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LIBRAS Me. Marina Savordelli Versolato GUIA DA DISCIPLINA 2021 1 Língua Brasileira de Sinais - LIBRAS Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 1. HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO DOS SURDOS Objetivo: Estudar e conhecer os processos históricos da educação de surdos no Brasil e no mundo e compreender sobre a importância da defesa da LIBRA como L1 dos surdos. Introdução: Diferentes práticas pedagógicas envolvendo os sujeitos surdos apresentam uma série de limitações, e esses sujeitos, ao final da escolarização básica, apresentam dificuldade de ler e escrever satisfatoriamente ou ter um domínio adequado dos conteúdos acadêmicos. Esses problemas têm sido abordados por uma série de autores que, preocupados com a realidade escolar do surdo no Brasil, procuram identificar tais problemas e apontam a educação bilíngue como um possível caminho para a prática pedagógica. Nesse sentido, parece oportuno refletir sobre alguns aspectos da educação de surdos ao longo da história, procurando compreender seus desdobramentos e influências sobre a educação na atualidade. 1.1 A história da educação dos surdos: uma reflexão importante. Consideramos importante conhecer sobre a história, bem como as filosofias e métodos educacionais criados para os alunos com surdez. A história serve de base para que seja feita uma análise crítica das consequências de cada filosofia ou método de ensino no desenvolvimento destas crianças, contextualizando as práticas vigentes. Inicialmente a sociedade tinha uma ideia muito negativa da surdez, enfatizando sempre os seus aspectos negativos. Segundo Goldfeld (2002), na antiguidade os surdos foram percebidos de diversas formas: com piedade e compaixão, como pessoas castigadas pelos deuses ou como pessoas enfeitiçadas. Por isso mesmo, foram abandonadas ou sacrificadas. Para Goldfeld (2020), a crença de que a pessoa com surdez era uma pessoa primitiva fez com que persistisse até o século quinze a ideia de que ele não poderia ser educado. Sendo assim, tais pessoas viviam totalmente à margem da sociedade e não tinham nenhum direito assegurado. 2 Língua Brasileira de Sinais - LIBRAS Universidade Santa Cecília - Educação a Distância Ao longo da História foi proposto uma variedade de abordagens e métodos para a educação dos alunos com surdez. Muitos deles fundamenta-se em substituir a audição perdida por um outro canal sensorial, como a visão, o tato, ou aproveitando os resíduos da audição existentes. Segundo Quadros (1997) fazendo uma espécie de digressão sobre a educação de surdos no Brasil, temos duas fases que podem ser claramente delineadas e uma terceira fase, a atual, que configura um processo de transição. Fizemos essa linha do tempo para tentarmos facilitar a compreensão das 3 fases: Trazemos abaixo as principais características de cada um dos períodos: A primeira fase configura-se pela proposta oralista, que infelizmente, apresenta resquícios de sua ideologia até hoje. Segundo a autora Ronice M. Quadros (1997) podemos dizer que basicamente, a proposta oralista fundamenta-se na “recuperação” da pessoa surda. O oralismo enfatiza a língua oral em termos terapêuticos. ORALISMO 1969-1984 COMUNICAÇÃO TOTAL 1985-1992 BILÍNGUISMO a partir de 1993 3 Língua Brasileira de Sinais - LIBRAS Universidade Santa Cecília - Educação a Distância O oralismo ou filosofia oralista visa a integração do aluno com surdez na comunidade de ouvintes, dando-lhe condições de desenvolver a língua oral (no caso do Brasil, o português). Cabe destacar que o oralismo sempre foi e continua sendo uma experiência que apresenta resultados nada atraentes para o desenvolvimento da linguagem e da comunidade dos surdos. Apesar do investimento de anos da vida de uma criança surda na sua oralização, ela somente é capaz de captar, através da leitura labial, cerca de 20% da mensagem e, além disso, sua produção oral, normalmente, não é compreendida por pessoas que não convivem com ela. (QUADROS, 1997, p. 23) Diante desse difícil contexto, surge então uma nova proposta: a comunicação total, que se define como uma filosofia que requer a incorporação de modelos auditivos, manuais e orais para assegurar a comunicação eficaz entre as pessoas com surdez. Os defensores da filosofia da Comunicação Total recomendam então o uso simultâneo de diferentes códigos como: a Língua de Sinais, a datilologia, o português sinalizado etc. O objetivo é fornecer à criança a possibilidade de desenvolver uma comunicação real com seus familiares, professores e coetâneos, para que possa construir seu mundo interno. Neste contexto, a autora QUADROS (1997) relata que se desenvolveu o BIMODALISMO que é uma proposta que se caracteriza pelo uso simultâneo de sinais e fala. Os sinais passam a ser utilizados pelos profissionais em contato com o surdo dentro da estrutura da língua portuguesa. Esse sistema artificial passa a ser chamado de português sinalizado. O ensino não enfatiza mais o oral exclusivamente, mas o bimodal. (...) não é possível efetuar a transliteração de uma língua falada em Sinal palavra por palavra, ou frase por frase – as estruturas são essencialmente diferentes. Imagina-se com frequência, vagamente, que a língua de sinais é Inglês ou Francês: não é nada disso; ela é própria, Sinal. Portanto, o “Inglês Sinalizado” agora favorecido como um compromisso, é desnecessário, pois não precisa de nenhuma pseudolíngua intermediária. E, no entanto, os surdos são obrigados a aprender os sinais não para ideias e ações que querem expressar, mas pelos sons fonéticos em inglês que não podem ouvir. (SACKS, 1990, p.47) 4 Língua Brasileira de Sinais - LIBRAS Universidade Santa Cecília - Educação a Distância É importante destacar que todos esses códigos manuais (português sinalizado, inglês sinalizado etc.) são usados obedecendo a estrutura gramatical da língua oral, não se respeitando a estrutura própria da Língua de Sinais. Foi na década de 1990 que avançamos para o bilinguismo, abordagem essa que utiliza da Libras como primeira língua para o surdo e o português, na modalidade escrita, como segunda língua. . As duas primeiras fases constituem grande parte da história da educação dos surdos no Brasil e no mundo. Segundo Quadros (1997) as comunidades surdas já despertaram e perceberam que foram muito prejudicadas com as propostas de ensino desenvolvidas até e sabem da importância e do valor da sua língua, isto é, a LIBRAS. Assim, a educação de surdos no Brasil entrou na terceira fase na direção de uma proposta de educação bilíngue. Para além da questão da língua, portanto, o bilinguismo na educação de surdos representa questões políticas, sociais e culturais. Nesse sentido, a educação de surdos em uma perspectiva bilíngue deve ter um currículo organizado em uma perspectiva visoespacial para garantir o acesso a todos os conteúdos escolares na própria língua da criança, a língua de sinais brasileira (QUADROS, 2015, p. 197) De acordo com Quadros (1997) o bilinguismo é uma proposta de ensino usada por escolas que se propõe a tornar acessível ao aluno(a) surdo duas línguas no contexto escolar. Os estudos apontam que essa proposta é a mais adequada para o ensino das crianças surdas, tendo em vista que considera a língua de sinais como a língua natural e parte desse pressuposto para o ensino do português na modalidade escrita como segunda língua. 5 Língua Brasileira de Sinais - LIBRAS Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 1.2 Sinais De Libras: Ao final de cada aula traremos alguns sinais para vocês irem de familiarizando com a Língua Brasileira de Sinais. Fonte: https://rodrigopimentalibras.webnode.com/aprenda-lingua-de-sinais/ Se a língua de sinais é uma língua natural adquiridade forma espontânea pela pessoa surda em contato com pessoas que usam essa língua e se a língua oral é adquirida de forma sistematizada, então as pessoas surdas possuem o direito de ser ensinadas na língua de sinais. A proposta de Educação Bilingue busca captar e garantir esse direito, que conforme pudemos ver foi negado ao longo da história. GOLDFELD, Marcia. A criança surda: linguagem e cognição numa perspectiva sócio-interacionista. 