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Copyright © 2020 by Paco Editorial Direitos desta edição reservados à Paco Editorial. Nenhuma parte desta obra pode ser apropriada e estocada em sistema de banco de dados ou processo similar, em qualquer forma ou meio, seja eletrônico, de fotocópia, gravação, etc., sem a permissão da editora e/ou autor. Revisão: Márcia Santos Capa: Matheus de Alexandro Desenhos da capa: Arthur Ribeiro Salomão, Ana Júlia Ribeiro Salomão, Gabriela Guedes Pineda e Júlia Guedes Pineda Diagramação: Bruno Balota Edição em Versão Impressa: 2019 Edição em Versão Digital: 2020 Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) M593 Metodologias de ensino-aprendizagem na formação do professor: Debates e práticas/ organização Crislaine Aparecida Ribeiro Salomão; Margarete Bertolo Boccia; Thatiana Francelino Guedes Pineda – 1. ed. - Jundiaí [SP]: Paco Editorial, 2019. Recurso digital Formato: ePub Requisitos do sistema: Multiplataforma ISBN 978-85-462-1589-8 1. Educação 2. Formação de professores. 3. Metodologia. I. Salomão, Crislaine Aparecida Ribeiro. II. Boccia, Margarete Bertolo. III. Pineda, Thatiana Francelino Guedes. IV. Título. CDD 370.71 Conselho Editorial Profa. Dra. Andrea Domingues (UNIVAS/MG) (Lattes) Prof. Dr. Antonio Cesar Galhardi (FATEC-SP) (Lattes) http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?id=K4771296D1 http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?id=S219507 Profa. Dra. Benedita Cássia Sant’anna (UNESP/ASSIS/SP) (Lattes) Prof. Dr. Carlos Bauer (UNINOVE/SP) (Lattes) Profa. Dra. Cristianne Famer Rocha (UFRGS/RS) (Lattes) Prof. Dr. José Ricardo Caetano Costa (FURG/RS) (Lattes) Prof. Dr. Luiz Fernando Gomes (UNISO/SP) (Lattes) Profa. Dra. Milena Fernandes Oliveira (UNICAMP/SP) (Lattes) Prof. Dr. Ricardo André Ferreira Martins (UNICENTRO-PR) (Lattes) Prof. Dr. Romualdo Dias (UNESP/RIO CLARO/SP) (Lattes) Profa. Dra. Thelma Lessa (UFSCAR/SP) (Lattes) Prof. Dr. Victor Hugo Veppo Burgardt (UNIPAMPA/RS) (Lattes) Prof. Dr. Eraldo Leme Batista (UNIOESTE-PR) (Lattes) Prof. Dr. Antonio Carlos Giuliani (UNIMEP-Piracicaba-SP) (Lattes) Paco Editorial Av. Carlos Salles Bloch, 658 Ed. Altos do Anhangabaú, 2º Andar, Salas 11, 12 e 21 Anhangabaú - Jundiaí-SP - 13208-100 Telefones: 55 11 4521.6315 atendimento@editorialpaco.com.br www.pacoeditorial.com.br http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?id=N133032 http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?metodo=apresentar&id=K4784829U9 http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?id=K4703614A6 http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?id=K4700965H9 http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?id=P468677 http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?id=K4707925D1 http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?id=K4704828P6 http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?id=K4780765Z3 http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?id=K4763549E2 http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?id=K4737948P1 http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?id=K4759425A1 http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?id=K4730996E0 mailto:atendimento@editorialpaco.com.br%0D?subject=Livro%20Teoria%20da%20Hist%C3%B3ria%20-%20Paco%20Editorial http://www.editorialpaco.com.br/ Sumário Folha de rosto Apresentação Crislaine Aparecida Ribeiro Salomão; Margarete Bertolo Boccia; Thatiana Francelino Guedes Pineda Prefácio Maria do Socorro Taurino Capítulo 1. Formação inicial de professores: perspectivas atuais Elaine de O. Carvalho Moral Queiroz Capítulo 2. A ludicidade nos Centros de Educação Infantil (Cei): do proposto pelos documentos oficiais ao realizado no cotidiano escolar Ligia de Carvalho Abões Vercelli Capítulo 3. Práticas presentes na pré-escola como debate no curso de Pedagogia Thatiana F. Guedes Pineda Capítulo 4. Repensando a prática pedagógica do professor alfabetizador Regina Aparecida Loureiro Caroni Capítulo 5. Formação do professor, os meios de comunicação e o ensino da Língua Portuguesa Ângela Maria Infante Capítulo 6. O uso de materiais didáticos manipuláveis nas aulas de matemática do ciclo I da educação básica Margarete Bertolo Boccia Crislaine Aparecida Ribeiro Salomão Capítulo 7. Jogos tradicionais nas aulas de Matemática Crislaine Aparecida Ribeiro Salomão; Margarete Bertolo Boccia Capítulo 8. Possibilidades metodológicas para o ensino de ciências Simone Santoro Romano; Crislaine Aparecida Ribeiro Salomão Capítulo 9. Uma viagem na metodologia do ensino da Geografia para crianças:reflexões, descobertas e práticas Maria Tereza Medeiros Ardito Capítulo 10. O Brasil africano: o hiato entre a lei e a prática educativa em sala de aula Silvana de Oliveira Cortada Capítulo 11. Adaptações de acesso ao currículo para pessoas com deficiência Tânia Medeiros Aciem Recado aos professores Crislaine Aparecida Ribeiro Salomão; Margarete Bertolo Boccia; Thatiana Francelino Guedes Pineda Sobre as autoras Página final APRESENTAÇÃO Muito escutamos falar que o professor deve ser um mediador do conhecimento, precisando articular muito bem teoria e prática, utilizando-se de novas metodologias para que a aula aconteça com um diferencial e para que tenha um processo de ensino e aprendizagem propício ao diálogo, com debates de práticas. Este livro reúne textos de professoras que atuam no curso de Pedagogia presencial apresentando propostas e reflexões para que experiências em sala de aula possam ser ampliadas. As discussões sobre o perfil do professor, possibilidades de atuação na educação infantil e no ensino fundamental, olhar atento às diferentes áreas do conhecimento e caminhos já trilhados e possíveis de serem revivenciados também foram considerados. Organizar este livro, partilhando também a tarefa da escrita com as colegas, representou para nós uma preciosa experiência; possibilitando nossa transformação e intenção de possibilitar reflexões que favoreçam a formação de futuras pedagogas que atuarão no ensino e, ainda a formação continuada dos professores em atividade. O espaço da escola, precisamente a sala de aula pouco se modificou ao longo dos tempos; os processos formativos também pouco se alteraram, mas estudos já comprovaram que a cada “boa” mudança, mesmo que não sejam tão expressivas assim, resultados significativos são identificados. Os egressos do curso de Pedagogia saem desejosos de colocarem em prática e vivenciarem uma educação diferente, renovada e inspiradora para seus pequenos alunos, mas nem sempre encontram o espaço da escola propício à nova semeadura e futura colheita de “novos” frutos. Esperamos que a escolha dos temas e assuntos aqui apresentados possam se traduzir em contribuições significativas para o avanço das discussões no tocante à formação e atuação dos professores e, representem uma possibilidade de se fazer sim diferente o espaço da sala de aula e, da relação com a construção do conhecimento de todos os sujeitos envolvidos. Que nossa escolha pelo formato de mesclar reflexões, práticas, sugestões, encaminhamentos e relatos de experiências de sucesso possam servir de inspiração a quem tiver acesso e a oportunidade da leitura! Crislaine Aparecida Ribeiro Salomão Margarete Bertolo Boccia Thatiana Francelino Guedes Pineda Organizadoras PREFÁCIO O trabalho apresentado neste livro encontra-se no contexto da formação inicial e continuada do profissional docente e, pelo seu próprio título Metodologias de Ensino-Aprendizagem na Formação do Professor: Debates e Práticas, tem a preocupação fundamental de analisar diferentes possibilidades para o ensino e o estudo nas fases iniciais da escolarização, de modo a aliar conceitos e procedimentos e prover condições para uma aprendizagem profícua que contribua para o domínio de diferentes linguagens a fim de permitir a compreensão do mundo, nos dias de hoje, e promover a autonomia intelectual dos alunos, enquanto seres sociais e políticos. Os autores são docentes em cursos de formação deprofessores e apresentam análises que refletem suas experiências, ancoradas nas teorias que respaldam suas convicções nos campos científico, filosófico, ético e estético. Tem-se então, evidentemente, integração de saberes que imprime a marca da interdisciplinaridade e da contextualização, elementos necessários e indispensáveis à construção de competências. Por outro lado, pela certeza do inacabamento da obra, apelam para uma reflexão que possibilite aos leitores/atores a recriação dos caminhos apontados. A obra em discussão está organizada em onze capítulos apresentados na seguinte sequência: No primeiro capítulo, a professora Elaine de O. Carvalho Moral analisa a “Formação inicial de professores: perspectivas atuais”, enfatizando a necessidade de uma formação ampla com possibilidade de recriação no lugar da repetição, com base em elementos de criticidade e ruptura em relação à própria experiência, possibilitando espaços para a participação e reflexão efetivas. No segundo capítulo, a professora Ligia de Carvalho Abões Vercelli com o tema “Ludicidade nos Centros de Educação Infantil (Cei): do proposto pelos documentos oficiais ao realizado no cotidiano escolar” analisa a ludicidade como atividade principal na creche, considerando que a escola de educação infantil precisa dar condições para que as crianças sejam ouvidas e possam expressar suas necessidades. Com base em pesquisa realizada em Centros de educação Infantil, observa ainda de forma inconclusa que o conjunto de atividades desenvolvidas condiz com o que é proposto pelos documentos oficiais e possibilita a formação de competências relacionadas ao desenvolvimento global das crianças. No terceiro capítulo, a professora Thatiana Pineda analisa “Práticas presentes na pré-escola como