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Universidade Federal de Minas Gerais (teitor: Cléfio CampoSrta Diniz Wce-Rtitora: Rocksane de Carvalho Norton Editora UFMG Diretor: Wander Melo Miranda Vice-Diretor: Roberto Alexandre do Carmo Said Conselho Editorial Winder Melo Miranda (presidente) Ravio de Lemos Carsalade Hdocsa Marta Murgd Starfing Mirdo Gomes Soares Maria das Grafas Santa Bárbara Marta Helena Damasceno e SSva Megale Paulo Sífgio Lacerda Berio Roberto Alexandre do Carmo Said Paulo Villani Marques Paulo José Modenesi Alexandre Queiroz Bracarense SOLDAGEM FUNDAMENTOS E TECNOLOGIA 3a edição atualizada 1a reimpressão BELO HORIZONTE | EDITORA UFMG 2011 Coordenação Editorial Assistência Editorial Editoração de texto Revisão e normalização Revisão de provas Atualização ortográfica Projeto gráfico Formatação e capa Produção gráfica Danivia Wotff EBane Sousa e Euciídia Macedo Ana Maria de Moraes María do Carmo Leite Ribeiro Alexandre Vasconcelos de Melo Karen M. Chequer e Daniel 10 Silva Paulo Schmidt Warren Maniac Warren Marüac 2005, Paulo Vtllani Marques, Paulo losé Modenesi, Alexandre Queiroz Bracarense ©2005, Editora UFMG © 2007,2* ed. rev. e ampl. © 2009,3* ed. atual. 2011, l*reimpr. Este livro ou parte dele não pode ser reproduzido sem autorização escrita do Editor. M357s Marques, Paulo Villani Soldagem: fundamentos e tecnologia / Paulo Vilani Marques, Paulo José Modenesi, Ataundre Queroz Bracarense - 3* níçâo atuaüzada • Beto Horizonte: Etftora UFMG. 2009. 363 p.1- (Didática) Incfcn btfaSografta. IS8N: 978-85-7041-7480 1. Soldagem. 2. Solda e soldagem. I. Modenesi, Paulo José. II. Bracarense. Alexandre Queiroz. (II. Tttulo. COO; 621.791 ____________________________________________________________________________CDU: 621.791___________ Ficha catalogrifica elaborada pela CCQC - Central de Controle de Qualidade da CatalogaçSo da Biblioteca Universitária da UFMG Editora UFMG Av. Antônio Carlos, 6.627 - Ala direita da Biblioteca Central - térreo Campus Pamputha - CEP 31270-901 • Belo Horizonte/MG Tel.: +55 31 3409-4650 | Fax: +55 31 3409-4768 |edtora@ufmgi>r | wvweditora^ fmgJjr SUMÁRIO PREFÁCIO À PRIMEIRA EDIÇÃO 13 PREFÁCIO À SEGUNDA E TERCEIRA EDIÇÕES 14 APRESENTAÇÃO 15 PARTE 1 FUNDAMENTOS DA SOLDAGEM Capítulo 1 Introdução è Soldagem 1. Métodos de união dos metais 17 2. Definição de soldagem 18 3. Formação de uma junta soldada 19 4. Processos de soldagem 21 5. Comparação com outros processos de fabricação 23 6. Breve histórico da soldagem 25 7. Exercícios 27 Capítulo 2 Terminologia e Simbologia da Soldagem 1. Introdução 29 2. Terminologia da soldagem 30 3. Simbologia da soldagem 36 4. Exercício 41 Capítulo 3 Princípios de Segurança em Soldagem 1. Introdução 43 2. Roupas de proteção 44 3. Choque elétrico 45 4. Radiação do arco elétrico 46 5. Incêndios e explosões 48 6. Fumos e gases 48 7. Outros riscos 49 8. Recomendações finais 49 9. Exercícios 50 Capítulo 4 0 Arco Elétrico de Soldagem 1. Introdução 51 2. Características elétricas do arco 52 3. Características térmicas do arco 56 4. Características magnéticas do arco 57 5. Exercícios e práticas de laboratório 61 Capítulo 5 Fontes de Energia para Soldagem a Arco 1. Introdução 63 2. Requisitos básicos das fontes 63 3. Fontes convencionais 64 4. Fontes com controle eletrônico 72 5. Conclusão 79 6. Exercícios 80 Capítulo 6 ‘ Fundamentos da Metalurgia da Soldagem 1. Introdução 81 2. Metalurgia física dos aços 82 3. Fluxo de calor 88 4. Macroestrutura de soldas por fusão 92 5. Características da zona fundida 93 6. Características da zona termicamente afetada 7. Descontinuidades comuns em soldas 8. Exercícios e práticas de laboratório 98 100 112 Capítulo 7 Tensões Residuais e Distorções em Soldagem 1. Introdução 113 2. Desenvolvimento de tensões residuais em soldas 115 3. Consequências das tensões residuais 119 4. Distorções 121 5. Controle das tensões residuais e distorção 123 6. Exercícios 125 Capítulo 8 Automação da Soldagem 1. Fundamentos 127 2. Equipamentos 130 3. Programação de robôs para a soldagem 133 4. Aplicações industriais 134 5. Exercícios 135 Capítulo 9 Normas e Qualificação em Soldagem 1. Introdução 137 2. Normas em soldagem 139 3. Registro e qualificação de procedimentos e de pessoal 141 4. Exercícios 145 Capítulo 10 Determinação dos Custos de Soldagem 1. Introdução 151 2. Custo da mão de obra 152 153 155 155 156 156 156 157 159 161 162 167 170 173 174 175 176 177 179 180 181 183 3. Custo dos consumíveis 4. Custo de energia elétrica 5. Custo de depreciação 6. Custo de manutenção 7. Custo de outros materiais de consumo 8. Considerações finais 9. Exemplo 10. Exercício PARTE 2 PROCESSOS DE SOLDAGEM E AFINS Capítulo 11 Soldagem e Corte a Gás A-Soldagem a gás 1. Fundamentos 2. Equipamentos 3. Consumíveis 4. Técnica operatória 5. Aplicações industriais B - Oxi-Corte 1. Fundamentos 2. Equipamentos 3. Consumíveis 4. Técnica operatória 5. Aplicações industriais 6. Exercícios e práticas de laboratório Capítulo 12 Soldagem com Eletrodos Revestidos 1. Fundamentos 2. Equipamentos 3. Consumíveis 186 4. Técnica operatória 196 5. Aplicações industriais 202 6. Exercícios e práticas de laboratório 203 Capítulo 13 Soldagem TIG 1. Fundamentos 205 2. Equipamentos 206 3. Consumíveis 211 4. Técnica operatória 214 5. Aplicações industriais 217 6. Exercícios e práticas de laboratório 217 Capítulo 14 Soldagem e Corte a Plasma Soldagem 1. Fundamentos 219 2. Equipamentos 221 3. Consumíveis 223 4. Técnica operatória 225 5. Aplicações industriais 227 Corte 1. Fundamentos 228 2. Equipamentos 228 3. Consumíveis 230 4. Técnica operatória 230 5. Aplicações industriais 232 6. Exercícios 232 Capítulo 15 Soldagem MIG/MAG e com Arame Tubular A - Soldagem MIG/MAG 1. Fundamentos 233 2. Equipamentos 244 3. Consumíveis 248 4. Técnica operatória 252 5. Aplicações industriais 254 B - Soldagem com arames tubulares 1. Fundamentos 255 2. Equipamentos 256 3. Consumíveis 257 4. Técnica operatória 261 5. Aplicações industriais 261 6. Exercícios e práticas de laboratório 261 Capítulo 16 Soldagem a Arco Submerso 1. Fundamentos 263 2. Equipamentos 265 3. Consumíveis 268 4. Técnica operatória 272 5. Aplicações industriais 275 6. Exercícios e práticas de laboratório 275 Capítulo 17 Soldagem por Eletroescória e Eletrogás A - Soldagem por eletroescória 1. Fundamentos 277 2. Equipamentos 279 3. Consumíveis 281 4. Técnica operatória 283 5. Aplicações industriais 287 B - Soldagem eletrogás 1. Fundamentos 288 2. Equipamentos 289 3. Consumíveis 289 4. Técnica operatória 290 5. Aplicações industriais 290 6. Exercícios 291 Capítulo 18 Soldagem por Resistência 1. Fundamentos 293 2. Equipamentos 296 3. Técnica operatória 300 4. Aplicações industriais 304 5. Exercícios 306 Capítulo 19 Processos de Soldagem de Alta Intensidade A - Soldagem a laser 1. Fundamentos 307 2. Equipamentos 309 3. Técnica operatória 310 4. Aplicações industriais 312 B - Soldagem com feixe de elétrons 1. Fundamentos 313 2. Equipamentos 313 3. Técnica operatória 314 4. Aplicações industriais 315 5. Exercícios 315 Capítulo 20 Outros Processos de Soldagem 1. Soldagem por fricção convencional 317 2. Variações recentes da soldagem por fricção 320 3. Soldagem por explosão 323 4. Soldagem poraluminotermia 326 5. Soldagem a frio 329 6. Soldagem por ultrassom 330 7. Soldagem por laminação 331 8. Exercícios 333 Capítulo 21 Brasagem 1. Fundamentos 335 2. Equipamentos 337 3. Consumíveis ' 338 4. Técnica operatória 346 5. Aplicações industriais 349 6. Exercícios 349 BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR ÍNDICE ALFABÉTICO SOBRE OS AUTORES 351 353 3 6 3 PREFÁCIO À PRIMEIRA EDIÇÃO Em uma era de constantes mudanças, quebras de paradigmas e crescente valorização do capital intelectual, a Universidade, através dos autores de Soldagem - fundamentos e tecnologia, transcende o conceito de Academia — baluarte da ciência pura — disponibili zando sólidos e modernos conhecimentos na área de soldagem. A tão cobrada e mencionada Responsabilidade Social está aqui perfeitamente demonstrada no pleno engajamento dos autores, pesquisadores renomados, difundindo ricos ensinamentos obtidos ao longo de anos de estudos e pesquisas. Com este livro, busca-se uma forma mais abrangente de divulgação, acessível a toda a sociedade, ao contrário das apostilas, que possuem um público limitado e exclusivo. A soldagem, tema caracterizado por alta complexidade, porém de importância e aplicação inquestionável em todos os setores da indústria, é aqui tomada fácil, de entendimento imediato, e perfeitamente ajustada às autênticas necessidades dos leitores. A sequência apresentada permite o entendimento do tema de forma gradativa e constante. Inicia-se pelos conceitos fundamentais e terminologias; introduz informações direcionadas sobre física do arco elétrico e eletricidade; define os equipamentos e dispositivos de soldagem, os riscos e a forma segura de operação. A metalurgia da soldagem é apresentada com uma linguagem clara e objetiva, permitindo a assimilação de sua dinâmica. O livro conclui a vasta caminhada pelos conhecimentos no assunto com uma ampla abordagem dos processos de soldagem. Todo o conteúdo é enriquecido com ilustrações de nítido caráter explicativo. As questões apresentadas ao final de cada capítulo permitem ao leitor avaliar o grau de entendimento e avançar além do texto, incitando-o a expor suas ideias. A adequação desta obra à realidade é perfeita. No momento em que o mercado exige, de forma contundente, profissionais abertos ao aprendizado permanente, alertas para captar tendências ou inventar técnicas apropriadas para contornar riscos e aproveitar oportunidades, Soldagem - fundamentos e tecnologia toma-se um recurso inestimável para se atingir um nível de excelência, cumprindo o seu papel de difundir ideias com elevada eficácia. Eng0. Helder Aguiar Neves PREFÁCIO À SEGUNDA E TERCEIRA EDIÇÕES No momento em que nosso país discute o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), lançado pelo Governo Federal, e começa a trabalhar com a perspectiva de resolver seus graves problemas sociais ancorado no crescimento da economia, é mais que oportuno o lançamento de uma nova edição de um livro que traz tão importantes contribuições ao desenvolvimento científico e tecnológico. Soldagem é um dos mais importantes processos de fabricação e está presente no dia- -a-dia de todos nós. É parte integrante dos currículos de cursos de Engenharia Mecânica, Nuclear e Metalúrgica em praticamente todas as Escolas de Engenharia, além de ser destacada área dos cursos técnicos em Mecânica e Metalurgia. Os Doutores Paulo Villani Marques, Paulo José Modenesi e Alexandre Queiroz Bracarense, professores da Escola de Engenharia da UFMG e pesquisadores de reconhecida competência, no Brasil e no exterior, tiveram a louvável iniciativa de produzir um texto didático genuinamente brasileiro para atender às necessidades de estudantes e de profissionais que trabalham nas áreas afins. * Os conceitos são apresentados com clareza e de forma didática, permitindo aos leitores um fácil entendimento dos conceitos e uma aprendizagem consistente dos mais modernos processos. Além disso, são apresentados os equipamentos e consumíveis utilizados através de desenhos de excelente qualidade. O cuidado dos autores na abordagem ampla e precisa dos diversos aspectos ligados a essa área salta aos olhos. Além dos aspectos técnicos, o livro dedica especial atenção aos princípios básicos, à história, à terminologia, à segurança, às normas técnicas è aos custos ligados à soldagem. Os diversos processos contemplados em capítulos específicos são apresentados de forma simples, direta e objetiva. A divisão uniforme dos capítulos em seções - Fundamentos, Equipamentos, Consumíveis, Técnica Operatória, Aplicações Industriais, Exercícios e Práticas de Laboratório - apresenta-se como ferramenta de fundamental importância para o entendimento dos processos. Destacam-se as práticas laboratoriais e os problemas propostos que complementam e criam as habilidades necessárias ao exercício desta atividade. Esta obra reflete os esforços de profissionais que além da competência técnica e científica demonstram excepcional espírito público e indiscutíveis qualidades didáticas. Não há dúvidas de que os leitores terão muito prazer na leitura deste livro e que inúmeros estudantes de Cursos Técnicos e de Engenharia se interessarão por esta área do conhecimento. Prof. Márcio Ziviani Diretor Executivo - Fundação de Desenvolvimento da Pesquisa APRESENTAÇÃO Este texto surgiu do desejo e da necessidade de ampliar e atualizar uma obra anterior, publicada em 1991. Muitos foram os avanços obtidos no campo da soldagem desde então e, particularmente no Brasil, muitas novidades surgiram com a abertura do mercado, a partir de 1994. A oportunidade foi criada quando a PROGRAD - Pró-Reitoria de Graduação da UFMG lançou um edital para a seleção de projetos de produção de material didático para a graduação, em meados de 2003. Contudo, como esta não seria uma tarefa fácil, pois soldagem é um tema muito abrangente, convidei os colegas da UFMG Prof. Dr. Paulo José Modenesi e Prof. Dr. Alexandre Queiroz Bracarense para dividirem comigo esta empreitada. Tendo por base o texto de 1991, decidimos que esta nova obra seria dividida em 21 Capítulos, tendo cada um de nós assumido a produção de sete deles. O Prof. Modenesi se responsabilizou pelos Capítulos 1 ,2 ,4 ,5 ,6 ,7 e 9; o Prof. Bracarense pelos Capítulos 8, 16,17,18,19.20 e 21, e eu, pelos demais, isto é, os Capítulos 3,10,11,12,13,14 e 15. Esta divisão foi motivada por questões práticas e de afinidade com os temas abordados. Entre setembro e novembro de 2003, trabalhamos nos textos individualmente, mas procurando manter uma mesma orientação geral, através de reuniões periódicas. Os capítulos produzidos foram enviados a técnicos atuantes na área de soldagem em nível industrial e acadêmico, para revisão e críticas, o que foi feito nos meses de dezembro de 2003 e janeiro de 2004. Em fevereiro de 2004, após outras reuniões para ajustes de orientação e manutenção da unidade da obra, as críticas e sugestões dos revisores foram incorporadas, chegando-se ao texto final. Além de conhecimentos técnicos atualizàdos, procuramos colocar no texto experiên cias na área acadêmica e industrial obtidas no nosso trabalho em ensino, pesquisa e extensão na UFMG. Tentamos, também, oferecer alguma contribuição no que se refere à terminologia de soldagem usada no país, que é muitas vezes confusa e redundante, resultado da tradução livre, adoção e adaptação de termos de outras línguas e falta de normalização nacional. 1 fil l u FUNOAMarmSE TECNOLOGIA Nesta edição, foram feitas pequenas alterações no texto de vários capítulos, para tornar mais claros alguns conceitos expressos, bem como foram corrigidos os erros da primeira edição, na linguagem, figuras e equações. Muitas pessoas e organizações contribuíram para que se chegasse a este resultado final. Em especial, agradeço aos Profs. Modenesi e Bracarensepela disposição em dividir o trabalho e pela sua dedicação a ele; ao Prof. Dr. Ronaldo Pinheiro da Rocha Paranhos, da UENF, pela contribuição nos Capítulos 3 e 10; ao Prof. Modenesi pelas ilustrações e fotos; aos Profs. Américo Scotti e Valtair Antônio Ferraresi, da UFU, pelos filmes sobre tranferência metálica; ao Prof. Paranhos, aos Engos. Carlos Castro. Francisco de Oliveira Filho, Gustavo Alves Pinheiro, Helder Aguiar Neves, José Roberto Domingues e Óder Silva de Paula Júnior e a minha esposa Maria das Victórias de Mello Villani Marques, pela revisão e sugestões; às empresas ESAB, RBG e SOLDAGERAIS, pela disponibilização de informações técnicas, fotos e equipamentos; à PROGRAD e ao DEMEC, da UFMG, pelo suporte financeiro e logístico, e a minha filha Paula de Mello Villani Marques, pela digitação. Finalmente, a todos que direta ou indiretamente tornaram possível a conclusão deste trabalho, gostaria de manifestar minha gratidão e agradecimentos e apresentar minhas desculpas pela incapacidade de citá-los nominalmente. Paulo Villani Marques PARTE 1 FUNDAMENTOS DA SOLDAGEM CAPÍTULO 1 INTRODUÇÃO À SOLDAGEM 1. Métodos de União dos Metais Os métodos de união dos metais podem ser divididos em duas categorias prin cipais, isto é, aqueles baseados na ação de forças macroscópicas entre as partes a serem unidas e aqueles baseados em forças microscópicas — interatômicas e intermoleculares. No primeiro caso, do qual são exemplos a parafusagem e a rebi tagem, a resistência da junta é dada pela resistência ao cisalhamento do parafuso ou rebite mais as forças de atrito entre as superfícies em contato. No segundo, a união é conseguida pela aproximação dos átomos ou moléculas das peças a serem unidas, ou destes e de um material intermediário adicionado à junta, até distâncias suficientemente pequenas para a formação de ligações químicas, particularmente ligações metálicas e de Van der Waals. Como exemplo desta categoria citam-se a brasagem, a soldagem e a colagem. A soldagem é o mais importante processo de união de metais utilizado indus trialmente. Este método de união, considerado em conjunto com a brasagem, tem importante aplicação desde a indústria microeletrônica até a fabricação de navios 1 n tni nABfia FUNDAMENTOS E TECNOLOGIA e outras estruturas com centenas ou milhares de toneladas de peso. A soldagem é utilizada na fabricação de estruturas simples, como grades e portões, assim como em componentes encontrados em aplicações com elevado grau de responsabilidade, como nas indústrias química, petrolífera e nuclear, e também na criação de peças de artesanato, joias e de outros objetos de arte. 2. Definição de Soldagem Um grande número de diferentes processos utilizados na fabricação e recupe ração de peças, equipamentos e estruturas é abrangido pelo termo "SOLDAGEM". Classicamente, a soldagem é considerada como um processo de união, porém, na atualidade, muitos processos de soldagem ou variações destes são usados para a deposição de material sobre uma superfície, visando à recuperação de peças desgasta das ou para a formação de um revestimento com características especiais. Diferentes processos relacionados com a soldagem são usados para corte de peças metálicas e em muitos aspectos estas operações se assemelham a operações de soldagem. Na literatura, encontram-se algumas tentativas de definição da soldagem: • "Processo de união de metais por fusão." Deve-se ressaltar que não apenas os metais -são soldáveis e que é possível se soldar sem fusão. • "Operação que visa obter a união de duas ou mais peças, assegurando na junta a continuidade das propriedades físicas e químicas.” Nessa definição, o termo "continuidade" é utilizado com um significado similar ao adotado na matemática. Isto é. considera-se que. embora as propriedades possam variar ao longo de uma junta soldada, esta variação não apresenta quebras abruptas como ocorre, por exemplo, em uma junta colada na qual a resistência mecânica muda abruptamente entre um componente da junta e a cola. • "Processo de união de materiais usado para obter a coalescência (união) localizada de metais e não-metais, produzida por aquecimento até uma temperatura adequada, com ou sem a utilização de pressão e/ou material de adição." Esta definição, adotada pela Associação Americana de Soldagem (American Welding Society-AWS), é meramente operacional, não contribuindo com o aspecto conceituai. Finaliza-se com uma última definição, esta baseada no tipo de forças responsáveis pela união dos materiais: • “Processo de união de materiais baseado no estabelecimento de forças de ligação química de natureza similar às atuantes no interior dos próprios materiais, na região de ligação entre os materiais que estão sendo unidos." Esta última definição engloba também a brasagem (Capítulo 21), que pode ser considerada, neste contexto, como um processo de soldagem. CArtTUU) 1 < q INTRODUÇÃO A SOIDAKM 1 9 3. Formação de uma Junta Soldada De uma forma simplificada, uma peça metálica pode ser considerada como formada por um grande número de átomos dispostos em um arranjo espacial característico (estrutura cristalina). Átomos localizados no interior desta estrutura são cercados por um número de vizinhos mais próximos, posicionados a uma distância r0, na qual a energia do sistema é mínima, como mostra a Figura 1. Figura 1 Variação de energia potencial para um sistema composto de dois átomos em função da distância de separação entre eles Nesta situação, cada átomo está em sua condição de energia mínima, não tenden do a se ligar com nenhum átomo extra. Na superfície do sólido, contudo, esta situação não se mantém, pois os átomos estão ligados a menos vizinhos, possuindo, portanto, um maior nível de energia do que os átomos no seu interior. Esta energia pode ser reduzida quando os átomos superficiais se ligam a outros. Assim, aproximando-se duas peças metálicas a uma distância suficientemente pequena para a formação de uma ligação permanente, uma solda entre as peças seria formada, como ilustrado na Figura 2. Este tipo de efeito pode ser obtido, por exemplo, colocando-se em contato íntimo dois blocos de gelo. Solda Figura 2 Formação teórica de uma solda pela aproximação das superfícies das peças Entretanto, sabe-se que isto não ocorre para duas peças metálicas, exceto em condições muito especiais. A explicação para isto está na existência de obstáculos que impedem uma aproximação efetiva das superfícies até distâncias da ordem de ro. Estes obstáculos podem ser de dois tipos básicos: SOLDAGEM rUNDAMENTOS E TECNOLOGIA • As superfícies metálicas, mesmo as mais polidas, apresentam uma grande rugosidade em escala microscópica e submicroscópica. Mesmo uma superfície muito bem polida apresenta irregularidades da ordem de 50nm de altura, cerca de 200 camadas atômicas. Isto impede uma aproximação efetiva das superfícies, o que ocorre apenas em alguns poucos pontos de contato, de modo que o número de ligações formadas é insuficiente para garantir qualquer resistência para a junta. • As superfícies metálicas estão normalmente recobertas por camadas de óxido, umidade, gordura, poeira etc. (Figura 3), o que impede um contato real entre as superfícies, prevenindo a formação da solda. Estas camadas se formam rapidamente e resultam exatamente da existência de ligações químicas incompletas na superfície. Figura 3 Representação esquemática da estrutura de urna superfície metálica em contato com o ar. A- metal não afetado, B - metal afetado, C - camada de óxido, D - água e oxigênio absorvidos, E-gordura e F • partículas de poeira Para superar estes obstáculos, dois métodos principais são utilizados, os quais originam os dois grandes grupos de processos de soldagem. O primeiro consiste em deformar as superfícies de contato, permitindo a aproximaçãodos átomos a distâncias da ordem de r0 (Figura 4). As peças podem ser aquecidas localmente de modo a facilitar a deformação das superfícies de contato. Solda Figura 4 Soldagem poi pressão ou deformação CAPÍTULO 1 i o , INTRODUÇÃO Á SOLDAGEM *■ 1 O segundo método se baseia na aplicação localizada de calor na região da junta até a fusão do metal de base e do metal de adição (quando este é utilizado). Como resultado desta fusão, as superfícies entre as peças são eliminadas e, com a solidi ficação do metal fundido, a solda é formada (Figura 5). Metal d e 1- adição Metal de baset Solda 7N .... / (a) (b) Figura 5 (a) Representação esquemática da soldagem por fusão, (b) Macrografia de uma junta Uma maneira de classificar os processos de soldagem consiste em agrupá-los em dois grandes grupos baseando-se no método dominante para produzir a solda: (a) processos de soldagem por pressão (ou por deformação) e (b) processos de soldagem por fusão. 4. Processos de Soldagem 4.1 - Processos de soldagem por pressão (ou por deformação) Este primeiro grupo inclui os processos de soldagem por forjamento, por ultras- som, por fricção, por difusão, por explosão, entre outros. 4.1.2 Processos de soldagem por fusão Existe um grande número de processos por fusão que podem ser separados em subgrupos, por exemplo, de acordo com o tipo de fonte de energia usada para fundir as peças. Dentre estes, os processos de soldagem a arco (fonte de energia: arco elétrico) são os de maior importância industrial na atualidade. Devido à ten dência de reação do material fundido com os gases da atmosfera, a maioria dos 9 9 SOIOACQI “ FUUSAMOfTOSincmiDGtA processos de soldagem por fusão utiliza algum meio de proteção para minimizar estas reações. A Tabela I mostra os principais processos de soldagem por fusão e suas características principais. Tabela I - Processos ds soldagem por fusão Processo Fonte de calor Tipo de corrente e polaridade Agente protetor Outras carcterísticas Aplicações Soldagem por eletro- escória Aquecimento por resistên cia da escória liquida Contínua ou alternada Escória Automática/Mecanizada. Junta na vertical. Arame alimentado mecanicamente na poça de fusão. Não existe arco elétrico. Soldagem de aços carbono, baixa e alta liga. espessura 2 50 mm. Soldagem de pe ças de grande espessura, eixos etc. Soldagem a arco submerso Arco elétrico Contínua ou alternada. Eletrodo + Escória Automática/mecaniz. ou semiautomática. 0 arco arde sob uma camada de fluxo granular. Soldagem de aços carbono, baixa e alta liga. Espessura a 10 mm. Posição plana ou horizontal de peças estru turais, tanques, vasos de pressão etc. Soldagem com eletrodo revestido Arco elétrico Contínua ou alternada. Eletrodo + ou - Escória e gases gerados Manual. Vareta metálica recoberta por camada de fluxo. Soldagem de quase todos os metais, exceto cobre puro. metais preciosos, reativos ede baixo pomo de fusão. Usado na soldagem em geral. Soldagem com arame tubular Arco elétrico Contínua. Eletrodo + Escória e gases gerados ou fornecidos por fonte externa. Em geral o CO, Automático ou semiauto mático. 0 fluxo está contido dentro de um arame tubular de pequeno diâmetro. Soldagem de aços carbono, baixa e alta liga com espes sura & 1 mm. Soldagem de chapas, tubos etc. Soldagem M1G/MAG Arco elétrico Contínua. Eletrodo + Argdnio ou Hélio. Argônio + 0,. Argônio + COr CO, Automática/mecaniz. ou semiautomática. 0 arame é sólido. Soldagem de aços carbono, babe eattaBga. não ferrosos, com espessura £1 mm. Soldagem de tubos, chapas etc. Qualquer posiçõo. Soldagem a plasma Arco elétrico Continua. Eletrodo - Argônio. Hélio ou Argônio + Hidrogênio Manual ou automática. 0 arame é adicionado separada mente. Eletrodo não oonsu- mfvel de tungstônio. 0 arco é constríto por um bocal. Todos os metais importantes em engenharia, exceto Zn, Be e suas ligas, com espes sura de até 1.5 mm. Passes de raiz. Soldagem TIG Arco elétrico Continua ou alternada. Eletrodo - Argônio. Hélio ou misturas destes Manual ou automática. Eletrodo não consumível de tungsténio. 0 arame é adicionado separadamente. Soldagem de todos os meais, exceto Zn. Be e suas ligas, espessura entre 1 e 6 mm. Sol dagem de não ferrosos e aços inox. Ftesse de raiz de soldas em tubulações. Soldagem por feixe de elétrons Feixe de elétrons Contínua. Alta tensão. Peça + Vácuo (»10*mm Hg) Soldagem automática. Não usa, em geral, metal de adição. Feixe de elétrons permite uma elevada con centração de energia. Soldagem de todos os metas, exceto nos casos de evolução de gases ou vaporização excessiva, em geral a partir de 25 mm de espessura. Indústria nuclear e aeroespadaL Soldagem a laser Feixe de luz Argônio ou Hélio Soldagem automática. Nâo usa. em geral, metal de adição. Laser permite uma elevada concentração de energia. Soldagem de todos os metas, exceto nos casos de evolução de gases ou vaporização exces siva. Indústria automobilística, nuclear e aeroespadaL Soldagem a gás Chama oxi- acetüênica Gás (CO. Hy CO,. H,0) Manual. Arame adicionado separadamente. Soldagem manual de aço caibo- no. Cu. A). Zn, Pb e bronze. Sol dagem de chapas finas e tubos de pequeno diâmetro. capítulo t o « ntroduçAo à s o u u k m Entre os processos de soldagem por resistência (Capítulo 18), alguns podem ser considerados como processos de soldagem por deformação. Outros são melhor caracterizados como processos de soldagem por fusão. Os processos de soldagem e afins podem ser classificados de diferentes formas alternativas. A Figura 6 mostra uma classificação segundo a AWS - American Welding Society, juntamente com as abreviações adotadas por esta associação para designar cada processo. Esta classificação e abreviações são muito utilizadas em diversos países do mundo. No Brasil, embora estas sejam usadas, designações de processo de soldagem de origem europeia são mais comuns. Além destas, abreviações baseadas no nosso idioma (como, por exemplo, SAER - Soldagem a Arco com Eletrodos Revestidos) foram propostas, mas tiveram uma aceitação muito restrita até o presente. A classificação dos processos de soldagem da AWS apresenta deficiências como qualquer outro sistema de classificação. Processos de soldagem e afins, segundo a AWS. Os nomes de diversos processos estão resumidos ou truncados por falta de espaço na figura 5. Comparação com Outros Processos de Fabricação A soldagem é hoje o principal processo usado na união permanente de peças metálicas, permitindo a montagem de conjuntos com rapidez, segurança e economia 9 A S01DA6EM " \ FUNDAMENTOS E TIOtÔtOGlA de material. Por exemplo, a ligação de chapas metálicas com parafusos ou rebites exige que as chapas sejam furadas, causando uma perda de seção de até 10%, que deve ser compensada por uma espessura maior das peças. A utilização de chapas de reforço e os próprios parafusos e porcas ou rebites aumentam ainda mais o peso final da estrutura. Na união de tubos pode-se fazer considerações semelhantes ao se comparar juntas soldadas com juntas rosqueadas. Além disso, as juntas soldadas, desde que executadas corretamente, são por si mesmas estanques, não havendo necessidade de se recorrer a nenhum tipo de artifício para se prevenir vazamentos, mesmo sob pressão elevada. Comparando-se a soldagem à fundição, como processo de fabricação, constata- se que a soldagem apresenta características interessantes, como: possibilidade de se terem grandes variações de espessura na mesma peça e inexistência de uma espessuramínima para adequado preenchimento do molde com o metal fundido, possibilidade de se usarem diferentes materiais numa mesma peça, de acordo com as solicitações de cada parte, maior flexibilidade em termos de alterações no projeto da peça a ser fabricada e menor investimento inicial. A soldagem é muito versátil em termos dos tipos de ligas metálicas e das espes suras que podem ser unidos. A disponibilidade de um grande número de processos de soldagem permite a união da maioria das ligas metálicas comumente utilizada. Pode-se unir, através dos diferentes processos de soldagem, desde peças com espessura inferior a 1mm (joias, componentes eletrônicos etc.) até estruturas de grandes dimensões (navios, vasos de pressão etc.). A soldagem pode ser utilizada tanto no chão de fábrica, com condições de tràbalho bem controladas, como no campo, em diferentes ambientes (como, por exemplo, no alto de estruturas elevadas ou debaixo d'água). Finalmente, a soldagem pode atender, a um custo competitivo, diferentes requisitos de qualidade, tornando a sua utilização economicamente viável tanto em trabalhos simples, que não apresentam uma grande responsabilidade (por exemplo, na fabricação de grades e de peças de decoração), como em situações em que ocorrem solicitações extremas e existe o risco de grandes danos no caso de uma falha do componente soldado (por exemplo, em navios e outras estruturas marítimas e em vasos de pressão). Por outro lado, algumas limitações da soldagem devem ser consideradas. Como a solda é uma união permanente, ela não deve ser utilizada em juntas que necessitam ser desmontadas. Praticamente todos os processos de soldagem são baseados na aplicação, na região da junta, de energia térmica e mecânica, o que tende a causar uma série de efeitos mecânicos (aparecimento de distorções e de tensões residu ais) e metalúrgicos (mudanças de microestrutura e alteração de propriedades) nas peças. Estes efeitos, juntamente com a formação de descontinuidades como poros e trincas na solda, podem prejudicar o desempenho dos componentes soldados e causar a sua falha prematura. As consequências de uma falha de um componente soldado podem ser ampliadas devido à natureza monolítica deste. Isto é, enquanto a fratura de uma peça em uma estrutura rebitada fica confinada somente à peça que falhou, em uma estrutura soldada, a fratura pode se estender por toda a estrutura devido à eliminação da separação entre as peças. Diversos acidentes com estas características já ocorreram, destacando-se. por exemplo, os navios de transporte durante a Segunda Guerra Mundial, fabricados por soldagem nos Estados Unidos da América. CAPÍTULO 1 o c WTKOOUÇÍOÀ SOLDAGEM 6. Breve Histérico da Soldagem Embora a soldagem, na sua forma atual, seja um processo recente, com cerca de 100 anos, a brasagem e a soldagem por forjamento têm sido utilizadas desde épocas remotas. Existe, por exemplo, no Museu do Louvre, um pingente de ouro com indicações de ter sido soldado e que foi fabricado na Pérsia, por volta de 4000 a. C. O ferro, cuja fabricação se iniciou em torno de 1500 a. C., substituiu o cobre e o bronze na confecção de diversos artefatos. O ferro era produzido por redução dire ta^ conformado por martelamento na forma de blocos com uma massa de poucos quilogramas. Quando peças maiores eram necessárias, os blocos eram soldados por forjamento, isto é, o material era aquecido ao rubro, colocava-se areia entre as peças para escorificar impurezas e martelava-se até a soldagem. Como um exemplo da utilização deste processo, cita-se um pilar de cerca de sete metros de altura e mais de cinco toneladas existente ainda hoje na cidade de Dehli (índia). A soldagem foi usada, na Antiguidade e na Idade Média, para a fabricação de armas e outros instrumentos cortantes. Como o ferro obtido por redução direta tem um teor de carbono muito baixo (inferior a 0,1 %), este não pode ser endurecido por têmpera. Por outro lado, o aço. com um teor maior de carbono, era um material escasso e de alto custo, sendo fabricado pela cementação de tiras finas de ferro. Assim, ferramentas eram fabricadas com ferro e com tiras de aço soldadas nos locais de corte e endurecidas por têmpera. Espadas de elevada resistência mecânica e tenacidade foram fabricadas no oriente médio utilizando-se um processo seme lhante, no qual tiras alternadas de aço e ferro eram soldadas entre si e deformadas por compressão e torção. O resultado era uma lâmina com uma fina alternância de regiões de alto e baixo teor de carbono. Assim, a soldagem foi, durante este período, um processo importante na tecno logia metalúrgica, principalmente, devido a dois fatores: (1) a escassez e o alto custo do aço e (2) o tamanho reduzido dos blocos de ferro obtidos por redução direta. Esta importância começou a diminuir, nos séculos XII e XIII, com o desenvolvi mento de tecnologia para a obtenção, no estado líquido, de grandes quantidades de ferro fundido com a utilização da energia gerada em rodas d'água e, nos séculos XIV e XV, com o desenvolvimento do alto-forno. Com isso, a fundição tornou-se um processo importante de fabricação, enquanto a soldagem por forjamento foi subs tituída por outros processos de união, particularmente a rebitagem e parafusagem, mais adequados para união das peças produzidas. A soldagem permaneceu como um processo secundário de fabricação até o sé culo XIX, quando a sua tecnologia começou a mudar radicalmente, principalmente, a partir das experiências de Sir Humphrey Davy (1801-1806) com o arco elétrico, da descoberta do acetileno por Ednhund Davy e do desenvolvimento de fontes pro dutoras de energia elétrica que possibilitaram o aparecimento dos processos de soldagem por fusão. Ao mesmo tempo, o início da fabricação e utilização do aço 1 Neste processo, o minério de ferro era misturado com carvão em brasa e soprado com ar. Durante esta operação, o óxido de ferro era reduzido pelo carbono, produzindo-se ferro metálico sem a fusão do material. I SOLDAGEM FUNDAMENTOS E TECNOLOGIA na forma de chapas tornou necessário o desenvolvimento de novos processos de união para a fabricação de equipamentos e estruturas. A primeira patente de um processo de soldagem, obtida na Inglaterra por Nikolas Bernados e Stanislav Olszewsky, em 1885, foi baseada em um arco elétrico estabele cido entre um eletrodo de carvão e a peça a ser soldada (Figura 7). Figura 7 Sistema para soldagem a arco com eletrodo de carvão de acordo com a patente de Bernados Por voita de 1890, N. G. Slavianoff, na Rússia, e Charles Coffin, nos Estados Unidos, desenvolveram independentemente a soldagem a arco com eletrodo metálico nu. Até o final do século XIX, os processos de soldagem por resistência, por alumino- termia e a gás foram desenvolvidos. Em 1907, Oscar Kjellberg (Suécia) patenteia o processo de soldagem a arco com eletrodo revestido. Em sua forma original, este revestimento era constituído de uma camada de cal, cuja função era unicamente estabilizar o arco. Desenvolvimentos posteriores tornaram este processo o mais utilizado no mundo. Nesta nova fase, a soldagem teve inicialmente pouca utilização, estando restrita principalmente à execução de reparos de emergência até a eclosão da primeira grande guerra, quando a soldagem passou a ser utilizada mais intensamente como processo de fabricação. Atualmente, mais de 50 diferentes processos de soldagem têm utilização industrial e a soldagem é o mais importante método para a união permanente de metais. Esta importância é ainda mais evidenciada pela presença de processos de soldagem e afins nas mais diferentes atividades industriais e pela influência que a necessidade de uma boa soldabilidade tem no desenvolvimento de novos tipos de aços e outras ligas metálicas. CAPÍTULO t í 9 7 INTRODUÇÃO Á SOLDAGEM | 7. Exercícios a) O que é soldagem?b) Por que é possível se soldar dois blocos de gelo por aproximação? c) Quais as principais vantagens e desvantagens da soldagem? d) Que outros ramos da ciência e da tecnologia contribuem para o desenvolvimento da soldagem? e) Que tipos de materiais, além dos metais, podem ser soldados? f) Existem produtos impossíveis de serem fabricados sem a utilização da soldagem? Cite alguns, se for o caso. g) Em que casos a soldagem não é recomendada como processo de união? CAPÍTULO 2 TERMINOLOGIA E SIMBOLOGIA DA SOLDAGEM 1. Introdução Muitos são os termos com um significado particular quando aplicados à soldagem. Definir todos estes termos tornaria este capítulo tedioso e extenso. Assim, preferiu-se colocar algumas ilustrações e indicar alguns termos utilizados com frequência em soldagem, de modo a tornar o restante do texto compreensível. Para definições mais completas e precisas pode-se recorrer à literatura indicada no final do livro. De qualquer forma, a própria militância no campo da soldagem se encarregará de tomar estes termos familiares. Quanto à simbologia, serio abordados resumidamente os símbolos usados em soldagem e seu significado, bem como sua utilização em desenhos técnicos, por meio de algumas ilustrações. Da mesma forma, pode-se consultar a bibliografia indicada para um estudo mais completo. O n i SOLDAGEM 0 U i FUNDAMENTOS E TECNOLOGIA 2. Terminologia da Soldagem Como se viu no Capítulo 1, soldagem é uma operação que visa obter a união de peças, e solda é o resultado desta operação. O material da peça, ou peças, que está sendo soldada é o metal de base. Frequentemente, na soldagem por fusão, um material adicional é fornecido para a formação da solda, este é o m etal de adição. Durante a soldagem, o meta! de adição é fundido pela fonte de calor e misturado com uma quantidade de metal de base também fundido para formar a poça de fusão. A Figura 1 ilustra estes conceitos. Figura 1 Metal de base, de adiçáo e poça de fusão Chama-se jun ta a região onde as peças serão unidas por soldagem. A Figura 2 mostra os tipos básicos de junta comumente usados. O posicionamento das peças para união determina os vários tipos de junta. Entretanto, muitas vezes, as dimensões das peças, a facilidade de se movê-las e as necessidades do projeto exigem uma preparação das peças para soldagem, na forma de cortes ou de uma conformação especial da junta. Estas aberturas ou sulcos na superfície da peça ou peças a serem unidas e que determinam o espaço para conter a solda recebem o nome de chanfro. ) \ 1 L _ __ Topo . Ângulo Canto ----------- ( ) í- ^ i — Aresta Sobreposta Figura 2 Tipos de junta Os tipos de chanfro mais comuns usados em soldagem de juntas de topo são mostrados na Figura 3. A Figura 4 ilustra a aplicação destes chanfros em diferentes tipos de juntas. CAPÍTULO 2 TERMINOLOGIA E SiMBOLOGlA DA SOLDAGEM □xitzn i X I ■ \ Â 1 J F .1 /^ 1 meio v Duplo J Duplo U Figura 3 Tipos de chanfro Figura 4 Chanfros usados geralmente com os diferentes tipos de junta O tipo de chanfro a ser usado em uma condição de soldagem específica é esco lhido em função do processo de soldagem, espessura das peças, suas dimensões e facilidade de movê-las, facilidade de acesso à região da junta, tipo de junta (Figura 4), custo de preparação do chanfro etc. Chanfros em I são utilizados quando as con dições de soldagem permitem obter a penetração desejada (ver definição a seguir) O 9 SOLDAGEM ° L I FUNDAMENTOS E TECNOLOGIA sem a abertura de um outro tipo de chanfro, sendo esta situação particularmente comum na soldagem de juntas de pequena espessura. Como não necessitam de uma usinagem ou corte mais elaborado, este tipo de preparação tende a ser a de menor custo. Quando não é possível obter a penetração desejada desta forma, torna-se necessário usar um outro tipo chanfro, sendo os tipos mais comuns os chanfros em V ou meio V. Quando a espessura da junta que precisa ser soldada se torna muito grande, estes chanfros podem se tornar pouco interessantes, pois necessitam de um grande volume de metal de adição para o seu enchimento, o que pode aumentar o tem po necessário para a soldagem e o seu custo. Neste caso o uso de um chanfro em U ou J pode ser mais interessante, embora estes possam ter maior custo de preparação. Quando é possível executar a soldagem dos dois lados da junta, chanfros em X, K, duplo U ou duplo J podem ser considerados. Estes ainda têm a vantagem adicional de melhor equilibrar as tensões térmicas geradas durante a soldagem e apresentar, assim, uma menor distorção. Na escolha de um tipo de chanfro, deve-se ainda considerar a posição de soldagem (ver definição a seguir). Por exemplo, para a soldagem na posição horizontal, um chanfro em meio V ou K tende a ser mais adequado que um chanfro em V, pois, para o primeiro, existe uma menor tendência da poça de fusão escorrer sob ação da gravidade. Um chanfro é definido por seus elementos ou características dimensionais. Os principais elementos de um chanfro são (Figura 5): • Face da raiz ou nariz (s): Parte não chanfrada de um componente da junta. • Abertura da raiz, folga ou fresta (f): Menor distância entre as peças a soldar. • Ângulo de abertura da junta ou ângulo de bisel (p): Ângulo da parte chanfrada de um dos elementos da junta. • Ângulo de chanfro (a): Soma dos ângulos de bisel dos componentes da junta. Figura 5 Características dimensionais de chanfros usados em soldagem (s - nariz, f - fresta, r - raio do chanfro, a - ângulo do chanfro e (5 - ângulo do bizel) Os elementos de um chanfro são escolhidos de forma a atender os requisitos do projeto e, em particular, permitir um fácil acesso até o fundo da junta, minimizando, contudo, a quantidade de metal de adição necessária para o enchimento da junta. CAPÍTULO 2 I q TERMINOLOGIA E S1VBOLOQA DA SOLDAGEM ! J \ V.V, Çh i y a ' , " V ' Existe um grande número de termos para definir o formato e as características técnicas dos cordões de solda. Neste capítulo, apenas alguns destes termos serão apresentados. A Figura 6 mostra alguns destes termos para uma solda de topo e uma solda em ângulo (filete). Convexidade Largura | Garganta, ■A* o ' Face da solda Penetração da raiz Penetração da junta Figura 6 Dimensões e regiões de soldas de topo (a) e de filete (b) A Figura 7 mostra a seção transversal de uma solda e suas diversas regiões. Neste caso, é mostrada também uma peça colocada na parte inferior da solda (raiz), cha mada de cobre-junta ou m ata-junta, que tem por finalidade conter o metal fundido durante a execução da soldagem. Terminada a soldagem, o mata-junta pode ou não ser removido da junta. 0 mata-junta pode ser de um material similar ao que está sendo soldado, de cobre ou de material cerâmico. No primeiro caso, o mata-junta, em geral, passa a fazer parte da junta soldada, podendo, terminada a soldagem, ser removido da peça (por corte) ou não. Nos outros casos, o mata-junta não se torna parte da junta soldada e é removido ao final da soldagem. Zona fundida (ZF) Zona termicamente afetada (ZTA) Mat3 - jui ua Figura 7 ^ ; ^ Seção transversal de uma solda de topo por fusão (esquemática) Metal de base (MB) A zona fundida (ZF) de uma solda é constituída pelo metal de solda, que é a soma da parte fundida do metal de base e do metal de adição. A região do metal de base que tem sua estrutura e/ou suas propriedades alteradas pelo calor de soldagem é chamada de zona term icam ente afetada (ZTA). A zona fundida pode ser constituída por um ou mais passes depositados segundo uma sequência de deposição (Figura 8) e organizados em camadas (conjunto de passes localizados em uma mesma al tura no chanfro). Cada passe de solda é formado por um deslocamento da poça de fusão naregião da junta (Figura 1). Em diversas situações, o termo cordão é usado, significando, em alguns casos, a solda e, em outros, o passe. o / l SOLDAGEM FUNDAMENTOS E TECNOLOGIA Figura 8 Execução de uma solda de vários passes A posição da peça a ser soldada e do eixo da solda determina a posição da soldagem, que pode ser plana, horizontal, vertical ou sobrecabeça. Estas são mostradas para soldas de topo, filete e soldas circunferenciais em tubulações, nas Figuras 9, 10 e 11. A soldagem na posição vertical pode ser executada na direção ascendente ou descendente. Em tubulações fixas, a posição de soldagem muda durante a operação (Figura 11). A posição de soldagem tem uma forte influência sobre o grau de dificuldade da sua execução e na sua produtividade, sendo a sol dagem na posição plana, em geral, a mais fácil de ser executada e a que possibilita uma maior produtividade. Sobre cabeça Vertical (descendente) Figura 9 Posições de soldagem para soldas de topo Plana Vertical (ascendente) Sobre cabeça Figura 10 Posições de soldagem para soldas de filete CAPÍTULO2 I o c TERMINOLOGIA ESIVISOLOGIA DA SOLDAGEM | 0 0 Plana Horizontal Circunferencial Figura 11 Posições de soldagem para soldas em tubulações As posições de soldagem são designadas pela ASME - American Society of Mechanical Engeneers por um dígito seguido de uma letra. Assim, as posições plana, horizontal, vertical e sobrecabeça são designadas, respectivamente, por 1G, 2G. 3G e 4G nas juntas da Figura 9 e, por 1F, 2F, 3F e 4F, nas juntas da Figura 10. No caso de soldas em tubulações (Figura 11), as designações seriam 1G, 2G e 5G, respectivamente. Essa forma de indicar as posições de soldagem é amplamente usada na indústria. De acordo com a forma em que é executada, a soldagem pode ser classificada em: • Manual: toda a operação é realizada e controlada manualmente pelo soldador. • Semiautomática: soldagem com controle automático da alimentação do metal de adição, mas com controle manual pelo soldador do posicionamento da tocha e de seu deslocamento. • Mecanizada: soldagem com controle automático da alimentação do metal de adição, controle do deslocamento do cabeçote de soldagem pelo equipamento, mas com o posicionamento, acionamento do equipamento e supervisão da operação sob res ponsabilidade do operador de soldagem. • Automática: soldagem com controie automático de praticamente todas as operações necessárias. Muitas vezes, a definição de um processo como mecanizado ou auto mático não é clara, em outros, o nível de controle da operação, o uso de sensores, a possibilidade de programar o processo indicam claramente um processo de soldagem automático. De uma forma ampla, os sistemas automáticos de soldagem podem ser divididos em duas classes: (a) sistemas dedicados, projetados para executar uma operação específica de soldagem, basicamente com nenhuma flexibilidade para mudanças nos processos e (b) sistemas com robôs, programáveis e apresentando uma flexibilidade relativamente grande para alterações no processo. Alguns destes termos, embora de uso consagrado na soldagem, têm significado diverso do indicado acima para o pessoal envolvido com área de automação. Este aspecto será discutido no Capítulo 8 deste livro. o c SOLDAGEM ° ü FUNDAMENTOS E TECNOLOGIA 3. Simbologia da Soldagem A simbologia da soldagem consiste de uma série de símbolos, sinais e números, dispostos de uma forma particular, que fornecem informações sobre uma determ i nada solda e/ou operação de soldagem. Estes elementos, que podem ou não ser usados numa situação particular, são, segundo a norma AWS A 2.4: a) Linha horizontal de referência b) Seta c) Símbolo básico da solda d) Dimensões e outros dados e) Símbolos suplementares f) Cauda - Especificação do processo de soldagem ou outra referência. O elemento básico de um símbolo da soldagem é a linha de referência colo cada sempre na posição horizontal e próxima da junta a que se refere. Nesta linha são colocados os símbolos básicos da solda, símbolos suplementares e outros dados. A seta indica a junta na qual a solda será feita, e na cauda são colocados os dados relativos ao processo, procedimento ou outra referência quanto à forma de execução da soldagem. Quando existe a possibilidade de se chanfrar uma peça ou outra, uma seta quebrada (formada por duas-linhas) indica qual peça deve ser necessariamente chanfrada. A Figura 12 mostra a localização dos elementos de um símbolo de soldagem. Figura 12 Localização dos elementos de um símbolo de soldagem O símbolo básico indica o tipo de solda desejado. Cada símbolo básico é uma representação esquemática da seção transversal da solda a que se refere. Se o símbolo básico é colocado sob a linha de referência, a solda deve ser feita do mes mo lado em que se encontra a seta. Caso o símbolo básico esteja sobre a linha de referência, a solda deve ser realizada do lado oposto à seta. A Figura 13 mostra os símbolos básicos mais comuns segundo a norma AWS A 2.4. A Figura 14 apresenta exemplos de soldas em chanfro e seus símbolos. Mais de um símbolo básico pode ser usado de um ou dois lados da linha de referência. Rimhnln de rnntnm n Símbolo de acabamento Comprimento da solda ' Dist. centro a centro (soldas intermitentes) / Soldagem no campo Linha de referência ioldagem em todo o contorno CAPÍTULO 2 | Q 7 TERMINOLOGIA E SIMBOLOGIA OA SOLDAGEM ! ^ ' Soldas em chanfro ’...li... V . / .V......AL. 