2ª ed. São Paulo: Plexus Editora, 2002. QUADROS, Ronice Muller de. Bilinguismo In: QUADROS, Ronice M. de. Educação de Surdos: a aquisição da linguagem. Porto Alegre: Artemed, 1997. QUADROS, Ronice Müller de. O “BI” em bilinguismo na educação de surdos. In: LODI, Ana Claudia Balieiro; MÉLO, Ana Dorziat Barbosa; FERNANDES, Eulália (Orgs.). Letramento, bilinguismo e educação de surdos. Porto Alegre: Mediação, 2015. SAKCS, Oliver. Vendo Vozes, Rio de Janeiro: Imagino, 1990. https://rodrigopimentalibras.webnode.com/aprenda-lingua-de-sinais/ 6 Língua Brasileira de Sinais - LIBRAS Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 2. MARCOS LEGAIS: A LIBRAS COMO UM DIREITO Objetivo: Nesta aula buscaremos entender o lugar do surdo ao longo da história e conhecer os movimentos políticos que envolvem a comunidade surda, bem como os marcos legais importantes para se pensar a educação dos surdos no Brasil e no mundo. Introdução: Sabendo que, historicamente, a língua de sinais foi tão menosprezada e hoje se mostra indispensável para a construção cultural, de pertencimento à sociedade e de acesso ao conhecimento e de avanços cognitivos e afetivos dos sujeitos surdos. Sendo assim é necessário conhecer essa trajetória de luta e os marcos legais importantes para entender a importância da defesa da Educação Bilíngue. A condição bilíngue do surdo significa admitir que ele percorre essas duas línguas “e, mais que isso, que ele constitui e se forma a partir delas” (PEIXOTO, 2006, p. 206). Falar em bilinguismo e educação bilíngue alude à afirmação das conquistas linguísticas e culturais da comunidade surda. (ANDRADE, 2020) 2.1 O surdo ao longo da história. Ao longo da história da humanidade podemos identificar quatros grandes momentos marcantes no que se refere as pessoas com deficiência. São eles: M 7 Língua Brasileira de Sinais - LIBRAS Universidade Santa Cecília - Educação a Distância Mais especificamente sobre a história da educação de surdos, passamos por diferentes abordagens no que dizem respeito à língua a ser usada por eles no Brasil e no Mundo. A primeira etapa sobre a educação de surdos – durante a Antiguidade e pelo período da Idade Média – é pautada na incapacidade das pessoas surdas em aprenderem e serem sociáveis, isto é, os surdos eram tidos como “não educáveis” (LACERDA, 1998). No início do século XIV foi compreendido que os surdos podiam aprender e com isso foram elaboradas práticas pedagógicas, as quais os surdos podiam desenvolver o “pensamento, adquirir conhecimentos e se comunicar com o mundo ouvinte” (LACERDA, 1998, p. 1). Segundo LOPES (2017) No século XVIII, as famílias dos surdos optavam por colocar seus filhos em internatos, uma vez que a surdez era vista como algo a ser corrigido, como castigo e doença. Nesse momento, os surdos não podiam mais fazer uso dos sinais, como acontecia com Leon. Agora o objetivo de desenvolvimento das pessoas surdas estava na oralidade e na normalização. Nos internatos não havia a possibilidade de se formarem turmas apenas de alunos surdos, “pois o risco de que eles resistissem aos tratamentos e aos métodos de ensino e oralização era algo ameaçador” (LOPES, 2017, p. 44). Ainda no século XVIII tivemos, então, a separação entre os oralistas e os gestualistas. Os primeiros acreditavam que o surdo deveria ser reabilitado e que a surdez fosse superada, ou seja, que os surdos deveriam falar e se comportar como se não tivessem a surdez. Já os gestualistas tinham o entendimento das dificuldades dos surdos em relação à língua falada e puderam perceber que as pessoas surdas desenvolviam uma língua que, mesmo que diferente da língua oral, era eficiente para a comunicação e para a compreensão das coisas que aconteciam ao seu redor. (ANDRADE, 2020) 8 Língua Brasileira de Sinais - LIBRAS Universidade Santa Cecília - Educação a Distância Um dos representantes gestualistas é o abade Charles M. de L’Epée, que participava do “método francês” de educação de surdos. Lacerda (1998) relata que L’Epée foi o primeiro a estudar uma língua de sinais usada pelos surdos. Por conta de toda repercussão diante da prática pedagógica realizada com os surdos, em 1878 aconteceu na cidade de Paris o I Congresso Internacional sobre a Instrução de Surdos, em que ocorreram vários debates sobre a prática realizada até aquele momento. (ANDRADE, 2020) Em 1880 aconteceu o II Congresso Internacional, na cidade de Milão. Neste congresso verificou-se uma forte mudança na educação de surdos e isso faz deste um marco histórico. Com maioria oralista no congresso ficou definido que a metodologia oralista deveria ser a usada na educação de surdos e não mais o uso da língua de sinais (LACERDA, 1998) A Pintura abaixo é de Nancy Rourke e tem o nome de "Milão 1880 em cima da mesa". A obra foi elaborada retratando o Congresso Internacional sobre Educação de HQ "O congresso de Milão“ Fonte: https://www.libras.com.br/congresso-de-milao 9 Língua Brasileira de Sinais - LIBRAS Universidade Santa Cecília - Educação a Distância Surdos, realizado em Milão, Itália, no ano de 1880, quando a língua de sinais foi proclamada proibida e o oralismo se tornou regra e lei na educação dos surdos. As mãos representam os seis americanos que compareceram ao Congresso. São James Denison, Edward Miner Gallaudet, Thomas Gallaudet Jr., Isaac Lewis Peet e Charles Stoddard. Os impactos do Congresso de Milão foram terríveis na comunidade surda em todo o mundo. Estima-se que já na primeira década após o Congresso de Milão o ensino das línguas de sinais já estava quase completamente erradicado das escolas. Privadas das línguas de sinais, crianças surdas no mundo inteiro deixavam as escolas com qualificações e comunicação inferiores. Apenas 100 anos depois iniciou-se o árduo processo de rejeição das resoluções do Congresso de Milão e a reestruturação da educação das pessoas surdas. Somente em julho de 2010, no 21º Congresso Internacional de Educação de Surdos (sediado em Vancouver, Canadá) houve uma votação formal e todas as oito resoluções do Congresso de Milão foram rejeitadas. 2.2 Os marcos legais nacionais Segundo ANDRADE (2020) em 1857, no Brasil, é inaugurado, pelo professor francês Édouard Huet, o Instituto Imperial de Surdos-Mudos, na cidade do Rio de Janeiro. Huet, também surdo, sugere a criação de uma escola especializada na educação de pessoas surdas e Dom Pedro II aceita sua proposta. Atualmente o instituto ainda existe, FONTE: Quadro de Nancy Rourke e tem o nome de "Milão 1880 em cima da mesa"https://www.libras.com.br/images/artigos/congresso-de-milao/nancy-rourke-milan-1880-on-the-table.png 10 Língua Brasileira de Sinais - LIBRAS Universidade Santa Cecília - Educação a Distância com o nome de Instituto Nacional de Educação de Surdos (INES). Esse é um marco da educação de surdos no Brasil. O INES acompanhou as abordagens oralista, comunicação total e bilinguismo de acordo com as tendências mundiais. Com essa breve contextualização histórica podemos dizer que, atualmente, falar sobre o surdo é também falar sobre bilinguismo, defesa sustentada, sobretudo, pelas conquistas legais advindas da Lei nº 10.098/2000, conhecida como a Leide acessibilidade, que propõe a supressão de barreiras e de obstáculos nas vias e espaços públicos, no mobiliário urbano, na construção e reforma de edifícios e nos meios de transporte e de comunicação. Outra Lei importantíssimo é a LEI 10. 436 de 24 de Abril de 2002 conhecida como LEI DE LIBRAS. “Art. 1o É reconhecida como meio legal de comunicação e expressão a Língua Brasileira de Sinais - Libras e outros recursos de expressão a ela associados.” (BRASIL, 2002) Uma coisa importante nessa lei e que definiu a inclusão disciplina de libras em todos os cursos de licenciatura e fonoaudiologia. A regulamentação da lei de libras ocorreu pelo decreto 5.626 de 22 de dezembro de 2005. O decreto descreve o surdo como: Para os fins deste Decreto, considera-se pessoa surda aquela que, por ter perda auditiva, compreende e interage com o mundo por meio de experiências visuais, manifestando sua cultura principalmente pelo uso da Língua Brasileira de Sinais - Libras. (BRASIL, 2005) É importante conhecer a legislação que visa a garantida de direitos para os surdos. Compreendemos então que falar em bilinguismo alude à afirmação das conquistas linguísticas e culturais da comunidade surda. Já que, historicamente, a língua de sinais foi tão menosprezada e hoje se mostra indispensável para a construção cultural, de pertencimento à sociedade e de acesso ao conhecimento e de avanços cognitivos e afetivos dos sujeitos surdos. (ANDRADE, 2020) 11 Língua Brasileira de Sinais - LIBRAS Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 2.3. SINAIS DE LIBRAS: Fonte: https://rodrigopimentalibras.webnode.com/aprenda-lingua-de-sinais/ Fonte: https://rodrigopimentalibras.webnode.com/aprenda-lingua-de-sinais/ Fonte : Imagem obtida de CAPOVILLA, F. C RAPHAEL, W. D. Dicionário Enciclopédico Ilustrado Trilíngüe da Língua de Sinais Brasileira. V.1 e 2. São Paulo: EDUSP, 2001. https://rodrigopimentalibras.webnode.com/aprenda-lingua-de-sinais/ https://rodrigopimentalibras.webnode.com/aprenda-lingua-de-sinais/ 12 Língua Brasileira de Sinais - LIBRAS Universidade Santa Cecília - Educação a Distância • Esse sinal é referente ao sinal pessoal, considerado um nome em Libras; • Uma pessoa recebe seu sinal pessoal, escolhido por um surdo, de acordo com suas características pessoais ou por sua forma de agir. • Geralmente, ao se apresentar, a pessoa soletra seu nome e em seguida realiza seu sinal pessoal. ANDRADE, Camila Neto Fernandes. Bebês e crianças surdas nos espaços educativos. Dissertação (Mestrado em Educação) – Universidade Federal de São Paulo, Escola de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Guarulhos, 2020. BRASIL. Lei nº 10.436, de 24 de abril de 2002. Dispõe sobre a Língua Brasileira de Sinais – Libras e dá outras providências. Diário Oficial da República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 25 abr. 2002. BRASIL. Decreto nº 5.626, de 22 de dezembro de 2005. Regulamenta a Lei nº 10.436, de 24 de abril de 2002, que dispõe sobre a Língua Brasileira de Sinais – 121 Libras, e o art. 18 da Lei nº 10.098, de 19 de dezembro de 2000. Diário Oficial da União, Brasília, 23 dez. 2005. LACERDA, Cristina BF de. Um pouco da história das diferentes abordagens na educação dos surdos. Cafajeste. CEDES, Campinas, v. 19, n. 46, p. 68-80, setembro de 1998 13 Língua Brasileira de Sinais - LIBRAS Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 3. LÍNGUA E LINGUAGEM Discorrendo a respeito da definição de linguagem, com base na teoria de Vigotski e abordaremos também acerca da socioconstrução da língua de sinais pelas crianças surdas. O ser HUMANO é um ser ativo, cuja conduta é social e historicamente determinada. Vigotski afirma que as características tipicamente humanas não são inatas, nem mero resultado da pressão do ambiente, mas sim resultam da relação dialética do homem com o seu meio cultural. Ao mesmo tempo em que o ser humano transforma o seu meio para atender as suas necessidades básicas, transforma-se a si mesmo. (REGO, 2014). Fizemos essa representação gráfica para tentar explanar o movimento dialético do homem com o meio social. 