debate no curso de Pedagogia”, com foco nas práticas desenvolvidas na pré-escola, debatidas pelos alunos de Pedagogia, tanto em termos teóricos, por ocasião de oficinas, quanto em termos práticos, relacionado ao que observam nos estágios. Em pauta, rodas de conversa, contação de histórias e outras práticas que contribuem para a formação docente em busca da formação integral das crianças. Na sequência, no Capítulo 4, a professora Regina Aparecida loureiro Caroni, com o tema “Repensando a prática pedagógica do professor alfabetizador” analisa as propostas contidas em documentos diversos em busca de referendar práticas alfabetizadoras formadoras de competências que, de fato, garantam o uso social da leitura e da escrita a todos nas mais diferentes situações. No Capítulo 5, a professora Ângela Maria Infante analisa a “Formação do professor, os meios de comunicação e o ensino da língua portuguesa” com foco na formação inicial e continuada do professor. Para tanto, considera as orientações do MEC com vistas à formação básica nacional e, também, o que propõe a Base Nacional Comum Curricular, indicando a necessidade de se repensar a disciplina Metodologia de Ensino de Língua Portuguesa, no ensino superior, como possível caminho para transformar a prática pedagógica nas escolas. No sexto capítulo, as professoras Margarete Bertolo Boccia e Crislaine Aparecida Ribeiro Salomão apresentam o tema “O uso de materiais didáticos manipuláveis nas aulas de Matemática do ciclo I da Educação Básica”, considerando que esses materiais possibilitam ao aluno a passagem do concreto para a representação de ideias, base do processo de abstração e formação do raciocínio matemático. Com este escopo, são discutidos os papéis de professores e alunos, bem como habilidades de organização do pensamento e de análise e interpretação de dados. O Capítulo 7 traz de volta as professoras Crislaine Aparecida Ribeiro Salomão e Margarete Bertolo Boccia, agora com o tema “Jogos tradicionais nas aulas de Matemática” discutindo o uso de jogos tradicionais para interligar conteúdos. As autoras enfatizam a necessidade de um bom planejamento aliado a um roteiro de observação que ensejem uma avaliação dos processos e resultados alcançados pelos alunos, em decorrência do levantamento de hipóteses, da tomada de decisões e da própria interação com os colegas. O oitavo capítulo tem como título “Possibilidades metodológicas para o ensino de ciências” e foi apresentado pelas professoras Simone Santoro Romano e Crislaine Aparecida Ribeiro Salomão que discutem diferentes possibilidades para o ensino de Ciências, tendo em vista o desenvolvimento do espírito científico e o entendimento de que as ações do homem impactam diretamente o planeta Terra, considerando a necessidade de maior sustentabilidade para o meio ambiente e orientando no sentido de práticas pedagógicas críticas e questionadoras. O Capítulo 9, cuja autoria é da professora Maria Tereza Medeiros Ardito traz o título “Uma viagem na metodologia do ensino da Geografia para criança: reflexões, descobertas e práticas”. A ideia de viagem reflete bem a ideia de espaço com a complexidade que apresenta e também a descoberta, o descortinamento. A autora aponta o caráter interdisciplinar dos estudos geográficos, mostrando algumas possibilidades para o estudo e a compreensão dos espaços vivenciados pelas crianças, alertando para uma leitura crítica e a necessidade de reconstrução desses caminhos. O Capítulo 10 tem como autora, a professora Silvana de Oliveira Cortada que analisa o tema “Brasil africano: o hiato entre a lei e a prática educativa em sala de aula”. Neste capítulo o foco é o ensino de História, considerando a determinação legal de incluir os temas relacionados aos povos africanos, afro-brasileiros e indígenas na educação básica com a finalidade de melhor compreender a diversidade e combater a discriminação étnico-racial além de cultivar a multiplicidade de culturas e a cidadania. No Capítulo 11, o último, a professora Tânia Medeiros Aciem apresenta o tema “Adaptações de acesso ao currículo para pessoas com deficiência” apontando para o uso de metodologias e ações que possibilitem reais oportunidades a alunos com diferentes deficiências. Trata de educação inclusiva abrangente cujas metodologias, baseadas em princípios inclusivos, promovam a cidadania e direitos iguais de acesso, permanência e sucesso na trajetória curricular e social, imprimindo respeito à diversidade humana. Ao final desta apresentação, cumpre dizer que se trata de uma produção que mantém seu foco na educação de qualidade, exigindo para tanto metodologias, ações e recursos que contribuam para a formação do ser humano para o exercício consciente da cidadania crítica, responsável, comprometida com a aceitação das diferenças, tornando-se agente no processo de busca contínua do conhecimento, com o rigor científico e cultivo da ética e da estética, enquanto princípios de vida. O convite está lançado: leitura atenta, boas reflexões críticas, recriação de caminhos para o ensino e o estudo, em busca de aprendizagem significativa. Agradeço a confiança dos organizadores e autores para esta apreciação preliminar e o encaminhamento deste precioso e colaborativo trabalho. Maria do Socorro Taurino Capítulo 1 FORMAÇÃO INICIAL DE PROFESSORES: PERSPECTIVAS ATUAIS Elaine de O. Carvalho Moral Queiroz Introdução O texto a seguir é um excerto da tese de doutorado da autora, intitulado Pibid e Formação Docente: contribuições do Professor Supervisor para a prática pedagógica do aluno egresso em início de carreira, que discute a formação de professores através do resgate de alguns fatos que marcaram a Educação, trazendo uma rápida retrospectiva histórica a respeito da Formação de Professores no Brasil, pois nas palavras de Nóvoa (1995, p. 14), “o processo histórico de profissionalização do professorado (passado) pode servir de base à compreensão dos problemas atuais da profissão docente (presente)”. A discussão destaca alguns períodos em que, por influências políticas e sociais, houve a necessidade da criação de leis e diretrizes para a Educação e, por conseguinte, o delineamento na formação de professores, até chegarmos à situação atual em que a teoria e prática são tidas como elementosimportantes na formação de professores para as práticas pedagógicas. Formação inicial de professores: os caminhos da educação no Brasil No século XIX, o comprometimento da sociedade para com a educação elementar era falho, e havia um descaso com o preparo e a formação do mestre. Apesar disso, no final deste século, surgem as primeiras escolas normais no Brasil, fundadas em Niterói (1835), Bahia (1836), Ceará (1845) e São Paulo (1846), no intuito de enriquecer a formação de professores. A escola criada em São Paulo era destinada somente a homens, excluindo as mulheres, e o professor era também do sexo masculino. Ele era catedrático de filosofia e moral no curso ligado à faculdade de Direito. Essa escola, que perdurou até 1867, formou cerca de 40 professores em aproximadamente 20 anos, em média dois professores por ano. E, em 1874 é fundada na Capital de São Paulo, uma Escola Normal, desta vez oferecida também às mulheres, em condições precárias e irregulares, com um ensino distante das questões teóricas, técnicas e metodológicas, cursada em dois anos, em nível secundário. O currículo era diferenciado para homens e mulheres, ou seja, para o sexo feminino era reduzido, contemplando mais os trabalhos domésticos e a ausência na área de exatas (Aranha, 1989). Somente no final do século XIX, numa época em que o número de mulheres supera o de homens, o currículo é unificado, porém, disciplinas como Matemática, Física e Geometria, não eram trabalhadas com o mesmo nível de profundidade. Nessa época surge um movimento de renovação do ensino, a Escola Nova, também chamada de Escola Ativa ou Progressista, que ganha força na primeira metade do século XX, que vem para contrapor o tradicional e revisar os padrões da escola normal, com o intuito de fomentar reformas estaduais do ensino primário e normal, chamando a atenção sobre a realidade integral das pessoas, com suas aspirações e valores. Desde a década de 1920, os pioneiros da Educação Nova1 vinham lutando por uma escola pública gratuita para todos. Em 1932 os líderes do movimento da reforma educacional, assinam o Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova, elaborado por Fernando de Azevedo, representando o ápice da luta ideológica quanto a autonomia educativa e a descentralização do ensino. O Decreto-Lei n. 8.5302 de 02 de janeiro de 1946 vem para afirmar a Lei Orgânica do Ensino Normal onde ele passa a promover a formação do pessoal docente necessário às escolas primárias; habilitar administradores escolares destinados às mesmas escolas; desenvolver e propagar os conhecimentos e técnicas à educação da infância. (Romanelli, 1984, p. 164) Ficando assim o Ensino Normal dividido em curso de primeiro ciclo (4 anos de duração), para formação de regentes de ensino primário, que funcionariam em escolas chamadas Escolas Normais Regionais e, curso de segundo ciclo (3 anos de duração), para formação de professores primários, que funcionariam em estabelecimentos nomeados de Escolas Normais, que em anexo funcionavam o Jardim de Infância e a Escola Primária; além da criação dos Institutos de Educação e dos cursos de especialização de professores primários e habilitação de administradores escolares. Segundo Ghiraldelli (2001, p. 113) “a rede pública de ensino cresceu substancialmente nos anos 40 e 50, tornando-se um patrimônio que os setores sociais mais democráticos não titubeavam em defender”. Este crescimento se deu devido à expansão industrial gerada por grandes transformações econômicas, sociais e políticas, onde as escolas primárias