'N.r A r ... em I (Bordas em VouX 1/2VouK U ou duplo U J ou duplo J V flangeado 1/2 Vflangeado paralelas) Outros n ..... l i . . . j z z l ..O ... .3 2 ;. .-=-0 . Soldas de aresta Solda de Solda de Solda de Solda de Solda de Solda de filete tampão ponto costura reverso revestimento Figura 13 Tipos básicos de soldas e seus símbolos Figura 14 Sete variações de soldas em chanfro e seus símbolos o O I SOLDAGEM ^ 0 I FUNDAMENTOS E TECNOLOGIA Vários números, que correspondem às dimensões ou outros dados da solda, são colocados em posições específicas em relação ao símbolo básico. O tamanho da solda e/ou sua garganta efetiva são colocados à esquerda do símbolo. Em soldas em chanfro, se estes números não são colocados, subentende-se que a penetração deve sertotal. A abertura de raiz ou a profundidade de soldas do tipo "plug" ou "s lo t" é colocada diretamente dentro do símbolo básico da solda. À direita do símbolo podem ser colocados o comprimento da solda e a distância entre os centros dos cordões, no caso de soldas intermitentes. Os símbolos suplementares são usados em posições específicas do símbolo de soldagem, quando necessários. Estes símbolos são mostrados na Figura 15. Além destes, existem símbolos de acabamento, que indicam o método de acabamento da superfície da solda. Estes símbolos são: • C - rebarbamento (chipping) • G - esmerilhamento (grinding) • H - martelamento (hammering) • M - usinagem (machining) • R - laminação (rolling) So ldarem tod o o contorno Soldar no campo Fusão no : ’V. : rpwprqn ito m o d a Solda Plano Convexo Côncavo ' - w \ \ Figura 15 Símbolos suplementares As Figuras 16 a 19 ilustram o que foi apresentado. Figura 16 Exemplos de soldas de filete e seus símbolos E X D ___ EZEZl___ r±~i m _____________■ li— ., V- ui'RÏ I- VT»-. fpyfS? SÉ rdár fr — m bí i l S , 1 ‘JÉS?8 S H f fvKÜ V/i 3 ■ j ■ 3 1 _J\wo.[/'MB \ Figura 17 Exemplos de soldas de filete intermitente a r» SOLDAGEM ^ U FUNDAMENTOS E TECNOLOGIA 10(13) / \ 60° 1/4(3/8) 3/8(112) Figura 18 Exemplos de símbolos de soldas em chanfro Figura 19 Exemplos de diversos tipos de solda e seus símbolos 4. Exercício Desenhe o símbolo ou a solda desejada, conforme o caso. CAPÍTUtO 2 I TERMINOLOGIAE SIMBOLOGtA DA SOLDAGEM I CAPÍTULO 3 PRINCÍPIOS DE SEGURANÇA EM SOLDAGEM 1. Introdução Considerações sobre segurança são importantes em soldagem, corte e opera ções relacionadas a estas práticas, pois os riscos envolvidos nestas atividades são numerosos e podem provocar sérios danos ao pessoal, equipamentos e instalações. Neste capítulo serão estudados os principais riscos das operações de soldagem e afins e as práticas usuais para se evitar ou minimizar a ocorrência de acidentes. Além dessas práticas, as recomendações e instruções dos fabricantes de equipamentos e produtos devem ser rigorosamente observadas. /) Um componente fundamental da segurança em soldagem e outras práticas industriais é o apoio, orientação e envolvimento direto das chefias e gerências, que devem estabelecer claramente os objetivos e o Plano de Segurança da empresa. Este deve considerar a seleção das áreas para operações de soldagem e corte, exigências de compra de equipamentos de soldagem e equipamentos de segurança devidamente aprovados, estabelecimento e fiscalização de normas de segurança internas, execução de programas de treinamento no uso do equipamento de trabalho e de segurança, procedimentos em caso de emergências ou acidentes, utilização de sinais de advertência para os perigos de cada área específica e a inspeção e manutenção periódica dos equipamentos e instalações. Como diversas outras operações industriais, a soldagem e o corte de materiais apresentam uma série de riscos para as pessoas envolvidas. Os principais riscos incluem a possibilidade de incêndios e explosões, de recebimento de choque elétrico, de exposição à radiação gerada pelo arco elétrico e a fumos e gases prejudiciais à saúde. As principais causas destes riscos serão 'apresentadas em cada caso, bem como as formas de preveni-los. A A SOLDAGEM H 4 ! FUNDAMENTOS E TECNOLOGIA 2. Roupas de Proteção As operações de soldagem e corte envolvem a manipulação de materiais a temperaturas elevadas, a exposição a uma quantidade considerável de luz e a outras formas de radiação eletromagnética e o contato com partículas metálicas incandescentes projetadas em alta velocidade (respingos). Os soldadores, expostos diretamente a estes riscos, necessitam de vestimentas e equipamentos próprios para a proteção do corpo, da cabeça e dos olhos. Estes devem permitir liberdade de movimentos e ao mesmo tem po cobrir e proteger adequadamente as diversas partes do corpo para minimizar a chance de queimaduras e outras lesões. Roupas de raspa de couro são as mais adequadas ao soldador, devido à durabi lidade e resistência ao fogo. Tecidos sintéticos ou de algodão devem ser evitados, pois podem fundir ou pegar fogo quando expostos a calor intenso. As roupas de vem ser mantidas livres de graxa e óleo, pois estas substâncias podem pegar fogo e queimar com o seu aquecimento excessivo e, em particular, na presença de uma concentração elevada de oxigênio. Dobras em luvas e calça podem reter fagulhas ou metal quente e possibilitar a ocorrência de queimaduras. As pernas das calças devem sobrepor às botas (e não ser colocadas dentro destas) para evitar que partículas quentes caiam dentro das botas. O soldador deve usar botas de couro, de cano alto e com biqueira de aço. As principais peças de vestuário usadas pelo soldador para a sua proteção incluem vários itens mostrados na Figura 1. Além destas, é importante o uso de óculos de proteção por baixo do capacete. Figura 1 j Vestuário de proteção típico a ser usado por um soldador: (1) Avental de couro. (2) manga de couro. (3) luva de couro, (4) perneiras de couro, (5) sapatos de segurança. (6) capacete de proteção, (7) óculos de segurança. (8) ombreira de couro 3. Choque Elétrico CAPÍTULO 3 , C miNCiPIOS ÜE SEGURANÇA EM SOLDAGEM ‘ ♦O Acidente por choque elétrico é um risco sério e constante nas operações de soldagem baseadas no uso da energia elétrica, particularmente na soldagem a arco. O contato com partes metálicas "eletricamente quentes" pode causar lesões ou até morte, devido ao efeito do choque elétrico sobre o corpo humano, ou pode resultar em uma queda ou em um outro acidente devido à reação da vítima ao choque. A gravidade de um choque elétrico não está relacionada com a tensão da fon te que o provoca, mas sim com a intensidade da corrente que passa pela vítima, ao seu percurso no corpo do acidentado e à sua duração. A Tabela I apresenta os efeitos e sensações experimentadas por uma pessoa normal quando submetida a correntes de diferentes intensidades. Uma corrente acima de cerca de 80 mA, passando pela região torácica da vítima, pode ser fatal, provocando um fenômeno chamado "fibrilação do coração" e a consequente perda de capacidade deste de bombear o sangue. Tabela I - Efeitos fisiológicos do choque elétrico In t e n s id a d e da c o r r e n t e Efe it o Até 5 mA Formigamento fraco 5 até 15 mA Formigamento forte 15 até 50 mA Espasmo muscular 50 até 80 mA Dificuldade de respiração até desmaios 80 mA até 5 A Fibrilação do ventrículo do coração; parada cardíaca; queimaduras de alto grau Acima de 5 A Morte certa A resistência interna do corpo humano é relativamente baixa (cerca de 500 Cl), sendo a resistência da pele, quando seca, muito mais elevada (da ordem de 105Í2). Este valor pode, contudo, ser grandemente reduzido quando a pele está úmida, aumentando o risco de choques mesmo para tensões relativamente baixas (em torno de 100 V). Acidentes com choque elétrico podem ser divididos em duas categorias diferen tes: choque com a tensão de entrada (isto é, 230, 440 V) e choque com a tensão secundária, ou seja, o circuito de soldagem (60-100 V). No primeiro caso, o choque tende a ser mais forte e perigoso. Pode ocorrer, por exemplo, ao se tocar um fio dentro de um equipamento de soldagem quando a alimentação de energia está conectada e ao mesmo tempo tocar na carcaça da máquina ou outra parte metálica. Mesmo com a máquina desligada, energia elétrica pode estar armazenada em dispositivos como bancos de capacitores no interior da máquina. Assim, apenas técnicos capacitados devem fazer reparos no equipamento se este não estiver funcionando adequadamente, e a carcaça da máquina deve ser adequadamente aterrada. AP souMsai H O l RmOAHBnCSETECNOtUOA Choque com a tensão secundária ocorre quando se toca uma parte do circuito do eletrodo ao mesmo tempo em que outra parte do corpo está em contato com a peça metálica que está sendo soldada. O uso de luvas secas e de roupas de proteção para se isolar do circuito de soldagem minimiza o risco de choques neste caso. ^ As precauções que devem ser tomadas para se evitar o choque elétrico são: ater rar todo o equipamento elétrico, trabalhar em ambiente seco. manter as conexões elétricas limpas e bem ajustadas, usar cabos de dimensões corretas, evitar trabalhar sobre circuitos energizados e usar roupas, luvas e calçados secos. Em caso de choque elétrico, o circuito deve ser imediatamente interrompido e, caso isto não seja possível, a vítima deve ser afastada do contato. Não se deve to car o acidentado diretamente, mas com um material isolante, como um pedaço de madeira ou tecido seco. A respiração artificial (boca-a-boca) deve ser imediatamente iniciada após retirar a vítima do circuito elétrico, caso se constate parada respiratória, e continuada até a chegada de socorro médico. 4. Radiação do Arco Elétrico O arco elétrico é formado em gases ionizados a uma temperatura muito elevada e capaz de gerar radiação eletromagnética intensa .na forma de infravermelho, luz visível e ultravioleta. Chamas e metal quente também emitem radiação, mas com uma intensidade muito menor. É essencial proteger os olhos da radiação do arco, pois esta pode causar a queima da retina e catarata. Mesmo uma pequena exposição à radiação do arcopode causar uma irritação dos olhos conhecida como "flash do soldador”. Normalmente ela só é sentida várias horas após a exposição, causa grande desconforto e provoca inchaço dos olhos, secreção de fluidos e cegueira temporária. O flash do soldador é tempo rário, mas exposições prolongadas ou repetidas podem levar a lesões permanentes nos olhos. C A radiação do arco pode também causar queimaduras na pele, ofuscamento, fadiga visual e dor de cabeça. A proteção deve evitar a exposição do soldador e de terceiros tanto à radiação direta quanto à indireta (isto é, resultante da reflexão da radiação). Individualmente, o soldador deve se proteger com o uso de roupas opacas e máscaras com filtros de luz adequados. A máscara, usada junto com o capacete, protege ainda a região da cabeça contra calor, respingos, chamas e choques. Os filtros de proteção contra a radiação são especificados por números que indicam a sua capacidade de filtrar a radiação (Tabela II). A proteção de terceiros pode ser proporcionada com o uso de biombos e cortinas não refletoras. r cAFfnjun A-j FHNCiTOSDESEGtfiUNÇABtSOUlASa« H l Tabela II - Lentes de proteção para operadores de soldagem e corte Soldagem a arco elétrico Operação Di&metro do Eletrodo (mm) Corrente de soldagem (A) nitro para proteção minima Filtro sugerido para conforto <2.5 <60 7 - Eletrodo 2.5-4.0 6 0 -160 8 10 revestido 4.0-6.4 160 - 250 10 12 >6.4 250-550 11 14 <60 7 - MIG-MAG 6 0 -1 6 0 10 11 Arame tubular 160 - 250 10 12 250 - 500 10 14 <50 8 10 TIG - 50 -1 5 0 8 12 150-500 10 14 <500 10 12 Goivagem - 500-1000 11 14 Soldagem e corte oxtacetltònico Operação Espessura da chapa (mm) Filtro sugerido para conforto Leve <3.2 4 ou 5 Soldagem Média 3.2-12.7 5 ou 6 Pesada >12,7 6 ou 8 Leve <25,4 3 ou 4 Corte Médio 25 -150 4 ou 5 Pesado >150 5 ou 6 Nos anos 1990, surgiram máscaras eletrônicas, baseadas na tecnologia de cristal líquido. Este tipo possui um visor que é claro quando não há arco aberto e permite enxergar normalmente. Quando um arco é iniciado e há emissão de radiação, o visor escurece em milésimos de segundo, oferecendo assim uma proteção adequada, sem que haja necessidade de nenhuma ação do soldador. Existem disponíveis no mercado diferentes modelos deste equipamento que permitem, por exemplo, ajuste manual ou automático do <jrau de escurecimento do visor, desligamento automático quando não há emissão de radiação por um certo período de tempo e célula solar para recarga da bateria interna. O custo das máscaras de cristal líquido é ainda relativamente elevado, mas com tendência de queda, com o aumento da demanda. A n I S01MEEMHOl FUKiMMBnasEncMOiaou 5. Incêndios e Explosões Para que se inicie um incêndio são necessários três elementos atuando conjuntamente: uma fonte de calor, um material combustível e oxigênio. Na maioria das operações de soldagem e corte, o oxigênio estará presente no ar que circunda a solda. Além disso, oxigênio puro existirá em cilindros ou em ins talações centralizadas de armazenamento deste gás. O arco elétrico, a chama de soldagem ou os respingos atuam como fontes de calor. Assim sendo, é fundamental controlar e, se possível, evitar a presença de materiais combustíveis próximos à área de operação de soldagem para se prevenir incêndios. b Nos ambientes industriais, inúmeros são os materiais combustíveis presentes. Estes podem ser sólidos, líquidos ou gasosos. Muitas vezes, materiais inflamáveis, como tintas, solventes, graxas e óleos, são utilizados nas imediações de áreas de soldagem. Assim, todo o cuidado deve ser tomado para manter estes materiais em recipientes adequados, tampados e afastados da área de soldagem e corte. Estopas, panos e papéis embebidos em solventes e outros líquidos inflamáveis devem ser retirados da área antes de se iniciar quaisquer dessas operações. É evidente que a limpeza e a organização da área de soldagem são fundamentais para a segurança. Na soldagem de manutenção de tanques de combustível ou recipientes que armazenavam combustíveis ou materiais inflamáveis, muitas vezes há a formação de vapores explosivos. Antes de se iniciar a soldagem ou corte, estas peças devem ser rigorosamente limpas ou lavadas. É recomendável que sejam preenchidas par cialmente com água de forma conveniente a não prejudicar a soldagem. Na soldagem a gás, pode ocorrer o fenômeno conhecido como "engolimento de chama", que será visto no Capítulo 11. que também pode ser causa de incêndio ou explosão. Este risco é minimizado pelo uso de válvulas de fluxo de sentido único. 6. Fumos e Gases As operações de soldagem podem gerar fumos e gases que podem ser prejudiciais à saúde por diversos motivos. Por exemplo, vapores de zinco podem causar dor de cabeça intensa e febre, enquanto que vapores de cádmio podem ser fatais. Os gases de proteção usados em alguns processos de soldagem (argônio, C02 e misturas), não são tóxicos, mas deslocam o ar, pois são mais pesados que este e podem causar asfixia e morte, se forem usados em ambientes fechados. Assim, as operações de soldagem e corte devem ser efetuadas em locais bem ventilados e, se necessário, devem ser usados ventiladores e exaustores. Quando isto não for possível, o soldador deve usar uma máscara contra gases ou equipa mentos de proteção respiratória. CAPÍTULO 3 J .Q PRINCÍPIOS OE SEGURANÇA EM SOIDAGEM O soldador deve ficar atento para a direção tomada pela coluna de fumos gerados durante a soldagem e tentar se posicionar de forma a se manter afastado desta. Sistemas de exaustão de gases podem ser acoplados às tochas de soldagem, mas isto encarece o custo do equipamento e aumenta o peso que o soldador precisa sustentar durante a operação. 7. Outros Riscos (ò Outros riscos comuns em áreas de soldagem e operações afins são: quedas de objetos e ferramentas, quando da soldagem acima do nível do solo, queda de pes soal trabalhando em andaimes e plataformas ou locais elevados e movimentações de cargas no nível do solo ou elevadas. Capacetes de segurança devem sempre ser usados nestes casos, e cintos de segurança são recomendados quando se trabalha em locais elevados. Oj Fagulhas e partículas frias ou aquecidas podem ser lançadas durante o esmerilhamento, limpeza e goivagem em áreas de soldagem. Acesso restrito e uso de biombos, óculos de segurança e proteção auricular devem ser imple mentados. [> Cuidados especiais devem ser tomados com os cilindros de gás. Estes podem conter gases a pressão muito elevada (de até cerca de 200 atm), podendo se tornar projéteis pesados caso o gás escape deforma descontrolada (no caso da ruptura de sua válvula, por exemplo). Apenas cilindros contendo o gás de proteção adequado para o processo de soldagem em uso e reguladores de pressão próprios para este gás e sua pressão devem ser usados. As mangueiras e suas conexões devem ser adequadas para a aplicação e estar em boas condições de uso. Os cilindros devem ser mantidos em pé e presos a um suporte de forma que não possam cair. O seu transporte deve ser sempre feito com a proteção da válvula. 8. Recomendações Finais 0 A segurança em instalações industriais é uma tarefa coletiva. Todos devem ser engajados na prevenção de acidentes e conscientizados que só se consegue um resultado favorável na medida em que cada indivíduo se comprometa efetivamente com a segurança. A maior regra de segurança continua sendo PENSE ANTES DE AGIR E AJA SEMPRE COM BOM SENSO. A perseverança é fundamental. Regras de segurança passam a ser negligenciadas e relegadas a um segundo plano com o passar do tempo. Somente a ATENÇÃO e ALERTA constantes podem minimizar o risco de acidentes. c n «omMBiÜU RmMBITOSETECNnOeU 9. Exercícios a) Que equipamentos de proteção individual são recomendados para a segurançade soldadores e operadores de soldagem? b) Cite medidas de segurança para a proteção de instalações e equipamentos de solda gem. c) Qual a diferença entre segurança pessoal e de terceiros? d) Por que a segurança é uma tarefa coletiva? e) Por que esforços individuais são pouco efetivos na prevenção de acidentes? CAPÍTULO 4 0 ARCO ELÉTRICO DE SOLDAGEM 1. Introdução O arco elétrico é a fonte de calor mais utilizada na soldagem por fusão de mate riais metálicos, pois apresenta uma combinação ótima de características, incluindo uma concentração adequada de energia para a fusão localizada do metal de base, facilidade de controle, baixo custo relativo do equipamento e um nívet aceitável de riscos à saúde dos seus operadores. Como consequência, os processos de solda gem a arco têm atualmente uma grande importância industrial, sendo utilizados na fabricação dos mais variados componentes e estruturas metálicas e na recuperação de um grande número de peças danificadas ou desgastadas. Este capítulo apresenta uma descrição geral das características do arco elétrico, em particular aquelas impor tantes para a sua aplicação em soldagem. A ênfase aqui será nos fenômenos físicos que controlam a soldagem a arco e não nos aspectos tecnológicos, industriais ou metalúrgicos da soldagem. Apesar de muito estudado, o arco elétrico é bastante complexo e os conhecimentos obtidos até agora permitem um entendimento apenas parcial dos fenômenos envolvidos. Algumas dessas informações serão apresentadas neste capítulo, de forma simplificada. O arco elétrico consiste de uma descarga elétrica, sustentada através de um gás ionizado, a alta temperatura, conhecido como plasma, podendo produzir energia térmica suficiente para ser usado em soldagem, pela fusão localizada das peças a serem unidas. Atribui-se a primeira observação do arco elétrico em condições controladas a Sir Humphrey Davy, no início do século XIX. O termo arco foi aplicado a este fenômeno em função de sua forma característica resultante da convecção dos gases quentes gerados pelo mesmo. O limite superior de corrente em um arco elétrico não é bem definido, podendo atingir dezenas ou centenas de milhares de ampéres em certos circuitos. Para a soldagem a arco, correntes acima de 1000 A r n ! SOLDAGEM 3 L j FUNDAMENTOS E TECNOLOGIA são utilizadas no processo a arco submerso (Capítulo 16) e da ordem de 1 A ou inferiores são usadas na soldagem com microplasma (Capítulo 14). Os valores mais comuns, contudo, são da ordem de 101 a 102A. Em soldagem, o arco, em geral, opera entre um eletrodo plano, ou aproxima damente plano (a peça), e outro que se localiza na extremidade de um cilindro (o arame, vareta ou eletrodo), cuja área é muito menor do que a do primeiro. Assim, a maioria dos arcos em soldagem tem um form ato aproximadamente cônico ou "de sino", com o diâmetro junto da peça maior do que o diâmetro próximo do eletrodo (Figura 1). Exceções podem ocorrer nos processos de soldagem a plasma (Capítulo 14) e a arco submerso. No primeiro, um bocal de constrição na tocha restringe o arco, tornando-o aproximadamente cilíndrico. Na soldagem a arco submerso, o arco ocorre dentro de uma câmara cujas paredes são formadas pelo fluxo fundido que se expandem e contraem periodicamente. Na soldagem com eletrodo revestido (Capí tulo 12), o arco pode se mover rápida e de forma errática na superfície do eletrodo em associação com o movimento de líquidos na extremidade deste. 1 1 mm Figura 1 Imagem do arco elétrico observado entre um eletrodo de tungsténio e um bloco de cobre em uma atmosfera de argônio 2. Características Elétricas do Arco Eletricamente, o arco de soldagem pode ser caracterizado pela diferença de potencial entre suas extremidades e pela corrente elétrica que circula por este. A queda de potencial ao longo do arco elétrico não é uniforme, distinguindo-se três regiões distintas, como ilustrado na Figura 2. CAPÍTULO« ro 0 ARCO ELÉTWCO DE SOLDAGEM | 3 J D istância Figura 2 Regiões de um arco de soldagem (esquemáticas): (a) Zona de Queda Catódica, (b) Coluna do Arco e (c) Zona de Queda Anódica. Ia - Comprimento do arco As regiões de queda anódica e catódica são caracterizadas por elevados gradientes térmicos e elétricos, da ordem de 106 °C/mm e de 103 a 105 V/mm, respectivamente, e as somas das quedas de potencial nessas regiões é aproximadamente constante, independentemente das condições de operação do arco. A parte visível e brilhante do arco constitui a coluna de plasma, que apresenta gradientes térmicos e elétricos bem mais baixos que as regiões anteriores, da ordem de 103oC/mm e 1 V/mm, respectivamente. A diferença de potencial nesta região varia de forma aproximadamente linear com o comprimento do arco. Assim, para um dado valor de corrente de soldagem, a diferença de potencial entre o eletrodo e a peça é, em uma primeira aproximação, dada por (ver Figura 2): (Eq.1) A diferença de potencial entre as extremidades do arco, necessária para manter a descarga elétrica, varia com a distância entre os eletrodos, chamada de comprimento do arco (la), com a forma, tamanho e material dos eletrodos, composição e pressão do gás na coluna de plasma e corrente que atravessa o arco, entre outros fatores. A Figura 3 mostra a variação da tensão.no arco elétrico com a corrente de solda gem, para três diferentes comprimentos de arco e com outros parâmetros, como a composição do gás de proteção, mantidos fixos. Esta curva é conhecida como "característica estática do arco". A curva característica do arco difere da curva de uma resistência comum, para a qual vale a Lei de Ohm (V = fí.l), que tem o formato de uma reta passando pela origem. Por sua vez, a curva do arco passa por valor mínimo M uiusaiRJWJMiams Eiaaouw* de tensão para valores intermediários de corrente e aumenta tanto para maiores còmo menores valores de correntes. O aumento da tensão para os valores elevados de corrente é similar ao observado em uma resistência comum. O comportamento encontrado para baixos valores de corrente é próprio do arco elétrico e reflete o fato de que. neste, a condução da corrente elétrica é feita por (ons e elétrons gerados por ionização térmica. Quando a corrente é baixa, existe pouca energia disponível para o aquecimento e ionização do meio em que o arco ocorre, resultando em uma maior dificuldade para a passagem da corrente e. como consequência, em um aumento da tensão elétrica do arco. Corrente (A) Figura 3 Curvas características estáticas do arco entre um eletrodo de tungsténio e um anodo do cobre para diferentes comprimentos de arco A Figura 4 mostra esquematicamente uma curva de variação da queda de tensão ao longo do arco com o seu-comprimento para dois valores de corrente. Observa-se uma relação aproximadamente linear entre a tensão e o comprimento do arco e que, quando este último torna-se muito curto, o valor da tensão não tende para zero, o que está de acordo com a equação 1. CAFfTUUX e c OARCOaÉrmCODESOMGEM I 3 3 O »CO CO c .03 2 4 6 Comprimento do Arco (mm) figura 4 Variação da diferença de potencial entre as extremidades de um arco de soldagem com a distância de separação entre elas. para diferentes níveis de corrente (dados da figura anterior) 0 plasma é constituído por moléculas, átomos, íons e elétrons. Destes, os dois últimos são os responsáveis pela passagem da corrente elétrica no arco. Assim, a estabilidade do arco está intimamente ligada às condições de produção de elétrons e íons, em grande quantidade. Elétrons e íons são produzidos, na coluna de plasma, por choques entre os constituintes desta coluna que ocorrem nas elevadas tempe raturas existentes nesta. Contudo, devido à sua massa muito menor, a velocidade dos elétrons tende a ser muito superior à dos outros constituintes e mais de90% da corrente elétrica do arco de soldagem pode ser transportada pelos elétrons. Desta forma, para manter a neutralidade elétrica do arco, elétrons adicionais precisam ser gerados junto ao eletrodo negativo (cátodo). Quando o material do cátodo tem um elevado ponto de fusão (por exemplo, tungsténio ou carbono), neste pode-se atingir temperaturas suficientemente altas (acima de cerca de 3.500 K) para que ocorra a emissão termiônica dos elétrons. Esta forma de emissão é caracterizada por uma tensão de queda catódica (Vc) relativamente baixa (cerca de 5 V) e por uma região de contato do arco com o eletrodo (ponto catódico) relativamente difusa e estática. Quando o material do cátodo tem uma menor temperatura de fusão (por exem plo, aço, alumínio e cobre), a temperatura da região catódica fica abaixo de 3.500 K, sendo insuficiente para gerar uma quantidade suficiente de elétrons por emissão termiônica. Assim, processos alternativos precisam operar. Na soldagem com um 56 SOLDAGEMFUNDAMENTOS E TECNOLOGIA cátodo de material não refratário, o mecanismo mais comum envolve a emissão dos .elétrons a partir de filmes de óxido existentes na superfície do material, ocorrendo a destruição destes filmes com a emissão dos elétrons. Este mecanismo de emissão ("emissão a frio") é caracterizado por uma tensão de queda catódica maior (entre 10 e 20 V), pela existência de múltiplos pontos catódicos que se movem com elevada velocidade na superfície do cátodo e pelo efeito de limpeza (remoção de óxido) desta superfície. Em particular, este efeito de limpeza é de importância fundamental na soldagem a arco com proteção gasosa de ligas de alumínio e magnésio (metais que possuem uma camada de óxido de elevada temperatura de fusão). A possibilidade de ocorrência de diferentes mecanismos de emissão de elétrons junto com diferenças de composição, forma e temperatura dos eletrodos faz com que a polaridade dos eletrodos influencie significativamente a estabilidade do arco e outras características operacionais de um processo de soldagem. A estabilidade é importante, tanto do ponto de vista operacional quanto da qualidade da solda. Um arco instável é mais difícil de ser controlado pelo soldador, já que este precisa ter maior habilidade para mantê-lo operando e executar a solda de maneira adequada. Além disso, o cordão de solda obtido com um arco instável tende a ter uma forma mais irregular com dimensões variáveis e pode apresentar uma maior quantidade de porosidade, tornando-se muitas vezes inaceitável. 3. Características Térmicas do Arco O arco de soldagem apresenta, em geral, uma elevada eficiência para transfor mar a energia elétrica em energia térmica e transferi-la para a peça. O calor gerado num arco elétrico pode ser estimado, a partir de seus parâmetros elétricos, pela equação: Q = V I t (Eq. 2) onde Q é energia térmica gerada, em Joules (J), 1/ é a queda de potencial no arco, em Volts (V); / é corrente elétrica no arco, em Ampéres (A), e t é o tempo de opera ção, em segundos (s). Para que a ionização do plasma e, portanto, a capacidade deste de conduzir cor rente não sejam perdidas, altas temperaturas devem ser mantidas no arco elétrico. A Figura 5 mostra o perfil térmico de um arco de soldagem estabelecido entre um eletrodo de tungsténio e uma peça de cobre refrigerada a água, separados por 5mm, em atmosfera de argônio. Obviamente, esta distribuição de temperatura depende do processo e das condições de soldagem. Por exemplo, um aumento da corrente de soldagem, ocasionando uma maior geração de energia no arco, leva ao aparecimento de temperaturas mais altas além de aumentar as dimensões do arco. Na soldagem com eletrodo consumível, uma quantidade de vapor metálico pode ser incorporada ao arco. Como esse vapor é, em geral, mais facilmente ionizável que os gases que normalmente formam o arco (como o argônio e o oxigênio), a temperatura do arco tende a se reduzir. CAPITULO 4 | r-j 0 ARCO ELÉTRICO OE SOLDAGEM 3 ' CAPÍTULO 4 5 mm T 200 A 12,1 V 18.000 K 16.000 15.000 14.000 13.000 12.000 11.000 10.000 í + Figura 5 isotermas de um arco elétrico típico. V = 12 V, I = 200 A Além de calor, o arco elétrico gera radiação eletromagnética de alta intensidade, nas faixas do infravermelho, visível e ultravioleta, devendo ser observado com filtros protetores adequados. 4. Características Magnéticas do Arco O arco de soldagem é um condutor gasoso de corrente elétrica. Quando compa rado com um fio metálico, tende a ser muito mais sensível à influência de campos magnéticos. Campos magnéticos são criados por cargas elétricas em movimento. Desta for ma, em torno de qualquer condutor elétrico percorrido por uma corrente, existe um campo magnético circular induzido por esta corrente. Por outro lado, se um condutor de comprimento I, percorrido por uma corrente elétrica i, é colocado em uma região onde exista um campo magnético B (orientado perpendicularmente a I), ele experimenta uma força F, conhecida como "Força de Lorentz", que é dada por: A força Fé perpendicular a ambos. Bei, e o seu sentido pode ser obtido aplicando- -se a "Regra do Parafuso", isto é, imaginava-se um parafuso convencional que gira no sentido de I para B. O sentido de F será aquele de avanço do parafuso. As forças de origem magnética aumentam com a corrente elétrica e, portanto, os seus efeitos tendem a se tornar mais intensos na soldagem com corrente elevada. F = B IA (Eq. 3) c o i SOLDAGEM ü ° I f UNDAMENTOS E TECNOLOGIA É de especial importância para a soldagem a arco a força de compressão que o campo magnético induzido pela corrente que passa por um condutor exerce sobre si próprio. Para um condutor cilíndrico, esta força, considerada na forma de pressão (p), é dada por: H l2 R2 (Eq. 4) ondepA è a pressão atmosférica, fio,(4rr.10‘7 H/m) é a permeabilidade magnética do vácuo, f í é o raio do condutor e r é a distância ao centro do condutor (r < R). Con siderando os valores comuns de corrente em soldagem, pode-se mostrar que esta pressão é muito pequena para causar qualquer efeito importante em um condutor sólido, mas que seus efeitos podem ser consideráveis no arco ou no metal fundido na ponta de um eletrodo durante a soldagem. No arco elétrico, esta pressão desempenha um papel importante devido ao for mato cônico usual do arco (Figura 1). Devido a este formato, o valor de R junto ao eletrodo é menor do que o seu valor junto da peça, onde, portanto, p é menor. Esta diferença de pressão induz, no arco, um intenso fluxo de gás do eletrodo para a peça que é independente da polaridade e do tipo de corrente usados e é conhecido como "Jato de Plasma", Figura 6. Eletrodo Figura 6 Representação esquemática da formação do jato de plasma O jato de plasma direciona os gases quentes do arco contra a peça, sendo, assim, um dos mecanismos responsáveis pela penetração da solda. Além disso, ele garante ao arco elétrico uma certa rigidez (o arco é um jato de gases) e afeta a transferência de metal do eletrodo para a poça de fusão (soldagem com eletrodos consumíveis). CAPÍTULO 4 r g 0 ARCO ELÉTRICO DE SOLDAGEM 3 3 As mesmas forças magnéticas que atuam no arco e causam a formação do jato de plasma exercem uma influência similar na extremidade fundida de eletro dos consumíveis. Estas forças tendem a estrangular, ou apertar ("pinch"), o metal líquido na região em que o seu diâmetro é menor e, desta forma, podem contribuir para separá-lo do fio sólido (Figura 7). Este efeito, particularmente para valores de corrente de soldagem elevados, pode exercer um papel direto na transferência de metal do eletrodo para a peça. __A __ Eletrodo Figura 7 Efeito "Pinch" (esquemático) Um outro efeito importante de origem magnética na soldagem a arco é o chamado "sopro magnético", que consistede um desvio do arco de sua posição normal de operação e que tende a ocorrer de uma forma intermitente e similar a uma chama sendo soprada. O sopro magnético resulta de uma distribuição assimétrica do campo magnético em torno do arco, o que causa o aparecimento de forças radiais atuando sobre o arco e levando à alteração de sua posição. Esta distribuição assimétrica do campo magnético pode ser causada por variações bruscas na direção da corrente elétrica (Figura 8-a) e/ou por um arranjo assimétrico de material ferromagnético em torno do arco, como mostrado esquematicamente nas Figuras 8-b (extremidades das peças) e 8-c (peças de diferentes espessuras). r n SOLDAGEM D U FUNDAMENTOS E TECNOLOGIA (a) Indução magnética Eletrodo Direção do sopro magnético Concentração de linhas de campo Salda de corrente Figura 8 Causas de sopro magnético (esquemático): (a) mudança brusca da direção da corrente na sua passagem do arco para a peça; (b) concentração do campo magnético na borda de uma junta de material ferromagnético e (c) concentração do campo no lado menos espesso de uma junta do mesmo tipo de material CAPlTUlO 4 O ARCO ELÍTTtICO DE SOLDAGEM 61 O sopro magnético é quase sempre indesejável na soldagem, pois orienta o arco para direções que, em geral, prejudicam a penetração e uniformidade do cordão de solda, além de causar a instabilidade do arco e dificultar a operação. O sopro magnético pode ser minimizado ou eliminado através de algumas me didas simples, entre elas: • inclinar o eletrodo para o lado para o qual se dirige o arco; • soldar com arco mais curto; • usar mais de uma conexão de corrente na peça, visando balanceá-la em relação ao arco; • usar corrente de soldagem mais baixa, quando possível; e • usar corrente alternada, pois o efeito do sopro é menor. 5. Exercícios e Práticas de Laboratório a) Por que o arco elétrico é a fonte de calor mais usada, hoje em dia, para a soldagem por fusão? b) Como é possível determinar experimentalmente a soma das quedas de potencial nas regiões anódica e catódica? c) Por que a corrente de soldagem é transportada principalmente por elétrons? d) Que proporção da corrente elétrica no arco é transportada por elétrons? E por íons positivos? e) Calcule quantos elétrons e íons são necessários para transportar uma corrente de 150 A. f) Explique como cada uma das medidas citadas no texto pode minimizar o sopro mag nético. g) Estabeleça um arco elétrico de soldagem TIG sobre um bloco de cobre, refrigerado a água. com o eletrodo ligado ao polo negativo da fonte de energia. Meça a queda de tensão no arco para várias correntes de soldagem, mantendo fixos o comprimento do arco e o ângulo da ponta do eletrodo. Meça a tensão no arco para diferentes compri mentos, com a corrente e o ângulo da ponta fixos. Repita as experiências anteriores para diferentes ângulos da ponta do eletrodo. Trace gráficos V x I e V xjí. para cada ângulo. Explique o resultado das experiências. h) Discuta qual é o significado físico da tangente à curva V x I. i) Discuta qual é o significado físico da tangente à curva V x£ j) Determine a soma das quedas de tensão anódica e catódica. ; . ' CAPÍTULO 5 FONTES DE ENERGIA PARA SOLDAGEM A ARCO 1. Introdução A soldagem a arco utiliza uma fonte de energia (ou máquina de soldagem) pro jetada especificamente para esta aplicação e capaz de fornecer tensão e corrente, em geral, na faixa de 10 a 40 V e 10 a 1.200 A, respectivamente. Nas últimas três décadas, ocorreu um grande desenvolvimento no projeto e construção de fontes para soldagem com a introdução de sistemas de controle eletrônicos nestes equipa mentos. Atualmente, pode-se encontrar no mercado tanto máquinas convencionais, cuja tecnologia básica vem das décadas de 1950 e 1960, como máquinas "eletrôni cas", de desenvolvimento mais recente (décadas de 1970, 1980 e 1990). No Brasil, a grande maioria das fontes fabricadas ainda são convencionais. Em países do pri meiro mundo, a situação é bastante diferente. No Japão, Europa e Estados Unidos, a maior parte dos equipamentos fabricados para alguns processos de soldagem a arco são eletrônicos. 2. Requisitos Básicos das Fontes Uma fonte de energia para soldagem a arco deve atender a três requisitos básicos: • produzir saídas de corrente e tensão com características adequadas para um ou mais processos de soldagem; rafaellneves10 Realce rafaellneves10 Realce • permitir o ajuste dos valores de corrente e/ou tensão para aplicações específicas e • controlar, durante a soldagem, a variação dos níveis de corrente e tensão de acordo com os requisitos do processo e aplicação. Adicionalmente, o projeto da fonte precisa considerar os seguintes requisitos adicionais: • estar em conformidade com exigências de normas e códigos relacionados com a segurança e funcionalidade; • apresentar resistência e durabilidade em ambientes fabris, com instalação e operação simples e segura; • ter controles/interface de fácil uso e compreensão para o usuário; e • quando necessário, ter interface ou saída para sistemas de automação. SOLDAGEM i FUNDAMENTOS E TECNOLOGIA 3. Fontes Convencionais 3.1 - Características e stática s e d inâm icas O funcionamento de uma fonte de energia depende fundamentalmente de suas características estáticas e dinâmicas. Ambas afetam a estabilidade do arco e a aplica bilidade da fonte para um dado processo de soldagem, mas de uma forma diferente. Características estáticas se relacionam com os valores médios de corrente e tensão de saída da fonte como resultado da aplicação de uma carga resistiva. As características dinâmicas envolvem variações transientes de corrente e tensão fornecidas pela fonte em resposta a mudanças durante a soldagem. Estas variações envolvem, em geral, intervalos de tem po muito curtos, da ordem de 10'2 s ou menos, sendo de caracterização mais difícil que as características estáticas. As características dinâmicas são importantes, em particular, (1) na abertura do arco, (2) durante mudanças rápidas de comprimento do arco, (3) durante a transferência de metal através do arco e (4), no caso de soldagem com corrente alternada, durante a extinção e reabertura do arco a cada meio ciclo de corrente. As características dinâ micas das fontes são afetadas por: (1) dispositivos para armazenamento temporário de energia, como bancos de capacitores ou bobinas. (2) controles retroalimentados em sistemas regulados automaticamente e (3) mudanças na forma de saída da fonte. As duas últimas formas de controle das características dinâmicas não são usadas em fontes convencionais, sendo típicas de fontes com controle eletrônico. As características estáticas da fonte são indicadas na forma de curvas caracte rísticas. obtidas através de testes com cargas resistivas, e que são, muitas vezes, publicadas pelo fabricante da fonte no seu manual. Com base na forma de sua curva rafaellneves10 Realce rafaellneves10 Realce rafaellneves10 Realce rafaellneves10 Realce característica, uma fonte pode ser classificada como de corrente constante (Cl1) ou de tensão constante (CV). A Figura 1 ilustra os diferentes tipos de curva característica. Esta Figura ainda mostra, sobrepostas às curvas das máquinas, curvas características do arco (Capítulo 3) e o ponto de operação resultante das duas. CAPÍTULO 5 ! c c fONTES OE ENERGIA PARA SOLDAGEM A ARCO j D * 3 Tensão Tensão Corrente Corrente (a) (b) Figura 1 Curvas características de fontes mostradas juntamente com uma curva característica do arco. (a) corrente constante e (b) tensão constante As fontes de corrente constante apresentam uma tensão em vazio (tensão na ausência de qualquer carga) relativamente elevada (entre cerca de 55 e 85 V). Na presença de uma carga, esta tensão cairapidamente. A inclinação ("slope") da curva característica tende a variar ao longo da curva, mas, na região de operação do arco, situa-se entre cerca de 0,2 e 1,0 V/A para fontes convencionais de Cl. Em contraste, máquinas modernas com saída de Cl podem ter uma inclinação quase infinita, isto é, uma saída quase vertical na faixa de tensões de trabalho. Fontes de corrente constante permitem que, durante a soldagem, o comprimento do arco varie sem que a corrente de soldagem sofra grandes alterações. Eventuais curtos-circuitos do eletrodo com o metal de base não causam, também, uma eleva ção importante da corrente. Este tipo de equipamento é empregado em processos de soldagem manual, nos quais o soldador controla manualmente o comprimento do arco (SMAW, GTAW e PAW, ver Capítulos 12, 13 e 14, respectivamente), em processos mecanizados de soldagem com eletrodo não consumível (PAW e GTAW) e, em alguns casos, em processos semiautomáticos, mecanizados ou automáticos com eletrodo consumível, quando o equipamento apresenta algum mecanismo especial de controle do comprimento do arco. 1 Neste livro, serâo usadas as abreviaturas Cl para corrente constante e CC oara corrente contínua. r r SOLDAGEM 0 0 | FUNDAMENTOS E TECNOLOGIA Fontes de tensão constante fornecem basicamente a mesma tensão em toda a sua faixa de operação. A inclinação deste tipo de fonte situa-se entre cerca de 0,01 e 0,04 V/A. Estas fontes perm item grandes variações de corrente durante a soldagem quando o comprimento do arco varia ou ocorre um curto-circuito. Este comportamento permite o controle do com prim ento do arco por variações da corrente de soldagem (a qual controla a velocidade de fusão do arame) em processos de soldagem nos quais o arame é alimentado com uma velocidade constante (por exemplo, nos processos GMAW e SAW, ver Capítulos 15 e 16, respectivamente). Adicionalmente, o grande aumento de corrente, que ocorre quando o eletrodo toca o metal de base, facilita a abertura do arco e possibilita a transferência do metal de adição do eletrodo para a poça de fusão durante o curto-circuito. Alguns processos de soldagem a arco, como a soldagem a arco submerso (ver Capítulo 16), podem utilizar mais de um arame. Nesta situação, os arames podem ser energizados pela mesma fonte ou por fontes separadas. Quando se trabalha com corrente alternada, uma diferente fase da mesma fonte pode ser usada para cada arame. 3.2 - C iclo de trabalho Os componentes internos de uma fonte de energia tendem a se aquecer pela passagem da corrente elétrica durante uma operação de soldagem (Figura 2). Por outro lado, quando o arco não está operando, o equipamento tende a se resfriar, particularmente quando este apresenta ventiladores internos. Assim, em uma fonte operando continuamente por um período longo de tempo, a sua temperatura interna pode se tornar muito elevada. Caso ela ultrapasse um valor crítico, dependente das características construtivas, o equipamento poderá ser danificado pela queima de algum componente ou pela ruptura do isolamento do transformador, ou poderá ter sua vida útil grandemente reduzida. Temperatura Tempo Figura 2 Ciclos de aquecimento e resfriamento interno durante a operação de uma fonte CAPÍTULO 5 FONTES DE ENERGIA PAHA S010AGEM A ARCO O cicio de trabalho (ou fator de trabalho) é definido como a relação entre o tempo de operação (X^cc) permitido durante um intervalo de teste especificado (tTESTE, em geral, igual a 10 minutos), isto é: Ct = Í aB£Q_ * -| oo% (Eq1) {TESTE Assim, por exemplo, uma fonte com Ct = 60% pode operar por até seis minutos em cada intervalo de 10 minutos. Para uma dada fonte, o valor do ciclo de trabalho vem geralmente especificado para um ou mais níveis de corrente de trabalho. É importante não utilizar uma fonte acima de seu ciclo de trabalho de forma a evitar o aquecimento excessivo de seu transformador e de outros componentes. O ciclo de trabalho é um fator determinante do tipo de serviço para o qual uma dada fonte é projetada. Unidades industriais para a soldagem manual são, em geral, especificadas com Ct de 60% na corrente de trabalho. Para processos semiautomáticos, mecanizados ou automáticos, um Ct de 100% é mais adequado. Fontes de pequena capacidade, de uso doméstico ou em pequenas oficinas, podem ter um ciclo de trabalho de 20%. Para se estimar o fator de trabalho de uma fonte para correntes de soldagem diferentes das especificadas pelo fabricante, pode-se utilizar a fórmula abaixo: Ct, . I? = C t2 . I22 (Eq. 2) onde os Ct's e !'s são os ciclos de trabalho e as correntes nas condições 1 e 2. 