4.1 Linguagem e pensamento para Vigotski Lev Vigotski conceitua linguagem como o ponto principal para a organização do real, de construção dos significados e de alcance do pensamento verbal generalizante. O autor alude que: “Antes de controlar o próprio comportamento, a criança começa a controlar o ambiente com a ajuda da fala. Isso produz novas relações com o ambiente, além de uma nova organização do próprio comportamento” (VIGOTSKI, 2007, p. 12). O autor afirma que signos e palavras, para as crianças, constituem uma maneira de se firmar socialmente com outras pessoas, sejam elas outras crianças ou adultos, uma vez que, a partir deles, as crianças conseguem interagir com os demais membros da sociedade. A linguagem, segundo o autor, se desenvolve a partir da necessidade de comunicação entre os sujeitos, como, por exemplo, o choro, balbucios, risos, entre outros sinais realizados pelos bebês, a fim de querer expressar um incômodo ou uma satisfação Homem Meio Social 14 Língua Brasileira de Sinais - LIBRAS Universidade Santa Cecília - Educação a Distância ao indivíduo próximo a ele. Esse é o primeiro passo de acesso à linguagem. A esse respeito, Vigotski (2009) considera: Contudo, a descoberta mais importante sobre o desenvolvimento do pensamento e da fala na criança é a de que, num certo momento, mais ou menos aos dois anos de idade, as curvas da evolução do pensamento e da fala, até então separadas, cruzam-se e coincidem para iniciar uma nova forma de comportamento muito característico do homem. (VIGOTSKI, 2009, p.130). Para o autor, a relação entre linguagem e pensamento é uma grandeza variável, que se modifica quantitativa e qualitativamente de maneira não paralela e desigual. Vigotski (2009) afirma ainda que: “Em um determinado ponto ambas as linhas se cruzam, após o que o pensamento se torna verbal e a fala se torna intelectual.” (p.133). Ou seja, para o autor em um determinado momento, essas linhas que estavam seguindo caminhos diferentes, aparentemente, se cruzam. Sendo assim, pensamento e linguagem são processos diferentes que, ao longo do desenvolvimento humano, interceptam-se em diversos momentos, tornando-se uma linguagem intelectual e um pensamento verbalizado, fizemos uma representação gráfica para facilitar a compreensão. Para Vigotski (2009), a linguagem não é um simples reflexo do pensamento. A unidade entre pensamento e linguagem é o significado, uma vez que este apresenta-se como fenômeno dos dois processos: é um fenômeno do pensamento, na medida em que é uma generalização ou conceito, do ponto de vista psicológico, do ato específico do pensamento, e é um fenômeno da palavra, na medida em que a palavra é um som qualquer quando desprovido de significado. Portanto, a relação entre pensamento e 15 Língua Brasileira de Sinais - LIBRAS Universidade Santa Cecília - Educação a Distância linguagem é um produto de formação do homem que surge e constitui-se no processo de desenvolvimento histórico e cultural da consciência humana (VIGOTSKI, 2009). Para o autor o surgimento da linguagem implica em 3 mudanças essenciais nos processos psíquicos do homem: o 1º Lidar com os objetos do mundo exterior mesmo que eles estejam ausentes. Ex: O vaso quebrou ontem. o 2º Processo de generalização e abstração. Ex: Árvore; o 3º Função de comunicação entre os homens que permite, como consequência, a preservação, transmissão de informações acumuladas pela humanidade ao longo do tempo. É através do significado que o indivíduose conecta com o mundo, ou seja, o sujeito se torna capaz de perceber o mundo e operar sobre ele ou seja, “encontramos no significado da palavra essa unidade que reflete da forma mais simples a unidade do pensamento e da linguagem” (VIGOTSKI, 2018, p. 398). 4.2 Linguagem e língua A diferença entre língua e linguagem sempre causa muita confusão, por este motivo, torna-se essencial à discussão destes termos até para que posteriormente possamos entender o porquê da língua de sinais ser classificada como tal. Linguagem é a habilidade natural de comunicação inerente a todos os seres humanos. É apresentada de forma livre, podendo ter suporte de gestos sons, imagens, símbolos, cores, letras entre outros. Ativado pelo hemisfério cerebral direito, o que já determina que a linguagem possui uma ligação direta com a abstração e contextualização. Ela é abstrata e universal. Pode ser verbal ou não verbal. Podendo fazer uso de uma destas formas ou das duas combinadas. A linguagem verbal é caracterizada com o uso de palavras (escrita ou falada); contudo a linguagem não verbal se faz através da utilização de sons, ruídos, gestos, imagens e inúmeras outras formas não orais. Uma forma de exemplificar a linguagem seria descrever que uma criança ao sair da casa de uma tia olha para trás, sorri, acena e diz: “Até breve!” Ao falar ela usou da linguagem verbal e ao sorrir e acenar da linguagem não verbal. 16 Língua Brasileira de Sinais - LIBRAS Universidade Santa Cecília - Educação a Distância Outros exemplos: Figura 1 Figura 2 Fonte: http://atl.clicrbs.com.br/mundobom/2015/05/08/o-que-significa-este-simbolo-uma-mulher-vai-mudar- tudo-o-que-voce-imaginou/ A figura 1 trata-se de uma linguagem não verbal e universal, que faz com que tenhamos uma ligação quase que automática com o significado de banheiro masculino e feminino. Na figura 2 é uma linguagem verbal, mas que faz com que façamos uma relação indireta com feminino e masculina devida a referência da escrita, acrescentando as figuras dos bonecos à relação é imediata para banheiro masculino e feminino. Abaixo podemos observar 3 tipos de linguagem: Fonte:https://www.facebook.com/linguaportuguesa07/photos/955711114442860 Já a Língua é um conjunto de sinais utilizados para a comunicação. Determinado por um grupo de pessoas, no entanto, para se ter status de língua é preciso que se tenha um padrão linguístico, com regras e estruturas gramaticais e semânticas. A ativação se faz do lado esquerdo do hemisfério cerebral, que tem dentre outras funções a lógica, o raciocínio dedutivo, a compreensão das palavras e o reconhecimento das regras https://www.facebook.com/linguaportuguesa07/photos/955711114442860 17 Língua Brasileira de Sinais - LIBRAS Universidade Santa Cecília - Educação a Distância linguísticas. A língua se caracteriza de maneira real e concreta, não permite abstração. Concretiza a comunicação, no entanto, necessita que seus usuários reconheçam as suas regras. Trata-se das línguas dos povos: americana, francesa, brasileira... Vale lembrar que a língua não necessariamente precisa ser falada, a Libras se enquadra aqui. Assim como as línguas orais, a língua de sinais é uma forma de comunicação utilizada pelos surdos, sendo compostas por sinais estruturados e não aleatórios, sendo necessário à sua estruturação dentro de uma base linguística para que tenha significado, senão ela torna-se mímica. E mímica é uma linguagem não verbal. A Libras é uma língua reconhecida através da Lei nº 10.436 de 24 de abril de 2002, que reconhece a Língua de Sinais Brasileira_ Libras como uma segunda língua oficial do Brasil. Art. 1º É reconhecida como meio legal de comunicação e expressão a Língua Brasileira de Sinais – Libras e outros recursos de expressão a ela associados. Parágrafo único: Entende-se como Língua Brasileira de Sinais – Libras a forma de comunicação e expressão, em que o sistema linguístico de natureza visual- motora, com estrutura gramatical própria, constitui um sistema linguístico de transmissão de ideias e fatos, oriundos de comunidades de pessoas surdas do Brasil. Art. 2º Deve ser garantido, por parte do poder público em geral e empresas concessionárias de serviços públicos, formas institucionalizadas de apoiar o uso e difusão da Língua Brasileira de Sinais – Libras como meio de comunicação objetiva e de utilização corrente das comunidades surdas do Brasil. 