e secundárias cresceram muito em número, concentrando-se nas regiões urbanas das cidades mais desenvolvidas. No período entre 1941 a 1946, o projeto da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional foi encaminhado com o objetivo de estabelecer reformas na Educação que, em 1959, foram marcadas por conflitos entre os setores sociais democráticos com a igreja, a imprensa e os partidos ideológicos, surgindo assim a “Campanha em defesa da escola pública”, levando à aprovação da LDB 4.024/613 que garantia a igualdade das verbas públicas também ao ensino privado. Essa lei acabou trazendo uma insatisfação à camada popular e democrática, deixando assim de contribuir para as transformações na estrutura educacional do país, conforme aponta Aranha (1989): Com a criação do Conselho Federal de Educação (CFE) e dos Conselhos Estaduais de Educação (CEE), é também permitida a representação das escolas particulares. Isso torna inevitável a pressão e o jogo de influências no sentido da obtenção de recursos que, aliás, são assegurados pela lei. No entanto, tal “cooperação financeira” não deixa de caracterizar uma situação de injustiça social numa sociedade em que 50% da população em idade escolar se encontra fora da escola! Todos esses desencontros aumentam a defasagem entre o sistema educacional e o sistema econômico. De resto, podemos observar como a legislação sempre reflete os interesses das classes representadas no poder. (Aranha, 1989, p. 251) Com essa Lei n. 4.024/61 admite-se o rompimento com a uniformidade curricular das escolas normais, havendo uma maior flexibilização. Entre 1946 e 1964, após o fim do Estado Novo,4 o Brasil conseguiu a democracia, com a destituição de Getúlio Vargas em 1945. (Ghiraldelli, 2001) Nesse período entre os anos de 1950 e 1960, Paulo Freire (1983) trouxe uma proposta democrática em defesa da conscientização do educando, lutando contra o autoritarismo e o ensino da escola tradicional, por ele considerada como uma “Educação Bancária” com uma “ideologia repressora”, em que o professor era o detentor do saber, visto como “sujeito” e os alunos considerados como “objetos”, como seres passivos que aceitavam tudo sem questionar nada. Era a chamada “Pedagogia Libertadora” defendida por Paulo Freire, através de suas críticas, valorizando um ensino voltado às questões problematizadoras, ou seja, ao pensamento crítico do aluno e à conscientização da realidade social, que fora interrompida em 1964 com o golpe militar, surgindo “sérios problemas decorrentes de situações de empobrecimento, que chega a níveis de miserabilidade” (Aranha, 1989, p. 252). A partir de então, instalou-se uma reforma autoritária aprumada e dependente, atrelando o sistema educacional a um modelo político- econômico de desenvolvimento. Foram 21 anos de ditadura militar, em que o ensino de qualidade passou a fazer parte apenas das escolas privadas, com a educação voltada à elite, gerando enfraquecimento dos defensores do ensino público e um aumento do índice de analfabetismo no Brasil (Ghiraldelli, 2001). Nessa época ocorreu a reforma do ensino superior, com a implementação da Lei n. 5.540/685 pelo governo, introduzindo diversas modificações na LDB, tendo como objetivo ocultar as intenções de democratizar o ensino de 3º grau, atingindo assim tanto a classe popular quanto a classe média. Em 1971 é promulgada a Lei n. 5.692/716 que fixou a reforma no ensino de 1º e 2º graus, com a profissionalização do ensino. A Escola Normal é extinta e passa a ser denominada de Habilitação Específica para o Magistério, em nível de segundo grau, em que o currículo deveria ter uma base comum nacional, obrigatória, dando a oportunidade aos alunos que não conseguiam ingressar no ensino superior. Portanto “a formação de professores para a docência nas quatro séries do ensino de primeiro grau passou a ser realizada através de uma habilitação profissional, dentre as inúmeras outras que foram regulamentadas” (Gonçalves e Pimenta, 1992, p. 106). No final da década de 1970 muitas teorias tiveram a liberdade de movimentar-se no campo educacional, assim como também o nascimento de associações interessadas na qualidade da educação, surgiram. Foi criada a Ande – Associação Nacional de Educação – na transição de um governo militar para um governo mais democrático, que visava a qualidade na educação pública que até então era privilégio das instituições privadas. A Lei n. 7.044/827 vem para alterar os dispositivos da Lei n. 5.692/71, deixando de vigorar o ensino profissionalizanteobrigatório do 2º Grau. A década de 1980, apesar do surgimento de novas teorias, como a Teoria Construtivista, assim como também a formação do sindicato dos professores, foi marcada por perdas no campo educacional e por dificuldades econômicas e sociais, fazendo com que houvesse um significativo aumento da desigualdade social, culminando no surgimento de grupos sociais que tinham por objetivo questionar o trabalho dos professores e da Escola Básica. E, no ano de 1982, por iniciativa do Governo Federal, surgem os Cefans – Centros Específicos de Formação e Aperfeiçoamento do Magistério –, na eminência de “melhoria na formação de docentes para os anos iniciais de escolarização, em vista dos problemas detectados com a formação desses professores na Habilitação Magistério. Com formação em tempo integral, com três anos de curso” (Gatti, 2009, p. 39). Os Cefans evidenciavam as “práticas de ensino” e primavam por uma formação integral, geral e pedagógica dos alunos, atingindo um grau de qualidade excelente na formação de professores. Nesse ínterim, nos anos de 1990, é proposta a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDB 9.394/968 –, com ideais de uma educação voltada tanto à realidade do aluno como à sua autonomia, demonstrando também uma visão reflexiva e crítica do professorado e estabelecendo maior liberdade às escolas na execução de seus projetos e maior interesse no convívio social. E, com o sancionamento da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) nº 9.394 e sua publicação em 20 de dezembro de 1996, esses Centros Específicos foram extintos, pois a formação dos alunos era em nível médio, e então, a partir daí a formação de professores passou a ser feita em cursos de Licenciatura em Pedagogia, ministrados em nível superior. Os docentes que tinham sido diplomados pelo Magistério, anteriormente à lei, teriam dez anos, ou seja, de 1996 a 2006, para obterem a certificação em nível superior. A lei trouxe novas discussões e debates sobre a formação de professores reforçando a divisão entre especialistas e professores, tirando das mãos dos cursos de Pedagogia e das Faculdades de Educação o lugar de formação dos professores de Educação Infantil e das Séries Iniciais do Ensino Fundamental, conforme aponta em seus artigos: Art. 62. A formação de docentes para atuar na educação básica far-se-á em nível superior, em curso de licenciatura, de graduação plena, em universidades e Institutos superiores de educação, admitida, como formação mínima para o exercício do magistério na Educação Infantil e nas quatro primeiras séries do Ensino Fundamental, a oferecida em nível médio, na modalidade Normal. Art. 63. Os Institutos superiores de educação manterão: I – Cursos formadores de profissionais para a educação básica, inclusive o Curso Normal Superior, destinado à formação de docentes para a educação infantil e para as primeiras séries do ensino fundamental; II – programas de formação pedagógica para portadores de diplomas de educação superior que queiram se dedicar à educação básica; III – programas de educação continuada para profissionais de educação dos diversos níveis. Art. 64. A formação de profissionais de educação para administração planejamento, inspeção, supervisão e orientação educacional para a educação básica, será feita em cursos de graduação em pedagogia ou em nível de pós- graduação, a critério da instituição de ensino, garantida, nesta formação, a base comum nacional. (Brasil, 1996) Em análise ao Artigo 62, é indicado em seu texto que a formação de professores para os anos iniciais do ensino fundamental será feita em nível superior, porém admite contraditoriamente, no mesmo artigo, poder obter essa formação em nível médio. E, conforme já mencionado acima, é estabelecido um prazo de dez anos para adaptá-la, período esse denominado de Década da Educação tendo início um ano a partir da Lei n. 9.293/96 que, segundo o Artigo 87, Inciso IV, parágrafo 4º deixa claro: “Até o fim da Década da Educação somente serão admitidos professores habilitados em nível superior ou formados por treinamentos em serviços”. Em 2006 a referida Década da Educação se completou e a recomendação não foi atendida em sua totalidade. E, como forma de minimizar o problema o governo sanciona a Lei n. 12.7969 de 04 de abril de 2013, trazendo alterações da LDB, inclusive no art. 62, que teve o parágrafo 4º, inciso 4º, suspenso. Em dezembro de 1999 com a publicação e homologação do Decreto nº 3.276/99,10 em seu Artigo 3º, parágrafo 2º, é estabelecido que “a formação em nível superior de professores para a atuação multidisciplinar, destinada ao magistério na educação infantil e nos anos iniciais do ensino fundamental, far-se-á exclusivamente em cursos normais superiores” (Brasil, 1999, grifo nosso) enquanto que para atuar em campos específicos do conhecimento poderá ser ministrado por institutos superiores de ensino, por universidades, centros universitários ou outras instituições de ensino superior que sejam credenciados legalmente e, com sua revogação através do Decreto nº 3.55411 de 2000, passa a valer que a formação far-se-á preferencialmente e não mais exclusivamente em cursos normais superiores, ou seja, há a possibilidade de ser feito em locus não determinado. Com essa expansão do ensino