3.3 - C la ss ificação Fontes de energia convencionais para soldagem podem ser classificadas de diversas maneiras. A Figura 3 mostra uma classificação apresentada por Cary no livro M odem VZelding Technology. Nesta, as fontes são separadas em dois grupos principais: (1) fontes que geram a energia elétrica no próprio local de soldagem pela conversão de uma dada forma de energia em energia mecânica e a conversão desta em energia elétrica e (2) fontes que convertem a energia elétrica da rede de distribuição em uma forma adequada para a soldagem. Em ambos os casos, a corrente elétrica pode ser fornecida para soldagem na forma alternada (CA) ou contínua (CC). SOLDAGEM FUNDAMENTOS E TECNOLOGIA Movida por motor elétrico__:_______ Transformador- Retificador Movida por motor de combustão Transformador Método de ajuste da saída da fonte: taps, reator variável, shun _______ reator saturável, bobina móvel, retroalimentação, etc CA/CC CI/CV Figura 3 Classificação de fontes de energia convencionais para soldagem Outra forma de classificação é pela sua curva característica de saída: fontes de corrente constante (Cl) e fontes de tensão constante (CV). Fontes, ainda, podem ser classificadas de acordo com a suas características construtivas ou operacionais, como por exemplo, máquinas rotativas, unidades moto-geradoras, máquinas estáticas, transformadores, transformadores-retificadores, fontes para um operador, fontes para vários operadores etc. Aspectos adicionais importantes para a classifi cação e seleção de fontes de energia são a sua capacidade ou corrente nominal e o seu ciclo de trabalho (item 3.2). 3.4 - Construção e m étodos de controle de fontes convenciona is e státicas Fontes convencionais que utilizam diretamente a energia elétrica da rede são forma das basicamente de um transformador, um dispositivo de controle da saída da fonte e um banco de retificadores (em equipamentos de corrente contínua). Figura 4. Alimentação Saída Figura 4 Diagrama de bloco de uma fonte convencional CAPÍTULO 5 c q FONTES DE ENERGIA PARA SOLDAGEM A ARCO ! D S O transformador é um dispositivo que transfere energia elétrica de um circuito de corrente alternada para outro através de um campo magnético sem modificar a frequência, mas, dependendo de sua construção, levando a um aumento ou re dução da tensão. Em linhas gerais, um transformador é composto de um núcleo de chapas de aço sobrepostas e enrolado por dois segmentos de fio que formam os enrolamentos primário (de entrada) e secundário (de saída). Desprezando-se as perdas de energia e a eficiência do transformador (que podem ter um efeito consi derável, particularmente quando uma carga está ligada ao transformador), a razão entre as tensões de entrada e saída (V1 e V2) do transformador é igual à razão entre os números de espiras nos enrolamentos primário e secundário (N1 e N2): Diodos, representados por são componentes eletrônicos retificadores que apresentam valores de resistência elétrica diferentes, dependendo do sentido de fluxo da corrente, isto é, a resistência é muito menor em um sentido do que em outro. Assim, em um circuito de corrente alternada, este dispositivo permite bloquear o fluxode corrente em um sentido e, desta forma, retificar a corrente. Para tornar este processo mais eficiente, um número de retificadores são colocados em arranjos espe ciais (pontes), Figura 5. A corrente contínua resultante da retificação apresenta flutuações remanescentes. Estas flutuações podem ser reduzidas pelo uso de circuitos trifásicos e de bancos de capacitores ou indutores que atuam como filtros da corrente. Ponte retificadora de onda completa para um circuito monofásico O dispositivo para o controle da saída das fontes convencionais é, em geral, de acionamento mecânico ou elétrico, existindo diversas formas destes. Duas formas simples e muito comuns em fontes convencionais são o uso de transformadores com "taps" e o de transformadores de bobina móvel. Transformadores com vários "taps", seja no primário seja no secundário do transfor mador, permitem um ajuste descontínuo das condições de soldagem pela variação da relação entre o número de espiras no primário e secundário do transformador (Figuras 6 e 7). Fontes mais simples apresentam, em seu painel, vários bornes, e as condições de soldagem são selecionadas pela conexão do cabo ao borne adequado (Figura 7b). Em sistemas um pouco mais sofisticados, a seleção da condição de soldagem pode ser feita através de uma chave de várias posições. Esta forma de controle é mais usada (Eq.3) * Figura 5 SOLDAGEM FUNDAMENTOS E TECNOLOGIA em sistemas pequenos e de baixo custo e não permite controle remoto ou ajuste •contínuo. Um sistema similar, mas que permite uma variação contínua da saída do equipamento, é o uso de sapatas ou contatos móveis (em geral de carvão) que, ao serem deslocados sobre a superfície de uma bobina do transformador, permite a variação das relação de espiras de forma relativamente contínua. Tensão Tensão Corrente Corrente (a) (b) Figura 6 Ajuste das condições de soldagem por "taps": (a) fonte de corrente constante, (b) fonte de tensão constante Entrada Bornes Saída A lim e n ta çã o Figura 7 (a) Diagrama de uma fonte tipo transformador com ajuste de saída por "taps” e (b) desenho esquemático de uma fonte deste tipo O controle por bobina móvel é baseado no uso de um transformador, cujo núcleo é alongado de forma a permitir o movimento de uma bobina (normalmente o primá rio) em relação à outra. Como a distância entre as bobinas controla o acoplamento magnético destas, quanto mais afastadas as bobinas forem colocadas, menor será a saída da fonte, islo é, mais inclinada fica a sua curva característica (Figura 8). CAPÍTULO 5 FONTES DE ENERGIA PARA SOLDAGEM A ARCO (a) Corrente Figura 8 Ajuste de uma fonte tipo transformador de bobina móvel para saída de corrente, (a) mínima (b) máxima, (c) Curvas características resultantes 3.5 - Fontes tipo gerador O gerador de soldagem (ou motor-gerador) é um dos tipos mais antigos de fonte de energia para soldagem a arco e é, ainda hoje, uma das mais versáteis. Eles podem ser projetados para gerar qualquer tipo de curva característica e, embora geralmen te produzam corrente contínua, existem equipamentos de corrente alternada cuja frequência pode ser diferente da frequência da rede. Fontes deste tipo são constituídas de um motor que gera energia mecânica a qual é transmitida através de um eixo ou por um sistema de correia e polias ao gerador de energia elétrica (Figura 9). O motor pode ser elétrico ou de combustão interna, tendo, como combustível, gasolina, óleo diesel, gás natural etc. Este tipo de equipamento é mais comumente utilizado na soldagem com eletrodo revestido no campo, particular mente em locais onde o acesso à rede de distribuição de eletricidade é complicado. São, por outro lado, equipamentos mais pesados, barulhentos e de manutenção mais complicada do que as fontes estáticas convencionais. Energia elétrica Gasolina Óleo diesel, etc. I I Figura 9 Diagrama esquemático de um motor-gerador I SOLDAGEM i FUNDAMENTOS E TECNOLOGIA 4. Fontes com Controle Eletrônico Fontes convencionais estáticas (transformadores e transformadores-retificadores) dependem de sistemas mecânicos ou elétricos para o controle e ajuste de sua saída. Estas fontes pouco mudaram nos últimos quarenta anos. Estes equipamentos têm, em geral, um formato fixo de sua curva característica, velocidade de resposta baixa (da ordem de 10'1 s), insuficiente para controlar diversos eventos que ocorrem no arco e na transferência de metal, além de serem de difícil interação com sistemas digitais de controle. A partir da década de 1960 e, de forma importante, nas décadas de 1980 e 1990, novos conceitos foram introduzidos no projeto e fabricação de fontes de energia para soldagem. Estes conceitos têm em comum a introdução de dispositivos eletrôni cos, muito mais versáteis e rápidos (Figura 10), para o controle da saída da fonte. Figura 10 Relação entre o tempo característico de fenômenos no arco elétrico e a frequência de controle de vários tipos de fontes segundo Ushio, em artigo publicado na revista Trans. OfThe JWRI Em comparação com as fontes convencionais, as fontes com controle eletrônico são caracterizadas por: • Desempenho superior: apresentam resposta dinâmica e reprodutibilidade superiores às fontes convencionais. • Funções múltiplas: podem possuir múltiplas curvas características, e a elevada velocidade de resposta permite a mudança, durante a operação, da saída da fonte' ou, mesmo, de sua curva característica, adequando-a, por exemplo, a eventos que estejam ocorrendo no arco. • Conexão mais fácil com equipamentos periféricos e capacidade de ser programa da; o controle eletrônico permite que a fonte troque sinais com sensores externos, microprocessadores internos, computadores, robôs etc. Condições de soldagem "otimizadas" ou regras preestabelecidas para a seleção de parâmetros de soldagem podem ser armazenadas em alguma forma de memória eletrônica e usadas para definir a operação do equipamento. • Redução de peso e dimensões: a introdução, na década de 1980. de fontes inversoras (ver abaixo) levou a uma grande redução nas dimensões do transformador devido ao uso de corrente alternada de alta frequência. Como o transformador é a parte de maior volume de uma fonte convencional, isto permitiu uma grande redução no tamanho da fonte. • Maior custo e manutenção mais complexa. Existem diferentes projetos de fontes que podem ser classificadas como de comando eletrônico. As formas mais conhecidas são: • fontes tiristorizadas • fontes transistorizadas em série ("Series regulators") • fontes transistorizadas chaveadas ("Choppers") • fontes inversoras ("Inverters") CAPÍTULOS - , 0 FONTES DE ENERGIA PARA SOLDAGEM A ARCO | ' >J 4.1 - Fontes tiristorizadas Tiristor, ou "retificador controlado de silício" (SCR), pode ser considerado como um tipo de diodo chaveado. A condução de corrente no sentido de baixa resistência elétrica do SCR só se inicia quando um pequeno sinal é enviado a uma conexão adicional do dispositivo que atua como um gatilho. Uma vez disparado, o dispositivo continua a conduzir a corrente até que esta se anule ou o seu sentido se inverta. SCRs podem ser usados em substituição aos retificadores comuns após o transformador de uma fonte de corrente contínua. Para regular a saída desta fonte, o momento de disparo do gatilho é controlado a cada meio ciclo de corrente (Figura 11). Assim, para se obter uma corrente relativamente pequena com este sistema, é necessário retardar o disparo do gatilho, o que pode tornar a saída da fon te distorcida. Este problema é minimizado pelo uso de alimentação trifásica e de filtros na forma de capacitores ou indutores. Estes últimos reduzem a velocidade de resposta da fonte. 4 SOLDAGEMFUNDAMENTOS E TECNOLOGIA Entrada T ransformador (a) Corrente Saída Tempo (b) Figura 11(a) Diagrama esquemático de uma fonte tiristorizada monofásica, (b) Efeito do tempo de disparo do tiristor na forma de onda da corrente de saída As vantagens do controle por SCR são a sua simplicidade, robustez e a possibi lidade de controle da saída da fonte com pequenos sinais eletrônicos. A velocidade de resposta do sistema é limitada pela necessidade de a corrente se anular antes de o gatilho poder ser novamente disparado e para se reiniciar a passagem de cor rente. Assim, o menor tempo de resposta que pode ser esperado com este sistema é de cerca de 3 a 9 ms. Mesmo com a possibilidade de distorção da saída e a baixa velocidade de resposta, é possível obter fontes tiristorizadas de desempenho muito superior que as convencionais. Em particular, é possível compensar a saída da fonte contra possíveis variações na rede por meio do uso de retroalimentação. Controle tiristorizado tem sido utilizado em fonte para soldagem SMAW com corrente contí nua, GMAW, GTAW pulsado ou com corrente alternada quadrada e para soldagem SAW (Capítulos 12, 15, 13 e 16, respectivamente). 4.2 - Fontes transistorizadas an a lóg icas ("Se rie s regulators") O transistor é um dispositivo eletrônico cuja saída é controlada por meio do ajuste de uma pequena corrente passando através de uma de suas conexões (a "base” ). O CAPÍTULO 5 FONTES DE ENERGIA PARA SOLDAGEM A ARCO seu funcionamento pode ser explicado por meio de um sistema hidráulico análogo, no qual a passagem de água (a corrente) no duto principal é controlada por uma válvula acionada por uma pequena vazão de água em um duto secundário (a base), Figura 12. Base (a) Figura 12 Sistema hidráulico análogo a um transistor de potência, (a) quando a corrente na Base (l6) é nula. o circuito principal permanece interrompido; (b) para uma corrente na base pequena, a corrente principal (I) é proporcional a l0; (c) para lb maior do que o seu valor de saturação lMI, a corrente principal passa livremente Dependendo do valor da corrente na base e da forma como esta é variada, o transistor pode operar como uma resistência variável ou uma chave liga-desliga. O primeiro caso ocorre quando lb é mantida entre zero e l^ . Figura 12 (b). O segundo caso ocorre quando somente dois níveis de lb são usados (0 e l^,). Figura 12 (a) e (c). Em uma fonte de energia analógica, transistores operando em série com um transformador-retificador controlam continuamente a saída da fonte através de uma corrente de base menor que o seu valor de saturação (Figura 13). Controls Figura 13 Princípio de funcionamento de uma fonte transistorizada analógica SOLDAGEM ' U FUNDAMENTOS E TECNOLOGIA 4.3 - Fontes transistorizadas chaveadas ("Choppers") Nas fontes chaveadas. os transistores trabalham como chaves (Figura 12) que são abertas e fechadas a uma elevada velocidade. A saída da fonte é controlada pela razão dos tempos em que os transistores permanecem abertos ou fechados (Figura 14). Corrente Tempo Corrente Figura 14 Técnicas de modulação para controle da saída: (a) modulação.da frequência e (b) controle da largura do pulso Embora o circuito básico destas fontes (Figura 15) seja muito similar ao das ante riores, a utilização dos transistores no modo chaveado permite um grande aumento de eficiência na utilização da energia pela fonte e, em várias aplicações, a utilização de resfriamento a ar. A maior eficiência permite também uma construção mais simples, com menor número de transistores e menores dimensões, o que reduz o preço da fonte. O processo de chaveamento gera um ruído na saída do equipamento, mas. se a frequência de chaveamento for suficientemente elevada, esse ruído não tem nenhum efeito negativo no processo. Frequências de chaveamento de 1 a 30 kHz, ou mesmo superiores, são comumente usadas. Figura 15 Princípio de funcionamento de uma fonte transistorizada chaveada CAPÍTULO 5 FOfíTES DE ENERGIA PARA SOIDAGEM A ARCO ' ' A velocidade de resposta da fonte também depende da frequência de chaveamento. Fontes com alta velocidade de chaveamento são capazes de responder em poucos microssegundos, sendo significantemente mais rápidas do que as fontes convencionais de soldagem. 4.4 - Fontes inversoras Os tipos de fontes apresentados acima usam um transformador convencional para reduzir a tensão da rede até o valor requerido para a soldagem. Este transformador opera na mesma frequência da rede (50/60 Hz). As fontes inversoras trabalham com um transformador muito menor, o que é possível quando a frequência da corrente alternada é grandemente elevada, melhorando, assim, a sua eficiência. A Figura 16 ilustra o funcionamento básico de uma fonte inversora. Figura 16 Princípio de funcionamento de uma fonte inversora Nestas fontes, a corrente alternada da rede é retificada diretamente, e a corrente contínua de tensão elevada é convertida em corrente alternada de alta frequência (5 a 50 kHz, ou mais) através do inversor. Devido à sua elevada frequência, a tensão pode ser reduzida eficientemente com um transformador de pequenas dimensões. Adicionalmente, a saída da fonte é controlada atuando-se no inversor. A velocidade de resposta é bastante elevada, dependendo, dentre outros fatores, da frequência de operação do inversor. A saída do transformador é novamente retificada para a obtenção da corrente de soldagem contínua. Reatores ou capacitores são usados para reduzir o nível de ruídos da fonte. A Figura 17 compara a variação da corrente de soldagem durante a abertura do arco com uma fonte tiristorizada e com uma fonte inversora. 78 SOLDAGEMFUNDAMENTOS E TECNOLOOIA Controle por Tristor Controle por Inversor Oo (a) (b) Figura 17 Comparação da velocidade de subida da corrente na abertura do arco para: (a) uma fonte tiristorizada e (b) uma fonte fonte inversora segundo Byrd, em artigo publicado no Welding Journal A elevada frequência de operação do transformador permite, nas fontes inverso- ras, uma significativa redução do consumo de energia elétrica. O controle da fonte no primário permite também uma grande redução na dissipação de energia quando a fonte está operando em vazio (que pode ser cerca de 80% menor do que uma fonte convencional). 4.5 - Fontes híbridas Uma tendência recente tem sido a combinação dos tipos da fonte de energia acima descritas de modo a aumentar o desempenho a um menor custo. Cita-se, por exemplo, a utilização de controle por transistores na saída de uma fonte inversora de forma a se obter características operacionais especiais. A Tabela I compara as características das fontes convencionais estáticas e das fontes com controle eletrônico. CAPÍTULO 5 FONTES DE ENERGIA PAHA SOLDAGEM A ABCO Tabela I - Características de fontes convencionais e eletrônicas Tipo de Fonte Saída Eficiência Elétrica Características Físicas Custo Relativo Aplicações Convencional Fixada pelo projeto, resposta lenta, sem estabilização da rede Razoável Grande, pesada, robusta, e resis tente. 1 S M A W m a n u a l, GTAW. Uso geral. Tiristorizada Resposta variável, mas relat. lenta. Estabiliza ção da rede, ruído ele vado. Razoável Mais compacta do que fontes con vencionais equi valentes. 3 GMAW/GTAW mnnuol e mecanizada, SMAW manual. Q ualidad e média a alta Analógica Resposta muito rápi da, flexibilidade, preci sa, ausência de ruído, alta reprodutibilidade. Pobre Relat.grande, ne cessita refrigera ção de água. 6 GTAW /GMAW d« alta qualldad«, AAldn pulsadn, paaqulla n desenvolvlmanlo Chaveada ou Híbridas Resposta rápida, saída variável e reprodutível, estabilidade. Muito boa Tamanho médio, refrigeração pelo ar. 4 Quolldadn mAiJIa « alta, m ultlpntonamm Inversora Resposta rápida, saída variável e reprodutível, estabilidade.Muito boa Compacta, projeto complexo. 4 Qualldad« iviòilln a alto, multlprocmAAiiA 5. Conclusão Existe, atualmente, um grande número de opções, em term os de modo do funcionamento e de custo, de fontes de energia para soldagem em uma dado npll- cação. Na seleção de uma fonte, itens como tipo de processo de soldagem, nlvel de corrente e posição de soldagem, ciclo de trabalho, disponibilidade do enerflltt elétrica e tipos de equipamentos auxiliares, particularmente a necessidade do In terfaceamento com robôs e outros dispositivos, devem ser considerados. PontOH adicionais que não podem ser esquecidos incluem o custo do equipamento, sun eficiência elétrica, facilidade ou, mesmo, disponibilidade de manutenção adequiuln para o tipo de fonte considerada e, ainda, a experiência e confiabilidade do seu fabricante e fornecedor. H f | KOI OAGEM " " I IIINDAMENTOS E TECNOLOGIA 6. Exercícios a) Desenhe esquematicamente as curvas características estáticas de fontes de tensão e corrente constante. Para cada caso, sobreponha uma curva do arco e indique o ponto operacional. b) Defina "Ciclo de Trabalho". Estime, para uma fonte de 200 A 60%, a maior corrente recomendada para a sua operação contínua por um longo período de tempo. c) Você dispõe de uma fonte estática tipo transformador de corrente constante com uma corrente nominal/ciclo de trabalho de 160 A/60%. Desenhe a curva característica desta fonte e indique o tipo de corrente que ela fornece. Discuta a possibilidade de uso desta fonte em uma aplicação que necessita de utilização contínua da fonte por uma hora. d) Você dispõe de uma fonte estática tipo transformador-retificador de tensão cons tante com uma corrente nominal/ciclo de trabalho de 350 A/100%. Desenhe a curva característica desta fonte e indique o tipo de corrente que ela fornece. Discuta a possibilidade de uso desta fonte em uma aplicação que necessita de uma corrente de 400 A. n) Apresente, de forma simplificada, o funcionamento de uma máquina de soldagem rotativa e de máquina estática convencional. Discuta a aplicação de cada um destes tipos de máquinas. I) ()ompare, em termos de seu funcionamento e características operacionais, uma fonte (iimvencional tipo transformador-retificador e uma fonte inversora. S CAPÍTULO 6 FUNDAMENTOS DA METALURGIA DA SOLDAGEM 1. Introdução A soldagem geralmente é realizada com a aplicação localizada de calor e/ou deformação plástica. Como resultado, alterações das propriedades do material, nem sempre desejáveis ou aceitáveis, podem ocorrer na região da junta. A maioria destas alterações depende das reações ocorridas durante a solidificação e resfriamento do cordão de solda e de sua mícroestrutura resultante. Assim, a compreensão destes fenômenos metalúrgicos é importante em muitas aplicações da soldagem. Neste capítulo, serão discutidos aspectos metalúrgicos relevantes para as opera ções de soldagem e corte térmico. Para isso, uma breve revisão de metalurgia física será feita. De modo geral, a discussão se baseará nos aços, embora os princípios básicos possam ser aplicados a outros metais e suas ligas. H M M W N T O S E TECNOLOGM 2. Metalurgia Física dos Agos 2.1 - Relação estrutura - propriedades Uma característica fundamental dos sólidos, e em particular dos metais, é a grande influência de sua estrutura na determinação de várias de suas propriedades. Por sua vez, a estrutura é determinada pelos processamentos sofridos pelo material durante a sua fabricação, isto é, pela sua "história". A Figura 1 mostra um exemplo deste princípio fundamental, para um aço com 0,8% de carbono, após tratamento térmico a 900 °C. Velocidade de Resfriamento (°C/s) Figura 1 Variação do (imite de escoamento com a velocidade de resfriamento de um aço com 0,8% C, inicialmente aquecido a 900 eC por uma hora A maioria dos processos de soldagem causa, nas partes que estão sendo unidas, variações de temperatura e deformações plásticas que resultam em alterações na estrutura dos materiais da junta sendo soldada e, portanto, de suas propriedades. Assim, sob certos aspectos, a soldagem pode ser considerada um tratamento ter- momecânico violento, cujo efeito nas características metalúrgicas do material deve ser cuidadosamente considerado. Muitas dessas alterações podem comprometer o desempenho em serviço do r <terial. e, assim, devem ser minimizadas pela adequação do processo de soldagem a naterial a ser soldado ou pela escolha de um material menos sensível a alterações e uturais pelo processo de soldagem. CAPtm 06 0 4 RJNDAMfNTOS DA METALURGIA DA SOLDAGEM I O J 2.2 - Níveis estruturais 0 termo estrutura pode compreender desde detalhes grosseiros (macroestrutura) até detalhes de organização interna dos átomos (estrutura eletrônica). A metalurgia física interessa-se, principalmente, pelo arranjo dos átomos que compõem as diversas fases de um metal (estrutura cristalina) e pelo arranjo destas fases (microestrutura). Diversas propriedades mecânicas e algumas das propriedades físicas e químicas dos metais podem ser estudadas nestes níveis estruturais. A Tabela I ilustra os diferentes níveis estruturais com exemplos de detalhes observados nestes níveis. Tabela I - Níveis estruturais, exemplos de técnicas usuais de estudo e de detalhes qus podem ser observados Nhrel estrutural Dimensões aproximadas Exemplos de técnicas de estudo Detalhes comuns Macroestrutura > tOOjjm Macrografia. Radiografia Segregação, trincas, camadas cementadas. Microestrutura lOQuma 0,1//m Microscopia ótica (MO), micros- copia eletrônica de varredura (MEV) Tamanho de grão. microcons- tituintes, microtrincas. 0,1//ma0,1nm Microscopia eletrônica de transmissão (MET) Precipitados submicroscópi- cos. células de deslocações. Estrutura cristalina 1nma 0,1nm Drfração de raios X Células unitárias, parâmetros de rede, defeitos cristalinos. Estrutura eletrônica < 0,1nm Espectroscopia de emissão ótica Niveis atômicos, defeitos eletrônicos. Observações: (a) Esta tabela é apenas ilustrativa e a separação adotada dos níveis estruturais é arbitrária. (b) 1/jm = 0,001 mm, 1nm = 0,001/jm. (c) Diversos dos termos citados são discutidos ao longo do presente capitulo. 2.3 - Microestrutura dos aços Os aços são ligas de ferro contendo carbono em teor inferior a 2% em peso (mas em geral, muito menor que este valor), e ainda diversos outros elementos residuais de seu processo de fabricação ou adicionados intencionalmente, visando a obtenção de certas propriedades. Quando o único elemento de liga é o carbono, têm-se os aços.carbono e, quando outros elementos de liga são utilizados, os aços ligados. De acordo com o teor de elementos da liga, os aços podem ser subdivididos em baixa liga (teor de liga inferior a 5%), aços média liga (entre 5 e 10% de elementos de liga) e aços de alta liga (com mais de 10% de liga). 0/1 SOLDAGEM 0 4 FUNDAMENTOS E TECNOLOGIA Compreendem o grupo de ligas mais usadas pelo homem, pela abundância das matérias-primas básicas, relativa facilidade de refino, baixo custo e vasta gama de propriedades obtidas pela adição de elementos de liga e pelo controle de sua estrutura por tratamentos térm icos e mecânicos. Em particular, são também os materiais mais utilizados em estruturas soldadas. Para o estudo dos efeitos da soldagem no aço, é necessário um conhecimento prévio de sua microestrutura e de como esta pode ser alterada pelos tratamentos térmicos e variações de composição química. Uma ferramenta fundamental para o entendimento das fases presentes em um aço e para uma primeira análise da forma ção de sua microestrutura, particularmente em condições de resfriamento lento, é o diagrama de equilíbrio Fe-C. a) Fases e estrutura do aço resfriado lentamente O estudo da constituição e estruturadas ligas de ferro (aços e ferros fundidos) deve começar com o diagrama de equilíbrio Fe-C (Figura 2). Este mostra, em função da temperatura e teor de carbono, as fases que podem existir e as reações entre elas em condições de equiiibrio nas ligas Fe-C. As suas informações se aplicam adequadamente para aços carbono quando a temperatura é mantida relativamente constante ou varia lentamente. Para aços mais complexos ou em situações em que a temperatura varia rapidamente, o diagrama Fe-C ainda é uma importante referência, mas deve ser usado com cuidado, e o efeito dos elementos de liga e das condições de aquecimento e, principalmente, de resfriamento nas características do material deve ser considerado. O diagrama de equilíbrio Fe-C fornece um conjunto de infor mações fundamentais para o conhecimento e compreensão dos aços carbono e de uma grande variedade de aços ligados. Carbono (% peso) Figura 2 Diagrama Fe-C, mostrando os constituintes em equilíbrio nos aços (esquemático) CAFITU106 g r fUNOAMEtíTCS DA WETAIURSA DA SOI OAKM 0 3 As fases representadas neste diagrama são: líquido, austenita (y ). ferrita { a e ó ) e cementita (Fe3C). A ferrita é essencialmente puro ferro com uma estrutura cristalina cúbica de corpo centrado (CCC), que pode conter traços de carbono em solução sólida. A cementita é um carboneto de.ferro de estrutura ortorrômbica. Estas duas seriam as fases existentes no aço carbono abaixo de 727 °C. Para temperaturas mais elevadas (acima da linha GSE, Figura 2), o ferro existe em uma outra estrutura cristalina (cúbica de face centrada - CFC) que é capaz de dissolver maiores quanti dades de carbono, sendo conhecida como austenita. Durante o seu resfriamento, a austenita se torna instável abaixo da linha GSE (Figura 2) e começa a se transformar em ferrita (aços com menos de 0,8%C) ou em cementita (aços com teor de carbono superior a 0,8%). Abaixo de 727 °C, em ambos os casos, a austenita remanescente transforma-se diretamente em uma mistura de ferrita e cementita (esta transformação é conhecida como "reação eutetoide” ). Quando a velocidade de resfriamento é suficientemente baixa, a mistura formada tem um arranjo característico de camadas (ou lamelas) alternadas de ferrita e ce mentita, formando um constituinte típico dos aços que é denominado de perlita. Assim, um aço carbono com teor de carbono inferior a 0,8% (aço hipoeutetoide) resfriado lentamente teria uma microestrutura de ferrita e perlita, um aço com mais de 0,8%C (aço hipereutetoide) seria formado por cementita e perlita, e um aço com 0,8%C (aço eutetoide) seria formado somente de perlita. Em geral, a fe rrita é macia, dúctil e tenaz, enquanto que a cem entita é extremamente dura e frágil. A perlita, formada por estas duas fases, apresenta uma dureza relativamente elevada e uma baixa tenacidade. Assim, aços com maior teor de carbono tendem a apresentar um maior teor de constituintes duros (perlita e cementita), possuindo, como consequência, maiores valores de dureza e resistência mecânica, mas menores ductilidade e tenacidade. b) Fases metaestáveis e diagramas de transformação Quando a velocidade de resfriamento aumenta, a temperatura na qual a austenita começa a se transformar torna-se menor. Menores temperaturas de transformação implicam menor mobilidade atômica e, portanto, maior dificuldade para a separação dos átomos de ferro e de carbono para a formação da ferrita e do carboneto de fer ro nas camadas características da perlita. Além disso, a presença de elementos de liga no aço também tende a dificultar a formação da perlita, pois torna necessária a redistribuição de um maior número de elementos químicos. Assim, um aumento da velocidade de resfriamento ou a presença de elementos de liga levam inicialmente à formação de uma perlita mais fina (menor separação entre as camadas de ferrita e cementita para menores temperaturas de transformação). Para uma temperatura de transformação suficientemente baixa (em torno de 500 °C ou menos), a estrutura la melar típica da perlita não é mais formada, podendo aparecer, no aço, um novo O C I SOLDAGEM ° 0 FUNDAMENTOS E TECNOLOGIA constituinte, conhecido com o bainita, form ado por grãos alongados de ferrita com uma fina dispersão de carbonetos. A bainita tende a conferir uma elevada resistência mecânica ao aço e, em algumas situações, permite a manutenção de uma boa tenacidade. Existem atualmente classes de aços estruturais com microes- trutura bainítica obtida através da adição de elementos de liga ou por tratamentos térmicos especiais. Para velocidades de resfriamento suficientemente elevadas, a reação eutetoide é inibida e uma fase nova, não prevista pelo diagrama Fe-C, a martensita, pode ser formada. A martensita apresenta uma elevada dureza que aumenta fortem ente com o seu teor de carbono, ao mesmo tempo que se torna extremamente frágil. Quando observada em uma seção polida e atacada de uma amostra de aço, a martensita tem um aspecto típico de agulhas ou lâminas. A Figura 3 mostra, de uma forma esquemática e simplificada, a evolução da microestrutura de um aço em função de sua velocidade de resfriamento a partir da condição austenítica. Velocidades de Resfriamenro Crescentes Microestrutura Ferrita Ferrita + + Bainita Martensita Perlita Perlita (Grossa) (Fina) Figura 3 Microestrutura de um aço em função da velocidade de resfriamento após austenitização (diagrama esquemático) De um modo geral, pode-se afirmar que, quanto menor a temperatura de transformação e maior o teor de carbono, mais dura e frágil é a microestrutura. Na soldagem por fusão, a velocidade de resfriamento varia com a energia cedida durante a soldagem por unidade de comprimento da solda, com a temperatura inicial da peça e com a sua espessura e geometria. Este fato é muito importante, pois pode limitar a faixa de energia utilizável na soldagem de um componente de aço em que se necessita uma alta tenacidade. A microestrutura formada em função da velocidade de resfriamento (ou da tempera tura de transformação) em um dado aço pode ser obtida a partir de diagramas de transformação deste aço. Estes diagramas são obtidos experimentalmente para transformações de temperaturas constantes (Diagramas I I I ) ou para transforma ções durante um resfriamento contínuo (Diagramas TRC) e mostram a evolução da microestrutura em função da temperatura e do tempo de resfriamento. Embora CAPÍTULO 6 FUNDAMENTOS ÜA METALURGIA DA SOLDAGEM tenham sido desenvolvidos originalmente para transformações após austenitização a temperaturas relativamente baixas (tratamento térmico convencional), já existem diagra mas de transformação aplicáveis à soldagem. A Figura 4 mostra, de forma esquemática, a aparência de um diagrama TRC. Figura 4 Diagrama TRC esquemático. Neste diagrama, estão sobrepostas duas curvas de resfriamento que resultam na formação de uma microestrutura de (a) ferrita e perlita e de (b) manensita c) Elementos de liga A adição balanceada de elementos de liga permite a obtenção de uma variedade de tipos de aços com diferentes propriedades mecânicas, químicas, magnéticas, elétricas e térmicas. Estruturalmente, pode-se considerar que os elementos de liga atuam em dois aspectos fundamentais: termodinâmico e cinético. No primeiro aspecto, um elemento de liga pode alterar a estabilidade relativa das fases do aço ou mesmo tornar estável uma outra fase. Por exemplo, o níquel é um ele mento estabilizante de austenita e, quando presente em teores superiores a um certo nível, torna esta fase estável até a temperatura ambiente. Nióbio, vanádio e titânio reagem fortemente com o carbono e, quando presentes em pequenas quantidades (menos de 0,1%) em um aço baixo carbono, promovem a formação de partículas de carbonetos de grande estabilidade, que podem existir sem sedissolver na austenita a temperaturas de cerca de 1.000 °C. Estes carbonetos, juntamente com a aplicação de tratamentos termomecânicos adequados, são fundamentais para a obtenção dos chamados aços microligados ou aços de alta resistência e baixa liga, caracterizados por um reduzido tamanho de grão e uma elevada resistência mecânica. Como já foi dito, a maioria dos elemento's de liga reduz a velocidade de transfor mação da austenita ou, em outras palavras, aumenta a sua temperabilidade. Este efeito pode ser diferente para os diversos constituintes, assim, a adição de elementos de liga pode favorecer a formação de um constituinte, em prejuízo de outro. o n SOLDAGEM 0 ° FUNDAMENTOS E TECNOLOGIA Ao entrar em solução sólida em uma fase, um elemento de liga pode alterar as propriedades desta fase. Em particular, a resistência mecânica é, em geral, aumen tada e sua ductilidade diminuída. 2.4 - Mecanismos de aumento de resistência mecânica A resistência mecânica dos aços pode variar enormemente, de cerca de 200 até 2.000MPa. Como em outros metais, existem para os aços diversos mecanismos de endurecimento, dos quais podem-se citar: deformação a frio, formação de solução sólida, formação de constituintes mais resistentes, endurecimento por precipitação e refino de grão. Destes, o refino de grão é particularmente importante por produzir, simultaneamente, uma melhoria de ductilidade e tenacidade. 3. Fluxo de Calor Na maioria dos processos de soldagem, a junta precisa ser aquecida até uma temperatura adequada. Em particular, na soldagem por fusão, trabalha-se com fon tes de calor de elevada temperatura (2.000 a 20.000°C) e concentradas (como, por exemplo, o arco elétrico, cuja intensidade atinge cerca de 8x108W /m 2), as quais, ao serem deslocadas ao longo da junta, resultam na formação da solda pela fusão e solidificação localizadas da junta. Esta aplicação concentrada de energia gera, em pequenas regiões, temperaturas elevadas, altos gradientes térmicos (102 a 103 cC/mm), variações bruscas de temperatura (de até 103 °C/s) e, consequentemente, extensas alterações de microestrutura e propriedades, em um pequeno volume de material. O fluxo de calor na soldagem pode ser dividido, de maneira simplificada, em duas etapas básicas: fornecimento de calor à junta e dissipação deste calor pela peça. Na primeira etapa, um parâmetro importante para caracterizar o processo é a energia de soldagem (aporte térm ico ou heat input) definida como a quantidade de energia fornecida à junta por unidade de com prim ento da mesma (Figura 5). Na soldagem a arco, pode-se considerar o arco como a única fonte de calor, e a sua energia de soldagem pode'ser expressa por: onde H é a energia de soldagem (J/mm), r\ é a eficiência térmica do processo, V é a tensão no arco (V), I é a corrente de soldagem (A), e v é a velocidade de soldagem (mm/s). CAPÍTULO 6 Q Q fUNDAMfNIOS DA METALURGIA OA SOLDAGEM 0 3 Figura õ Conceito de energia de soldagem. P = (r|.V.!.) é a potência dissipada no arco e cedida à peça, t é o tempo e L é o comprimento da solda Na segunda etapa, a dissipação do calor ocorre principalmente por condução, na peça, das regiões aquecidas para o restante do material. A evolução de temperatura em dife rentes pontos, devido à soldagem, pode ser estimada teórica ou experimentalmente. Cada ponto do material localizado próximo à junta experimentará uma diferente variação de temperatura devido à passagem da fonte de calor, como mostra a Figura 6. Esta curva é chamada de "ciclo térm ico de soldagem" e pode ser considerada como o "tratamento térm ico" que o ponto sofreu durante a soldagem. Ciclo térmico de soldagem (esquemático). Ver texto para a definição dos itens mostrados na figura São características importantes do ciclo térmico de soldagem: • Temperatura de pico (T ): é a temperatura máxima atingida pelo ponto. A temperatura de pico indica a possibilidade de ocorrência de transformações microestruturais, determinando, assim, a extensão da região afetada pelo calor durante a soldagem. Q n SOLDAGEM ^ U FUNDAMENTOS E TECNOLOGIA Tb diminui com a distância ao centro da solda e pode ser estimada, para soldas de um passe e penetração total, pela expressão: T „-Tn = 4,133Ac7? + H Tf -T0 (Eq. 2) onde p é a densidade do material; c ê o seu calor específico; h é a espessura da peça; y é a distância do ponto considerado à linha de fusão (local em que Tp é igual à temperatura de fusão); Tt é a temperatura de fusão do material; T0 é a temperatura inicial e H é a energia de soldagem. A Figura 7 mostra esquematicamente a variação da temperatura de pico com a distância ao centro do cordão de solda, na direção perpendicular a este para dois níveis de energia de soldagem. • tempo de permanência (fc) acima de uma temperatura crítica: tempo em que o ponto fica submetido a temperaturas superiores a uma temperatura mínima (temperatura crítica, T) para ocorrer uma alteração microestrutural ou de propriedades significativas no material. • velocidade de resfriamento (cj>): é obtida pela derivada (ou inclinação) em uma de terminada temperatura (T) da curva de resfriamento. Alternativamente, é comum caracterizar o resfriamento de uma solda pelo tempo necessário (A t^ j) para a solda se resfriar de uma dada temperatura (T,) até outra <T2). Para a soldagem de aços, as temperaturas consideradas são, em geral. 800 e 500 °C (Ataç). Figura 7 Curvas esquemáticas de repartição térmica em soldas realizadas com diferentes energias de soldagem (H, e H2) Esta última característica é particularmente im portante na soldagem dos aços carbono, pois estas ligas, quando aquecidas a tem peraturas elevadas, são aus- tenitizadas na região da solda e, no resfriamento, os produtos da transformação da austenita dependem fortem ente das condições de resfriamento, como já foi ressaltado na seção 2. Os ciclos térmicos de soldagem e a repartição térmica dependem de diversas variáveis, entre elas: FUNDAMENTOS DA METALURGIA DA SOLDAGEM | I CAPITULO 6 • tipo de metal de base: metais e ligas de elevada condutividade térmica, como o cobre e o alumínio, dissipam rapidamente o calor da região da solda para o restante da peça, o que torna mais difícil a formação da poça de fusão. Por outro lado, materiais com menor condutividade térmica tendem a apresentar gradientes térmicos mais abruptos no aquecimento e menores velocidades de resfriamento. Nestes materiais, a energia térmica é melhor aproveitada para a fusão localizada necessária à soldagem. • geometria da junta: considerando todos os outros parâmetros idênticos, uma junta em T possui três direções para o fluxo de calor, enquanto uma junta de topo possui apenas duas, como mostra a Figura 8; logo, juntas em ângulo tendem a esfriar mais rapidamente. (a) (b) Figura 8 Direções para escoamento do calor em juntas (a) de topo e (b) em ângulo (ouT) • Espessura da junta: Para uma mesma condição de soldagem, uma junta de maior espes sura facilita o escoamento do calor da região da solda. Assim, quanto mais espessa a junta, mais rapidamente esta tenderá a se resfriar durante a soldagem até uma espessura limite acima da qual a velocidade de resfriamento independe da espessura. Para esta última condição de resfriamento, o tempo de resfriamento da solda entre 800 e 500 °C (At^) pode ser estimado pela expressão: Aí, H 8 /5 2 n k 1 1 500 -7"n 800-7 ;0 (Eq. 3) onde k é a condutividade térmica do material, e os outros termos têm o mesmo significado usado anteriormente. Energia de soldagem e temperatura inicial da peça: a velocidade de resfriamento diminui com o aumento destes dois parâmetros, e a repartição térmica torna-se mais larga. Do ponto de vista operacional, estes dois parâmetros são aqueles que podem ser mais facilmente alterados pelo pessoal responsável pelaoperação de soldagem. Isto é muito importante pois a seleção adequada destes permite um certo controle sobre a velocidade de resfriamento da região da solda e. portanto, sobre a sua mi- croestrutura e propriedades. SOLDAGEM FUNDAMENTOS E TECNOLOGIA 4. Macroestrutura de Soldas por Fusão A curva de repartição térmica perm ite definir, para uma solda por fusão, três regiões básicas (Figura 9): • Zona Fundida (ZF): regiào onde o material fundiu-se e solidificou-se durante a operação de soldagem. As temperaturas de pico desta região foram superiores à temperatura de fusão (Tf) do metal de base; • Zona Termicamente Afetada (ZTA) ou Zona Afetada pelo Calor (ZAC): região não fun dida do metal de base que teve sua microestrutura e/ou propriedades alteradas pelo ciclo térmico de soldagem. As temperaturas de pico nesla região foram superiores à temperatura crítica do material em questão e inferiores à sua temperatura de fusão; e • Metal de Base (MB): região mais afastada do cordão de solda e que não foi afetada pelo processo de soldagem. As suas temperaturas de pico são inferiores à temperatura crítica do material. Tp V f \ j c K c Ib . 