18 Língua Brasileira de Sinais - LIBRAS Universidade Santa Cecília - Educação a Distância Art. 4º O sistema educacional federal e os sistemas educacionais estaduais, municipais e do Distrito Federal devem garantir a inclusão nos cursos de formação de Educação Especial, de Fonoaudiologia e de Magistério, em seus níveis médio e superior, do ensino da Língua Brasileira de Sinais – Libras, como parte integrante dos Parâmetros Curriculares Nacionais _ PCNs, conforme legislação vigente. Parágrafo Único: a Língua Brasileira de Sinais – Libras não poderá substituir a modalidade escrita da Língua portuguesa. Como foi possível observar na descrição anterior sobre a Lei nº 10.436, a Libras foi reconhecida e regulamentada como língua em 2002. Sendo utilizada pelas comunidades surdas brasileiras, apresentando-se como a forma mais eficaz para uma comunicação funcional entre surdos, e surdos e ouvintes usuários da Libras. Com a Lei nº 10.436, o Brasil torna-se um país bilíngue, possuidor de duas línguas oficiais. No entanto, pode-se dizer que a Libras no decorrer destes anos tem sido aceita gradativamente por profissionais, pais e pela sociedade de uma maneira geral. Comprovando que se trata de uma comunicação estruturada gramaticalmente e não um compilado de gestos e mímicas. Composta por todos os componentes existentes nas línguas orais, preenchendo a todos os requisitos para se ter o status de língua, reconhecida como uma língua viva e independente. Em relação aos sinais da Libras é bom ressaltar algumas observações: a Libras não é universal, tendo inclusive o seu alfabeto próprio para cada país. É uma língua e como tal está viva e em constante mudanças, apresenta variações regionais dentro do próprio Brasil. Tem influência cultural. Sua base é da Língua de Sinais Francesa (LSF), preservando muitos sinais desta influência. Segundo o Professor Dr. Fernando César Capovilla, a Libras não é apenas visuoespacial, mas sim visuoespacialquirêmica, pois além de fazer uso da visão (visuo) e do espaço (espacial), ela também se utiliza de componentes as mãos (quirêmica). Como dito anteriormente a Libras possui algumas variações linguísticas. As que devem ser ressaltadas são: regionalidade, iconicidade/arbitrariedade e mudanças históricas. • Regionalidade: os sinais recebem uma influência regional, que deve ser respeitada. Associamos a isso o fato do Brasil ser um país muito extenso e de 19 Língua Brasileira de Sinais - LIBRAS Universidade Santa Cecília - Educação a Distância muitas influências culturais em relação a cada região. Havendo também uma influência cultural nestes sinais. Fonte: https://rodrigopimentalibras.webnode.com/aprenda-lingua-de-sinais/ • Iconicidade e Arbitrariedade: a Libras busca representar de maneira visuoespacialquirêmica as palavras e expressões da sua língua nativa, ou seja, da língua portuguesa, associada a própria compreensão da comunidade surda em relação a uma palavra ou expressão. Os sinais da Libras podem ser caracterizados como arbitrários e icônicos. Sinais Icônicos usam como referência o seu significado. São gestos carregados de simbolismo, por se tratarem de sinais mais concretos, tais como: comer, varrer,pular... Sinais Arbitrários são sinais abstratos e não icônicos, em nada se assemelham ao significado da palavra em português ou a sua ação. Geralmente estão relacionados a significados sem ação como: água, riqueza, medo, etc. • Mudanças Históricas: A Libras é uma língua e como tal é viva. Sendo assim, é possível se observar que como o decorrer do tempo, quanto mais se estuda e se identifica a Libras, quanto mais ela é difundida, mas ela se renova e vai tirando de si as influências gramaticais da língua portuguesa. Um exemplo disso são alguns sinais que eram representados ou iniciados com a primeira letra do alfabeto da língua portuguesa e que estão ganhando outros sinais de composição unicamente em Libras, sem fazer uso destes empréstimos. https://rodrigopimentalibras.webnode.com/aprenda-lingua-de-sinais/ 20 Língua Brasileira de Sinais - LIBRAS Universidade Santa Cecília - Educação a Distância Os surdos querem aprender na língua de sinais, ou seja, a língua de sinais é a privilegiada como língua de instrução. O significado disso vai além da questão puramente linguística. Situa-se, sim, no campo político. Os surdos estão se afirmando como grupo social com base nas relações de diferença. Como diferentes daqueles que se consideram iguais, ou seja, os ouvintes, os surdos buscam estratégias de resistência e de autoafirmação. São eles que sabem sobre a língua de sinais, são eles que sabem ensinar os surdos, são eles que são visuoespaciais.(QUADROS, 2012, p.32). 3.3. SINAIS DE LIBRAS: → ALFABETO MANUAL: Fonte: https://culturasurda.net/2017/04/27/fonte-libras-2016 21 Língua Brasileira de Sinais - LIBRAS Universidade Santa Cecília - Educação a Distância → DIAS DA SEMANA Fonte: http://www.ces.org.br/site/vamos-aprender-libras.aspx → NÚMEROS EM LIBRAS: Fonte: http://librasnamatematica.blogspot.com/2015/05/ 22 Língua Brasileira de Sinais - LIBRAS Universidade Santa Cecília - Educação a Distância FONTE: https://rodrigopimentalibras.webnode.com/aprenda-lingua-de-sinais/ ANDRADE, Camila Neto Fernandes. Bebês e crianças surdas nos espaços educativos. Dissertação (Mestrado em Educação) – Universidade Federal de São Paulo, Escola de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Guarulhos, 2020. DAMAZIO, Mirlene Ferreira Macedo; ALVES, Carla Barbosa. Atendimento Educacional Especializado do aluno com surdez. 1.ed. São Paulo: Moderna, 2010. LACERDA, Cristina Broglia Feitosa de. Intérprete de Libras: em atuação na educação infantil e no ensino fundamental. 9ª ed. Porto Alegre: Mediação, 2019. SANTOMAURO, Beatriz. Qual a diferença entre língua e linguagem?. Nova Escola, 2018. Disponível em:< https://novaescola.org.br/conteudo/257/qual- a-diferenca-entre-lingua-e-linguagem> Acesso em: 12/12/2020. VIGOTSKI, Lev Semyonovich. A construção do pensamento e da linguagem. São Paulo: Martins Fontes, 2018. LACERDA, Cristina BF de. Um pouco da história das diferentes abordagens na educação dos surdos. Cafajeste. CEDES , Campinas, v. 19, n. 46, p. 68-80, setembro de 1998 https://rodrigopimentalibras.webnode.com/aprenda-lingua-de-sinais/ 23 Língua Brasileira de Sinais - LIBRAS Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 4. O SURDO E SUA CULTURA Objetivo: Nessa aula buscaremos compreender o que é cultura surda e poque motivo para os surdos a Libras é considera sua língua materna e o bilinguismo apresenta-se como o melhor método de ensino. Introdução: Traremos aqui uma reflexão sobre a cultura surda, que engloba possibilidades e elementos próprios da vida dos sujeitos que se reconhecem como surdos, abrangendo não apenas aspectos mais corriqueiros da vida de cada um, mas também o grupo social que constituem. Partimos da premissa que a privação do sentido da audição não inviabiliza a interação linguística, a participação social ou a produção cultural das pessoas surdas. Abre possibilidades alternativas para a sua atuação nessas áreas. Ao nos aproximarmos mais da realidade surda, pela vivência e pelo estudo, descobrimos que ela comporta um rico, complexo e instigante conjunto de elementos culturais caracterizados pelas formas alternativas de produção e interação dessas pessoas, alimentados e enriquecidos nas comunidades surdas e, infelizmente, ainda pouco conhecidos entre os ouvintes. (PERLIN e STROBEL, 2014) 4.1 Deficiência Auditiva e surdez: qual a diferença? Pela perspectiva clínica, o que difere surdez de deficiência auditiva é a profundidade da perda auditiva. Como podemos observar no quadro a seguir: 24 Língua Brasileira de Sinais - LIBRAS Universidade Santa Cecília - Educação a Distância As pessoas que têm perda severa ou profunda, e não escutam nada, são surdas. Já as que sofreram uma perda leve ou moderada, e têm parte da audição, são consideradas deficientes auditivas. Toda via, considerar apenas a perspectiva clínica não é suficiente, já que a diferença na nomenclatura também tem um componente cultural importante: a Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS). A Libras é uma língua reconhecida por lei no Brasil e possui estrutura e gramática próprias. Por ser uma língua visuoespacial, ela é um muito mais fácil de ser aprendida pelos surdos e por isso é o primeiro idioma da comunidade surda no país. E é aí que entra o aspecto cultural na diferenciação entre surdos e deficientes auditivos. As pessoas que fazem parte da comunidade se identificam como surdas, enquanto as que não pertencem a ela são chamadas de deficientes auditivas. Nesse sentido, a profundidade da perda auditiva passa a não ter importância, já que a identidade surda é o que define a questão. Para os surdos, a surdez não é uma deficiência – é uma outra forma de experimentar o mundo. O surdo é privado da audição e se comunica tendo como base outra língua. 4.2 Cultura surda: o que é e qual a sua importância. As autoras PERLIN e STROBEL (2014) trazem uma importante reflexão sobre história cultura e a cultura surda. Segundo elas e no contato com a história cultural notamos a importância da participação dos povos surdos para sua construção. A cultura surda é o conjunto de características que tornam uma pessoa parte da comunidade surda ou do povo surdo, permitida principalmente pelo uso da língua de sinais. 25 Língua Brasileira de Sinais - LIBRAS Universidade Santa Cecília - Educação a Distância Pudemos ver nas duas primeiras aulas que durante muito tempo o surdo foi muito marginalizado socialmente e por isso acabou sendo prejudicado em diversos contextos sociais, mas principalmente no que tange o seu processo educativo. Com o passar do tempo houve um crescimento da comunidade surda que foi se fortalecendo e exigindo mudanças necessárias na sociedade, que antes estabelecia que o surdo simplesmente se adaptasse a cultura ouvinte. Para compreender o que é a cultura surda é necessário entender que existe uma variedade e amplitude das sociedades humanas. Ao considerar essa diversidade é necessário ter um olhar não hierarquizado, ou seja, não buscar classificar qual sociedade tem uma cultura melhor, isso não existe. Olhamos para a diversidade cultural com riqueza de variedades, na qual todas tem sua importância e merece respeito. Significa que existem culturas diferentes e não melhores ou piores, não devemos ter esse olhar comparativo. O que faz parte da cultura surda trata-se de algumas generalizações. Geralmente são considerados como elementos componentes da cultura surda: uso da Libras; sensibilidade visual e às vibrações; visão aguçada; e uso de tecnologias como campainha de luz. Sabemos que os surdos tiveram um passado imerso na obrigação de serem ouvintes e, emfunção disto, aceitar que os outros fizessem a sua história, os dominassem. Hoje os surdos defendem em suas