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Produzido por Ana Gabriela Vasconcelos Cavalcante Licencianda em História pela UFRPE Síntese da obra: História Antiga, capítulo: Navegações Autor: Norberto Guarinello Na construção de sua narrativa, Guarinello busca explicitar de que maneira o século XII representou um ponto de virada na História do Mediterrâneo, pontuando desde o início que embora não se tenha um consenso historiográfico sobre as causas, sabe-se claramente que nessa conjuntura as organizações sociais e econômicas foram fortemente impactadas. É interessante quando o autor pontua que a ausência de documentação histórica não significa a ausência de rupturas históricas referentes ao espaço tempo delimitado, a sua colocação está relacionada à noção de uma ‘idade das trevas’ na antiguidade mediterrânica correspondente ao período de desaparecimento dos palácios micênicos e de seu sistema de escrita, bem como a diminuição da cultura material encontrada nos sítios arqueológicos referentes a esta temporalidade, principalmente relacionada a península da Grécia. E ainda assim, apesar do respectivo desaparecimento, permaneceu alguns elementos dos tempos palacianos, como a preservação de uma memória oral, o domínio da arte da guerra, determinadas técnicas artesanais e conhecimentos de produção agrícola. -Reconexões A partir do século X a.c passou a ocorrer o que se consolidou como uma verdadeira revolução tecnológica, denominada como Idade do Ferro. A descoberta e desenvolvimento de técnicas de domínio do ferro causaram grandes mudanças sociais, pois, apesar de ser mais difícil de ser fundido pela necessidade de altas temperaturas, porém, tal elemento era encontrado com maior abundância na natureza e tinha muito mais qualidade nas formas de uso, inicialmente sendo utilizado na produção de armas e posteriormente se popularizando até na produção de objetos utilitários para o cotidiano. E de acordo com as escavações arqueológicas, a produção de artesanatos de ferro se deu a princípio na Síria e Palestina, por volta do século XI a.c. Segundo Guarinello, o desenvolvimento da escrita alfabética e das tecnologias náuticas foi fundamental para que desenvolvessem os processos de comunicação entre as regiões mediterrânicas, o que ele considera como processos de integração, pois, não havia apenas transações comerciais, mas também trocas culturais, tecnológicas e até mesmo uma mistura de populações, o que indica que as fronteiras dessas comunidades não eram completamente fechadas. .-Causalidades? De acordo com o autor, os movimentos de trocas através do mar, permitiram o contato entre diferentes comunidades locais, inclusive pensando na perspectiva dos navegadores gregos. É interessante pensar tal contexto, inclusive, pois evidencia que a dita identidade grega, não era homogênea, mas formava-se a partir da influencia de distintas sociedades e culturas. Nesse sentido, foi encontrado em um sítio arqueológico na ilha de Ichia na Itália um assentamento humano datado de 750 a.c, com vestígios que demonstram que aquela região era ocupada por povos diversos, entre eles fenícios, sírios, gregos, sendo esta região configurada como um centro multicultural e não uma região conquistada por algum desses povos. Além disso, por volta do século VII acontece um movimento denominado como “orientalizante” já que se percebeu uma difusão pelo mediterrâneo de influências artísticas, artesanais e técnicas do Oriente correspondentes a esse período. -Recepções A abertura para o mar promoveu uma considerável circulação de riquezas, que, em muitos lugares foi apropriada em certa parte por uma elite guerreira que muito provavelmente acabou dominando populações camponesas do entorno. E nesse sentido, alguns achados arqueológicos relativos a funerais, apontam para a existência de distinções sociais e de um elite que aparentavam não existir em sociedades anteriores entendidas como igualitárias. Guarinello destaca que possivelmente essas sociedades anteriores também não eram de todo igualitárias, mas a ausência de certos vestígios materiais que evidenciam tais diferenciações acaba nos fazendo crer que eram. Esses intercâmbios entre as comunidades faziam difundir pelo mediterrâneo uma diversidade cultural, tecnológica, de mentalidade e de crenças. -Colonizações A partir do século VIII ac, iniciam-se os movimentos de colonização, que tinham não apenas o comércio como objetivo, mas também a transferência definitiva da população. Os historiadores divergem em muito sobre as possíveis causas das colonizações, dividindo-se entre fatores relacionados ao aumento populacional, à conflitos políticos entre a aristocracia e ainda conflitos sociais entre os aristocratas ricos e os camponeses cada vez mais pobres. Penso que poderia haver uma coexistência entre esses fatores. De acordo com Guarinello, muitos assentamentos aconteceram de forma pacífica Porém, outros se impuseram pela conquista, subjugando os povos originários daquelas regiões e dominando-as. Ele ainda aborda a dificuldade de se imaginar como aconteciam as transações comerciais, já que não havia um sistema de valores que fosse comum a todos, nem tampouco uma moeda. -Rituais e Crenças Quanto ao aspecto religioso, Guarinello afirma que as diversas religiosidades serviram para as comunidades que se comunicavam como forma de: “estabelecer redes de confiança, firmar suas identidades e dar sentido às suas relações”. Pois, ao que parecem essas diferenças provocaram mais aproximação do que distanciamento. Inclusive, nesses santuários religiosos expostos às diferenças culturais que foi se formando uma identidade grega que se distinguia de uma bárbara, relativa aos povos que não tinham o grego como idioma. -Diversidade Nesse período relativo às navegações, podemos perceber a diversidade dos povos que se aproximavam através do mar, bem como as consequentes trocas culturais que ocorriam. E essa percepção é muito importante, pois permite-nos desmistificar a ideia de uma cultura grega homogênea, isso se dá também pela descoberta do Oriente e mesmo do movimento ‘orientalizante’, bem como pela valorização das culturas ‘nativas’. Nesse período das navegações houve também o estabelecimento de rotas marítimas e terrestres preferenciais. Assim como se fortaleceram os contatos e as identidades regionais em torno do mediterrâneo. -Periferias do Recorte Todo recorte histórico é arbitrário, então fazer uma delimitação espacial envolve, ainda que involuntariamente, a definição de centros e periferias históricas. No caso da história do mediterrâneo antigo não é diferente, pois quando centramos a nossa narrativa nessa religião acabamos direcionando nosso olhar com mais desatenção e até mesmo preconceitos a outras regiões. Referência Bibliográfica principal: GUARINELLO, Norberto Luiz. História Antiga. São Paulo: Contexto, 2013.
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