'w - v^Â / B ] C ) Y Figura 9 Regiões de uma solda por fusão (esquemática). A - Zona Fundida (ZF), B - Zona Termicamente Afetada (ZTA) e C - Metal de Base (MB) O ciclo térmico de soldagem influencia de forma importante as reações e altera ções estruturais que ocorrem em uma dada região do material devido ao processo de soldagem. A Figura 10 mostra esquematicamente as reações e alterações esperadas, na soldagem a arco de um aço de baixo carbono, para um ponto situado na zona fundida. Figura 10 Diagrama esquemático mostrando diferentes alterações que podem ocorrer na zona fundida de uma solda em um aço de baixo carbono CAPITULO b n o FUNDAMENTOS OA METALURGIA DA SOLDAGEM . CAPÍTULO 6 5. Características da Zona Fundida 5.1 - Características da poça de fusão Nos processos de soldagem por fusão, a zona fundida pode ser formada sob as mais diversas condições. Nos processos mais comuns, isto é, na soldagem a arco com eletrodo consumível, o metal de adição fundido é transferido para a poça de fusão na forma de gotas, aquecidas a temperaturas muito elevadas, acima de 2.000 °C, no caso de aços. Nas partes mais quentes da poça de fusão, localizadas logo abaixo do arco, o metal de adição é misturado, sob intensa agitação, ao metal de base fundido. Na parte posterior da poça, a temperatura cai e ocorre a solidificação. Nas regiões superaquecidas ocorre uma intensa interação do metal fundido com os gases e escórias presentes na região do arco. Estas interações envolvem a absorção de gases (por exemplo, hidrogênio pelo aço, alumínio ou cobre), a redução de óxidos, com a transferência de oxigênio para o metal, a transferência de elementos de liga e impurezas do metal fundido para a escória, ou vice-versa, e a volatilização de alguns elementos (por exemplo, Zn, Cd, Cr e Al). A composição química final da ZF depende da intensidade destas interações, das composições químicas do metal de base e de adição e da participação relativa destes na formação da ZF. Esta participação relativa é conhecida como "coeficiente de diluição" ou, simplesmente, como "diluição" (5), como definida abaixo: A diluição pode ser medida em macrografias da seção transversal de soldas, como mostra a Figura 11. Seu valor pode variar entre 100% (soldas sem metal de adição) e 0% (brasagem). Massa fundida do metai base x 100 {%) (Eq.4) Massa total do cordão de solda (a) (b) Figura 11 Diluição medida na seção transversal de (a) um cordão depositado sobre chapa e (b) uma solda de topo Q A I SOLDAGEM fUNDAMENTOS E TECNOLOGIA O controle da diluição é importante na soldagem de metais dissimilares, na deposição de revestimentos especiais sobre uma superfície metálica, na soldagem de metais de composição química desconhecida, caso muito comum em soldagem de manutenção, e na soldagem de materiais que tenham altos teores de elementos prejudiciais à zona fundida, como o carbono e o enxofre. Na parte posterior da poça de fusão, a temperatura cai até a temperatura de início da solidificação do material. Esta queda de temperatura faz com que diversas reações que ocorreram nas regiões mais quentes ocorram agora em sentido contrá rio. O material pode ficar supersaturado de gases em solução, como o hidrogênio e o nitrogênio, devido à redução de sua solubilidade com a queda de temperatura e a solidificação, como ilustra a Figura 12. A evolução destes gases pode causar a formação de porosidade na solda. E. OT3 B3OCO Temperatura (°C) Figura 12 Variação da solubilidade do hidrogênio no ferro líquido e sólido A solubilidade do oxigênio no aço líquido também cai com a temperatura, e este passa a reagir com outros elementos. O produto destas reações pode ser um gás (por exemplo, C+0->C0(g)), que pode causar porosidade; um sólido ou um líquido insolúvel na poça que, se for capturado pela frente de solidificação, resultará em inclusões na solda. A formação de porosidade, devido a reações do oxigênio com o carbono e a formação de inclusões, sua forma, tamanho e quantidade, dependem do processo e do procedimento de soldagem, da composição do meio de proteção da poça de fusão e do arco (gases e escórias) e das composições do metal de base e de adição, em particular, do teor de elementos desoxidantes. A extensão das reações que ocorrem na poça de fusão depende, também, das características químicas da escória em contato com o metal líquido, quando esta é usada. Por exemplo, na soldagem a arco submerso, o teor final de oxigênio na solda e, portanto, o volume de inclusões, tende a diminuir com o aumento da proporção de óxidos básicos na composição do fluxo, como mostra a Figura 13. Nesta figura, o termo "índice de Basicidade" é uma relação entre os teores (em %peso) dos óxidos básicos e os óxidos ácidos existentes no fluxo da seguinte forma: CAPÍTULO 6 n r fUNOAMEKTOS OA METAIUBHA OA SOLDAGEM S 3 CdC) + MgO + A/ ^ 2 O + K^C) + Cdf~2 +1 /2 [FbO + MnO} SÍO2 + + T1O2 + 2VO2j |jTq gj índicc de Baslcidade Figura 13 Efeito da basicidade da escória no teor de oxigênio da zona fundida 5.2 - Solidificação da poça de fusão Na parte posterior da poça de fusão, 0 metal líquido se solidifica dando origem ao cordão de solda. O processo de solidificação determina diversas características macro e microestruturais do cordão, tendo, assim, um importante efeito sobre as propriedades e o comportamento da solda. Embora, em muitos aspectos, um pas se de solda possa ser considerado como uma pequena peça fundida, esse possui características próprias que resultam em diferenças significativas em termos da estrutura de solidificação e, consequentemente, de propriedades. A Figura 14 ilustra a estrutura de solidificação típica de um lingote ou peça fundi da. A região mais externa (zona coquilhada) é formada no início da solidificação da peça, quando existe uma grande diferença de temperatura entre o molde e 0 metal líquido. Esta diferença causa um forte resfriamento do líquido em contato com a parede do molde e propicia a nucleação de um grande número de grãos que formam esta região. A zona colunar ocorre após a formação da zona coquilhada, quando, devido à liberação de calor latente de solidificação e ao afastamento da interface sólido-líquido da parede do molde, a temperatura do líquido próximo desta interface se aproxima da temperatura de fusão do metal. Como consequência, o número de novos grãos nucleados é fortem ente reduzido e 0 sólido passa a ser formado prin cipalmente pelo crescimento de grãos já existentes em direção ao líquido. Como resultado, os grãos assumem o formato colunar característico desta zona. Nas etapas finais da solidificação, a rejeição de solutos e impurezas,que ocorre durante toda a solidificação, causa 0 aparecimento de inclusões e de outros pontos que facilitam a ocorrência da nucleaçáo de novos grãos. Além disso, na parte central da peça, onde a solidificação final, em geral, ocorre, o calor é extraído de forma aproximadamente igual em todas as direções. Desta forma, os novos grãos formados tendem a crescer com um formato equiaxial, resultando na zona central. SOLDAGEM FUNDAMENTOS E TECNOLOGIAI Zona Coquilhada Zona Colunar Zona Central Figura 14 Seção transversal esquemática de uma peça fundida, mostrando as suas três regiões características Em um cordão de solda, o metal líquido da poça de fusão em contato com o metal de base (a "parede do molde") não é fortemente superresfriado pois o metal de base foi aquecido até a sua temperatura de fusão pela fonte de calor. Assim, a formação de um grande número de novos grãos não tende a ocorrer, a zona coqui lhada não é formada e o cordão de solda é constituído predominantemente por uma zona colunar. Na soldagem com elevada energia de soldagem, quando a poça de fusão apresenta grandes dimensões, uma zona central pode ser formada, contudo, na maioria das aplicações esta não é formada. Como a formação de novos grãos é muito limitada, o início da solidificação na poça de fusão ocorre principalmente peio crescimento de grãos do metal de base que estão na linha de fusão (fronteira entre a ZF e a ZTA), assegurando a continuidade metalúrgica entre a ZF e a ZTA (Figura 15). Figura 15 Metalografia da região de transição entre a ZTA e ZF de um aço inoxidável ferritico mostrando a continuidade de grãos da ZTA na ZF. Aumento: 100X Devido às elevadas velocidades de solidificação em soldagem, a segregação (variação de composição entre diferentes pontos do material solidificado ocasionada pela solidificação) ocorre em menor escala do que em um lingote ou peça fundida. Esta segregação, contudo, é suficiente para causar variações localizadas de micro- estrutura, propriedades, e, mesmo, problemas de fissuração, particularmente, no centro do cordão. Como as peças fundidas em geral, a zona fundida é caracterizada por uma estru tura primária de grãos colunares e grosseiros. Este tipo de estrutura pode conferir uma menor tenacidade ao material. CAPÍTULO 6 Q 7 FUNDAMENTOS DA METALURGIA DA SOLDAGEM , “ ' 5.3 - Formação da estrutura secundária Após sua solidificação, a zona fundida pode sofrer ainda alterações até o resfriamento final à temperatura ambiente (ver Figura 10). Estas alterações podem incluir, por exemplo, o crescimento de grão, a formação de carbonetos, nitretos e outras fases intermetálicas e a transformação de uma fase em outra(s). Nos aços carbono e aços de baixa liga, por exemplo, a poça de fusão normalmente se solidifica como ferrita delta, que logo se transforma em austenita. Com o seu resfriamento, esta se transforma em uma mistura complexa de constituintes, em função de fatores como o tamanho de grão austenítico, composição química, velocidade de resfriamento e composição, tamanho e quantidade de inclusões. Na soldagem com vários passes destes aços, a microestrutura é ainda mais com plexa, pois cada passe pode afetar os passes imediatamente abaixo, causando a sua reaustenitização e subsequente transformação desta no resfriamento e, assim, alterando (refinando) parcialmente a sua microestrutura. A Figura 16 ilustra este efeito em uma solda de vários passes de um aço carbono. 0 1 * 2 3 -----------------1 1-1------------------1 cm Figura 16 Macrografia de uma solda de vários passes realizada em um aço de baixo carbono As propriedades da zona fundida dependerão de sua estrutura final, incluindo as micro- estruturas de solidificação e a secundária, bem como a presença de descontinuidades. 6. Características da Zona Termicamente Afetada As características da ZTA dependem fundamentalmente do tipo de metal de base e do processo e procedimento de soldagem, isto é. dos ciclos térmicos e da repartição térmica (Figuras 6 e 7). De acordo com o tipo de metal que está sendo soldado, os efeitos do ciclo térmico poderão ser os mais variados. No caso de me tais não transformáveis (por exemplo, o alumínio ou o cobre) no estado recozido, a mudança estrutural mais marcante será o crescimento de grão. Caso ò material esteja encruado, a ZTA apresentará, além de uma região de crescimento de grão adjacente à ZF, uma região recristalizada localizada um pouco mais afastada. Em metais transformáveis, a ZTA será mais complexa. No caso dos aços carbono e aços baixa liga, esta apresentará diversas regiões características, ilustradas na Figura 17 e discutidas a seguir: Figura 17 Estrutura da ZTA de um aço de baixo carbono (esquemática). A - Região de crescimento de grão. B - Região de refino de grão. C - Região intercrftica. Ver texto para uma explicação desta figura CAFtnODS QQ FUN0AM£N7DS DA METAlUBíaA QA SOtDAféM I 3 3 6.1 - Região de crescimento de grão Compreende a região do metal de base mais próxima da solda e que foi sub metida a temperaturas entre cerca de 1.200 °C e a temperatura de fusão. Nesta situação, a estrutura austenítica sofre um grande crescimento de grão. Este cres cimento dependerá do tipo de aço e da energia de soldagem (processos de maior energia resultarão em granulação mais grosseira). A estrutura final de transforma ção dependerá do teor de carbono e de elementos de Siga em geral, do tamanho de grão austenítico e da velocidade de resfriamento. A granulação grosseira da austenita dificulta a sua transformação durante o resfriamento (isto é, aumenta a sua temperabilidade), o que pode ser acentuado se o aço for ligado ou tiver um maior teor de carbono. De um modo geral, esta região é caracterizada por uma estrutura grosseira, com a ferrita apresentando uma morfologia em placas e a pre sença de bainita. Condições de soldagem que resultem em uma maior velocidade de resfriamento, particularmente em aços ligados ou corp maior teor de carbono, podem resultar, nesta região, em uma estrutura completamente martensítica. Esta região tende a ser a mais problemática da ZTA de um aço. podendo ter baixa tenacidade e ser um local preferencial para a formação de trincas. Para um dado material, espessura e tipo de junta, as condições de resfriamento e, portanto, a microestrutura desta região, poderão ser ajustadas pela seleção adequada das condições de soldagem, particularmente a energia de soldagem e a temperatura de pré-aquecimento da junta. 6.2 - Região de refino de grão Compreende a porção da junta aquecida a temperaturas comumente utilizadas na normalização dos aços ou um pouco acima destas (900 até cerca de 1.200°C). Após o processo de soldagem, esta região é caracterizada, geralmente, por uma estrutura fina de ferrita e perlita, não sendo problemática na maioria dos casos. 6.3 - Região intercrítica Nesta região, a temperatura de pico varia entre 727°C (temperatura eutetoide) e a linha A3 (linha GS, na Figura 2), sendo caracterizada pela transformação parcial da estrutura original do metal de base. Nesta faixa de temperatura, somente uma parte do material é austenitizada e, portanto, alterado pelo ciclo térmico. Em alguns casos, particularmente na soldagem com vários passes, constituintes de elevada dureza e baixa tenacidade podem se formar nesta região. Regiões mais afastadas do cordão de solda, cujas temperaturas de pico foram infe riores a 727° C, apresentam mudanças microestruturais cada vez menos perceptíveis. 1 n n SOLDAGEM 1 U U , FUNDAMENTOS £ TtCNOLOGIA 7. Descontinuidades Comuns em Soldas Neste texto, será considerado como descontinuidade uma interrupção ou uma violação da estrutura típica ou esperada de uma junta soldada. De acordo com as exigências de qualidade para a junta soldada (baseadas em normas ou em um con trato),uma descontinuidade pode ser considerada como prejudicial para a utilização futura da junta, constituindo-se, desta forma, em um defeito e exigindo ações cor retivas. Devido ao alto custo dessas ações, a presença de defeitos deve sempre ser evitada. Apresenta-se a seguir uma classificação das descontinuidades em soldas, baseada no livro Welding Inspection, da American Welding Society, que considera três categorias básicas de descontinuidades: • Descontinuidades dimensionais - Distorção - Dimensões incorretas da solda - Perfil incorreto da solda • Descontinuidades estruturais - Porosidades - Inclusões de tungsténio - Falta de fusão - Falta de penetração - Mordedura - Trincas e - Outras • Propriedades inadequadas - Propriedades mecânicas - Propriedades químicas e - Outras 7.1 - Descontinuidades dimensionais São inconformidades nas dimensões ou forma dos cordões de solda. Sua gravi dade varia com a magnitude e a aplicação, ou processamento posterior que a peça soldada vai ser submetida. 7.1.1 - Distorção (Figura 18) Origem São alterações de forma e dimensões que componentes soldados sofrem como resultado de deformações plásticas devidas ao aquecimento não uniforme e loca lizado durante a soldagem. Causas práticas Soldagem em excesso, soldagem em juntas livres (aquelas em que as peças podem se mover facilmente), seleção incorreta do chanfro e da sequência de soldagem etc. Consequências Mudanças de formas e dimensões. Medidas corretivas A distorção pode ser reduzida durante a soldagem, diminuindo-se a quantidade de calor e metal depositado, pela utilização de dispositivos de fixação, pelo martela- mento entre passes, escolha correta do chanfro e da sequência de soldagem etc. A correção da distorção em soldas prontas exige medidas, em geral onerosas, como desempenamento mecânico ou térmico, remoção da solda e ressoldagem etc. CAPÍTULO 6 j FUNDAMENTOS OA METALURGIA DA SOLDAGEM (c) Figura 18 Formas básicas de distorção em juntas soldadas: (a) Contração transversal, (b) contração longitudinal e (c) distorção ^ngular 102 | SOLDAGEMFUNDAMENTOS E TECNOLOGIA 7.1.2 - Dimensão incorreta da solda No projeto de uma estrutura, as dimensões das soldas são especificadas de modo a atender a algum requisito, por exemplo, resistência mecânica à tração. Dimensões fora das tolerâncias admissíveis configuram defeitos de soldagem, uma vez que a solda deixa de atender a esses requisitos. As dimensões de uma solda são verifica das, em geral, numa inspeção visual, com o auxílio de gabaritos. 7.1.3 - Perfil incorreto da solda Este deve ser considerado, na medida em que variações geométricas bruscas agem como concentradores de tensões, facilitando a formação e a propagação de trincas. A Figura 19 mostra alguns exemplos de perfis inadequados de soldas. Convexidade excessiva de cordões em soldas multipasses podem causar falta de fusão e/ou inclusões de escória entre passes. Em quase todos os casos, um perfil inadequado do cordão de solda está relacionado com a manipulação ou posicionamentos imperfeitos do eletrodo e/ou utilização de parâmetros de soldagem inadequados. Figura 19 Exemplos de perfis de soldas inadequados (esquemático) 7.1.4 - Formato incorreto da junta O posicionamento ou o dimensionamento inadequado das peças pode levar a problemas como o desalinhamento em juntas de topo (Figura 20). Problemas de dis torção podem também ser um importante fator para a obtenção de juntas soldadas com um formato incorreto. Garganta Convexidade Mordedura Dobra insuficiente excessiva Perna insuficiente Falta de, penetração Figura 20 Desalinhamento em junta de topo CAPÍTULOS I r . - } FUNDAMENTOS DA METALURGIA DA SOLDAGEM 1 u J 7.2 - Descontinuidades estruturais São descontinuidades na micro ou macroestrutura na região da solda, associadas à falta de material ou à presença de material estranho em quantidades apreciáveis. Sua gravidade depende do tipo de descontinuidade, sua extensão e geometria. 7.2.1 - Porosidades Origem Evolução de gases durante a solidificação da solda. As bolhas de gás podem ser aprisionadas pelo metal solidificado à medida que a poça de fusão é deslocada. Pode ocorrer uniformemente distribuída, em grupos, alinhada ou como porosidade vermicular, conforme mostra a Figura 21. Causas práticas Umidade ou contaminação de óleo. graxa, ferrugem etc. na região de junta, ele trodo, fluxo ou gás de proteção úmidos; corrente ou tensão de soldagem excessivas, corrente de ar durante a soldagem etc. Consequências Pequenas quantidades de poros não são consideradas prejudiciais. Acima de determinados lim ites (em geral estabelecidos por normas), a porosidade pode afetar as propriedades mecânicas, particularmente, reduzindo a seção efetiva da junta. Porosidade alinhada pode ser mais prejudicial que porosidade distribuída. Medidas corretivas A formação de porosidade pode ser minimizada pelo uso de materiais limpos e secos, de equipamentos em boas condições e pelo uso de parâmetros de soldagem adequados. ill ifü lis J K . n K-- *|f (a) (b) , (c) (d) Figura 21 Formas de porosidade: (a) distribuída, (b) agrupada, (c) alinhada e (d) vermicular (esquemática) SOIOAGEM U H FUNOAMENTOS E TECNOLOGIA 7.2.2 - Inclusões de escória (Figura 22) Origem Vários processos de soldagem utilizam fluxos que formam escória que tende a se separar do metal líquido na poça de fusão. Além disso, várias reações se proces sam na poça, podendo gerar produtos insolúveis no metal líquido que tendem a se separar deste e também formar escória. Por diversos motivos, parte desta escória pode ficar presa entre os passes de solda ou entre estes e o meta! de base. Causas práticas . . . . Manipulação incorreta do eletrodo, de tal forma que a escória flui à frente da poça de fusão, particularmente, na soldagem fora da posição plana e na remoção parcial da escória solidificada entre os passes de solda. Este problema é especialmente agravado quando os passes têm uma convexidade excessiva ou o chanfro é muito estreito. Este tipo de inclusão apresenta-se, em geral, com uma forma alongada numa radiografia. Consequências As inclusões alongadas formadas entre os passes de solda são concentradores de tensão relativamente severos e podem facilitar a formação de trincas. Medidas corretivas Manipulação correta e remoção adequada da escória dos passes de soldagem anteriores. Inclusão de escória Figura 22 Inclusão de escória (esquemática) 7.2.3 - Inclusão de tungsténio Este tipo de inclusão ocorre na soldagem com o processo TIG, quando a ponta do eletrodo toca o metal de base ou a poça de fusão, em especial, na abertura do arco sem ignitor de alta frequência, ocorrendo a transferência de partículas de tun gsténio para a solda. CAPÍTULO 6 ! FU\OAVEmos DA METALURGIA DA SDOlAGfM j 7.2.4 - Falta de fusão Origem O term o refere-se à ausência de continuidade metalúrgica entre o metal deposi tado e o metal de base ou dos passes adjacentes, como ilustra a Figura 23. Resulta do não aquecimento adequado do metal presente na junta e/ou da presença de uma camada de óxido espessa o suficiente para dificultar a fusão do metal de base. Causas práticas Manipulação incorreta do eletrodo, falta de limpeza da junta, energia de solda gem insuficiente (corrente m uito baixa ou velocidade de soldagem muito elevada), impossibilidade de o arco atingir certas regiões da junta (por exemplo, na soldagem em vários passes, a região entre dois passes de convexidade excessiva) etc. Consequências A falta de fusão é um concentrador de tensões severo, podendo facilitar o apareci mento e a propagação de trincas. Além disso, pode reduzir a seção efetiva da solda. Medidas corretivas Em peças de responsabilidade, a existênciada falta de fusão não pode ser tole rada, exigindo-se a remoção da região defeituosa e a sua ressoldagem. Para evitar sua formação, deve-se atuar no sentido de se eliminar suas causas práticas. Figura 23 Falta de fusão (esquemática) 7.2.5 - Falta de penetração Origem O termo refere-se a falhas em se fundir e encher completamente a raiz da solda, como mostra a Figura 24. SOLDAGEM FUNDAMENTOS E TECNOLOGIA Causas práticas Manipulação incorreta do eletrodo, junta mal projetada (ângulo de chanfro ou abertura de raiz pequenos), corrente de soldagem insuficiente, velocidade de sol dagem muito alta e diâmetro de eletrodo m uito grande. Consequências Redução da seção útil da solda e concentração de tensões. Medidas corretivas A falta de penetração pode ser evitada pelo projeto adequado da junta e utiliza ção de um procedimento de soldagem apropriado. Deve-se ressaltar que muitas juntas são projetadas para serem soldadas com penetração parcial. Nestes casos, a penetração parcial não constitui um defeito de soldagem. Figura 24 Falta de penetração (esquemática) 7.2.6 - Mordeduras Origem Fusão do metal de base na margem do cordão de solda, sem ocorrer o enchi mento desta área, resultando na formação de uma reentrância nesta região, como mostrado na Figura 19. Causas práticas Manipulação incorreta do eletrodo, com prim ento excessivo do arco, corrente ou velocidade de soldagem muito elevadas. Deve-se observar que, na soldagem com eletrodos revestidos, certos eletrodos têm maior tendência para gerar mordeduras do que outros. Consequências Redução da área útil e concentração de tensões. Particularmente, a resistência à fadiga é reduzida. Medidas corretivas Atuar no sentido de impedir as suas causas. Quando ocorre na soldagem em CAPÍTULO 6 107 FUNDAMENTOS DA METALURGIA DA SOLDAGEM 1 U ' vários passes, a sua eliminação (com 0 esmeril, por exemplo) é importante para se evitar problemas na deposição dos passes seguintes. 7.2.7 - Trincas São consideradas as descontinuidades mais graves em soldagem. São fortes concentradores de tensão, podendo favorecer o início de fratura frágil na estrutura soldada. De um modo bem simples, uma trinca pode ser considerada como o resul tado da incapacidade do material, em responder às solicitações impostas localmente pelas tensões decorrentes do processo de soldagem. Como já discutido, a aplicação localizada de calor, acarretando expansões e contrações localizadas no material, causa 0 aparecimento de tensões de tração bi ou mesmo triaxiais na região da solda. Este estado de tensões, juntamente com a fragilização associada às mudanças microes- truturais durante a soldagem e/ou a presença de certos elementos (particularmente 0 hidrogênio), pode resultar na formação de trincas. As trincas podem ser externas, isto é, atingir a superfície, ou totalmente internas, não sendo, nesse caso, detectáveis por inspeção superficial na região da solda. Podem se localizar na ZF. ZTA ou mesmo no metal de base. Quanto às dimensões, tanto podem ser micro quanto macroscópicas. A Figura 25 mostra as localizações típicas de trincas de soldagem e a Figura 26 mostra um exemplo de uma trinca interna localizada no centro de um cordão de solda. 1 Figura 25 Classificação das trincas de soldagem de acordo com a sua localização: (1) trinca na cratera, (2) trinca transversal na ZF. (3) trinca transversal na ZTA. (4) trinca longitudinal na ZF, (5) trinca na margem da solda, (6) trinca sob o cordão, (7) trinca na linfia de fusão e (8) trinca na raiz da solda SOLDAGEM FUNDAMENTOS E TECNOLOGIA Figura 26 Trinca formada no centro do cordão de solda entre uma chapa de aço baixo carbono de 9 mm de espessura e um pino de aço SAE 1045. Ataque: Nital 10% Vários mecanismos atuam para a formação de trincas em soldas. Assim, essas podem ser formadas durante a soldagem (na solidificação), durante o resfriamento da junla, horas após a realização da soldagem, quando da realização de tratamentos térmicos para alívio de tensões e, mesmo, em serviço, muitos meses (ou anos) após a soldagem. Vários acidentes graves em componentes soldados, que ocorreram em diferentes partes do mundo e resultaram em perdas materiais e de vidas humanas, foram associados à existência de descontinuidades em soldas, particularmente com trincas. Dois dos mecanismos mais comuns de formação de trincas em soldas serão discutidos resumidamente a seguir. A fissuração na solidificação, também denominada de fissuração a quente, é um mecanismo de formação de trincas muito comum e que ocorre também em outros processos de fabricação, em particular, na fundição. Ela está associada com a form a ção de filmes de material líquido segregado entre os contornos de grão do material nos estágios finais de sua solidificação e com a incapacidade desta estrutura resistir aos esforços decorrentes da contração do material. A formação destes filmes é pro movida por certos elementos químicos capazes de sofrer forte segregação, como o enxofre e o fósforo, em ligas ferrosas e é facilitada em materiais que se solidificam com estrutura cristalina CFC como os aços de maior teor de carbono (ver Figura 2), certos aços inoxidáveis e ligas de cobre e de alumínio. Frequentemente, este tipo de trinca aparece no centro do cordão de solda (Figura 25), mas pode aparecer em diferentes localizações e orientações, inclusive como microtrincas (Figura 27). Figura 27 Microtrincas de solidificação na ZF de uma liga Fe-Mn-AI-Si-C. 20üx FUNDAMENTOS DA METALURGIA DA SOLDAGEM ! 1 09 O formato do cordão é também um fator importante na formação de trincas na solidificação, pois determina a maior ou menor facilidade de alimentação, com metal líquido, de certas regiões do cordão no final da solidificação (efeito similar ao observado em fundição com o projeto do formato da peça) e influencia as tensões agindo nestas regiões. A Figura 28 ilustra o efeito do formato do cordão na formação deste tipo de trinca. TrincaTrinca Trinca Trinca (c) (d) Figura 28 Formação de trincas a quente favorecida pelo formato do cordão em: (a) uma solda de filete côncava e (b) passe de raiz côncavo em junta de topo, (c) soldas de topo com elevada razão penetração/largura e (d) em cordão em forma de sino A fissuração pelo hidrogênio, também denominada de fissuração a frio, é consi derada como um dos mecanismos de formação de trincas mais comuns em aços carbono e de baixa e média liga, principalmente aqueles que são temperáveis (isto é, em que ocorre a formação de martensita) durante a soldagem. Este tipo de trinca ocorre principalmente na ZTA (na região de crescimento de grão), podendo ocorrer também na ZF de aços de maior resistência mecânica. A trinca aparece um certo tempo após a soldagem (o que pode ser até várias horas) e cresce lentamente, podendo levar até cerca de dois dias para o seu completo desenvolvimento. Desta forma, uma inspeção, realizada logo após a soldagem, pode falhar em detectar a sua presença. Quatro fatores são considerados como fundamentais para o aparecimento desta forma de fissuração: • presença de hidrogênio: este elemento pode ser absorvido pela poça de fusão e incorporado à solda a partir de material orgânico ou de umidade existentes nos con- sumíveis de soldagem ou na superfície da junta. I • microestrutura sensível: a fragilização ocasionada pelo hidrogênio é mais perniciosa quando a microestrutura é de baixa tenacidade e elevada dureza, destacando-se, neste sentido, a presença de martensita. Assim, condições de soldagem que favorecem o desenvolvimento de velocidades elevadas de resfriamento (por exemplo, a soldagem SOLDAGEM FUNDAMENTOS E TECNOLOGIA de juntas de grande espessura e o uso de uma baixa energia de soldagem) facilitam a fissuração e, no mesmo contexto, a soldagem de aços de maiortemperabilidade é, também, mais crítica. Neste sentido, é comum o uso de fórmulas de "carbono equi valente" para estimar a sensibilidade do aço à fissuração. Por exemplo, considerando a fórmula abaixo, em que se considera os teores (em % peso) dos elementos de um aço carbono ou de baixa liga. quando CE < 0,40, o material é considerado muito pouco sensível à fissuração e, quando CE > 0,60, o material é considerado altamente sensível. „ %Mn %Mo %Cr %Ni %Cu %P CE = %C + --------+ ---------+ ------- + -------+ --------+ ------ c\ 6 4 5 15 15 3 (Eq. 6) • elevada solicitação mecânica: a ocorrência destas e de outras formas de fissuração é facilitada por quaisquer fatores que aumentem a intensidade da solicitação mecânica na região sensível ao problema. Assim, a soldagem de peças de maior espessura, com menor facilidade de se deformar, ou de peças presas em dispositivos de fixação para minimizar a distorção, tende a ser mais sensível à fissuração do que a soldagem naqueles casos em que as solicitações mecânicas são mais facilmente acomodadas. • temperatura: a fissuração pelo hidrogênio ocorre entre cerca de-100 e 200°C. Assim, a manutenção da solda acima desta faixa de temperatura por um período adequado de tempo pode permitir a difusão do hidrogênio para fora da junta e, desta forma, reduzir a chance de formação de trincas. 7.2.8 - Outras descontinuidades estruturais Citam-se, ainda, como descontinuidades estruturais: furos na junta, cordões de aspecto irregular etc. 7.3 - Propriedades inadequadas As soldas pertencentes a um dado equipamento ou estrutura soldada devem possuir propriedades mecânicas (e, em alguns casos, propriedades químicas, elétri cas etc.) bem determinadas. Estas características são, em geral, especificadas por normas e códigos, ou pelo projetista. Soldas incapazes de atender às exigências mínimas em termos de propriedades mecânicas ou outras relevantes são então consideradas defeituosas, exigindo ações corretivas. Estas propriedades são nor malmente avaliadas pela execução de chapas de teste, de onde são retirados os corpos de prova para ensaios. CAPÍTULO 6 I -1 i I fUNDAMEMTOS OA METALURGIA OA SOLDAGEM 1 1 1 7.3.1 - Propriedades mecânicas Entre as propriedades mecânicas que podem ser avaliadas incluem-se: resistência à tração, limite de escoamento, ductilidade, dureza e resistência ao impacto. Os proce dimentos para a execução de chapas de teste, retirada dos corpos de prova, confecção destes e execução dos ensaios são especificados nos diversos códigos e normas. 7.3.2 - Propriedades químicas A resistência à corrosão da solda deve ser avaliada para as aplicações em que esta característica é indispensável. Os problemas de perda de resistência à corrosão devido à soldagem são especialmente importantes em aplicações que utilizam aços inoxidáveis e algumas ligas não ferrosas, mas também podem ser relevantes para aços carbono. Entre os vários problemas de corrosão, destacam-se os de corrosão intergranular, corrosão sob tensão e corrosão preferencial da solda. A Figura 29 ilustra um problema de corrosão preferencial de uma solda, que levou à ocorrência de vazamentos em uma tubulação de aço carbono de uma torre industrial de res friamento de água. (a) (b) Figura 29 Exemplo de um problema de corrosão preferencial da solda observado em uma tubulação de aço baixo carbono, (a) Esquema e (b) micrografia com 100x de aumento «r- € m SOlOAQOan n a u K sn tn e tecnmdqm 8. Exercícios e Práticas de Laboratório a) O que se entende por "estrutura" de um metal ou liga metálica? b) Explique sucintamente o que é ferrita. austenita, perlita e cementita. c) A energia de soldagem é um parâmetro suficiente para descrever um procedimento de soldagem? Por quê? d) Porque a energia de soldagem e o pré-aquecimento são as variáveis mais importantes que afetam o ciclo térmico, do ponto de vista do engenheiro de soldagem? e) Cite algumas maneiras práticas de se controlar a diluição em soldas. f) Descreva a estrutura primária da ZF de uma solda. Explique o porquê destas carac terísticas. g) Descreva a macroestrutura de urra solda por fusão em aço. Explique o porquê destas características. h) Qual a diferença entre descontinuidade e defeito de soldagem? i) Por que a soldagem é capaz de induzir fissuras num material? Deposite cordões de solda sobre uma chapa de aço. usando, por exemplo, as condições abaixo: (P Processo #Êtotnxío (mm) Corrente IA) Tenrio M totoc&cie (an/min) Energie (kJ/mm) 1 SAW 3.2 600 30 36 -3 0 2 SAW 3.2 400 25 33 -2 0 3 SMAW 3.2 140 -2 3 -1 9 -1 0 4 Eletrodo Nu 3.2 140 -2 3 -1 9 -1 0 Corte transversalmente as soldas obtidas, faça um polimento e ataque para observação metalográfica e observe as amostras ao microscópio. Identifique a ZF, ZTA e o metal de base. j) Discuta a influência das variáveis do procedimento de soldagem na estrutura das soldas. k} Repita o procedimento de união das soldagens acima, variando a temperatura inicial da chapa. Qual é o efeito deste parâmetro? I) Por que é importante a existência de um meio de proteção do arco e da zona fundida contra a atmosfera, durante a soldagem? m) Quais as vantagens metalúrgicas de uma solda multipasses? TENSÕES RESIDUAIS E DISTORÇÕES EM SOLDAGEM CAPÍTULO 7 1. Introdução De um modo geral, as operações de soldagem, particularmente para os processos por fusão, envolvem o aquecimento intenso e localizado da região a unir. As regiões aquecidas tendem a se dilatar, mas a dilatação é dificultada pelas partes adjacentes submetidas a temperaturas menores, o que causa o aparecimento de deformações elásticas e, eventualmente, plásticas na região da solda. Como resultado, ao final da soldagem, tensões internas (tensões residuais) e mudanças permanentes de forma e de dimensões (distorções) se desenvolvem na junta. Tanto as tensões residuais como as distorções podem afetar de modo importante a utilidade e o desempenho da estrutura soldada, sendo fundamental o conhecimento de suas características e de medidas para a sua prevenção e controle. Tensões residuais são aquelas que permanecem na peça quando todas as so licitações externas são removidas. Essas tensões podem aparecer em materiais submetidos a diferentes processamentps térmicos ou mecânicos (fundição, sol dagem, laminação, forjamento, usinagem, dobramento, têmpera etc.). Uma das principais causas de seu aparecimento é a ocorrência, ao longo de uma seção da peça, de deformação plástica não uniforme, o que pode ser causado por efeitos tanto mecânicos como térmicos. Um exemplo simples é o aparecimento de tensões residuais em uma peça submetida a processos como o esmerilhamento ou jatea- mento com granalhas, os quais causam o escoamento plástico do material próximo 114 SOLDAGEMFUNDAMENTOS E TECNOLOGIA da superfície. Como as regiões mais internas da peça não se deformam igualmente, elas restringem o escoamento da camada superficial, causando o aparecimento das tensões residuais de compressão nesta (Figura 1). Tensões residuais e distorções podem se desenvolver ainda como resultado das transformações de fase durante, por exemplo, tratamento térmico, devido a diferenças de densidade entre as fases. Figura 1 Tensões residuais desenvolvidas junto à superfície de uma peça sendo esmerilhada Como as tensões residuais podem existir na ausência de solicitações externas, a soma das forças resultantes dessas tensões, em uma dada seção da peça, deve ser nula. Por exemplo, na Figura 1, as tensões residuais de tração desenvolvidas na super fície da peça devem ser contrabalançadas por tensões de compressão desenvolvidas no interior da peça. Se o equilíbrio das tensões residuais for perturbado (por exemplo, pelo corte de uma parte da peça), as tensões serão redistribuídas para restaurar o equilíbrio. Esterearranjo das tensões causa uma distorção adicional na peça. O desenvolvimento de tensões residuais em peças e estruturas soldadas pode gerar diversos problemas, como a formação de trincas, a maior propensão para a ocorrência de fadiga ou fratura frágil, e a perda de estabilidade dimensional. Distor ções podem dificultar ou inviabilizar a montagem de componentes soldados. Uma maneira de se visualizar o desenvolvimento de tensões internas numa peça soldada é mostrada na Figura 2. No instante em que é depositado, o metal de adição está aquecido e no estado líquido, ocupando o volume mostrado na parte (a). Esta mesma quantidade de material sólido e à temperatura ambiente ocupa somente o volume indicado na parte (b). Entretanto, com o foram formadas ligações em nível atômico com o metal base durante o processo, este material ocupa ao final da ope ração o mesmo volume que ocupava inicialmente, estando, portanto, intensamente tensionado e deformado. CAPÍTULO 7 I 1 1 c TENSÕES RESIOUAJS E DISTORÇÕES EM SOLDAGEM | 1 1 0 (b) Figura 2 Volume ocupado pelo metal de adição: (a) no estado líquido e (b) à temperatura ambiente, esquemático 2. Desenvolvimento de Tensões Residuais em Soldas Devido à sua importância para a soldagem, serão aqui consideradas as tensões residuais associadas com a ocorrência de deformação plástica não uniforme por efeitos térmicos. Quando um metal é aquecido, suas dimensões aumentam proporcionalmente à variação de temperatura (AT = T -T 0), isto é: A£ = e - ( Q =CQx a AT (Eq.1) onde (A/) é a variação do comprimento inicial (l0), e a é o coeficiente de dilatação térmica linear. Se um objeto for aquecido e resfriado uniformemente e não existirem restrições às suas variações dimensionais, estas não resultam em efeitos mecânicos importantes no objeto. Contudo, se a variação de temperatura não for uniforme ao longo da peça ou se esta não puder se expandir ou contrair livremente durante o ciclo térmico, tensões residuais e/ou distorções podem se desenvolver. Como um exemplo inicial, suponha-se que duas barras metálicas de grande seção transversal sejam unidas por três outras barras metálicas de menor seção transver sal, como mostrado na Figura 3, de tal forma que nenhuma das peças envolvidas esteja sob esforço mecânico, isto é, que o nível de tensões internas seja nulo ao final desta etapa. Suponha agora que a barra central seja aquecida, por exemplo, com um maçarico a gás, de maneira uniforme. Faça-se então uma análise das con sequências deste aquecimento, em termos das tensões que se desenvolverão nas 6 SOLDAGEMFUNDAMENTOS E TECNOLOGIA peças da montagem proposta. Para isso. deve ser lembrado que os metais, quando aq.uecidos, tendem a se expandir (dilatação térmica), que, quando as tensões apli cadas atingem o lim ite de escoamento (tensão mínima para deformação plástica), o material se deforma plasticamente e que o lim ite de escoamento tende a dim inuir com o aumento da temperatura. (a) (b) Figura 3 Diagrama esquemático da montagem das três barras: (a) conjunto de barras presas nas extremidades e (b) barra central sendo aquecida A Figura 4 mostra a evolução do nível de tensões internas na barra central em decorrência da variação da temperatura. Inicialmenle (ponto A), o nível de tensões internas é nulo. Quando a temperatura começa a aumentar, a barra central tende a se expandir, sendo restringida pelas peças de maior seção e pelas barras laterais, que permaneceram à temperatura ambiente. Dessa forma, ela experimenta um esforço de compressão, que tende a aumentar com a elevação da temperatura, deform ando- -se elasticamente em compressão, até que as tensões internas atinjam o lim ite de escoamento em compressão (ponto B). Temperatura (°C) Figura 4 Diagrama esquemático das tensões internas em função da temperatura na barra central da Figura 3 CAPÍTULO 7 - . TENSÕES RESIDUAIS E DISTORÇÕES EM SOLDAGEM • ' / Continuando-se o aquecimento, a dilatação térmica tende a prosseguir. Entretanto, como o nível de tensões internas atingiu o lim ite de escoamento, a barra central passa a se deformar plasticamente (deformação permanente) em compressão. Isto quer dizer que a barra sofre, pela deformação plástica, uma diminuição em seu comprimento e um aumento em sua seção transversal, o que é compensado pela diiatação térmica. Este processo continua até que cesse o aquecimento (ponto C), quando a barra estará submetida a esforços de compressão, da ordem do limite de escoamento em compressão na temperatura do final do aquecimento. Cessado o aquecimento, a barra central tende a resfriar e, consequentemente, a se contrair termicamente. Assim, quando a temperatura começa a cair, o esforço de compressão sentido peia barra tende a diminuir, até se anular, para uma dada temperatura acima da temperatura inicial (ponto D). Entretanto, a temperatura continua a abaixar e a barra quer continuar a diminuir de comprimento, mas, como este foi diminuído por deformação plástica durante o aque cimento, a contração é restringida pelas barras transversais e laterais. Assim, a barra central passa a sentir um esforço de tração e uma deformação elástica crescentes, à medida que a temperatura continua caindo, até que o limite de escoamento em tração seja alcançado (ponto E). A partir daí a barra passa então a se deformar plasticamente em tração, até que a temperatura volte ao valor da temperatura ambiente (ponto F). Portanto, ao final do processo, a barra central que inicialmente não estava subme tida a nenhum esforço interno, agora apresenta tensões internas (chamadas tensões residuais) da ordem do limite de escoamento à tração. Para manter o equilíbrio, como já discutido, as barras laterais estão sujeitas a tensões de compressão. Em soldagem, o cordão de solda e as regiões adjacentes se comportam de forma similar à barra central, e as regiões mais afastadas (metal de base), de forma similar às barras laterais do exemplo acima. A distribuição de tensões longitudinais numa junta soldada ao longo da direção transversal é mostrada esquematicamente e com parada com a montagem das três barras na Figura 5. A região da solda está sujeita a tensões de tração cujo valor máximo é próximo do limite de escoamento do material. Estas tensões reduzem de intensidade, passando para valores negativos (compressão) para regiões mais afastadas da solda. Tensões residuais também são desenvolvidas ao longo da solda e, no caso de soldas em peças espessas, ao longo da espessura. 1 1 O SOLDAGEM 1 1 0 FUNDAMENTOS E TECNOLOGIA Figura 5 (a) Comparação entre as tensões residuais desenvolvidas na montagem de três barras e (b) as tensões residuais longitudinais formadas ao longo da direção transversal (y) de uma solda de topo por fusão Se a peça soldada tem pouca possibilidade de se mover ou de deformar por seu próprio volume e resistência ou por estar fixada por dispositivos próprios de soldagem ou ligada a outros componentes da estrutura, diz-se que ela está vinculada. Quanto mais intensa a vinculação, maiores os esforços desenvolvidos durante o processo e as tensões residuais, que, por sua vez, induzem maiores consequências para a peça e a estrutura. Como as tensões residuais atingem valores próximos do lim ite de escoamento, componentes de materiais de maior resistência mecânica tendem a apresentar valores mais elevados de tensões residuais. As tensões residuais têm importanle influência em diversos aspectos do compor tamento de componentes soldados (ver próxima seção). Essas tensões podem ser medidas por métodos destrutivos (por exemplo, pela medida, com extensômetros elétricos, da deformação que ocorre quando uma peça contendo tensões residuais é cortada) ou não destrutivos (por exemplo, por difração de raios X). O desenvolvi mento das tensões residuais em uma peça pode, também, ser simuladopor técnicas numéricas, destacando-se o método dos elementos finitos. CAPfnjlO 7 I 1 1 Q TENSÕES RESIDUAIS E DISTORÇÕES EM SOIDAGEM 1 3. Consequências das Tensões Residuais 3.1 - Variações nas tensões residuais devido a um carregamento estático de tração Quando um componente soldado, contendo uma distribuição inicial de tensões residuais é carregado por tensões de tração, as tensões residuais tendem a se somar às tensões de carregamento. Assim, as regiões submetidas a tensões residuais mais elevadas atingem primeiro as condições de escoamento, deformando-se plastica mente. Esta deformação localizada diminui as diferenças de dimensão responsáveis pelas tensões residuais e, desta forma, reduz essas tensões quando o carregamento externo é retirado. Esta análise permite tirar as seguintes conclusões: • tensões residuais afetam de forma significativa apenas fenômenos que ocorrem com tensões aplicadas relativamente baixas (inferiores ao limite do escoamento do material) como, por exemplo, na fratura frágil, na fragilização pelo hidrogênio e em corrosão sob tensão; • em estruturas submetidas a carregamento, quanto maior o carregamento, menor o efeito das tensões residuais; • se a estrutura é carregada além de seu limite de escoamento, o efeito das tensões residuais se torna desprezível; e • métodos que utilizam alguma forma de solicitação mecânica podem ser usados para diminuir as tensões residuais de um componente soldado. 3.2 - Comportamento em fadiga A presença de tensões residuais de compressão na superfície de um compo nente é um fator para redução da chance de iniciação de trincas de fadiga. Em um componente soldado, as tensões residuais de tração podem ter um efeito negativo no seu desempenho à fadiga, embora não existam resultados claros quanto a este efeito devido, possivelmente a: (a) sob a ação de cargas variáveis, as tensões resi duais de soldagem devem ser, pelo menos parcialmente, aliviadas e (b) as irregu laridades superficiais (reforço e escamas) têm um efeito predominante na redução da resistência à fadiga. * 3.3 - Fratura frágil Estruturas soldadas são particularmente propensas à falha por fratura frágil devido a diversos fatores, destacando-se: i<?n touAoai ,£ U FUKOMIBITOSI TtttRlOQA • uma estrutura soldada é monolítica, não apresentando interfaces (como em uma estru tura rebitada) que possam interromper a propagação de uma trinca de fratura frágil: * a região da solda apresenta alterações estruturais caracterizadas, frequentemente, por um aumento do tamanho de grão em relação ao metal de base, o que, em materiais de estrutura cristalina CCC, tende a diminuir a tenacidade do material; • a região da solda tende a apresentar diversas descontinuidades, como trincas e inclusões de escória, que podem atuar como concentradores de tensão e pontos de iniciação da fratura; e * tensões residuais de tração elevadas existem na região da solda. A fratura frágil é favorecida por baixa temperatura, elevadas taxa de deformação e espessura do componente, presença de concentradores de tensão ou de uma microestrutura de baixa tenacidade. Diversos destes fatores podem estar presentes em uma estrutura soldada. Neste caso, uma trinca pode se propagar sob tensões inferiores ao limite de escoamento, praticamente sem deformação plástica. Nestas situações, as tensões residuais associadas à solda podem ser suficientemente elevadas ou podem se adicionar às tensões externas para causar a fratura frágil. Devido a este risco, em diversas situações, componentes soldados devem ser tratados termicamente para alívio de tensões residuais e/ou refino da estrutura na região da solda. 3.4 - Formação de trincas em soldas Trincas são frequentemente formadas em soldas. Estas trincas podem ser asso ciadas basicamente a dois fatores: uma solicitação, isto é, tensões mecânicas de tração, e uma incapacidade do material, muitas vezes, momentânea, de acomodar esta solicitação deformando-se plasticamente (fragilização). Fragilização da região da solda e de regiões adjacentes a esta pode ocorrer por diversos motivos (formação de filmes de líquido em contornos de grão, crescimento de grão, presença de hidrogênio dissolvido no material, precipitação etc.) durante e após a soldagem. 3.5 - Corrosão sob tensão Na presença de um ambiente agressivo, trincas de corrosão podem se desenvolver de forma acelerada devido à presença de tensões de tração. No caso de aços estru turais ao carbono ou de baixa liga, por exemplo, este fenômeno é desencadeado pelo contato com hidróxidos ou com sulfeto de hidrogênio. Em estruturas soldadas, as tensões residuais são muitas vezes suficientes para o desenvolvimento de corrosão sob tensão, dependendo do material e do ambiente. CAFÍTU107 1191 TEKSÚCS RESDUAIS E DCTOflÇÔíS EM SOIDAGEM 1 3.6 - Instabilidade dimensional Quando um componente soldado é usinado ou submetido a outra operação de remoção de material, o equilíbrio das forças responsáveis pelas tensões residuais é perturbado. Para restaurar o equilíbrio de forças, o componente sofre pequenas distorções que causam uma redistribuição das tensões residuais. Este processo pode ser usado para a medida de tensões residuais, mas pode, também, causar problema na usinagem de precisão de componentes com tensões residuais. 4. Distorções As distorções de peças soldadas são desvios permanentes de forma e/ou dimensões resultantes das deformações plásticas que ocorrem devido às tensões transientes desen volvidas durante a soldagem. Além disso, ao final da operação, a peça fica submetida a tensões elásticas (tensões residuais) que podem ser da ordem do limite de escoamento. Quando se retiram os vínculos de fixação ou montagem, estas tensões podem ser parcialmente aliviadas, causando uma distorção adicional. A Figura 6 ilustra esquematicamente a formação da distorção. Durante a solda gem, o aquecimento causa uma maior expansão térmica da região superior da peça. sua deformação plástica mais intensa e a distorção transiente desta (Figura 6-a). Ao final da soldagem, com o resfriamento do material na região da solda, ocorre a sua contração. Como a região superior da peça foi a mais aquecida e sofreu a maior deformação plástica, a peça apresenta uma distorção final voltada para a direção oposta da distorção transiente máxima (Figura 6-b). figura 6 Evolução da deflexão longitudinal de uma barra pelo calor de soldagem. 