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Morfologia Contextualizada 1ª edição 2017 Morfologia Contextualizada 3 Palavras do professor Você, a partir de agora, estudante, estudará a disciplina Morfologia Con- textualizada, que abrange aspectos históricos da nossa língua portu- guesa, de onde ela se originou e suas influências, assim como a sua natu- reza e estruturação, até tratar do processo de formação e classificação das palavras. E esse conhecimento acerca das unidades mínimas das palavras, deno- minadas de morfemas, bem como o modo de uma palavra formar outra, sendo a nova palavra chamada de derivada. Ainda, ampliará as suas pos- sibilidades de enriquecer o seu vocabulário, dar novos sentidos para as palavras e ensinar, conforme o que aprendeu através deste material. Portanto, caso você lecionar a disciplina de língua portuguesa, é essencial saber como tudo começou, em termos de linguagem, além de analisar cada palavra de forma isolada, servindo, assim, de embasamento nas par- tes seguintes que compõem os estudos gramaticais. Desde já, desejo sorte em sua trajetória e um ótimo aproveitamento. 1 4 Unidade 1 Conhecendo a Língua Portuguesa Para iniciar seus estudos Somos todos usuários das palavras, pois, através delas, manifestamos o que pensamos, sentimos e queremos aos outros. E a intenção desta uni- dade é tornar o seu conhecimento sobre a língua portuguesa, sua estru- tura e funcionamento, algo prático. Desse modo, definiremos alguns campos de ação das palavras, como a ortografia e a morfologia, estu- dando e aplicando a palavra em contextos diversos para que fiquem cla- ras as peculiaridades existentes nelas, quanto à sua classificação e seu processo de formação. Bem-vindo, estudante! Objetivos de Aprendizagem • Entender o que é a ortografia da língua portuguesa e seus princí- pios ortográficos; • Conhecer as línguas antecedentes da língua portuguesa e a sua interferência em nossa escrita; • Acentuar as diferentes reformas ortográficas da língua portu- guesa, pontuando a sua cronologia; • Compreender o que é morfologia; • Conhecer o conceito de etimologia. 5 Morfologia Contextualizada | Unidade 1 -Conhecendo a Língua Pòrtuguesa ORIGEM E FORMAÇÃO DA LÍNGUA PORTUGUESA Sabemos que somos seres sociais, logo, temos necessidade de nos relacionarmos e nos comunicar uns com os outros, e isso vem desde a era pré-histórica, na qual havia a ausência da escrita, onde o indivíduo manifestava seu pensamento por meio de desenhos, símbolos, sinais, entre outros recursos usados para interagir com outro sujeito. Entretanto, foi com o latim, idioma fundado e imposto pelos romanos, modificado ao longo dos tempos, devido à presença de outras culturas, até se fragmentar, que a língua portuguesa, tal qual conhecemos hoje, originou-se. E um fato interessante que nos desperta para a essência da língua portuguesa, que se resume na grande quan- tidade de variações linguísticas, é que na época do domínio romano, exigia-se a utilização do latim canônico, limitado ao jeito de falar de membros do clero, contudo, o povo desejava maior liberdade, conforme suas próprias tradições culturais, seu folclore, e assim, surgiu o denominado latim vulgar. Após o latim vulgar, no século IX, os primeiros escritos em latim, deram-se na forma de testamentos, contratos jurídicos, etc. E dois séculos mais tarde, o latim distante da linguagem do cotidiano do povo, pouco a pouco, dei- xava de existir, tornando-se uma língua morta. Figura 1. Língua latina. Legenda: Errar é humano, perseverar é do diabo. Fonte: <http://br.123rf.com/> ID: 63100346 A partir da inutilidade da língua latina para o povo, surgiu o Galego-português, com resquícios do latim, porém, um idioma mais evoluído e popular. A língua galego-portuguesa, falada e escrita na região da Galícia — uma pequena comunidade da Espanha —, e em Portugal, consolidou-se no final do século XII, porém, não permaneceu sendo a mesma usada nos dois lugares, porque já era constante a interferência dos dialetos regionais da Lusitânia e da Galícia. Assim, no