escola atende cerca de mil alunos distribuídos em quatro turnos: matutino, intermediário, vespertino e noturno; a média por turma é de 30 a 35 alunos e, mais de 90% são residentes na área urbana. A escola conta com um quadro de 102 funcionários entre professores, serventes, inspetores, porteiros, diretora, vice- diretora, secretária, digitadores, auxiliar administrativo e coordenadores pedagógicos, merendeiras e zeladores todos empenhados com a educação. A escola desenvolve alguns projetos elaborados pelos professores, como: Projeto de Incentivo a Leitura, executado todos os dias de segunda à sexta-feira. O referido projeto tem comoobjetivo fazer com que os alunos atendidos despertem o prazer pelo encantado mundo dos livros; são atendidos pelo projeto a média de 22 alunos por turma que dominam a leitura. Além deste, há o projeto “Arte e Cultura” que insere o grupo do Coral, teatro, dança e capoeira com o objetivo de trabalhar a cultura local e a inclusão por meio da música, dança e expressão corporal, esse projeto atende mais de 50 alunos. A escola conta também com Programa do Governo Federal “Mas Educação”, que se iniciou no segundo semestre de 2013. Esse projeto contribui com várias atividades extras curriculares com todos os discentes da escola sendo que o projeto está inserido em todos os turnos com todas as turmas uma vez por semana. Esses trabalhas ajudam a desenvolver suas competências e habilidades de acordo com suas atividades. A questão profissionalização é considerada a importância vital nesta escola, uma vez que a maioria do quadro de docentes é formada com nível superior, e outros estão cursando pelo PARFOR e, outro ponto positivo é que 95% do quadro são funcionários efetivos desse município. 3.3 CONTEXTO/PARTICIPANTES DA PESQUISA Os participantes da pesquisa foram: professores e alunos da Escola Municipal de Ensino Fundamental Raimundo Ribeiro Dias neste município de Gurupá. 38 3.4 COLETA DOS DADOS A coleta de dados foi realizada por meio de observações, Aplicação de questionários e entrevista. 3.5 ANALISE DOS DADOS A análise dos dados foi feita com base nas anotações das observações em sala de aula, tanto do professor quanto do rendimento apresentados pelos alunos e nas respostas obtidas através das entrevistas e questionários. 39 4. RESULTADO E DISCUSSÃO 4.1 A PESQUISA DE CAMPO Esta pesquisa realizou-se em uma Escola Municipal de Ensino Fundamental denominada Raimundo Ribeiro Dias no município de Gurupá em uma turma de 2º ano na faixa etária de 7 a 10 anos, com o objetivo de analisar a atuação do professor mediante o seu trabalho de alfabetização e letramento no 2°ano do ensino fundamental. Portanto, foram realizadas observações em sala de aula para melhor conhecer práticas e concepções adotadas pela professora na sua sala de aula e conhecer suas ações e as metodologias pedagógicas desenvolvidas pela discente. 4.1.1 A atuação do professor mediante o seu trabalho de alfabetização e letramento no 2°ano do ensino fundamental Com o objetivo de analisar a atuação do professor mediante o seu trabalho de alfabetização e letramento no 2°ano do ensino fundamental, utilizou-se de dois momentos: primeiro de observação em sala de aula e o segundo aplicação de questionário e entrevista. No momento de observação podemos afirmar que: os aspectos mais fortes que chamaram à atenção foram: • As dificuldades que o professor ainda encontra ao desenvolver o processo de alfabetização, mesmo aplicando os mais variados métodos. • O professor exige muito mais do aluno com relação à escrita do que com relação à leitura para acompanhar o nível de aprendizagem do seu aluno. • A falta de apoio que o professor sente por parte da gestão e coordenação pedagógica da escola. • A superlotação encontrada nas turmas de alfabetização prejudicando ainda mais o trabalho do professor. • O descumprimento dos dias letivos em sala de aula: facultados e festividades locais. • Muitas vezes, o professor não buscava interpretar os rabiscos do seu aluno. 