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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE EDUCAÇÃO - CE CURSO DE PEDAGOGIA MEMORIAL FORMATIVO: A TRAJETÓRIA DE UM ESTUDANTE TRABALHADOR COSME ALVES DA CUNHA NATAL/RN 2022 COSME ALVES DA CUNHA MEMORIAL FORMATIVO: A TRAJETÓRIA DE UM ESTUDANTE TRABALHADOR Trabalho de Conclusão de Curso – Memorial de Formação – Apresentado ao Curso de Pedagogia da UFRN- Universidade Federal do Rio Grande do Norte como requisito parcial para obtenção de Título de Licenciado em Pedagogia. Orientadora: Profa. Dra. Marisa Narcizo Sampaio NATAL/RN 2022 Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN Sistema de Bibliotecas - SISBI Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Setorial Moacyr de Góes - CE Cunha, Cosme Alves da. Memorial formativo: a trajetória de um estudante trabalhador / Cosme Alves da Cunha. - 2022. 46 f.: il. color. Memorial de Formação (Graduação) - Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Centro de Educação, Graduação em Pedagogia. Natal, RN, 2022. Orientadora: Profa. Dra. Marisa Narcizo Sampaio. 1. Educação - Memorial de Formação. 2. Projeto Casulo - Memorial de Formação. 3. Proeja - Memorial de Formação. I. Sampaio, Marisa Narcizo. II. Título. RN/UF/Biblioteca Setorial Moacyr de Góes - CE CDU 37 Elaborado por Jailma Santos - CRB-15/745 Cosme Alves Da Cunha MEMORIAL FORMATIVO: A TRAJETÓRIA DE UM ESTUDANTE TRABALHADOR Trabalho de Conclusão de Curso – Memorial de Formação – Apresentado ao Curso de Pedagogia da UFRN- Universidade Federal do Rio Grande do Norte como requisito parcial para obtenção de Título de Licenciado em Pedagogia. Orientadora: Profa. Dra. Marisa Narcizo Sampaio BANCA EXAMINADORA _______________________________________ Profª. Drª. Marisa Narcizo Sampaio (orientadora) Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN _______________________________________ Profº. Drº. Alexandre da Silva Aguiar Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN _______________________________________ Profº. Drº. Gilberto Ferreira Costa Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN NATAL/RN 2022 Dedicatória Aos meus pais com muita saudade, Inés Alves da Cunha e Francisco de Assis da Cunha (in memorian), pelo amor, carinho e cuidado que sempre os acompanhou. Agradecimentos Inicialmente agradeço em especial ao meu Irmão gêmeo, Damião Alves, que sempre esteve ao meu lado em todos os momentos da minha vida As minhas irmãs Maria das Dores e Maria da Conceição com seus lanches da manhã e tarde. As minha/os sobrinha/os Daniela Terto, Francisco Genivan pelo carinho recebido e apoio nessa jornada. A minha sobrinha Renata Rafaela companheira de aventuras, a minha cunhada Liedja Lira e meu irmão Manoel Alves sempre próximo. À amiga e Professora Ms. Ana Paula Souza de Souza Cunha, grande incentivadora da minha formação estudantil básica e acadêmica. Agradeço ainda aos professores do curso de Pedagogia pelos ensinamentos. Cada um do seu jeito contribuiu para a concretização deste sonho. À minha professora orientadora Drª. Marisa Narcizo Sampaio, agradeço pela confiança e, principalmente por me fazer acreditar que sou capaz. Meus agradecimentos a todos que contribuíram incentivaram a concretização deste sonho. Sinto uma enorme satisfação pela concretização deste mérito. Muito obrigado a todos, vocês farão sempre parte da minha história. Os caminhos que trilhei, os obstáculos que transpassei, a vida não para... Cosme Alves Haverá um ano em que haverá um mês, em que haverá uma semana em que haverá um dia em que em que haverá uma hora em que haverá um minuto em que haverá um segundo e dentro do segundo haverá o não tempo sagrado da morte transfigurada. Clarice Lispector SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO 9 2. MEMÓRIAS DA MINHA INFÂNCIA: DO PROJETO CASULO AO ENSINO FUNDAMENTAL 13 3. ENTRE CONTINUIDADES E DESCONTINUIDADES: A TRAJETÓRIA DE UM ESTUDANTE TRABALHADOR NA MODALIDADE EJA 19 3.1 A Prática Educativa na EJA: Sentidos e especificidades 22 4. DO ENCONTRO COM O PROEJA AO ACESSO NO ENSINO SUPERIOR 28 5. CAMINHOS DO SABER: EXPERIÊNCIAS FORMATIVAS VIVENCIADAS NO CURSO DE PEDAGOGIA DA UFRN 31 5.1. As experiências com o ensino remoto na Universidade 38 6. CONSIDERAÇÕES FINAIS 42 7. REFERÊNCIAS 42 9 1 INTRODUÇÃO O presente trabalho de conclusão de curso trata-se de um Memorial de Formação, sobretudo, por ser um texto acadêmico autobiográfico, no qual apresento de forma crítica e reflexiva momentos da minha trajetória de vida em diferentes contextos de formação educacional, a exemplo das experiências como estudante da Educação Básica e do Ensino Superior no curso de Pedagogia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). Logo, a escrita deste trabalho se torna um desafio, pois precisei narrar e delimitar fatos, nos quais estão presentes memórias relacionadas aos momentos vivenciados nas instituições de ensino que frequentei durante a infância, adolescência e fase adulta, sobretudo, após ingressar no curso de nível superior. “Desse ponto de vista, o Memorial deve expressar a evolução, qualquer que tenha sido ela, que caracteriza a história particular do autor” (SEVERINO, 2007, p. 123). Para tanto, meu objetivo é explicitar sobre como se deram os meus primeiros passos na escola e as dificuldades de permanecer estudando, principalmente, pela necessidade precoce de trabalhar para contribuir com as despesas pessoais e familiares. Do ponto de vista metodológico, realizei uma pesquisa bibliográfica e documental, com base em autores da área de educação, especialmente, os relacionados ao campo da educação e ao tema Memorial de Formação autobiográfico. Portanto, compreendo que a escrita autobiográfica foca em experiências, situações já vividas e lembranças sobre o passado. A direção teórico- metodológica deste memorial é de base bibliográfica e documental fundamentada nas ideias de GIL (2008), o qual discorre que: “A pesquisa bibliográfica é desenvolvida a partir de material já elaborado, constituído principalmente de livros e artigos científicos” (p. 50) [...]. Assim, GIL(2008) assevera que a pesquisa documental apresenta semelhanças com a bibliográfica, pois, A única diferença entre ambas está na natureza das fontes. Enquanto a pesquisa bibliográfica se utiliza fundamentalmente das contribuições dos diversos autores sobre determinado assunto, a pesquisa documental vale-se de materiais que não receberam ainda um tratamento analítico, ou que ainda podem ser reelaborados de acordo com os objetivos da pesquisa.(p.51) 10 Não por acaso que para fundamentar este memorial de formação, optei realizar levantamento bibliográfico pautado nas contribuições de diversos autores. Outrossim, busquei analisar documentos, a exemplo da Constituição Federal de 1988(CF/88); Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB 9394/96); dentre outros. Com foco na relevância de narrar minhas vivências como expectador e, ao mesmo tempo, protagonista da minha própria história, sob a luz das ideias e de autores, tais como: Freire (1987) e Passeggi (2010), sendo esta última autora referência para discussão acerca das especificidades do memorial autobiográfico e suautilidade como fonte de pesquisa e prática de formação docente. (PASSEGGI, 2010, p. 10). Sob esta ótica, a referida autora esclarece que a escrita do memorial autobiográfico assume uma condição de ambivalência centrada na tensão entre a escrita da formação institucional para fins de avaliação acadêmica e, por outro lado, o fascínio prazeroso pela escrita pessoal de si mesmo. Nas palavras da autora, A história de vida do professor em formação é transformada, pelo processo de escrita, em um texto acadêmico, cujo percurso culmina com o ritual de defesa e a conquista de um novo estatuto identitário. O memorial adquire, por esse viés, um valor social e afetivo para o autor. O interesse pelos memoriais deve-se, portanto, ao fato de que nesse gênero textual entrelaçam-se, num único movimento, os processos de autoria e de construção identitária. Tratando-se de um gênero autobiográfico, o narrador coincide, enquanto escreve, com o autor empírico do texto. Sendo um texto acadêmico o autor deve, no ritual de defesa, assumir a autoria do texto por ele produzido. (PASSEGGI, 2018, p.04) Nesse sentido, em que o gênero memorial assume o sentido de informar, expor emoções e ideias e constituir identidades pessoais e profissionais, é comum, na prática de escrita do memorial de formação, estabelecer relação entre a face poética e a injuntiva institucional acadêmica. Não obstante, as experiências que apresento a seguir são memórias que marcaram minha trajetória de vida pessoal e formação institucional na escola pública de educação básica, refletidas nas experiências e aprendizagens de fundo profissional advindas do curso de Pedagogia da UFRN. A começar pela minha infância, idade dos sonhos, em que a imaginação infantil ganha forma e “vida”. Nesse período, sonhava em ser escritor, criava histórias com meu irmão gêmeo, histórias que hoje vejo sentido, sentido que toda criança tem, um 11 mundo em sua cabeça. Meus primeiros contatos com uma sala de aula formal de educação ocorreram por meio do Projeto Casulo1, marcando minha entrada na Educação Infantil. Ademais, na ocasião da mudança com a família para morar em Natal/RN, ingressei no ensino fundamental I, período no qual era adolescente, com meus quinze anos, conheci e li o livro Fernão Capelo Gaivota, cuja narrativa literária ressalta a persistência de uma gaivota, que diferentemente do seu bando, não se contentava em voar de praia em praia apenas para buscar comida. A gaivota