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IGOR DE ANGELI • MEDICINA – TURMA XXVIII 1 câncer: formação, evolução e tratamento Os seres humanos pagam um preço por terem tecidos que podem ser reparados e renovados. Os delicados mecanismos de ajuste que controlam esses processos po- dem falhar, levando ao rompimento catastrófico das estruturas teciduais. O câncer está em primeiro lugar entre as doenças de renovação dos tecidos, o qual, junto com doenças infecciosas, má nutrição, guerra e doenças cardíacas, constituem as principais causas de morte nas populações humanas. Na Europa e na América do Norte, por exemplo, uma em cada cinco pessoas irá morrer de câncer. • DESENVOLVIMENTO DE UM CÂNCER: embora haja vários tipos de câncer, cada um com propriedades distintas, referimo-nos a eles em conjunto pelo termo genérico “câncer”, pois eles possuem determinados princípios em comum, que são: - AS CÉLULAS CANCEROSAS PROLIFERAM, INVADEM E PRODUZEM METÁSTASES. Quando o tecido cresce e se renova, cada célula deve adequar seu comportamento conforme as necessidades do organismo como um todo. A célula deve se dividir somente quando novas células de seu tipo são necessárias, abstendo-se de se dividir quando não há necessidade; ela deve viver tanto quanto for necessário, e se suicidar, quando não mais o for; e ela deve manter suas características especializadas e ocupar o local apropriado, e não se localizar em territórios inadequados. Em um grande organismo, não há dano algum significativo quando uma única célula apresenta, às vezes, um mau comportamento. Contudo, um colapso potencialmente devastador da ordem pode ocorrer quando uma única célula sofre uma alteração genética que permite que ela sobreviva e se divida quando não deveria, produzindo células-filhas que se comportam da mesma forma antissocial. Esse implacável clone de células anormais em expansão pode perturbar a organização do tecido e, por fim, do organismo com um todo. Essa é a gênese do câncer. - ESTUDOS EPIDEMIOLÓGICOS IDENTIFICAM CAUSAS EVITÁVEIS DE CÂNCER. A prevenção é sempre melhor do que a cura, mas, para prevenir o câncer, precisamos IGOR DE ANGELI • MEDICINA – TURMA XXVIII 2 câncer: formação, evolução e tratamento conhecer suas causas. Fatores do nosso ambiente ou aspectos da nossa vida ativam a doença e fazem com que ela se desenvolva? Se sim, quais são eles? As respostas a essas questões são obtidas, principalmente, a partir de estudos epidemiológicos, isto é, da análise estatística de populações humanas, investigando fatores que se correlacionam com a incidência das doenças. Os tipos de câncer que são comuns em uma população, por exemplo, variam de país para país, e estudos dos indivíduos migrantes mostraram que são os fatores do local onde vivem, e não de onde vieram, que determinam seu risco de desenvolver câncer. Embora ainda seja difícil descobrir quais os fatores específicos do ambiente ou do estilo de vida que são significantes, e muitos ainda permanecem desconhecidos, alguns já foram precisamente identificados. Por exemplo, há muito tempo foi observado que o câncer cervical, que ocorre no epitélio que reveste a cérvice (colo) do útero, era muito mais comum em mulheres com experiência sexual do que naquelas inexperientes, sugerindo uma causa relacionada com a atividade sexual. Agora sabemos, com base em modernos estudos epidemiológicos, que a maioria dos casos de câncer cervical depende de uma infecção do epitélio com determinados subtipos de um vírus comum, denominado vírus do papiloma humano (ou papilomavírus humano). - O CÂNCER SE DESENVOLVE PELO ACÚMULO DE MUTAÇÕES. Embora o DNA seja replicado e reparado com grande precisão, ocorre em média um erro a cada 109 ou 1010 nucleotídeos copiados. Isso significa que as mutações espontâneas ocorrem a uma taxa estima- da de 10–6 a 10–7 mutações por gene por divisão celular, mesmo sem a presença de agentes externos. Desse ponto de vista, o problema do câncer parece não ser porque ele ocorre, mas sim por que ele ocorre tão raramente. Portanto, percebe-se que a instabilidade genética resulta de mutações que interferem na replicação precisa e na manutenção do genoma e, portanto, aumenta a taxa de mutação. - AS CÉLULAS CANCEROSAS EVOLUEM APRESENTANDO CRESCENTES VANTAGENS COMPETITIVAS. IGOR DE ANGELI • MEDICINA – TURMA XXVIII 3 câncer: formação, evolução e tratamento As mutações que levam ao câncer não incapacitam as células mutantes. Ao con- trário, elas fornecem a essas células uma vantagem competitiva em relação às células vizinhas. Tal vantagem das células mutantes leva ao desastre do organismo como um todo. Com o crescimento, a população inicial de células mutantes evolui lentamente: ocorrem novas mutações ao acaso, algumas favorecidas pela seleção natural porque aumentam a proliferação e sobrevivência celular. Esse processo de mutações aleatórias seguido de seleção culmina na geração de células cancerosas que se tornam descontroladas na população de células que formam o organismo, alterando sua estrutura regular. - DUAS PRINCIPAIS CLASSES DE GENES SÃO CRÍTICAS PARA O CÂNCER: OS ONCOGENES E OS GENES SUPRESSORES DE TUMOR. Em muitos genes críticos para o câncer, as mutações perigosas são aquelas que tornam a proteína codificada hiperativa. Essas mutações de ganho-de-função têm um efeito dominante. Apenas uma cópia do gene precisa ser mutada para causar problemas. O gene mutante resultante é chamado de oncogene, e a forma normal correspondente do gene é chamada de proto-oncogene. - A COMPREENSÃO DA BIOLOGIA CELULAR DO CÂNCER ABRE CAMINHO PARA NOVOS TRATAMENTOS. • TRATAMENTOS: quanto mais compreendemos os truques que as células cancerosas usam para sobreviver, proliferar e se propagar, melhores as nossas chances de encontrar maneiras de combatê-las. A tarefa tornou-se mais desafiadora porque as células cancerosas são altamente mutáveis e, como IGOR DE ANGELI • MEDICINA – TURMA XXVIII 4 câncer: formação, evolução e tratamento ervas daninhas ou parasitas, rapidamente desenvolvem resistência aos tratamentos utilizados para exterminá-las. Além disso, como as mutações surgem aleatoriamente, é provável que cada caso de câncer tenha sua própria combinação de genes mutados. Contudo, existem formas que permitem que essa batalha seja vencida. O tratamento do câncer pode ser feito através de cirurgia, quimioterapia, radioterapia ou transplante de medula óssea. Em muitos casos, é necessário combinar mais de uma modalidade. • O LADO HUMANISTA: o ser humano com câncer vive lado-a-lado dessa doença e a vontade de se curar, de viver livre dessa celeuma. Combater o câncer é uma batalha árdua, difícil e que exige ciência, afeto e humanismo. Muitos pacientes lançam mão de: à Artes cênicas para se expressar; à Músicas; à Grupos de amigos; à Apoio e carinho da família. “Viver com uma doença tão intensa quanto o câncer é viver uma luta contínua, mas não tem problema. A gente luta junto todas as batalhas que forem necessárias, o que importa é vê- la sair de todas elas como vencedor. Não duvide da sua força, não deixe que uma doença possa parecer maior do que toda a história que já escreveu; o câncer é apenas um capítulo triste da sua vida, mas tenha certeza de que o próximo será de muita superação e gratidão.”
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