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2ª geração do modernismo (1930 a 1945) Contexto: · Escola literária mais importante do Brasil · 1929 - Desemprego, fome, crise econômica mundial · 1930 - Início da Era Vargas: ditadura! · Cerceamento de direitos · 1939 – 2ª guerra mundial Características: · Angústia, escrita mais intensa · Analisa como o ser humano é capaz de criar situações de destruição: bomba atômica, campos de concentração · Análise psicológica do homem Observações: regionalismo só existe em prosa, não em poesia! Os poemas sempre apresentam vínculos sociais, com o povo, mas isso é mais explícito na prosa. Nomes: Poesia Carlos Drummond de Andrade, maior poeta do Brasil Vinícius de Moraes Cecília Meireles Jorge de Lima Prosa Jorge Amado Raquel de Queiroz Érico Veríssimo José Lins do Rego Graciliano Ramos Palavra-chave dessa geração: consolidação A 2ª. Geração já chegou com prestígio: o modernismo já era uma escola literária consolidada, a sociedade aceitava e gostava. Seus autores voltaram a fazer textos em forma mais tradicional: já não tinham que chocar a sociedade Carlos Drummond de Andrade O mais importante poeta brasileiro. Ida ao passado: - poeta memorialista - Volta ao passado para se fortalecer e ter esperança para combater as mazelas do cotidiano - Se conecta com os amigos para juntos enfrentarem os problemas - Prega a união entre as pessoas. No meio do caminho No meio do caminho tinha uma pedra Tinha uma pedra no meio do caminho Tinha uma pedra No meio do caminho tinha uma pedra Nunca me esquecerei desse acontecimento Na vida de minhas retinas tão fatigadas Nunca me esquecerei que no meio do caminho Tinha uma pedra Tinha uma pedra no meio do caminho No meio do caminho tinha uma pedra. · Pedra – problema, obstáculo · A vida foi paralisada por esses obstáculos · Tinha – coloquialidade Construção em X A B B A Quiasmo Poema de sete faces Quando nasci, um anjo torto Desses que vivem na sombra Disse: Vai, Carlos! Ser gauche na vida As casas espiam os homens Que correm atrás de mulheres A tarde talvez fosse azul Não houvesse tantos desejos O bonde passa cheio de pernas Pernas brancas pretas amarelas Para que tanta perna, meu Deus, pergunta meu coração Porém meus olhos Não perguntam nada O homem atrás do bigode É sério, simples e forte Quase não conversa Tem poucos, raros amigos O homem atrás dos óculos e do bigode Meu Deus, por que me abandonaste Se sabias que eu não era Deus Se sabias que eu era fraco Mundo mundo vasto mundo Se eu me chamasse Raimundo Seria uma rima, não seria uma solução Mundo mundo vasto mundo Mais vasto é meu coração Eu não devia te dizer Mas essa lua Mas esse conhaque Botam a gente comovido como o diabo · Sexualidade · O bonde passa cheio de pernas – metonímia · Para que tanta perna, meu Deus – muito desejo, não consegue tirar o olhar · Seria uma rima – referência direta à sua profissão – poesia como elemento de resgate e o que dá força. · Mais vasto é o meu coração – o poeta é uma pessoa que ama ao próximo Mãos dadas Não serei o poeta de um mundo caduco Também não cantarei o mundo futuro Estou preso à vida e olho meus companheiros Estão taciturnos mas nutrem grandes esperanças Entre eles, considero a enorme realidade O presente é tão grande, não nos afastemos Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas Não serei o cantor de uma mulher, de uma história Não direi os suspiros ao anoitecer, a paisagem vista da janela Não distribuirei entorpecentes ou cartas de suicida Não fugirei para as ilhas nem serei raptado por serafins O tempo é a minha matéria, o tempo presente, os homens presentes A vida presente · Referência a estar perto um do outro · 1º e 2º versos: caduco -> velho · Não vai falar