queria fazer acrobacias, voos rasantes e velozes, não tinha o apoio do bando, pois eram extremamente tradicionais, mas Fernão não desistiu por falta de apoio, continuou seguindo o seu objetivo de alçar voos mais altos. Esta literatura atravessou minha adolescência levando-me a refletir sobre minha condição social, ao passo que estava imerso em uma realidade na qual precisava trabalhar e, consequentemente, deixava de frequentar a escola regular. Porém, mesmo diante dessa realidade, na época, sentia o desejo de cursar o ensino superior, mesmo que essa possibilidade se apresentasse como um sonho distante e difícil de ser alcançado. Meu desejo de fazer um curso superior aflorava com os anos, os caminhos que percorri para tal feito, e como se deu a escolha pelo ingresso no curso superior de pedagogia na Universidade Federal do Rio Grande do Norte, fazem parte dessa narrativa cheias de sentimentos e vontade de pertencer ao universo acadêmico. Na condição de discente de Pedagogia, destaco a contribuição do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência (Pibid) para minha formação, o estágio não obrigatório que me apresentou a uma prática de ensino em sala de aula do ensino fundamental, contribuindo com minha formação. O presente trabalho acadêmico está dividido em cinco partes distintas. Inicialmente, faço uma introdução ao modelo escolhido, assim como uma breve introdução, na qual é narrado de forma genérica, o meu trajeto acadêmico. Ainda na introdução, evidencio a metodologia, bem como são citados, de forma sucinta, alguns dos autores que embasaram a escrita desse trabalho acadêmico. No segundo 1Projeto criado nos anos 1970 por uma parceria da Legião Brasileira de Assistência com o Governo Federal para atender a crianças pequenas. 12 capítulo, são retratadas as minhas memórias de infância e o primeiro contato com a escola, assim como a minha trajetória como trabalhador e estudante; no terceiro capítulo, faço um retrato do caminho ao ensino superior. No quarto, estão expostas minhas experiências formativas vivenciadas no curso de Pedagogia da UFRN; no quinto e último, faço uma recapitulação sintética das partes mais importantes de todo o meu percurso acadêmico e as vivências em sua duração. Para começar a retratar meus primeiros passos, a escrita deste Memorial segue adiante, retratando no capítulo a seguir, as minhas primeiras trajetórias escolares. 13 2 MEMÓRIAS DA MINHA INFÂNCIA: DO PROJETO CASULO AO ENSINO FUNDAMENTAL Toda história tem um início, e a minha começa no ano de 1974, ano do meu nascimento, no município de Angicos/RN. Sou filho de pais sertanejos, desprovidos de recursos financeiros, o mais novo de nove irmãos, embora eu divida esse título com meu irmão gêmeo. Em um cenário no qual havia poucas creches locais, e a educação infantil ainda não era considerada como primeira etapa da Educação Básica, tive meus primeiros contatos com a creche/escola aos cinco anos de idade, na cidade de Angicos/ RN. Nos idos da década de 70, do século XX, o atendimento às crianças ainda se centrava em práticas assistencialistas, voltadas muito fortemente para a dimensão do cuidado, entendido nas diretrizes atuais como importante para o desenvolvimento integral da criança, porém atrelado a dimensão do educar. A expressão educação “pré-escolar”, utilizada no Brasil até a década de 1980, expressava o entendimento de que a Educação Infantil era uma etapa anterior, independente e preparatória para a escolarização, que só teria seu começo no Ensino Fundamental. Situava-se, portanto, fora da educação formal. (BRASIL, 1988, p. ??). Nesse contexto, em que a educação infantil ainda não estava inserida dentro de uma prática de educação formal, adentrei ao universo da creche. Fiquei encantado, os primeiros dias não dormia ou quase não, esperava ansioso pela ida à escola, pois correr no intervalo, brincar com as outras crianças já era um motivo para não faltar na escola. Com os meus cinco anos de idade, projetava a escola como uma segunda casa, as professoras, todos conhecidos dos meus pais, estiveram presentes no dia de inauguração da creche. O momento foi registrado com foto (ver figura 1), juntamente com a prefeita da cidade, pois como em toda inauguração de escolas e obras públicas a promoção pessoal dos gestores se faz presente. Contudo, naquele momento, eu estava mais interessado em brincar e correr com as outras crianças. Figura 1 – Inauguração do Projeto Casulo, Angicos / RN 14 Fonte: Acervo pessoal, 1979. O Projeto Casulo foi criado no Brasil, no ano de 1977, por meio da Legião Brasileira de Assistência- LBA2, do Governo Federal, e do convênio entre a prefeitura Municipal de Angicos/RN e a LBA, cujo projeto foi implantado no município de Angicos. O município recebia verbas federais para a implantação do Projeto Casulo, que era voltado para a educação de crianças de zero a seis anos, no modelo assistencialista, centrado nas dimensões do cuidar por meio das práticas de higiene, alimentação e segurança das crianças, excluindo os aspectos importantes no processo de ensino- aprendizagem, a exemplo das dimensões cognitiva, afetiva e pedagógica, que envolvem a dimensão do educar. 2 Surge em 1942, sob inspiração de D. DarcyVargas e o apoio da Federação das Associações Comerciais e da Confederação Nacional das Indústrias. 15 De acordo com Kramer (1987, p.77), [...] O Projeto Casulo não pretende, portanto, preparar para uma escolaridade futura: sua tônica se centraliza, por um lado, no atendimento às carências nutricionais das crianças e, por outro lado, na realização de atividades de cunho recreativo”. [...]. Portanto, esse projeto centrava-se nas questões da alimentação das crianças e nas atividades recreativas sem, necessariamente, focar na continuidade da escolarização das crianças atendidas nessas unidades. Nesse processo, adentrei ao universo da escola, que se apresentava como uma nova experiência, as brincadeiras típicas da infância, cantigas de roda, pinturas, desenhos, o contato com as primeiras letras, os primeiros números, os desenhos, meu primeiro contato com os contos infantis. Entrei no mundo da imaginação e me enxergava como parte das histórias e dos personagens que, mais tarde, se fizeram presentes também na escola de Ensino Fundamental (na época Primeiro Grau), em 1980, década na qual mudamos de Angicos para a capital do Estado, Natal/RN. Em sentido oposto às práticas autoritárias historicamente situadas no período do Regime Militar, na década de 1990, no Brasil, ocorreu uma ampliação dos espaços de controle social, nos quais a sociedade civil, por meio da abertura democrática e da participação nos movimentos sociais, reivindicou a garantia de direitos sociais básicos, a exemplo do acesso à saúde e à educação, garantidos na Constituição Federal de 1988, no Art.6º, cuja redação diz que “são direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o transporte, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição”.(BRASIL, 1988). Assim é que a Educação Infantil passou a ser legalmente reconhecida como direito de todos e dever do estado. Com a Constituição Federal de 1988, o atendimento em creche e pré- escola às crianças de zero a 6 anos de idade torna-se dever do Estado. Posteriormente, com a promulgação da LDB, em 1996, a Educação Infantil passa a ser parte integrante da Educação Básica, situando-se no mesmo patamar que o Ensino Fundamental e o Ensino Médio. E a partir da modificação introduzida na LDB em 2006, que antecipou o acesso ao Ensino Fundamental para os 6 anos de idade, a Educação Infantil passa a atender a faixa etária de zero a 5 anos. (BRASIL LDB.9394/96, p.33) 16 Foi nesse contexto que passei a morar em Natal junto com a família, em meio às dificuldades que se apresentavam face às novas exigências de adaptação impostas pela vida diferente na capital. Nos mudamos de residência quatro vezes, pois morávamos de aluguel e assim, sempre que eu estava me adaptando ao novo local de moradia, eu tinha que sair, por diversos motivos, dentre estes, o preço inacessível do aluguel. E nesse percurso, morei no conjunto Jiqui, conjunto Pirangi 1º etapa, Bairro das Quintas e novamente conjunto Pirangi, 2º etapa. Foi assim que minha mãe me matriculou na Escola Municipal Carlos Bello Moreno, localizada na Rua Arapiraca, Conjunto Jiqui, Bairro Neópolis. Próxima a nossa residência, a escola era maravilhosa, me adaptei rápido, pois ela possuía salas amplas, pátio para brincar, lanche no intervalo, entre outros atrativos. Nesta escola, comecei a me interessar por gibis, não sabia ler o código escrito, mas fazia uma leitura das imagens, os termos alfabetização e letramento, na minha sala de aula, como aluno, não vivenciei. Daí a relevância da teoria e prática da docência em alfabetização, sobretudo, em conhecer sobre a Psicogênese da Língua Escrita. Sobre isto, Emília Ferreiro (1985), ressalta que as crianças têm um papel ativo no aprendizado, ou seja, elas constroem seu próprio conhecimento, sendo este processo, nomeado pela autora, de método construtivista. Para tanto, “[...] esse conhecimento fornece uma boa base para rejeitar-se um conjunto inteiro de práticas escolares ligadas a uma tradição comportamental [...]”