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P9-Hipertensão e Sarcopneia na terceira idade

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Daniel V. Rodrigues-M33 
 
1. Discutir a Epidemiologia da hipertensão, da diabetes e das causas externas 
Hipertensão 
A hipertensão arterial (HA) é uma doença crônica não transmissível (DCNT) definida por níveis 
pressóricos, em que os benefícios do tratamento (não medicamentoso e/ ou medicamentoso) 
superam os riscos. Trata-se de uma condição multifatorial, que depende de fatores genéticos/ 
epigenéticos, ambientais e sociais, caracterizada por elevação persistente da pressão arterial 
(PA), ou seja, PA sistólica (PAS) maior ou igual a 140 mmHg e/ou PA diastólica (PAD) maior ou 
igual a 90 mmHg, medida com a técnica correta, em pelo menos duas ocasiões diferentes, na 
ausência de medicação anti-hipertensiva. A hipertensão arterial pode ser primária ou 
secundária, ao qual nesta, se tem uma doença como causa. 
A hipertensão arterial (HA) é uma doença altamente prevalente em indivíduos idosos, tornando-
se fator determinante na morbidade e na mortalidade elevadas dessa população (II Diretriz 
Brasileira de Cardiogeriatria, 2010). 
A hipertensão arterial, presente em mais de 60% dos idosos, encontra-se frequentemente 
associada a outras doenças também altamente prevalentes nessa faixa etária, como a 
arteriosclerose e o diabetes melito (DM), conferindo a essa população alto risco para a 
morbimortalidade cardiovascular e exigindo, portanto, uma correta identificação do problema 
e uma apropriada abordagem terapêutica. 
Aproximadamente 50 milhões de mortes/ano ocorrem no mundo, sendo 30% desses óbitos, ou 
seja, 15 milhões, causados por doenças cardiovasculares; 4 milhões ocorrem em países 
desenvolvidos, 2 milhões, nos países de economia em transição ou subdesenvolvidos, e a 
maioria, cerca de 9 milhões, em países em desenvolvimento, entre os quais se situa o Brasil. 
Vários estudos epidemiológicos demonstraram claramente que a hipertensão arterial está 
relacionada, direta ou indiretamente, à ocorrência de muitas doenças, destacando-se 
especialmente o acidente vascular encefálico (AVE), a doença coronariana, a insuficiência 
cardíaca congestiva e a insuficiência renal crônica. 
O Framingham Heart Study (Franklin et al., 1999), em um acompanhamento por 34 anos, 
mostrou que o risco de desenvolver insuficiência cardíaca foi 2 a 4 vezes maior nos indivíduos 
com pressão arterial mais alta do que naqueles com pressão mais baixa. Em todos esses estudos, 
a associação de outros fatores de risco como sobrepeso/obesidade, DM, dislipidemia, tabagismo 
e hipertrofia ventricular esquerda aumentava progressivamente, de forma absoluta, o risco para 
as doenças cardiovasculares. Portanto, não há a menor dúvida de que a relação entre a pressão 
arterial e a doença cardiovascular é muito consistente, para ambos os sexos e para todas as 
classes populacionais. 
Na população brasileira, estimativas do Datasus apontam quase 650 mil óbitos em indivíduos 
com idade superior a 60 anos em 2007. Deste total, cerca de 230 mil são causados por doenças 
do sistema circulatório, com 66 mil por doença isquêmica do coração e 75 mil por doença 
cerebrovascular, duas condições intimamente relacionadas com a hipertensão. 
As VI Diretrizes Brasileiras de Hipertensão Arterial (2010) consideravam o limite de normalidade 
para PAS valores abaixo de 130 mmHg e para PAD valores abaixo de 85 mmHg. A partir desses 
valores, seguem-se o normal limítrofe, a hipertensão leve, a moderada e a grave e a hipertensão 
sistólica isolada. Houve mudança com a Diretriz Brasileira de Hipertensão Arterial (2020). 
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Classificação da 
pressão arterial 
de acordo com a 
medição no 
consultório a 
partir de 18 
anos de idade 
 
 
 
 
 
 
 
Do ponto de vista 
clínico, a hipertensão arterial no idoso é avaliada como a do adulto jovem, das seguintes formas: 
(1) hipertensão sistodiastólica; (2) hipertensão sistólica isolada; (3) hipertensão diastólica 
isolada; (4) pressão de pulso. 
Fatores de risco para Hipertensão arterial 
• Genética 
Os fatores genéticos podem influenciar os níveis de PA entre 30-50%. No entanto, devido à 
ampla diversidade de genes, às variantes genéticas estudadas até o momento e à miscigenação 
em nosso país, não foram identificados dados uniformes com relação a tal fator. 