do passado nem do futuro: ele fala do momento! · Ele não foge do que está acontecendo, abraça o presente problemático · Taciturno: para baixo, deprimido porém nutre esperança Introdução à Cecília Meireles, Jorge de Lima e Murilo Mendes Muitas características ligadas ao simbolismo Caráter mais intimista, subconsciente “Neosimbolista” Católicos politizados: amor ao próximo, justiça solidária Não é o catolicismo de fé apenas, mas também de ação (doação, mudança) “Neobarrocos”: vão pelo caminho da espiritualidade para lidar com os problemas (questão terrena). Há presença do otimismo e do material (morte, problemas), lembra o Barroco Cecília Meireles Tenta entender como o ser humano chegou ao ponto de destruir o outro Psicanálise, luta para entender a consciência do homem Epigrama n. 2 És precária e veloz, Felicidade. Custas a vir e, quando vens, não te demoras. Foste tu que ensinaste aos homens que havia tempo, e, para te medir, se inventaram as horas. Felicidade, és coisa estranha e dolorosa: Fizeste para sempre a vida ficar triste: Porque um dia se vê que as horas todas passam, e um tempo despovoado e profundo, persiste. · Noção psicológica do tempo · Coisas ruins passam devagar, coisas boas passam rápido · Tempo como vilão · Felicidade: surge e vai embora, não sabemos quando ela vai voltar · Já tivemos a felicidade. Dói saber como é não estar mais vivendo isso. Causa angústia Mas o que é o Epigrama? É um poema satírico. Pequena canção da onda Os peixes de prata ficaram perdidos, com as velas e os remos, no meio do mar. A areia chamava, de longe, de longe, Ouvia-se a areia chamar e chorar! A areia tem rosto de música e o resto é tudo luar! Por ventos contrários, em noite sem luzes, do meio do oceano deixei-me rolar! Meu corpo sonhava com a areia, com a areia, desprendi-,e do mundo do mar! Mas o vento deu na areia. A areia é de desmanchar. Morro por seguir meu sonho, Longe do reino do mar! · Ideia de infinitude · Náufrago sozinho · Simbolismo (marcante inspiração dessa escola literária) · A areia não está perto! Não há esperança, só basta sonhar. Jorge de Lima Essa negra fulô Ora, se deu que chegou (isso já faz muito tempo) no bangüê dum meu avô uma negra bonitinha, chamada negra Fulô. Essa negra Fulô! Essa negra Fulô! Ó Fulô! Ó Fulô! (Era a fala da Sinhá) — Vai forrar a minha cama pentear os meus cabelos, vem ajudar a tirar a minha roupa, Fulô! Essa negra Fulô! Essa negrinha Fulô! ficou logo pra mucama pra vigiar a Sinhá, pra engomar pro Sinhô! Essa negra Fulô! Essa negra Fulô! Ó Fulô! Ó Fulô! (Era a fala da Sinhá) vem me ajudar, ó Fulô, vem abanar o meu corpo que eu estou suada, Fulô! vem coçar minha coceira, vem me catar cafuné, vem balançar minha rede, vem me contar uma história, que eu estou com sono, Fulô! Essa negra Fulô! "Era um dia uma princesa que vivia num castelo que possuía um vestido com os peixinhos do mar. Entrou na perna dum pato saiu na perna dum pinto o Rei-Sinhô me mandou que vos contasse mais cinco". Essa negra Fulô! Essa negra Fulô! Ó Fulô! Ó Fulô! Vai botar para dormir esses meninos, Fulô! "minha mãe me penteou minha madrasta me enterrou pelos figos da figueira que o Sabiá beliscou". Essa negra Fulô! Essa negra Fulô! Ó Fulô! Ó Fulô! (Era a fala da Sinhá Chamando a negra Fulô!) Cadê meu frasco de cheiro Que teu Sinhô me mandou? — Ah! Foi você que roubou! Ah! Foi você que roubou! Essa negra Fulô! Essa negra Fulô! O Sinhô foi ver a negra levar couro do feitor. A negra tirou a roupa, O Sinhô disse: Fulô! (A vista se escureceu que nem a negra Fulô). Essa negra Fulô! Essa negra Fulô! Ó Fulô! Ó Fulô! Cadê meu lenço de rendas, Cadê meu cinto, meu broche, Cadê o meu terço de ouro que teu Sinhô me mandou? Ah! foi você que