século XIV, o português dissociava-se do galego, tornando-se, cada vez mais, uma língua moderna, como o é nos dias de agora. Mas também, podemos afirmar que a língua portuguesa teve influências da língua germânica, principalmente na época das invasões bárbaras, trazendo para o nosso idioma palavras como: guerra, trégua, espiar, Marta, etc., além de influências do continente africano, advindas dos mouros e árabes, como: arroz, azeite, açúcar, refém, etc. 6 Morfologia Contextualizada | Unidade 1 -Conhecendo a Língua Pòrtuguesa Então, como você pode notar, a língua portuguesa é rica devido a três fatores: ela é derivada do latim; formada por seu idioma puro, e também, pela influência estrangeira. 1.1 Ortografia Sabemos que a ortografia é a parte da gramática que trata da grafia correta das palavras, que contém algumas orientações a serem seguidas na escrita. No entanto, tais regras nem sempre foram conforme as concebemos hoje. Antes, também havia uma preocupação em uniformizar a língua portuguesa, entretanto, sem um rigor sistemá- tico, já que as palavras eram grafadas segundo a pronúncia; logo, a língua era escrita para o ouvido. E com o prestígio das línguas nacionais se intensificando, devido à quantidade de escritores e leitores que tam- bém aumentava, a necessidade de uma regularização da ortografia era evidente. Já no século XIX, com o foneticista português Aniceto dos Reis Gonçalves Viana, houve a tentativa de incorporar à língua um sistema racional de grafia, baseado na própria história da língua portuguesa. Sendo assim, com o pas- sar do tempo, tanto Brasil, quanto Portugal começou a pensar em unificar o sistema linguístico, com os Acordos Ortográficos, no intuito de simplificar a escrita do idioma. A primeira ideia para o novo acordo da ortografia foi a de adotar um símbolo (grafia) para cada som, isto é, uma ortografia baseada pela fonética, que ignorava as variantes que a língua apresentava, conhecidas como dialetos, presentes em diferentes regiões. Como a primeira não funcionou, a outra ideia foi a de se basear na etimologia das palavras, ou seja, estas seriam escritas conforme a sua origem, mais precisamente, o latim, no entanto, alguns fonemas latinos nem eram mais soados, por isso, também não vingou. A maior parte do vocabulário português, tal qual conhecemos hoje, vem da língua latina, mas também se moldou de acordo com a interferência de outras culturas, como indígena, inglesa, francesa, africana, italiana, etc., nos locais onde era falado o latim e o português, posteriormente. Assista ao vídeo para compreender, de forma resumida, o surgimento e a evolução da escrita. FILHO, Roberto de Souza Matos. A Origem e Evolução da Escrita. Youtube, 2014. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=1XMrw9qrVpM. . 7 Morfologia Contextualizada | Unidade 1 -Conhecendo a Língua Pòrtuguesa No século XV, havia o predomínio de consoantes geminadas — percebida na pronúncia, mais longa —, e inso- noras — desarmoniosas, como, por exemplo, em commercio, cuja grafia consistia na consoante m duplicada. E se pensava em criar uma ortografia mista, na qual se consideraria tanto a fonética como a etimologia das pala- vras, mas isso dificultaria o aprendizado das primeiras letras pelas crianças. Contudo, contrariando tal posicio- namento, principalmente quanto ao aspecto etimológico, em sua Gramática da Língua Portuguesa, Fernão de Oliveira (1975, p. 61), acentuava: “E do mau pronunciar veio o pior escrever dessas dicções com ‘ch’. Mas somos tão bugios dos latinos que tomamos suas coisas sem muito sentir delas quando nos são necessárias.”