reivindicações e lutas: a busca por educação bilíngue, por políticas para a língua de sinais no Brasil, pela abertura das portas das universidades, por posições de igualdade, por ter intérpretes de língua de sinais e por serem válidos os nossos direitos. Cultura surda é o jeito de o sujeito surdo entender o mundo e de modificá-lo a fim de torná-lo acessível e habitável, ajustando-o com as suas percepções visuais, que contribuem para a definição das identidades surdas e das “almas” das comunidades surdas. Isto significa que abrange a língua, as ideias, as crenças, os costumes e os hábitos do povo surdo. (STROBEL, K, 2008, p.22) 26 Língua Brasileira de Sinais - LIBRAS Universidade Santa Cecília - Educação a Distância Para o sujeito surdo ter acesso a informações e conhecimentos e para estabelecer sua identidade é essencial criar uma ligação com o povo surdo o qual usa a sua língua em comum: a língua de sinais. É importante destacar que na comunidade surda não há “perda auditiva”, mas sim um “ganho surdo”. Perlin (2016) destaca que, ao se falar sobre a formação da identidade surda, é importante distanciar se da concepção de corpo danificado para se fazer uma leitura fiel do que é alteridade cultural, a fim de se chegar ao conceito de identidade surda. A autora afirma que, para que o sujeito surdo alcance a sua identidade surda, é essencial que haja o contato próximo entre os surdos e, junto a isso, que ele passe a ter acesso à cultura surda. A estudiosa relata ainda que o surdo pertence a um universo de experiências visuais e não auditivas, diferente dos ouvintes e, desse modo, para ela, a cultura surda não se mistura à cultura ouvinte. 4.3 Nada sobre nós sem nós O lema “Nada sobre nós sem nós” teve origem no início do século XX nos Estados Unidos e depois se espalhou pelo mundo inteiro para representar o movimento das pessoas com deficiência e também de outras minorias sociais. O lema comunica a ideia de que nenhuma política deveria ser decidida por nenhum representante sem a plena e direta participação dos membros do grupo atingido por essa política. Sendo assim, os surdos devem ser protagonistas da própria história e devem ser considerados para se pensar todas as ações, leis e políticas públicas que lhes dizem respeito. São eles que devem levantar as bandeiras de suas reivindicações, lutar por seus direitos e contra o preconceito, evitando interesses alheios à sua causa. Eles não estão renunciando ao apoio de simpatizantes da sua causa, mas a última palavra tem que ser do surdo. É o surdo que sabe dizer qual é a melhor forma de superar as barreiras que dificultam sua efetiva participação na sociedade. Percebemos o movimento surdo constituindo-se amparado no lema: “Nada de nós, enunciado este que vem atravessando os discursos das comunidades surdas. Conforme Klein: 27 Língua Brasileira de Sinais - LIBRAS Universidade Santa Cecília - Educação a Distância As comunidades surdas [...] se constituem através de um comprometimento com a língua de sinais, com a cultura surda e suas estratégias de compreender e se relacionar com os outros indivíduos surdos e com o mundo. Há um desejo defensivo na experiência da comunidade, onde o uso do “nós” é uma tática eficiente e desejada de defesa e de construção de identidades e de culturas. (KLEIN, 2006, p.139). A cultura surda vem se constituindo como uma bandeira de luta dos movimentos surdos que reivindicam o seu reconhecimento, como também espaço para dizer o que é melhor para eles. Para os surdos o movimento e a luta se fazem indispensáveis para a manutenção da comunidade surda: Nós precisamos deste movimento, pois é através deste que explicitamos nossas lutas, é como se fosse uma agitação social, no sentido de estarmos com nossos corpos em movimento e também nossas mãos, para que estejamos cada vez melhor constituídos enquanto comunidade” (CALDAS, 2012, p.144). Cabe aqui destacar que considerando a trajetória de luta da comunidade surda, o lema “nada sobre nós sem nós” defender a educação bilíngue se faz necessário, uma vez que a comunidade e cultural surda, reconhecem e defendem o bilinguismo. 4.4. Sinais De Libras: Fonte: https://rodrigopimentalibras.webnode.com/aprenda-lingua-de-sinais/ https://rodrigopimentalibras.webnode.com/aprenda-lingua-de-sinais/ 28 Língua Brasileira de Sinais - LIBRAS Universidade Santa Cecília - Educação a Distância O desafio é construir uma nova história cultural, registrando as lutas pela identidade surda, pela construção da identidade cultural, pelo reconhecimento da língua de sinais, pela emancipação dos sujeitos surdos de todas as formas de opressão e seu livre e espontâneo desenvolvimento. (PERLIN e STROBEL, 2014) BRASIL. Lei nº 10.436, de 24 de abril de 2002. Dispõe sobre a Língua Brasileira de Sinais – Libras e dá outras providências. Diário Oficial da República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 25 abr. 2002. CALDAS, Ana Luiza Paganelli. Identidades Surdas: o identificar do surdo na sociedade. In: PERLIN, Gládis; STUMPF, Marianne. (orgs.). In: Um olhar sobre nós surdos: leituras contemporâneas. Curitiba-PR: CRV, 2012, p. 139-148 KLEIN, Madalena. Diversidade e Igualdade de oportunidades: estratégia de normalização nos movimentos sociais surdos. In: LOPES, Maura; THOMA, Adriana (orgs.). A invenção da surdez II: espaços e tempos de aprendizagem na educação de surdos. Santa Cruz do Sul: EDUNISC, 2006, p. 125-142 PERLIN, G.; STROBEL, K. História cultural dos surdos: desafio contemporâneo. Educar em Revista, Curitiba, Brasil, Edição Especial, Editora UFPR n. 2/2014, p. 17-31. PERLIN, Gladis T. T. Identidades Surdas. In: SKLIAR, Carlos (org.). A Surdez. Porto Alegre: Mediação, 2016. SASSAKI, Romeu Kazumi. Nada sobre nós, sem nós: Da integração à inclusão – Parte 2. Revista Nacional de Reabilitação, ano X, n. 58, set./out. 2007, p.20- 30 STROBEL, K. As imagens do outro sobre a cultura surda. Florianópolis: Editora da UFSC, 2008; 29 Língua Brasileira de Sinais - LIBRAS Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 5. LIBRAS SUAS CARACTERÍSTICAS E PARÂMETROS Objetivo: Conhecer sobre as características da Língua Brasileira de Sinais e os seus cinco parâmetros. Introdução: Já vimos nos textos anteriores qual a diferença entre língua e linguagem, sobre a cultura surda e como é o processo de aquisição de uma língua para o surdo, além das diferenças entre um indivíduo surdo e uma pessoa com déficit auditivo. Todos estes textos serviram de base para uma compreensão, embora generalizada, das informações relacionadas a língua de sinais. Muito foi falado em relação a importância de a Libras ser vista como uma língua de estrutura própria, mas o que exatamente seria isso? A Libras tem sua origem na língua de sinais francesa, por isso temos sinais no nosso vocabulário que se assemelham a língua de sinais francesa, assim como uma estrutura gramatical muito próxima. Lembrando que qualquer língua de sinais não é universal, cada país tem a sua própria língua de sinais e recebe influências da sua cultura nacional. A Libras apresenta um forte regionalismo demostrado em alguns sinais, que dentre outras causas tem a questão da grande extensão geográfica e multiculturalidade do Brasil. No entanto, por estarmos baseados em uma estrutura gramatical, todos os sinais são formados a partir da combinação de várias características, estas características são conhecidas como parâmetros. 5.1 Características da LIBRAS Para se falar em Parâmetros da Libras é preciso antes de tudo se pensar nas suas características. Vamos começar falando da Morfologia e Sintaxeda Libras. Vale reforçar que a Libras é um sistema visuoespacial, faz uso da visão, do espaço e das mãos, diferenciando-se de gestos aleatórios. A Libras, como outra língua, tem um vocabulário (léxico), com influências de outras línguas e da língua portuguesa. Temos alguns mitos que são necessários esclarecer sobre a Língua Brasileira de Sinais, são eles: 30 Língua Brasileira de Sinais - LIBRAS Universidade Santa Cecília - Educação a Distância • Preciso gritar com o aluno surdo→ não adianta gritar, o ideal é se comunicar em libras, mas caso não tenha o domínio da Libras tente falar pausadamente e com calma permitindo que o aluno faça a leitura labial de alguma coisa. Gritar não faz o menor sentido. • Se não sei Libras, não posso usar gestos na comunicação → o ideal é tentar aprender a Libras, mas pode sim usar gestos, falar pausadamente e tentar se comunicar com esse aluno, mas cabe destacar que comunicação por gesto NÃO substitui em situação nenhuma a LIBRAS como língua natural dos surdos. • A pessoa surda não é capaz de oralizar – surdo mudo → o surdo não fala porque sua língua natural é a Libras (Viso espacial), mas alguns podem aprendem a ler lábios e até oralizar algumas palavras. É errado dizer que eles são mudos, o aparelho de fonológico deles não tem nenhuma questão biológica. Eles não falam porque sua língua é a LIBRAS. • A intérprete ensina a Língua de sinais → A intérprete não ensina língua de sinais, o seu papel é interpretar da Libras para o Português do Português para a Libras. • A LIBRAS é universal → não é universal, cada país tem a sua própria língua de sinais. A Língua de Sinais não é mímica, são línguas com estruturas gramaticais próprias. A prática da língua de sinais é diferente em cada país. Outra característica da Libras é o Alfabeto, também conhecido como dactologia ou Datilologia. Nada mais é do que o Alfabeto Manual da Libras, formado por letras (grafemas) do alfabeto da língua portuguesa. Acrescenta-se a datilologia o grafema /Ç/, totalizando 27 representações. O Alfabeto Datilológico é utilizado para a soletração de palavras em português tais como: nomeações de endereços e estabelecimentos que ainda não tenham um sinal próprio, a soletração de nomes próprios ou de outra palavra que ainda não se tenha ou não se conheça em Libras. 