. (FERREIRO, 1985, p. 33). Nesse sentido, as teorias desenvolvidas por Ferreiro contribuem para a superação do método mecanicista, que enfatiza a repetição de exercícios de memorização, sendo o professor o centro do processo escolar e detentor de todo o conhecimento. Opondo-se a isto, a teoria construtivista enfatiza a relevância do professor considerar que as crianças já possuem conhecimentos prévios relacionados aos processos de leitura e escrita, antes de ingressar na escola. De posse destes conhecimentos, o professor permite que a criança não seja apenas um mero ouvinte passivo na sala de aula, pois toda criança é capaz de agir e construir conhecimento como sujeitos ativos e criativos no processo de ensino-aprendizagem. A seguir, apresento uma memória fotográfica que representa minha passagem pela segunda série do ensino fundamental (Primeiro Grau) na escola. 17 Figura 2 – Escola Carlos Belo Moreno - Natal3 Fonte: Acervo pessoal, 1980. Nesta escola, permaneci até 1982, quando novamente mudamos de residência para o conjunto Santarém, zona norte de Natal/RN, onde fui matriculado em uma nova escola, intitulada: Escola Estadual Dom José Adelino Dantas, localizada nas proximidades da minha nova casa, conjunto Santarém, Bairro Potengi. Nesta instituição, cursei a terceira e quarta séries do ensino fundamental. Durante os anos que estudei do 1º ao 4º, no antigo Primeiro Grau, a educação tradicional ainda se fazia forte, sobretudo com práticas pedagógicas centradas no professor. O livro didático, a cartilha, a tabuada eram recursos didáticos fortemente presentes. Segundo Luckesi (2011), o papel da escola na tendência liberal tradicional; [...] consiste na preparação intelectual e moral dos alunos para assumir sua posição na sociedade. O compromisso da escola é com a cultura, os problemas sociais pertencem à sociedade. O caminho cultural em direção ao saber é o mesmo para todos os alunos, desde que se esforcem. Assim, os menos capazes devem lutar para superar suas dificuldades e conquistar seu lugar junto aos mais capazes. Caso não consigam, devem procurar o ensino profissionalizante. (p. 75) No que diz respeito ao livro didático, não posso deixar de discutir sobre a relevância da análise e aprimoramento do mesmo pelo professor, considerando que ainda é um recurso muito presente na educação brasileira. É um dos muitos recursos 3 A Figura 2 ´Escola Carlos Bello Moreno’ Natal/RN, registrei como a cidade fosse Angicos/RN, mas a escola é em Natal/RN. 18 didáticos que professoras e professores ainda utilizam em sala de aula. Inclusive, nas experiências desenvolvidas por meio dos estágios no curso de pedagogia, vivenciei práticas pedagógicas, nas quais os professores utilizavam o livro didático em sala de aula Sob este prisma, é de suma importância que o professor faça uma análise da prática pedagógica de maneira a contemplar estratégias didáticas em consonância com o contexto em que o aluno está inserido, conforme alerta Pavão (2006) nos trechos abaixo: Um bom projeto educacional exige um professor atuante, com uma prática que se apropria da realidade como instrumento pedagógico e que utiliza os materiais didáticos disponíveis, incluindo o livro didático, de forma apropriada e devidamente contextualizada no processo ensino-aprendizagem. (PAVÃO, 2006, p.4) O livro deve oferecer uma orientação para que o professor busque, de forma autônoma, outras fontes e experiências para complementar seu trabalho. Deve garantir ao professor liberdade de escolha e espaço para que ele possa agregar ao seu trabalho outrosinstrumentos (PAVÃO, 2006, p.5) Atualmente, o uso de tecnologias digitais vem auxiliando o trabalho pedagógico em salas de aulas, explorando outras possibilidades no processo de ensino- aprendizagem. A professora/or é uma/um eterna/o pesquisadora/or sempre em busca de novos métodos, instrumentos, novas tecnologias. Para Freire (2015, p.31) “pesquiso para conhecer o que ainda não conheço e comunicar ou anunciar a novidade”. Assim entendo que o livro didático não é a única mídia que se possa usar, a pesquisa por outros meios se faz necessária, a tecnologia digital se transforma em uma aliada no processo de ensino-aprendizagem. Na Escola Estadual Dom José Adelino Dantas, estudei 3º e 4º do Ensino Fundamental (Primeiro Grau), sendo que no 4º ano repeti, repeti, abandonei várias vezes. Tive uma infância feliz, corri, brinquei, joguei bola na rua, corri atrás de pipa. Quando saí do Adelino Dantas, passei alguns anos sem estudar por um motivo que explicarei adiante, vivi a vida, imaturamente, mas feliz, não me recordo em que idade voltei a estudar, mas meu retorno só se daria por meio da banca permanente do Centro de Educação de Jovens e Adultos, Professor Felipe Guerra. 19 3 ENTRE CONTINUIDADES E DESCONTINUIDADES: A TRAJETÓRIA DE UM ESTUDANTE TRABALHADOR NA MODALIDADE EJA Minha entrada na EJA se deu pela minha defasagem idade-série, na época havia concluído a 4º série, com 14 anos. Lembro-me que o diretor da Escola Estadual Dom José Adelino Dantas falou que a escola estava me transferindo para outra escola que tinha EJA, e devido ao meu atraso, alunos em defasagem idade-série não eram bem aceitos pelos professores/as. Situação que remete aos traços excludentes da própria escola, pois quando o estudante é deslocado de outro horário para a EJA, normalmente é porque não consegue se “enquadrar” nas dinâmicas de tempo de aprendizagem, horários, dentre outras formas de organização rígidas e burocráticas propostas pela própria escola formal regular. [...] Faz algumas décadas que a infância, adolescência, juventude e adultos populares habitam as escolas públicas, mas nos espantamos de suas condutas como se estivessem chegando ontem. Os 30% ou 50% de reprovados, retidos, defasados, com problemas de aprendizagem, especiais, desacelerados, lentos etc. faz décadas que são sempre os mesmos. Sua reprovação sumária foi uma forma de silenciá-los e expulsá-los [...] (ARROYO, 2004, p. 91) De certa forma foi assim que a escola agiu no meu caso. Recordo-me que nesse momento da transferência para outra instituição que tinha modalidade EJA, novamente me senti desmotivado para continuar estudando, pois a escola que ofertava a referida modalidade, era longe de casa, logo, optei por trabalhar ao invés de estudar. Não obstante, as questões do mundo do trabalho, por exemplo, devem figurar como uma possibilidade a ser contemplada na discussão referente ao currículo da EJA, tendo em vista que os alunos da EJA, geralmente são trabalhadores de baixa escolarização que exercem funções de trabalho no mercado informal, ou até mesmo desempregados, sem fonte de renda mínima para suprir necessidades essenciais. Não são poucos os exemplos desse padrão institucional, na EJA, que podem ser trazidos, desde a implementação de políticas focalizadas fragmentadas, a alocação de recursos, passando pelo apagamento desses sujeitos no currículo e desconsideração de sua diversidade, até a formação precária de professores para esse segmento, bem como as 20 condições físicas inadequadas dos espaços destinados a essas turmas, a falta de material e merenda.(PONTES; CLARK, 2016, p.71). Como se pode observar, o trabalho é uma categoria muito presente na realidade dos sujeitos da modalidade EJA, inclusive, interferindo no processo de intermitência, [...] “como um fenômeno que se difere da evasão e que indica uma relação que nada tem a ver com o abandono definitivo ou desistência. (SILVA, 2018 p. 54). Na visão de Silva (2018), essas intermitências são uma forma do aluno da EJA tentar permanecer, avançar e concluir no seu processo de escolarização. Neste processo intermitente, caminhei pelo ensino fundamental, entre três escolas do município de Natal, cursei disciplinas na banca permanente do CEJA Prof. Felipe Guerra, CEJA Prof. Lia Campos e no antigo CAIC Lagoa Nova, Natal/RN. Nesse tempo, o trabalho continuava presente na minha rotina. Eu tinha como objetivo dedicar-me aos estudos, mas na realidade havia a necessidade urgente do trabalho. Contudo, destaco que sempre fui crítico e conhecedor da relação que envolve a garantia dos direitos trabalhistas entre trabalhador e empregador, mas mesmo conhecendo meus direitos, não tinha muito espaço dentro das empresas que trabalhei para questionar sobre melhorias nas condições de trabalho e inclusive de remuneração. Em razão disso, o tempo médio que permanecia em um mesmo posto de trabalho era de um ano, nesse intervalo entre a saída de uma empresa e entrada na próxima, realizava atividade autônoma com vendas de cosméticos, perfumes e outros produtos de revistas. Nas palavras de Arroyo (2004, p.79) É um avanço entender as trajetórias sociais dos alunos(as) e entender suas lutas pela sobrevivência. É um avanço repensar nossa docência em função dessa infância, adolescência e juventudes reais. Temos maior sensibilidade para a centralidade da vida, da alimentação, da moradia e do trabalho na condição humana. São os direitos mais básicos. Exatamente por serem tão básicos não podem ser vulgarizados. Toda vulgarização da vida humana termina vulgarizando os direitos humanos, inclusive o direito à educação. Na Educação de Jovens e Adultos – EJA, as situações de abandono e reprovação são recorrentes face aos fatores socioeconômicos que atravessam o cotidiano dos sujeitos que compõem a modalidade. Porém, vale ressaltar que a saída da escola não se caracteriza como uma decisão isolada do contexto social, pois 21 estamos tratando de sujeitos que em algum momento de suas vidas deixaram de frequentar a escola porque encontraram dificuldades na sua trajetória para se manter estudando. Por isso, é preciso considerar que este dito “fracasso” escolar, na verdade não existe, porquanto o que existe são indicadores de desigualdades sociais, econômicas, sociais e culturais que levam o sujeito da EJA para outros caminhos distintos da escola. Tal realidade é apresentada nas ideias de Silva e Araújo (2017, p.37): Várias formas de interpretação não permitem definir exatamente “evasão e abandono escolar”. A diversidade de