6, - Deflexão ou distorção final, (a) Soldagem, (b) resfriamento posterior i 9 9 I SOLDAGEM 1 LL\ FUNDAMENTOS E TECNOLOGIA Alguns tipos básicos, apresentados na Figura 7, são considerados para facilitar o estudo das distorções geradas por soldagem. Entretanto, de modo geral, o estado final de tensões e deformações numa solda real é bastante complexo e depende de diversos fatores, tais como: material, propriedades mecânicas e espessura das peças, grau de rigidez da estrutura, dimensões, posição, geometria e quantidade das soldas, além de suas propriedades mecânicas e sua qualidade. (d) Figura 7 Tipos básicos de distorçáo em soldagem: (a) contração transversal; (b) contração longitudinal; (c) distorção angular e (d) flexão em relação à linha neutra Uma estimativa da contração transversal (CT) em soldas de topo de aço ao carbono ou de baixa liga é dada pela equação empírica: CT = 0 .2 ^ L + 0 ,0 5 / (Eq. 2) ' t onde \ j é a área da seção transversal da solda, t é a espessura das chapas e f é a abertura da raiz do chanfro. O valor real de CT depende de vários fatores como, por exemplo, o grau de restrição da junta e o número de passes usados. De uma forma geral, um maior número de passes (através do uso de eletrodos de menor diâmetro ou de uma maior velocidade de soldagem) causa contração transversal e distorção angular maiores. A contração longitudinal tende a ser menorque a transversal (medindo cerca de 1/1000 do comprimento total da solda), contudo, ela pode causar efeitos impor tantes como o dobramento ou flexão de peças com soldas feitas fora de sua linha neutra (Figura 7-d) e a distorção por flambagem (enrugamento) de chapas finas. A distorção angular ocorre quando a contração transversal não é uniforme ao longo da espessura da junta, podendo ocorrer tanto em soldas de topo como em soldas de filete (Figura 7-c). CAPÍTUIO 7 TENSÕES RESOUA1S E DISTORÇÕES EM SOIDAGEM 5. Controle das Tensões Residuais e Distorção 5.1 - Controle e alívio das tensões residuais O nível de tensões residuais em uma junta soldada pode ser d im inuído reduzindo-se a quantidade de calor fornecido à junta ou o peso de metal depositado. Na prática, isto pode ser feito otimizando-se o desenho do chanfro (reduzindo-se o ângulo do chanfro ou usando-se preparações simétricas,, por exemplo) e evitando-se depositar material em excesso (evitando-se reforço excessivo em soldas de topo ou minimizando-se o tamanho de soldas de filete). A seleção de processos de maior eficiência térmica (fonte de maior intensidade) é uma possível alternativa de con trole, mas difícil de ser justificável economicamente na maioria dos casos. Tensões residuais também podem ser reduzidas pelo uso de metal de adição com a menor resistência permissível no projeto, assim como uma redução dos vínculos externos da junta soldada (minimizando-se, assim, as tensões de reação). Após a soldagem, as tensões residuais podem ser aliviadas por métodos térmicos ou mecânicos, mostrados na Tabela I. Tabela I - Métodos para aliviar tensões residuais, segundo Okumura e Taniguchi, no livro Engenharia de soldagem e aplicações Procedimento Descrição Características Limitações Martelamento Martelamento do metal depo sitado e de suas adjacências durante ou após a soldagem. Método simples, pode causar refino de grão. Inadequado para ma teriais de baixa ductili- dade. (a) Encruamento A junta soldada é deformada plasticamente pela aplicação de cargas de tração. Bastante eficiente para tanques esféricos e tubulações. Inadequado para estrutu ras complicadas pela difi culdade de aplicar tensões uniformes. Vibração Vibrações são aplicadas na estrutura causando uma res sonância de baixa frequência, o que ocasiona deformação plástica parcial da estrutura e alívio de tensões. Operação simples. Inadequado para chapas grossas ou grandes estru turas. 0 alívio de tensões não é uniforme. Recozimento para alívio de tensões Aquecimento a 600-700°C (aços ferríticos) ou 900°C (aços austeníticos) seguido de resfriamento lento. Pode ser local ou total. Muito utilizado e bas tante eficiente. Inaplicável para grandes estruturas e difícil de ser executado no campo. Cus to elevado. (b) Recozimento a alta tempe ratura Aquecimento a 900-950°C (aços ferríticos) seguido de resfriamento lento. Pode ser local ou total. Pode eliminar comple tamente as tensões residuais. Inaplicável para grandes estruturas e difícil de ser executado no campo. Cus to muito elevado. Alívio de ten sões a baixas temperaturas Aquecimento do local da sol da a 150-200°C em uma largu ra total de 60 a 130 mm. Adequado para gran des estruturas. 0 alívio de tensões é parcial. (a) Processos mecânicos (b) Processos térmicos FUNDAMENTOS E TECNOLOGIA 5.2 - Controle e correção da distorção Diversas medidas podem ser usadas para reduzir a distorção em soldagem, em diferentes etapas. 5.2.1 - No projeto de estruturas soldadas • projetar estruturas com a menor quantidade possível de soldas; • usar chanfros que necessitem da deposição de pouco metal de adição; • usar chanfros simétricos (X, K, duplo U etc.); • posicionar soldas junto da linha neutra da peça ou em posições simétricas em relação à linha neutra; e • especificar o menor tamanho possível das soldas compatível com as solicitações existentes ou usar a soldagem intermitente. 5.2.2 - Na fabricação • estimar a distorção que ocorrerá na estrutura e posicionar as peças de forma a com pensar esta distorção (difícil de aplicar em estruturas complexas); • colocar peças na sua posição correta e utilizar dispositivos de fixação e técnicas para minimizar a distorção (ponteamento antes da soldagem, gabaritos etc.); e • usar sequências de deposição de cordões de solda (deposição por partes, uso de mais de um soldador iniciando a operação no mesmo ponto e soldando em direções opostas) e de montagem (montagem por subcomponentes etc.) que minimizem a distorção. 5.2.3 - Após a soldagem (correção da distorção) a) remoção a quente; • aquecimento localizado • aquecimento uniforme e pressão mecânica b) remoção a frio: • calandragem • prensagem • martelamento etc. CAPÍTULO7 ! , f ) c TENSÕES RESIDUAIS E DISTORÇÕES EM SOLDAGEM 1^0 6. Exercícios a) 0 que são tensões residuais? Descreva o seu aparecimento em soldas. Mostre a sua distribuição usual em uma solda de topo. b) Discuta o comportamento de uma solda de uma liga de elevada ductilidade durante o seu carregamento considerando a existência de tensões residuais. Discuta a influência destas tensões na fadiga e na fratura frágil de estruturas soldadas. c) Mostre como tratamentos térmicos e mecânicos podem reduzir o nível das tensões residuais. Sugestões: para o tratamento térmico, considere o efeito da temperatura no limite de escoamento e, para o tratamento mecânico, considere a resposta da questão anterior. d) Como aparecem distorções em uma junta soldada? Quais as consequências princi pais destas? Como estas podem ser eliminadas ou minimizadas? Estime a distorção transversal para a junta indicada na figura abaixo (aço carbono). CAPÍTULO 8 AUTOMAÇÃO DA SOLDAGEM 1. Fundamentos Por definição, qualquer sistema ou conjunto de equipamentos eletrônicos e/ou mecânicos que controlam seu próprio funcionamento, com o mínimo de intervenção humana, são sistemas automáticos. Na soldagem, a classificação dos processos quanto ao tipo de operação é baseada nas atividades necessárias para a confecção de uma solda. Dentre estas operações, citam-se: • abertura e manutenção do arco • alimentação do material de adição • controle do calor cedido e da penetração • deslocamento da tocha ao longo da junta com uma velocidade determinada • procura e seguimento da junta • direcionamento da tocha e do arco . • mudanças e compensações para variações na preparação ao longo da junta. Um processo de soldagem é classificado como manual quando todas as atividades citadas são executadas e controladas pelo soldador. No outro extremo, para que o processo de soldagem seja classificado como automatizado, todas essas atividades devem ser executadas e controladas pela máquina. A Tabela I apresenta as atividades de soldagem, o agente executor e a classificação dos processos adotada pela AWS (American Welding Society). Tabeia I - Tipos de operação de soldagem de acordo coro a AWS Tipo de operação -> Manual Semiauto mático Mecani zado Automático Robotizado Controle Adaotativo Ação j * á f f O ^ 8 8 S g O * 3 ! Abertura e manutenção do arco Soldador Máquina Máquina Máquina Máquina (com sensor) Máquina (Robô) Alimentação de material SoId8dor Máquina Máquina Máquina Máquina Máquina Controle do calor e pene tração Soldador Soldador Máquina Máquina Máquina (com sensor) Máquina (Robô) (só com sensor) Deslocamen to da tocha Soldador Soldador Máquina Máquina Máquina (com sensor) Máquina (Robô) Procura e seguimento da junta Soldador Soldador Soldador Máquina, trilha progra mada Máquina (com sensor) Máquina (Robô) (só comsensor) Direciona mento da tocha e do arco Soldador Soldador Soldador Máquina Máquina (com sensor) Máquina (Robô) Correção e compensação Soldador Soldador Soldador Não ocorre Máquina (com sensor) Máquina (Robô) (só com sensor) O termo automático indica que todas as funções ou passos de uma operação são executados, em sequência, por meios mecânicos e/ou eletrônicos, sem qualquer ajuste feito pelo soldador, exceto uma eventual programação do equipamento. A automação também pode ser parcial, com certas funções ou passos executados pelo soldador. Dizer que um processo é semiautomatizado é dizer que algo está faltando para que o mesmo se torne automatizado. Assim, embora muito usado, o termo semiautomático não é muito adequado, sendo mais adequado o termo semimecanizado. Pelo exposto, Uma nova classificação dos processos de soldagem é apresentada na Tabela II. CAFfnH08 < 9 Q AUTOMAÇÃO DA SOIQAKM 1 Tabela II - Classificação dos processos de soldagem revisada Atividades Tipo de operação Manual Semimecanizado Mecanizado Automático Abertura e manutenção do arco Soldador Máquina Máquina Máquina Alimentação de material Soldador Máquina Máquina Máquina Controle do calor e penetração Soldador Soldador Máquina Máquina Oeslocamento da tocha Soldador Soldador Máquina Máquina Procura e seguimento da junta Soldador Soldador ' Soldador Máquina Direcionamento da tocha e do arco Soldador Soldador Soldador Máquina Correções e compensações Soldador Soldador ■Soldador Máquina (podendo ou não ocorrer) Um processo tipicamente manual é a soldagem com eletrodos revestidos, na qual todas as atividades são executadas e controladas pelo soldador. No processo de soldagem com proteção gasosa e eletrodo consumível (MIG/MAG ou GMAW), o soldador é responsável pelo deslocamento da tocha de soldagem, ficando apenas a abertura do arco e a alimentação do arame sob responsabilidade da máquina, este é classificado como semimecanizado. Quando utiliza-se de um dispositivo mecânico para deslocamento da tocha de soldagem, este passa a ser classificado como mecanizado. Finalmente, quando o dispositivo é capaz de seguir juntas, alte rar o direcionamento e fazer eventuais correções de forma automática, o processo é chamado de automático. A soldagem robotizada com o processo GMAW é um exemplo típico de soldagem automatizada. O objetivo da automação, seja total ou parcial, é reduzir o custo de manufatura, aumentando a produtividade e melhorando a qualidade e confiabilidade do produto final (repetibilidade). Isto é possível pela redução ou eliminação de erros humanos. Um equipamento automatizado pode, em um extremo, ser projetado para acomodar uma montagem simples ou uma família de montagens similares (automação fixa), ou, em outro extremo, pode ser flexível para ser modificado rapidamente para executar uma operação similar sobre componentes ou montagens diferentes (automação flexível). Na automação fixa, o sistema de soldagem automático se caracteriza por ter uma combinação de dispositivos de movimentação do arco (único ou múltiplo) e uma plataforma de trabalho, projetados para trabalhar em sincronia e soldar uma família específica de produtos. Os mecanismos auxiliares de fixação e manuseio do metal base estão geralmente incluídos e podem ser configurados em função da junta que será soldada. Normalmente esses,sistemas possuem controles relativamente simples e não são facilmente reprogramáveis. Tais equipamentos possuem movi mentos também relativamente simples e são projetados para reduzir os tempos de "set-up" (montagem e desmontagem) e o de soldagem. O operador, no contexto do processo, somente carrega e descarrega as peças em produção, objetivando uma maior produtividade. A automação fixa é empregada quando se têm produções em grandes escalas de peças similares. 1 3 0 SOLDAGEM FUNDAMENTOS E TECNOLOGIA Na soldagem automatizada flexível, um programa de controle computacional ou numérico substitui o posicionamento fixo e serviço sequencial da soldagem automa tizada fixa. Um robô industrial é o sistema automatizado flexível mais utilizado em operações de manufatura. A operação robotizada pode ser bastante simples, quando as condições de soldagem são fixas e uma única sequência é usada em todas as operações, ou bastante complexa, se as condições são constantemente modificadas em função da configuração da junta, exigindo a atuação de inúmeros sensores para retroalimentar e corrigir o sistema, dependendo do tipo de peça a ser processada. Como a tecnologia atual não dispõe de sistemas realmente inteligentes, todas as possibilidades de mudanças e correções devem estar lógica e sistematicamente previstas na memória do sistema. A arquitetura do equipamento para esses casos pode ser bastante complexa para promover um perfeito ajuste em função dos desvios percebidos de trajetória, sendo, portanto, bastante aproximado da sensibilidade e habilidade humana na compensação das mudanças de operação. A automação flexível é empregada quando se têm produções de grande diversidade de peças. Os dois processos descritos (poderiam ser) são classificados como "mecanizados", pois apesar de executarem toda a operação de soldagem sem a interferência humana, podendo até realizar ajustes de trajetórias quando necessário, não são capazes de detectar e corrigir em tem po real um problema de soldagem, como por exemplo uma falta de penetração. Entretanto, tratar um processo de soldagem robotizado como semiautomatizado é bem aceito no ramo industrial. Sistemas totalmente automatizados para soldagem, chamados de automático com controle adapiativo, ainda se encontram em fase de pesquisa e desenvolvimento em escala de laboratório e em plantas piloto. Estes sé caracterizam por atuar automati camente numa sequência e condições de soldagem preestabelecidas (sistema em malha aberta) ou inseridas durante o processo (sistema em malha fechada). Este último opera de acordo com um controle central que determina as mudanças apropriadas para as condições de soldagem com base na retroalimentação. Dispositivos de sen- soreamento são usados para captar sinais de parâmetros e variáveis do processo, que são comparados com dados de situações nas quais as condições de operação são estáveis ("set-points"). Caso ocorram perturbações no processo ou nas condições da junta, causando desvios, essas diferenças são corrigidas com base em aigum modelo teórico ou empírico armazenado em arquivos remotos ou em um banco de dados na memória do sistema. O nível de automação desses sistemas pode variar à medida que mais itens forem controlados e consequentemente maior número de sensores tem de ser usado, encarecendo o equipamento. A utilização de sistemas deste tipo só é viável na produção totalmente integrada e de grandes lotes de peças. 2. Equipamentos Um sistema para soldagem automatizada requer equipamentos e dispositivos de alta confiabilidade. O equipamento mais empregado nas indústrias atualmente para a automação da soldagem é o robô industrial. CAPÍTULO 8 ..<31 AUTOMAÇÃO OA SOLDAGEM í 1 0 1 2.1 - Tipos de robôs usados em soldagem Um robô industrial consiste de um conjunto de elos conectados e articulados, sendo o primeiro elo vinculado, geralmente, a uma base fixa e, no últim o elo, denominado extremidade terminal, tem-se a ferramenta (tocha de soldagem). Desse modo, o deslocamento da tocha passa a ser controlado segundo a movimentação especificada durante a programação do robô. As configurações de robôs mais utilizadas em operações de soldagem são apre sentadas na Figura 1. Os robôs de configuração retangular (ou cartesiana) movem a ferramenta dentro de um espaço de trabalho retangular, nas direções x, y e z. São os mais utilizados nos processos de soldagem para a produção de cordões de solda lineares. O tipocilíndrico é similar ao retangular, pois utiliza movimentos de desliza mento em duas direções (vertical z e extensão x), mas com uma junta de rotação, a qual estabelece o espaço de trabalho cilíndrico. O tipo esférico, ou polar, possui um eixo deslizante e dois eixos rotativos. Seu espaço de trabalho é uma esfera. O robô do tipo articulado, cujos movimentos são todos de rotação, apresenta um espaço de trabalho mais complexo e flexível, tornando-o adequado para qualquer tipo de soldagem (linear ou fora de posição). Devido a esta grande flexibilidade, o robô tipo articulado é o mais utilizado atualmente. (a) (b) Ombro Cotoveio /Extensão / (C) (d) Figura 1 Configurações básicas de robôs industriais: a) retangular; b) cilíndrico; c) esférico e d) articulado 2.2 - Componentes de um sistem a para soldagem a arco robotizada A Figura 2 apresenta uma célula robótica com configuração básica para a solda gem (robô, fontes de energia e gás de proteção e mesa posicionadora), e a Tabela III apresenta uma descrição sucinta dos principais componentes e suas características mais importantes. SOLDAGEM FUNDAMENTOS E TECNOLOGIA Figura 2 Configuração básica de uma célula robótica Tabela III - Componentes básicos de um sistema para soldagem robotizada Componentes básicos Características importantes Robô Graus de liberdade, envelope de trabalho, destreza (precisão), fonte de ener gia. repetibilidade, velocidade, capacidade de carga, tipos de acionadores. Controle computacional do robô Técnica de programação, sistema de feedback de controle, tamanho da memória e do arquivo de backup, armazenamento do programa, inter faces, protocolos de comunicação, softwares especiais de soldagem. Fonte de energia para soldagem Ciclo de trabalho (usualmente 100% é desejável), interface com o controle do robô, precisão (corrige pequenas flutuações da tensão dò arco) e capacidade de constantemente iniciar o arco elétrico. Equipamento e acessórios para soldagem a arco Tipo de alimentador do arame (dois ou quatro roletes. por exemplo), tipo de controle, interface com o controle do robô, tocha de sol dagem (capacidade, precisão, dimensões), cabos (comprimento e montagem), ferramentas para alinhamento, estação de limpeza do bocal da tocha, estação do operador e equipamento de segurança. Dentre os diversos equipamentos de suporte e auxiliares na soldagem com robôs, citam-se os posicionadores. Estes equipamentos são usados para melhorar a versa tilidade do sistema e aumentar a sua amplitude, pois em muitos casos a geometria das peças não pem iile aos robôs uma livre movimentação da tocha para o acesso à CAPÍTULOS I 1 O O AUTOMAÇÃO DA SOLDAGEM • junta, restringindo o seu grau de liberdade. Em muitas aplicações os manipuladores permitem, se devidamente integrados com os robôs, soldar grandes extensões na posição plana, mesmo em planos diferentes. A Figura 3 apresenta um tipo de posi- cionador normalmente utilizado em soldagem onde mais 3 graus de liberdade são adicionados ao sistema de soldagem. Figura 3 Tipo de posicionador para soldagem robotizada de 3 graus de liberdade 3. Programação de Robôs para a Soldagem A programação de um robô para a realização de soldas obedece à seguinte sequência: (1) calibração da posição da tocha de soldagem, para assegurar que 0 robô operará dentro de sua faixa de alcance e precisão: (2) localização dos componentes de trabalho (mesa. gabaritos, fixadores etc.) e definição do tipo de fonte de energia; (3) definição do caminho que será seguido pela tocha, assim como a localização dos cordões de solda; Alguns robôs são do tipo "ensino e repetição" (armazenam na memória do controlador os pontos a serem percorridos), outros devem ser programados no modo "off-line", isto é, sem o robô estar operando. O controle computacional da movimentação de um robô pode ser realizado de três formas diferentes: ponto a ponto, caminho contínuo e caminho controlado. Na movimentação ponto a ponto, o robô se move de um ponto específico para outro, mas a princípio pouco importa o caminho percorrido entre os pontos (este tipo tem aplicação em solda a m stniMsaFUNDAMENTOS ETECMMM1A pontos); na movimentação caminho contínuo o robô tem a habilidade de se mover tomando como referência pontos específicos que definem um caminho, mas a trajetória seguida pode não corresponder exatamente aos pontos programados (normalmente utilizado na manipulação de peças); e na movimentação caminho controlado (trajetória computada), o caminho entre os pontos programados é controlado, podendo ser definido através de uma interpolação linear (linha reta) ou por uma interpolação parabólica, bastando para isso que as coordenadas inicial e final, bem como o tipo de interpolação, sejam informadas ao controle. O controle computacional depende do tipo de robô e do programa implementado, entretanto, a maioria dos robôs para soldagem utiliza trajetória computada. (4) definição das condições de soldagem a serem utilizadas e que devem estar atreladas às coordenadas de movimentação do robô. Nessa etapa da programação, são inseridos na programação dois conjuntos de dados: o primeiro, no inicio da trajetória, onde será depositado o cordão, contendo instrução para a abertura do arco; e o segundo, no final da trajetória, contendo instrução para a extinção do arco; e (5) refinamento do programa através da verificação do desempenho e introdução de al guns controles básicos para soldagem. Algumas vezes é necessário editar o programa novamente para se obter a correta soldagem da peça. 4. Aplicações Industriais A automação da soldagem é muito vasta e promissora e ainda é tópico de vá rios trabalhos de pesquisa e projetos. Entretanto, já existem algumas áreas onde a automação é consagrada e tem apresentado resultados muito satisfatórios. Resu midamente. algumas destas áreas são: • soldagem de peças automobilísticas; • submontagens de peças navais e caldeiraria pesada; • soldagem estrutural pesada, incluindo fabricação de perfis e pontes; e • soldagem de produtos .tubulares, incluindo montagem soldada de tubos flangeados e derivações. CAPtnilOB I 1 0 C AUTOMAÇÃO DA SOLDAGEM | 5. Exercícios a) Explique com suas palavras quando um robô para soldagem pode ser considerado um sistema automático e quando pode ser considerado semiautomático considerando as definições apresentadas nas Tabelas I e II. Em que situação ele é considerado mecanizado? b) Dentro da classificação proposta, dê um exemplo de um sistema semimecanizado para soldagem com eletrodo revestido. c) Qual a diferença fundamental entre automação flexível è automação fixa? Dê exem- pios. d) Discuta a aplicação dos quatro tipos de robôs em soldagem. e) Que outros tipos de posicionadores você acha que poderiam ser utilizados para sol dagem? Esboce os tipos indicando os movimentos com setas. NORMAS E QUALIFICAÇÃO EM SOLDAGEM CAPÍTULO 9 1. Introdução Desde o início da civilização existe a necessidade de regras e regulamentos para controlar de uma forma ou outra as atividades humanas. Com o advento da Revolução Industrial, as atividades neste campo começaram a exercer um importante efeito sobre os indivíduos não diretamente envolvidos com os processos de fabricação, tanto os usuários diretos como os não usuários dos produtos destes processos. A falta de regulamentação nas diferentes etapas de um processo de fabricação, ou a não observância de regulamentações existentes, tem ocasionado acidentes e outros problemas que podem ter sérias consequências tanto para os produtores, como para os usuários e, também, para a população em geral e para o meio ambiente. Assim, um dos objetivos primários de uma norma (Tabela I) é a prevenção de acidentes que poderiam resultar em morte de pessoas, perdas materiais e conta minaçãodo meio ambiente. O uso bem-sucedido de normas pode resultar em uma produção mais uniforme, reduzindo a variabilidade de produtos e procedimentos, melhor controle de qualidade, maior tastreabilidade, possibilidade de correção de falhas em produtos e um método de produção mais sistemático. Além disso, a nor malização proporciona um meio eficiente para facilitar a troca de informação entre o produtor de um dado bem ou serviço e seus clientes. Mais recentemente, com o grande aumento das relações econômicas entre as nações, levando tanto a um au mento da competição como a uma maior necessidade de cooperação e padronização « o o SOLOA8EM 138 FUMDMIENTDS E TECHOtOQlA entre empresas de diferentes países, a maior ênfase nas necessidades dos clientes e a-maior demanda para a conservação de recursos e proteção do meio ambiente tornaram o uso de normas técnicas e o desenvolvimento de sistemas de garantia da qualidade (e do meio ambiente) fundamentais para empresas que anteriormente não se preocupavam com estes aspectos. Finalmente, o registro padronizado das operações envolvidas em um dado processo e os seus resultados é uma forma efi ciente de uma empresa guardar e demonstrar o seu domínio de uma dada tecnologia, podendo representar, assim, uma vantagem competitiva. Îab8la I - Definição de alguns termos importantes1 Termo DeMçáo Norma Aplica-se coletivamente para Códigos, Especificações, Práticas Recomendadas. Classificações e Guias para processos, materiais e aplicações que tenham sido preparados e aprovados por uma organização normalizadora, uma entidade de classe ou profissional ou alguma outra organização similar. Código Consiste de um conjunto abrangente de regras e normas sistematicamente arranjadas para uma dada aplicação. Em muitas situações, um código tem caráter obrigatório estabelecido por lei ou contrato. Especificação Trata-se de uma norma que descreve de forma clara e precisa as exigências técnicas relativas a um material, produto, sistema ou serviço. Prática reco mendada É uma norma que descreve práticas industriais gerais para algum processo, técnica, método ou material, em particular, e que dçve ser considerada antes de se usar este processo, técnica, método ou material: Classificação Trata-se de uma norma cujo objetivo primário é estabelecer um arranjo ou divisão de materiais ou produtos em grupos baseados em características similares. Método Consiste em um conjunto de requerimentos relacionados com o modo pelo qual um tipo particular de ensaio, técnica de amostragem, análise ou medida é realizado. Guia Trata-se de uma norma que informa ao usuário sobre os melhores métodos para realizar uma determinada tarefa. Em geral, fornece um conjunto de diferentes métodos. Especificação de procedimen to de soldagem É um documento, em geral, baseado em exigências de alguma norma, que indica as variáveis de soldagem para uma aplicação especffica para garantir a repetibilidade dos resultados em soldas realizadas por soldadores ou operadores treinados de forma adequada. Uma das características mais importantes de uma norma é a sua autoridade, isto é, uma norma precisa ter um grau de autoridade suficiente para garantir que as suas exigências sejam seguidas por seus usuários. Esta autoridade é assegurada geralmente por organizações reguladoras internacionais, governamentais, industriais ou de consumidores, às quais é dado o poder de policiar as atividades daqueles que falham em seguir as suas regulamentações. Algumas vezes, a autoridade associada a um código ou um outro tipo de norma pode resultar em punições, tais como, a exclusão do mercado de um fabricante que não observou os seus requerimentos. Em alguns casos, grupos de proteção ao consumidor podem exercer eficientemente este tipo de autoridade. 1 Baseado em definições da American Wolding Society (AWS). Uma outra característica importante é a "interpretabilidade" da norma. Para ser de algum uso, tánto para o fabricante como para o comprador ou usuário, uma norma deve ser escrita em uma terminologia clara, concisa e não ambígua. Este aspecto é extremamente importante quando a obediência de uma dada norma se torna um assunto legal. Um código ou outro tipo de norma deve também ser prático. Isto significa que o seu usuário deve conseguir atender às suas exigências e ainda produzir, com lucro, um dado produto que seja útil ao usuário. Esta "praticidade" não é sempre fácil de ser conseguida. Ela requer discussões entre especialistas de todas as ativi dades envolvidas com üm dado produto ou serviço específico e, também, requer experiência. A decisão de quanto controle é necessário é muito delicada e deve ser cuidadosamente avaliada para se evitar o problema muito comum de a obediência ao código ou norma se tomar o maior obstáculo a uma produção eficiente e lucrativa. Por outro lado, na maioria dos casos, a correta adoção de códigos e de um sistema de garantia da qualidade em uma empresa é uma forma de se obter importantes ganhos de produtividade e de eficiência e de se reduzir custos. Para que o problema anterior seja evitado, muitas normas devem ser escritas por comitês constituídos por grupos representativos de entidades governamentais, de produtores e de consumidores. Da experiência acumulada deste grupo, espera-se que a norma resultante seja justa e adequada para todos os interessados. A existên cia de dispositivos que possibilitem a eventual alteração da norma, quando isto for necessário, é também importante. Isto pode ocorrer quando a experiência acumu lada ou o desenvolvimento de novas técnicas de fabricação, inspeção ou controle indicarem que a alteração, substituição ou abandono de alguns requerimentos, ou a adoção de novos, sejam necessários. CAFfTULO 9 I i o a NORMAS EOUAUnCAÇto EM SOUJAGEM 1 2. Normas em Soldagem No caso específico das operações de soldagem, a realização de soldas inade quadas durante a fabricação de certos tipos de estruturas ou equipamentos, tais como, navios, pontes, oleodutos, componentes automotivos e vasos de pressão, pode resultar em sérios acidentes com grandes perdas materiais e. eventualmente, humanas e danos ao meio ambiente. Como consequência, diferentes aspectos das operações de soldagem para diversas aplicações são regulados por diferentes códi gos, especificações e outras normas segundo a aplicação específica. Como exemplos de códigos e especificações importantes ligados à soldagem, podem-se citar: • ASME Boiler and Pressure Vessel Code (vasos de pressão) * • API STD 1104, Standard for Welding Pipelines and Related Facilities (tubulações e dutos na área de petróleo) • AWS D1.1. Structural Welding Code (estruturas soldadas de aço carbono e de baixa liga) «40 touusat rawMKBnssEncttouGU • DNVÍ Rules for Design, Construction and Inspecion of Offshore Structures (estruturas marítimas de aço) * Especificações diferentes de associações como a International Organization for Standardization (ISO). American Welding Society (AWS), British Standard Society (BS), Deustches Institute für Normung (DIN), Association Française de Normalisation (NF), Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) etc. Estes códigos e especificações podem cobrir as mais diferentes etapas de sol dagem, incluindo, por exemplo, a especificação de material (metal de base e consu- míveis). projeto e preparação da junta, qualificações de procedimento e de operador e procedimento de inspeção. Especificações da American Welding Society para consumíveis de soldagem, muito utilizadas em nosso país, são citadas em diversas partes deste livro. A Tabela II lista algumas normas relacionadas com a soldagem publicadas pela Associação Brasileira de Normas Técnicas. Tabela II - Algumas normas da ABNT ligadas à soldagem (Continua) Norma Código Data Chanfro de solda manual para construção naval- Tipo NBR7239 03/1982 Consumíveis em soldagem NBR10516 10/1988 Critérios para a qualificação e certificação de inspetores de soldagem NBR14842 07/2003 Eletrodos de aço carbono e fluxos para a soldagem a arco subçherso NBR10617 01/1989 Eletrodos de aço carbono e fluxos para a soldagem a arco submerso NBR10618 01/1989 Eletrodos de aço carbono e fluxo s para a soldagem a arco submerso - Ensaios NBR10619 01/1989 Eletrodos revestidos de aço carbono para a soldagem a arco elétrico N8R10614 01/1989 Eletrodos revestidos de aço carbono para a soldagem a arco elétrico NBR10615 01/1989 Eletrodos revestidos de aço carbono para a soldagem a arco elétrico - Ensaios NBR10616 01/1989 Ensaio visual em soldas, fundidos, forjados e laminados NBR10777 10/1989 Equipamento elétrico para soldagem a arco - Fontes de energia de corrente constante e fontes de energia de tensão constante NBR9378 06/1986 Inspeção de solda por ensaio de ultrassom em partes estruturais do casco de embarcações NBR10686 06/1989 Inspeção radiográfica em soldas na estrutura do casco de embarcãções NBR9360 05/1986 Junta soldãda em componentes metálicos de uso aeroespacial NBR12275 06/1991 Mangueiras para solda a gás NBR5900 1974 Manómetros para gases comprimidos utilizados em solda, corte e processos afins NBR13196 08/1994 Máquina elétrica para soldagem a arco NBR7859 04/1983 Qualificação de procedimentos de soldagem pelo processo eletrodo revestido para oleodutos e gasodutos NBR10663 04/1989 Qualificação de soldadores e operadores de soldagem em ntvel aeroespacial NBR10680 05/1989 CAPÍTULO 9 1 iM NOBVASEQUAUfCAÇÀOEMSOlDAGlM Tabela II - Algumas normas da ABNT ligadas à soldagem (Conclusão) Qualificação em soldagem NBR10474 09/1988 Radiografia - Inspeção de soldas de topo em vasos de pressão e tanques em armazenamento - Critérios de aceitação NBR10150 11/1987 Reguladores de pressão para cilindros de gases usados em solda, corte e processos afins - Requisitos e métodos de ensaio NBR14250 12/1998 Requisitos gerais para um programa de qualificação de soldadores e operadores de soldagem em nivel aeroespacial NBR9540 09/1986 Requisitos para a execução de ensaios radiográficos em juntas solda das de materiais metálicos NBR10558 12/1988 Sfmbolos gráficos de solda para construção naval e ferroviário NBR7165 02/1982 Solda branda NBR5883 10/1982 Solda branda em fio com núcleo de resina NBR6634 05/1987 Solda manual e semiautomática para estrutura de embarcações - Qualificação de soldadores NBR8878 05/1985 Solda para construção naval - Identificação de descontinuidades radiográficas NBR8420 11/1989 Soldagem - Números e nomes de processos NBR13043 09/1993 Soldas em partes estruturais do casco de embarcações • Ensaio por ultrassom NBR10685 06/1989 Terminologia de soldagem elétrica NBR5874 1972 Varetas e arames de ligas de alumínio para soldagem e brasagem, de aplicação aeronáutica NBR9111 11/1985 3. Registro e Qualificação de Procedimentos e de Pessoal Para diversas aplicações, as normas relevantes exigem que, antes da execução da soldagem de produção, especificações dos procedimentos que serão adotados para a sua execução sejam preparadas e qualificadas. Este processo visa demons trar que, através do procedimento proposto, soldas adequadas, de acordo com os requisitos colocados pela norma ou estabelecidos em contrato, podem ser obtidas. Além disso, ele permite uniformizar e manter registro das condições especificadas de soldagem para controle do processo e eventual determinação de causas de falha. A Especificação de Procedimento de Soldagem (EPS) é um documento no qual os valores permitidos de diversas variáveis do processo estão registrados para serem adotados, pelo soldador ou operador de soldagem, durante a fabricação de uma dada junta soldada. Variáveis importanteè de um procedimento de soldagem e que, portanto, podem fazer parte de uma EPS incluem, por exemplo, a composição, classe e espessura do(s) metal(is) de base, processo(s) de soldagem, tipos de consumíveis e suas características, projeto da junta, posição de soldagem, temperatura de pré- -aquecimento e entre passes, corrente, tensão e velocidade de soldagem, aporte térmico, número aproximado de passes e técnica operatória. Naturalmente, a forma I <9 SC IDAS IM < FUNOAMINTDS E TtCNOlBGlA exata de uma dada Especificação de Procedimento de Soldagem, as variáveis por ela fconsideradas, sua relevância e variação permitida dependem da norma técnica que está sendo aplicada. A Figura 1, páginas 146 e 147, mostra um exemplo de formulário para a preparação de uma EPS. Para que possa ser utilizada na produção, uma EPS deve ser previamente testada e qualificada. Para isto, amostras adequadas devem ser preparadas e soldadas de acordo com a EPS. Corpos de prova devem ser retirados destas amostras e tes tados ou examinados, os resultados destes devem ser avaliados e. com base nos requerimentos estabelecidos pela norma, projeto ou contrato, o procedimento deve ser aprovado ou rejeitado (neste caso, podendo ser convenientemente modificado e testado novamente). Algumas normas apresentam procedimentos de soldagem pré-qualificados cuja utilização dispensa a necessidade do sua qualificação. Os testes que serão realizados na qualificação de uma EPS, assim como o seu número, dimensões e posição no corpo de prova, dependem da aplicação e da norma considerada. Como testes, que podem ser requeridos, podem-se citar: • Ensaio de dobramento • Ensaio de tração • Ensaio de impacto (ou outro ensaio para determinação de tenacidade) • Ensaio de dureza • Macrografia • Ensaios não destrutivos (por exemplo, radiografia) • Testes de corrosão Os resultados dos testes devem ser colocados em um Registro de Qualificação de Procedimento de soldagem (RQPS), Figura 2.páginas 148 e 149, o qual deve ser referido pela EPS, servindo como um atestado de sua adequação aos critérios de aceitação estabelecidos; Enquanto os originais da EPS e RQP devem permanecer guardados, cópias da EPS já qualificadas devem ser encaminhadas para o setor de produção e colocadas próximas das juntas que serão fabricadas de acordo com a EPS. Durante a fabricação, os valores indicados na EPS deverão ser seguidos. Inspeções periódicas são realizadas para verificar qué isso está ocorrendo. Dependendo do serviço a ser executado, um grande número de juntas soldadas pode vir a exigir qualificação. Nestas condições, o processo de qualificação poderá ter um custo relativamente elevado e demandar um longo tempo para a sua execução. Assim, a utilização, quando possível, de procedimentos de soldagem previamente qualificados, juntamente com a facilidade de acessar estes procedimentos (em um banco de dados) e selecioná-los de acordo com os critérios dos códigos que estão sendo usados, é uma importante estratégia para manter a própria competitividade da empresa. Existem disponíveis atualmente programas de computador específicos para o armazenamento e seleção de procedimento de soldagem. CAPfnjl09 I 1^ *3 KOHMAS E QUAUHCAÇAO EM SOIHAGEM IH O Para diversas aplicações, o soldador {ou operador) precisa demonstrar, antes de poderrealizar um dado tipo de soldagem na produção, que possui a habilidade necessária para executar aquele serviço, isto é. ele precisa ser qualificado de acordo com os requisitos de um dado código. Para isto, ele deverá soldar corpos de prova específicos, sob condições preestabelecidas e baseadas em uma EPS qualificada ou em dados de produção. Estes corpos de prova serão examinados para se determinar sua integridade e, desta forma, a habilidade de quem o soldou. Como é impossível avaliar o soldador em todas as situações possíveis de serem encontradas na pro dução, o exame de qualificação geralmente engloba uma determinada condição de soldagem enão uma situação específica (tal como a qualificação para a soldagem em uma determinada posição com um dado processo). Segundo o código ASME. as variáveis que determinam a qualificação de um soldador são: • processo de soldagem • posição de soldagem • classe do consumível • espessura da junta • situação da raiz (presença de cobre-junta). Ensaios comumente usados na qualificação de soldador (ou operador) incluem, por exemplo, a inspeção visual da junta, ensaio de dobramento. macrografia, radio grafia e ensaios práticos de fratura. Os resultados dos testes de qualificação são colocados em um documento chamado Registro de Teste de Qualificação de Soldador ou operador de soldagem. Figura 3, página. 150. A qualificação de um soldador ou operador para uma determinada condição de soldagem não garante a este qualificação para qualquer situação. Dependendo do serviço a ser executado, este pode não ser coberto pela qualificação obtida por um dado soldador, exigindo uma nova qualificação deste que inclua esta nova situação. Além disso, a qualificação tem uma duração definida, a qual pode, em muitos casos, ser renovada desde que o soldador se mantenha trabalhando regularmente com o processo para o qual foi qualificado e não gere motivos para se duvidar de sua habilidade. índices de desempenho, baseados, por exemplo, na porcentagem de soldas radiografadas que necessitaram reparos, podem ser utilizados para averiguar a necessidade de uma nova qualificação. Como no caso de procedimentos de soldagem, a manutenção de uma equipe de soldadores devidamente qualificada para os tipos de serviços que a empresa realiza, é um importante fator para manter a competitividade desta. Portanto, o desenvolvimento de programas para o treinamento e aperfeiçoamento constante da equipe, de forma a atender as demandas dos diferentes códigos e clientes, não deve ser relegado a um segundo plano de prioridades. A implantação de um sistema de especificação e qualificação em soldagem não é uma tarefa simples e deve necessariamente envolver a administração da empresa. Esta implantação deve envolvera criação de uma estrutura administrativa para gerenciar o sistema com atribuições e poderes bem definidos, criar os meios para o registro e arquivamento das qualificações realizadas e estabelecer os vínculos necessários com as entidades competentes para o funcionamento do sistema. m SOUMGEtlFUNDAMENTOS E TECNOtOGIA As qualificações de procedimento de soldagem e de soldador (ou operador) fazem parte do sistema de garantia da qualidade em soldagem. Este controle engloba diversas outras atividades, apresentando uma maior ou menor complexidade em função de cada empresa, seus objetivos e clientes e do serviço particular. Em geral, três etapas podem ser consideradas: 1. Controle antes da soldagem, que abrange, por exemplo, a análise do projeto, cre denciamento de fornecedores ou controle da recepção de material (metal de base e consumíveis), qualificação de procedimento e de soldadores, calibração e manutenção de equipamentos de soldagem e auxiliares. 2. Controle durante a soldagem, que inclui o controle dos materiais usados (ex.: con trole da armazenagem e utilização de eletrodos básicos), da preparação, montagem e ponteamento das juntas e da execução da soldagem (por exemplo, a verificação se o consumfvel está correto, se as ferramentas estão adequadas e se a EPS está sendo seguida). 3. Controle após soldagem, que pode ser realizado através de inspeções não destrutivas e de ensaios destrutivos de componentes selecionados por amostragem ou de corpos de prova soldados juntamente com a peça. Os termos classificação, qualificação e certificação muitas vezes são usados de forma indiscriminada, mas em geral têm significado diferente e se aplicam a diferentes situações. A classificação de consumíveis de soldagem tem por objetivo enquadrar um produto numa determinada divisão;por grupos previstos em normas técnicas, com base, normalmente, em sua composição química e propriedades mecânicas. Às vezes, um mesmo produto pode ser enquadrado em mais de uma classificação. A qualificação de consumíveis ou de pessoal normalmente envolve a realização de testes para averiguar que um produto ou profissional possui determi nadas qualidades ou atributos. No caso de pessoal, pode ser necessário um treina mento antes do exame de qualificação. No caso de consumíveis, é comum o usuário fazer testes específicos para verificar a adequação de um produto específico a uma determinada condição de fabricação. A certificação é a emissão de um documento por entidade competente e reconhecida, atestando uma determinada qualificação. Deve-se observar que tanto a qualificação quanto a certificação de pessoal e de pro dutos envolvem despesas, muitas vezes elevadas e sua necessidade deve ser bem avaliada, a fim de não encarecer desnecessariamente a fabricação por soldagem. CAPÍTUUJ9 L < c NORMAS E OUAIBCAÇÀO EM SOICASM 4. Exercícios a) O que é uma EPS e para que é usada? b) O que é uma RQPS e como ela é obtida? c) O que é qualificar um soldador? E um procedimento de soldagem? d) O que é um soldador certificado? •“ “ l nMMMSnDSETfCNOUMàM ESPECIFICAQÃO DE PROCEDIMENTO DE SOLDAGEM - EPS Nome da Cia: Num EPS: lüata: RQP(s) Corresp: Processo(s) de Soldagem: Tído: (manual, semi-omomâtico otc.) Junta Tratamento Térmico Pós-Soldagem Tipo: Faixa de Temperaturas: Cobre-junta (sim/Não): Tempo de Permanência: Material (tipo): Outros: Outros: Metal Base Características Elétricas Tipo: Tipo de Corrente (CC/CA): Análise Química: Polaridade: Faixa de Corrente (A): Tensôo (V): Faixa de Espessura: Outros: Outros: Meta! de Adição e e Fluxo Técnica de Soldagem Classif. AWS: Dimensão do Bocal: Marca Comercial: Distância Bico de Contato-Peça (mm): Dimensões: Método de Limpeza Inicial: Tipo de Cordão (reto ou trançado): Outros: Oscilação - Amplitude: Freqüência: Gás da Proteção Método de Goivagem: Gas(es}: Número de Passes (por lado): Composição: Vazâo (l/min): Número de Eletrodos: Outros: Velocidade de Soldagem: Posição de Soldagem: Pré-Aqueclmento Outros: Temperatura: Temperatura Entre Passes: Outros: Figura 1 Formulário para Especificação de Procedimento de Soldagem. (Baseado parcialmente no código ASME, SeçSo IX. Este formulário é uma adaptação simplificada de uso apenas didático. Ver na próxima página o verso do formulário.) CAPflUlOS I « A-, NORMASEOUAUHCAÇtóEMSOIDAGEM | 1*»/ ESPECIFICAÇÃO DE PROCEDIMENTO DE SOLDAGEM (verso) D E T A L H E S D A JU N T A : Passe N° Processo Metal de adição Classe Diâmetro Corrente Pol. Faixa (A) Faixa de Tensão (V) Velocidade de Soldagem (mm/s) Figura 1 (Cont.) Face oposta de uma EPS 148 ftMOJUttNTOS C TWKOtOOU Registro de Teste de Qualificação de Procedimento de Soldagem - RQPS Nome da Cia: EPS Usada Num: IProcesso(s) de Soldagem: Tipo e Modelo de Equipamento Usado: Junta Chanfro: Simples ( ) Duplo { ) Material do cobre-junta:_____________ Fresta:______ (mm) Nariz:______ (mm) Ângulo do Chanfro: Raio: (mm) Extração de raiz: Sim ( ) Não ( ) Processo:_____________ Metal Base Especificação: Tipo ou Grau: _ Grupo:______ Espessura ou Diâmetro:_______ Revestimento: Material:_________ Espessura: Compos Química: Outros: iNletal do Adição e e Fluxo lAnálise Química:_____________ Metal de Adição:_____________ Especificação AWS:__________ [Classificação AWS:___________ F l u x o : ____________ _ (mm) Inserto: Especif: Guia: Sim ( ) lOutros: Classe: NSo ( ) Tipo: Posição da Soldagem _ Chanfro;_________ Filete: Pfé-Aquecimento Temperatura inicial:_____ Temperatura entre passes:. Método de aquecimento: _ Seqüência de Soldagem Tratamento Térmico Temperatura:___ Outros: G8SBS Tipo(s): _ Mistura:Vazão: Tempo: Proteção na raiz: Gás:. Características Elétricas "Stick-out":________ Vazão: "Stand-oíT: Modo de transferência de metal:______________ Tipo de eletrodo de Tungsténio:______________ Corrente: ( )CC+ ( IC C -( (CA ( (Pulsada Energia de Soldagem:________________ _____ Pulso: Tp:____ lp: ____ Tb:_____ lb:------- Outros. Técnica Oscilação: Freqüência:____Amplitude:_____ Tempo de espera lateral:_______ _ Número de passes:__ Número de eletrodos: Martelamento:_____ Limpeza:__________ Outros:____________ Figura 2 Exemplo simplificado de formulário de RQPS CAPÍTU109 I . iiQ NORMAS EÜUAUfCAÇtoa» SOlDM»4 1 ^9 Teste de Tração Tipo de CP: Dimensões: Chanfro: ( ) Reforço: ( Pinos: ( Limite de resistência mínimo: No. CP Largura Espessura Área Carga Lim Resist. Tipo Fratura OBS Teste de Dobramento ■ Dimensões do CP: Tipo Teste Resultado Tipo Teste Resultado Tipo Teste Resultado Tipo Teste Resultado 1 Teste de Impacto Tipo: Dimensões do CP: Temperatura Localização do entalhe: Metal de Solda - MS. Metal base - MB. Zona termicamente afetada -ZTA CP Num Localização Energia Absorvida % Fratura dúctil Expansão Lateral Nlacronrafia Cisalhamanto do Fileta So aplicável Ensaio de dureza: Tído: Valores: ( ) Aprov. ( ) Reprov. Inspeção Visual: Torque: Análise Química: Estanqueidade: Tipo: ( ) Aprov. ( ) Aprov. ( ) Aprov. ( ) Aprov. ( ) Reprov. ( ) Reprov. ( ) Reprov. ( ) Reprov. Ensaio não destrutivo: Tipo: ( ) Aprov. ( ) Reprov. Tipo: ( ) Aprov. ( ) Reprov. Tipo: ( ) Aprov. ( ) Reprov. EmDresa/Laboratório: Certificamos que os resultados de ensaios registrados neste documento estão corretos e que as soldas examinadas foram preparadas, soldadas e testadas conforme os requisitos da Norma Técnica . Dara este tioo de oualificacáo. / / Apmvaçio Responsive! Reviséo Figura 2 (Cont.) Formulário de RQPS (face oposta) 150 iClOMUMFUNDAMENTOS E TECNOUS1A Registro de Teste de Qualificação de Soldador ou Operador de Soldagem - RTQS Nome: Sinete: Posicào: (plana, horizontal, vertical asc. vert desc. sobrecabeça) Processo de Soldagem: Tído: De acordo com a EPS Num Manual, semi-automática. etc. Material: Diâmetro/EsDessura da Junta (tubo): Faixa de esDessuras Qualificada: a Mstal de Adição Esoecificacão: Ctassificacão. F Number: Descrição (se for o caso): Nome Comercial: Cobre-junta: ( )Sim ( Não Tipo: Testa de Dobramento Tipo Resultado Tipo Resultado Laboratório: Teste Num: Responsável: Teste Num: Responsável: Teste Num: Responsável: Teste de Solda de Filete Aparência: Tamanho‘do filete: Teste Num: Responsável: Macrografia Laboratório: Teste Num: Responsável: Radiografia Num Filme Resultado Observações Num Filme Resultado Observações Teste Num: Acomoanhado Dor: Fabricante ou Contratante: Aorovado oor: Em: / / Aorovado Dor: Em: / / Figura 3 Exemplo (simplificado) de um formulário para qualificação de soldador CAPÍTULO IO DETERMINAÇÃO DOS CUSTOS DE SOLDAGEM 1. Introdução Os preços de produtos e serviços, por um longo período da história, foram de terminados por uma fórmula simples: preço=custo + lucro. Assim, o custo total era repassado integralmente aos preços finais, sem que houvesse muita preocupação com sua evolução. Entretanto, o processo de globalização da economia obrigou os diversos setores a reverem suas posições quanto à formulação dos preços de ser viços e produtos. Particularmente no mercado brasileiro, as tarifas de importação já não representam uma barreira intransponível. Este cenário fez com que 0 preço de produtos e serviços não fosse mais tratado como uma questão regional. O preço é determinado pelo mercado mundial. Com isso. a equação teve de ser rearranjada como: lucro-preço-custo. Assim, conhecer a estrutura dos custos passa a ser primordial para 0 sucesso das emprésas. Menores custos implicam em maior competitividade e maiores lucros e, consequentemente, sobrevivência. Cada etapa da produção, como por exemplo a soldagem, deve ter seu custo avaliado e acompanhado. A análise dos custos da soldagem pode ser solicitada antes de se realizar a sol dagem, constituindo uma estimativa de custo (por exemplo, para participar de uma concorrência), ou pode ser feita para uma operação já existente para compor o custo de um produto, avaliar lucratividade ou comparar 0 custo orçado com custo real. Uma I C O ' SOIOAGEM 1 J L FUNDAMENTOS E TECNOLOGIA avaliação incorreta dos custos de soldagem pode levar a empresa a oferecer preços muito baixos e gerar perdas econômicas, ou preços muito altos que inviabilizarão a empresa na captação de obras. O objetivo deste capítulo é mostrar como calcular, de maneira simplificada, o custo total (CT) de um processo qualquer de soldagem. Este pode ser desmembrado em diversas parcelas, como mestrado abaixo: CT = CMO + CC + CE + CM + CD + CMC (R$) (Eq. 1) onde CMO é o custo da mão de obra, CC é o custo dos consumíveis, CE é o custo da energia elétrica. CM é o custo de manutenção, CD é o custo de depreciação e CMC é o custo de outros materiais de consumo. Ao calcular os custos da soldagem, todos os itens acima podem ser considerados, ou apenas alguns destes itens, dependendo da precisão necessária. A Figura 1 mostra que o custo da mão de obra é, via de regra, o fator de maior peso nos custos da sol dagem. se forem incluídos nesta parcela os custos fixos de uma empresa. Note ainda que. neste caso, o custo da mão de obra mais o custo dos consumíveis representam cerca de 93% do custo da operação, e, em muitos casos, apenas calculando estas duas parcelas consegue-se uma boa aproximação dos custos da soldagem. 