40 • Alunos especiais inseridos nas turmas lotadas e o professor sem nenhuma Diante das observações e entrevistas realizadas nas turmas do 2º ano do ensino fundamental da escola Raimundo Ribeiro Dias, detectou-se a partir de entrevista, as dificuldades, os anseios encontrados em sala de aula, e as opiniões por meio de questionários sobre as inquietações exposta pelos professores denominados: A, B, C, e D, onde vamos detalha-se a seguir: Com base nas respostas dadas, percebeu-se na fala do professor A, que este ainda desenvolve uma prática pedagógica estagnada, fazendo entender que o mesmo não se renova e não busca conhecimentos e aplicação de uma prática inovadora. No entanto, os demais professores B, C e D demonstram ter conhecimentos e fundamentos norteadores dentro de suas ações em sala de aula proporcionando aos seus alunos um alfabetizar letrando diferenciado e dinâmico, buscando várias formas de melhor desenvolver suas aulas, inúmeras dinâmicas, porém seus alunos � Com o surgimento do alfabetizar letrando, quais foram as mudanças em sua prática pedagógica? Profº A : Acredito que nenhuma, por ser novo na área da educação, desde o início só trabalho de uma forma. Profº B : Ensinar a partir da realidade e da vivência no qual o meu aluno está inserido, respeitando seu conhecimento prévio. Profº C : Antes de conhecer de forma profunda conceitos como alfabetização e letramento mudei muito a minha prática pedagógica, pois não tinha mais a cartilha como único instrumento para alfabetizar meus alunos. Entendi que era preciso ir além do código escrito (letras, sílabas), era preciso usar textos que circulem em nosso dia a dia como: listas, placas, bilhetes, revistas, calendários, livros de historias, receitas, etc. Profº D : Foram muitas, aprendi a aplicar o ensinamento por meio de dinâmicas na forma mais prazerosa e assim possibilitar ao meu aluno que este aprenda a ler e escrever, desenvolvendo seu raciocínio, buscando desenvolver uma prática voltada para que todos aprendam com mais eficácia. 41 ainda apresentam dificuldades na leitura e na escrita segundo nossas observações. O que reforça a autora Magda Soares (2004, p. 22): Esse alfabetizar letrando, ou letrar alfabetizando, pela integração e pala articulação de várias facetas do processo de aprendizagem inicial da língua escrita, é sem dúvida, o caminho para superação dos problemas que vimos enfrentando nessa etapa da escolarização descaminhos serão tentativas de voltar a privilegiar esta ou aquela faceta , como se fez no passado, como se fez hoje, sempre resultando em fracasso, esse reiterado fracasso da escola brasileira em dar as crianças acesso efetivo e competente ao mundo da escrita. � Do seu ponto de vista, qual a metodologia que mais se encaixa na prática do ensino da leitura e da escrita? Profº A : Acredito que é a que envolve a criatividade onde o professor consegue utilizar textos, explorando a leitura e a escrita em fator de aprendizagem para a vida concreta da criança. Profº B : Ensinar da parte para todo objetivando o reconhecimento das letras, sílabas, palavras, textos, e interpretação relacionados ao seu cotidiano. Profº C : Para mim a melhor metodologia para alfabetizar uma pessoa (criança ou adulto) é o método global, porque tem como base um texto, uma frase ou uma palavra no qual aquela pessoa esteja inserida, sendo que estas devem ser significativas para os aprendizes. Profº D : Para mim a melhor metodologia para alfabetizar é a que tem como base fundamental a contextualização da vida do cotidiano do aluno e que para este aluno o texto, as palavras e a leitura tenham significado para o entendimento e desenvolvimento do educando. Diante das respostas dadas percebeu-se na fala dos professores participantes da pesquisa, que ambos se preocupam em desenvolver uma metodologia que mais se aproxima da realidade de suas crianças valorizando sua vivência, seu cotidiano e principalmente sua cultura buscando significados concretos para sua aprendizagem. Assim, as práticas em sala de aula devem estar orientadas de modo que se promova a alfabetização na perspectiva de letramento e, tomando as palavras de Soares (2001), que se proporcione a construção e habilidades para o exercício efetivo e competente da leitura e da escrita. E que este exercício
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