conceituação atrapalha a quantificação precisa dos casos, dificultando o estudo das causas e dos princípios que podem levar a alternativas claras e objetivas para superação desse problema que perdura até hoje. É basilar a compressão das relações entre os motivos de ingresso e a trajetória dos permanentes, dos desistentes e egressos desse público, dentre muitas outras questões. Diante disto, é preciso levar em consideração que historicamente a educação brasileira, em todos os seus níveis e todas as modalidades, é parte de outros complexos sociais econômicos, políticos e culturais. Dessa forma, esses jovens e adultos, precisam encontrar na escola o reconhecimento e respeito pela sua cultura e experiências de mundo. Fato este que poderá contribuir com a diminuição dos índices de “evasão” ou “abandono” da escola. A evasão e o abandono escolar são um grande problema relacionado à educação brasileira. As metas estipuladas pela Constituição Federal de 1988, que determinam a universalização do ensino fundamental e a “erradicação” do analfabetismo, ainda não se concretizaram, mesmo sendo a educação um direito garantido e determinado em seu art. 6º. Neste, a educação – juntamente com moradia, trabalho, lazer, saúde, entre outros – constitui um direito social (BRASIL, 1988), apesarde apresentar deficiências e desagregação entre as diferentes regiões do país. (SILVA; ARAÚJO, 2017, p.37) Cabe salientar que mesmo sendo reconhecida como um direito pela Constituição de 1988, e tendo ganhado status de modalidade com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB/939496), ainda persiste sobre a EJA uma visão majoritária de que a modalidade é destinada unicamente para aqueles que precisam compensar o “tempo perdido”, porquanto, como aluno da EJA, durante muito tempo, me deparei com barreiras preconceituosas, excludentes e limitadas, que 22 desconhecem que o sujeito que sente o desejo de retomar os estudos após anos longe dos bancos escolares passou por muitos obstáculos que dificultaram o acesso contínuo e a permanência na escola regular. Nesse sentido, Silva (2018, p.24) explicita que A baixa autoestima entre os alunos da EJA vem sendo relatada em pesquisas acadêmicas que envolvem a temática, e se dá principalmente pelo fato dos alunos serem marginalizados, fazendo com que a exclusão social se dê, não somente pela “compensação”, ou “atraso” escolar que lhe são atribuídos, mas também por suas realidades distintas não permitirem que estes indivíduos adaptam se às normas institucionais da escola. Horário de entrada e saída, metodologia de ensino dos professores e componentes curriculares das disciplinas (que por vezes não trazem sentido e nem significado para os (as) estudantes), além das regras e normas que não comportam suas realidades. Dentre estes inúmeros desafios postos para o jovem e adulto da modalidade EJA, as questões do mundo do trabalho, por exemplo, se fizeram presentes no meu trajeto de vida, resultando em períodos de intermitência, entendidos por Silva (2018), [...] “como uma opção perante um momento ou circunstância de suas trajetórias humanas que exige e faz com que esses alunos e alunas precisem se ausentar ou sair por um tempo do ambiente escolar. [...]“ (p.36). Por isso, é essencial a compreensão de que fatores como a “evasão escolar”, “desistência” reprovação ou abandono escolar na modalidade EJA aconteçam por muitas razões sociais, e não necessariamente por decisão individual e isolada do complexo social que influi na não continuidade dos estudos. Sob a ótica de Pontes e Clark (2016, p. 57); Falar da Educação de Jovens e Adultos, no Brasil, muito mais do que discutir metodologia de ensino, é referir-se a uma questão política. Trata-se de um campo de lutas constituído em um processo histórico que privilegiou e privilegia uma pequena elite nacional em detrimento da maioria da população. Portanto, é preciso considerar a concretude desses sujeitos, jovens e adultos, que compõem as salas de aulas da EJA. As escolas precisam organizar e planejar propostas pedagógicas voltadas que levem em consideração os conhecimentos adquiridos na vida pessoal e no trabalho, pois estes jovens e adultos precisam 23 encontrar na escola o respeito pelas suas especificidades, e uma formação cultural ampla, crítica e transformadora. 3.1 A PRÁTICA EDUCATIVA NA EJA: SENTIDOS E ESPECIFICIDADES É preciso destacar que uma prática educativa homogeneizante na EJA não leva em consideração a trajetória e os tempos de aprendizagem dos jovens e adultos presentes na modalidade, pois trata-se de sujeitos com experiências de vida, idades, culturas e religiões diferentes. Para tanto, é importante olhar para as diferenças e especificidades dos sujeitos da EJA como parte integrante da proposta pedagógica da escola com a finalidade de gestar uma formação crítica e transformadora da realidade. Segundo Sampaio (2010, p. 123) [...] nessa modalidade lidamos com as diferenças mais acentuadas entre os alunos: diferentes idades, desde adolescentes a até idosos; diferentes religiões, cujas doutrinas em adultos já estão mais sedimentadas; diferentes profissões; diferentes locais de nascimento e formação que geral hábitos culturais diferentes; diferentes tipos de escolaridade anterior. Todas essas diferenças constituem a forma de aprender de cada um e precisamos refletir sobre a ideia de universalidade do conhecimento, na nossa concepção de indivíduo e de diferença, em por que a diferença é vista como dificuldade. Isso faz todo sentido quando penso nas diferenças que marcaram meu acesso e permanência na educação escolarizada, que por inúmeras vezes foi secundarizada, em virtude da necessidade do trabalho, que iniciou-se aos treze anos de idade, com carga horária, das 8h às 17h, como forma de auxiliar nas despesas da casa. Minha primeira experiência com trabalho foi na função de capoteiro, reformando estofado e bancadas de carro, no bairro das Quintas. Logo, a escola parecia uma realidade cada vez mais distante, porém presente em pensamento, e no vínculo que buscava manter por meio da modalidade de Educação de Jovens e adultos (EJA), com a realização de disciplinas no formato de banca permanente, no Centro de Estudo de Jovens e Adultos (CEJA) Professor Felipe Guerra. 24 O CEJA Professor Felipe Guerra4 atende ao público que não concluiu os estudos na idade regular, e que sente o desejo de retomar os estudos por algum motivo. Cabe destacar que em alguns momentos, como aluno desta modalidade, me sentia envergonhado diante das pessoas que perguntavam onde eu estudava, já que os alunos da EJA sofriam alguns preconceitos, muitas vezes éramos chamados de Mobral, em alusão ao Movimento Brasileiro de Alfabetização, conhecido como programa idealizado e implantado pela Ditadura Civil-Militar entre fins dos anos de 1960 até 1985. Art 1º O Movimento Brasileiro de Alfabetização (MOBRAL) fundação instituída pelo Poder Executivo nos termos do art. 4º da Lei nº 5.379, de 15 de dezembro de 1967 e vinculada ao Ministério da Educação e Cultura, terá por finalidade a execução do Plano de Alfabetização Funcional e Educação Continuada de Adolescentes e Adultos, aprovado pelo Artigo 3º da mesma lei e sujeito a reformulações anuais, de acordo com os meios disponíveis e os resultados obtidos. (BRASIL, 1968). O Mobral foi extinto em novembro de 1985, durante o governo do presidente José Sarney, não atingindo o nível de alfabetização desejado. No fim do regime militar, por volta de 1980, houve uma quebra no paradigma de educação compensatória, limitado e contrário aos princípios da pedagogia de Paulo Freire, dos movimentos de educação e cultura popular inseridos na alfabetização de jovens e adultos na década de 1960. Nos dias atuais, a Educação de Jovens e adultos adquiriu status de modalidade, reconhecida pelos aparatos legais, sobretudo pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional - LDB 9394/96, em seu artigo 37, que preconiza “Educação de Jovens e Adultos como uma modalidade de ensino destinada às pessoas que não tiveram acesso ou não conseguiram concluir seus estudos, no ensino fundamental e médio na idade própria”. (BRASIL, 1996) A resolução CNE/CEB Nº 1, de 5 de julho de 2000 estabelece diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação de Jovens e Adultos. Destaca que esta modalidade precisa sanar a dívida histórica e social com parte da população brasileira que, durante muito tempo, teve o direito à educação negado. Para tanto, na 4 A Comissão Permanente de Exames Supletivos CEJA Prof. Felipe Guerra funciona no CEJA Prof. Felipe Guerra que está localizado na rua Trairi, 406, Petrópolis, Natal/RN e destina-se a todas/os aquelas/es que desejam concluir tanto o ensino fundamental quanto o ensino médio e não tem Tempo de Frequentar a rede de Ensino regular. (CEJA FELIPE GUERRA, 2015). 