• Idade 
Com o envelhecimento, a PAS torna-se um problema mais significante, resultante do 
enrijecimento progressivo e da perda de complacência das grandes artérias. Em torno de 65% 
dos indivíduos acima dos 60 anos apresentam HA, e deve-se considerar a transição 
epidemiológica que o Brasil vem sofrendo, com um número ainda maior de idosos (≥ 60 anos) 
nas próximas décadas, o que acarretará um incremento substancial da prevalência de HA e de 
suas complicações. 
• Sexo 
Em faixas etárias mais jovens, a PA é mais elevada entre homens, mas a elevação pressórica por 
década se apresenta maior nas mulheres. Assim, na sexta década de vida, a PA entre as mulheres 
costuma ser mais elevada e a prevalência de HA, maior. Em ambos os sexos, a frequência de HA 
aumenta com a idade, alcançando 61,5% e 68,0% na faixa etária de 65 anos ou mais, em homens 
e mulheres, respectivamente. 
• Etnia 
A etnia é um fator de risco importante para a HA, mas condições socioeconômicas e de hábitos 
de vida parecem ser fatores mais relevantes para as diferenças na prevalência da HA do que a 
implicação étnica propriamente dita.7,8 Dados do Vigitel 2018 mostraram que, em nosso país, 
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não houve uma diferença significativa entre negros e brancos no que diz respeito à prevalência 
de HA (24,9% versus 24,2%). 
• Sobrepeso/Obesidade 
Parece haver uma relação direta, contínua e quase linear entre o excesso de peso 
(sobrepeso/obesidade) e os níveis de PA. Apesar de décadas de evidências inequívocas de que 
a circunferência de cintura (CC) fornece informações independentes e aditivas ao índice de 
massa corpórea (IMC) para predizer morbidade e risco de morte, tal medida não é 
rotineiramente realizada na prática clínica. Recomendasse que os profissionais de saúde sejam 
treinados para realizar adequadamente essa simples medida e considerá-la como um 
importante “sinal vital” na prática clínica. 
• Ingestão de Sódio e Potássio 
A ingestão elevada de sódio tem-se mostrado um fator de risco para a elevação da PA, e 
consequentemente, da maior prevalência de HA. A literatura científica mostra que a ingestão 
de sódio está associada a DCV e AVE, quando a ingestão média é superior a 2 g de sódio, o 
equivalente a 5 g de sal de cozinha.10 Estudos de medida de excreção de sódio mostraram que 
naqueles com ingestão elevada de sódio, a PAS foi 4,5 mmHg a 6,0 mmHg maior e a PAD 2,3 
mmHg a 2,5 mmHg em comparação com os que ingeriam as quantidades recomendadas de 
sódio. 
Cabe destacar, ainda, que o consumo excessivo de sódio é um dos principais fatores de risco 
modificáveis para a prevenção e o controle da HA e das DCV e que, em 2013, US$ 102 milhões 
dos gastos do SUS com hospitalizações foram atribuíveis ao consumo excessivo de sódio. 
De maneira inversa, o aumento na ingestão de potássio reduz os níveis pressóricos. Deve ser 
salientado que o efeito da suplementação de potássio parece ser maior naqueles com ingestão 
elevada de sódio e entre os indivíduos da raça negra. A ingestão média de sal no Brasil é de 9,3 
g/dia (9,63 g/dia para homens e 9,08 g/dia para mulheres), enquanto a de potássio é de 2,7 
g/dia para homens e 2,1 g/dia para mulheres. 
• Sedentarismo 
Há uma associação direta entre sedentarismo, elevação da PA e da HA. Chama a atenção que, 
em 2018, globalmente, a falta de atividade física (menos de 150 minutos de atividade física por 
semana ou 75 minutos de atividade vigorosa por semana) era de 27,5%, com maior prevalência 
entre as mulheres (31,7%) do que nos homens (23,4%). No Brasil, o inquérito telefônico Vigitel 
de 2019 identificou que 44,8% dos adultos não alcançaram um nível suficiente de prática de 
atividade física, sendo esse percentual maior entre mulheres (52,2%) do queentre homens 
(36,1%). 
• Álcool 
O impacto da ingestão de álcool foi avaliado em diversos estudos epidemiológicos. Há maior 
prevalência de HA ou elevação dos níveis pressóricos naqueles que ingeriam seis ou mais doses 
ao dia, o equivalente a 30 g de álcool/dia = 1 garrafa de cerveja (5% de álcool, 600 mL); = 2 taças 
de vinho (12% de álcool, 250 mL); = 1 dose (42% de álcool, 60 mL) de destilados (uísque, vodca, 
aguardente). Esse limite deve ser reduzido à metade para homens de baixo peso e mulheres. 