31 Língua Brasileira de Sinais - LIBRAS Universidade Santa Cecília - Educação a Distância Alfabeto Datilológico Fonte: https://www.jottplay.com.br/produto/carimbos-alfabeto-em-libras-26-pecas/101 E os parâmetros da Libras? A Libras é uma língua e possui uma estrutura gramatical que é conhecida como Parâmetros Gerais. São cinco os parâmetros gerais da Libras, que precisam ser conhecidos e considerados para a compreensão e execução dos sinais. Estes parâmetros também servem como facilitador para o aprendizado do vocabulário em Libras, pois ao compreendermos a estrutura gramatical adequada de uma língua, podemos ter uma visão mais arquitetada de sua base linguística. Além disso, vários materiais relacionados ao vocabulário em Libras, apresentam o sinal, a palavra em português e a descrição do sinal através dos parâmetros. Como mostra a imagem abaixo: Fonte: http://pt.slideshare.net/andreconeglian/libras-aspectos-linguisticos-30661546 Mas quais são e o que são esses parâmetros? São cinco os Parâmetros Básicos da Libras: http://pt.slideshare.net/andreconeglian/libras-aspectos-linguisticos-30661546 32 Língua Brasileira de Sinais - LIBRAS Universidade Santa Cecília - Educação a Distância • Configuração de Mão (s) – CM • Ponto de Articulação – PA • Movimento – M • Orientação / Direcionalidade – O/D • Expressão Facial - EF Configuração da (s) Mão (s) (CM): São formas das mãos que podem ser da datilologia (alfabeto manual) ou outras configurações. Feitas pela mão predominante (mão direita para os destros ou esquerda para os canhotos), ou pelas duas mãos. Sendo que quando há a utilização das duas mãos (dominante e não dominante) o sinal pode ser com o movimento das mãos espelhadas, em movimentos diferenciados e movimentos contrapostos. Quando nos referimos a CM, não podemos deixar de considerar as mais diversas formar de articulação da mão, do braço e a orientação da palma. Fonte: Carmozine e Noronha, 2012 Todos os sinais acima utilizam a mesma configuração de mão (CM), que no caso é a mão em “C”. No entanto há uma alteração do local em que este sinal está sendo executado. O primeiro quadro “APRENDER” é executado na testa, já no segundo quadro, na palavra “LARANJA” sua execução é na boca e em “BRANCO”, terceiro quadro a execução é feita em um ponto neutro a frente do corpo. A Configuração de mão se manteve o que foi alterado foi o Ponto de Articulação. 33 Língua Brasileira de Sinais - LIBRAS Universidade Santa Cecília - Educação a Distância Ponto de Articulação (PA): é o espaço utilizado para executar o sinal, podendo tocar alguma parte do corpo ou estar em um espaço neutro. As áreas de uso mais comum como Ponto de Articulação são a cabeça, o tronco, os braços, as mãos e o espaço neutro. Todos os sinais da Libras apresentam um ponto de contato, ou seja, um ponto de articulação. Os sinais realizados em contato ou próximo a áreas específicas do corpo, tem em sua maioria um significado semântico. Podemos melhor qualificá-los no quadro abaixo: PARTE DO CORPO (perto) SIGNIFICADO (relação com) EXEMPLOS Olhos Visão e Enxergar SONO, LER Boca Alimentação e Fala COMER, GRITAR Coração / Peito Sentimentos e Sensações AMAR, SENTIR Cabeça Raciocínio e Memória PENASAR, SABER Fonte: Carmozine e Noronha, 2012 34 Língua Brasileira de Sinais - LIBRAS Universidade Santa Cecília - Educação a Distância Movimento (M): os sinais da Libras podem ter movimento ou não. Este parâmetro é complexo porque envolve formas, direções e que também podem ter desde movimentos internos da mão, pulso, direcionais no espaço até conjunto de movimentos no mesmo sinal (Brito apud Klima e Bellugi, 1995). Na figura abaixo, a Configuração de Mão é em “Y”, o Ponto de Articulação se altera para queixo e braço. Mas a observação aqui se dá pelo fato de “DESCULPAR” ser um sinal estático e “IDADE” ser um sinal com movimento. Fonte: Carmozine e Noronha, 2012 Orientação ou Direcionalidade (O/D): utilizado em alguns casos, na maioria quando há movimento (M). A orientação ou direcionalidade nos mostra, na maioria dos casos, o sentido de tempo como indicado na tabela abaixo: TEMPO DIRECIONALIDADE Futuro próximo Sinal direcionado para frente Futuro distante Movimento amplo para frente que se afasta do sinalizador Passado Sinal sobre o ombro atingindo o espaço anterior ao corpo Passado distante Sinal amplo que se alonga atrás das costas Presente Movimento logo à frente do corpo direcionado para baixo Já os sinais relacionados a orientação, mesmo não tendo relação com tempo verbal, também apresentam uma relação com o movimento. No quadro abaixo vemos dois sinais “IR” e “VIR”. No primeiro quadro, “IR” tem a sua orientação para frente e “VIR” tem sua orientação para trás no sentido de voltar. 35 Língua Brasileira de Sinais - LIBRAS Universidade Santa Cecília - Educação a Distância Fonte: Carmozine e Noronha, 2012 Expressão Facial /Corporal (EF/C): quando aplicável serve como um componente não manual que auxilia, reforça ou entoa um sinal. Também serve para dar sentido de pontuação às frases, pedidos, ordens e outros atos da fala. Tornam claras as entonações e as expressões. Por vezes serve como a pontuação da frase, solicitações e outros atos expressivos da Libras. Este parâmetro deve ser bem observado, pois muitos sinais necessitam da Expressão Facial ou Corporal para se tornarem mais compreendidos. Fonte: Carmozine e Noronha, 2012 Pode-seobservar que os sinais apresentados acima ganham muito mais significado, principalmente quanto a sua intensidade, quando associados a Expressão Facial. É importante desacatarmos aqui que a construção do repertório de uma criança acontece através do contato social com outros sujeitos que fazem uso desse signo, estando em contato diário com a língua de sinais. O nosso repertório de língua é construído nas relações que são estabelecidas. 36 Língua Brasileira de Sinais - LIBRAS Universidade Santa Cecília - Educação a Distância E essa maneira de socioconstrução de fala acontece tanto para as crianças ouvintes quanto para as crianças surdas – desde que estas últimas estejam inseridas num ambiente em que a língua de interlocução seja a Libras, já que a criança surda possui uma língua minoritária. Para essas crianças a língua de interlocução que melhor atende às suas necessidades é de modalidade visuoespacial, já que os signos orais-auditivos não lhes são acessíveis em seu cotidiano. Para uma criança surda, não há nenhuma barreira que a impeça de adquirir uma língua e uma linguagem, uma vez que podemos utilizar de meios visuais, olfativos, entre outros, como meio de obtenção de signos em seus contextos (GOLDFELD, 2002). Uma língua não precisa necessariamente se apresentar na modalidade oral-auditiva, ela pode se dar através da modalidade viso espacial. Nota-se importância da Libras na vida das pessoas surdas, pode-se perceber que a sua utilização é um meio de garantir a preservação da identidade surda, bem como contribui para a valorização e reconhecimento da cultura surda (espaço-visual) que, por muito tempo, sofreu com a cultura oral- ouvinte dominante. CARMOZINE, M. M.; NORONHA, S. C. C. Surdez e Libras: conhecimento em suas mãos. São Paulo: Hub Editoriak, 2012. GOLDFELD, Marcia. A criança surda: linguagem e cognição numa perspectiva sócio-interacionista. 2ª ed. São Paulo: Plexus Editora, 2002. LACERDA, Cristina Broglia Feitosa de; ALBRES, Neiva de Aquino; DRAGO, Silvana Lucena dos Santos. Política para uma educação bilíngue e inclusiva a alunos surdos no município de São Paulo. Educação e Pesquisa (USP. Impresso), v. 39, p. 65, 2013. PEREIRA, M. C. C.; Choi, D. ; VIEIRA, M. I. S. ; Gaspar, P.R. ; NAKASATO, R. LIBRAS - conhecimento além dos sinais. 1. ed. São Paulo: Pearson, 2011. REGO, Teresa Cristina. Vygotsky - Uma Perspectiva Histórico-Cultural da Educação. 25.ed. Petrópolis: Vozes, 2014. 37 Língua Brasileira de Sinais - LIBRAS Universidade Santa Cecília - Educação a Distância VIGOTSKI, Lev. S. A construção do pensamento e da linguagem. (Trad. Paulo Bezerra). São Paulo: Martins Fontes, 2009 38 Língua Brasileira de Sinais - LIBRAS Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 6. EDUCAÇÃO BILÍNGUE: UMA PROPOSTA BILÍNGUE E BICULTURAL Objetivo: Refletir sobre a educação bilíngue como uma proposta bilíngue e bicultural e entender sua importância na educação dos surdos. Introdução: É importante reforçar que o bilinguismo para surdos traz a configuração da Língua de Sinais (LIBRAS) como L1 e o português na modalidade escrita como L2. A Língua de sinais é uma língua natural adquirida de forma espontânea pela pessoa surda, então as pessoas surdas têm o DIREITO de ser ensina na língua de sinais. A Educação Bilíngue para surdos, realidade assumida no Brasil como forma de reconhecimento da luta das comunidades surdas, concretizadas no Decreto Federal Nº 5626/2005, preconiza como escolas bilíngues aquelas em que a Libras e a modalidade escrita da Língua Portuguesa são línguas de instrução utilizadas no desenvolvimento de todo o processo educativo. Ao reconhecer o direito dos surdos ao bilinguismo, os sistemas de ensino abrem para esse grupo de cidadãos a possibilidade de se reconhecerem e de serem reconhecidos na sua diferença linguística e cultural. 