25 atualidade, é preciso oportunizar o reingresso desses jovens e adultos aos bancos escolares, concedendo-lhes condições de melhorias em relação à vida social, econômica, cultural e educacional. De acordo com o parecerCNE/CEB 11/2000 a EJA tem três funções [...] função reparadora da EJA, no limite, significa não só a entrada no circuito dos direitos civis pela restauração de um direito negado: o direito a uma escola de qualidade, mas também o reconhecimento daquela igualdade ontológica de todo e qualquer ser humano. (CNE/CEB 11/2000). [...] Função equalizadora da EJA. A equidade é a forma pela qual se distribuem os bens sociais de modo a garantir uma redistribuição e alocação em vista de mais igualdade, consideradas as situações específicas[...] (CNE/CEB 11/2000). Função qualificadora - Mais do que uma função, ela é o próprio sentido da EJA. Ela tem como base o caráter incompleto do ser humano cujo potencial de desenvolvimento e de adequação pode se atualizar em quadros escolares ou não escolares. (CNE/CEB 11/2000). Com a promulgação da LDB 9394/96, a EJA passou a ser reconhecida como modalidade de educação básica nas etapas do ensino fundamental e médio (Parecer CNE/CEB 11/2000). De posse desses conhecimentos, destaco que minhas experiências como estudante na EJA foram desafiadoras, entre outras, destaco alguns desafios que enfrentei de adaptação ao modelo educativo das bancas permanentes. A Banca Permanente de Avaliação é destinada a sujeitos que não tiveram oportunidade de concluir os estudos em idade prevista 15 (quinze) anos completos para o fundamental, e 18 (dezoito) anos completos para o ensino médio e que necessitam da conclusão dos níveis Fundamental /ou Médio para elevação de sua escolaridade e inserção no mercado de trabalho ou seguir uma carreira acadêmica. A banca permanente funciona como um estudo individualizado, por disciplina, o ano todo. De acordo com calendário em vigor da comissão, o aluno agenda a data da prova e estuda por apostilas. Minha escolha por essa modalidade de ensino se deu por uma facilidade de horários e pela manutenção do vínculo com os estudos, mas enfrentei alguns desafios de adaptação ao modelo educativo. Repeti algumas vezes as disciplinas de Língua Portuguesa, Matemática, isso me causava um certo desânimo, e como não tínhamos a presença do professor para mediar o processo de construção do conhecimento, estudava com apostilas emprestadas pela escola, e quando me sentia preparado, marcava a data da prova. As provas eram feitas com 26 questões de múltiplas escolhas, e caso não lograsse êxito tinha uma carência de trinta dias para refazê-las. Assim, conclui todas as disciplinas dos anos finais do ensino fundamental, entre os anos de 1990 e 1998, neste último fui certificado como concluinte do nível fundamental. “A Comissão Permanente de Exames Supletivos atua no RN através da Subcoordenadoria de Educação de Jovens e Adultos, respaldada no art. 23 e 38 da lei 9.394/96 que assegura a reclassificação dos alunos”. (Fórum Potiguar de EJA, 2010). Aos 24 anos de idade, finalmente conclui o ensino fundamental, com muitos planos na cabeça, pensava em fazer um curso técnico em eletricista residencial, mas como trabalhava em uma empresa agropecuária na Cidade de São José do Mipibu/RN, com horário para entrar no trabalho, mas sem hora certa para sair, e na saída de empresa, tinha que dirigir de São José de Mipibu até Natal, por vezes, tarde da noite, quando chegava em casa só pensava em dormir para ir trabalhar no dia seguinte. Frente a essa realidade era inviável fazer quaisquer planos relacionados a cursos de formação técnica ou continuação nos estudos do ensino médio, mesmo que na EJA. No ano de 2001, passei a trabalhar como vendedor de comercio varejista, visitava vários Municípios do Rio Grande do Norte, neste trabalho usufruía de uma certa autonomia para organizar minha agenda e horários de trabalho, desde que atendesse a todos os clientes cadastrados nos dias determinados pela empresa. Com a autonomia no horário de trabalho, procurei mais uma vez o Centro de Educação de Jovens e Adultos, Professor Felipe Guerra em Natal/RN. Como já conhecia o sistema de ensino do CEJA Felipe Guerra, me matriculei novamente na banca permanente do ensino médio, cursei algumas disciplinas, Língua Portuguesa, História, Geografia, entre outras. Com algumas reprovações, deixei novamente os estudos de lado, já estava trabalhando como taxista em Natal/RN, e como trabalhava em média 18 horas todos os dias para pagar o financiamento do carro, não tinha disposição para os estudos, então, em 2003, deixei de frequentar o CEJA Felipe Guerra sem terminar o Ensino Médio. Nessa trajetória de trabalho, luta pela sobrevivência e perseverança pelos estudos, ampliei conhecimentos por meio das aprendizagens adquiridas nas disciplinas da bancas permanentes. Nesse formato, realizei estudos individualizados de disciplinas do Ensino Médio. Considero uma experiência desafiadora porque, 27 diferentemente da sala de aula, não temos professora/or ministrando os conteúdos dos componentes curriculares. Aspecto que faz muita falta para consolidação de conhecimentos mediados pela professora/or. A priori, preciso destacar que esta vivência possibilitou a aquisição de novos conhecimentos, porém em linhas gerais, não me adaptei muito bem a esse modelo, tendo em vista que precisava estabelecer uma rotina de estudos individuais em casa, feito que, dentro da minha rotina de trabalho e cansaço, naquele momento não se concretizou, resultando na minha desmotivação para fazer as provas. Cabe mencionar aqui que realizei pesquisas na internet, bibliotecas e outros meios de acesso ao conhecimento sobre concepções teóricas que sinalizam para discussão de banca permanente, porém, um fato curioso é que não consegui localizar e construir essa reflexão embasada nas ideias de autores, pelas dificuldades de acessar literaturas que discutiam tais temáticas. Diante desta realidade, observei que a relação com a modalidade EJA é atravessada por dificuldades, desmotivação, mas ao mesmo tempo a escola da EJA caracteriza-se como um lugar de expectativas relacionadas à mudança de vida. Portanto, na condição de aluno da EJA, vivenciei muitas experiências, cursava uma disciplina, dava um tempo para cursar outra, essas idas e vindas na escolarização foram sempre interligadas pelo trabalho, essas histórias não são fatos isolados, fazem parte do cotidiano da EJA. É bem verdade que nunca pensei em desistir de estudar definitivamente, pois, na época, já compreendia a importância da escolarização em minha vida, portanto, atualmente, por meio da formação de nível superior compreendi melhor que a educação é um direito humano e que minha história e trajetória escolar não são necessariamente de fracassos, mas de muitos momentos nos quais encontrei dificuldades para me manter estudando. 28 4- DO ENCONTRO COM O PROEJA AO ACESSO NO ENSINO SUPERIOR Conforme relatado até aqui, passei de 2003 a 2014 sem avançar nos estudos de nível médio, ficando alguns anos longe dos bancos escolares, pois a necessidade de trabalhar era maior, os horários no trabalho ficaram incompatíveis, a fadiga corporal não me animava para outros deveres. Até que despertei o desejo de voltar a estudar novamente. Já havia adiado por várias vezes esse retorno aos estudos, os motivos de sempre, trabalho, meu histórico de interrupções, minha dificuldade de aprendizagem nos estudos individuais da banca permanente, só superados quando consegui fazer uma rotina de estudos. Mas, no ano de 2014, fiquei sabendo do processo seletivo para o Proeja no (IFRN), Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Norte, e resolvi me inscrever, era a oportunidade que me apareceu, estudar no IFRN me entusiasmava. Passado o processo seletivo, e com uma vaga garantida, faltou-me coragem para fazer a matrícula, aguardei até o último dia, quando recebi uma ligação do IFRN, perguntando se eu ainda tinha interesse na vaga, pois era o último dia para realizar matrículaou perderia a vaga. Fiquei pensativo, minha escolha agora estava entre voltar a estudar e o trabalho, escolhas parecidas já tinha feito na vida, só com sentido oposto. Escolha difícil, mas necessária, me matriculei no Proeja e pela primeira vez coloquei os estudos à frente do trabalho. O trabalho de taxista me proporcionou rever os horários; com o carro quitado, não precisava fazer jornadas exaustivas, passei a trabalhar durante a semana no turno diurno e noturno nos finais de semana. O PROEJA foi instituído pelo Decreto do nº 5.478, de 24 de junho de 2005, em seguida substituído pelo Decreto nº 5.840, de 13 de julho de 2006, que introduz novas diretrizes que ampliam a abrangência do primeiro com a inclusão da oferta de cursos PROEJA para o público do ensino fundamental da EJA. De acordo com o Decreto nº 5840, de 13 de julho de 2006, em seu art. 1º, o PROEJA abrangerá os seguintes cursos e programas de educação profissional; (§1º) I – formação inicial e continuada de trabalhadores, e; II – educação profissional técnica de nível médio. (§2º) – Os cursos e programas do PROEJA deverão considerar as características dos jovens e adultos atendidos, e poderão ser articulados; I- ao ensino 29 fundamental ou ao ensino médio, objetivando a elevação do nível de escolaridade do trabalhador, no caso da formação inicial e continuada de trabalhadores; II – ao ensino médio, de forma integrada ou concomitante. (DECRETO Nº 5840, 2006) No mesmo Decreto, art.3º, ampliam-se as entidades de ensino ofertantes do PROEJA. § 3o O PROEJA poderá ser adotado pelas instituições públicas dos sistemas de ensino estaduais e municipais e pelas entidades privadas nacionais de serviço social, aprendizagem e formação profissional vinculadas ao sistema sindical (“Sistema S”), sem prejuízo do disposto no § 4o deste artigo. (DECRETO Nº 5.840, DE 13 DE JULHO DE 2006.) Observa-se que a ampliação e a oferta do PROEJA possibilitou novas oportunidades de acesso à escolarização na modalidade de Educação de Jovens e Adultos. Portanto, meu interesse pelo PROEJA advém do desejo pela continuidade dos estudos e as expectativas de ingressar como estudante do IFRN, instituição que na minha concepção poderia contribuir significativamente com minha a formação. Durante o período que permaneci no IFRN, no Curso Técnico de Nível Médio em Comércio, na forma Integrada, na modalidade de Educação de Jovens e Adultos, presencial, pude fazer revisões