superior, não necessariamente universitário, a flexibilização na oferta de cursos para formação docente cresce e os Institutos Superiores de Educação, as Escolas Normais Superiores, presenciais ou semipresenciais ou totalmente à distância ganham espaço para poder atender a grande demanda pela formação superior (Freitas, 2007). Conforme aponta Saviani: A LDB sinalizou para uma política educacional tendente a efetuar um nivelamento por baixo: os institutos superiores de educação emergem como instituições de nível superior de segunda categoria, provendo uma formação mais aligeirada, mais barata, por meio de cursos de curta duração. (Saviani, 2008, p. 218) Com essa proposta de uma formação mais rápida e “aligeirada”, a pesquisa e a extensão acabam ficando fora da formação docente, o que na verdade deveria fazer parte da formação universitária (Mazzeu, 2011). Em meio a toda essa estrutura que colocava em evidência a formação de professores, por outro lado, com um olhar para a formação discente, a LDB em seus artigos 30 e 32, estabelece na primeira etapa escolar, a educação infantil, as creches para crianças até três anos de idade e pré-escola para crianças de quatro a seis anos de idade e o ensino fundamental com a duração de oito anos, sendo obrigatório e gratuito nas escolas públicas. E, com o governo de Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2010) a Lei Federal n. 11.114,12 de maio de 2005, vem modificar o texto dos artigos 6º, 30º, 32º e 87º, onde são estabelecidas mudanças na LDB 9.394/96, a qual torna obrigatória a matrícula das crianças no ensino fundamental a partir dos seis anos de idade, instituindo um ensino fundamental de Nove Anos de duração, cuja nomenclatura “série” foi substituída por “ano”. A justificativa dada pelo governo para o estabelecimento da Lei n. 11.114, foi a de que apesar de muitas crianças com a idade de seis anos advindas de famílias de classes média e alta já frequentarem a escola (Brasil, 2007), o que estava incoerente com a realidade brasileira, permaneciam ainda de fora uma parte significativa das crianças brasileiras nesta faixa etária. Então, com a nova proposta do MEC, a escola poderia abranger um número ainda maior de crianças que pudessem usufruir dos benefícios da escola, deixando claro que não se tratava de antecipação de conteúdos, mas da antecipação na participação ativa das crianças na escola. Mediante esse quadro, na análise e inter-relação entre a formação docente e a formação discente, com “[...] o aumento de alunos nas escolas de educação básica, públicas e privadas, além de demandar mais professores, também impulsionou grande parte destes alunos a continuar seus estudos em nível superior [...]” (Penin, 2009, p. 22) e por este motivo, nessa época houve um aumentoexpressivo na oferta de cursos superiores, refletindo numa crescente quantidade de alunos matriculados no ensino de graduação e um número significativo desses alunos ingressaram em cursos de Licenciatura – Formação de Professores – o que incluía a Licenciatura em Pedagogia. A maioria desses estudantes era: [...] provenientes não somente das classes médias, como acontecia prioritariamente em décadas anteriores, mas das diferentes camadas da classe trabalhadora. É possível levantar a hipótese de que esse deslocamento da classe social prioritária entre os professores tenha contribuído para o aparecimento de representações sociais de desvalorização da profissão, mas que parece ser mais plausível encaminhar uma explicação com base na baixa remuneração oferecida aos professores das diferentes redes de ensino público [...] (Penin, 2009, p. 22-23) Assim como Penin (2009), Freitas (2002) já confirmava um crescente na criação de cursos na época e, especificamente no ano de 2000, 142 novos cursos de Pedagogia, espalhados pelos Estados do Brasil foram autorizados, observando-se uma “[...] expansão desordenada e, portanto, com qualidade comprometida, de cursos e instituições de ensino superior para formação de professores” (Freitas, 2002, p. 144-145), embora o controle das comissões avaliativas para a garantia da qualidade dos cursos a serem autorizados tenham sido intensas. Contudo, pela grande procura a cursos de nível superior de baixo custo que atuavam no mercado competitivo na Formação de Professores, houve uma desvalorização da profissão que, segundo Freitas, foi marcada por uma: degradação das condições de funcionamento das escolas, pelas péssimas condições atuais de trabalho, salário e carreira, as novas instituições criadas têm encontrado dificuldades na manutenção de seus cursos de formação de professores exclusivamente como curso normal superior. (Freitas, 2002, p. 144- 145) Além das péssimas condições de funcionamento das escolas e da má remuneração pelo trabalho, seria preciso, para que houvesse uma valorização da profissão e uma maior qualidade, mudar a forma de pensar a formação docente, sendo necessário antes de tudo “[...] reconhecer as deficiências científicas e a pobreza dos programas atuais de formação de professores” e, ater-se a uma reflexão mais aprofundada que ultrapassasse uma fragmentação tradicional existente entre “[...] componente científico versus componente pedagógico, disciplinas teóricas versus disciplinas metodológicas [...]” (Nóvoa, 1992, p. 24). Todo esse cenário criado ao longo da história, alicerçado por leis que foram sendo sancionadas no intuito de não só estabelecer diretrizes comuns, mas também na intenção de melhorar cada vez mais a educação e o ensino, mostrou que ainda haviam obstáculo a serem ultrapassados e superados e que ainda algumas mudanças precisariam ocorrer. E, em 2002, por meio da Resolução CNE/CP nº1/2002,13 com a criação das Diretrizes Curriculares Nacionais (DCN’s) que definia a Formação de Professores da Educação Básica em cursos de licenciatura – graduação plena – em nível superior, em seu Artigo 3º, destaca que princípios norteadores para a formação de professores para atuarem nas diferentes etapas e modalidades da educação básica, devem considerar: I – A competência como concepção nuclear na orientação do curso; II – A coerência entre a formação oferecida e a prática esperada do futuro professor, tendo em vista: a) a simetria invertida, onde o preparo do professor, por ocorrer em lugar similar àquele em que vai atuar, demanda consistência entre o que faz na formação e o que dele se espera; b) a aprendizagem como processo de construção de conhecimentos, habilidades e valores em interação com a realidade e com os demais indivíduos, no qual são colocadas em uso capacidades pessoais; c) os conteúdos, como meio e suporte para a constituição das competências; d) a avaliação como parte integrante do processo de formação, que possibilita o diagnóstico de lacunas e a aferição dos resultados alcançados, consideradas as competências a serem constituídas e a identificação das mudanças de percurso eventualmente necessárias. III – a pesquisa, com foco no processo de ensino e de aprendizagem, uma vez que ensinar requer, tanto dispor de conhecimentos e mobilizá-los para a ação, como compreender o processo de construção do conhecimento. (Brasil, CNE/CP, 2002) O que demonstra ser fundamental é a coerência entre o que é proposto nos cursos de formação de professores, com a prática, ou seja, a relação entre teoria e prática, assim como também promover, por meio da aprendizagem, o processo de construção de conhecimentos, habilidades e valores, em consonância com a realidade, permeados pela pesquisa, uma vez que é parte integrante do processo de ensino e aprendizagem. A teoria e prática, e o saber-fazer Conforme comenta Gatti (2013) em documentos oficiais e acadêmicos na área da educação, é proposto que “a formação para a profissão de professor deve ter como eixo uma relação efetiva entre teorias e práticas educacionais” (p. 95), ou seja, as relações entre essas ideias devem ser inerentes, porém, segundo “pesquisas realizadas no Brasil sobre o currículo efetivamente desenvolvido nas instituições formadoras de docentes, na maioria das vezes, não evidenciam a concretização dessa relação” (p. 96). Na verdade, a teoria e a prática, tão citadas em documentos norteadores mais recentes, tidos como elementos importantes na formação de professores, não têm se consolidado nos cursos de licenciaturas como deveriam, posto que se encontram distantes um do outro, “mesmo com ajustes parciais em razão do proposto nas novas diretrizes, verifica-se ainda [...] o oferecimento de formação com foco na área disciplinar específica” (Gatti, 2013, p. 96), enquanto que deveriam ser tratados interdisciplinarmente, conforme aponta as Diretrizes Curriculares Nacionais para a formação de Professores da Educação Básica (2002) em seu Artigo 12, parágrafo 3º: “No interior das áreas ou das disciplinas que constituírem os componentes curriculares de formação, e não apenas disciplinas pedagógicas, todas terão a sua dimensão prática” (Brasil, CNE/CP, 2002). Bem lembrado por Garcia, a formação de professores, deve ser considerara uma “área de conhecimento, investigação e de propostas teóricas e práticas” (Garcia, 1999, p. 26). Para Gatti as Diretrizes Curriculares devem servir de referência para as universidades e as instituições formadoras, em prol de uma formação de professores adequada e de sucesso. Um intercâmbio com as escolas, permitindo uma experiência direta com a realidade escolar seria imprescindível, porém, o que acontece é que “os cursos formadores de professores, embora em seu projeto pedagógico adotem essas referências, na realidade não as concretizam em seus currículos” (Gatti, 2003, p. 48). Neste sentido, reforça Garcia (1999): A formação de professores é uma área de conhecimentos, investigação e de propostas teóricas e práticas que, no âmbito da Didáctica e da organização Escolar, estuda