• Fatores socioeconômicos 
Entre os fatores socioeconômicos, podemos destacar menor escolaridade e condições de 
habitação inadequadas, além da baixa renda familiar, como fatores de risco significativo para 
HA. 
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• Apneia Obstrutiva do Sono (AOS) 
Há clara evidência que sustenta a relação entre a AOS e a HA e o aumento do risco para HA 
resistente. Os graus leve, moderado e grave da AOS mantém uma relação dose-resposta com a 
HA. Existe uma associação mais forte de caucasianos e pacientes do sexo masculino à AOS. 
• Outros Fatores de Risco Relacionados com a Elevação da PA 
Além dos fatores clássicos mencionados, é importante destacar que algumas medicações, 
muitas vezes adquiridas sem prescrição médica, e drogas ilícitas têm potencial de promover 
elevação da PA ou dificultar seu controle. Entre eles, estão: os inibidores da monoaminaoxidase 
e os simpatomiméticos, como descongestionantes nasais (fenilefrina), antidepressivos tricíclicos 
(imipramina e outros), hormônios tireoidianos, contraceptivos orais, anti-inflamatórios não 
esteroides, carbexonolona e liquorice, glicocorticoides, ciclosporina, eritropoietina, drogas 
ilícitas (cocaína, cannabis sativa, anfetamina e 3,4-metilenodioximetanfetamina (MDMA). 
Escore de Framingham 
A utilização de recursos para estratificação do risco cardiovascular como o escore de 
Framingham facilitou a identificação de indivíduos de alto risco. Entretanto, esses algoritmos 
não diferenciam adequadamente pessoas de risco moderado, talvez a situação mais frequente 
no idoso. Além disso, o escore de Framingham é limitado até os 75 anos, após o que não há 
dados para sua aplicação. 
 
Em resumo, é possível identificar, por sexo e faixa etária, sabendo-se o valor da pressão arterial 
sistólica, do colesterol total, da fração HDL do colesterol, do diagnóstico de diabetes e do 
conhecimento sobre hábito tabágico, o risco de desenvolvimento de doença coronariana na 
próxima década de vida. 
O Escore de Risco de Framingham é utilizado para realizar estimativa de doença cardiovascular 
em 10 anos. Ele é baseado no estudo da cidade de Framingham (EUA) que foi iniciado em 1948 
com 6 mil participantes e se mantém até a atualidade. 
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São utilizados os seguintes critérios: sexo, idade, Colesterol total, HDL colesterol, Pressão arterial 
sistólica, uso de medicação para hipertensão arterial, Tabagismo, Diabetes mellitus e doença 
vascular conhecida Doença coronariana (DAC), AVE ou doença arterial periférica) 
Diabetes 
A prevalência e a incidência do diabetes melito (DM) vêm crescendo de maneira acentuada nos 
últimos 20 anos como consequência do aumento da população idosa, da urbanização e 
industrialização, do aumento da obesidade e da inatividade física e do aumento de sobrevida 
dos diabéticos. A estimativa para as próximas duas décadas é a de que esses números 
continuarão crescendo, passando de aproximadamente 194 milhões em 2003 para 300 milhões 
em 2030, portanto, com um aumento de 35,3%. 
Em 2013, a Pesquisa Nacional de Saúde estimou que no Brasil 6,2% da população de 18 anos ou 
mais de idade referiram diagnóstico médico de diabetes, o equivalente a um contingente de 9,1 
milhões de pessoas. As mulheres apresentaram diagnóstico de diabetes com percentual (7%) 
maior do que os homens (5,4%). Em relação aos grupos de idade, quanto maior a faixa etária, 
maior o percentual, que variou de 0,6%, para aqueles de 18 a 29 anos de idade, a 19,9% para as 
pessoas de 65 a 74 anos de idade. 
O envelhecimento está associado ao desenvolvimento de resistência insulínica, uma condição 
que predispõe os idosos a intolerância à glicose, hipertensão arterial (HA), dislipidemia e 
síndrome metabólica que aceleram o aparecimento da doença cardiovascular (DCV). No 
processo fisiológico do envelhecimento ocorrem modificações na composição do corpo que 
predispõem a essa condição, principalmente devido à grande perda de massa magra, 
responsável pela distribuição da glicose mediada pela insulina, e aumento de gordura visceral, 
ligada ao aumento da resistência insulínica. 
