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LISTA DE EXERCÍCIO III – 2º ANO – LITERATURA PROFª JOELINE FALCÃO 1. (Fuvest 2021) Leia o poema e o excerto da crônica para responder à questão. IV. Hotel Toffolo E vieram dizer-nos que não havia jantar. Como se não houvesse outras fomes e outros alimentos. Como se a cidade não nos servisse o seu pão de nuvens. Não, hoteleiro, nosso repasto é interior, e só pretendemos a mesa. Comeríamos a mesa, se no-lo ordenassem as Escrituras. Tudo se come, tudo se comunica, tudo, no coração, é ceia. Carlos Drummond de Andrade. "Estampas de Vila Rica”, de Claro Enigma. (...) A população de Ouro Preto nutre convicções e paixões, como qualquer outra, mas cultiva- as in petto [no íntimo], com impecável benignidade de espírito, sem o menor azedume ou nojo pela paixão ou opinião contrária. Essas preferências diversas confraternizam, não raro, junto à mesa no Hotel Toffolo, e chega-se à conclusão de que política não vale positivamente uma boa cerveja. Carlos Drummond de Andrade. "Contemplação de Ouro Preto", de Passeios na Ilha. a) Que relação de sentido liga a imagem "pão de nuvens" (v. 4-5) ao verso "tudo, no coração, é ceia" (v. 10)? Justifique. O termo “pão”, associado originalmente ao alimento básico que mata a fome, é caracterizado na expressão por “de nuvens”, sugerindo algo imaterial e espiritual. Assim, a imagem "pão de nuvens" (v. 4-5) e o verso "tudo, no coração, é ceia" (v. 10) conjugam-se para construir o conceito de que a necessidade de alimento não está ligada necessariamente a uma necessidade fisiológica, mas sim a uma carência de ordem espiritual e afetiva. b) As atitudes dos dois grupos à mesa do Hotel Toffolo, no poema e na crônica, são equivalentes? Explique. Sim, as atitudes dos dois grupos à mesa do Hotel Toffolo, no poema e na crônica, são equivalentes, pois, no texto, o autor afirma que a confraternização é amigável e respeitosa, mesmo que entre eles haja opiniões políticas divergentes, mas não impeditivas de usufruir do prazer do convívio, metaforizado na imagem da “boa cerveja”. TEXTO PARA AS PRÓXIMAS 2 QUESTÕES: Triste Bahia Gregório de Matos Triste Bahia! Ó quão dessemelhante Estás e estou do nosso antigo estado! Pobre te vejo a ti, tu a mi empenhado, Rica te vi eu já, tu a mi abundante. A ti trocou-te a máquina mercante, Que em tua larga barra tem entrado, A mim foi-me trocando, e tem trocado, Tanto negócio e tanto negociante. Deste em dar tanto açúcar excelente Pelas drogas inúteis, que abelhuda Simples aceitas do sagaz Brichote. Oh se quisera Deus que de repente Um dia amanheceras tão sisuda Que fora de algodão o teu capote! (MATOS, Gregório de. Seleção de Obras Poéticas. São Paulo: A Biblioteca Virtual do Estante Brasileiro/USP, 1998, p.5-6) Triste Bahia Caetano Veloso Triste Bahia, oh, quão dessemelhante Estás e estou do nosso antigo estado Pobre te vejo a ti, tu a mim empenhado Rico te vejo eu, já tu a mim abundante Triste Bahia, oh, quão dessemelhante A ti tocou-te a máquina mercante Quem tua larga barra tem entrado A mim vem me trocando e tem trocado Tanto negócio e tanto negociante Triste, oh, quão dessemelhante, triste Pastinha já foi à África Pastinha já foi à África Pra mostrar capoeira do Brasil Eu já vivo tão cansado De viver aqui na Terra Minha mãe, eu vou pra lua Eu mais a minha mulher Vamos fazer um ranchinho Tudo feito de sapê, minha mãe eu vou pra lua E seja o que Deus quiser Triste, oh, quão dessemelhante ê, ô, galo canta O galo cantou, camará ê, cocorocô, ê cocorocô, camará ê, vamo-nos embora, ê vamo-nos embora camará ê, pelo mundo afora, ê pelo mundo afora camará ê, triste Bahia, ê, triste Bahia, camará Bandeira branca enfiada em pau forte… Afoxé leî, leî, leô… Bandeira branca, bandeira branca enfiada em pau forte… O vapor da cachoeira não navega mais no mar… Triste Recôncavo, oh, quão dessemelhante Maria pé no mato é hora… Arriba a saia e vamo-nos embora… Pé dentro, pé fora, quem tiver pé pequeno vai embora… Oh, virgem mãe puríssima… Bandeira branca enfiada em pau forte… Trago no peito a estrela do norte Bandeira branca enfiada em pau forte… Bandeira… (VELOSO, Caetano. Triste Bahia (Álbum Transa) . São Paulo: Phillips, 1971) 2. (Ufjf-pism 3 2021) No texto de Caetano Veloso, o enunciador sugere possibilidades de exílio para lidar com o cenário criticado na letra. Indique um verso que justifique essa afirmativa. No texto de Caetano Veloso, o eu lírico expressa possibilidades de exílio para lidar com o cenário sociopolítico opressor da década de 70 nos seguintes versos: “Minha mãe, eu vou pra lua”, “ê, vamo-nos embora, ê vamo-nos embora camará” ou “Pé dentro, pé fora, quem tiver pé pequeno vai/embora”. 