de disciplinas que eu já tinha um bom domínio, e melhorar em outras que eram meu “calcanhar de Aquiles”. Estudar Língua Portuguesa e Matemática nos dois primeiros semestres foi de uma importância imensa. Na oportunidade, minha meta era cursar e concluir o nível médio no IFRN, ao mesmo tempo tentava a certificação via Enem. Foi no IFRN que voltei a frequentar uma sala de aula depois de 27 anos estudando por meio de exames supletivos (banca permanente, CEJA Felipe Guerra). Assim, voltei a estabelecer contato com outros estudantes, que assim como eu, estavam dando continuidade aos seus estudos. Na disciplina de matemática me esforcei um pouco mais, pois para obter êxito no Enem, era imprescindível dominar o mínimo da matéria e, para minha surpresa, apresentei um bom desempenho em relação aos conteúdos ministrados, tanto que passei a ensinar a três senhoras da sala que tiveram dificuldades na realização das atividades propostas em sala de aula. Fazia a revisão da matéria de aula com elas, e depois das avaliações o professor até me parabenizou por ajudar outros com dificuldades no conteúdo. http://legislacao.planalto.gov.br/legisla/legislacao.nsf/Viw_Identificacao/DEC%205.840-2006?OpenDocument 30 Não foi fácil aprender equações do 1ª e 2º grau, plano cartesiano, funções, dentre outros conhecimentos da área matemática. Inclusive, os estudos na disciplina contribuíram para compreensão dos conteúdos de Física e Química. Inscrito no Enem, passei a estudar em casa durante as noites, chegava das aulas do Proeja e passava algumas horas assistindo vídeos de todas as matérias no YouTube, mas, principalmente, de Língua Portuguesa e Matemática. Em geral, os conhecimentos adquiridos foram basilares para o meu êxito nas provas do Enem, em 2014, resultando na obtenção da minha certificação em nível médio, dessa maneira, permaneci apenas um ano como estudante do PROEJA/ IFRN. Após isso, no ano 2017 o Ministério da Educação (MEC) deliberou que o Enem não certificaria mais para nível médio, direcionando essa finalidade para o Exame Nacional para certificação de competências de Jovens e Adultos (Encceja). Com o resultado do Enem 2015 divulgado, e com o êxito no propósito do exame que era a certificação do ensino médio, agora era esperar pelo Sistema de Seleção Unificado (SISU) para tentar um curso superior. Na UFRN, eu sabia que não seria possível devido ao ponto de corte que é 500, e minha pontuação em redação foi 480. Com as inscrições do SISU abertas, minha opção foi o Curso de Gestão Desportiva e do Lazer no IFRN, Campus Cidade Alta, Natal/RN. O curso de Gestão Desportiva e do Lazer no IFRN foi a entrada para o Ensino Superior. A escolha por esse curso se deu por minha admiração e por gostar de esportes, e também por não ter uma pontuação que entrasse no curso de Pedagogia da UFRN. Durante o curso de Gestão Desportiva e do Lazer (GDL), continuei estudando em casa para o próximo Enem de 2016. Enquanto isso, cursei três períodos do curso de GDL, no qual tive acesso a várias disciplinas relacionadas ao lazer e à gestão esportiva, porém meu objetivo era cursar Pedagogia na UFRN, para tanto, estudava a tarde no IFRN Campus Cidade Alta, e quando tinha um tempo livre, focalizava no conteúdo programático do Enem. Com o Enem de 2016, obtive nota aceitável para a seleção via SISU, momento no qual realizei inscrição para o curso de Pedagogia como 1ª opção tarde e 2ª opção noite, na UFRN, mas pela segunda vez não consegui entrar na Universidade Pública. Sendo assim, fiz inscrição no Prouni, ganhei uma bolsa 100% para cursar Pedagogia na Universidade Potiguar (UNP), onde permaneci por um único período. Estava cursando pedagogia na Universidade Potiguar, entrando no segundo semestre, o primeiro concluído com um bom aproveitamento, quando recebi uma 31 ligação de uma pessoa, que hoje é uma colega de turma, avisando que as aulas na UFRN já tinham iniciado, e, eu poderia perder a vaga por faltar nas primeiras semanas, inicialmente ainda não entendendo muito bem a mensagem, falei para ela que estudava na UNP, ela então me falou que eu estava matriculado no curso de pedagogia 2017. 2 da UFRN. Foi uma mistura de euforia, com "não estou entendendo nada", não me recordo de ter feito inscrição para vagas residuais da UFRN, e confesso que nem procurei saber, corri para a secretaria do curso acreditando, mas a ficha demorou a cair. No começo, no curso de Pedagogia, com muita curiosidade e expectativa, mas, no decorrer do primeiro semestre, as expectativas foram dando lugar ao entusiasmo pelo curso, as vivências, o ambiente, tudo foi transformador. 32 5 CAMINHOS DO SABER: EXPERIÊNCIAS FORMATIVAS VIVENCIADAS NO CURSO DE PEDAGOGIA DA UFRN Ao chegar à UFRN, as minhas perspectivas eram muitas. Dessa maneira, em julho do ano de 2017, iniciei o curso de Pedagogia no semestre 2017.2, na turma da noite. A forma de ingresso foi via Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). As aulas eram no formato presencial, com encontros diários, de acordo com o calendário acadêmico. De maneira geral, relato aqui as minhas experiências formativas em relação aos conhecimentos que orientaram a minha formação de nível superior na atualidade. Conseguir visualizar com um olhar diferenciado e ampliado algumas situações pelas quais havia presenciado quando aluno, sobretudo, da modalidade EJA. Para tanto, inicialmente foi um desafio aadaptação ao novo universo no qual eu me encontrava inserido, pois era tudo muito diferente das escolas de ensino fundamental e da EJA em que estudei. A universidade, com um rigor científico plausível à metodologia do ensino superior, exigia uma carga considerável de dedicação e estudo ao qual eu não estava acostumado, os textos científicos devendo ser lidos e interpretados, os seminários, assim como as demais atividades propostas pelos professores, acrescentaram mais conhecimentos. Nesse percurso acadêmico inicial, entrei em contato com vários componentes curriculares com os quais tive oportunidade de ampliar saberes e discutir sobre concepções teóricas que norteiam a prática pedagógica do professor. Comecei pelo componente Antropologia e Educação (FPE 5022) em que tive a oportunidade de conhecer o conceito antropológico de cultura relacionado ao conceito de etnocentrismo, entendido como uma visão de superioridade de uma cultura sobre outra. Podemos dizer que isso é resultado da Nossa herança cultural, desenvolvida através de inúmeras gerações, sempre nos condicionou a reagir depreciativamente em relação ao comportamento daqueles que agem fora dos padrões aceitos pela maioria da comunidade.[...] (LARAIA, 2001, p. 35). Portanto, entendi que a cultura influencia na visão de mundo das pessoas e pode resultar na disseminação de padrões preconceituosos e discriminatórios em relação às diferenças culturais existentes na sociedade. Daí a relevância de 33 desenvolver uma prática educativa intencional voltada para construção de uma cultura de respeito aos direitos humanos na escola, inclusive, nas turmas da EJA, na qual ainda se vivencia muito preconceito por parte da sociedade. Ademais, fui inserido no campo das teorias do desenvolvimento por meio dos componentes curriculares de Fundamentos da Psicologia I e II. Os referidos componentes subsidiaram o meu entendimento acerca da teoria sócio-interacionista de Vygotsky. Tomando como base as ideias deste autor, a aprendizagem é que move o desenvolvimento e este acontece em contextos interativos nos quais os indivíduos não são caracterizados como objetos passivos de conhecimento e sim ativos na construção da aprendizagem. Sob este prisma, Vygotsky (1991) afirma que o ser humano se desenvolve nas relações reais entre indivíduos mediatizadas por atividades sociais e historicamente produzidas e internalizadas via a aprendizagem. Nesta perspectiva, compreendemos que os sujeitos aprendem a partir de um envolvimento ativo com o outro, por isso é necessário que se desenvolvam em contextos de interação com o outro e com o meio social. Pensando nisso, o docente da modalidade EJA, poderá reunir e inserir essa vivência cultural dos educandos e transformá-las em conhecimentos que façam sentido para os estudantes em seus processos de aprendizagem escolar. Já no segundo período entrei em contato com a disciplina de Fundamentos Histórico-Filosóficos da Educação II, por meio da qual realizei uma retrospectiva histórica do conceito de educação dentro de cada época. Atividade imprescindível para a compreensão clara e objetiva dos princípios que regem a educação escolar contemporânea, principalmente no tocante aos marcos legais que atualmente regulamentam a educação superior e a educação básica em seus diversos níveis e diversas modalidades. Além disso, discutimos sobre os pressupostos da pedagogia freireana, o que possibilitou entender sobre os princípios de uma educação que leva em consideração a dimensão humana, libertadora e transformadora da realidade. Tal exercício reflexivo me levou a pensar no meu processo de escolarização básica, e nas dificuldades que os estudantes das classes populares enfrentam para acessar o saber escolar com regularidade. Estudar as ideias de Paulo freire foi uma experiência muito significativa, pois passei a pensar que os sujeitos da modalidade Educação de Jovens e Adultos são repletos de cultura e saberes oriundos das práticas de vida reais, e que na escola é preciso contemplar a história de vida real de cada aluno pensando no tempo de aprendizagem de cada um, e em como eles atribuem 34 sentido e aplicam os conteúdos curriculares aprendidos na sala de aula da EJA, inclusive, nas turmas de alfabetização da EJA, pois Não importa com que faixa etária trabalhe o educador ou educadora. O nosso é um trabalho realizado com gente, miúda, jovem ou adulta, mas gente em permanente processo de busca. Gente formando-se, mudando, crescendo, reorientando-se, melhorando [...]”