O DM1 é caracterizado pela destruição autoimune celular das células beta das ilhotas 
pancreáticas, determinando deficiência de insulina. Em cerca de 90% dos pacientes são 
encontrados um ou mais anticorpos circulantes contra insulina, marcadores dessa destruição. É 
a forma diagnosticada na infância e na adolescência, habitualmente devido à destruição 
autoimune de células beta do tipo 1A. Quando diagnosticado, já apresenta cerca de 85% das 
células beta destruídas, com controle metabólico lábil e tendência ao desenvolvimento de 
cetoacidose e coma. Requer dose diária de insulina para o seu tratamento. Embora possa 
ocorrer em qualquer idade, é mais comum na infância e na adolescência, com diagnóstico 
firmado, em geral, antes dos 30 anos. Representa cerca de 15% de todos os casos de DM, 
mostrando tendência à cetoacidose. 
O DM2 é definido como um grupo de distúrbios metabólicos caracterizado por hiperglicemia 
resultante da deficiência na secreção ou ação da insulina ou ambos. Essa é a forma mais comum 
de diabetes, de alta prevalência nos idosos, apresentando graus variáveis de deficiência e 
resistência à ação da insulina. A resistência pode preceder o aparecimento da deficiência 
insulínica que se acentua com a evolução da doença. Os pacientes afetados apresentam 
tipicamente hiperglicemia sem tendência habitual à cetoacidose que, entretanto, algumas vezes 
ocorre devido à presença de infecções ou de outras comorbidades que contribuem para o 
aumento de resistência insulínica, exacerbando a produção de hormônios antirregulatórios. 
O DM2 é uma das doenças crônicas mais comuns que afetam as pessoas idosas. Os cálculos de 
prevalência para as pessoas de 60 anos e mais oscilam entre 15 e 20%, com taxas maiores 
relacionadas com as pessoas de mais de 75 anos. Recentes estatísticas revelam que 
aproximadamente 1 em cada 4 indivíduos com idade superior a 60 anos é portador de DM2. Por 
sua vez, mais da metade de todas as pessoas com diabetes têm mais de 60 anos; sendo assim, 
a doença está associada ao aumento de prevalência de problemas micro e macrovasculares no 
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idoso, o que representa um grande desafio para a saúde pública, pois envolve a capacidade de 
equipe multiprofissional para atender a todas as necessidades de um tratamento ideal. Além 
disso, aproximadamente 50% desses indivíduos não têm consciência de serem portadores da 
doença, o que chama a atenção para a necessidade de melhores estratégias de investigação e 
diagnóstico. 
O DM2 está associado à obesidade, especialmente visceroabdominal, surgindo muitas vezes 
após ganho de peso associado ao envelhecimento caracterizado por menor tolerância à glicose. 
Os diabéticos frequentemente apresentam diversas e graves complicações que criam a 
demanda por procedimentos complexos, além de serem responsáveis por alta taxa de 
permanência hospitalar e mortalidade hospitalar. 
Os fatores genéticos parecem ser os determinantes mais importantes do DM2. Contudo, ainda 
não foi demonstrada associação fenotípica ou anticorpos citoplasmáticos específicos de células 
das ilhotas. Apesar de poder ser de origem genética, na maioria das vezes é decorrente de causas 
adquiridas como, por exemplo, adiposidade abdominal, obesidade e sedentarismo. Os idosos 
apresentam tendência ao acúmulo de gordura abdominal e à obesidade, além de reduzirem sua 
atividadefísica, tendo em muitos casos também história de maus hábitos alimentares por 
muitos anos. Essa insulinorresistência é compensada pelo aumento da secreção de insulina 
fundamental para a manutenção dos níveis de glicose normais. A evolução da doença leva à 
deficiência da produção de insulina, com consequente intolerância à glicose, levando à 
hiperglicemia de jejum e ao estabelecimento do diagnóstico de DM. 
Com o aumento da idade, mais insulina é requerida para manter a glicose normal, considerando-
se a presença de adiposidade central, vida sedentária e caracteristicamente a presença de 
comorbidades que frequentemente exigem grande variedade de medicamentos, como, por 
exemplo, os corticoides. Idosos com DM têm altas taxas de morte prematura, incapacidade 
funcional e presença de comorbidades como HA, doença arterial coronariana (DAC) e acidente 
vascular encefálico (AVE). Além disso, idosos com DM têm risco maior para o desenvolvimento 
de diversas síndromes geriátricas, tais como depressão, distúrbios cognitivos, incontinência 
urinária, quedas e dor persistente. 