3. (Ufjf-pism 3 2021) O soneto de Gregório de Matos apresenta uma crítica ao Brasil seiscentista, marcado pela desigualdade e colonialidade. A partir da leitura deste poema, responda: qual contradição é denunciada no poema? O texto trata de um processo de transformação que gerou o empobrecimento da Bahia e do eu lírico que denuncia essa decadência. A oposição entre os adjetivos “pobre” e “rica”, “empenhado” e “abundante”, assim como os tempos verbais flexionados no passado e no presente apontam para a causa dessa mudança, denunciando a contradição da desigualdade social em uma terra tão rica: a “máquina mercante”, rica e poderosa, contrariamente ao que acontece com o povo baiano, cada vez mais pobre. 4. (Unicamp 2020) Texto I “Menino do Rio” (Caetano Veloso, Cinema Transcendental, 1979.) Menino do Rio Calor que provoca arrepio Dragão tatuado no braço Calção corpo aberto no espaço Coração, de eterno flerte Adoro ver-te (...) O Havaí, seja aqui Tudo o que sonhares Todos os lugares As ondas dos mares Pois quando eu te vejo Eu desejo o teu desejo Texto II “Haiti” (Caetano Veloso e Gilberto Gil, Tropicália 2, 1993.) (...) E quando ouvir o silêncio sorridente de São Paulo Diante da chacina 111 presos indefesos, mas presos são quase todos pretos Ou quase pretos, ou quase brancos quase pretos de tão pobres E pobres são como podres e todos sabem como se tratam os pretos (...) Pense no Haiti, reze pelo Haiti O Haiti é aqui O Haiti não é aqui (Disponível em http://www.caetanoveloso.com.br/. Acessado em 12/10/2019.) - Havaí é uma ilha do Pacífico, um Estado norte-americano conhecido pelo turismo e por suas praias paradisíacas que atraem surfistas do mundo inteiro. - Haiti é uma ilha do Caribe, atualmente sob intervenção da ONU; é o país mais pobre das Américas, com mais de 60% da população subnutrida. a) O verso “O Havaí, seja aqui” (texto I), de Caetano Veloso, e o verso “O Haiti é aqui” (texto II), de Caetano e Gilberto Gil, refletem diferentes posições em relação aos lugares a que se referem. Explique como o uso do verbo “ser” define cada uma dessas posições. Em “O Havaí, seja aqui” (texto I), de Caetano Veloso, o verbo ser exprime o desejo do eu lírico em transformar a realidade do Rio em um local paradisíaco onde o menino possa realizar todos os seus sonhos. Em “O Haiti é aqui” (texto II), de Caetano e Gilberto Gil, o verbo ser define a realidade cruel da infância das crianças pobres e negras ao associar o país mais pobre das Américas, com mais de 60% da população subnutrida, com a cidade do Rio de Janeiro. b) Explicite as duas visões dos compositores ao dizerem: “O Haiti é aqui” / “O Haiti não é aqui” (texto II). O verso “O Haiti é aqui” traduz a pobreza da população carioca ao associá-la a um país vitimado pela guerra e pela fome, enquanto que em “O Haiti não é aqui” denuncia o fato de um país como o Brasil, com uma economia relevante no plano mundial, conviver com tão profundas desigualdades sociais. TEXTO PARA AS PRÓXIMAS 2 QUESTÕES: Para responder à(s) questão(ões), leia o soneto de Raimundo Correia(1859-1911). Esbraseia o Ocidente na agonia O sol... Aves em bandos destacados, Por céus de ouro e de púrpura raiados, Fogem... Fecha-se a pálpebra do dia... Delineiam-se, além, da serrania Os vértices de chama aureolados, E em tudo, em torno, esbatem derramados Uns tons suaves de melancolia... Um mundo de vapores no ar flutua... Como uma informe nódoa, avulta e cresce A sombra à proporção que a luz recua... A natureza apática esmaece... Pouco a pouco, entre as árvores, a lua Surge trêmula, trêmula... Anoitece. (Poesia completa e prosa, 1961.) 5. (Unesp 2018) a) Há no soneto menção a um sentimento que permeia e circunda a natureza retratada. Que sentimento é esse? Do que decorre tal sentimento No soneto “Anoitecer”, o poeta descreve o final do dia incorporando à paisagem uma profunda melancolia. Embora vinculada à estética parnasiana, a obra de Raimundo Correia evolui, iniciando sua carreira como romântico, para depois adotar o parnasianismo até se aproximar, em alguns poemas, com a escola simbolista. Assim, o final do dia sugere também o declínio da vida, o que gera reflexões e sentimentos de tristeza e melancolia sobre a passagem do tempo, a transitoriedade e efemeridade das coisas. b) Verifica-se na terceira estrofe a ocorrência de uma antítese. Que termos configuram essa antítese? Na terceira estrofe, os termos “sombra” e “luz” configuram uma antítese, figura de estilo que recorre a termos, palavras ou orações que se opõem quanto ao sentido para conferir mais expressividade ao texto. 6. (Unesp 2018) a) Que processo o soneto de Raimundo Correia retrata? O poema do parnasiano Raimundo Correia descreve o anoitecer: “Esbraseia o Ocidente na agonia/O sol”, “a lua/Surge trêmula, trêmula... Anoitece”. b) A primeira estrofe do soneto é composta por três períodos simples em ordem indireta (“Esbraseia o Ocidente na agonia / O sol”; “Aves em bandos destacados, / Por céus de ouro e de púrpura raiados, / Fogem”; e “Fecha-se a pálpebra do dia”). Reescreva esses três períodos em ordem direta. Em ordem direta, a primeira estrofe teria a seguinte configuração: O sol esbraseia o Ocidente na agonia, / Aves fogem em bandos destacados por céus de ouro e púrpura raiados / A pálpebra do dia fecha-se.
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