os processos através dos quais os professores – em formação ou exercício – se implicam individualmente ou em equipa, em experiências de aprendizagem através das quais adquirem ou melhoram os seus conhecimentos, competências e disposições, e que lhes permite intervir profissionalmente no desenvolvimento do seu ensino, do currículo e da escola, com o objectivo de melhorar a qualidade da educação que os alunos recebem. (Garcia, 1999, p. 26) Por todas essas fragilidades apontadas acima, assim como também, na análise e observação do oferecimento na matriz dos cursos de formação de professores, de disciplinas que muitas vezes não se articulam com as questões de cunho pedagógico, é que em 2006, emergem novas Diretrizes Curriculares Nacionais para o curso de Pedagogia, que em seu texto é destacado: Art. 2º As Diretrizes Curriculares para o curso de Pedagogia aplicam-se à formação inicial para o exercício da docência na Educação Infantil e nos anos iniciais do Ensino Fundamental,nos cursos de Ensino Médio, na modalidade Normal, e em cursos de Educação Profissional na área de serviços e apoio escolar, bem como em outras áreas nas quais sejam previstos conhecimentos pedagógicos. § 1º Compreende-se a docência como ação educativa e processo pedagógico metódico e intencional, construído em relações sociais, étnico-raciais e produtivas, as quais influenciam conceitos, princípios e objetivos da Pedagogia, desenvolvendo- se na articulação entre conhecimentos científicos e culturais, valores éticos e estéticos inerentes a processos de aprendizagem, de socialização e de construção do conhecimento, no âmbito do diálogo entre diferentes visões de mundo. § 2º O curso de Pedagogia, por meio de estudos teórico-práticos, investigação e reflexão crítica, propiciará: I – O planejamento, execução e avaliação de atividades educativas; II – A aplicação ao campo da educação, de contribuições, entre outras, de conhecimentos como o filosófico, o histórico, o antropológico, o ambiental- ecológico, o psicológico, o linguístico, o sociológico, o político, o econômico, o cultural. (Brasil, CNE/CP, 2006) Com as novas Diretrizes, as atribuições e responsabilidades são extensas e abrangentes, a complexidade curricular que é exigida para esse curso é grande, notando-se também, pelas orientações da resolução citada, a dispersão disciplinar que se impõe, em função do tempo de duração do curso e sua carga horária [...](Gatti, 2009, p. 49) Sendo assim, as instituições cujos cursos de Pedagogia são hoje oferecidos em três anos, a partir do ano de 2017 deverão se ajustar à nova Resolução, tendo que ter uma duração mínima de quatro anos e uma carga horária também mínima de 3.200 horas, conforme determina o CNE/CP (Conselho Nacional de Educação Conselho Pleno) em seu Artigo 13 da Resolução nº 2 de 01 de julho de 2015:14 Art. 13. Os cursos de formação inicial de professores para a educação básica em nível superior, em cursos de licenciatura [...] § 1º Os cursos de que trata o caput terão, no mínimo, 3.200 (três mil e duzentas) horas de efetivo trabalho acadêmico, em cursos com duração de, no mínimo, 8 (oito) semestres ou 4 (quatro) anos, compreendendo: I – 400 (quatrocentas) horas de prática como componente curricular, distribuídas ao longo do processo formativo; II – 400 (quatrocentas) horas dedicadas ao estágio supervisionado, na área de formação e atuação na educação básica, contemplando também outras áreas específicas, se for o caso, conforme o projeto de curso da instituição; III – pelo menos 2.200 (duas mil e duzentas) horas dedicadas às atividades formativas estruturadas pelos núcleos definidos nos incisos I e II do Artigo 12 desta Resolução, conforme o projeto de curso da instituição; IV – 200 (duzentas) horas de atividades teórico-práticas de aprofundamento em áreas específicas de interesse dos estudantes, conforme núcleo definido no inciso III do Artigo 12 desta Resolução, por meio da iniciação científica, da iniciação à docência, da extensão e da monitoria, entre outras, consoante o projeto de curso da instituição. § 2º Os cursos de formação deverão garantir nos currículos conteúdos específicos da respectiva área de conhecimento ou interdisciplinares, seus fundamentos e metodologias, bem como conteúdos relacionados aos fundamentos da educação, formação na área de políticas públicas e gestão da educação, seus fundamentos e metodologias, direitos humanos, diversidades étnico-racial, de gênero, sexual, religiosa, de faixa geracional, Língua Brasileira de Sinais (Libras), educação especial e direitos educacionais de adolescentes e jovens em cumprimento de medidas socioeducativas. § 3º Deverá ser garantida, ao longo do processo, efetiva e concomitante relação entre teoria e prática, ambas fornecendo elementos básicos para o desenvolvimento dos conhecimentos e habilidades necessários à docência. [...] (Brasil, CNE/CP, 2015) Com esta Resolução fica claro o grande desafio aos gestores, professores e dirigentes das Instituições que abraçam a formação de professores no curso de Pedagogia o qual, conforme já apontado acima, além da obrigatoriedade da duração de quatro anos e de uma carga horária mínima de três mil e duzentas horas, deverá oferecer mais atividades teórico-práticas que permitam aos futuros docentes entrarem em contato com situações do cotidiano escolar, possibilitando uma formação mais alicerçada, conforme afirma Mizukami (2013): “O grande desafio colocado atualmente refere-se à necessidade de se formar bons professores para cada sala de aula de cada escola por meio de processos formativos pertinentes a um mundo em mudança” (Mizukami et al., 2013, p. 24). A autora propõe o oferecimento de situações em que experiências diversas, durante o curso de Pedagogia, sejam exploradas de modo a tornar possível a formação de professores para as especificidades de cada turma, de cada sala de aula, como únicas, possibilitando um atendimento quase que personalizado, se é que isso seja possível. Mesmo com todos os ajustes propostos pelas Diretrizes Curriculares Nacionais para a Formação Docente nas licenciaturas, e com sua publicação pelo Conselho Nacional de Educação, Gatti (2013) denuncia que ainda prevalece a: [...] histórica ideia de oferecimento de formação com foco na área disciplinar específica, com pequeno espaço para a formação pedagógica, para a atuação profissional que será exigida aos licenciados ao adentrarem nas escolas e no seu espaço mais específico de trabalho, as salas de aula. Embora estejamos no século XXI, no que se refere à condição de formação de professores [...] ainda se verifica a prevalência do modelo consagrado no início do século XX [...]. (Gatti et al., 2013, p. 96) Ou seja, a fragmentação no currículo em forma de disciplinas ainda existe em muitos cursos de formação de professores, o que faz com que a interlocução entre os saberes se torne distante. É fundamental uma troca de conhecimentos e práticas entre os envolvidos na formação (alunos e professores), oportunizando uma formação integral, nos aspectos não só cognitivos, que é o esperado num curso de formação, mas também em seus aspectos morais, sociais e afetivos. “Práticas geram teorizações e teorizações geram práticas”. Essa dialética precisa ocorrer nos cursos de formação de professores (Gatti et al., 2013, p. 97). Hoje não se pode e não se deve mais pensar um curso de formação docente isolando-se a teoria da prática. O conceito de que a teoria não oferece uma base qualitativa para as práticas no âmbito escolar, favorecendo a ideia de que a prática se sobreponha à teoria, é decorrente de um longo período no qual se acreditava que as práticas dos professores deveriam ser baseadas apenas nos conhecimentos produzidos por estudiosos, desprezando o papel do educador como mediador desta competência. Essa divisão favoreceu a rejeição de algumas propostas estimulando o professor a considerar que “teoria é uma coisa e prática é outra”. A relação teoria e prática na formação do docente é condição necessária na apresentação de situações de interação entre ambas, de forma a propor ao professor, a possibilidade de ressignificar a teoria de acordo com sua realidade, tornando-a relevante em diferentes contextos e situações de aprendizagem. A articulação entre as disciplinas faz nascer um profissional com uma visão mais global e sólida sobre o conhecimento. O elo entre seus conteúdos, suas teorias, cria espaço para a interdisciplinaridade, buscando sentido de totalidade, principalmente entre teoria e prática, no saber e no fazer e no saber-fazer. Um saber permeado pela aprendizagem significativa, em detrimento de aprendizagens mecânicas que reduzem o aprendiz a simples reprodutores de saberes já constituídos, sem poder crítico. Considerações finais Diante de todo esse caminho histórico levantado neste texto e pensando a formação inicial do professor numa perspectiva atual, é importante que se estabeleça que o papel formativo na educação ultrapassa um ensino que tem por objetivo simplesmente uma atualizaçãopedagógica, didática e científica e se converte na possibilidade de gerar espaços de participação e reflexão em que a formação de professores seja pautada na teoria em consonância com a prática. Neste sentido, hoje, o perfil do professor que forma e que informa, é respaldado numa formação mais ampla, aprendendo-se com a experiência que, nas palavras de Canário (2000, p. 13), “significa, sobretudo, aprender a aprender com a experiência o que, frequentemente só é possível a partir da crítica e da ruptura com essa experiência”, ou seja, sem dar espaço para a repetição, mas sim para uma reelaboração daquilo que foi eficiente e eficaz em outras situações semelhantes ou não. Esse profissional da educação deve ter capacidade para tomar decisões educacionais assertivas e éticas no desenvolvimento curricular em seus mais diversos e variados contextos, com parceria e troca entre os docentes. Referências ARANHA, Maria Lúcia de Arruda. História da Educação. São Paulo: Moderna, 1989. BRASIL. Ministério da Educação. Resolução CNE/CP n. 1, de 18 de fevereiro de 2002. Institui Diretrizes Curriculares Nacionais para a Formação de Professores da Educação Básica, em nível superior, curso de licenciatura, de graduação plena. Brasília: MEC, 2002. ______. Ministério da Educação. Ensino Fundamental de Nove Anos: orientações gerais. Brasília: MEC/SEB, 2007. CANÁRIO, Rui. A prática profissional na formação de professores. In: Colóquio Formação Profissional de Professores no Ensino Superior. INAFOP. Aveiro, 2000. FREIRE, Paulo. Educação e mudança. 6. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1983. FREITAS, Helena Costa Lopes de. A (nova) política de formação de professores: prioridade postergada. Educação & Sociedade, Campinas, v. 28, n. 100, 2007. ______. Formação de professores no Brasil: 10 anos de embate entre projetos de formação. Educ. Soc., Campinas, v. 23, n. 80, p. 136-167, 2002. GARCIA, Carlos Marcelo. Formação de Professores: para uma mudança educativa. Porto: Porto Editora, 1999. GATTI, Bernadete Angelina; BARRETO, Elba Siqueira de Sá. 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(Sander, B. Administração da Educação no Brasil: genealogia do conhecimento. Brasília: Liber Livro, 2007, p. 28). 2. Decreto-Lei n. 8.530, de 2 de janeiro de 1946 – Dispõe sobre a adaptação dos serviços do ensino normal nos Estados, Territórios e Distrito Federal, à Lei Orgânica do Ensino Normal. 3. Brasil. Constituição da República Federativa do Brasil: Promulgada em 5 de outubro de 1988. Lei n. 4.024/1961. Obra Coletiva. 27. ed. São Paulo: Saraiva, 2001. http://bit.ly/2EdcPn4 4. Sistema político de caráter ditatorial que foi implantado no país, pelo Presidente Getúlio Vargas, a partir de 10 de novembro de 1937. Através da cadeia de estações rádio difusoras, Getúlio anunciou a implantação do Estado Novo, instituindo um período de despotismo – governo concentrado em apenas um governante – que duraria até 29 de outubro do ano de 1945. Disponível em: <http://bit.ly/2Qh4SUE>. Acesso em: 05 nov. 2018. 5. Brasil. Lei n. 5.540 de 28 de novembro de 1968. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Brasília, 1968. 6. Brasil. Lei n. 5.692 de 11 de agosto de 1971. Fixa as diretrizes e Bases para o Ensino de 1º e 2º Graus e dá outras providências. In: Schuch, Vitor Francisco (org.). Legislação Mínima da Educação no Brasil. 8. ed. Porto Alegre: 27. São Paulo: Saraiva, 2001. 7. Brasil. Lei n. 7.044 de 18 de outubro de 1982. Altera dispositivos da Lei n. 5.692 de 11 de agosto de 1971, referentes à profissionalização de ensino do 2º Grau. Diário Oficial da União, Brasília, 19 de outubro de 1982. 8. Brasil. Lei n. 9.394 de 20 de dezembro de 1996. Lei de Diretrizes e Bases da Educação. Brasília: MEC, 1996. 9. Lei n. 12.796 de 04 de abril de 2013, altera a Lei n. 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, para dispor sobre a formação dos profissionais da educação e dar outras providências. 10. Decreto n. 3.276 de 06 de dezembro de 1999 – Dispõe sobre a formação em nível superior de professores para atuar na educação básica, e dá outras providências. 11. Decreto n. 3.554 de 7 de agosto de 2000 – Dá nova redação ao § 2o do art. 3o do Decreto no 3.276, de 6 de dezembro de 1999, que dispõe sobre a formação em nível superior de professores para atuar na educação básica. 12. Lei n. 11.114/2005 (Lei Ordinária) 16/05/2005 – altera os Art. 6º, 30, 32 e 87 da Lei n. 9.394, de 20 de dezembro de 1996, com o objetivo de tornar obrigatório o início do ensino fundamental aos seis anos de idade. 13. Resolução CNE/CP No 1, de 18 de fevereiro de 2002 – Institui Diretrizes Curriculares Nacionais para a Formação de Professores da Educação Básica, em nível superior, curso de licenciatura, de graduação plena. O Presidente do Conselho Nacional de Educação, no uso de suas atribuições legais e tendo em vista o disposto no Art. 9o, § 2o, alínea “c” da Lei n. 4.024, de 20 de dezembro de 1961, com a redação dada pela Lei n. 9.131, de 25 de novembro de 1995, e com fundamento nos Pareceres CNE/CP 9/2001 e 27/2001, peças indispensáveis do conjunto das presentes Diretrizes Curriculares Nacionais, homologados pelo Senhor Ministro da Educação em 17 de janeiro de 2002. 14. Resolução CNE/CP nº 2, de 1º de julho de 2015. Define as Diretrizes Curriculares Nacionais para a formação inicial em nível superior (cursos de licenciatura, cursos de formação pedagógica para graduados e cursos de segunda licenciatura) e para a formação continuada. http://bit.ly/2Qh4SUE Capítulo 2 A LUDICIDADE NOS CENTROS DE EDUCAÇÃO INFANTIL (CEI): DO PROPOSTO PELOS DOCUMENTOS OFICIAIS AO REALIZADO NO COTIDIANO ESCOLAR Ligia de Carvalho Abões Vercelli Introdução A criança abandonada a si mesma, não pode atingir nenhuma forma evolucionada de pensamento abstrato e, precisamente por isso, a tarefa da escola consiste em fazer todos os esforços para encaminhar a criança nessa direção, para desenvolver o que lhe falta. (Vygotsky, 2006, p. 113) A epígrafe acima vem ao encontro da nossa concepção de criança, também adotada nos documentosque regem a educação infantil, isto é, parte dos pressupostos da Sociologia da Infância e dos fundamentos da Psicologia Sócio-Histórica de Vygotsky que a entente como um ser ativo, construtora do próprio conhecimento, que transforma e é transformada pelas ações que exerce no meio na qual está inserida, portanto, a escola de educação infantil deve proporcionar espaços nos quais as crianças possam se expressar e serem ouvidas em suas necessidades. A motivação para aprofundar estudos em Centros de Educação Infantil (Cei) com a temática A ludicidade nos Centros de Educação Infantil: do proposto pelos documentos oficiais ao realizado no cotidiano escolar surgiu por três motivos, a saber: em primeiro lugar porque o Cei que atende, atualmente, a crianças de até 3 anos de idade ainda é pouco estudada, apesar do aumento significativo de pesquisas ocorrido nos últimos anos; em segundo lugar porque trata-se de um período da vida humana no qual o desenvolvimento da criança ocorre de forma acelerada e, quanto mais estimulada for, mais conexões cerebrais serão estabelecidas e, em terceiro lugar, por ouvir e ler relatos referentes às observações e entrevistas com professores/as realizadas por mestrandos/as, aos/as quais oriento. Durante as orientações e nas aulas de “Educação e infância: concepções e processos de aprendizagem” que ocorrem no 2º semestre do ano letivo, muitos/as mestrandos/as relataram que as atividades realizadas por alguns/as professores/as no Cei ainda estão voltadas somente ao cuidado para com os bebês oferecendo poucas atividades nas quais eles possam desenvolver os aspectos cognitivo, afetivo e social, portanto, dicotomizando o cuidar do educar, numa perspectiva assistencialista. Pesquisas como as de Souza (2007), Amaral (2008), Perez (2012), Conceição; Fischer (2015) também apontam nesse sentido. São trabalhos realizados em um espaço temporal de oito anos que trazem poucas mudanças, porém há um esforço muito grande para que a concepção de bebê biológico seja ultrapassada. Assim, esse texto tem por objetivo analisar o que é proposto pelos documentos que regem a educação infantil no que se refere à ludicidade a fim de verificar se e como essa categoria se faz presente no cotidiano do Cei. Tal questão, abordada e discutida nos cursos de formação inicial de professores, principalmente no de Pedagogia, deve ser reforçada, uma vez que, serão os egressos desse curso que irão atuar junto as crianças pequenas. A formação continuada que ocorre nos diferentes espaços com a presença dos gestores e/ou profissionais convidados também poderão ser temática de reflexão sobre esse aspecto. Vale lembrar que este texto é fruto de uma pesquisa que venho desenvolvendo sob financiamento do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e será dividido em duas partes: apresentação dos documentos oficiais que regem a educação infantil e o que eles ressaltam sobre o aspecto lúdico; apresentação e discussão dos resultados parciais da pesquisa, intercalando com questões referentes à importância da atividade lúdica para os bebês. Os documentos oficiais que regem a educação infantil com foco na ludicidade Com a Constituição Federal de 1988 (Brasil, 1988) a educação infantil passa a ser dever do Estado e da família e, também, direito da criança, dois anos depois, em 1990, tal fato é ratificado no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). Tais avanços são decorrentes de muitas lutas e discussões em âmbito nacional e internacional, tendo como marco a Convenção Internacional sobre os Direitos da Criança, ocorrida em 1989, que em seu Artigo 31 aponta: § 1º Os Estados Partes reconhecem o direito da criança ao descanso e ao lazer, ao divertimento e às atividades recreativas próprias da idade, bem como à livre participação na vida cultural e artística. § 2º Os Estados Partes promoverão oportunidades adequadas para que a criança, em condições de igualdade, participe plenamente da vida cultural, artística, recreativa e de lazer. Em seguida, o Ministério da Educação (MEC), publicou documentos importantes para orientar e direcionar as escolas de educação infantil. Um deles denomina-se “Critérios para um atendimento em creches que respeite os direitos fundamentais da criança”, lançado em 1995, em primeira versão. Tal documento foi muito relevante na época, uma vez que, contávamos com poucas produções nacionais a respeito desse ciclo de ensino. O documento aponta o trabalho que deve ser realizado com bebês, assim como a participação de todos os envolvidos