. E no século XVII, a primeira obra de importância a tratar da ortografia da língua portuguesa, de João de Morais Madureira Feijó, Orthographia, ou Arte de escrever, e Pronunciar com Acerto a Língua Portuguesa, defendia a inflexível ortografia etimológica, cuja finalidade era imitar a escrita da língua latina, podemos citar o nome “Vic- toria”, emque os sons de c e t são pronunciados como se formassem um só fonema. Conforme artigo de Fernandes (s.d. p.8-9), o século XIX foi marcado pela preocupação de gramáticos com os princípios filosóficos inerentes à língua no sentido de explicá-la quanto a: Uma descrição detalhada do sistema fonético português; ¾ Regularização da grafia dos ditongos orais, os quais eram grafados com i, e ou y representando a semivogal /y/ e as letras o ou u repre- sentando a semivogal /u/; ¾ Regularização da grafia dos ditongos nasais, os quais passariam a ser grafados sempre com til, sendo a semivogal /u/ representada sempre pela letra o, ao passo que a semivogal /y/ passaria a ser representada por e depois de o e e, e por i depois de a e u; ¾ Reco- mendação do uso das letras e e o para representar respectivamente, as vogais ambíguas (finais pós-tônicas) que soam como e e como u; ¾ Recomendação do uso do trema sempre que a vogal u soar depois das consoantes q e g antes de outra vogal e na primeira vogal dos hiatos, quando estes não forem acentuados na segunda vogal; ¾ Manutenção do uso da letra h inicial somente quando a origem da palavra o exigir. As palavras portuguesas passam a ser escritas sem h ininicial ; 8 ¾ Manutenção do uso da letra y exclusivamente nas palavras de origem grega, ficando proi- bido seu uso nos ditongos; ¾ Manutenção do uso dos grupos ph, rh e th, de acordo com a etimo- logia; ¾ Proscrição do uso da letra k e do grupo ch, os quais passam a ser substituídos pela letra c ou pelo dígrafo qu; ¾ Recomendação do uso do grupo os, conforme a etimologia das palavras; ¾ Tentativa de regularização das letras g e j, antes das vogais e e i; ¾ Tentativa de regularização do uso da letra x. As reformas ortográficas iniciaram-se entre 1911 e 1990, constituídas através de uma comissão especiali- zada, cujos membros dos dois países, Portugal e Brasil, ratificaram em 1991 o Novo Acordo Ortográfico, tal qual conhecemos hoje, sendo que houve algumas alterações, particularmente, no Brasil, entrando em vigor somente em 2016 definitivamente. Para a sua curiosidade, veja como era a Ortografia a partir do século XVIII. VIANNA, A. R. Gon- çalves. Ortografia Portuguesa. Lisboa: Imprensa Nacional, 1885. Disponível em: http://purl. pt/437/4/l-11025-5-v_PDF/l-11025-5-v_PDF_24-C-R0150/l-11025-5-v_0000_rosto- 16_t24-C-R0150.pdf. Acesso em 14 de jun de 2017. . 8 Morfologia Contextualizada | Unidade 1 -Conhecendo a Língua Pòrtuguesa 1.1.2 Reforma Ortográfica Vigente A Reforma ortográfica atual tem como proposta uniformizar a escrita da língua portuguesa, bem como facilitar o intercâmbio entre os países que têm o português como idioma, promovendo o ensino, a literatura e a ciência. Além disso, as letras K, W e Y que configuram nomes próprios e unidades de distância, de medida e em estrangei- rismos, são incorporadas ao alfabeto, contendo agora no total de 26 letras. O trema, antes inserido na letra u para acentuar a sua pronúncia em palavras de grupos GUE, GUI, QUE, QUI, como linGUiça, cinQUenta, freQUente, etc., deixa de ser empregado, com exceção de nomes ou sobrenomes próprios estrangeiros, como, por exemplo, Gisele Bündchen. Com relação às regras de acentuação das palavras, houve alterações significativas com a queda do acento agudo e circunflexo: • Palavras Paroxítonas com ditongos abertos: o encontro de duas vogais (EI-EU-OI) e seus plurais, na mesma penúltima sílaba mais forte. Exemplos: plateia - heroico; • Palavras Paroxítonas após ditongos: as vogais (I, U) na mesma penúltima sílaba mais forte. Exemplo: feiura; • Palavras terminadas em eem – oo(s): abençoo - veem; • Os Pares (verbo / preposição) e (preposição / substantivo): Para de falar / Vou para casa. Andarei pelo corredor / Meu cão tem pelo liso. O acento circunflexo continua para a diferenciação da classe gramatical das palavras: • Acento Diferencial apenas em verbos – designar o tempo e a pessoa do discurso: O verbo pôr no presente – pode; no passado – pôde. O verbo ter na 3ª pessoa do singular – tem; na 3ª pessoa do plural – têm. Veja no link, a seguir, o histórico referente às Reformas Ortográficas, desde a primeira até os dias de hoje. Portal da Língua Portuguesa. História da Ortografia do Português. [on-line]. Disponível em: http://www.portaldalinguaportuguesa.org/?action=acordo-historia. Acesso em 13 de jun. de 2017. 