Fatores de risco para diabetes mellitus 
• Idade ≥ 45 anos 
• História familiar de DM (pais, filhos e irmãos) 
• Excesso de peso (IMC ≥ 25 kg/m2) 
• Obesidade central (cintura abdominal >102 cm para homens e >88 cm para mulheres, 
medida na altura das cristas ilíacas); 
• Sedentarismo 
• HDL-colesterol baixo (>35mg/DL) ou triglicerídeos elevados (<150mg/DL) 
• Hipertensão arterial (>140/90 mmHg) 
• Doença coronariana 
• DM gestacional prévio 
• Macrossomia ou história de abortos de repetição ou mortalidade perinatal 
• Uso de medicação hiperglicemiante (por exemplo, corticosteroides, tiazídicos, beta-
bloqueadores) 
2. Descrever e diagnosticar possíveis causas da sarcopenia 
O conceito atual define sarcopenia como não apenas o processo de perda de massa muscular 
relacionada com o envelhecimento, mas também inclui a perda da força e da função muscular. 
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Diversos estudos epidemiológicos têm mostrado associação entre baixo peso ao nascer e menor 
força de preensão palmar ao envelhecer. Além disso, indivíduos com picos de massa muscular 
mais baixos na fase jovem têm maior probabilidade de apresentar sarcopenia, fragilidade e 
incapacidade à medida que a idade avança. 
Elevada prevalência na população idosa, múltiplos fatores etiológicos (diminuição da ingesta 
alimentar, estilo de vida sedentário, alterações hormonais e doenças crônicas) e consequências 
ruins para a saúde do idoso (prejuízo nas atividades instrumentais de vida diária, aumento do 
risco de quedas e fraturas, perda da independência e aumento do risco de morte) são fatores 
que justificam a inclusão da sarcopenia como uma síndrome geriátrica. 
Etiologia da sarcopenia 
Múltiplos fatores de risco e vários mecanismos contribuem para o desenvolvimento da 
sarcopenia. Entre os principais fatores de risco estão a falta de atividade física, a baixa ingesta 
calórica e proteica, assim como modificações hormonais e alterações nos níveis de citocinas que 
ocorrem a partir do envelhecimento. Alterações no remodelamento do tecido muscular, perda 
de neurônios motores-alfa, além de alterações no recrutamento de células musculares e 
apoptose são mecanismos que contribuem para a patogênese da sarcopenia. Fatores genéticos 
podem ter papel importante na explicação das diferenças entre força e desempenho muscular 
de cada indivíduo. 
• Falta de atividade física 
Em qualquer idade, trata-se de fator contribuinte importante na perda de massa e força 
muscular. Estudos realizados em pacientes que pararam de fazer atividade física por estarem 
restritos ao leito mostraram que a diminuição da força muscular ocorre antes da diminuição da 
massa muscular. Idosos que fazem pouca atividade física apresentam fraqueza muscular e, 
consequentemente, redução maior na capacidade de realizá-la, além de perderem de massa e 
força nos músculos. 
• Baixa ingesta calórica e proteica 
A taxa de síntese de proteína muscular sofre redução de aproximadamente 30% no idoso. 
Fatores nutricionais, doenças e inatividade são os principais fatores responsáveis por essa 
redução. Baixa ingesta calórica e proteica em pessoas idosas está associada ao desenvolvimento 
de fragilidade. Diversos mecanismos levam à diminuição da ingesta alimentar pelo idoso 
(anorexia do envelhecimento), como diminuição do apetite, redução da função de órgãos 
sensoriais como paladar e olfato, alteração na dentição e saciedade precoce (em decorrência do 
aumento da liberação de colecistocinina e elevação da leptina). 
• Modificações hormonais 
Há evidências de que alterações hormonais relacionadas com o envelhecimento estão ligadas à 
perda de massa e força muscular. Insulina, estrógeno, testosterona, deidroepiandrosterona 
(DHEA), hormônio do crescimento (GH), fator de crescimento insulina-símile (IGF-1), vitamina D 
e paratormônio (PTH) estão envolvidos na etiopatogenia da sarcopenia Elevados níveis de 
citocinas 
a) Insulina 
A sarcopenia pode ser acompanhada por aumento progressivo da gordura corporal total e da 
gordura intramiocelular, as quais estão associadas a risco elevado de resistência à insulina. O 
aumento dos níveis de insulina após ingestão de glicose e aminoácidos resulta em menor taxa 
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de síntese proteica quando comparados aos jovens. Além disso, a hiperinsulinemia pode estar 
associada à redução da função mitocondrial no idoso. 
b) Estrógeno 
Estudos epidemiológicos sugerem que o estrógeno previne a perda de massa muscular, já que, 
com o seu declínio associado à idade, aumentam os níveis de citocinas pró-inflamatórias (fator 
de necrose tumoral [TNF-α] e interleucina 6 [IL-6]) envolvidas no processo da sarcopenia. 