roubou! Ah! foi você que roubou! Essa negra Fulô! Essa negra Fulô! O Sinhô foi açoitar sozinho a negra Fulô. A negra tirou a saia e tirou o cabeção, de dentro dêle pulou nuinha a negra Fulô. Essa negra Fulô! Essa negra Fulô! Ó Fulô! Ó Fulô! Cadê, cadê teu Sinhô que Nosso Senhor me mandou? Ah! Foi você que roubou, foi você, negra fulô? Essa negra Fulô! · Poema mais famoso deste poeta. · Protagonismo à uma mulher negra e escravizada. · Parte mais polêmica: final. Para fugir do açoite, ela seduz o sinhô (era a única coisa que tinha) Mulher proletária Mulher proletária — única fábrica queo operário tem, (fabrica filhos) tu na tua superprodução de máquina humana forneces anjos para o Senhor Jesus, forneces braços para o senhor burguês. Mulher proletária, o operário, teu proprietário há de ver, há de ver: a tua produção, a tua superprodução, ao contrário das máquinas burguesas salvar o teu proprietário. · Grande valor de produção: filhos · Ela seria mais uma peça na fábrica do senhor burguês · 4ª estrofe: muitas crianças morriam · Luta para ver a importância da dona de casa e da mulher na sociedade Murilo Mendes Filiação Eu sou da raça do Eterno. Fui criado no princípio E desdobrado em muitas gerações Através do espaço e do tempo. Sinto-me acima das bandeiras, Tropeçando em cabeças e chefes. Caminho no mar, na terra e no ar. Eu sou da raça do Eterno, Do amor que unirá todos os homens: Vinde a mim, órfãos da poesia, Choremos sobre o mundo mutilado. Religiosidade = força Poema Espiritual Eu me sinto um fragmento de Deus Como sou um resto de raiz Um pouco de água dos mares O braço desgarrado de uma constelação. A matéria pensa por ordem de Deus, Transforma-se e evolui por ordem de Deus. A matéria variada e bela É uma das formas visíveis do invisível. Cristo, dos filhos do homem és o perfeito. Na igreja há pernas, seios, ventres e cabelos Em toda parte, até nos altares. Há grandes forças de matéria na terra no mar e no ar Que se entrelaçam e se casam reproduzindo Mil versões dos pensamentos divinos. A matéria é forte e absoluta Sem ela não há poesia. · Matéria e ordem de Deus · Questão espiritual explícita (influência barroca) · Gramática: Na terra no ar e no mar -> o autor optou pela ausência da vírgula para entrelaçar! · Valoriza a matéria também! Une com o espírito · A matéria é uma criação de Deus Vinícius de Moraes (1913 a 1980) A Rosa de Hiroshima Pensem nas crianças Mudas telepáticas Pensem nas meninas Cegas inexatas Pensem nas mulheres Rotas alteradas Pensem nas feridas Como rosas cálidas Mas oh não se esqueçam Da rosa da rosa Da rosa de Hiroxima A rosa hereditária A rosa radioativa Estúpida e inválida A rosa com cirrose A antirrosa atômica Sem cor sem perfume Sem rosa sem nada. · Semelhança visual entre a rosa e a fumaça da bomba · Desconstrução do visual usual da rosa · Antirrosa – oposto da semântica no entorno da rosa O operário em construção · Poema narrativo sobre desigualdades · Associação do patrão ao diabo e do operário a Deus Soneto da fidelidade De tudo, ao meu amor serei atento antes E com tal zelo, e sempre, e tanto Que mesmo em face do maior encanto Dele se encante mais meu pensamento Quero vivê-lo em cada vão momento E em seu louvor hei de espalhar meu canto E rir meu riso e derramar meu pranto Ao seu pesar ou seu contentamento E assim quando mais tarde me procure Quem sabe a morte, angústia de quem vive Quem sabe a solidão, fim de quem ama Eu possa lhe dizer do amor (que tive): Que não seja imortal, posto que é chama Mas que seja infinito enquanto dure · Ideia da infinitude não é o tempo cronológico, mas sim intensidade · Ele ama muito e muitas vezes. No momento em que estiver com a pessoa amada, será intenso. · Muito uso de hipérbole