9 Morfologia Contextualizada | Unidade 1 -Conhecendo a Língua Pòrtuguesa Quadro 1. Regra de Hifenização. Vogais Diferentes Não use Hífen e junte autoescola, infraestrutura, autoajuda, autoafirmação, semiaberto, semiárido Vogais Iguais Use Hífen anti-inflamatório, micro-ônibus, micro-ondas, auto-observação, contra-ataque Consonantes Diferentes Não use Hífen e junte superlegal, hipermercado, intermunicipal, superpopulação Consonantes Iguais Use Hífen Sub-base, super-requintado, inter- relacionar, super-romântico Vogal + Consoante Não use Hífen e junte seminovo, autoconhecimento, autodesenvolvimento Consoante + Vogal Não use Hífen e junte hiperacidez, superinteressante Vogal + R / S Junte e dobre o R ou o S antirrugas, antissocial, ultrassonografia, autorretrato, minissaia, ultrarrigoroso, corresponsável, contrarregra Legenda: Quadro exemplificado das regras de hifenização. Fonte: https://www.pinterest.com/pin/272045633713853705/ A regra de exceção quanto ao uso do hífen se refere aos prefixos: VICE CIRCUM – PAN - EX – BEM - SEM - ALÉM – RECÉM – AQUÉM – PRÉ- PRÓ - PÓS. Exemplos: vice-reitor; cir- cum-navegação; circum-marítimo; pan-africano; ex-namorado; bem-sucedido; sem-teto; além-fronteiriço; recém-casado; aquém-mar; pré-adolescente; pró-pátria; pós-graduado. E diante da consoante muda H, sempre devemos usar o hífen. Exemplo: anti-higiênico. Acesse o site Portal Brasil, e saiba mais sobre as novas regras ortográficas em vigência. Portal Brasil, 2014. Disponível em: http://www.brasil.gov.br/educacao/2014/12/acordo-ortogra- fico-so-entrara-em-vigor-em-2016. Acesso em 13 de jun. de 2017 10 Morfologia Contextualizada | Unidade 1 -Conhecendo a Língua Pòrtuguesa 1.1.3 Etimologia Etimologia é o estudo da origem das palavras, e daqui por diante, você compreenderá, de uma forma simples, características do surgimento da língua portuguesa e a interferência de outras culturas no idioma. Iniciamos, então, ao afirmar que o latim originou diversos idiomas, dentre eles, o português, que também teve influências europeias e africanas. No entanto, a língua portuguesa formou-se mais pelo latim vulgar do que clássico, sendo este usado pelas pessoas consideradas cultas da época do Império Romano, como os senadores, filósofos, etc., por isso que o português é denominado um idioma neolatino, já que se modernizou a partir de uma língua falada pelas pessoas não necessariamente letradas de Roma. E na Península Ibérica — região situada hoje na parte mais ocidental da Europa —, quando invadida pelos ger- mânicos e depois, pelos árabes, apresentavam-se muitos dialetos. Sendo que no século XI, os cristãos expulsa- ram os árabes da Península, fortalecendo, assim, primeiramente, o idioma galego-português, falado e escrito em Lusitânia e na maior parte da faixa ocidental de Portugal. Entretanto, ao sul do país, especificamente, em Lisboa, já se presenciava a diferença entre o galego e o português. Assim, quando a política lusitana se consolidou, de forma autônoma, o Império Luso oficializou o português como idioma da nação, enquanto que o galego ainda se manifestava, mas considerado como variante, comu- mente usado no norte da Espanha. E com as navegações ocorrendo, desde o século XV, a língua portuguesa estendeu-se às terras recém-descobertas: Angola, Moçambique, Guiné-Bissau, São Tomé e Príncipe; ilhas do Açores e da Madeira; na região da Ásia, Macau, Goa, etc., e da América do Sul, o Brasil. Quadro-resumo da evolução da língua portuguesa. Fase Inicial Anterior ao séc. XII Fase Antiga Séc. XII ao XV Fase Moderna A partir do séc. XVI Textos escritos em latim bárbaro(língua usada em documentos: contratos, testamentos, etc.). Textos em galego-português e a divisão entre o galego e o português Língua uniformizada, influência da literatura de Camões. Primeira Gramática da Língua Portuguesa, do