Contudo, nenhum dos ensaios clínicos recentes relatou aumento da massa muscular após 
terapia de reposição hormonal. 
c) Hormônio do crescimento e fator de crescimento insulina-símile 
Tanto o GH quanto o IGF-1 declinam com a idade e estão entre os prováveis contribuintes para 
o desenvolvimento da sarcopenia. Reposição de GH diminui a gordura corporal, aumenta a 
massa magra e melhora o perfil lipídico. O IGF-1 ativa a proliferação e a diferenciação de células 
satélites, além de aumentar a síntese de proteína nas fibras existentes. Estudos apresentam 
resultados controversos quanto ao efeito de aumento na força muscular. 
d) Testosterona 
Os níveis de testosterona declinam lentamente no homem idoso a uma taxa de 1% ao ano. 
Estudos epidemiológicos sugerem uma relação entre baixos níveis de testosterona no idoso e 
perda de massa, de força e de função muscular. A testosterona provoca aumento no número de 
células satélites musculares. Quando indicada para indivíduos hipogonádicos ou para idosos 
com baixos níveis séricos de testosterona, ela aumenta a massa, a força muscular e a síntese 
proteica. 
e) Deidroepiandrosterona 
Os níveis de DHEA, outro hormônio esteroide anabolizante, diminuem consideravelmente com 
a idade. Apesar de evidências mostrando que a suplementação de DHEA resulte em aumento 
nos níveis de testosterona na mulher e em aumento de IGF-1 no homem, poucos estudos 
relatam efeito positivo na massa e na força muscular 
f) Vitamina D e paratormônio 
Os níveis de 25(OH) vitamina D diminuem com a idade. Estudo epidemiológico recente 
evidenciou associação entre a sarcopenia e os baixos níveis de vitamina D, a qual exerce provável 
efeito no anabolismo muscular. Baixos níveis séricos podem influenciar o turnover das proteínas 
musculares a partir da redução da secreção de insulina. Baixos níveis de vitamina D são 
frequentemente associados à elevação do PTH, porém estudos sugerem que o aumento do PTH 
é fator independentemente associado à sarcopenia e ao aumento no risco de quedas. O PTH 
pode modular a função muscular a partir do aumento do cálcio intracelular ou pela indução de 
uma via pró-inflamatória. 
• Elevados níveis de citocinas 
O envelhecimento está associado a aumentogradual e crônico da produção de citocinas pró-
inflamatórias (IL-6, TNF-α). Há evidências de que o aumento da massa gordurosa e a diminuição 
nos níveis de hormônios sexuais circulantes decorrentes do envelhecimento colaborem para 
isso. A elevação de citocinas constitui um estímulo catabólico e pode estar relacionada com o 
aumento da quebra das proteínas das fibras musculares. Estudos longitudinais mostram 
associação entre altos níveis de TNF-α, IL-6 e proteína C reativa (PCR) e risco elevado para 
diminuição da força muscular. O aumento das citocinas estimula a ubiquitina protease, elevando 
a degradação de proteínas e, além disso, diminui a produção do fator de crescimento insulina-
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símile (IGF-1), o que constitui um desequilíbrio entre a síntese e a degradação de proteínas 
musculares. O TNF-α estimula a perda de massa muscular por meio da ativação da via 
apoptótica. 
• Perda da função neuromuscular 
A contribuição neurológica para a sarcopenia ocorre com a perda de neurônios motores-alfa. 
Esse declínio tem início após a sétima década de vida, com uma perda de cerca de 50% dos 
neurônios motores-alfa, o que afeta principalmente os membros inferiores. Os neurônios 
motores remanescentes aumentam o seu território de controle por meio da captura de fibras 
denervadas. No entanto, o aumento do tamanho das unidades motoras e a redução no número 
de neurônios-alfa e de unidades motoras resulta em declínio na ativação da coordenação 
muscular e diminuição da força muscular. Durante o envelhecimento, o número de células 
satélites e sua habilidade para recrutamento são reduzidos, com maior prejuízo para as fibras 
tipo II. 