no contexto escolar. No que diz respeito à brincadeira, no item “Nossas crianças têm direito à brincadeira”, o documento ressalta que: • Os brinquedos estão disponíveis às crianças em todos os momentos; • Os brinquedos são guardados em locais de livre acesso às crianças; • Os brinquedos são guardados com carinho, de forma organizada; • As rotinas da creche são flexíveis e reservam períodos longos para as brincadeiras livres das crianças; • As famílias recebem orientação sobre a importância das brincadeiras para o desenvolvimento infantil; • Ajudamos as crianças a aprender a guardar os brinquedos nos lugares apropriados; • As salas onde as crianças ficam estão arrumadas de forma a facilitar brincadeiras espontâneas e interativas; • Ajudamos as crianças a aprender a usar brinquedos novos; • Os adultos também propõem brincadeiras às crianças; • Os espaços externos permitem as brincadeiras das crianças; • As crianças maiores podem organizar os seus jogos de bola, inclusive futebol; • As meninas também participam de jogos que desenvolvem os movimentos amplos: correr, jogar, pular; • Demonstramos o valor que damos às brincadeiras infantis participando delas sempre que as crianças pedem; • Os adultos também acatam as brincadeiras propostas pelas crianças. (Brasil, 2009, p. 14) Em 1996, com a promulgação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) Lei n. 9.394/96), a educação infantil é considerada a primeira etapa da educação básica. Essa lei determinou que até 1999 todas as creches e pré-escolas fossem incorporadas ao sistema de ensino, com o objetivo de desvincular o caráter assistencial ainda enraizado a elas. Em 1998, o MEC lança dois novos documentos, a saber: Subsídios para o credenciamento e o funcionamento das instituições de educação infantil o qual aponta as diretrizes e normas de funcionamento dessas instituições e os “Referenciais curriculares nacionais para a educação infantil (RCNEI)” que propõem a melhoria da qualidade nesse nível de ensino. No que se refere à ludicidade os RCNEI apontam: Para que as crianças possam exercer sua capacidade de criar é imprescindível que haja riqueza e diversidade nas experiências que lhes são oferecidas nas instituições, sejam elas mais voltadas às brincadeiras ou às aprendizagens que ocorrem por meio de uma intervenção direta. A brincadeira é uma linguagem infantil que mantém um vínculo essencial com aquilo que é o “não-brincar”. Se a brincadeira é uma ação que ocorre no plano da imaginação isto implica que aquele que brinca tenha o domínio da linguagem simbólica. Isto quer dizer que é preciso haver consciência da diferença existente entre a brincadeira e a realidade imediata que lhe forneceu conteúdo para realizar- se. Nesse sentido, para brincar é preciso apropriar-se de elementos da realidade imediata de tal forma a atribuir-lhes novos significados. Essa peculiaridade da brincadeira ocorre por meio da articulação entre a imaginação e a imitação da realidade. Toda brincadeira é uma imitação transformada, no plano das emoções e das ideias, de uma realidade anteriormente vivenciada. (Brasil, v. 1, 1998, p. 27) Em 2001, foi aprovado o Plano Nacional de Educação (PNE) que vigorou até 2010 e, em sua primeira meta, dedicada à educação infantil, valorizou a importância do trabalho realizado com crianças de até seis anos de idade, dado que: [...] descuidar desse período significa desperdiçar um imenso potencial humano. Ao contrário, atendê-la com profissionais especializados capazesde fazer a mediação entre o que a criança já conhece e o que pode conhecer significa investir no desenvolvimento humano de forma inusitada. (Brasil, 2001, p. 31) Esse documento também aponta a necessidade de superar a dicotomia existente e muito forte ainda hoje entre o cuidar e o educar. No ano de 2006, foi aprovada a Lei Federal n. 11.274 (Brasil, 2006), a qual instituiu a obrigatoriedade de ingresso das crianças a partir dos seis anos de idade no ensino fundamental, ampliando a duração desse nível de ensino de oito para nove anos. Foram usadas as seguintes justificativas para a implementação dessa lei: que o Brasil é um dos países com menor tempo de escolarização e a alegação de que as crianças das camadas menos favorecidas da população teriam melhores chances educacionais ao ingressarem mais cedo na escola, além de ficarem afastadas das situações de risco à vida e de vulnerabilidade social. No documento Ensino fundamental de nove anos: orientações para a inclusão da criança de seis anos de idade, Borba (2006) no artigo “O brincar como um modo de ser e estar no mundo” afirma que “A brincadeira não é algo já dado na vida do ser humano, ou seja, aprende-se a brincar, desde cedo, nas relações que os sujeitos estabelecem com os outros e com a cultura” (Brasil, 2006a, p. 36). A Emenda Constitucional (EC) n. 59, de 2009, estabelece que a “educação básica obrigatória e gratuita dos quatro aos dezessete anos de idade, assegurada inclusive sua oferta gratuita para todos os que a ela não tiveram acesso na idade própria”, o que deveria ser implementado, de forma progressiva, até 2016 (Brasil, 2009b, art. 1º). Em 4 de abril de 2013, essa proposta foi incorporada à LDB por meio da Lei n. 12.796. Ainda em 2006, o MEC lança os “Parâmetros nacionais de qualidade para a educação infantil”, documento que estabelece parâmetros de qualidade para as instituições de crianças pequenas, discutindo aspectos tais como: concepções de criança, de pedagogia e de educação infantil. No que se refere à brincadeira salienta que as crianças precisam ser apoiadas em suas iniciativas espontâneas e incentivadas a: • brincar; • movimentar-se em espaços amplos e ao ar livre; • expressar sentimentos e pensamentos; • desenvolver a imaginação, a curiosidade e a capacidade de expressão; • ampliar permanentemente conhecimentos a respeito do mundo da natureza e da cultura apoiadas por estratégias pedagógicas apropriadas; • diversificar atividades, escolhas e companheiros de interação em creches, pré- escolas e centros de Educação Infantil. (Brasil, 2006b, p. 19) Em 2009, um novo documento denominado “Indicadores de qualidade para a educação infantil”, foi lançado pelo MEC e quanto ao aspecto lúdico, ressalta que: As professoras devem planejar atividades variadas, disponibilizando os espaços e os materiais necessários, de forma a sugerir diferentes possibilidades de expressão, de brincadeiras, de aprendizagens, de explorações, de conhecimentos, de interações. A observação e a escuta são importantes para sugerir novas atividades a serem propostas, assim como ajustes no planejamento e troca de experiências na equipe. (Brasil, 2009, p. 40) Em 2010, são estabelecidas as “Diretrizes curriculares nacionais para a educação infantil” que indicam as diretrizes curriculares a serem observadas na organização das propostas pedagógicas dessas instituições, assim como nos seus desenvolvimentos e nas suas avaliações. Faz-se necessário, segundo esse documento, respeitar três princípios nas propostas pedagógicas, a saber: (1) Éticos: da autonomia, da responsabilidade, da solidariedade e do respeito ao bem comum; (2) Políticos: dos direitos e deveres de cidadania, do exercício da criticidade e do respeito à ordem democrática; (3) Estéticos: da sensibilidade, da criatividade, da ludicidade e da diversidade de manifestações artísticas e culturais. Ainda, segundo esse documento, o objetivo da proposta pedagógica comtempla [...] garantir à criança acesso a processos de apropriação, renovação e articulação de conhecimentos e aprendizagens de diferentes linguagens, assim como o direito à proteção, à saúde, à liberdade, à confiança, ao respeito, à dignidade, à brincadeira, à convivência e à interação com outras crianças. (Brasil, 2010, p. 18) Em 25 de junho de 2014, a Lei n. 13.005, aprovou o novo Plano Nacional de Educação (PNE) que define em sua meta 1: Universalizar, até 2016, a educação infantil na pré-escola para as crianças de 4 (quatro) a 5 (cinco) anos de idade e ampliar a oferta de educação infantil em creches de forma a atender, no mínimo, 50% (cinquenta por cento) das crianças de até 3 (três) anos até o final da vigência deste PNE. O documento Base Nacional Comum Curricular para a Educação Infantil (BNCC), aprovado, em sua terceira versão, no dia 6 de abril de 2018, ressalta que: Na primeira etapa da Educação Básica, e de acordo com os eixos estruturantes da Educação Infantil (interações e brincadeira), devem ser assegurados seis direitos de aprendizagem e desenvolvimento, para que as crianças tenham condições de aprender e se desenvolver. São eles: conviver, brincar, participar, explorar, expressar, conhecer-se. (Brasil, 2018, p. 23) Segundo esse documento, os direitos de aprendizagem e desenvolvimento, são estabelecidos em cinco campos de experiências, a saber: O eu, o outro e o nós; corpo, gestos e movimentos; traços, sons, cores e formas; escuta, fala, pensamento e imaginação; espaços, tempos, quantidades, relações e transformações. Não é nosso objetivo, nesse momento, apresentar os objetivos de cada campo de experiência, nem fazer uma análise a respeito, mesmo porque, por tratar-se de um documento recente, os/as gestores/as e professores/as o estão estudando para que possam avaliá-lo e incorporá-lo da melhor forma possível no cotidiano escolar. Diante do exposto, observa-se que os documentos que regem a educação infantil apontam que a educação de crianças pequenas tem como objetivo a integração, por meio das brincadeiras, entre os aspectos físico, cognitivo, emocional e social, considerando a criança como uma pessoa completa. Dessa forma, buscamos responder às seguintes perguntas: Que materiais compõem os espaços do Cei? Como e quais atividades são desenvolvidas na rotina com os bebês? De que forma a ludicidade se faz presente no