100% Cç 8 0 % *ro 6 0 % o (3 % 4 0 % t: £ 20% 0% Figura 1 Distribuição dos principais custos de soldagem 2. Custo da Mão de obra CMO (/?$) = (Custo unitário) ( f í$/h) x tempo de soldagem (h) (Eq. 2) O custo unitário mostrado acima pode ser calculado incluindo salários, encargos sociais e os custos fixos da empresa ("overhead"). Para se obter este valor, pode-se solicitar junto ao departamento de pessoal o total da folha de pagamentos mensal total ou setorial, dependendo da conveniência, incluindo encargos sociais, e dividir esse valor pelo número total de horas trabalhadas no mês em operações de soldagem. ■ Brasil 0E .U .A B f c a H Máo-de-Obra e Equipamentos Consumíveis Energia Elétrica "Overtiead" Soldagem Parcelas do custo total 0 tem po de soldagem na equação anterior deve ter como base as mesmas considerações tomadas para se obter o custo unitário e, portanto, nos dois casos pode ou não se incluir os tempos de parada do soldador para troca de eletrodos, retirada de escória etc. Num cálculo mais focalizado, o custo da mão de obra pode levar em conta apenas o trabalho do pessoal envolvido diretamente com a soldagem, incluindo montado res e soldadores. Neste caso, os custos fixos da empresa, como aluguel, telefone, pessoal administrativo, comissões de venda etc., devem ser considerados em uma parcela específica. CAPÍTUL010 i ç o K IBW N A ÇÃ O DOS CUSTOS 06 SOLDAGEM I 1 3. Custo dos Consumíveis O custo dos consumíveis (CC) é dado pela soma dos custos do metal de adição (CMA), do fluxo (CF) e do gás de proteção (CG), se usados. A estimativa do custo do metal de adição deve-se iniciar pela avaliação do custo do metal depositado (CMD), calculado pelo produto da massa de metal depositado pelo custo do eletrodo (ou vareta), conforme a equação 3. CMD (R$) = massa do meta! depositado (kg) x custo do eletrodo (R$/kg) (Eq. 3) A massa do metal depositado (MMD) é calculada pelo produto da área da seção transversal da junta, do comprimento da solda e da densidade do material, como mostra a equação 4. A área da seção transversal depende do tipode chanfro utilizado. A Tabela I mostracomo calcular a área de alguns chanfros, ea Tabela II mostra a densidade de alguns materiais. MMD (kg) = A (cm2) x L (cm) x p (kg/cm3) (Eq. 4) onde A é área da seção transversal da junta, L ê o comprimento da solda e p é a densidade do material. Tabela I - Área da seção transversal Tipo de Chanfro Área da Seção Transversal V Simples (e-h)? x tan (9/2) + d x e V Duplo 0,5x[(e- h)J,xtan(0/2)) -fdxe K 0.5 x |(e - h)! x tan 0] + d x e Y 0.25 x (|e - h)J x tan 0] + d x e e = espessura da chapa, h = nariz, 0 = ângulo da junta, d = fresta « ca touMuai 1 3 4 fuaMHanosETiCNOioou Tabela I! - Densidades aproximadas de algumas ligas Liga Densidade (kg/cm1) Aço carbono 0,0078 Aço inoxidável 0.0080 Ligas de cobre 0,0086 Ligas de nfquel 0.0086 Ligas de alumínio 0.0028 Ligas de titânio 0.0047 O custo do metal de adição deve levar em conta também que parte deste é per dida na forma de respingos, pontas descartadas etc., estimada pela eficiência de deposição (ED) e, portanto, é calculado dividindo-se o preço do metal depositado pela eficiência de deposição do processo, como mostra a equação 5. A eficiência de deposição depende do processo e dos parâmetros de soldagem. Algumas faixas de valores são mostradas na Tabela III. Em alguns casos não se utiliza material de adição, como por exemplo, na soldagem de chapas finas, sem abertura de raiz. CMA (R$) = -100^1D _ (Eq 5) Tabela III - Valores típicos de eficiência de deposição para diferentes processos Processo 9(% ) SMAW Comprimento: 350mm 55-65 450mm 60-70 SAW 95-99 GMAW 85-97 FCAW 80-90 Em outros casos se usam, além do metal de adição, fluxos de soldagem e/ou ga ses de proteção, que devem ser considerados e incluídos no custo dos consumíveis. Deve-se, então, acrescer ao custo destes o custo do fluxo (se for o caso, como, por exemplo, na soldagem a arco submerso) e o custo do gás de proteção, para o caso da soldagem MIG/MAG ou TIG, por exemplo. O custo do fluxo (CF) pode ser estimado pela razão (massa de fluxo consumido)/ (massa de metal depositado). RMF, que pode ser obtida junto aos fornecedores, para cada tipo de fluxo. Normalmente, esta relação varia de 0.9 a 1.2. Assim, CF (R$)= MMD (kg) x RMF x custo do fluxo (R$/kg) (Eq. 6) CAPfTUL010 i c e DíTSttWíAÇÂO DOS CUSTOS DE SOIDAHM 1 3 3 O custo dos gases (CG) de proteção é obtido geralmente pelo produto da vazão utilizada pelo tempo de arco aberto e preço do metro cúbico do gás. CG (R$)= [vazão de gás O/min) x tempo de arco aberto (s) x custo do gás (R$/m3] / 60.000 (Eq.7) A constante 60.000 no denominador permite obter o valor em reais do custo do gás utilizando as unidades usuais de medida das grandezas constantes na equação. Este valor foi obtido a partir de um fator de 60. relativo à diferença de unidades de tempo na medida da vazão de gás (min.) e do tempo de arco aberto (s) e outro de 1.000 devido à diferença às unidades de volume usadas na medida da vazão de gás (l/min.) e do preço do gás (R$/m3). Finalmente, pode-se determinar o custo do consumível CC como mostrado abaixo: CC (/?$) = CMA {/?$) + CF (/?$) + CG (/?$) (Eq. 8) 4. Custo de Energia Elétrica cc ( n I ) _ 10 PE(R$/kW h)XPES(kW )xt(h) (Eg g) onde PE é o preço da energia elétrica, PES é a potência elétrica de saída, Té o tempo de arco aberto e E ê a eficiência elétrica do equipamento. A constante 10 no numerador permite obter o valor em reais do custo da energia elétrica utilizando as unidades usuais de medida das grandezas constantes na equação. Este valor foi obtido a partir de um fator de 100 relativo à eficiência de deposição e outro de 1.000 devido à diferença de unidades para a potência de saída (kW) a as utilizadas na sua determinação, tensão (V) e corrente (A) de soldagem, cujo produto é expresso em Watts (W). A eficiência elétrica média dos equipamentos de soldagem é fornecida pelos fabricantes. Como exemplo, a eficiência de um transformador é de cerca de 80%, enquanto um gerador apresenta eficiência de cerca de 65%. A potência de saída é obtida pelo produto da tensão (V) pela corrente (A) de soldagem. 5. Custo de Depreciagão Os equipamentos de uma empresa sofrefn desgaste ao longo de sua vida útil e. consequentemente, é necessário determinar o valor de reposição destes, isto é. sua depreciação. CD (R$) - Va*or d° investimento inicial (R$) - Valor residual (R$) Vida útil do equipamento (Eq. 10) I C C SQUtAOM I J U I RMMMOTBSETECKOIMM 0 valor residual corresponde ao valor de venda do equipamento ao término de sua vida útil, que pode ser determinada pelo desgaste, inadequação ou obsolescência. No Brasil, taxas máximas de depreciação são estabelecidas pela Secretaria da Receita Federal (SRF). A Tabela IV mostra as taxas máximas anuais de depreciação de alguns itens e seu tempo de vida útil. Tabela IV - Taxas máximas de depreciação estabelecidas pela SRF Tipos de ativos Taxa anual (%} Vida útil (anos) Prédios/Construções 4 25 Móveis e utensílios 10 10 Máquinas e equipamentos 10 10 Veículos e ferramentas 20 5 6. Custo de Manutenção O custo médio de manutenção (CMM) deve ser avaliado com base nos custos de manutenção do equipamento, num certo período de tempo, dividido pelo número de horas de operação deste equipamento no mesmo período. Assim, o custo da manutenção para uma determinada operação será dado por: CM (R$) = CMM (R$/h) x tempo de operação (h) (Eq. 11) Este custo pode ser avaliado para cada equipamento em particular ou para todo um conjunto. 7. Custo de Outros Materiais de Consumo Outros materiais de consumo incluem: bicos de contato, líquido antirrespingos, eletrodos não consumíveis, materiais de segurança etc. O custo destes deve ser levado em consideração no custo total de soldagem. O custo destes outros materiais de consumo pode ser estimado em valores médios de forma semelhante à usada na avaliação do custo de manutenção. 8. Considerações Finais___________________________________ Note-se que a determinação de custos de soldagem não é uma tarefa simples ou trivial. Ela pode ser feita com base em diferentes abordagens e muitos fatores devem ser levados em consideração. Por exemplo, na fabricação de um equipamento podem ser usados diferentes processos, soldadores e montadores com diferentes graus de especialização e salário etc. A apropriação dos custos pode ser feita de forma específica para cada etapa ou processo específico ou de uma maneira mais geral, com base em valores médios. CAFtniLO TO 1 C -J BETtBMWAÇÃO DOS CUSTOS DESQIMGEM 13 ' Observe-se também que os custos da soldagem podem ser expressos em R$/ peça soldada. R$/kg de solda depositada. R$/m de junta soldada ou ainda em R$/h de operação. Cabe ao usuário determinar e utilizar as unidades mais adequadas em cada caso. 9. E x e m p l o _______________________________ Suponha-se que a junta de ângulo da Figura 2, com um filete de 6,4 mm, será soldada por dois processos diferentes; eletrodo revestido e arco submerso. Em seguida será calculado o custo aproximado da solda feita pelos dois processos, considerando apenas os custos de mão de obra, custo do metal depositado e custo de energia elétrica. Alguns dados a serem considerados nos cálculos são fornecidos nas Tabelas V e VI. Será tomado como comprimento total da solda 100 cm e a razão de consumo de flúxo igual a 1. figura 2 Junta considerada no cálculo de custo da soldagem deste exemplo Tabela V - Características dos processos arco submerso e eletrodo revestido Característica Processo-^ Eletrodo revestido Arco submerso Tamanho da solda |mm) 6.4 6.4 Área da solda lcmJ) 0.32 0,32 Velocidade de soldagem (cm/min) 25 60 Corrente (A) 300 AC 500 DC Tensão (V) 25 30 Eletrodo (classe/diâmetro) (mm) E7024 / 5.0 EL12/3.2 Número de passes 1 1 Eficiência de deposição0.60 0,95 Eficiência do equipamento 0.75 0,80 «co souMsaa > 9 ° FUNEAMÍHTOS E TEENOUJGIA Tabela VI - Valores aproximados de custos Item Valor Mão de obra R$25,00/h Eletrodo R$5.00/kg Arame R$4,00/kg Fluxo R$3,00/kg Energia elétrica R$0,19 kwh 9.1 - Custo da mão de obra O tempo de arco aberto a ser usado será obtido a partir da velocidade de solda gem dada naTabela III. Já o tempo de soldagem deve levar em consideração o fator de ocupação do soldador ou operador, e serão considerados os valores de 0,4 e 0,9, respectivamente, para a soldagem com eletrodos revestidos e arco submerso. Eletrodo: tempo de arco aberto = (100 cm)/[25cm/min) = 4 min = 4/60h = 0,067h tempo de soldagem = 0,067/0,4 = 0,17h Arco submerso: tempo de arco aberto = (100 cmW60cm/min) = 1,67 min = 0,028h tempo de soldagem = 0,028/0,9 = 0,031 h CM0 (R$) = (custo unitário) (RS/h) x tempo total de soldagem (h) (eq. 2) Eletrodo: CMO = 25 x 0,17 = R$4,25 Arco submerso: CMO = 25 x 0,031 = R$0,78 9.2 - Custo dos consumíveis 9.2.1 - Massa de matei depositado (MMD) MMD ~ A (cm2) x L (cm) x p ( kg/cm3) = (0,64 x 0,641/2 x 100 x 0,00785 = 0,16 kg (eq. 4) 9.2.2 - Custo do meta! de adição Pode ser calculado com a ajuda das equações 3, 5 e 9: CMD (R$) = Massa do metal depositado (kg) x custo dos consumíveis (R$/kgJ (eq. 3) CMA (R$) = CMD/ED (eq. 5) CAFtTUU010 « c n DETERMINAÇÃO DOS CUSTOS DE SOLDAGEM 1 3 3 CC (R$) = CMA (R$) + CF (R$) + CG (R$) (eq. 9) Eletrodo: 0,16 kg x 5 R$/kg /0,60 = R$1,33 Arco submerso: 0,16 kg x (R$4,00 + R$3,00)/0,95 = R$1,18 Note-se que foi atribuído rendimento de 0,60 para o eletrodo revestido e 0,95 para o arco submerso e a razão de consumo de fluxo de 1/1. y 9.3 - Custo da energia elétrica CE (R$) = [PE (R$/kwh) x PES (kw) x T (h) / (E x 1000) (eq. 6) Eletrodo = (0,19 x 300 x 25 x 0,067) / (0,75 x 1000) = R$0,13 Arco submerso = (0.19 x 500 x 30 x 0,028) / (0,80 /1000) = R$0,10 9.4 - Custo total É o somatório das 3 parcelas de custo consideradas: mão de obra, metal de adição e energia elétrica. Eletrodo = 4,25 + 0,48 + 0,13 = R$4,86 Arco submerso = 0,78 + 1,18 + 0,10 = R$2,06 O exemplo acima mostra que processos semiautomáticos ou mecanizados de soldagenri (no caso o arco submerso) tendem a produzir soldas de menor custo que processos manuais. Isto é devido principalmente à maior produtividade dos proces sos mecanizados, que em geral permitem maiores velocidades de soldagem e taxas de deposição, reduzindo consideravelmente o tempo de operação. Por outro lado, a soldagem a arco submerso requer pesado investimento em capital, o que não foi considerado na presente análise. 10. Exercício 1) Calcule o custo da soldagem da junta abaixo pelos processos arame tubular e eletrodo revestido. Use os dados do exemplo anterior e suponha outros, se forem necessários. C ' PARTE 2 PROCESSOS DE SOLDAGEM E AFINS CAPÍTULO 11 SOLDAGEM E CORTE A GÁS A-SOLDAGEM A GÁS 1. Fundamentos A soldagem a gás oxi-combustível (Oxy-Fuel Gas Welding - OFW) ou simples mente soldagem a gás é um processo no qual a coalescência ou união dos metais é obtida pelo aquecimento destes até a fusão com uma chama de um gás combustível e oxigênio. O metal de adição, se usado, também é fundido durante a operação. A Figura 1 mostra esquematicamente o processo. 162 SOLDAGEMfUNDAMENTOS E TECNOLOGIA Oxigênio + gás combustível ( V <J : I . ijDro Poça de fusâo Figura 1 Diagrama esquemático de uma soldagem oxi-gás Uma importante característica deste processo é o excelente controle que se pode exercer sobre a entrada de calor e a temperatura das peças que estão sendo soldadas, devido ao controle independente da fonte de calor e da alimentação do metal de adição. O equipamento usado é bastante simples, tem baixo custo e também pode ser usado, com pequenas variações, em outras operações como dobramento e desem- peno de peças metálicas, pré e pós-aquecimento em soldagem, em operações de brasagem, solda-brasagem e corte a gás. Os gases usados como combustível devem ter alta temperatura de chama, alta taxa de propagação de chama, alto potencial energético e mínima reação química com os metais de base e adição. O gás mais usado é o acetileno. Durante a operação, o calor da chama proveniente da queima da mistura com- bustível-oxigênio na ponta do maçarico é usada para íundir o metal de base e formar a poça de fusão. O metal de adição, quando usado, é adicionado separadamente nesta, a partir de uma vareta. A operação de soldagem normalmente é manual e o soldador movimenta a tocha de forma a obter uma fusão uniforme e progressiva e alimenta o metal de adição, se for o caso. Este processo é adequado à soldagem de chapas finas, tubos de pequeno diâ metro e também é muito usado na soldagem de reparo. Entre os metais soldáveis pelo processo oxi-gás incluem-se os aços, particularmente os de baixo carbono e a maioria dos metais não ferrosos. 2. Equipamentos O equipamento para a soldagem oxi-gás, mostrado na Figura 2, consiste ba sicamente de cilindros de oxigênio e gás combustível, reguladores de pressão, mangueiras e maçarico ou tocha de soldagem. CAPÍTULO 11 | 1 c o SOIOAGEM E CORTE A GÁS 1 0 0 Figura 2 Equipamento básico para soldagem oxi-gás Os gases utilizados na soldagem oxi-gás podem ser distribuídos pelas várias seções de uma instalação industrial através de cilindros portáteis, normalmente colocados sobre carrinhos, através de uma tubulação proveniente de uma instalação centralizada, fixa ou portátil, ou ainda de geradores de acetileno e de tanques de armazenagem de oxigênio líquido. Quando o consumo de gás é pequeno, utiliza-se normalmente um cilindro de oxigênio e outro de gás combustível, e onde se exige um grande consumo de gás, utiliza-se instalação centralizada de cilindros ou tanques de armazenagem e geradores. Os cilindros para oxigênio e outros gases armazenados a alta pressão são feitos de tubos de aço sem costura, suportam pressões internas de até 150 a 200 kgf/mm2 e têm capacidade de armazenamento entre 1 e 10m3, em geral. Antes de serem usados, estes cilindros passam por testes hidrostáticos a pressões maiores do que as de utilização. Os cilindros de gases devem ser sempre identificados e periodica mente testados pelos fornecedores de gás. O oxigênio é elemento comburente e, quando sob pressão, pode reagir violen tamente com óleo ou graxa. Assim, os cilindros, manómetros e outras peças que entram em contato direto com o oxigênio (e também outros gases) nunca devem ser lubrificados, devem ser mantidos limpos e armazenados longe de combustíveis. O contato com cabos e condutores elétricos também deve ser evitado. O acetileno geralmente é acondicionado em cilindros preenchidos com uma massa porosa, à base de carvão, cimento especial e asbesto, embebida em acetona. A massa porosa forma pequenas cavidades dentro do cilindro, onde pequenos vo lumes de acetona se alojam, evitando o choque excessivo entre as moléculas e as consequentes detonação e explosão. O acetileno pode ser dissolvido na proporção de até 25 litros deste para cada litro de acetona, para cada atmosfera de pressão, até uma pressão máxima de cerca de 17 atm (= 17 kgf/cm2). Desta forma, o acetileno pode ser armazenado em volumes razoáveis e utilizado com segurança a pressões acima da ambiente. Os cilindros de acetileno possuem em suas extremidades pequenos selos de uma liga Sn-Cd, que se funde a uma temperatura aproximada de 80°C. Assim, se os cilindros forem submetidos a um calor excessivo, ocorrerá a fusão do selo e a liberação do acetileno, prevenindo explosões. A retirada máxima de acetileno neste sistema é de 1/7 da capacidade do cilindro por hora. Isto porque, se a retirada for maior, ocorrerá um resfriamento do cilindro,1 C /1 SOLDAGEM 1 D H | FUNDAMENTOS E TECNOLOGIA a queda de pressão e a falsa impressão de que o cilindro está vazio. Além disso, o acetileno poderá arrastar consigo partículas de acetona, que afetarão a chama e a qualidade do trabalho. A acetona também pode ser retirada caso o cilindro de acetileno esteja deitado durante a operação, o que precisa ser evitado. O acetileno em contato com o cobre, mercúrio ou prata pode, sob certas condi ções, formar compostos explosivos, que podem ser detonados por simples choques ou aplicação de calor. Por essa razão, as canalizações usadas para o acetileno são feitas, geralmente, de ferro ou aço. Apesar disso, os bicos dos maçaricos em geral são feitos de cobre mas não oferecem perigo, já que a pressão e tempo de contato com o acetileno, neste caso, não são suficientes para a reação. Todo cilindro deve sempre ser armazenado em locais frescos, ventilados, limpos e secos. Durante o uso. os cilindros não devem ficar deitados. Choques mecânicos violentos com os cilindros devem ser sempre evitados. Os maçaricos são dispositivos que recebem o oxigênio e o gás combustível puros e fazem a sua mistura na proporção, volume e velocidade adequados à chama desejada. O volume liberado dos gases determinará o tamanho desta e sua capacidade de aque cimento; a velocidade determinará se a chama será violenta, intermediária ou suave, e a proporção dos gases determinará seu caráter oxidante, neutro ou carburante. Basicamente, existem dois tipos de maçarico: os de média pressão, do tipo misturador, e os de baixa pressão, do tipo injetor. O maçarico misturador, mostrado na Figura 3, é utilizado juntam ente com cilindros ou geradores de acetileno de média pressão, sendo usadas as mesmas pressões de trabalho para o oxigênio e o acetileno. « « Figura 3 Maçarico misturador: (1) Registro de oxigênio, (2) Registro de acetileno, (3) Câmara de mistura, (4) Divergente, (5) Extensão, (6) Bico O maçarico do tipo inietor, mostrado na Figura 4, pode ser utilizado com o acetileno a baixa pressão, uma vez que utiliza um sistema em que a pressão do oxigênio é usada para aspirar o acetileno. Neste maçarico o oxigênio passa a grande velocidade através de um pequeno orifício, criando um vácuo parcial que arrasta o acetileno. Os gases CAPÍTULO 11 1 R r SOlUAGEM £ CORTE A GÁS I D O passam, então, por um tubo divergente, onde se misturam, perdem velocidade e ocorre um aumento de pressão. Saindo do divergente, a mistura se completa e segue até a ponta do bico. No maçarico do tipo injetor não ocorre variação na proporção da mistura provocada por flutuações na pressão de oxigênio, já que a quantidade de acetileno arrastada é proporcional a esta pressão. , .. / i '],' rl i . 3 ' * Figura 4 Maçarico injetor: (1) Registro de oxigénio. (2) Registro de acetileno, (3) Injetor, (4) Divergente, (5) Extensão. (6) Bico Num maçarico, se a velocidade de saída for maior que a de combustão, a queima se dará a uma certa distância da ponta, podendo ocorrer a extinção da chama. Caso con trário, velocidade de queima maior que a de saída, a combustão ocorrerá no interior do bico, provocando um aumento na temperatura e sua dilatação, com uma consequente queda na velocidade de saída. Como a velocidade de combustão permanece constante, a queima se dará, cada vez mais, no interior do bico. Este fenômeno, conhecido como "engolimento de chama", resulta de uso de pressões excessivamente baixas, existência de dobras nas mangueiras, superaquecimento do bico, toque do maçarico na peça ou obstrução do bico por partículas de me'tal e pode causar queimaduras e danos ao equipamento. O problema pode ser minimizado pelo uso de pressões corretas e de maçaricos em boas condições de conservação e manutenção. Em casos extremos, a chama poderá atingir a fonte de acetileno, provocando sua explosão. Para eliminar o perigo de explosão, causada pelo engolimento de chama, utilizam-se válvulas contra retrocesso de chama, que permitem fluxo apenas num sentido. Os bicos dos maçaricos, também chamados de extensões, são intercambiáveis e de diversos tamanhos, devendo ser escolhidos em função da espessura das peças a serem soldadas. A Tabela I apresenta exemplos de tamanho de extensões e pressões de gases a serem utilizados em maçaricos dos tipos injetor e misturador, de acordo com a espessura das peças. Extensões de diferentes tamanhos podem ser vistas nas Figuras 3 e 4, para os dois tipos de maçarico. I C C SOLDAGEM 1 0 ü I FUNDAMENTOS E TECNOLOGIA Tabela I - Exemplos de tamanho de bico, pressão de gases e velocidade de soldagem para diversas espessuras de peças de aço para diferentes tipos de maçarico Tipo Espessura IMúmero Pressão dinâmica Vazão de gases Velocidade de a soldar do (kgf/m m 2) (l/h) de soldagem maçarico (mm) bico Oxigênio Acetileno Oxigênio Acetileno (cm/min) 0.3 -0 .5 2 0,4 0.4 7 5 -9 5 7 0 -9 0 14.5-15,0 0 .5 -0 .8 4 0.4 0.4 115-140 100-130 13,0-15,0 0.8 -1 .5 6 0.4 0.4 150-180 140-165 11,0-13,0 1.5-2.5 9 0.4 0.4 220 - 270 210-250 8,0 -12 ,0 Misturador 2.5 - 3.0 12 0.5 0.5 310-350 280 - 320 6,0-10 ,0 3 .0 -5 ,0 15 0,5 0.5 400 - 450 365-410 3 ,5 -6 .0 5.0 -6 .5 20 0,5 0,5 510-600 470 - 560 2 .5 -4 .5 6.5 - 9,5 30 0,5 0.5 ' 690 - 890 625 - 805 1.5 -3 .0 0 .8 -1 .5 4 0.8 - 1.3 0.1 100-180 90 -130 14.0-16.0 1.5-2.5 6 1 .6 -2 .0 0.1 170-220 130-220 11.0-15,0 Injetor 2 .5 -3 .0 9 1 .6 -2 .0 0.1 280 - 340 200-300 8.0-11 .0 3 .5 -6 .5 15 1 .5 - 1.9 0.1 580 - 640 400 - 600 CO 0 1 "J o 8 ,0 -13 .0 30 1.2 -1 .6 0.1 800-1.100 700 - 1.000 1.5 -3 .0 OBS: Esta tabela é apenas ilustrativa. Para valores práticos, deve-se consultar o manual do equipamento em uso. A Figura 5 mostra um maçarico de aquecimento usado para pré e pós-aquecimento em operações de soldagerh. ) Figura 5 Maçarico para aquecimento \ ' J ) CAPITULO I I j 1 C 7 SOLDAGEM E CORTE A GÁS I I D / CAPÍTULO 11 O regulador de pressão é um dispositivo que permite diminuir a pressão interna de armazenagem dos gases nos cilindros para a pressão de trabalho, mantendo-a aproximadamente constante. Existem dois tipos básicos de reguladores de pressão: de um e de duplo estágio, sendo que os do segundo mantêm a pressão de trabalho mais constante, quando varia a pressão interna do cilindro. A Figura 6 mostra um regulador de pressão típico. O gás proveniente do cilindro entra numa câmara de alta pressão, indicada pelo manómetro da direita. Atuando-se no volante regulador, aciona-se uma alavanca que está ligada a um obturador, diminuindo a pressão sobre uma pastilha que veda um furo existente na câmara de alta pressão. Assim, o gás pode fluir por este orifício, atingindo uma câmara de distribuição, à qual estão ligados o medidor da pressão ou vazão de saída do gás e a tubulação de saída. Figura 6 Regulador de pressão de gás típico A abertura da válvula dos cilindros deve ser feita sempre com o obturador fe chado, evitando-se, assim, que o gás, saindo do cilindro a alta pressão, danifique o redutor. As saídas dos cilindros de gases são ligadas aos maçaricos através de manguei ras, capazes de suportar pressões elevadas e o ambiente quase sempre agressivo do local de trabalho. Essas mangueiras são geralmente de cores diferentes, para se evitar confusão quanto ao gás que devem transportar. Por convenção, adota-se a cor vermelha para o acetileno, e a verde ou azul para o oxigênio. 3. Consumíveis Os consumíveis normalmente usados na soldagem a gás são os gases (com bustível e oxigênio), os metais de adição e os fluxos de soldagem, se usados. A Tabela II apresenta as características de combustão de alguns gases usados indus trialmente. 168 SOUM SBIFUMMMerros e t k k c id g ia Tabela II - Características de combustão de alguns gases usados em soldagem Gás Acetileno Gás de rua Propano MetanoComposição CjHj Hs 53% CH4 25% CO 8% Diversos 14% c3hb ch4 Poder calorífico superior (kcal/m3) 14.000 4.300 24.300 9.410 Poder calorífico inferior (kcal/m3) 11.000 3.800 22.300 8.470 Oxigênio teoricamente necessário (m3/m3) 2.5 0,8 a 0,9 5.0 2,0 Velocidade máxima de propagação (m/s) 13,5 7,05 3.7 3,3 Temperatura máxima de chama (°C) 3.100 2.750 2.800 2.730 Intensidade média na ponta do maçarico (kcal/ cm!.s) 10.9 3,0 2,7 2,0 O acetileno <C2H2) é o gás combustível mais usado na soldagem, devido ao conjunto de suas propriedades (Tabela II). É incolor e possui um cheiro característico. Normalmente, este gás não existe livre na natureza, sendo produzido em geradores a partir da reação do carbureto de cálcio (CaC2) com a água (H20). Para uso industrial, o acetileno pode ser fornecido em cilindros ou set produzido em geradores. O oxigênio é o comburente e é incolor e insípido, sendo encontrado em abun dância na atmosfera. Ele pode ser obtido industrialmente por três processos: reação química, eletrólise da água ou liquefação do ar. O processo de obtenção mais usado é este último, no qual, após a retirada do gás carbônico, o ar é resfriado, expandido e liquefeito, passando posteriormente por colunas de retificação, onde os diversos gases do ar são separados de acordo com o seu ponto de evaporação. O oxigênio assim obtido é de alta pureza, maior ou igual a 99%. Outros gases combustíveis, por possuírem características para soldagem inferio res às do acetileno, têm seu uso restrito à união de ligas com baixo ponto de fusão, aquecimento, brasagem e, às vezes, operações de corte. Os fluxos são materiais fusíveis, na forma de pó, granulado ou pasta, usados na soldagem a gás com a função de reagirem quimicamente com óxidos metálicos e formar escórias nas temperaturas de soldagem, além de melhorar a molhabilidade e a fluidez da poça de fusão. Uma condição importante para a obtenção de soldas de boa qualidade é^remoção de óxidos superficiais das peças metálicas, que é feita durante a preparação destas para a soldagem. Entretanto, os metais têm uma afinidade tão grande pelo oxigênio que a formação de óxidos é praticamente instantânea, como visto no Capítulo 1. Além disso, em alguns casos, os óxidos formados têm ponto de fusão maior que o do metal de base, o que dificulta muito a soldagem, já que formam uma barreira térmica entre o metal de base e a fonte de calor. A remoção dos óxidos pode ser feita eficientemente com o uso dos fluxos. Os fluxos são usados na soldagem do ferro fundido, do aço inoxidável e em grande partè dos metais não ferrosos, como o alumínio, o cobre e suas ligas. Na soldagem dos aços, de um modo geral, não há necessidade de uso de fluxo. CAFÍTUID1! « e n SQIDAGEM í C0R7Í A GÁS 1 09 O metal de adição usado na soldagem a gás é fornecido na forma de varetas, com comprimentos e diâmetros variados e padronizados, que são escolhidos em função da quantidade de metal a depositar e da espessura das peças a serem unidas. Estes consumíveis são classificados e especificados em diferentes normas técnicas, propostas por diferentes entidades, nos diversos países. As normas mais usadas no Brasil são as da American Welding Society - AWS (Associação Americana de Soldagem), mostradas na Tabela III. Tabela III - Especificações AWS para varetas de metal de adição para soldagem a gás Norma Tipo de metal de adição AWS A 5.2 Metal de adição para soldagem a gás de aços carbono e baixa liga AWS A 5.7 Metal de adição para soldagem a gás do cobre e suas ligas AWS A 5.8 Metal de adição para brasagem AWS A 5.9 Metal de adição para soldagem de aços inoxidáveis AWS A 5.10 Metal de adição para soldagem de alumfnio e suas ligas AWS A 5.14 Metal de adição para soldagem de nfquel e suas ligas AWS A 5.15 Metal de adição para soldagem de ferro fundido AWS A 5.16 Metal de adição para soldagem de titânio e suas ligas AWS A 5.21 Metal de adição para revestimentos Em geral, as especificações para metais de adição para soldagem admitem três classificações possíveis, R, E e ER. Os materiais tipo R devem ser usados como varetas para soldagem (do inglês, fíod), os do tipo E devem ser usados como eletrodos para soldagem a arco (Electrodes) e os do tipo ER podem ser usados como um ou outro. Por exemplo, a norma AWS A 5.2 especifica e classifica os metais de adição para soldagem de aço carbono e baixa liga nas classes: R45, R60, R65, R100 e XXX-G. O material classificado com R45 não tem limite de resistência especificado, os três seguintes têm limite de resistência mínimo de 60,65 e 100 ksi1 (410,450 e 690 MRa), respectivamente, e o último será designado pelo limite de resistência mínimo obtido em teste de tração, expresso em ksi (representado por XXX), limitado aos designadores 45, 60,65,70 ,80,90 ou 100. Para a soldagem do ferro fundido, a norma AWS A 5.15 especifica os arames de adição, que são designados pelas letras RCI. Os aços inoxidá veis são soldados com metais de adição classificados pela norma AWS A 5.9. Estes são designados pelas letras ER. seguidas pelos números que normalmente correspondem à designação AISI do aço a ser soldado. Por exemplo, o metal de adição AWS ER 316 é usado para a soldagem do aço inoxidável AISI 316. Para a soldagem de alumínio e suas ligas e outros metais, os metais de adição podem ser do tipo R ou ER, sendo que R (do inglês, fíod) indica vareta para soldagem a gás ou outro processo, E (do inglês. Electrode) indica eletrodo para soldagem a arco. e ER indica que o metal de adição pode ser usado tanto como vareta quanto como eletrodo. Para o cobre e suas ligas, a designação é baseada na composição química do metal depositado. Por exemplo, uma vareta de metal de adição à base de cobre e níquel será classificada como RCuNi. 1 1 ksi = 1.000 libras por polegada quadrada. -j-ir» ! SOLDAGEM l / U fUNOAMENTOS E TECNOLOGIA A escolha de um metal de adição adequado a uma determinada soldagem deve ser feita còm base nas propriedades mecânicas e/ou composição química do metal depo sitado. Esta escolha é orientada pelos fabricantes das varetas para soldagem oxi-gás, que fornecem as aplicações típicas e recomendações para o uso de seus produtos. 4. Técnica Operatória O tipo de maçarico a ser usado dependerá da forma de suprimento de gases, do tamanho do bico e do ajuste desejado para a chama, e a necessidade de uso de fluxo e seu tipo dependerão dos materiais e espessuras a serem unidos. Uma chama oxi-acetilênica apresenta basicamente duas regiões: um cone interno, também chamado de "dardo", de forma bem definida e cor azulada, localizado logo à frente do bico, onde se dá a reação i 0v C2H2 + 0 2 -> 2 CO + H, + CALOR (Eq. 1 > chamada de reação primária. O oxigênio para esta reação ou parte dele é prove niente do maçarico. Uma segunda reação, ou reação secundária, com o oxigênio do maçarico ou da atmosfera, A . <\ Y ,] 4 CO + 2 H2 + 3 0 2 -* 4 C02 + 2 H20 + CALOR (Eq. 2) ocorre na segunda região, formando um envoltório exte'rno difuso, conhecido como "penacho", de cor mais avermelhada ou laranja. A quantidade de calor resultante destas reações é função direta da quantidade de acetileno que é queimado. Um aumento na quantidade de calor é obtido pelo aumento da vazão dos gases no maçarico. Uma troca de bico para um tamanho maior pode ser necessária. A vazão da mistura proveniente do maçarico dotado de um certo bico determinará se a chama será mais áspera ou macia. Chamas muito macias são ineficientes e sensíveis ao fenômeno de engolimento, enquanto chamas muito ásperas são de difícil manuseio. As temperaturas mais altas na chama oxi-acetilênica ocorrem na ponta do cone interno, de modo que, para uma operação mais eficiente, a ponta deste deve ser posicionada próximo à superfície a ser fundida. A proporção de gases na mistura provenientedo maçarico determina o caráter oxidante, neutro ou redutor da chama. A chama neutra, mais usada, é conseguida com a proporção de um volume de oxigênio para um volume de acetileno. Alterando-se a proporção dos gases na mistura, pode-se ter uma chama ligeiramente oxidante ou ligeiramente carburante, oxidante ou carburante, ou ainda, m uito oxidante ou muito carburante, com teores crescentes de oxigênio ou acetileno, respectivamente. Operacionalmente, a soldagem a gás é feita seguindo-se as seguintes etapas: abertura dos cilindros de gases e regulagem das pressões de trabalho, acendimento e reaulagem da chama, formação da poça de fusão, deslocamento da chama e realização do cordão de solda, com ou sem o uso de metal de adição, interrupção da solda e extinção da chama. CAPÍTUL011 1 7 1 SOLDAGEM E CORTE A GÁS 1 / 1 As pressões de trabalho sào escolhidas em função do tipo de maçarico e tamanho de bico usados, como já ilustrado na Tabela I. Outros fatores a serem considerados são o diâmetro e o comprimento das mangueiras de gás utilizadas. Diâmetros pequenos e/ou mangueiras muito longas podem levar a uma queda de pressão no maçarico a valores abaixo dos recomendados. Em geral, os fabricantes dos equipamentos fornecem as informações necessárias quanto a estes aspectos. Recomenda-se que a regulagem das pressões de trabalho seja feita com os registros de gás do maçarico abertos, já que as pressões indicadas nos manómetros tendem a ser mais altas quando as saídas de gás estão fechadas. O acendimento da chama é feito com um gerador de fagulha ou isqueiro após a abertura do registro de acetileno do maçarico. A chama assim obtida tem uma cor amarelo-brilhante e é bastante fuliginosa (chama acetilênica). Para se evitar esta fuligem, pode-se abrir ligeiramente o registro de oxigênio do maçarico antes do acendimento. Uma vez acesa, a chama deve ser regulada para se obter um tamanho e tipo adequados à soldagem que vai ser executada. A Figura 7 mostra os aspectos característicos da chama oxí-acetilênica, (redutora, neutra e oxidante), obtidas sequencialmente à medida que se aumenta a vazão de oxigênio. A chama redutora apresenta, além das duas regiões já citadas, o cone interno e o envoltório externo, uma terceira região entre as duas anteriores, chamada de "penacho ou cone intermediário", onde a reação primária é completada com oxigênio da atmosfera, quando a quantidade de oxigênio é insuficiente para reagir com todo o acetileno da mistura proveniente do maçarico. A chama neutra apresenta um ruído característico suave, enquanto a chama oxidante apresenta um chiado mais estridente, além de penacho menor que o da chama neutra e de cor mais azulada. (a) (b) (c) (d) Figura 7 Aparência típica dos diversos tipos de chama: (a) acetilênica, (b) redutora, (c) neutra e (d) oxidante <•72 SOiDA&EMFUNOAMBflDS E TECNOLOGIA Para a formação da poça de fusão, a ponta do cone interno deve ser posicionada de 1 a 3 mm da superfície, formando um ângulo de 45 a 60 graus com a peça e mantida nesta posição até a fusão do metal de base. Quando a poça de fusão atingir um tamanho adequado, a chama deve então ser deslocada ao longo da junta, mantendo-se constante a distância do cone interno à poça de fusão. A velocidade de soldagem deve ser escolhida de forma a não provocar fusão insuficiente ou excessiva da peça e ser mantida constante durante a operação. Quando necessário, promove-se a adição de metal de enchimento, que deve ser feita na poça de fusão, à frente do cone interno. A ponta da vareta deve ser mantida todo o tempo dentro da região do cone externo, para evitar sua contaminação pela atmosfera. Existem basicamente duas técnicas para a execução da soldagem oxi-acetilênica, ilustradas na Figura 8 .0 uso da técnica soldagem a ré ou soldagem para trás produz um cordão de solda estreito e com maior penetração, permitindo o uso de maiòr velocidade de soldagem e a soldagem de peças de maior espessura. Já a outra técnica, soldagem para frente, resulta num cordão mais raso, sendo adequada para a soldagem de chapas finas, de até 3 mm de espessura. Isto se deve à aplicação do calor mais diretamente sobre a superfície da chapa na soldagem à frente, enquanto que na soldagem a ré, o calor é mais aplicado sobre a poça de fusão, particular mente na soldagem com adição de metal. Figura 8 Técnicas de soldagem oxi-acetilênica: (a) soldagem á ré ou à direita e (b) soldagem à frente ou à esquerda Quando necessário, além do movimento longitudinal de translação da tocha ao longo da junta, é feito um movimento transversal, chamado de tecimento, que permite a obtenção de cordões mais largos e maior fusão das paredes do chanfro. Este tecimento auxilia também no controle da poça de fusão, evitando que ela escorra na soldagem fora da posição plana. Ao final da soldagem, recomenda-se diminuir ao mínimo o tamanho da chama e fechar primeiro o registro de acetileno e depois o do oxigênio. Isto porque, na sequência inversa, ocorreria a formação de fuligem na ponta do bico, o que, com o tempo, prejudicaria o funcionamento do maçarico devido a entupimentos. Terminado o serviço, as válvulas dos cilindros de gases devem ser fechadas, as mangueiras e reguladores de pressão esvaziados, e os registros do maçarico fechados: f\£..- CAFfTUOll SOlCAGfMECCWTí AGÁS I ' J 5. Aplicações Industriais Embora a temperatura e a quantidade de calor geradas pela chama oxi-acetilênica sejam suficientemente elevadas para torná-la utilizável em soldagem, estes valo res são ainda baixos quando comparados com os de outras fontes de calor para soldagem por fusão, como o arco elétrico, por exemplo, o que implica em baixas velocidades de soldagem. Comparativamente, a intensidade média é da ordem de 10 W/mm2 para a chama oxi-acetilênica, e de 300 W/mm2 para o arco elétrico. Com isso, apesar de sua simplicidade e versatilidade, a soldagem a gás tem uso restrito na indústria atual, devido à sua baixa produtividade, sendo utilizada principal mente em casos onde se exige um ótimo controle do calor cedido e da temperatura das peças, como na soldagem de chapas finas e de tubos de pequeno diâmetro, em operações de brasagem e na soldagem de reparo, devido à sua portabilidade. A Tabela IV apresenta algumas ligas soldáveis pelo processo oxi-acetilênico. Tabela IV - Algumas ligas soldáveis a oxi-acetileno Metal de base Metal de adição Tipo de chama Uso de fluxo Alumínio Alumínio Ligeiramente redutora Sim Bronze Bronze Ligeiramente oxidante Sim Cobre Cobre Neutra Náo Ferro fundido Ferro fundido Neutra Sim Níquel Níquel Ligeiramente redutora Nào Aço de baixo carbono Aço Neutra Não Aço de baixo carbono Bronze Ligeiramente oxidante Sim Aço de alto carbono Aço Redutora Não Aço inoxidável Aço inoxidável Neutra Sim f l -■ . . C - 1 \ í : 1 ". r. ' (J B - OXI-CORTE „ . - ' í f ■' 1 • j)tfí •'! . •.* 'J/yO 1 ó t ( j f t 1. Fundamentos *1 7/1 , SOLDAGEM1 ' H j FUNDAMENTOS E TECNOLOGIA O processo oxi-corte ou corte a gás (Oxi-Fuel Gas Cutting - OFC) é um processo no qual o corte do metal é obtido pela reação do oxigênio puro com o metal, a alta temperatura. Esta alta temperatura é conseguida inicialmente com o uso de uma chama oxigênio-gás combustível. Para o corte de metais resistentes à oxidação, a reação é auxiliada pela adição de fluxos e pós metálicos. O metal a ser cortado é aquecido por uma chama de pré-aquecimento pelo menos até a temperatura em que ocorre a reação do metal com o oxigênio, chamada de "temperatura de igni ção", sendo, a seguir, exposto a um jato de oxigênio de alta pureza. A oxidação do metal produz uma quantidade de calor suficiente para fundir o óxido formado, que é expulso pelo jato de oxigênio, ocorrendo, assim, o corte e o aquecimento do metal de base adjacente. A Figura 1 ilustra oprocesso. Por exemplo, a oxidação do ferro a altas temperaturas se processa em três reações, representadas pelas equações: 2 Fe + 0 2 —> 2 FeO + 534 kJ (Eq. 3) 3 Fe + 2 Oj —* Fe30 4 + 1.120 kJ ' (Eq. 4) 4 Fe + 3 0 2 -» 2 Fe20 3 + 1.650 kJ (Eq. 5) sendo que a terceira reação só ocorre no corte de peças de maior espessura. .Oxigênio I lOxigênlo + * T combustível Figura 1 Processo de corte a gás (esquemático) O calor gerado durante o corte é suficiente para dar continuidade ao processo, entretanto, a chama de pré-aquecimento é mantida durante toda a operação, pois facilita a reação com o oxigênio, pelo fornecimento de calor à superfície da peça e também evita que o jato de oxigênio seja contaminado pela atmosfera. O processo é muito versátil, podendo cortar desde peças finas até peças com mais de um metro de espessura de aço. Os equipamentos mais comumente usados podem ser manuais ou mecanizados e efetuar cortes retos, curvilíneos, múltiplos etc. 2. Equipamentos CAPÍTULO 11 I 1 T C SOLDAGEM E CORTE A GÁS j 1 / ü O equipamento usado para o corte a gás é basicamente o mesmo usado na solda gem a gás, diferenciando-se apenas pelo tipo de bico, que é próprio para operações de corte. Este possui as partes essenciais de um maçarico de solda e uma tubulação extra para o oxigênio de corte, dotada de uma válvula de acionamento rápido. Um maçarico e bicos de corte típicos são mostrados na Figura 2. Figura 2 Maçarico e bicos de corte oxi-gás típicos Os maçaricos de corte também podem ser do tipo injetor ou misturador e também possuem bicos intercambiáveis, que são trocados de acordo com a espessura a ser cortada. A Tabela I apresenta alguns exemplos de diâmetros de bicos, consumo de gás e velocidade de corte para aços de baixo carbono. Tabela I - Exemplos de diâmetros de bicos, consumo de gases e velocidade de corte para aços carbono Espessura a cortar (mm) Diâmetro do orifício do bico (mm) Velocidade de corte (cm/min) Fluxo de gás (l/min) Oxigênio (corte) Acetileno Gás Natural Propano 3,2 0 ,5 -1 .0 41-81 7 -2 1 1.4 -4 ,3 4.3-11 ,8 1 .4 -4 .7 6.4 0 ,7 - 1.5 4 1 -6 6 14 -26 1.4 -4 .3 4,3-11.8 2 .5 -5 ,7 9.5 0 ,7 -1 .5 3 9 -6 0 19 -33 2 .8 -5 ,7 4,7-11 .8 2,4-7.1 13 1 ,0 -1 ,5 3 0 -5 8 2 6 -4 0 2 .8 -5 .7 7.1 - 14,2 2.4-7.1 19 1,1 - 1.5 3 0 -5 3 4 7 -7 0 3 .3 -6 ,6 7.1-14,2 2 .8 -8 .5 25 1.1 - 1.5 2 3 -4 6 5 2 -7 6 3 .3 -6 .6 8,5-16,5 2 .8 -8 .5 38 1 .5 -2 .0 15 -35 5 2 -8 3 3 .8 -7 ,6 8.5-16,5 3 .8 -9 .4 51 1.5 -2 ,0 15 -33 6 1 -9 0 CDr^ ' 1 00 CO * 9,4-18,9 3 .8 -9 ,4 76 1 .6 -2 .2 1 0 -28 90-142 4 .3 -9 ,4 9.4-18.9 CO 1 O 102 2 .0 -2 ,3 10 -25 113-170 4.3 - 9.4 9.4-18,9 4,3 -11 .3 127 2 .0 -2 .4 10 -20 127-170 4.7 -11 .6 11,8-23,6 4.7 -11 ,8 152 2 .4 -2 .7 8 -1 8 123 - 236 4.7 -11 ,6 11,8-23.6 4 .7-14 .2 203 2.4 - 2,8 8 - 13 217-293 7,1 - 14,2 14,2-26,0 7.1 - 15.1 254 2 .4 -2 .8 5 -1 0 274 - 331 7.1-16 .5 16.5-33 7.1 - 16,5 305 2 .8 -3 .3 5 -1 0 340 - 401 9 .4 - 18,9 21.2-44.9 9,4-21 ,2 1 7 K ! SOLDAGEM 1 ' 0 1 FUNDAMENTOS E TECNOLOGIA Os equipamentos usados podem ser do tipo manual ou mecanizado, sendo que estes últimos realizam o corte com uma velocidade mais uniforme, propiciando melhor aparência e regularidade da superfície de corte. Equipamentos mecanizados podem ser acoplados a copiadores óticos ou mecânicos e realizar cortes de acordo com gabaritos predeterminados. No Brasil, existem diversos equipamentos disponíveis comercialmente, tanto manuais quanto mecanizados, com capacidade de corte simples ou múltiplo, numa ampla faixa de espessuras. A Figura 3 mostra um equi pamento industrial típico de corte a gás mecanizado. Figura 3 Equipamento industrial típico de corte a gás mecanizado 3. Consumíveis Os consumíveis do processo oxi-corte são o oxigênio, o gás combustível e os fluxos e pós utilizados para corte de metais em que o corte convencional é insatisfatório. O oxigênio usado na operação de corte deve ser de pureza elevada, maior ou igual a 99,5%. Um decréscimo de 1% nesta pureza pode resultar em um decréscimo de até 15% na velocidade de corte e um aumento de até 25% no consumo de oxigênio. Além disso, a qualidade do corte é pior e ocorre maior aderência dos resíduos do corte nas faces da peça. Para purezas inferiores a 95%, a ação de corte é extinguida. Vários gases combustíveis podem ser usados no pré-aquecimento para início do corte, incluindo o acetileno, o propano. o propileno, o butano, o metano, o GLP e o gás natural. O acetileno é o mais usado, mas, para algumas aplicações especiais, como cortes muito longos, outros gases podem apresentar vantagens, como menor custo e maior volume acondicionado em cilindros de uma dada capacidade. Os fluxos e pós são usados em operações de corte de materiais especiais, como o aço inoxidável, o ferro fundido, o bronze e o alumínio. Os pós utilizados são geralmente o de ferro, no corte do aço inoxidável, ferro fundido e peças muito espessas de aço carbono, e o de alumínio, no corte de bronze e alumínio. Fluxos químicos são usados no corte dos aços inoxidáveis e têm como função reagir com os óxidos de elementos de liga, como o cromo e o níquel, para formar compostos de ponto de fusão próximos ao do óxido de ferro. CAPITULOU SOLDAGEM E CORTE A GÁS M ' • 4. Técnica Operatória A operação de oxi-corte é relativamente simples e, em muitas etapas, semelhante à soldagem oxi-gás. Inicialmente, efetua-se a regulagem da chama de pré-aqueci- mento, em geral, neutra. A seguir é feito o pré-aquecimento da região de início do corte, até o rubro, quando é acionada a válvula de oxigênio. Este reage com o metal e, quando o jato atinge a face oposta da peça, inicia-se o movimento de translação do maçarico. A velocidade de deslocamento é função do tipo e espessura do metal que está sendo cortado. Para cortes manuais, a velocidade de corte é dada pelo operador, e para cortes mecanizados geralmente é indicada pelo fabricante do equipamento, devendo ser ajustada de maneira conveniente. A Figura 4 mostra o efeito da veloci dade de corte no acabamento das faces cortadas. Normal Figura 4 Efeito da velocidade de corte no acabamento das faces cortadas por oxi-corte (esquemático) 1-7 O 1 SOLDAGEM * ' 0 FUNDAMENTDS E TECNOLOGIA Ao final do corte, o jato de oxigênio é interrompido, e a chama de pré-aquecimento extinta, como na soldagem a gás. A figura 5 mostra peças oxi-cortadas mecaniza- damente. Figura 5 Peça cortada pelo processão oxi-corte mecânico O processo de corte convencional é adequado para os aços carbono. Nos aços ligados, os elementos de liga podem provocar efeitos indesejáveis sobre a operação, como indicado na Tabela II. Para o corte de aços inoxidáveis, ferros fundidos e não ferrosos, o processo convencional não é adequado, exigindo o uso de técnicas es peciais como oscilação da tocha e adição de pós e fluxos para facilitar a operação. UV1IULU I I 1 1 -7Q SOLDAGEM E CORTE AG ÁS 1 Tabela II - Efeitos dos elementos de liga sobre a operação de corte Elemento Efeito Carbono Aços com até 0,25% de carbono podem ser cortados sem problemas Acima disso passa a ser necessário o uso de pré-aquecimento para prevenir têmpera e fissuração do material. Grafita e cementita são prejudiciais, mas ferros fundidos com até 4% de carbono podem ser cortados com o uso de técnicas especiais. Manganês Aços com aproximadamente 14% de manganês e 1,5% de carbono são di fíceis de cortar e o uso de pré-aquecimento produz melhores resultados. Cromo Aços com até 5% de cromo são cortados'sem muita dificuldade quando a superfície está limpa. Com teores mais altos, da ordem de 10%, exigem técnicas especiais. A superfície de corte será áspera se usado o corte oxi- acetiiênico convencional. Níquel Aços com até 7% de níquel podem sercortados sem maiores problemas Oxi-corte de excelente qualidade de aços inoxidáveis podem ser feitos com a utilização de pós e fluxos. Tungsténio As ligas usuais com até 14% de tungsténio podem ser cortadas facilmente, mas o corte é mais difícil quando o teor é mais alto. Cobre Em teores até 2%, não tem nenhum efeito. Alumínio Desde que presente com teores até 10%. seu efeito não é apreciável. Fósforo Nas quantidades normalmente toleradas nos aços, este elemento não tem qualquer efeito. Enxofre Pequenas quantidades comuns nos aços não têm efeito. Para teores mais elevados a velocidade de corte é reduzida e o dióxido de enxofre passa a ser notado. Vanádio Nas quantidades usuais em aços. este elemento mais facilita do que pre judica o corte. O corte térm ico de aços temperáveis pode exercer alguma ação de têmpera na superfície de corte e, às vezes, se toma necessário o uso de pré-aquecimento ou pós-aquecimento para contornar o problema. 