• Disfunção mitocondrial 
O papel da disfunção mitocondrial na sarcopenia é controverso. A função mitocondrial pode ser 
afetada pelo dano cumulativo ao DNA mitocondrial do músculo que é observado com o 
envelhecimento. Esse fato pode resultar em redução da taxa de síntese de proteína muscular e 
de trifosfato de adenosina (ATP) e, finalmente, na morte das fibras musculares e perda de massa 
muscular. Contudo, a falta de atividade física desempenharia papel fundamental no início do 
processo de disfunção mitocondrial. Alguns estudos evidenciam que o exercício físico pode 
atenuar esse processo 
• Apoptose 
Mutações acumuladas no DNA mitocondrial do tecido muscular são associadas a apoptose 
acelerada dos miócitos, a qual pode ser a via de ligação entre a disfunção mitocondrial e a perda 
de massa muscular. Estudos recentes sugerem que as fibras tipo II são mais suscetíveis à morte 
pela via apoptótica. Duas vias apoptóticas têm sido descritas: a caspase-dependente e a 
caspase-independente. Caspases são grupos de proteases com papel fundamental na apoptose 
e na morte celular programada. O processo de envelhecimento tem sido associado ao aumento 
dos níveis de várias caspases. Outros mecanismos – como estresse oxidativo, diminuição de 
fatores de crescimento e imobilidade – também podem resultar em apoptose pelas duas vias 
• Influência genética 
Fatores genéticos são os principais fatores relacionados com a variabilidade da força muscular 
de um indivíduo. Estudos epidemiológicos genéticos sugerem que entre 36 e 65% da força 
muscular individual, 57% do desempenho da atividade dos membros inferiores e 34% da 
habilidade para realizar atividades básicas de vida diária são explicados pela hereditariedade. 
Sarcopenia e baixo desempenho físico no idoso também estão associados a baixo peso ao 
nascimento em homens e mulheres, independentemente do peso e da estatura alcançados na 
idade adulta. 
Diagnóstico de sarcopenia 
Sarcopenia é uma síndrome caracterizada por progressiva e generalizada perda de massa e 
função muscular com risco de eventos adversos como incapacidade física, perda da qualidade 
de vida e morte. A recomendação do EWGSOP (European Working Group on Sarcopenia in Older 
People) é que se utilizem a diminuição da massa muscular e a diminuição da função muscular 
(força ou desempenho) como critérios para o diagnóstico da sarcopenia. De forma resumida, 
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os critérios para diagnóstico da sarcopenia segundo o EWGSOP, são diminuição da massa 
muscular; diminuição da força muscular e diminuição do desempenho físico. 
Na maioria dos casos é difícil identificar uma causa única como responsável pelo processo de 
sarcopenia. Contudo, classificá-la como primária ou secundária pode ser útil na prática clínica. 
A sarcopenia pode ser considerada primária quando não se encontra nenhuma causa 
identificável, além do próprio envelhecimento. É considerada secundária quando uma ou mais 
causas são evidentes. Em muitos idosos a causa é multifatorial, tornando muito difícil a 
classificação da sarcopenia em primária ou secundária. 
 
Identificação da sarcopenia em pesquisas e na prática clínica 
Os parâmetros para identificação da sarcopenia são a quantidade de músculo e suas funções. 
As variáveis mensuráveis são a massa, a força e o desempenho físico. Serão apresentados a 
seguir métodos que podem ser utilizados nas medidas dessas variáveis e sua aplicabilidade na 
prática clínica e em pesquisas. 
1) Massa muscular 
• Métodos de imagem corporal 
Tomografia computadorizada, ressonância magnética nuclear e densitometria de corpo inteiro 
são os três métodos de imagem utilizados para estimar massa muscular. A tomografia e a 
ressonância são métodos de muita precisão e são considerados padrão-ouro para estimativa da 
massa muscular em pesquisa. A densitometria é um método alternativo atrativo para diferenciar 
gordura, músculo e osso tanto na prática clínica como em pesquisa. 
• Bioimpedância 
A bioimpedância estima o volume de gordura e a massa muscular do indivíduo. O método tem 
custo mais baixo que os métodos de imagem corporal e tem, dentre outras características, o 
fato de ser um recurso portátil e de fácil manuseio, que pode ser utilizado em idosos 
ambulatoriais ou acamados. Estudos mostram boa correlação entre os dados fornecidos pela 
bioimpedância e pela ressonância magnética. 
• Medidas antropométricas 
Cálculos baseados na circunferência do braço e na espessura de dobras cutâneas têm sido 
utilizados para estimar a massa muscular em idosos ambulatoriais. A circunferência da 
panturrilha se relaciona com a massa muscular; essa medida, porém, pode ser atrapalhada pela 
gordura subcutânea ou pela presença de edema. Portanto, a diminuição da medida da 
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circunferência da panturrilha tem maior correlação com perda de massa muscular em idosos 
frágeis quando comparados a idosos saudáveis ou obesos. 