. (FREIRE, 2019, P. 141) Assim, necessário se faz pensar que a educação pode e deve proporcionar aos educandos saberes necessários à vida, ou seja, ao ensinar, o professor precisa ensinar para a vida. Por isso, ainda enfatizando esse ensinar para a vida, destaco agora o que o componente curricular Alfabetização e Letramento me proporcionou para colocar em prática e ensinar para a vida As atividades propostas neste componente curricular foram muito prazerosas, pois iniciamos estudando sobre os conceitos de alfabetização e letramento que, mesmo sendo interdependentes, se complementam no processo de ensino- aprendizagem e que levam em consideração a cultura de mundo dos educandos. Assim, compreendi que o processo de alfabetização é contínuo, intermitente, pois acontece por etapas/hipóteses até que se alcance o nível alfabético, no qual o educando consegue estabelecer relação entre a grafia da letra e seu som (relação grafema/ fonema). No entanto, foi gratificante aprender que essa prática deve vir acompanhada da leitura de mundo, caracterizada como prática de letramento que os sujeitos, sejam eles crianças, jovens ou adultos trazem para dentro da escola. Ou seja, compreender o processo de ensino-aprendizagem da leitura e escrita requer se apropriar desse conhecimento a partir do que afirma Magda Soares, a de que Alfabetização e letramento são processos cognitivos e linguísticos distintos, portanto, a aprendizagem e o ensino de um e de outro é de natureza essencialmente diferente; entretanto, as ciências em que se baseiam esses processos e a pedagogia por elas sugeridas evidenciam que são processos simultâneos e interdependentes. A alfabetização - a aquisição da tecnologia da escrita - não precede nem é pré-requisito para o letramento, ao contrário, a criança aprende a ler e escrever envolvendo-se em atividades de letramento, isto é, de leitura e produção de textos reais, de práticas sociais de leitura e de escrita. (SOARES, 2021, P. 27) 35 Assim, aprendi com esse componente curricular que alfabetizar na perspectiva do letramento parece ser a via mais acertada para garantir a formação de um leitor que consiga, de fato, perceber a linguagem como prática social. Além dos componentes aqui evidenciados, destaco também para esta discussão os componentes curriculares Ensino da Matemática I e II (PEC 5036, PEC 5029), cujas temáticas foram estudadas a partir de metodologias lúdicas que envolveram os alunos no aprender brincando. Considero esses componentes muito importantes no meu processo formativo, uma vez que desenvolvemos atividades com ábaco, nas quatros operações, em uma perspectiva lúdica. O uso do próprio corpo do estudante na aprendizagem, as mãos, os dedos, as pernas, o uso do meio ambiente nos conceitos geométricos. A disciplina me envolveu com os métodos adotados pelas professoras, tornando as aulas mais envolventes, lúdicas e participativas. E como futuro docente, visualizo a importância desses conhecimentos na prática pedagógica. Ainda durante o curso, tive a oportunidade de, no ano de 2017, realizar estágio não obrigatório pela Secretaria Municipal de Educação, da cidade de Natal/RN. O lócus do estágio foi a Escola Municipal Professor José do Patrocínio, localizada no Bairro Potengi desta capital. Atuei na função de auxiliar de classe, acompanhando umacriança da turma de 1º ano com necessidades educacionais específicas. Quando cheguei à escola, tive reunião com o Gestor Pedagógico e com a Coordenadora Pedagógica, ambos me orientaram para acompanhar uma criança com necessidades educacionais especiais. A referida criança, com sete anos de idade, estava matriculada em uma escola pública da rede municipal de Natal/RN, onde ingressou no ano de 2017 e, em 2018, cursava o 2º ano do Ensino Fundamental. Conforme laudo médico apresentado, ela apresenta alguns distúrbios ou transtornos psicológicos que afetam o convívio com outras crianças na escola e fora dos muros desta. Entre eles, destacamos, conforme o laudo médico: Transtornos Globais do Desenvolvimento – TGD e Transtorno de personalidade Esquizoide – TPEZ e bipolaridade. O aluno interagia socialmente muito bem, sendo carinhosa com os professores e com os amigos, sem distinção e preferência de amizades por gêneros, essa interação ficava evidente nos momentos dos jogos e nas brincadeiras propostas durante o momento de recreação, mas durante o estágio observei que sempre fazia uma escolha por algum colega, a quem se apegava mais, e sempre por curtos períodos. Manifestava suas necessidades e desejos claramente e, na maioria das vezes, com autoridade. Não gostava de receber 36 respostas negativas e se alterava, ficando violento. Ele era sempre convidado a participar de todas as atividades propostas, porém optava por participar apenas das que envolviam jogos, brincadeiras, desenhos e pinturas. Seu “desejo” era parcialmente atendido, pois sua condição emocional e temperamento forte dificultavam muitas tentativas de diálogo. Neste sentido Rodrigues (2013) traz a importância dos jogos e brincadeiras no processo de ensino aprendizagem somando a outros possíveis. A ludicidade tem como pressupostos a valorização da criatividade, a afetividade, a sensibilidade, a nutrição da alma, sendo dinamizadora no processo de ensino-aprendizagem. Ela permite um trabalho pedagógico com o objetivo de construir conhecimento. É um dos caminhos que estimula o desenvolvimento do pensamento, da afetividade, da sociabilidade e da motricidade. ( RODRIGUES, 2013, p.46 ) Eu acompanhava a criança em todos os espaços da escola, tentava evitar que a mesma agredisse outras crianças, pois essa atitude fazia parte da rotina, o aluno tinha um histórico de agressividade devido a sua síndrome, tendo entrado em atritos com outros alunos e professores, eu seria o quarto estagiário, em três meses, que a escola recebia para acompanhá-lo. A experiência foi muito relevante para a minha formação, embora tenha sido difícil nos primeiros meses, mas não pensei em desistir, quando possível, acompanhava a professora regente da turma, participava principalmente dos momentos do brincar, já que o aluno se recusava a fazer outras atividades. Foi um período de muita contribuição para a construção do conhecimento, principalmente nessa etapa da Educação Básica. O estágio teve duração de um ano, de novembro de 2017 a novembro de 2018. Além disso, participei, de fevereiro de 2019 a janeiro de 2020, do PIBID, Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência (Pibid), no Centro Municipal de Educação Infantil Professora Fernanda Jales, localizado no Bairro Pitimbú, Natal- RN. As atividades foram desenvolvidas dentro da cultura popular brasileira. A cultura popular reúne elementos e tradições culturais que estão associados à linguagem popular, passadas oralmente ou por meio de escritos entre as gerações. Assim, inclui 37 o folclore, o artesanato, as músicas, as danças, as cantigas de rodas, contos de fadas, as festas, dentre outros. A cultura representa um conjunto de saberes determinados pela interação dos indivíduos, o povo brasileiro é o resultado da miscigenação de vários povos africanos, indígenas e portugueses entre outros. Os contos populares, a musicalidade como objeto e instrumento de aprendizagem, na Educação Infantil, integra plano de ação na instituição dentro do PIBID. As atividades proporcionaram às crianças oportunidades de convivência com elementos da cultura popular brasileira e de nosso estado, atendendo aos seus direitos de interagirem com a cultura de modo intencional e sistematizado mediante a interação, a brincadeira, a exploração, a participação, a expressão em múltiplas linguagens e o autoconhecimento, definidos como direitos de aprendizagem na Base Nacional Comum Curricular (BRASIL, 2017) em seu documento pertinente à Educação Infantil. Nessa perspectiva, reconhecendo a importância dos saberes e práticas populares, em especial os relativos à musicalidade e outras manifestações artísticas, para a formação das crianças como pessoas de nosso contexto, foi planejada uma sequência de atividades com foco na aprendizagem e desenvolvimento de “sons, traços, cores e formas”. Com esses objetivos, foram realizadas atividades em que as crianças pudessem vivenciar situações nas quais o compartilhar, o interagir e o expressar-se nessas linguagens artísticas se constituíram, ao mesmo tempo, em objeto, procedimento e instrumento de conhecimento. Foram desenvolvidas várias outras atividades no PIBID no decorrer do ano, entre elas oficinas de desenhos e pinturas, visando uma melhora na coordenação motora fina das crianças, contação de histórias e leitura das principais lendas folclóricas do Brasil. A Mula sem cabeça, Saci Pererê, Iara, Curupira, Lobisomem, O Boto cor de rosa, A Cuca, entre outras mais. As atividades de contação são um momento em que as crianças expandem seu conhecimento, fortalecem os vínculos afetivos por meio do diálogo e da atenção ao outro, além de contribuir para o desenvolvimento da imaginação, da criatividade e da linguagem das crianças, auxiliando no desenvolvimento de habilidades relevantes socialmente. Falar sobre educação infantil é refletir sobre o que é cultura, bem como ela se apresenta de diferentes maneiras; é o começo para envolvermos as crianças em um trabalho significativo que as direcionam para o contato com as cantigas de rodas, o coco de roda, maracatu, ampliando