6.1 Educação Bilíngue: definição e possíveis formatos A educação bilíngue necessita estar baseado na aceitação da cultura língua da comunidade surda e os conteúdos devem ser trabalhados na língua nativa dos alunos, ou seja, na LIBRAS e a Língua portuguesa deverá ser ensinada em momentos específicos das aulas. Os profissionais da educação que atuam em escolas bilíngues devem estar preparados para lidar com os familiares, sabendo que muito dos alunos surdos são oriundos de famílias ouvintes. Os educadores que trabalham na escola bilíngue precisam explicar que a Língua de sinais que é adequada a criança surda, que essa língua permite à criança um desenvolvimento análogo ao de crianças que ouvem, que essa criança pode ver, sentir, tocar e descobrir o mundo a sua volta sem problemas, que existem comunidades de surdos; (QUADROS, 1997) 39 Língua Brasileira de Sinais - LIBRAS Universidade Santa Cecília - Educação a Distância É muito importante explicar aos pais que não estão diante de uma tragédia, mas diante de uma forma diferente de se comunicar que envolve uma cultura e uma língua visual-espacial. (QUADROS, 1997) Quadros traz as 3 características básicas de um professor em uma escola bilíngue para surdos: • o professor deve ter habilidade para levar cada criança a identificar-se com um adulto bilíngue; • o professor deve conhecer PROFUNDAMENTE as duas línguas; • o professor deve respeitar as duas línguas – Reconhecendo ambas e saber às diferentes funções que cada língua apresenta para a criança. É muito importante que toda a comunidade escolar compreender que a língua de sinais é a língua natural dos alunos surdos!!!! A autora QUADROS (1997) cita 2 modelos de educação bilíngue: A autora defende que o segundo modelo é mais adequado já que estudos apontam que é o mais adequado para o aprendizado dos alunos surdos. Seria o que a autora chama de BILÍNGUISMO DIGLÓSSICO, no qual é importante primeiro dominar a LIBRAS (língua materna) para depois aprender a L2. Nesse tipo de bilinguismo, o surdo utiliza a LIBRAS em todos as situações, assim como a criança ouvinte utiliza a Língua Portuguesa na modalidade oral. Para os surdos, o português é ensinado de forma sistemática na modalidade escrita, desempenhando o papel de segunda língua. 1 Ensino de LIBRAS quase que concomitante à aquisição da primeira língua 2 Ensino da 2ª língua somente após a aquisição da primeira 40 Língua Brasileira de Sinais - LIBRAS Universidade Santa Cecília - Educação a Distância Falar em bilinguismo alude à afirmação das conquistas linguísticas e culturais da comunidade surda. O decreto nº5.262/05 traz a seguinte definição para educação bilíngue: São denominadas escolas ou classes de educação bilíngue aquelas em que a Libras e a modalidade escrita da Língua Portuguesa sejam línguas de instrução utilizadas no desenvolvimento de todo o processo educativo. (BRASIL, 2005, art 22, § 1º ) O mesmo decreto traz a seguinte proposta de estrutura para a educação bilíngue sugere que na Educação Infantil e no ensino Fundamental I a escola tenha professores bilíngues junto com instrutores surdos e para o ensino fundamental II, ensino médio e ensino profissionalizante tem os docentes das diferentes áreas do conhecimento, cientes da singularidade linguista dos alunos surdos e os tradutores e intérpretes de Libras para poder fazer a tradução das aulas para libras. Algumas redes de ensino optam pelo formato de Pólo bilíngue, onde todos os alunos surdos da rede são encaminhados para uma unidade escolar e nesta unidade se tem: Instrutores Surdos, Intérpretes de Libras e professores bilíngues. A organização pode mudar de uma rede para a outra mas é importante garantir que o quadro de funcionário tenha o formato sugerido (instrutores surdos, professores bilíngues e intérpretes), que se tenha o atendimento educacionalespecializado em sala de recursos no contra turno e também que aula de libras para toda a comunidade escolar e familiares dos alunos. Outras redes de ensino optam pelo formato de sala bilíngue, nela os alunos surdos ficam nas salas bilíngues com professores bilíngues, intérpretes e instrutores surdos. Em algumas aulas os alunos surdos frequentam junto com os ouvintes e os intérpretes fazem a tradução para libras do que for dito, geralmente são as aulas de educação física, informática e artes. Neste formato também se oferta o Atendimento Educacional 41 Língua Brasileira de Sinais - LIBRAS Universidade Santa Cecília - Educação a Distância Especializado no contraturno e aulas de libras para toda a comunidade escolar e familiares dos alunos. A autora Quadros (1997) relata que as formas de se pensar o bilinguismo são influenciadas por fatores de ordem ideológica e filosófica e que a opção que a escola fizer requererá muita reflexão sobre as razões, objetivos e finalidades do tipo de proposta educacional adotada. Consideramos importante ter e considerar os surdos nas tomadas de decisões. Pensar escolas bilíngues implica, portanto, compreender essa língua espaço- visual e o papel que ela exerce dentro da instituição. Por isso, apenas aceitar a língua de sinais não resolve e não caracteriza a proposta bilíngue, uma vez que é preciso aceitar tudo o que vem junto com a língua, ou seja, a cultura, a identidade, a visão de mundo e a constituição de sujeito. Mas, também, é pensar na outra língua, na língua portuguesa, e organizar as atividades, entendendo que esta é a segunda língua, devendo, pois, ser utilizada de maneira acessível ao surdo. (VIEIRA, 2012, p.167) 6.2 Libras: ESTUDAR FONTE: https://rodrigopimentalibras.webnode.com/aprenda-lingua-de-sinais/ https://rodrigopimentalibras.webnode.com/aprenda-lingua-de-sinais/ 42 Língua Brasileira de Sinais - LIBRAS Universidade Santa Cecília - Educação a Distância BRASIL. Decreto nº 5.626, de 22 de dezembro de 2005. Regulamenta a Lei nº 10.436, de 24 de abril de 2002, que dispõe sobre a Língua Brasileira de Sinais – 121 Libras, e o art. 18 da Lei nº 10.098, de 19 de dezembro de 2000. Diário Oficial da União, Brasília, 23 dez. 2005. QUADROS, Ronice Muller de. Bilinguismo In: QUADROS, Ronice M. de. Educação de Surdos: a aquisição da linguagem. Porto Alegre: Artemed, 1997. QUADROS, Ronice Müller de. O “BI” em bilinguismo na educação de surdos. In: LODI, Ana Claudia Balieiro; MÉLO, Ana Dorziat Barbosa; FERNANDES, Eulália (Orgs.). Letramento, bilinguismo e educação de surdos. Porto Alegre: Mediação, 2015. VIEIRA, Claudia Regina. Bilinguismo e Inclusão: problematizando a questão. Curitiba: APPRIS, 2014. 43 Língua Brasileira de Sinais - LIBRAS Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 7. LIBRAS COMO L1 E O SEU CONTEXTO DE AQUISIÇÃO Objetivo: Contextualizar sobre a Libras enquanto L1 e seu contexto de aquisição. Introdução: Como já vimos na aula anterior, para os alunos surdos, a aprendizagem da Língua Brasileira de Sinais – Libras como primeira língua (L1) propicia o desenvolvimento linguístico, cognitivo, psicológico e social tornando-os indivíduos constituídos integralmente, pois enquanto língua oportuniza a comunicação, a socialização, a formação de conceitos e a aprendizagem. O uso da língua de sinais possibilita capacidade de expressão dos pensamentos, de ideias e sentimentos de forma clara tanto quanto a aprendizagem de uma língua na modalidade oral, uma vez que exercer as mesmas funções que a língua falada para os usuários ouvintes (QUADROS, 1997). Traremos aqui um quadro comparativo entre a Língua Portuguesa Oral e a LIBRAS no que se refere a níveis linguístico, item lexical, canal de comunicação ou modalidade e gramática. Observe: O próximo quadro continuamos a comparação entre as duas línguas, porém observando os seguintes itens: 44 Língua Brasileira de Sinais - LIBRAS Universidade Santa Cecília - Educação a Distância É importante compreender as diferenças das duas línguas para compreender que ambas têm sua estrutura e características e que essas devem se consideradas na hora de se pensar os processos de ensino e aprendizagem dos alunos de acordo com a sua língua natural. 7.1 O processo de aquisição da língua de sinais Segundo Quadros (1997) muitas pesquisas desenvolvidas nos últimos anos sobre a aquisição da língua de sinais podem ser comparadas à aquisição das línguas orais em muitos sentidos. Sabendo que o processo de aquisição da Língua de Sinais é semelhante ao processo de aquisição da língua oral pelos ouvintes, no que se refere às fases deste processo. E acontece por meio de 4 estágios: No estágio pré linguístico que dura do nascimento até o primeiro ano de vida tanto o bebê surdo quando o ouvinte desenvolve o balbucio oral e manual. Com o tempo, o bebê surdo vai deixando o balbucio oral e o ouvinte vai abandonando o balbucio manual. O bebê ouvinte tem a capacidade linguística em oral auditiva pelos estímulos da PRÉ LINGUÍSTICO 0 a 1 ano de vida ESTÁGIO DE UM SINAL De 1 ano aos 2 anos de idade ESTÁGIO DAS PRIMEIRAS COMBINAÇÕES Início aos 2 anos de idade ESTÁGIO DAS MÚLTIPLAS COMBINAÇÕES Por volta dos 2 anos e meio 45 Língua Brasileira de Sinais - LIBRAS Universidade Santa Cecília - Educação a Distância fala das pessoas que o cerca, enquanto o bebê surdo na capacidade espaço visual pelos estímulos gestuais das pessoas que o cerca. Depois temos o estágio de um sinal iniciado por volta dos 12 meses até por volta dos 2 anos. Nesse estágio a criança surda começa a visualizar a ação de apontar inicialmente gestual (pré-linguística) agora como elemento do sistema gramatical da Língua (linguístico). É neste estágio que ela inicia as primeiras produções, na