Consórcio Orientado de Mestrado para a Valorização da Atenção ao Idoso, definiu circunferência 
da panturrilha ≤ 34 cm e ≤ 33 cm, respectivamente para homens e mulheres como as medidas 
mais acuradas para identificar idosos com baixa massa muscular. 
Caderneta de Saúde da pessoa idosa: A medida do perímetro da panturrilha esquerda é um bom 
parâmetro de avaliação da massa muscular no idoso. Medidas menores que 31 cm são 
indicativas de redução da massa muscular (sarcopenia) e estão associadas a maior risco de 
quedas, diminuição da força muscular e dependência funcional. 
2) Força muscular 
• Força de preensão palmar 
A força isométrica de preensão palmar é fortemente relacionada com a potência muscular dos 
membros inferiores, com a amplitude de extensão dos joelhos e com a área de secção 
transversal da musculatura da panturrilha. Força de preensão palmar diminuída é melhor 
marcador clínico de comprometimento da mobilidade do que baixa massa muscular. Na prática, 
há uma relação linear entre a força de preensão palmar e a ocorrência de incapacidade nas 
atividades de vida diária. 
• Flexão e extensão do joelho 
A avaliação da força muscular por meio da flexão e extensão do joelho pode ser realizada por 
diversos equipamentos. Contudo, sua utilização na prática clínica é limitada, uma vez que são 
necessários equipamentos especiais de custo elevado.• Pico de fluxo expiratório 
Em idosos sem doença pulmonar, o pico de fluxo expiratório é determinado pela força dos 
músculos respiratórios. Apesar de ser um método de baixo custo, faltam estudos que o 
correlacionem com a sarcopenia. Portanto, não é recomendado utilizá-lo como medida isolada. 
3) Desempenho físico 
• Short Physical Performance Battery (SPPB) 
 O SPPB é um instrumento que avalia o desempenho físico por meio de testes de equilíbrio, 
velocidade da marcha, além de força e resistência dos membros inferiores. Avalia habilidades, 
como capacidade de permanecer com os pés juntos, lado a lado, com o calcâneo do pé da frente 
encostado no hálux do pé de trás, e com o calcâneo do pé da frente encostado em todos os 
dedos do pé de trás. Avalia também tempo que o idoso leva para caminhar 3 metros e tempo 
gasto para levantar de uma cadeira e retornar à posição sentada após 5 movimentos. 
Portanto, trata-se de instrumento completo, o qual tem sido recomendado como medida 
padrão de desempenho físico, tanto em pesquisas quanto na prática clínica. 
• Velocidade da marcha 
A velocidade da marcha faz parte do SPPB, mas pode ser utilizada como parâmetro isolado para 
avaliar desempenho físico, tanto em pesquisas quanto na prática clínica. Nesse teste, é medido 
o tempo, em segundos e milésimos de segundo, que o indivíduo leva para percorrer 3 ou 4 
metros. A velocidade é calculada a partir da média obtida após 3 tentativas. Vários trabalhos 
mostram que a velocidade da marcha pode ser utilizada para predizer ou refletir o estado ou a 
funcionalidade do indivíduo. 
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• Timed Up and Go Test (TUGT) 
O TUGT, muito aplicado na avaliação geriátrica ampla, também pode ser utilizado como 
instrumento de medida do desempenho físico. O teste avalia o tempo que o indivíduo leva para 
se levantar de uma cadeira, andar 3 metros, retornar e sentar. Esse teste também avalia o 
equilíbrio dinâmico do indivíduo. 
• Stair Climb Power Test (SCPT) 
O SCPT tem sido proposto como medida clínica relevante de avaliação de potência muscular dos 
membros inferiores. Os resultados do SCPT são comparáveis a métodos mais complexos de 
avaliação da potência muscular das pernas, como a realizada por aparelho de leg press 
pneumático. O teste avalia o tempo que o indivíduo gasta para subir 6 lances de escadas de 12 
degraus. Antes de iniciar a avaliação, o indivíduo é orientado a realizá-lo no menor tempo 
possível. 
Referência 
Tratado de Geriatria e Gerontologia. Freitas, E.V.; Py, L.; Neri, A. L.; Cançado, F. A. X.C.; 
Gorzoni, M.L.; Doll, J. 4ª. Edição. Grupo Editorial Nacional (GEN), 2016.

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