seu repertório musical. Respeitar o que cada 38 criança traz consigo de informações culturais e oportunizar a troca pode ser o caminho para desenvolver um trabalho de qualidade, além de prazeroso, em que a criança se sinta como parte de um processo contínuo que favorece o conviver, o brincar, expressar. Brincar é uma das atividades fundamentais para o desenvolvimento da identidade e da autonomia. O fato de a criança, desde muito cedo, poder se comunicar por meio de gestos, sons e mais tarde representar determinado papel na brincadeira faz com que ela desenvolva sua imaginação. Nas brincadeiras as crianças podem desenvolver algumas capacidades importantes, tais como a atenção, a imitação, a memória, a imaginação. Amadurecem também algumas capacidades de socialização, por meio da interação e da utilização e experimentação de regras e papéis sociais. (RCNEI,1998. p.23) Ao experimentarem cantar e brincar de cantigas de roda e ao serem apresentadas ao coco de roda, em situações em que utilizamos instrumentos como o pandeiro, elas puderam conviver, explorar e participar de uma musicalidade tipicamente nordestina, com suas linguagens, seus sons, ritmos e sentidos, aprendendo com eles, sobre eles, e a partir deles. Foi possível perceber que durante todas as atividades as crianças interagiram entre si e com a cultura, tendo oportunidades de aprender mais sobre o mundo que as rodeia, ampliando conhecimento e o respeito de si e do outro, do individual e do coletivo em situações de cooperação. As atividades propiciaram um diálogo com a cultura e a subjetividade das crianças. Cantando e dançando, as crianças se apropriaram dos momentos propostos nas atividades presenciais. 5.1 AS EXPERIÊNCIAS COM O ENSINO REMOTO NA UNIVERSIDADENo dia 17 de março de 2020, a UFRN suspendeu o semestre letivo de 2020.1, era o início da pandemia do Covid 19 no Brasil, com casos em vários estados. As atividades acadêmicas foram interrompidas por meio da portaria nº 452/2020-R A Portaria nº 452/2020-R suspende aulas; os eventos acadêmicos, científicos, culturais e esportivos; as sessões coletivas de colação de grau; as atividades teóricas das residências em saúde; os processos seletivos para o ingresso de estudantes; o acesso do público aos 39 museus, bibliotecas, auditórios e parque poliesportivo; os concursos públicos e os processos seletivos simplificados em andamento; e as atividades dos bolsistas de apoio técnico e demais bolsistas remunerados pela instituição, sem prejuízo da remuneração.(UFRN, 2020.) Seguindo recomendações do Comitê Covid-19 da UFRN e da Organização Mundial de Saúde (OMS), a UFRN suspende as atividades acadêmicas de 2020.1. Foi uma medida de enfrentamento face ao aumento de casos de covid 19, e altos índices de óbitos em todo o país. Nesse contexto, no mês de junho do referido ano, foi proposta a realização do período letivo 2020.5, intitulado Período Letivo Suplementar Excepcional, o qual; [...] Foi aprovado pelo Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão (Consepe) da UFRN no dia 1º de junho, por meio da Resolução Nº 023/2020, que dispõe sobre a regulamentação da oferta de componentes curriculares e de outras atividades acadêmicas durante a pandemia do novo coronavírus (covid-19). A decisão tem caráter excepcional em função da suspensão das aulas e das atividades presenciais na Instituição. (UFRN, 2020) Este novo formato de ensino suplementar excepcional foi um ensaio para um possível retorno remoto, enquanto a universidade se reinventava ou se adequava às novas medidas sanitárias impostas pela Covid 19. No semestre 2020.5 cursei só uma disciplina, já que a universidade não ofertou outras disciplinas que me contemplassem. A disciplina cursada foi Práticas Pedagógicas Integradas III, e durante o decorrer dessa disciplina foram lidos e discutidos vários textos. Os debates também se voltavam para o entendimento do cenário pandêmico vivenciado naquele momento. Durante o período suplementar, contraí a Covid 19, com sintomas leves, ficando isolado por mais de 30 dias, o medo era de transmitir para pessoas próximas e ter de conviver com as consequências dessa transmissão. Não tenho ideia de como contraí. O semestre intitulado 2020.6 marcou a retomada do semestre suspenso em 2020.1, em que foram ofertadas as disciplinas do semestre 2020.1, com algumas exceções, todas em formato remoto. Me matriculei em todas que o sistema de gestão acadêmica (SIGAA) me permitiu: Alfabetização e Letramento II (FPE5024); Ensino da Língua Portuguesa II (PEC5028); Gestão e Coordenação Pedagógica (FPE5027); 40 Seminário de Pesquisa III (FPE5025); Tecnologia e Educação (PEC5042); Teorias e Práticas Curriculares (PEC5021). Foram seis disciplinas no total, minha preocupação era não atrasar o curso, pensava eu que um atraso no curso poderia me desestimular, porquanto, me matriculei em todas as disciplinas possíveis. Com efeito, a adaptação ao formato remoto foi bastante desafiadora. Apesar de ter cursado as disciplinas com aproveitamento, considero que o aprendizado não foi o que esperava. Com o cancelamento das aulas presenciais, volto ao tempo que estudava em casa, lendo textos, esperando uma aula estática com um professor distante, alunos que desligavam as câmeras, e quando eram chamados para participar da aula não interagiam. Fez lembrar a época dos estudos na banca permanente, em que a individualidade era a regra. Não foi para mim uma boa experiência, do ponto de vista da aprendizagem, por vezes me senti limitado ao cumprimento de requisitos para passar para um novo semestre. Ainda no semestre de 2020.6, vivenciei a experiência do estágio em gestão escolar, em formato remoto, esta vivência levou-me a refletir sobre a importância de cada segmento da escola na construção de uma proposta educacional coletiva, que resulte na construção de uma identidade cultural própria da escola. Compreendi, que a escola, por sua vez, é tida como o “lócus” de múltiplas experiências profissionais, pois é neste espaço que o futuro professor entra em contato com a prática docente no espaço educativo formal, constituindo-se na dimensão prática da formação do futuro professor. À escola cabe abrir seus espaços para a inserção do aluno estagiário, possibilitando momentos de planejamento e supervisão da aprendizagem mediada pelos professores mais experientes da escola. Em linhas gerais, considero que as experiências de fundo profissional advindas do curso de Pedagogia, sobretudo, por meio dos estágios, foram basilares, inclusive, durante o estágio no ensino fundamental I, compreendi a importância de um profissional comprometido com sua prática docente. O curso de pedagogia me transformou, uma vez que desenvolvi um olhar crítico para as questões que envolvem a realidade social. Portanto, o curso de pedagogia “formação de professores” me faz pensar no meu compromisso social e como minha prática pedagógica futura, no exercício da profissão, pode fazer diferença e transformar a vida de outras pessoas, pois ser um profissional da educação requer uma responsabilidade social muito grande, a professora/or passa a ser um espelho para futuras gerações. Nesse sentido, o curso 41 de Pedagogia representa uma etapa cumprida, mas não o fim, pois outras oportunidades e possibilidades formativas podem surgir em meu trajeto. 42 6 CONSIDERAÇÕES FINAIS Eis que agora chegou a reta final de mais uma etapa da minha vida, a de concluir o curso de Pedagogia e me tornar pedagogo. Para isso, precisei produzir um Memorial de Formação, cuja função consiste em atender a um dos pré-requisitos para obter o grau de Licenciado em Pedagogia. Porém, o cumprimento dessa tarefa não significou apenas atender a esse requisito, mas principalmente me fazer compreender a importância de reviver e registrar, de forma reflexiva, os principais momentos que contribuíram para a formação de quem me tornei hoje. Produzir este Memorial foi, para mim, uma experiência gratificante, uma vez que pude, com um olhar mais maduro e experiente, compreender que para ser a pessoa que sou e para me tornar o pedagogo que desejo ser se faz necessário relembrar as trajetórias pelas quais passei até chegar onde estou, ou seja, relembrar e refletir como cada momento aqui registrado foi fundamental para a compreensão de que os fatos passados da minha vida são a essência da minha história como sujeito histórico, social, cultural e ideológico e que tomar consciência disso é entender que foi a partir disso que me constitui e ainda continuarei me constituindo como pessoal e como profissional. As lembranças registradas aqui significaram a história viva de um sujeito em constante formação, uma vez que somos sujeitos inacabados e que, portanto, estaremos sempre em busca de algo que contribua para nossa formação. O curso de Pedagogia foi apenas mais um episódio de minha constante formação e nele, e com ele, pude viver inúmeras situações de aprendizagem que me auxiliarão a compreender o meu futuro contexto de atuação profissional como professor. Acredito que, ao relembrar e registrar as diferentes vivências de minha vida, pude alcançar o objetivo que tinha estabelecido: desde os primeiros passos do projeto casulo, onde o mundo percebido por mim era de brincadeiras, fantasias passando pelo fundamental I, início da alfabetização e chegando no fundamental II, entre as escolhas de trabalhar e estudar, o trabalho se fazia necessário frente às dificuldades financeiras vivenciadas na época. Assim, fui identificando e refletindo com cuidado sobre as várias dificuldades que surgiram ao longo do meu percurso de vida, buscando
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