Língua de Sinais, assim como a criança ouvinte começa a pronunciar as primeiras palavras. Na sequência temos o estágio das primeiras combinações que inicia- se por volta dos 2 anos de idade e quando a criança surda começa a ordenar palavras para estabelecer relações gramaticais como: • SV (sujeito-verbo) → Comer ovo comer → Eu quero comer ovo. • VO (verbo-objeto) → Ovo ver → Eu quero ver ovo. • ou SVO (sujeito – verbo - objeto) → João comer ovo quer → Eu quero comer ovo O último estágio trazido de acordo com Quadros (1997) é o das múltiplas combinações que começa por volta dos 2 anos e 6 meses. A criança surda comete os mesmos erros gramaticais na Língua de Sinais que a criança ouvinte comete na Língua Oral, como exemplo é o caso da flexão verbal. Exemplo: “eu gosti” (língua oral) fala do ouvinte que será representada da mesma forma na Língua de Sinais. Esses 4 estágios se dão quando a criança surda tem contato com a libras desde o seu nascimento. O que acontece é que muitas crianças surdas são filhas de pais ouvintes que na maioria das vezes não ofertam a Libras para as crianças. Observe a figura abaixo e entenda e reflita sobre a importância de a criança surda ter contato com a LIBRAS desde cedo. 46 Língua Brasileira de Sinais - LIBRAS Universidade Santa Cecília - Educação a Distância O processo de aquisição da língua de sinais deve ocorrer de forma natural como acontece com as crianças ouvintes na aquisição da língua oral, pela interação com o meio social. Geralmente as crianças surdas, filhos de pais ouvintes não adquirem a L1 (Língua de Sinais) espontaneamente, pois os pais se dirigirem ao filho (a) surdo por gestos para suprir a necessidade da criança surda e/ou interagem por meio da língua oral. Fizemos um organograma para exemplificar o processo de aquisição tardia da Libras: Quando a criança surda tem acesso a apenas a língua orale a gesticulação de sinais caseiros isso leva a um processo de aquisição tardia da L1. Considerando essas questões muitas crianças passam pelo processo de aquisição tardia, que se aplica àqueles que não adquiriram a língua de sinais no período comum de aquisição da linguagem. Segundo Chomsky (1981) mesmo assim, a criança é capaz de, a partir de estímulos, atingir uma língua com todas as possibilidades que apresenta. As próprias crianças desenvolvem um sistema gestual individual enquanto sistema de comunicação conhecido como “sinais caseiros” para utilizar com sua família. O que Língua oral Gesticulação - Sinais caseiros Aquisição tardia da L1 Fonte: http://aeeufc-2013.blogspot.com/2014/03/oralismiocomunicacao-total-e-bilinguismo.html 47 Língua Brasileira de Sinais - LIBRAS Universidade Santa Cecília - Educação a Distância restringe a comunicação e a dificulta entre os pares surdos. Os sinais caseiros são um sistema linguístico incompleto – propriedades essenciais das línguas humanas. Nos casos mais extremos de privação linguística e privação social envolvem comprometimentos não apenas linguísticos, mas cognitivos e neste sentido a Escola Bilíngue pode e deve ser um espaço para que os surdos possam desenvolver sua língua natural, no caso a Libras. 7.2 Libras e a escola bilíngue: A língua de sinais ocupa o espaço de primeira língua (L1), visto que se configura como a língua mais acessível aos surdos, pois seu processo de aquisição acontece sem impedimentos fisiológicos e sua apropriação também contribui para o desenvolvimento cognitivo das crianças surdas. É fundamental que as crianças surdas tenham acesso à LIBRAS durante o período escolar, pois as oportunidades de acesso à LIBRAS são, infelizmente, escassas. Por isso também é importante que as escolas bilíngues tenham instrutores surdos para que os alunos tenham contato com a cultural e comunidade surda. As crianças surdas filhos de pais ouvintes, por vezes, podem ter acesso a Libras e a cultura surda na escola bilíngue. Para fechar essa reflexão trazemos a seguinte citação: “Senti-me consternado ao descobrir quantos surdos nunca adquire as faculdades da linguagem – ou pensamento- e como uma vida medíocre pode lhes estar reservada.” (SACKS, 1989, p.10) Para o surdo o não acesso a língua de sinais pode ser extremamente excludente e ruim para o seu desenvolvimento, por isso é muito importante que a Libras seja ofertada para a criança surda em todos os seus contextos sociais: 48 Língua Brasileira de Sinais - LIBRAS Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 7.2 Libras: DESCULPA FONTE: https://rodrigopimentalibras.webnode.com/aprenda-lingua-de-sinais/ Sendo assim, oportunizar aquisição da LIBRAS, oferecer modelos bilíngues e bicultural à criança e oportunizar a aproximação da cultura especifica da comunidade surda. CAPOVILLA, F. C; RAPHAEL, W. D. Dicionário enciclopédico ilustrado trilíngue da língua de sinais brasileira. 2ª ed., SP: EDUSP; Imprensa Oficial do Estado, 2001. GIUSEPPE, Rinaldi et al, Deficiência Auditiva. Brasília: SEESP, 1997 QUADROS, Ronice Muller de. Bilinguismo In: QUADROS, Ronice M. de. Educação de Surdos: a aquisição da linguagem. Porto Alegre: Artemed, 1997. QUADROS, Ronice Mulller de; PIZZIO, Aline Lemos. Aquisição da Língua de Sinais. Florianópolis, 2011 https://rodrigopimentalibras.webnode.com/aprenda-lingua-de-sinais/ 49 Língua Brasileira de Sinais - LIBRAS Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 8. O ENSINO DA LÍNGUA PORTUGUESA NA MODALIDADE ESCRITA COMO L2 E O CONTEXTO DE AQUISIÇÃO Objetivo: O objetivo desta aula é, brevemente, falar sobre a escola bilíngue e o ensino de português na modalidade escrita como L2. Introdução: Para um aprendizado satisfatório da Língua Portuguesa escrita, faz-se necessário que a metodologia usada pelos professores seja diferenciada no sentido de metodologia própria de segunda língua, uma vez que existem diferenças expressivas entre a Língua Portuguesa a Libras, já que a primeira é oral-auditiva e a segunda é espaço-visual. (QUADROS e SCHMIEDT, 2006) De acordo com Quadros (1997) nem todas as crianças chegam à escola com uma língua bem estruturada. Além disso, nem todas as crianças surdas chegam à escola sabendo a língua de sinais, pois apenas 5% das crianças surdas são filhos de pais surdos os quais inserem os filhos dentro de contextos em que a Libras é usada cotidianamente. Mas os outros 95% de crianças surdas são filhos de ouvintes que muitas vezes não expõem os filhos em contato com a Libras. Nesse sentido, é fundamental o contato da criança surda com os adultos surdos nas escolas bilíngues para que haja um input linguístico favorável para uma imersão e contato natural com a Libras e, consequentemente, um maior desenvolvimento na Língua Portuguesa escrita. 8.1 Língua Portuguesa como L2 na escola bilíngue Segundo Quadros (1997) a aquisição da LIBRAS como L1 precisa ser assegurada para realizar um trabalho sistemático com a L2. A necessidade formal do ensino da língua portuguesa evidência que essa língua é, por excelência, uma segunda língua para a pessoa surda. O ensino da Língua Portuguesa, preferencialmente na modalidade escrita, como segunda língua, justifica-se por ser aquela que circula no país e está presente em todas as esferas sociais, tornando-se necessária para que os surdos, entre outros aspectos 50 Língua Brasileira de Sinais - LIBRAS Universidade Santa Cecília - Educação a Distância tenham acesso aos conhecimentos historicamente construídos pela humanidade que se encontram preservados por meio da escrita. (CARVALHO et. al, 2019). Sendo assim, a educação bilíngue para surdos se caracteriza, na atualidade, como a filosofia educacional mais adequada, pois respeita a condição da pessoa surda e sua experiência visual como constituidora de cultura singular, sem, contudo, desconsiderar a necessária aprendizagem escolar do português. A LP ocupa o espaço de segunda língua, tendo em vista que é geralmente adquirida após a língua de sinais, por meio de um processo sistemático vivenciado em instituições de ensino. É importante destacar que a aprendizagem dessa língua (LP) ocorre em sua modalidade escrita. Diante disso, as pesquisas científicas se dedicam a esclarecer os aspectos envolvidos no processo de ensino e aprendizagem de LP escrita para surdos e, dessa forma, contribuir para diminuir as barreiras linguísticas existentes. Quadros (1997) traz 3 formas basicamente de aquisição da L2: ➢ A-) A aquisição simultânea da L1 e da L2 → Filhos de país que usam uma língua diferente da comunidade onde vivem, ouvintes filhos de surdos; ➢ B-) A aquisição espontânea da L2 não simultânea → Passa a morar em outro país onde a língua usada é outra; ➢ C-) A aprendizagem da L2 de forma sistemática → escolas de língua estrangeira; A aquisição da L2 ocorre em um ambiente artificial e de forma sistemática, observando metodologias de ensino. Considerando a aquisição da L2 por crianças surdas, as duas primeiras formas parecem não se possível de serem aplicadas. A e B não se aplica. A criança surda vive em uma comunidade que usa outra língua, porém ela não ouve a língua usada. 51 Língua Brasileira de Sinais - LIBRAS Universidade Santa Cecília - Educação a Distância Os surdos poderiam se enquadrar nas formas A e B, mas envolvendo outra língua de sinais. Ex: um surdo que domina a LIBRAS vai morar nos EUA e começa a aprender a Língua de sinais por lá. A opção C -> retrata a aquisição da L2 pelos surdos da Língua Portuguesa modalidade escrita. Cabe a escola bilíngue promover a aprendizagem sistematizada da Língua Portuguesa na modalidade escrita;
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