Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Produzido por Ana Gabriela Vasconcelos Cavalcante Licencianda em História pela UFRPE Resumo da obra História da civilização, vol. III: César e Cristo. caps. 28 a 30 Autor: Will Durant A obra intitulada História da Civilização, em seu III volume 'César e Cristo', o Will Durant tece uma abordagem histórica de como o cristianismo foi se formando, se consolidando e se expandindo na sociedade, nos apresentando as perseguições e represálias que a religião enfrentou até sua institucionalização no Estado de Roma, e seus possíveis impactos no declínio do Império romano do Ocidente. Em princípio no fragmento intitulado ‘O Crescimento da Igreja’ é tecido um panorama a respeito das configurações da Igreja Cristã Primitiva e são destrinchados os aspectos de seu desenvolvimento e propagação da fé entre as populações. É interessante pensar como que os primeiros convertidos à cristandade eram comumente os escravos, os proletários, as mulheres, ou seja, pessoas que eram socialmente marginalizadas que encontravam nas mensagens de fé uma espécie de conforto e até mesmo de disciplina, tal fator mostrou-se crucial para que a religião ganhasse cada vez mais adeptos, o que aponta para a noção da psicologia das necessidades sociais, como bem pontua Durant. Nesse sentido, com o crescente número de fiéis e com os centros de propagação do cristianismo fragmentados, fragmentavam-se também as doutrinas e os credos, gerando inevitáveis conflitos entre as Igrejas. Mediante tal contexto é válido observar que a definição de uma conduta moral a ser atingida já se fazia presente nas doutrinas, apesar da religião não ter sido a essa altura ainda institucionalizada. Além disso, como já fora pontuado, a maneira como os cenários são remontados detalhadamente ao longo da narrativa possibilita-nos visualizar como que as construções ritualísticas do cristianismo iam ressignificando e incorporando elementos de outras religiosidades, as quais consideravam pagãs. Segundo o autor, a crescente expansão da cristianização tornou-se uma representante ameaça à estrutura política do Estado Romano. Pois, cada vez mais os bárbaros se cristianizaram e o Império não estava ainda articulado para se defender de possíveis invasões. Ainda, somada a tal contexto, considerando que para os romanos a civilização baseava-se no Estado, a negativa de muitos cristãos a reverenciar o Imperador e seus consequentes desapegos a materialidade eram tidos não apenas como postura simbólica, mas como fuga dos direitos civis, já que negavam-se por exemplo ao alistamento nos serviços militares, o que implicou nas persistentes perseguições e tortura aos cristãos, intensificadas no governo de Nero, antes do qual a relação entre Igreja e Estado era mediada por relativa tolerância. Porém, como resposta a ações intolerantes a guerra entre estes dois segmentos acabou se instaurando. E, como forma de enfrentamento às perseguições, a igreja viu-se necessitada de unificação e centralização da autoridade, que pelo próprio histórico da religiosidade, acabou ficando centralizada em Roma. Diante de tal explanação, o autor dialoga sobre como a política e a economia romana encontrava-se internamente enfraquecida, pelas cobranças abusivas de impostos, pelo avanço das populações dos godos e por sucessivas derrotas em guerras. E tal fragilização implicava num impacto mútuo em tais setores sociais. Em vista das sucessivas invasões e revoluções nas cidades, os latifundiários passaram a viver cada vez mais em suas vilas, fortificando-as e chamou-se bastante atenção como tais fissuras na organização da vida social foram sendo refletidas na urbanização, caracterizando assim o que posteriormente viria a ser o medievo. Ainda nessa questão, gostaria de ponderar se é problematizável a ideia apresentada pelo Will Durant ao falar que “o império começou com urbanização e civilização e terminou com ruralização e barbarismo”? Uma vez que a forma com que se refere à conjuntura medieval dá o sentido de declínio e regressão. Ademais, o autor pontua que após incansáveis perseguições aos cristãos, possivelmente por interesses políticos já que parte considerável da população se cristianizou, o governador Constantino converte-se ao cristianismo, proclamando-o religião oficial do Estado, cessando assim apoio às demais religiões politeístas. É interessante considerar como o autor dialoga sobre o fim do império romano, explanando os múltiplos fatores de ordem populacional, política e militar, que podem neste último ponto ter influência direta com a adesão governamental ao cristianismo. Por fim, a leitura da obra de Will Durant me foi muito enriquecedora e a maneira como ele conduz sua narrativa, de forma leve e repleta de detalhes, apesar da densidade do contexto histórico abordado em muito me recordou o livro ‘O Dia dos Bárbaros- 9 de agosto de 378’ do Alessandro Barbero obra muito instigante e interessante, por sinal, da qual gostaria de destacar um fragmento: “Como sempre, quando se observa de perto, os limites tornam-se menos nítidos, as rupturas parecem menos drásticas, descobre-se sempre que as grandes mudanças, na realidade, começaram antes, e que o passado, por sua vez, foi transcorrendo aos poucos” (Barbero, P.198). Relacionando a colocação, muito feliz, do historiador com a narrativa tecida pelo Will Durant é notável como, de fato, analisando os contextos históricos percebemos que as grandes rupturas, na verdade, vão acontecendo de forma processual. Pois, a ascensão do cristianismo e a cristianização de Roma se desenrolaram não de forma abrupta, mas em conjunturas que se configuraram paulatinamente e de forma relacionada Referência Bibliográfica principal: DURANT, Will. História da civilização, vol. III: César e Cristo. Rio de Janeiro: Record, s/d, caps. 28 a 30, pp. 467-520.
Compartilhar