5. Aplicações Industriais O corte a gás é um processo com diversas aplicações industriais em vários segmentos e, devido à sua versatilidade, p usado tanto na fabricação quanto na montagem e desmontagem de estruturas e peças metálicas. Na desmontagem, ele é usado na separação de uniões mecânicas em geral, através de rebites, parafusos, pinos, soldas, etc, bem como no corte de peças e chapas. Na montagem, o pro cesso é usado para a preparação de chapas, permitindo dar-lhe formas adequadas para sua utilização posterior. Neste tipo de aplicação, podem-se citar os estaleiros 180 SQIOAGQIfundamentos t tecnologia e calderarias pesadas como seus principais usuários. Na fabricação, pode-se usá-lo na preparação de chanfros para soldagem e mesmo para confecção de peças como rodas dentadas, engates, ferramentas etc. Devido à mobilidade do equipamento, o processo oxi-corte é de grande utilidade em operações de salvamento, efetuadas pela polícia e pelo corpo de bombeiros, como. por exemplo, retirada de vítimas de acidentes automobilísticos e ferroviários de destroços de veículos. 6. Exercícios e Práticas de Laboratório a) Desenhe esquematicamente uma chama neutra e indique as variações da temperatura ao longo do seu eixo. b) Por que uma chama redutora não deve ser usada na soldagem de um aço baixo carbono? c) Quais as diferenças entre maçaricos de soldagem e do corte? d) Por que é difícil ou mesmo impossível o corte oxi-acetilênico do alumínio? e) No laboratório ou oficina de soldagem, identifique o tipo do maçarico que está sendo usado Faça a regulagem das pressões de trabalho.dos gases e ajuste as vazões para obter os diversos tipos de chama, observando a'sua aparência. Experimente fazer cordões de solda sem e com adição do metal, sobre chapas e depois em juntas simples. Use retalhos de chapas do 1 a 3 mm de espessura. CAPÍTULO 12 SOLDAGEM COM ELETRODOS REVESTIDOS 1. Fundamentos A soldagem a arco com eletrodos revestidos (Shielded Metal Are Welding—SMAW) é um processo que produz a coalescência entre metais pelo aquecimento destes com um arco elétrico estabelecido entre um eletrodo metálico revestido e a peça que está sendo soldada. O processo é mostrado esquematicamente na Figura 1. Escória Revestlmanto Metal de adição Alma., MètaJdã ' V base Poçadefutòo Figura 1 Desenho esquemático de uma soldagem com eletrodo revestido 1 Q 9 SOUMKM *O Í RMOAMIM O eletrodo revestido consiste de uma vareta metálica, chamada "alma", trefilada ou fundida, que conduz a corrente elétrica e fornece metal de adição para enchimento da junta. A alma é recoberta por uma mistura de diferentes materiais, numa camada que forma o "revestimento” do eletrodo. Este revestimento tem diversas funções na solda gem, principalmente: • estabilizar o arco elétrico; • ajustar a composição química do cordão, pela adição de elementos de liga e eli minação de impurezas; • proteger a poça de fusão e o metal de solda contra contaminação pela atmosfera, através da geração de gases e de uma camada de escória; e • conferir características operacionais, mecânicas e metalúrgicas ao eletrodo e à solda, como será visto mais adiante. A possibilidade de inúmeras formulações para o revestimento explica a principal característica deste processo, que é a sua grande versatilidade em termos de ligas sol dáveis, características operacionais e características mecânicas e metalúrgicas do metal depositado. O custo relativamente baixo e a simplicidade do equipamento necessário, comparados com outros processos, e a possibilidade de uso em locais de difícil acesso ou abertos, sujeitos à ação de ventos, são outras características importantes. Quando comparada com outros processos, particularmente com a soldagem com eletrodo consumível e proteção gasosa e com soldagem a arco submerso (ver Capítulos 15 e 16), a soldagem com eletrodos revestidos apresenta como principal limitação uma baixa produtividade, tanto em termos de taxa de deposição (entre 1,0 e 2,55 kg/h para eletro dos de aço carbono, por exemplo), como em termos do fator de ocupação do soldador (porcentagem total do tempo de soldagem com o arco de soldagem em operação), em geral inferior a 40%. Outras limitações são a necessidade de um treinamento específico para o soldador, que é demorado e oneroso, particularmente para certas aplicações, necessidade de cuidados especiais com os eletrodos, principalmente com os do tipo básico, e o grande volume de gases e fumos gerados no processo, que podem ser pre judiciais à saúde, particularmente em ambientes fechados. A soldagem com eletrodos revestidos foi o principal processo de soldagem usado industrialmente até os anos 60. A partir daí sua importância relativa vem decrescendo, particularmente nos países mais desenvolvidos. No Brasil isto também ocorre, embora de forma mais lenta. A soldagem com eletrodos revestidos é usada na fabricação e montagem de diferen tes equipamentos e estruturas, tanto em oficina como no campo, sendo particularmente interessante neste último caso. O processo é usado basicamente como uma operação manual, sendo muitas vezes chamado simplesmente de soldagem manual. Somente uma variação "mecanizada" do processo, a soldagem por gravidade, tem sido utilizada na indústria de forma mais intensa, principalmente em estaleiros. A soldagem manual pode ser usada em grande número de materiais, como aços car bono, aços de baixa, média e alta liga, aços inoxidáveis, ferros fundidos, alumínio, cobre, níquel e ligas destes, por exemplo. CAHTUIDIZ I -ipO SOLDA&M COM ELETRODOS REVESTDQS J 1 00 Metais de baixo ponto de fusão como o chumbo, estanho e zinco, em geral, não são soldáveis a arco e metais refratários ou muito reativos, como o titânio, zircônio, molib- dênio e nióbio não são soldáveis com eletrodos revestidos. Diferentes combinações de metais dissimilares podem ser soldadas por esse processo. A Tabela I mostra as faixas de espessura de aço comumente soldadas com eletrodos revestidos. Para espessuras inferiores a 2 mm, o material ó facilmente perfurado pelo calor do arco, em caso de manipulação indevida e para espessuras muito grandes, a baixa produtividade do processo é o principal fator limitante. Assim, a soldagem com eletrodos revestidos é usada mais frequentemente para espessuras entre 3 e 40 mm, em aços. Tabela I - Faixas típicas da espessuras para utilização da soldagem com eletrodos revestidos. Material: aço Técnica de soldagem Faixa de espessuras (mm) Um passe, sem preparação 1.0 a 3.2 . Um passe, com preparação 3.2 a 6.4 Vários passes acima de 3,2 Filete - passe único 1,5 a 7 2. Equipamentos Os equipamentos de um posto de soldagem manual com eletrodos revestidos com preendem, em geral, fonte de energia, cabos, porta-eletrodos, ferramentas (picadeira, escova de aço etc.) e materiais de segurança (máscara,óculos, avental etc.), como mos trado na Figura 2. Figura 2 Equipamento para soldagem com eletrodos revestidos 1 8 4 SOLDAGEM FUNDAMENTOS E TECNOLOGIA O comprimento do arco na soldagem com eletrodos revestidos é controlado manu almente pelo soldador, sofrendo, portanto, variações durante a execução do cordão de solda. Por esta razão, fontes de energia com características do tipo "corrente constante" são usadas (Capítulo 5). A tensão em vazio, isto é, a tensão existente nos bornes de saída da máquina quando não há fornecimento de corrente, é da ordem de 50 a 100 Volts. Valores mais elevados de tensão em vazio facilitam a abertura do arco ou a sua reignição, no caso de soldagem com corrente alternada, mas representam um risco maior para o soldador, em termos de choque elétrico, como visto no Capítulo 3. Após a abertura do arco, a tensão cai para o valor de trabalho, entre cerca de 17 e 36 Volts, e a corrente de soldagem se aproxima do valor selecionado. O baixo fator de ocupação do soldador, característico da soldagem manual com ele trodos revestidos, deve ser considerado na compra de um equipamento de soldagem. Assim, se se espera trabalhar correntes inferiores a 300 A, por exemplo, é desnecessário adquirir uma fonte com um ciclo de trabalho de 100% para esta corrente, pois este equi pamento estaria superdimensionado e teria um custo elevado. Quando existem diversos postos de soldagem com eletrodos revestidos em uma determinada área, pode se tornar interessante a instalação de uma fonte de energia centralizada, capaz de atender simultaneamente a todos os postos, como ilustrado na Figura 3. Neste tipo de instalação utiliza-se uma ou mais fontes de energia do tipo ten são constante ligadas em paralelo, à(s) qual(is) estão ligados, também em paralelo, os diversos pontos de soldagem, através de barramentos. Em cada posto deve existir um reator variável (no caso de corrente alternada) ou um reostato para ajuste de corrente de soldagem. Este tipo de instalação é economicamente viável quando o número de postos é elevado e o fator de ocupação é baixo. Figura 3 Diagrama esquemático de uma instalação centralizada para postos de soldagem com eletrodos revestidos O porta-eletrodos tem a função de prender o eletrodo e energizá-lo; Seu cabo deve ser bem isolado para se minimizar o risco de choque elétrico para o soldador, enquanto suas garras devem estar sempre bem limpas e em boas condições, para evitar problemas de superaquecimento. Um porta-eletrodos é projetado para trabalhar com varetas dentro de uma determinada faixa de diâmetros, sendo especificado pela corrente máxima que pode conduzir. Como o peso do porta-eletrodos aumenta com o valor da corrente máxima permissível, deve-se procurar trabalhar sempre com o menor porta-eletrodos compatível com uma dada aplicação, a fim de reduzir a fadiga do soldador. Os cabos têm a função de conduzir a corrente elétrica da fonte ao porta-eletrodos (cabo de soldagem) e da peça à fonte (cabo de retorno ou cabo terra). Estes podem ser de cobre ou de alumínio, devem apresentar elevada flexibilidade, para facilitar o manuseio, e serem recobertos por uma camada de material isolante, resistente à abrasão e à sujeira. Três fatores devem ser considerados na escolha de cabos para uma dada aplicação: • a corrente de soldagerr • o ciclo de trabalho da máquina • o comprimento total dos cabos do circuito. A Tabela II mostra alguns exemplos de cabos recomendados para diferentes situações. Tabela II - Diâmetros recomendados de cabos de cobre para soldagem CAPÍTULO 12 | , o c SOLDAGEM COM ELETRODOS REVESTIDOS I I 0 0 Corrente de Soldagem (A) Ciclo de Trabalho (%) Diâmetro do cabo (mm) em função do Comprimento total (m) 0-15 15-30 30-46 46-61 61 -76 100 20 4 5 6 6,5 7,5 180 20-30 5 5 6 6,5 7,5 200 60 6,5 6.5 6.5 7,5 8 200 50 6 6 6,5 7.5 8 250 30 6 6 6.5 7.5 8 300 60 8 8 8 9 10 400 60 9 9 9 10 12 500 60 9 9 9 10 12 600 60 9 9 9 12 2 x 10 A utilização de cabos de bitolas inadequadas, isto é, cabos muito finos para uma dada aplicação, cabos danificados ou a utilização de conexões deficientes ou sujas, podem causar superaquecimento, perdas de energia elétrica, variações na qualidade da solda e até mesmo a ruptura de cabos e conexões. Existem algumas variações do processo de soldagem com eletrodos revestidos, sendo a mais comum a soldagem por gravidade. Ésta variação permite a execução de soldas de topo ou file te de uma forma mecanizada, através da utilização de um suporte especial, no qual o porta-eletrodos desliza lateralmente e para baixo, à medida que o eletrodo vai sendo consumido, mostrado na Figura 4. SOLDAGEM FUNOAMENTDS E TECNOLOGIA Figura 4 Suporte para soldagem por gravidade 3. Consumíveis Um eletrodo revestido é constituído por uma vareta metálica, a alma, com diâmetro entre 1,5 e 8 mm e comprimento entre 23 e 45 cm, recoberta por uma camada de fluxo, o revestimento. Eletrodos para soldagem por gravidade têm comprimento entre 55 e 70 cm. A composição do revestimento determina as características operacionais dos ele trodos e pode influenciar a composição química e as propriedades mecânicas da solda efetuada. Além das funções já citadas, o revestimento serve ainda para: • realizar ou possibilitar reações de refino metalúrgico, tais como desoxidação, dessulfuração etc; • formar uma camada de escória protetora; • facilitar a remoção de escória e controlar suas propriedades físicas e químicas; • facilitar a soldagem nas diversas posições; • dissolver óxidos e contaminações na superfície da junta; • reduzir o nível de respingos e fumos; • diminuir a velocidade de resfriamento da solda; • possibilitar o uso de diferentes tipos de corrente e polaridade; e • aumentar a taxa de deposição (quantidade de metal depositado por unidade de tempo), entre outras. Um eletrodo ideal seria aquele que cumprisse plenamente todas estas funções, a um custo de produção satisfatório, e ainda que não apresentasse problemas de conservação e manuseio. Obviamente, tal eletrodo não existe, e os eletrodos comerciais procuram atender mais completamente a um conjunto de exigências, em detrimento de outras, de modo a torná-los adequados a determinadas aplicações, a um custo razoável. Como consequência, existe no mercado um grande número de tipos de eletrodos que apresentam diferentes características operacionais, aplicáveis a diferentes materiais e que produzem soldas com diferentes características. Para racionalizar o mercado, os eletrodos revestidos são classificados de acordo com sistemas propostos por diferentes sociedades (AWS, DIN, AFNOR. ABNT, ISO etc.) As classificações mais usadas no Brasil são as propostas pela AWS, listadas na Tabela III. Tabela lli - Especificações A W S para classificação de eletrodos revestidos CAPÍTUL012 I < 0 7 SOLOAGEM COM ELETRODOS REVESTIDOS , Especificação Tipo de eletrodo AWS A 5.1 Eletrodos revestidos para soldagem a arco de aços ao carbono AWS A 5.3 Eletrodos revestidos para soldagem a arco do alumínio e suas ligas AWS A 5.4 Eletrodos revestidos para soldagem a arco de aços inoxidáveis AWS A 5.5 Eletrodos revestidos para soldagem a arco de aços de baixa liga AWS A 5.6 Eletrodos revestidos para soldagem a arco de cobre e suas ligas AWS A 5.11 Eletrodos revestidos para soldagem a arco de níquel e suas ligas AWS A 5.13 Eletrodos revestidos para revestimento por soldagem a arco AWS A 5.15 Eletrodos e varetas para soldagem do ferro fundido Para um maior domínio dos sistemas de classificação, recomenda-se uma consulta direta às normas. Como as especificações AWS para eletrodos de aço são as mais usa das, estas serão mais detalhadas à frente. Muitas das observações que serão feitas para estes eletrodos se aplicam também a outros tipos. Os materiais maiscomumente presentes no revestimento de eletrodos de aço são: • celulose e dextrina: substâncias orgânicas cuja queima no arco gera uma atmosfera redu tora, constituída principalmente por CO e H2, que protege o arco; • carbonatos (em particular o CaC03): controlam a basicidade da escória e fornecem atmosfera protetora com sua decomposição: • dióxido de titânio (rutilo): reduz a viscosidade da escória e o seu intervalo de solidificação, além de estabilizar o arco; • ferro-manganês e ferro-silício: promovem a desoxidação da poça de fusão e ajustam sua composição; • pó de ferro: aumenta a taxa de deposição e o rendimento do eletrodo, além de estabilizar 0 arco; ioo nuMon 00 nmtMMsnosEncNoioa« • outras adições metálicas: controlam a composição do metal depositado: • argilas: formam escória e facilitam a fabricação do eletrodo por extrusão; • fluoreto de cálcio: ajuda a controlar a basicidade da escória e diminui sua viscosidade; • silicatos: formam escória e os silicatos de potássio ou sódio agem como ligante do reves timento e estabilizante do arco; e • óxidos de ferro e manganês: formam escória, controlam a sua viscosidade e estabilizam o arco. De acordo com sua formulação, os revestimentos dos eletrodos revestidos podem ser separados em diferentes tipos, por exemplo: • revestimento oxidante: constituído principalmente de óxido de ferro e manganês, produz escória oxidante, abundante e fácil de destacar. O eletrodo pode ser utilizado em CC ou CA, apresentando baixa penetração. O metal depositado possui baixo teor de carbono e manganês, e propriedades inadequadas para aplicações de responsabilidade, embora a apa rência do cordão seja muito boa. Este tipo de revestimento é pouco usado atualmente; • revestimento ácido: constituído principalmente de óxido de ferro e manganês e sílica, produz escória ácida abundante e porosa, de fácil remoção. O eletrodo pode ser usado com CC ou CA, a penetração é média e sua taxa de fusão é elevada, levando a uma poça de fusão volumosa, o que limita a sua aplicação às posições plana e horizontal. As propriedades da solda são consideradas boas para diversas aplicações, mas sua resistência à formação de trincas de solidificação é baixa. A aparência do cordão é muito boa; ■ revestimento rutílico; contém quantidade significativa de rutilo (Ti02) e produz uma escória abundante, densa e de fácil destacabilidade. São eletrodos de fácil manipulação, podem ser usados tanto em CC quanto em CA, em qualquer posição. Produzem um cordão de bom aspecto, com média ou baixa penetração. A sua resistência à fissuração a quente é relativamente baixa. Eletrodos com este tipo de revestimento têm grande versatilidade e são de uso geral; • revestimento básico: contém quantidade apreciável de carboijato de cálcio e fluorita, ca paz de gerar uma escória básica que, juntamente com 0 dióxido de carbono gerado pela decomposição do carbonato, protege a solda do contato com a atmosfera. Esta escória exerce uma ação metalúrgica benéfica sobre a solda, dessulfurando-a e reduzindo o risco de formação de trincas de solidificação. Não possui substâncias orgânicas em sua formulação e, se armazenado e manuseado corretamente, produz soldas com baixo teor de hidrogênio, o que diminui o risco de fissuração e de fragilização induzidas por este elemento. A penetração é média, e o cordão apresenta boas propriedades mecânicas, particularmente quanto è tenacidade. Este tipo de revestimento é indicado para aplicações de alta responsabilidade, para soldagem de grandes espessuras e para estruturas de alta rigidez. É também o mais usado na soldagem de aços de composição química desconhecida ou de pior soldabilidade. como os aços com alto teor de carbono e/ou enxofre. Revestimentos básicos são altamente higroscópicos. e os eletrodos deste tipo requerem cuidados especiais de armazenagem e secagem ;e • revestimento celulósico: possui uma elevada quantidade de material orgânico (por exemplo, celulose), cuja decomposição no arco gera grande quantidade de gases que protegem 0 uvniuui li I m nn SOlDAGtM CCV EIETROOOS KEVESTBOS < 0 9 metal líquido. A quantidade de escória produzida é pequena, o arco é muito violento, cau sando grande volume de respingos e alta penetração, quando comparados a outros tipos de revestimentos. O aspecto do cordão não é bom, apresentando escamas irregulares. As características mecânicas da solda são consideradas boas, exceto a possibilidade de fragilização pelo hidrogênio. São eletrodos particularmente recomendados para soldagem fora da posição plana, tendo grande aplicação na soldagem circunferencial de tubulações e na execução de passe de raiz em geral. Devido à sua elevada penetração e grande perda por respingos, não é adequado para o enchimento de chanfros. Revestimentos de diferentes tipos podem conter adições de pó de ferro. Durante a soldagem, este é fundido e incorporado à poça de fusão, causando um melhor aprovei tamento da energia do arco e uma maior estabilização deste, pelo menos em adições de até 50% em peso do revestimento. Além disso, o pó de ferro torna o revestimento mais resistente ao calor, permitindo a utilização de maiores correntes de soldagem para um dado diâmetro de eletrodo. Como resultado global, tem-se um aumento significativo na taxa de deposição de eletrodos com pó de ferro em seu revestimento. Por outro lado. quanto maior a adição de pó de ferro, maior será a poça de fusão e a dificuldade de seu controle durante a soldagem, dificultando ou mesmo impossibilitando a soldagem fora da posição plana. O sistema de classificação de eletrodos de aço carbono e de baixa liga da AWS utiliza um conjunto de números e letras que fornecem várias informações a respeito dos ele trodos. como mostrado na Figura 5. Indica requisitos de absorção de ________________________________ umidade Teor de hidrogênio difusivel (H), em ml/100g de metal depositado ----------------------------------------- indica a ductflídade do metal depositado--------------------------------- Indica as posições de soldagem usáveis usáveis, o tipo de revestimento e o tipo ----------------- decorrente Indica o limite de resistência mínimo do _____ metal depositado (em 1000 psi) Eletrodo para soldagem a arco AWS E XXYY R Figura 5 Esquema explicativo do sistema de classificação de eletibdos revestidos adotado pelas especificações AWS A 5.1 (aços carbono) e A 5.5 (aços baixa liga) Neste sistema, a identificação se inicia pela letra E. que indica que o consumível é um eletrodo (e não uma vareta, que é indicada peia letra R). O conjunto seguinte, formado por dois ou três algarismos, indica o limite de resistência mínimo à tração do metal depositado 4 Q n souMsai , 5 ,ü ftJNfiAMSfTOSETECNOlOâU pelo eletrodo, em ksi (1.000 psi). Esta resistência refere-se à obtida em corpos de prova extraídos de soldas depositadas em chanfros especiais (conforme exigido nas especifica ções), de modo a minimizar a diluição e. portanto, não considerem a influência do metal base. Assim, por exemplo, dois eletrodos capazes de depositar, nas condições da norma, um material com resistência mecânica de 60.000 psi (410 MPa) e 100.000 psi (685 MPa), seriam classificados como E 60XX e E 100XX, respectivamente. O dígito seguinte é um algarismo, que indica a posição de soldagem em que o eletrodo pode ser utilizado, sendo 1 para soldagem em todas as posições, 2 para soldagem na posição plana e horizontal e, 4 para soldagem na posição plana, horizontal e vertical descendente. O próximo dígito, que é o último para eletrodos de aço carbono, indica o tipo de revestimento do eletrodo e. portanto, suas características operacionais. Seu significado é mostrado na Tabela IV. Tabela IV - Significado do último dígito da classificação AWS de alguns tipos da eletrodos revestidos de aço carbono e aço banca ligaEletrodo Tipo de revestimento Posição de soldagem ou tipo (#) Tipo de corrente {*) E 6010 Celulósico, sódio R H. V, SC CC+ E6011 Celulósico, potássio R H, V. SC CC+.CA E 6012 Rutílico, sódio R H, V, SC CC-, CA E 6013 Rutílico, potássio R H, V, SC CC+, CC-, CA E 6019 Ácido/Rutffico, potássio R H, V SC CC+, CC-, CA E 6020 Ácido R Rlete H CC+. CC-, CA E 7014 Rutílico com pó de ferro R H, V, SC CC+, CC-. CA E 7015 Básico, sódio R H, V. SC CC+ E 7016 Básico, potássio R H, V. SC CC+.CA E 7018 Básico, potássio, pó de ferro R H, V, SC CC+.CA . E 7024 Rutílico. pó de ferro R Rlete H CC+, CC-, CA E 7027 Ácido, pó de ferro R Filete H CC+, CC-, CA E 7048 Básico, potássio, pó de ferro R H. V. SC, Vd CC-.CA (#| p — Plana, H-Horizontal, V Vertical, SC — Sobrecabeça, Filete H — Filete horizontal Vd — Vertical descendente (*) CA — Corrente alternada CC+ — Corrente contínua eletrodo positivo (polaridade inversa) CC— Corrente contínua eletrodo negativo (polaridade direta) Assim, por exemplo, uma classificação do tipo E 6010 indica um eletrodo com revestimento celulósico, com ligante à base de silicato de sódio, indicado para soldagem em todas as posições, devendo-se utilizar corrente contínua, eletrodo positivo. O metal CAPÍTWD12 1 Q 1 SOLDAGBÜ COM ELETRODOS REVESTIDOS 1 3 1 depositado por este eletrodo, nas condições especificadas pela AWS, deve ter um limite de resistência à tração mínimo de 60.000 psi (410 MPa). Para aços de baixa liga, a classificação AWS apresenta, após o último digito que indica tipo de revestimento, um hífen seguido de um conjunto de letras e números, que esta belece classes de composição química, cujo significado é mostrado na Tabela V. Outra diferença entre as classificações de eletrodos de aço carbono e de aço de baixa liga está nas classes de resistência mecânica do metal depositado, respectivamente 60/70 ksi e de 60 a 120 ksi. A seguir são mostrados alguns exemplos de classificação de eletrodos de baixa liga e é proposto como exercício a sua interpretação: E 7018-A1, E 8018-C1, E 9015-B9, E 10016-d2, E 12018-M. Tateia V - Códigos de composição qufmica de eletrodos da baixa Dga, segundo a norma AWS A 5.5 Código Significado Al Eletrodos de aço carbono-molibdênio (0.40-0,65% Mo) B1 a B9* Eletrodos de aço cromo-molibdânio (0,40 a 10,5% Cr e 0,40 a 1,20 % Mo) Cl aC5# Eletrodos de aço ao níquel (0.80 a 7,25% Ni) NM Eletrodos de aço nSquel-molibdônio (0.80 a 1,10% Ni e 0.4 a 0,65% Mo) D1 a D3 Eletrodo de aço manganês-molibdênio (1,0 a 2,0% Mn e 0,25-0,65% Mo) G Eletrodos de aço baixa liga em geral com teor mínimo de pelo menos um dos seguintes elementos: 1% Mn. 0.8% Si. 0.5% Ni, 0.3% Cr, 0,20% Mo, 0,10% V ou 0,20% Cu M Eletrodos para aplicações militares P Eletrodos para soldagem de tubulações W Eletrodos resistentes à corrosão atmosférica * O sufixo L adicionado após o número indica baixo teor de carbono, em geral inferior a 0,05% Os eletrodos de aço inoxidável e outras ligas ferrosas com elevado teor de cromo são agrupados na especificação AWS A 5.4. Por esta especificação, os eletrodos são divididos em cinco grupos, quanto às características do revestimento: • E XXX-15 • eletrodos para operar com.somente em CC+, com revestimento básico e utilizável em todas as posições; • E XXX-16 - eletrodos para operar com CC+ e CA, com revestimento rutílico (potássio), usável em todas as posições; • E XXX17 • eletrodos para operar em CC+ e CA, com revestimento rutílico/sílica (potássio), apresentam melhores aspecto superficial e características operacionais que os do tipo 16, utilizável em todas as posições; • E XXX 25 - eletrodos sintéticos (alma de aço carbono) para operar somente em CC+, com revestimento básico semelhante ao do tipo 15. contendo ferro-ligas e pós metálicos, reco mendados para as posições plana e horizontal; e • E XXX 26 - eletrodos sintéticos para operar em CC+ e CA, com revestimento rutílico semelhante aos do tipo 16, para serem usados nas posições plana e horizontal, onde XXX é a designação do tipo de metal depositado, segundo a AISI (American Iron and Steel Institute). A Tabela VI fornece um guia para a seleção de metal de adição para a soldagem dos aços inoxidáveis e destes com outros materiais. I SOLDAGEM FUNDAMENTOS E TECNOLOGIA Tabela VI - Seleção de metais de adição para soldagem de aços inoxidáveis* Metais Base (AISI) 301 302 304 308 304L 310314a 316 316L 317 321 347 405 410 420 430 446b Aços ao C Aço baixa liga Cr- Mo 301 302 304 308 E308 E308 E308 E308 E308 E308 E308 E309 E309 E310 E309 E309 304L E308L E308 E308 E308 E308 E309 E309 E309 E310 E309 E309 310 314" E310 E316 E317 E308 E309 E309 E309 E310 E309 E309 316 E316 E316 E316 E3Q8 E309 E309 E310 E309 E309 316L E316L E316 E316L E309 E309 E310 E309 E309 317 E317 E308 E309 E309 E310 E309 E309 321 347 E347 E309 E309 E310 E309 E309 405 410 420 E410 E430c E41Cc E410c,d E410 430 E430 E430 E430c-d E430c 446 E446 E430c,d E430c * - Consumíveis mais utilizados, mas outros podem ser usados. a - Liga sensível à fissuração na solidificação. b - Consumível à base de níquel é mais adequado para aplicações a temperaturas elevadas, exceto quando em presença de compostos de enxofre. c - Se um depósito austenítico é aceitável para as condições de serviço, E 309 ou E 310 são usados com frequência. d - Arames de aço carbono e eletrodo E7018 podem ser aceitos se utilizados pré-aquecimento e controle dc teor de hidrogênio. cap ítu lo 1 2 j 1 n o SOLDAGEM COM ELETRODOS REVESTIDOS 1 O processo de fabricação dos eletrodos revestidos se inicia com o recebimento de matérias-primas: minerais e compostos diversos para o revestimento, em geral na forma de pó. arame para a fabricação da alma e o ligante. Estes materiais devem ser testados, a fim de se garantir a qualidade final do eletrodo. O material do revestimento é pesado e misturado a seco, segundo uma formulação desenvolvida pelo fabricante, para um dado tipo de eletrodo. Este material é posteriormente misturado com o ligante até formar uma massa de consistência adequada, cjue é levada à máquina de extrusão. Paralelamente, o arame é trefilado até o diâmetro desejado, desempenado, cortado em varetas de tama nho apropriado, pelo fabricante do arame ou do eletrodo e a seguir também colocado na extrusora. Nesta, a massa úmida que formará o revestimento é prensada, enquanto os pedaços de arame são alimentados, produzindo eletrodos a uma grande velocidade (entre 10 e 20 eletrodos por segundo). Os eletrodos úmidos caem em uma esteira rolante e são levados ao forno para secagem e cura do revestimento. O ciclo térmico a que são subme tidos, isto é, temperaturas e tempo de permanência, dependem do tipo de revestimento. Por exemplo, eletrodos básicos de baixo hidrogênio, que devem ter um teor muito baixo de umidade residual, são enfornados a temperaturas muito mais elevadas que eletrodos celulósicos, cujos componentes orgânicos do revestimento poderiam ser deteriorados pelo calor excessivo. Após a passagem pelo forno, os eletrodos são identificados com sua marca de fabricação e classificação e suas extremidades, que serão usadas para contato elétrico e abertura de arco, sendo convenientemente preparadas. Os eletrodos são então embalados e, antes de serem enviados para armazenamento e venda, são submetidos a testes de laboratório, para se confirmar a qualidade do lote. A Figura 6 mostra esquema ticamente a sequência de fabricação de eletrodos revestidos. E N T R A D A Materai para rcvosttmantc AjsoTierantes Arames Controle de Laboratorio ? Mistura seca tstoquo I òo pos ^prontos J Massa recuperada Pressão - vekxdado Conccntncidade Portas • ideotificaçAo Amostras prrtiminares Fusâo - fumos Cobertura/destacabildadc da escória Aparência do cordão Características econômicas Anãltse quimjca/dimensionaJ Umidade do revestimento Ensacs mecânicos e de sotdabftdade Figura 6 Esquema de fabricação de eletrodos revestidos 194 S8UM CEMFUNDAMENTOS E TECNOLOGIA Os eletrodos revestidos podem ser facilmente danificados se não forem adequadamente manuseados e armazenados. Por exemplo, parte do revestimento pode ser quebrada e perdida em caso de choques, quedas ou se o eletrodo for dobrado. Eletrodos com o revestimento danificado, com a alma exposta, não devem ser utilizados em aplicações que tenham um mínimo de responsabilidade. A absorção de umidade também pode comprometer o desempenho do eletrodo. Os eletrodos básicos, de baixo hidrogênio, cujo teor de umidade no revestimento é inferior a cerca de 0,6% em peso, apresentam uma grande tendência a absorver umidade do meio ambiente, como mostra a Figura 7. Um teor de umidade excessivo pode levar à instabilidade do arco, à formação de respingos e de porosidades, principalmente no início do cordão, e à fragilização e mesmo fissuração pelo hidrogênio. Eletrodos que possuem elementos orgânicos ou teores de umidade no revestimento mais elevados (>1%) são menos sensíveis ao problema. CL OT> a 2 £ => Figura 7 Absorção de umidade de um eletrodo revestido básico em função do tempo de exposição ao meio ambiente (esquemática) O nível de umidade em revestimentos básicos pode ser medido em laboratório (por exemplo, ver especificação AWS A 5.5) ou ser estimado, quando a quantidade for sufi cientemente elevada, através de: • comportamento do eletrodo durante a soldagem: eletrodos úmidos geram som explosivo e, quando a umidade for excessivamente elevada, vapor d 'água se desprende do eletrodo. Revestimentos úmidos tendem a trincar longitudinalmente se a soldagem for interrompida antes de se consumir todo o eletrodo e • som do choque: entre eletrodos úmidos tende a ser abafado e grave, enquanto que ele trodos secos tendem a produzir um som mais agudo, metálico. Devido ao problema da umidade, eletrodos básicos devem ser preferencialmente adquiridos em embalagens hermeticamente fechadas e armazenados em ambientes adequadamente controlados (umidade relativa do ar inferior a 50% e temperatura acima da ambiente, por exemplo), para se evitar sua degradação. Uma vez aberta, a embalagem CAPftUUMZ SOIDAGEM COM ELETRODOS REVESTIDOS perde a capacidade de proteger os eletrodos da umidade e estes devem ser guardados em estufas utilizadas apenas para este fim. A partir dos anos 80, alguns fabricantes ado taram um sistema especial de fornecimento de eletrodos para aplicações especiais em que pequenas quantidades (em tomo de 5 kg) são embaladas a vácuo e estes pacotes são fornecidos num conjunto maior (em torno de 20 kg), numa embalagem convencional. Os eletrodos básicos não devem permanecer fora da estufa por longos períodos de tempo (em geral, no máximo 2h), sob pena de absorverem uma quantidade excessiva de umidade. Caso isto aconteça, os eletrodos devem ser recondicionados, através de um tratamento de ressecagem, após o qual devem ser novamente armazenados em estufa. A Tabela VII ilustra condições de armazenagem e recondicionamento para diversos tipos de eletrodos. É importante lembrar que os dados desta tabela são apenas ilustrativos. Eletrodos de diferentes fabricantes podem exigir diferentes tratamentos, em função dos detalhes de sua fabricação, de modo que é sempre aconselhável consultar os fornecedores sobre as condições exatas de armazenamento e recondicionamento de seus produtos. Tabela VII - Exemplos de condições para ressecagem e conservação de eletrodos revestidos Ressecagem Tipo de eletrodo Temperatura (°C) Tempo (h) Básico 300 - 350 1,0 -2 ,0 Alto rendimento 250-300 1,0 -2 ,0 Rutflico 7 0 -9 0 1.0 -2 ,0 Ferro fundido 7 0 -9 0 1,0 -2 .0 Inoxidável rutflico 250 - 300 1.0 -2 ,0 Inoxidável básico 200 - 250 1.0 -2 ,0 Conservação: Temperatura (°C) Tipo de eletrodo Em estufa Em cochichos Básico 100-150 80 -150 Alto rendimento 100-120 80 -120 Ruttlico 5 0 -7 0 5 0 -7 0 Ferro fundido 5 0 -7 0 5 0 -7 0 Inoxidável 100-120 8 0 -120 A Figura 8 mostra um exemplo de esquema para armazenamento, processamento e uso de eletrodos de baixo hidrogênio. Normas técnicas de fabricação de equipamentos específicos, como vasos de pressão, podem estabelecer critérios especiais. SOLDAGEM rUNOAMENTOS E TECNOLOGIA Embalagem fechada Embalagem aberta Estufa de conservação Forno de w , ressecagem Figura 8 Esquema para manuseio de eletrodos de baixo hidrogênio 4. Técnica Operatória Na soldagem manual com eletrodos revestidos, as principais variáveis operatórias são: tipo e diâmetro do eletrodo; tipo, polaridade e valor da corrente de soldagem; tensão e comprimento do arco; velocidade de soldagem; técnica de manipulação do eletrodo e a sequência de deposição e soldagem. O diâmetro do eletrodo, seu tipo e espessura do revestimento determinam a faixa de cor rente em que este pode ser utilizado. Assim, a seleção do diâmetro deve ser baseada, entre outros fatores, na espessura do metal a ser soldado, na posição de soldagem e no tipo da junta. A utilização de um eletrodo excessivamente grande para uma dada espessura pode levar a perfuração da peça durante a soldagem, uma vez que a corrente mínima para esse eletrodo é elevada. A soldagem fora de posição (posição diferente da posição plana) é feita preferencial mente com eletrodos de menor diâmetro do que o utilizado na posição plana, devido à maior dificuldade de se controlar a poça de fusão. Na soldagem em chanfro, as dimensões do chanfro também devem ser consideradas na escolha do diâmetro do eletrodo. Por exemplo, na execução do passe de raiz, o diâmetro do eletrodo deve permitir que este penetre até a raiz da junta, de modo a evitar a falta de penetração e outros problemas. Em princípio, por questões econômicas, deve-se usar o maior diâmetro de eletrodo possível para uma dada tarefa, desde que não existam lim ites para a energia de soldagem, por questões de ordem metalúrgica. A faixa de corrente utilizável para um dado eletrodo depende principalmente de seu diâmetro e do material da alma, do tipo e espessura do revestimento e da posição de soldagem. Para cada tipo de eletrodo, existe uma faixa de corrente de soldagem para cada diâmetro de alma. Correntes inferiores à corrente mínima podem instabilizar o arco e causar aquecimento e fusão insuficientes, e correntes superiores à máxima recomendada podem prejudicar o revestimento devido ao seu aquecimento excessivo por efeito Joule. Eletrodos com revestimentos espessos e isentos de substâncias orgânicas frequente mente suportam correntes mais elevadas, como mostra a Tabela VIII. Em geral, as faixas de corrente utilizáveis para cada diâmetro de eletrodo são apresentadas na embalagem do produto. / CAPÍTUIO 12 I , q - i SOLDAGEM COM ELETRODOS REVESTIDOS | ‘ “ ' Tabela V III - Faixas típicas de parâmetros elétricos de operação para diferentes eletrodos revestidos, em função de seu diâmetro Eletrodo AW S E 6010 AWS E 7018 Bitola Corrente Tensão Corrente Tensão (mm) (A) (V) (A) (V) 2,0 5 0 - 70 5 0 - 90 2.5 60 -100 65 - 105 3,25 80-150 110-150 18 -28 2 0 -3 0 4 105-205 140-195 5 155-300 185-270 6 195-350 225 - 355 Para a soldagem na posição plana, trabalha-se, em geral, com correntes próximas do valor máximo possível para cada eletrodo. Para as posições vertical e sobrecabeça, é mais adequado trabalhar com correntes próximas ao lim ite inferior. 0 valor da corrente de soldagem deve ser escolhido de modo a se conseguir uma fusão e penetração adequadas, sem contudo tornar difícil o controle da poça de fusão. A corrente de soldagem é o principal parâmetro que controla o volume da poça de fusão e a penetraçãoda solda no metal base, que tendem a aumentar com o aumento da corrente, assim como a largura do cordão. Correntes muito elevadas produzem poças de fusão de grandes dimensões e difícil controle, além de poderem causara degradação do revestimento, respingos excessivos e perda de resistência mecânica e tenacidade da solda. O tipo de corrente e sua polaridade afetam a forma e as dimensões da poça de fusão, a estabilidade do arco e a transferência de metal dé adição, como mostra a Figura 9. De uma maneira geral, a polaridade inversa (CC+) produz maior penetração, e a polaridade direta (CC-) produz maior taxa de fusão do eletrodo. Com corrente alternada, estes valores são intermediários, e a ocorrência de sopro magnético é minimizada. Entretanto, deve-se lembrar que a escolha do tipo e valor de corrente não é totalmente livre e depende do tipo e diâmetro do eletrodo a ser usado na operação. 