cotidiano do Cei? Os resultados parciais da pesquisa e sua interlocução com questões referentes à importância da atividade lúdica para os bebês Iniciamos esse tópico apresentando a metodologia empregada na pesquisa. O universo do estudo foram quatro Centros de Educação Infantil (Cei), sendo três localizados na cidade de São Paulo e um na cidade de São Bernardo do Campo, no grande ABC. A metodologia utilizada, de cunho qualitativo, adotou como procedimentos de coleta de dados, a observação participante e registro dos dados observados. Optamos por esta abordagem, pois Segundo Minayo: A pesquisa qualitativa responde a questões muito particulares. Ela se preocupa, nas ciências sociais, com um nível de realidade que não pode ser quantificado, ou seja, ela trabalha com o universo de significados, motivos, aspirações, crenças, valores e atitudes, o que corresponde a um espaço mais profundo das relações dos processos e dos fenômenos que não podem ser reduzidos à operacionalização de variáveis. (Minayo, 1995, p. 21) Os sujeitos da pesquisa foram quatro mestrandas que, à época, cursavam o 2º semestre do Programa de Mestrado em Gestão e Práticas Educacionais (Progepe) da Universidade Nove de Julho (Uninove), que também compõem o Grupo de Pesquisa em Educação Infantil e Formação de Professores (Grupeiforp) na mesma universidade. Para preservar suas identidades caracterizamo-las como professora 1, professora 2, professora 3 e professora 4. As observações foram realizadas no segundo semestre do ano de 2017 sendo que, anteriormente, a pesquisadora responsável reuniu-se, quinzenalmente, com as mestrandas observadoras da pesquisa a fim de prepará-las para o campo. Tal medida se faz necessária, pois segundoLüdke e André (1986, p. 25) “[...] a observação precisa ser antes de tudo controlada e sistemática. Isso implica a existência de um planejamento cuidadoso do trabalho e uma preparação rigorosa do observador”. Para as autoras, ao preparar uma observação deve-se: delimitar o objeto de estudo, ensinar o/a observador/a como se realiza os registros descritivos e como ele/a deve se concentrar para realizar a observação (Lüdke; André, 1986). Diante disso, as professoras/mestrandas foram a campo com o objetivo de observar, nessa fase inicial da pesquisa, os materiais pedagógicos utilizados nos Cei, a “rotina” dos bebês e como a ludicidade se apresenta. Vale lembrar que a criança de até 3 anos de idade, vive uma fase de intenso desenvolvimento em todos os aspectos. Nesse período inicia a construção da identidade, a aquisição da marcha e da fala, o controle dos esfíncteres, entra em contato com o mundo da leitura, da escrita e outras linguagens, se socializa com os adultos e demais crianças. As observadoras/mestrandas ressaltaram que cada Cei atende por volta de 100 crianças, divididas em dois turnos, as docentes desses Cei são do sexo feminino, apenas um docente do sexo masculino em um deles, e o tempo de docência varia de 5 a 20 anos. A maioria dos/as docentes tem formação em Pedagogia, uma em Letras e uma somente o curso de Magistério. Vinte e duas professoras possuem especialização lato sensu e uma cursa o stricto sensu. No que se refere aos materiais pedagógicos existentes no Cei, obtivemos as seguintes respostas: Há caixas com brinquedos diversos como monta tudo, bonecos e bonecas, carrinhos, quebra-cabeça, jogos da memória, massinha de modelar, giz de cera, cola, giz de lousa, bolas, cordas, chocalhos e mordedores para os bebês, 5 tabletes, livros infantis, fantasias variadas, aparelho de DVD com vários DVD e CD de músicas infantis, radio, projetor de imagens com telão, amplificador de som, TV, motocas e bambolês. (Professora 1) A professora 2 mencionou que no Cei [...] há vários materiais pedagógicos, tais como: brinquedos: bonecas, carrinhos, pelúcias, motoquinhas, bolas, bambolês, jogos variados, brinquedos confeccionados com materiais recicláveis, como: mesinhas, sofás, geladeira, fogão, micro-ondas etc. Também há vários livros, bem variados com pop-up tridimensionais com imagens e sons, fantoches, e livros de vários gêneros: contos de fadas, folclore, assombração etc. Há também jogos comprados como: cai não cai, pega varetas e jogos feito pelas professoras e crianças, como jogo da memória, boliche etc. Os recursos pedagógicos, segundo a professora 3 [...] normalmente estão distribuídos entre as 8 salas e existe a prática de rodízio dos brinquedos de montar, brinquedos de afeto (bonecos), carrinhos e livros. As motoquinhas ficam estacionadas num dos corredores internos do Cei e são utilizadas conforme linha do tempo, nos espaços externos. Há uma sala multiuso no Cei. É um espaço livre, sem nenhum mobiliário, equipado com projetor para filmes, cabides com fantasias infantis e cenários móveis para contação de histórias. Esse espaço também é utilizado para atividades de dança e movimento. A professora 4 relata apenas que: A creche dispõe de diversos ambientes destinados as crianças contendo brinquedos estruturados ou não, materiais recicláveis ou de madeira e plástico, tecidos. Também há livros, revistas e jornais para manuseio das crianças. Os materiais disponíveis nos Cei citados pelas mestrandas/observadoras, exceto a professora 4, que não os apresentou de forma mais esmiuçada, promovem a exploração e o desenvolvimento global permitindo que a criança pequena possa empilhar, encaixar, encher, esvaziar, amassar, pintar, desenhar, brincar de faz de conta, com jogos simbólicos, ler, contar histórias, entrar em contato com diferentes tecnologias. Também propiciam que as crianças desenvolvam as múltiplas linguagens, o ritmo, a coordenação motora, e entre em contato com o mundo tecnológico. Todos esses materiais promovem a brincadeira. De acordo com as Diretrizes curriculares nacionais para a educação infantil (parecer CNB/CEB, n. 20/2009) [...] Brincar dá à criança oportunidade para imitar o conhecido e para construir o novo, conforme ela reconstrói o cenário necessário para que sua fantasia se aproxime ou se distancie da realidade vivida, assumindo personagens e transformando objetos pelo uso que deles faz. (Brasil, 2009, p. 7) Ainda, segundo esse parecer, Oliveira et al. (2014) apontam que na organização do projeto pedagógico e dos planos de ensino, as instituições de educação infantil necessitam: compreender a brincadeira como uma atividade fundamental para essa faixa etária; propiciar experiências promotoras de aprendizagem; selecionar atividades sem restringi-las a tópicos tradicionalmente valorizados; considerar as especificidades e interesse coletivos das crianças; trabalhar com os saberes adquiridos previamente e os construídos pelas crianças; promover interações entre elas; abolir atividades mecânicas; possibilitar a expressão dos gestos, da oralidade, do desenho, da dança, da escrita; dar possibilidade de as crianças se apropriarem de elementos da sua cultura; possibilitar deslocamentos e movimentos amplos em espaços internos e externos da instituição escolar; oferecer objetos e materiais diversificados; garantir momentos para as crianças brincarem em espaços externos à escola a fim de que possam semear, plantar e colher frutos; possibilitar acesso a lugares culturais, tais como cinema, teatro, bibliotecas, brinquedotecas, museus; garantir o diálogo com as famílias e documentar todas as decisões tomadas em conjunto. A professora 2 relata que há um rodízio dos brinquedos entre as turmas do Cei, fato este que, no nosso entendimento, priva a criança de brincar com os materiais que, por algum motivo, são mais significativos para ela e que, afetivamente, lhe dão mais prazer. O ideal é que as diferentes salas disponibilizem os mesmos brinquedos. Os materiais apontados pelas professoras/mestrandas permitem que essa organização curricular aconteça, porém faz-se necessário nova observação a fim de verificar de que forma isso ocorre no cotidiano. A professora 1 relata que há caixas variadas com os brinquedos, porém, entendemos que eles deveriam estar expostos em prateleiras, em cantos previamente construídos com as crianças, para que elas possam se apropriar e brincar da maneira que melhor convier em um determinado momento, uma vez que as dimensões interacional e física são primordiais para que as interações entre crianças maiores e menores aconteçam, facilitando o processo de aprendizagem. A rotina com os bebês, segundo observação da professora 1, envolve as seguintes atividades: [...] cuidados e higiene pessoais, brincadeiras de roda, pega-pega, esconde- esconde, amarelinha, meu mestre mandou, vivo ou morto, roda de conversa, roda de músicas infantis, ciranda cirandinha, atirei o pau no gato, escravos de Jó, dominó, monta-monta, oficina de massinha de modelar, desenho livre ou dirigido em folha sulfite, na cartolina, na lousa no chão, com guache, com giz de cera, com giz de lousa, cantinhos da cozinha, cabeleireiro, médico, escritório, brincadeiras de faz de conta, leitura e observação de livros, contação de histórias, brincadeiras com sucatas, leitura de histórias, teatro, observação e manuseio de revistas e gibis, brincadeiras livres no parque e no solário, piscina de bolinhas, gangorras, balanços, panelinhas com areia, água, terra, visita a horta, plantar, regar, colher, assistir TV seguido de comentário sobre o desenho ou filme assistido, festinhas, bailes com música e danças variadas. No Cei observado pela professora 2 também são desenvolvidas [...] rodas de conversa, brincadeiras em cantinhos simbólicos como: cozinha, salinha, cabeleireiro etc., roda de história, pinturas com tintas, trabalho com as sensações: paladar, tato, olfato e audição (caixa surpresa, diferentes sons, mesa de sensações etc.); exploração no bosque da escola (onde há arvores, folhas); culinária
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