padre Fernão de Oliveira. Legenda: Quadro exemplificado que apresenta a fase inicial, antiga e moderna da língua portuguesa. Fonte: Adaptado pela professora. OLIVEIRA, Fernão de. A gramática da língua portuguesa (Org. Maria L. C. Buescu). Lisboa: Imprensa Nacional,1975. Disponível em: E de acordo com estudos etimológicos da língua portuguesa, há notoriamente uma divisão entre o português e o português peninsular, particularmente, nos planos fonético e lexical, como exemplo a palavra mão, n galego- -português era mão-o e no latim manu. Percebemos com isso, a supressão de hiatos, que era algo muito comum e vasto no português antigo, e tal fato, caracterizou-se como mudança na estrutura da língua portuguesa. Outra alteração se deu nos encontros vocálicos, que ganhou contração: Antes Depois door dor boom bom 11 Morfologia Contextualizada | Unidade 1 -Conhecendo a Língua Pòrtuguesa Alguns substantivos e formas verbais podem ser analisados também e verificas as mudanças ocorridas ao se separar o galego-português do português, tal qual conhecemos hoje: Antes Depois beijarom beijaram (AM) geeraçom geração (ÃO) 1.1.4. Morfologia A palavra morfologia significa estudo da forma, e por se tratar de uma parte da gramática da língua portuguesa, ela estuda o processo de formação das palavras nesse idioma. Tal processo de formação das palavras resulta em como as palavras se originaram, em como se flexionam, e se classificam, visto que cada palavra pertence a uma categoria ou classe gramatical. Vamos compreender o campo da morfologia desmembrando os seus componentes que servem de base à estru- tura e formação das palavras, como se mostra na figura, a seguir: Figura 2 - Componentes morfológicos. Legenda: Resumo dos componentes morfológicos representados graficamente. Fonte: Do autor, 2017. Leia a Crônica de Dom Fernando Fernão Lopes, dividida em três volumes, para saber melhor como era escrita a língua portuguesa e as diferenças marcantes do léxico e da fonética de ontem para hoje. LOPES, Fernão. Chronica de el-rei D. Fernando / Fernão Lopes. - Lisboa: Escriptorio, 1895-1896. - 3 v.; 19 cm. - (Biblioteca de clássicos portugueses). Disponível em: http://purl.pt/419/4/. Acesso em 14 de jun. de 2017. 12 Morfologia Contextualizada | Unidade 1 -Conhecendo a Língua Pòrtuguesa Para você aprender na prática, vamos utilizar uma palavra como exemplo, desmembrando-a em unidades meno- res, e através dela, indicaremos os componentes observados. A palavra plantação possui 3 morfemas unidades mínimas de significado. Analisemos cada um deles: • Raiz: forma outras palavras: plant. Ex: plantio – plantar – planta – implante. • Afixos: forma palavras derivadas mudando o seu sentido e classificando-a gramaticalmente: ção sufixo que designa ação. Palavras com essa terminação classificam-se como substantivos. • Vogal Temática: acrescentado à raiz, constituindo um tema, destacando a classe de palavra da qual per- tence: a (Planta) = substantivo. Através dela, formam-se as desinências também. Quadro 2 - Vogal Temática e suas funções. Vogal Temática CASA ENSINAR BAIXO Função destaca o substantivo destaca o verbo destaca o adjetivo Legenda: Quadro-resumo de vogal Temática e suas funções. Fonte: Do autor. Desse modo, entendemos que a vogal temática pode ser tanto nominal como verbal, pois categoriza nomes (substantivos e adjetivos) ou verbos. As vogais temáticas nominais, referentes a substantivos e adjetivos, só estão presentes nos nomes átonos (sílaba fraca). São elas: a – e – o. Tais vogais temáticas conectam-se à desinência no plural (s). Ex: baixos. A palavra café não possui vogal temática, porque possui uma vogal tônica (sílaba forte). As vogais temáticas verbais, referentes a verbos, designam as três conjugações: ar (1ª conjugação) – er (2ª conju- gação) – ir (3ª conjugação). Ex: abaixar = A vogal temática é a letra a e a desinência verbal é a consoante r. Então, qual seria o radical da palavra plantação? Se você pensou em planta, acertou! Pelo simples fato de possuir a vogal temática a, considerada