1 9 8 SOLDAGEM FUNDAMENTOS E TECNOLOGIA (a) (b) (c) Figura 9 Influência do tipo de corrente e da polaridade na penetração: (a) C C +. (b) CC- e (c) CA A tensão no arco pode variar entre cerca de 17 e 36 V na soldagem com eletrodos revestidos, dependendo do diâmetro do eletrodo, de seu revestimento, da corrente usada e do comprimento do arco (Tabela VIII). A tensão de operação do arco tende a aumentar com o aumento do diâmetro do eletrodo, da corrente de soldagem e do comprimento do arco. Na soldagem manual, este último parâmetro é controlado diretamente pelo sol dador, e depende da habilidade e experiência deste. A manutenção do comprimento do arco em uma faixa adequada é importante para a obtenção de uma solda aceitável. Um comprimento muito pequeno causa um arco intermitente, com interrupções frequentes e até mesmo sua extinção, quando o eletrodo "gruda" na peça. Cordões depositados com arcos mais curtos tendem a ser estreitos e com concavidade pronunciada (reforço excessivo). De outro lado, um comprimento grande causa um arco sem direção e concen tração, mais respingos e proteção deficiente, que favorece a formação de porosidades. O comprimento correto do arco depende do diâmetro do eletrodo, do tipo de revestimento, do valor da corrente e da posição de soldagem. Como orientação, o comprimento do arco deve ficar entre 0,5 e 1,1 vezes o diâmetro da alma do eletrodo. A velocidade de soldagem deve ser escolhida de forma que o arco fique ligeiramente à frente da poça de fusão. O uso de velocidades muito altas resulta em cordões estreitos e baixa penetração, de aspecto ruim, com mordeduras e escória de difícil remoção. Velocida des muito baixas causam um cordão mais largo, com penetração e reforço excessivos. A correta manipulação do eletrodo é importante em todas as etapas da soldagem, quais sejam: abertura do arco, deposição propriamente dita e extinção do arco. Na abertura, o eletrodo é encostado rapidamente na superfície da peça, preferencialmente numa região a ser fundida e próxima ao início do cordão, e afastado a uma distância da ordem do comprimento de arco a ser usado, como mostra a Figura 10. A abertura do arco em uma região que não será fundida deixa marcas (marca de abertura de arco) na superfície da peça, que podem ser antiestéticas e mesmo causar a iniciação de trincas, por exemplo, em aços temperáveis. cap itu lo 12 1 q q SOLDAGEM COM ELETRODOS REVESTIDOS i 133 10 mm 3 Aproximadamente Li (a) Manipulação mais rápida M _ 20-25 (b) Ponto de abertura do arco Ponto de abertura do arco (c) Figura 10 Técnicas de abertura de arco (a e b) e procedimento para início de deposição (c) de um eletrodo Durante a execução da solda, o soldador deve fazer três movimentos principais: • movimento de mergulho, isto é. movimento de avanço do eletrodo em direção à poça de fusão, de modo a manter constante o comprimento do arco. Para isto, a velocidade de mergulho deve ser igual à velocidade de fusão do eletrodo, em média. Esta última aumenta com a corrente de soldagem e à medida que o comprimento do eletrodo diminui; • movimento de translação, que é o deslocamento do eletrodo e do arco ao longo da junta, com uma velocidade uniforme (velocidade de soldagem);e • movimento de tecimento, isto é, um deslocamento lateral do eletrodo em relação ao eixo da solda utilizado para obter um cordão mais largo, fazer flutuar a escória, garantir a fusão das paredes do chanfro e para controlar a poça de fusão, além de tornar mais suave o ciclo térmico de soldagem. Este movimento, entretanto, não deve ser muito amplo (em geral não deve exceder a três vezes o diâmetro do eletrodo), para não aumentar demais a energia de soldagem. O número de padrões de tecimento é extenso e alguns deles são mostrados na Figura 11. Figura 11 Exemplos de padrões de tecimento Além dos movimentos, é importante a manutenção de um correto posicionamento do eletrodo em relação à junta, que depende do tipo e espessura do revestimento do eletrodo, da geometria da junta e da posição de soldagem. O posicionamento correto deve: • evitar que a escória flua à frente da poça da fusão, prevenindo seu aprisionamento e for mação de inclusões; • controlar a repartição do calor nas peças, particularmente na soldagem de componentes com diferentes espessuras; • facilitar a observação da poça de fusão; e • minimizar os efeitos do sopro magnético, quando necessário. O posicionamento e movimentação adequados do eletrodo em uma dada operação dependerão de suas características e também da habilidade do soldador. As Figuras 12 a 15 mostram alguns exemplos. Direçáo de Soldagem Figura 12 Posicionamento para soldagem na posição plana CAPÍTULO 12 I « « , SOLDAGEM COM ELETRODOS REVESTIDOS ' Figura 13 Posicionamento para soldagem na posição horizontal Figura 14 v Posicionamento para soldagem nas posições vertical ascendente (a) e descendente (b) Rgura 15 Posicionamento para soldagem de filete em peças de (a) mesma espessura e (b) espessuras diferentes A discussão das sequências de deposição de passes para a conclusão da solda e sequência de execução de diferentes soldas em uma estrutura é apresentada no Capítulo 7, que trata das tensões residuais e distorções causadas por soldagem. Quando a soldagem vai ser reiniciada (após troca de eletrodo ou para deposição de novo passe, por exemplo), a escória deve ser removida. Esta operação é feita com o auxílio de ferramentas adequadas (picadeira manual ou pneumática) e pode ser simples ou complexa. O grau de dificuldade na remoção da escória depende do tipo de revestimento do eletrodo usado, da geometria do cordão de solda depositado, da movimentação executada e das dimensões do chanfro, se este for usado. A destacabilidade da escória pode ser um parâmetro determinante/ha escolha de um eletrodo para uma dada aplicação. Quando a remoção da escória é apenas parcial são geradas inclusões que podem comprometer a qualidade da peça soldada, e em certos casos a solda precisa ser retirada e refeita. A Figura 16 mostra um cordão de solda feito com eletrodo revestido, com remoção da escória no trecho final. o n o SOLDAGEM , FUNDAMENTOS E TECNOLOGIA / j r r r r ; - t - t •* i'""-* 5. Aplicações Industriais Como se viu no início deste capítulo, a soldagem com eletrodos revestidos é um processo muito usado industrialmente em praticamente todos os tipos de indústria que utilizam a soldagem como processo de fabricação. Além disso, esse processo é largamente usado na manutenção de equipamentos e estruturas e pode ser usado em situações de emergência para outras operações como corte, furação etc., com o uso de técnicas especiais. A soldagem com eletrodos revestidos também tem sido intensamente usada na manutenção de estruturas submersas, em soldagem subaquática, em ambientes molhados ou secos. Isto se deve à grande versatilidade do processo em termos de ligassoldáveis e faixas de espessura aplicáveis, além da simplicidade e baixo custo relativo do processo em si e dos equipamentos necessários. Por outro lado, o nível de qualidade das soldas feitas com eletrodos revestidos depende fortemente do soldador, exigindo do profissional muita habilidade e concentração, que só são conseguidos com muito treino e execução de muitas soldas. Com isto, a formação de mão de obra qualificada é demorada e onerosa e, ainda assim, um bom soldador, tra balhando com equipamentos e consumíveis adequados não necessariamente produzirá soldas de qualidade, se não estiver totalmente concentrado e empenhado na tarefa que esteja executando no momento. CAPÍTUL012 o n o SOIDAGEM COM ElETnOOOS REVESTIDOS 6. Exercícios e Práticas de Laboratório a) O "fator de ocupação do soldador" e o "fator de trabalho" são iguais na soldagem com eletrodos revestidos? Explique. b) Que fatores devem ser considerados na escolha de um eletrodo revestido para uma dada tarefa? c) Por que a utilização relativa do processo eletrodos revestidos vem diminuindo a cada ano na década de 1990, se o processo tem tantas vantagens? d) Tendo todas disponíveis, que tipo de corrente você escolheria para soldar com um eletrodo revestido indicado para soldar com qualquer corrente e polaridade, como o AWS E 6013, por exemplo? Justifique. e) Experimente depositar cordões de solda com eletrodos revestidos de diferentes tipos e diâmetros, nas diversas posições, com e sem tecimento. Varie os parâmetros de soldagem: velocidade de deslocamento, valor e tipo de corrente e polaridade. Anote suas observa ções e discuta com os colegas os resultados obtidos. Tente explicar o observado com os conhecimentos adquiridos neste capítulo. f) Discuta quais as características necessárias a uma pessoa que deseja se tornar um soldador. g) Cite algumas precauções a serem tomadas na soldagem com eletrodos revestidos, do ponto de vista da segurança pessoal e de terceiros. í . CAPÍTULO 13 SOLDAGEM TIG 1. Fundamentos A soldagem a arco com eletrodo de tungsténio e proteção gasosa (Gas Tungsten Arc Welding - GTAW) é um processo no qual a união de peças metálicas é produzida pelo aquecimento e fusão destas através de um arco elétrico estabelecido entre um eletrodo i, de tungsténio, não consumível, e as peças a unir. A proteção da poça de fusão e do arco contra a contaminação pela atmosfera é feita por uma nuvem de gás inerte ou mistura de gases inertes. A soldagem pode ou não ser feita com adição de metal de adição e, quando usada, é feita diretamente na poça de fusão. A Figura 1 ilustra o processo, que também é conhecido por TIG (Tungsten Inert Gas). Metal de base \ Figura 1 Soldagem TIG (esquemática) Poça de fusão Uma característica importante deste processo é o excelente controle da energia transferida para a peça, devido ao controle independente da fonte de calor e da adição de metal de enchimento, semelhantemente ao que ocorre na soldagem oxiacetilênica. Isso torna o processo bastante adequado para a soldagem de peças de pequena espessura e, aliado à eficiente proteção contra a contaminação, permite a soldagem de materiais de difícil soldabilidade, com ótimos resultados. O fato de o eletrodo ser não consumível possibilita a soldagem sem a adição de metal de enchimento. Isso pode ser interessante na soldagem de chapas finas. Além disso, como não existem reações metal-gás e metal-escória, não há grande geração de fumos e vapores, o que permite ótima visibilidade para o soldador. O custo dos equipamentos necessários e dos consumíveis usados é alto, e a produtivi dade ou rendimento do processo é baixo, quando comparados à soldagem com eletrodos revestidos, o que limita a sua aplicação a situações em que a qualidade da solda produzida seja mais importante que a produtividade ou o custo da operação. O arco elétrico na soldagem TIG é bastante estável, suave e produz, em geral, soldas com boa aparência e acabamento, que exigem pouca ou nenhuma limpeza após a operação. A operação é normalmente manual e pode ser feita em qualquer posição, embora a mecanização do processo seja também comum e fácil de ser implementada, com o uso de dispositivos auxiliares de soldagem adequados. Este processo é aplicável à maioria dos metais e suas ligas, numa ampla faixa de espes suras. Entretanto, em virtude de seu custo relativamente elevado, é usado principalmente na soldagem de metais não ferrosos e aços inoxidáveis, na soldagem de peças de pequena espessura (da ordem de 1 a 2 mm) e no passe de raiz na soldagem de tubulações. Outra característica típica da soldagem TIG é a possibilidade de se usar o próprio metal de base como metal de adição quando este não estiver disponível comercialmente, bastan do para isto cortar pedaços do metal de base com uma forma apropriada, particularmente para a soldagem manual. n n c ! SOLDAGEM 0 FUNDAMENTOS E TECNOLOGIA 2. Equipamentos O equipamento básico usado na soldagem TIG consiste de uma fonte de energia elétrica, uma tocha de soldagem apropriada, uma fonte de gás protetor, um dispositivo para a abertura do arco. cabos e mangueiras. Diversos equipamentos auxiliares podem ainda ser usados na soldagem manual ou mecanizada, para permitir melhor controle do processo, maior produtividade, facilidade de operação etc. A Figura 2 mostra um esquema do equipamento básico de soldagem TIG, a Figura 3-a mostra uma fonte eletrônica de uso industrial e a figura 3-b mostra o módulo de controle de uma fonte pulsada. CAPÍTULO 13 ] o n * 7 SOLDAGEM HG i Z U / Figura 2 Equipamento básico para soldagem TIG (esquemático) (a) (b) Figura 3 (a) Fonte eletrônica de uso industriai e (b) módulo de controle de uma fonte pulsada para soldagem TIG A fonte de corrente elétrica necessária é do tipo corrente constante, com valor de saída ajustável para cada operação e pode ser contínua, alternada ou pulsada. Quanto às suas características construtivas, podem ser convencionais ou eletrônicas, sendo que nos últimos anos a tendência é de se usar fontes eletrônicas. Algumas fontes convencionais podem fornecer tanto corrente contínua como corrente alternada, e as fontes eletrônicas também permitem operação com corrente pulsada e têm seu controle baseado no uso de tiristores ou transistores. Em termos de capacidade, as fontes para soldagem TIG fornecem uma corrente mínima em torno de 5 a 10 A e corrente máxima na faixa de 200 a 500 A. As fontes para soldagem TIG são, dos pontos de vista construtivo e operacional, semelhantes às fontes para soldagem com eletrodos revestidos, mas em geral apresentam possibilidade de ajuste de corrente mais preciso e menores valores de corrente mínima de operação. Além disso, elas podem ser equipadas com dispositivos para abertura de arco, 208 SOLDAGEMFUNOAMÍNTOS E TECNOLOGIA temporizadores e válvulas para controle do fluxo de gás, sistemas para refrigeração da tocha de soldagem, pedais para controle da corrente, dentre outros acessórios específicos para este processo. Muitas vezes, as fontes adequadas para um destes processos podem também ser usadas para outro. A tocha de soldagem tem como função suportar o eletrodo de tungsténio e fornecer o gás de proteção de forma apropriada. Existem tochas refrigeradas pelo próprio gás de proteção (capacidade até 150 A) ou a água (capacidade acima de 150 A, até 500 A, de modo geral). Neste caso é comum a fonte ter um circuito fechado de refrigeração com posto por um reservatório, motor elétrico, bomba e radiador. As tochas TIG possuem internamente uma pinça, que serve para segurar o eletrodo de tungsténio e fazer contato elétrico e que deve ter um tamanho adequado para cada diâmetro de eletrodo. Elas possuem ainda bocais para direcionamento do fluxo de gás, que podem ser cerâmicos ou metálicos e são fornecidos emdiversos diâmetros. O diâmetro do eletrodo e do bocal deve ser escolhido em função da espessura da peça a ser soldada e da corrente de soldagem a ser usada. A Figura 4 mostra uma tocha típica para soldagem TIG. (a) (b) Figura 4 Tocha para soldagem TIG montada (a), desmontada (b) Dispositivos especiais podem ser usados nas tochas para melhorar a eficiência da proteção gasosa em situações especiais como os "gas lens” , que são telas com malha bastante fina, colocadas entre o eletrodo e o bocal, para garantir um fluxo de gás laminar e os “trailing shields", que consistem de um segundo bocal para saída de gás, geralmente comprido e colocado atrás da tocha, visando a proteger uma área maior do cordão de solda, durante o resfriamento pós-soldagem. A fonte de gás protetor consiste de um cilindro ou cilindros de gás inerte e reguladores de pressão e vazão de gases. Em situações em que diferentes misturas de gás devem ser usadas com certa frequência, m isturadores podem ser uma opção interessante. M isturadores para vários gases estão disponíveis com ercia lm ente, mas podem tam bém ser construídos para s ituações específicas, em geral envolvendo apenas dois gases, como mostra a Figura 5. Economizadores de gás e válvulas elétricas (solenoide) podem tam bém ser usados para otim izar o consum o e a operação. CAPITULO 13 [ o n o SQLOAGEMTIG Figura 5 (a) Misturador de gases comercial e (b) fabricado para aplicação especifica Na soldagem com eletrodos consumíveis, geralmente se faz a abertura do arco tocando o eletrodo na peça e estabelecendo um "curto-circuito" momentâneo. Na soldagem TIG isto não é recomendado, pois pode favorecer a transferência de tungsténio para a peça, além de danificar o eletrodo, que geralmente é apontado antes do início da operação. Vários dispositivos podem ser usados para permitir o início do arco de forma conve niente, como uso de um arco-piloto, de um "ignitor de alta frequência" e controle da cor rente inicial. Arco-piloto necessita de eletrodo e fonte de corrente secundários e é pouco usado. Rampa de corrente é usada apenas em fontes eletrônicas e permite a abertura com toque do eletrodo na peça, mas com uma corrente inicial bastante reduzida, de uns poucos Ampères, insuficiente para permitir sua fusão e transferência para a peça. Após a abertura, a corrente no arco é elevada até o valor de operação selecionado. Já o ignitor de alta frequência é um aparelho que gera, superposto à corrente de soldagem, um sinal de alta tensão e de alta frequência, com valores em torno de 3 kV e 5 kHz, que produz a ionização da coluna de gás entre o eletrodo e a peça, permitindo a abertura do arco com baixas tensões na fonte de soldagem, da ordem de 60 a 80 V. Apesar de ser de alta tensão, este sinal é de baixíssima potência e não oferece perigo para o operador. Os cabos são usados para conduzir a corrente de soldagem, e o diâmetro destes cabos deve ser compatível com a corrente de soldagem usada, como já visto anteriormente em outros capítulos, e as mangueiras são usadas para conduzir o gás ou mistura e, se for o caso, água para refrigeração até a tocha de soldagem. Vários equipamentos ou sistemas auxiliares podem ser usados para facilitar ou me canizar a operação de soldagem, como posicionadores, dispositivos de deslocamento, controladores automáticos de comprimento de arco, alimentadores de arame, osciladores do arco de soldagem, temporizadores etc. Os posicionadores são usados, em geral, para perm itira soldagem sempre na posição plana. Diversos tipos de posicionadores estão disponíveis comercialmente. A Figura 6 mostra alguns deles. 9 1 ^ SOLDAGEM ^ 1 U | FUNDAMENTOS E TECNOLOGIA Figura 6 Alguns tipos de posicionadores usados em soldagem Os dispositivos de deslocamento são usados para movimentar a tocha de soldagem ou a peça, permitindo um melhor controle e uniformidade da velocidade de soldagem e podem variar desde simples "tartarugas" até servomotores com controle numérico, por exemplo. Os controladores automáticos de comprimento do arco são sistemas que mantêm constante a distância da ponta do eletrodo até a peça de soldagem, baseados na tensão do arco, e possibilitam um melhor resultado na soldagem de peças empenadas ou ova- lizadas, por exemplo. Os alimentadores de arame são usados para mecanizar a alimentação de arame de adição e permitir melhor controle e uniformidade da adição de metal à junta. Os osciladores do arco permitem o tecimento do cordão de solda na soldagem me canizada e podem ser mecânicos ou eletromagnéticos. De modo geral perm item ajustar a amplitude e a frequência de oscilação, além do formato desta. Os temporizadores permitem controlar o início e o fim de operação dos diversos dispositivos auxiliares de soldagem, controlar o fluxo de gás e "sincronizar a operação de todo o sistema de soldagem. Outros dispositivos são, por exemplo, controle de pedal para a corrente de soldagem, "gatilho" (interruptor) na tocha de soldagem, que permite o comando do fluxo de gás e/ou outros dispositivos, sistema para fornecimento de gás de proteção na raiz da junta etc. Sistemas compostos por vários destes dispositivos têm sido montados para realizar operações específicas, por exemplo, para a soldagem orbital de tubos, particularmente os passes de raiz. Nestes sistemas, algumas características especiais de controle de parâmetros podem ser introduzidas, como a alimentação pulsada de arame, sincronizada com a pulsação de corrente, oscilação com paradas do arco nas extremidades laterais do chanfro, para garantir fusão do metal de base, soldagem com diferentes parâmetros nas diferentes posições durante a órbita, entre outros. CAPÍTULO 13 SOLDAGEM TIG 3. Consumíveis Os consumíveis principais na soldagem TIG são os gases de proteção, as varetas e arames de metal de adição. Os eletrodos de tungsténio, apesar de serem ditos não con sumíveis, se desgastam durante o processo, devendo ser recondicionados e substituídos com certa frequência, e por isso serão tratados nesta seção. Bocais para tochas também se degradam com o uso e precisam ser substituídos com alguma frequência. Os gases de proteção usados na soldagem TIG são inertes, principalmente o argônio, o hélio e misturas destes. Em alguns casos são usadas misturas especiais como as que contêm hidrogênio, que podem ser usadas na soldagem de aços inoxidáveis, e as que contêm nitrogênio, opcionais na soldagem de cobre e suas ligas. A pureza dos gases utilizados na soldagem TIG é de grande importância para a qua lidade da solda, exigindo-se teores mínimos de 99,99% do gás ou gases considerados. O teor de umidade também deve ser bem controlado. Comparando-se a soldagem com argônio e com hélio, têm-se as seguintes caracte rísticas: • melhor estabilidade do arco com argônio que com He • menor consumo de Ar, já que este é mais denso que o He • menores tensões de arco com Ar que com He • menor custo do Ar • maior penetração na soldagem com He que com Ar • maior facilidade na abertura do arco com Ar • melhor efeito de limpeza dos óxidos na soldagem com corrente alternada (ver técnica operatória) com Ar • possibilidade de uso de maiores velocidades de soldagem com He. A soldagem com misturas de gases de proteção apresenta características intermedi árias, dependendo da proporção. Misturas 80% Ar/20% He reúnem as melhores carac terísticas da soldagem com cada um desses gases isoladamente. A seleção do gás de proteção é feita principalmente em função do tipo de metal que se quer soldar, da posição de soldagem e da espessura das peças a unir. A Tabela I ilus tra algumas aplicações típicas. A especificação AWS A 5.32 trata de gases de proteção para soldagem. s, f 212 S010AQCI8FUNOAKEKTOSITECNOUSOA Tabela I - Gases de proteção e tipos de corrente usuais na soldagem de diferentesligas Material Espessura (mm) Gás de proteção e tipo de corrente* Soldagem manual Soldagem mecanizada Alumínio e < 3.2 Ar. CA Ar, CA ou He. CC- suas ligas > 3,2 Ar. CA Ar-He, CA ou He, CC- Aço < 3,2 Ar. CC- Ar. CC- Carbono > 3,2 Ar, CC- Ar-He, CC- ou He. CC- Aço < 3.2 Ar. CC- Ar-He. CC- ou Ar-H., CC- Inoxidável > 3,2 Ar-He, CC- He CC- Níquel e < 3.2 Ar.CC- Ar-He, CC- ou He, CC- suas ligas > 3,2 Ar-He, CC- HeCC- Cobre e < 3.2 Ar-He. CC- Ar-He, CC- suas ligas > 3,2 He. CC- He CC Titânio e < 3,2 Ar, CC Ar. CC- ou Ar-He, CC suas ligas > 3,2 Ar-He, CC- He CC- * Misturas Ar-He com até 75% He e Ar-H2 com até 15% H2. CA - corrente alternada, CC- corrente contínua, eletrodo negativo O metal de adição para a soldagem manual é fornecido na forma de varetas com comprimento em torno de 1 m. Para a soldagem mecanizada, o metal é fornecido na forma de um fio enrolado em bobinas com diferentes capacidades, dependendo do equipamento usado. Os diâmetros dos fios e varetas são padronizados e variam entre 0,5 e 5 mm aproximadamente. Metais de adição estão disponíveis numa ampla faixa de materiais e ligas. Geralmente a composição química de metais de adição tem limites de tolerância muito inferiores aos de metal de base do mesmo tipo e custo bem mais elevado. Eles são classificados de acordo com sua composição química e com as propriedades mecânicas do metal depo sitado. A Tabela II apresenta as principais normas de classificação da AWS para metais de adição para a soldagem TIG. Tabela II - Especificações AWS para metais de adição adequados à soldagem TIG Especificaçáo Tipo de metal de adição AWS A 5.7 Arames e varetas para a soldagem de cobre AWS A 5.9 Arames e varetas para a soldagem de aços inoxidáveis AWS A 5.10 Arames e varetas para a soldagem de alumínio AWS A 5.14 Arames e varetas para a soldagem de níquel AWS A 5.15 Arames e varetas para a soldagem de ferro fundido AWS A 5.16 Arames e varetas para a soldagem de titânio V AWS A 5.18 Arames e varetas para a soldagem de aço carbono AWS A 5.19 Arames e varetas para a soldagem de magnésio AWS A 5.21 Arames e varetas para revestimento AWS A 5.22 Arames e varetas tubulares para soldagem de aços inoxidáveis . AWS A 5.24 Arames e varetas para a soldagem de zircônio AWS A 5.28 Arames e varetas para a soldagem de aços de baixa liga CAPfnjioia U « « SOU5AGEMTB A escolha do metal de adição para uma determinada aplicação é feita em função da composição química è das propriedades mecânicas desejadas para a solda. Em geral se usa metal de adição de composição similar à do metal de base. mas não necessariamente idêntica. Fatores como compatibilidade metalúrgica, adequabilidade á operação e custo também devem ser considerados. O diâmetro do fio ou vareta é escolhido em função da espessura das peças a unir, da quantidade de material a ser depositado e dos parâmetros de soldagem. Os catálogos dos fabricantes geralmente apresentam informações úteis na escolha de metal de adição e aplicações típicas dos produtos. Os eletrodos mais comumente usados na soldagem TIG são varetas sinterizadas de tungsténio puro ou com adição de óxido de cério, lantânio, tório ou zircônio e sua função é conduzir a corrente elétrica até o arco. A capacidade de condução varia com a composição química, com o diâmetro do eletrodo e com o tipo de corrente de soldagem a ser usada. Eletrodos contendo tório têm sido evitados, já que este elemento é radioativo e pode ser inalado durante a afiação do eletrodo por abrasão, apesar da pequena quantidade. Eletrodos de tungsténio puro têm menor custo e, geralmente, são usados com corrente alternada, em aplicações mais simples. Eletrodos com adição de óxidos apresentam melhor desempenho que eletrodos de tungsténio puro em termos de estabilidade de arco e durabilidade. Os eletrodos de tungsténio normalmente são apontados por meios químicos ou mecâ nicos, antes de se iniciar a operação de soldagem e, no caso de soldagem mecanizada, a configuração da ponta do eletrodo pode ser uma variável importante para se garantir uma boa repetitividade de resultados. As Tabelas III e IV apresentam, respectivamente, a composição química e as faixas de corrente usuais para eletrodos para soldagem TIG. A seleção do tipo e diâmetro do eletrodo a ser usado numa dada situação é feita em função do material que vai ser soldado, da espessura da peça e do tipo e valor da corrente de soldagem que vai ser usada. Tabsia III - Composição química de eletrodos de tungsténio (AWS A 5.12) Classificação AWS Composição química (% peso) Tungsténio (min) Ce02 K O , Th02 Zr02 Outros* (Max) EWP 99,5 - - - - 0.5 EWCe-2 97,3 1.8 a 2.2 - - - 0.5 EWla-1 98,3 - 0,8 a 1.2 - - 0.5 EWLa-1.5 97,8 - 1.3 a 1.7 - - 0.5 EWLa-2 . 97,3 - 1,8 a 2.2 - - 0.5 EWTh-1 98,3 - 0.8 a 1.2 - 0.5 EWTh-2 97,3 - 1.7 a 2,2 - 0.5 EWZr-1 99.1 - - - 0.15 a 0,40 0.5 EWG 94,5 # # # # # * - Outros óxidos ou elementos # - Não especificado 214 n m a«M snu e m m ioGiA Tabela IV - Valores típicos de corrente para eletrodos de tungsténio Diâmetro do Corrente (A) e polaridade eletrodo (mm) CC- CC+ CA balanceada CA não balanceada EWX-X EWX-X EWP EWX-X EWP EWX-X 0,30 Até 15 « Até 15 Ató 15 Até 15 Até 15 0,50 5 - 2 0 • 1 0 -2 0 5 - 20 5 - 15 5 - 20 1.0 1 5 -8 0 « 2 0 -6 0 1 5 - 80 1 0 - 30 2 0 - 60 1.6 70 -1 5 0 1 0 -2 0 5 0 -1 0 0 7 0 -1 5 0 3 0 -8 0 60 -120 2.4 150-250 1 5 -3 0 100-160 140 - 235 6 0 -1 3 0 100- 180 3.2 250 - 400 2 5 -4 0 150 - 200 225 - 325 100-180 160 - 250 4,0 400 - 500 4 0 -5 5 200-275 300 - 400 160 - 240 200 - 320 4.8 500-750 5 5 -8 0 250 - 350 400 -50 0 190 - 300 290 - 390 6,4 750-1000 8 0 -1 2 5 325 - 450 500 - 630 250 - 400 340 - 525 (*) Não usado, CC- Corrente contínua eletrodo negativo, CC+ Corrente contfnua, eletrodo positivo e CA Corrente attemada e ignitor de alta frequência. 4. Técnica Operatória_______________ Antes de se iniciar a soldagem, é indispensável a remoção de óleo, graxa, sujeira, tinta, ferrugem ou qualquer outra contaminação existente no metal de base. Esta remoção pode ser feita por meios mecânicos (lixamento, escovamento etc.), ou químicos (decapagem, lavagem etc.), usando agentes líquidos ou gasosos. É recomendável que se inicie a vazão de gás inerte alguns segundos antes da abertura do arco. Este tempo é normalmente chamado de "pré-purga" de gás. Decorrido este tempo, faz-se abertura do arco, usando-se um ignitor de alta frequência ou outro meio. A seguir, deixa-se a tocha parada por um certo tempo para que haja a formação da poça de fusão. Quando esta atinge um volume ou tamanho adequado, inicia-se o movimento de translação da tocha ao longo da junta e. se for o caso. o movimento de tecimento e a adição de metal. A adição de metal é feita na poça de fusão, normal mente à frente da tocha de solda gem. com a vareta ou bico de saída de arame formando um ângulo em torno de 15o com a peça. Deve-se ter o cuidado de não se retirar a ponta aquecida da vareta da nuvem protetora de gás inerte, para não contaminá-la. A adição de metal pode ser contínua ou intermitente. Ao final da junta, faz-se a extinção do arco, preferencialmente através de uma chave que abre o circuito de soldagem, interrompendo a passagem de corrente. Com a tocha ainda sobre a última parte soldada, deixa-se que ocorra fluxo de gás inerte por um tempo de até 30 segundos, conhecido como "pós-purga" de gás. CAFftumi3 l o t e soitwcaiTC | * ,a Caso não seja possível este procedimento, o arco pode ser extinto pelo afastamento da tocha a alguns centímetros da peça. Tal procedimento, entretanto, não é recomendado, pois possibilita a contaminação do final do cordão pela atmosfera. Este problema pode ser contornado extinguindo-se o arco fora da região de interesse ou fora da junta.A posição da tocha na soldagem mecanizada é perpendicular ao plano da peça que está sendo soldada. No caso da soldagem manual, a tocha pode ser ligeiramente inclinada em relação à direção de soldagem, para facilitar a visão do soldador. Na soldagem em juntas de ângulo formando "quinas", peças auxiliares podem ser usadas para formar um anteparo e favorecer a proteção gasosa. Na soldagem com corrente contínua, o ignitor de alta frequência é usado apenas para a abertura de arco, podendo ser desligado logo após a ignição. Em geral, o próprio aparelho já apresenta um dispositivo que interrompe a ação de centelhamento do ignitor quando o arco está em operação. Na soldagem com corrente alternada com uma fonte convencional, como a corrente de soldagem se anula a cada inversão de polaridade, o arco tende a se extingir quando a corrente é muito baixa ou nula. Assim, o ignitor de alta frequência deve permanecer ligado durante toda a operação, a fim de estabilizar a descarga elétrica. Já na soldagem com corrente alternada com uma fonte eletrônica, a mudança de polaridade se dá num tempo muito curto e em geral não há necessidade de uso de dis positivos para reabertura do arco a cada inversão. O sinal de alta frequência gerado pelo ignitor pode interferir na operação de circuitos eletrônicos que estejam próximos. De modo geral, cuidados especiais devem ser tomados, quando houver aparelhos deste tipo próximos à área de soldagem. As principais variáveis operatórias da soldagem TIG são o comprimento do arco, a corrente, a velocidade de soldagem e a vazão de gás de proteção. O comprimento do arco é a distância entre a ponta do eletrodo e a peça de trabalho. Para uma dada corrente de soldagem e gás de proteção, a tensão do arco aumenta com o aumento deste. Em geral, quanto maior o comprimento do arco, mais raso e largo é o cordão de solda. No caso de soldagem com adição, também o reforço do cordão tende a diminuir com o aumento do comprimento do arco. Arcos muito curtos ou muito longos tendem a ser instáveis, o que favorece a formação de descontinuidades como porosida- des, falta de fusão e mordeduras. A corrente de soldagem é selecionada diretamente na fonte de energia. Quanto maior a corrente, maior é a penetração e a largura do cordão. Para outros parâmetros constantes, o reforço do cordão tende a diminuir com o aumento da corrente, no caso de soldas com adição de metal. A geometria do cordão de solda varia com o tipo de corrente usada. A Figura 7 mostra algumas características da soldagem feita com os diferentes tipos de corrente e polaridade. SOLDAGEM FUNDAMENTOS E TECNOLOGIA Tipo de Corrente: CC- CC+ _ÇA_ Polaridade do eletrodo Negativa ou direta Positiva ou inversa Alternada Fluxo de elétrons e íons Perfil do cordão I f íons^B (^Elétrons Limpeza de óxido: Não Sim Sim (meio ciclo) Balanço de calor (aproximado): 70% na peça 30% no eletrodo 30% na peça 70% no eletrodo 50% na peça 50% no eletrodo Penetração Estreita e profunda Rasa e superficial Intermediária Aplicações Aço, Cu, Ag, Aços Inoxidáveis e ligas resistentes ao calor Ai, Mg (somente para baixas correntes e espessuras) Al, Mg e suas ligas com maiores correntes e espessuras Figura 7 Efeito do tipo de corrente e polaridade na soldagem TIG (esquemática) O efeito de limpeza referido na figura consiste na remoção de camadas superficiais de óxidos do metal de base, pela ação do arco elétrico, quando o eletrodo é positivo. Assim, na soldagem de metais fortemente reativos, como o alumínio, o magnésio e o titânio, este tipo de corrente e polaridade seria bastante vantajoso. Contudo, como o balanço térm ico nesta situação é muito desfavorável, levando a um processo extremamente ineficiente, esta condição somente é usada na soldagem de peças .muito finas. Uma situação intermediária é obtida na soldagem com corrente alternada, como mostrado na Figura 5, quando ocorre a remoção de óxidos a cada semiciclo de corrente em que o eletrodo é positivo. A penetração e a largura do cordão de solda tendem a diminuir com o aumento da velo cidade de soldagem. O mesmo acontece com o reforço, na soldagem com adição de metal. De uma maneira geral, quanto maior a velocidade da soldagem, melhor a eficiência e a pro dutividade da operação, com consequente redução de custos por unidade de comprimento de solda produzida. Entretanto, velocidades de soldagem exageradas podem introduzir descontinuidades no cordão, como falta de fusão, falta de penetração e mordeduras. A vazão de gás de proteção influencia diretamente a qualidade do cordão de solda. Vazão muito baixa resulta em proteção insuficiente, que pode levar à oxidação do cordão de solda, formação de porosidade etc. Vazão elevada, em geral, não causa problema, mas encarece o custo da operação. Vazão m uito elevada pode causar turbulência no fluxo de gás, resultando em efeitos semelhantes aos de vazão muito baixa. Assim, uma regra prática para se determinar a vazão ideal numa dada situação é fazer um teste, iniciando com uma vazão elevada e ir dim inuindo gradativamente, até que se inicie a oxidação superficial do cordão de solda. Uma vazão ligeiramente superior a esta última é a ideal. Outras variáveis operatórias na soldagem TIG com influência secundária dentro de certos lim ites são o ângulo da ponta do eletrodo, a distância do bocal à peça e os tempos de pré e pós-purga de gás. Na soldagem mecanizada, a posição e a velocidade de alimentação de metal podem se tornar parâmetros importantes. Velocidade de alimentação elevada pode levar a um reforço excessivo do cordão de solda e até mesmo a uma fusão apenas parcial do metal de adição. Se a alimentação de metal for feita no arco de soldagem, ao invés de ser feita na poça de fusão, a transferência de metal para a peça se torna m uito irregular, podendo causar instabilidade no arco e tornar o cordão irregular. A escolha dos parâmetros para uma dada operação de soldagem é feita em função do material a ser soldado, da espessura das peças, da posição de soldagem e dos equi pamentos disponíveis, bem com o a decisão de uso ou não de metal de adição. CAHIULO 13 I n . SOLDAGEM T»G ^ 1 ' 5. Aplicações Industriais A soldagem TIG é um processo dos mais versáteis em termos de espessuras e ligas soldáveis, produzindo soldas de ótima qualidade. Contudo, é relativamente caro, lento e de baixa produtividade. Assim, a soldagem TIG é usada principalmente na união de metais difíceis de serem soldados por outros processos, em situações em que é necessário um controle rigoroso do calor cedido à peça e principalmente em situações em que a qualidade da junta pro duzida é mais importante que seu custo de produção. As principais aplicações industriais da soldagem TIG são: costura e união de topo de tubos de aço inoxidável, soldagem de alumínio, magnésio e titânio, particularmente de peças leves ou de precisão, com o as usadas na indústria aeroespacial, e passe de raiz em tubulações de aço carbono e outros materiais. 6. Exercícios e Práticas de Laboratório a) Que propriedades dos gases inertes devem influenciar as características do arco elétrico e provocar variações na geometria de cordões de solda feitos com os mesmos parâmetros e diferentes gases? b) Por que o metal de adição usado na soldagem TIG é, normalmente, de composição seme lhante ou idêntica à do metal de base? c) Que características dos eletrodos de diferentes composições químicas poderiam explicar a variação nas faixas de corrente recomendadas para os diversos tipos de corrente? d) Que justificativas podem ser dadas para a existência de limites superior e inferior da corrente recomendada para um eletrodo de um certo diâmetro? e) Por que a geometria da ponta do eletrodo só influencia significativamente a soldagem mecanizada? f) No laboratório, experimentedepositar cordões da solda TIG com diferentes materiais, como aço carbono, aço inoxidável e alumínio, com os diversos tipos de corrente e observe o efeito na limpeza de óxidos e geometria do cordão de solda. Anote suas observações e compare-as com o que você aprendeu neste capítulo. g) Faça diversos cordões de solda, com diferentes parâmetros de operação, num mesmo material e observe o efeito dos parâmetros de soldagem sobre a geometria do cordão. Anote suas observações e discuta com seus colegas as justificativas para estes efeitos. SOLDAGEM E CORTE A PLASMA CAPÍTULO 14 A - SOLDAGEM 1. Fundamentos A soldagem a arco plasma (Plasma Are Wedding - PAW) é um processo que produz união por fusão das partes a serem unidas através de um arco elétrico estabelecido entre um eletrodo de tungsténio, não consumível, e a peça ou um bocal constritor. O processo de soldagem a arco plasma difere do processo TIG principalmente pelo fato de o arco estar restringido por um bocal constritor que limita seu diâmetro e aumenta considera velmente a intensidade da fonte de calor. Na soldagem a arco plasma são utilizados dois fluxos de gases, iguais ou diferentes. O primeiro circunda o eletrodo e sai por um orifício no bocal constritor, na forma de um jato de gás fortemente aquecido, chamado gás de plasma. Este gás deve ser inerte e frequentemente é usado o argônio. O segundo fluxo serve para proteção e passa por um bocal externo, concêntrico ao bocal constritor. Este gás pode ser inerte ou uma mistura de gasôs. A Figura 1 ilustra o processo. O O f J SOLDAGEM C *- U j FUNOAMENTOS E TtCNOLOGIA Eletrodo Bocal constritor Figura 1 Soldagem a arco plasma (esquemática) Existem duas variações básicas do processo a arco plasma: arco transferido, que é aberto entre o eletrodo e a peça, e arco não transferido, estabelecido entre o eletrodo e o bocal constritor. Nesta segunda, o calor necessário para a fusão é transm itido às peças somente pelo gás de plasma. Na soldagem de peças condutoras, o arco transferido é mais usado pela sua melhor eficiência. A segunda variação permite a soldagem de peças não condutoras, com o vidros, plásticos etc., e também é usado quando se deseja minimizar a energia de soldagem. A Figura 2 mostra as dúas variações. Bocal constritor Figura 2 Variações da soldagem a arco plasma: (a) arco transferido, (b) não transferido A soldagem a arco plasma pode ser feita manual ou mecanizadamente, com pequenas adaptações no equipamento. Tanto a soldagem mecanizada como a manual são bastante usadas. O processo pode ser empregado em qualquer posição de soldagem. O arco na soldagem plasma é bastante estável, de alta intensidade, e o cordão de solda é pouco afetado pela distância da tocha de soldagem à peça, conhecida como "stand-ofí", permitindo, na soldagem manual, maior liberdade de operação ao soldador. O equipamento de soldagem plasma é mais complexo que os usados em outros processos de soldagem a arco, exigindo cuidados especiais e manutenção mais difícil. Devido à sua grande estabilidade e excelente controle da fonte de calor, o processo plasma pode ser usado também na soldagem de peças de espessura muito pequena, inferior a 1 mm, com intensidade de correntes de soldagem na faixa de uns poucos Am- pères e uma tocha apropriada. Neste caso, a soldagem é chamada de microplasma. A soldagem a arco plasma é aplicável à maioria dos metais e a muitos materiais não metálicos. Entretanto, seu custo é relativamente elevado e pode, às vezes, inviabilizar o uso do processo em algumas aplicações. CAPÍTULO 14 SOLDAGEMEC O H T E A P U SM A | L * - ' 2. Equipamentos O equipamento básico usado consiste de uma fonte de energia, sistema para abertura do arco, uma tocha de soldagem plasma, fonte de gases e sistema de controle. Diversos dispositivos auxiliares podem ser usados na soldagem mecanizada. A fonte de energia usada é do tipo corrente constante, podendo ser contínua ou pulsada. As fontes para soldagem plasma convencional têm capacidade para fornecer correntes entre 100 e 500 A, normalmente. As fontes para soldagem microplasma geral mente fornecem corrente a partir de 0,1 A até correntes de algumas dezenas de Ampères. Em qualquer dos casos, o ajuste de corrente geralmente pode ser feito com precisão relativamente alta. As tensões necessárias para manter a descarga elétrica num arco a plasma são mais elevadas que aquelas normalmente usadas nos processos convencionais. Assim, as fontes usadas na soldagem plasma devem ser específicas para este processo. Fontes convencionais ligadas em série podem ser usadas em situações especiais. A abertura de arco pode ser feita por um ignitor de alta frequência ou através de um arco-piloto. As tochas que trabalham com arco transferido normalmente fazem uso deste último sistema, que necessita de uma fonte de energia auxiliar, de baixa capacidade, para alimentar o arco-piloto. As tochas de soldagem plasma servem para suportar o eletrodo de tungsténio, fornecer de forma adequada o gás de plasma e o gás de proteção e fazer a constrição do arco, através do bocal constritor. Além disso, as tochas devem permitir o manuseio e utilização de maneira segura para o soldador ou operador de equipamentos mecanizados. A Figura 3 apresenta uma tocha para soldagem plasma. Figura 3 Tocha para soldagem plasma o o o l SOLDAGEM 1 FUNDAMENTOS E TECNOLOGIA As tochas plasma são geralmente refrigeradas a água. Muitas vezes, são necessários cuidados especiais, devendo-se usar água desmineralizada, filtrada etc. Tochas para sol dagem manual têm menor capacidade, devido à necessidade de apresentarem menor peso, para facilitara operação. Tochas para soldagem mecanizada normalmente são de alta capacidade. Algumas tochas possuem bocais constritores com apenas um orifício de saída, porém, tochas com orifícios múltiplos apresentam vantagens. Várias configurações de orifícios de constrição, como em linha, em círculos e outras formas geométricas têm sido avaliadas, porém a mais usada é aquela com um orifício central, ladeado por dois outros orifícios de menor diâmetro, em geral, com uma seção transversal igual a um quarto da seção do orifício central, em linha, como mostrado na Figura 4. 0 O nfício único Figura 4 Tipos de configuração de orifícios de constrição Neste tipo de tocha, a forma do arco plasma se torna alongada ou ovalada, e grandes velocidades de soldagem podem ser usadas quando o eixo maior da seção transversal do arco está paralelo à direção de soldagem, resultando em grande produtividade e soldas com zona termicamente afetada relativamente estreita. Algumas tochas permitem a troca do bocal constritor, podendo-se, assim, variar o diâmetro ou número de orifícios. Tochas para soldagem manual, em geral, apresentam apenas um orifício central. As fontes de gases devem incluir cilindros do gás de plasma e do gás de proteção, reguladores de pressão e de vazão e mangueiras. Geralmente, o controle da vazão do gás de plasma é feito com precisão relativamente alta, já que esta é uma importante variável do processo. O sistema de controle permite o ajuste das diversas variáveis operacionais, o acio namento adequado dos equipamentos usados e de dispositivos auxiliares, no caso de soldagem mecanizada. Este pode estar numa unidade de controle único ou disperso nos vários equipamentos que compõem uma estação de soldagem plasma. Os dispositivos auxiliares usados na soldagem mecanizada são similares aos usados na soldagem TIG, isto é, alimentadores de arame, sistemas de movimento, sistemas de oscilação do arco etc. O rifício m últiplos CAPÍTULO 14 SOIDAGEM E CORTE A PLASMA 3. Consumíveis Os consumíveis usados na soldagem plasma são os gases de plasma e de proteção e os metais de adição. Os eletrodos de tungsténio, apesar de ditos não consumíveis,se desgastam durante o processo e serão tratados nesta seção. O gás de plasma deve ser inerte em relação ao eletrodo de tungsténio e às partes da tocha de soldagem, para evitar sua contaminação e rápida deterioração. Normalmente são usados o argônio, o hélio, o nitrogênio e misturas destes. Em certos casos, o hidro gênio pode ser adicionado a esses gases para facilitar a abertura do arco. A adição de hidrogênio pode ser interrompida depois de iniciado o arco. O argônio é mais usado como gás de plasma, devido ao seu baixo potencial de ioni zação, que facilita a abertura do arco, particularmente, em equipamentos que utilizam o arco-piloto. Normalmente é usado na soldagem de aços carbono, aços de alta resistência e metais reativos, como o titânio e o zircônio. Entretanto, nem sempre o argônio puro produz os melhores resultados, que podem ser conseguidos com misturas argônio-higrogênio ou argônio-hélio. A quantidade de hidrogênio numa mistura deve ser escolhida em função do metal de base a ser soldado. Misturas argônio-hélio resultam em maior potência gerada no arco, para uma mesma corrente de soldagem. A soldagem com hélio puro aumenta a potência do arco, permitindo operar com maiores velocidades. Entretanto, isso geralmente implica em maior desgaste das tochas e redução de sua vida útil. A Tabela I apresenta algumas aplicações típicas de gases ou misturas, usados tanto como gás de plasma como gás de proteção, na soldagem de diferentes materiais com diferentes espessuras e correntes elevadas. A especificação AWS A 5.32 trata dos gases de proteção para soldagem. Tabela I - Gases usuais na soldagem plasma com alta corrente Material Espessura (mm) Técnica de soldagem "Keyhole" Fusão Aço carbono < 3.2 Ar Ar > 3.2 Ar 75% He. 25% Ar Aço de baixa liga < 3,2 Ar Ar > 3,2 Ar 75% He. 25% Ar Aço inoxidável < 3.2 92.5% Ar. 7.5% H2 Ar > 3.2 95% Ar. 5% Hj 75% He. 25% Ar Cobre < 2.4 Ar, 75% He. 25% Ar > 2.4 Não recomendada He Ligas de níquel < 3.2 92.5% Ar. 7.5% H, Ar > 3,2 95% Ar. 5% Hj 75% He. 25% Ar Metais reativos < 6.4 Ar Ar > 6.4 Ar-He (50 a 75% He) 75% He. 25% Ar •30 A S0L0A8EM rUNBMKKTOSETECNSUHHA • Na soldagem com alta corrente, geralmente se usa o mesmo gás para plasma e para proteção. Na soldagem com baixa corrente, o gás de proteção pode ser diferente, sendo o C02 muito usado para esta finalidade, devido ao seu baixo custo. Os metais de adição usados na soldagem plasma são os mesmos usados na soldagem TIG e MIG/MAG, podendo ser fornecidos na forma de varetas, para a soldagem manual, e de fios enrolados em bobinas, para a soldagem mecanizada. Geralmente, utiliza-se metal de adição de composição química similar à do metal de base, e existe uma grande variedade de metais disponíveis. A Tabela II mostra algumas especificações AWS de metais de adição aplicáveis à soldagem plasma. Tabela II - Especificações AWS para metais de adição aplicáveis à soldagem plasma Especificação Tipo de metal de adição AWS A 5.7 Arames e varetas para a soldagem de cobre AWS A 5.9 Arames e varetas para a soldagem de aços inoxidáveis AWS A 5.10 Arames e varetas para a soldagem de alumínio AWS A 5.14 Arames e varetas para a soldagem de níquel AWS A 5.15 Arames e varetas para a soldagem de ferro fundido AWS A 5.16 Aram es e varetas para a soldagem de titânio AWS A 5 18 Arames e varetas para a soldagem'de aço carbono AWS A 5.19 Arames e varetas para a soldagem de magnésio | AWS A 5.21 Arames e varetas para revestimento AWS A 5.22 Arames e varetas tubulares para soldagem de aços inoxidáveis AWS A 5.24 Arames e varetas para a soldagem de zircònio AWS A 5.28 Arames e varetas para a soldagem de aços de baixa liga Os eletrodos de tungsténio usados na soldagem plasma são os mesmos usados na soldagem TIG (Capítulo 13), e podem ser de tungsténio puro ou ligados e são cobertos pela especificação AWS A 5.12. Eletrodos de tungsténio puro são geralmente usados em corrente alternada e têm baixa capacidade de condução. Eletrodos com adições de óxidos são usados em corrente contínua e/ou alternada e possuem maior capacidade de condução e durabilidade. Os eletrodos são normalmente apontados, com o ângulo da ponta variando entre 20 e 60°. A ponta pode ser aguda ou tronco-cônica, com diâmetro da parte plana de aproxi madamente 0,8mm, para eletrodos de diâmetro de 3,2 ou 4,0mm, e proporcionalmente menor para eletrodos de menor diâmetro. A ponta deve ser absolutamente simétrica e concêntrica com o eletrodo, podendo ser preparada com o auxílio de um dispositivo de precisão através de esmerílhamento ou por agentes químicos. 4. Técnica Operatória CAPÍTUL014 I A A p SOLDAGEM E CORTE A PLASMA I A soldagem a arco plasma pode ser feita utilizando-se duas técnicas: por fusão, semelhante aos outros processos a arco, e "keyhole" ou furo, que também é utilizada em processos de alta intensidade, como a soldagem a LASER e por feixe eletrônico. A técnica da fusão é normalmente usada em soldagem manual e com fluxo de gás de plasma e corrente de soldagem mais baixos. Metal de adição na forma de vareta pode ser usado e normalmente é adicionado à poça de fusão. Esta técnica pode ser usada na soldagem com um ou mais passes. A técnica do "keyhole" é usada para uma certa faixa de espessura de metal de base, com combinações especiais de fluxo de gás de plasma, corrente e velocidade de soldagem, produzindo uma poça de fusão relativamente pequena e que penetra totalmente no metal de base. Neste caso, o jato de plasma produz um pequeno furo na região da junta, que é levado adiante com o movimento da tocha de soldagem. Durante o deslocamento, o metal fun dido pelo arco é forçado a se deslocar em tomo do jato de plasma, formando atrás deste a poça de fusão, que fecha o furo nesta região e se solidifica, formando a junta soldada. Não é usado metal de adição na maioria das vezes. Esta técnica permite a soldagem com penetração total, em passe único. A soldagem plasma que usa a técnica do "keyhole" opera no limite entre a soldagem e o corte, geralmente com intensidade de corrente e fluxo de gás de plasma elevados, sendo que este é um parâmetro crítico do processo, devendo ser mantido dentro de estreitos limites. Devido a esta alta sensibilidade aos parâmetros operacionais, a técnica do "keyhole" só é usada em soldagem mecanizada. A Tabela III apresenta as técnicas usuais para diversas faixas de espessura do metal de base, e as Tabelas IV e V apresentam parâmetros típicos de operação para algumas situações. Tabela III - Faixa de espessura para as diferentes técnicas de soldagem plasma Técnica Espessura 0.1 0.4 1,6 3,2 4,8 6,4 10 13 19... Passe único "Keyhole' Passes múltiplos ™ * V < - 9 souMsai ‘ x o FUNOAMIK7CS E TECMGLOSM Tabela IV - Parâmetros típicos de soldagem plasma Material Espessura Veloc. Corrente Tensão Fluxo de gés (l/min) Observações (mm) Sold. (mm/s) CC- (A) (V) Orifício Proteção Aço 2.4 10 115 30 3(a) 17 Técnica “keyhole". inoxidável 3.2 13 145 32 5(a) 17 chanfro reto. 95% Ar. 4.8 16 165 36 6(b) 21 5% Hj, com uso de Aço 6,4 14 240 38 8(b) 24 proteção no reverso e "stand-off "de 4.8 mm Técnica “keyhole". 3.2 5 185 28 6(a) 28 chanfro reto, Argônio, carbono e 4.3 4 200 29 6(b) 28 proteção no reverso e “stand-off "de 1,2 mmbaixa liga 6,4 6 275 33 7(b) 28 Titânio 3.2 8,5 185 21 3.8(a) 28 "Keyhole", chanfro 4,8 5.5 175 25 9(b) 28 reto. Ar ou Ar 75%-He 10 4.2 225 38 15(b) 28 25% proteção no re verso e “stand-off"de 1.2 mm Diâmetro do oriffco: (a) 2,8 mm , (b) 3,5 mm. Tabela V - Parâmetros típicos de soldagem microplasma Material Espessura(mm) Veloc. Sold. (mm/s) Corrente CC- (A) Fluxo de gás (l/min) Observações Orifício Proteção 0.13 2.0 2.4 0,24 10 Junta de topo com flange. Aço 0,25 3,4 6,0 0,24 10 99%