um morfema periférico, enquanto que a raiz da mesma palavra (plant) é um morfema nuclear. Um fator interessante, também, que convém apresentar a você, diz respeito à raiz das palavras, que se alternou um pouco, desde que o latim foi considerado língua morta, ou conforme a língua portuguesa foi evoluindo. Note: ANTES DEPOIS Baptismo Batismo Acção Ação Arbore Árvore não é o mesmo que RAIZ. A diferença consiste no radical carregar afixos, enquanto que a raiz não. 13 Morfologia Contextualizada | Unidade 1 -Conhecendo a Língua Pòrtuguesa E ao ser juntado o radical à vogal temática de uma palavra, resulta no que denominamos de TEMA. Ex: Ontem fiz boas compras. Vejamos agora, um elemento acessório, que pode aparecer em algumas palavras, servindo apenas para facilitar a pronúncia, denomina-se Vogal ou Consoante de Ligação. Tomemos como exemplo a palavra sustentabilidade e cafeteira para analisar esse elemento mórfico. SUST=radical / SUSTENTA=tema / A=vogal temática verbal / BIL=sufixo de origem latina (hoje é VEL) / I= vogal de ligação / DADE=sufixo formador de substantivo, equivale à condição ou a estado. CAFÉ= radical / T= consoante de ligação / EIRA=sufixo equivalente a local para guardar coisas. O que temos que aprender com isso? Que os adjetivos cujas terminações forem: AZ – IZ – OZ – VEL ao formarem substantivos adquirirão a forma latina de escrita (BIL), sendo acrescida a vogal temática i para efeito de pronúncia ou leitura. Agora vamos analisar outros tipos de afixos, ou morfemas periféricos, derivativos de outras palavras. Algumas palavras podem conter um só afixo, como também dois deles. Assim: 1. DERIVAÇÃO PREFIXAL: antes do radical. Ex: reler. O prefixo re designa repetição, volta. 2. DERIVAÇÃO SUFIXAL: depois do radical. Ex: plantio. Sufixo io designa abundância ou coleção. 3. DERIVAÇÃO PREFIXAL E SUFIXAL: antes e depois do radical. Ex: implante. O prefixo im designa privação, negação, retirada de algo, e o sufixo e pode designar tanto estado, quanto uma ação. Confira no quadro, a seguir, alguns prefixos de origem latina e grega para o seu conhecimento. Quadro 3– prefixos latinos e gregos. Prefixos Latinos Prefixos Gregos A = Aproximação a-an = negação, amoral Ab-abs = afastamento, separação Aná = ação contrária, reduplicação Ante = anterioridade Anfi = em torno, duplicidade Circum = movimento em torno Apó = afastamento Legenda: Quadro exemplificativo de prefixos latinos e gregos. Fonte: Do autor. http://www.filologia.org.br/monografias/caderno_de_pos_graduacao_ufac/os_afixos_do_portugues_pre- fixos_sufixos.htm. Consulte o dicionário etimológico para aprender mais sobre a evolução das palavras e sua origem. [on-line]. Disponível em: https://www.dicionarioetimologico.com.br/. Acesso em 16 de jun. de 2017.. 14 Morfologia Contextualizada | Unidade 1 -Conhecendo a Língua Pòrtuguesa Até aqui, você compreendeu de uma maneira específica alguns dos componentes morfológicos de uma palavra, e daqui por diante, daremos atenção às desinências. Primeiramente, convém você saber que as desinências só ocorrem em palavras variáveis, isto é, passíveis de fle- xões: SINGULAR OU PLURAL / FEMININO OU MASCULINO / PESSOA DO DISCURSO / MODO-TEMPO-ASPECTO. E as desinências podem ser nominais, quando se referem a um nome; verbais, quando se referem a um verbo; ou verbo-nominais, quando se referem a um nome e a um verbo. Vejamos na sequência um exemplo desses tipos de desinências. Quadro 4-resumo dos tipos de desinências. Nominal VerbalVerbo nominal Garota (fem) Comia (Pret. Imperfeito) Comer infinitivo (sing) (modo indicativo) Comendo gerundio Comido participio Legenda: Quadro explicativo dos tipos de desinências. Fonte: Do autor. Assim, as desinências podem variar de gênero (feminino ou masculino); de número (singular ou plural); de tempo e modo verbal. Sendo que, as desinências verbo-nominais referem-se às formas nominais dos verbos, que são: • o infinitivo: terminações seguindo as três conjugações: ar- er- ir • o gerúndio: terminações: ando – endo – indo • o particípio: terminações: ado – edo – ido Veja mais claramente através dos exemplos: a. Coloquei um anel no dedo. Infinitivo – verbo colocar b. Ele vive se arriscando. Gerúndio - ando c. O bolo foi feito ontem. Particípio – to. Verbo irregular. Agora, trataremos das desinências número-pessoais, que se referem às pessoas do discurso (eu, você, eles, nós, etc.). Convido você a pesquisar os significados de alguns afixos citados no Fórum para que, ao realizar a análise morfológica de uma palavra, fique fácil, só de lê-la, reconhecer se nela há prefixo, sufixo ou ambos. 15 Morfologia Contextualizada | Unidade 1 -Conhecendo a Língua Pòrtuguesa Figura 3: das Desinências número-pessoais Legenda: Figura mostra esquema explicativo de das desinências número-pessoais. Fonte: Do autor. Mas você deve estar pensando, como vou saber qual a raiz de uma palavra ou o seu radical? E como não confundir a desinência número-pessoal com a desinência modo-temporal? Basta pensar que desinência número-pessoal diz respeito à pessoa do discurso (primeira, segunda e terceira) que pode ser tanto do singular, como do plural. E a desinência modo-temporal se refere às terminações verbais, relativas aos modos do indicativo, subjuntivo e ao tempo presente, pretérito e futuro. Portanto, ao recapitularmos a matéria deste estudo, compreendemos que um morfema é a unidade menor, mas significativa de uma palavra, ou seja, por meio dessa unidade podemos depreender sentidos. Também vimos que radical é uma parte da palavra que permanece invariável, mas podendo formar novas palavras, consequente- mente, novos significados. O radical pode ser considerado a base comum entre as palavras com o mesmo radical. Ainda, tratando das unidades mínimas das palavras, temos os afixos, que se subdividem em prefixos e sufixos; enquanto os primeiros aparecem no início da palavra e modificam o sentido das mesmas de forma precisa; os segundos aparecem no final da palavra e indicam o tempo ou o modo, se for uma forma verbal nominal, como também, a classe gramatical da palavra. E as vogais temáticas, quando verbais, indicam a que conjugação o verbo pertence; e quando nominais, formam uma base com o radical, seguidas das desinências. Bugio: o significado verdadeiro é o que debocha dos modos de outrem, mas na citação tem sentido figurado, trata de imitadores. Canônico: é o que convém aos dogmas da Igreja, eclesiásticos. Dialeto: variedade linguística pertencente a uma comunidade específica. Sistemático: próprio de um sistema, um todo organizado. 16 Considerações finais Concluímos, então, estudante, essa nossa unidade, despertando para a estrutura e o processo inicial de formação das palavras da língua portu- guesa, baseando-nos num contexto histórico e cultural para situar você na construção do nosso idioma, acessando-o, assim, de uma forma sim- ples e compreensível, e possibilitando, ao longo do caminho, que você também adquira novos prismas para utilizá-lo nas diversas situações comunicativas, servindo-se desse conhecimento preliminar. Logo, pon- tuamos os principais itens estudados: • Origem da língua portuguesa e seu processo evolutivo. • Ortografia de ontem e de hoje. • Conceito e noções de Etimologia. • Princípios da Morfologia Referências bibliográficas 17 FERNANDES, Ana Paula. A História da ortografia do Português do Bra- sil. [on-line]. Disponível em: http://www.filologia.org.br/cluerj-sg/anais/ ii/completos/mesas/3/anapaulafernandes.pdf. Acesso em 13 de jun. de 2017. FERREIRA, Maria Aparecida S. de Camargo. Estrutura e formação de palavras. 4. ed. São Paulo: Livraria Atual Ltda, 1991. ILARI, Rodolfo (Org.). Gramática do português falado. 4. ed. rev. São Paulo: UNICAMP, 2002. MARIGUELA, A. D. B. A Grammatica da Lingoagem Portuguesa de 1536: Fernão de Oliveira, as Normas da Língua Portuguesa e a Cultura Quinhen- tista. Disponível em: http://www.fflch.usp.br/dlcv/lport/pdf/slp04/02.pdf. Acesso em: 14 de jun. de 2017. OLIVEIRA, Fernão de. A gramática da língua portuguesa (Org. Maria L. C. Buescu). Lisboa: Imprensa Nacional, 1975. ROSA, Maria Carlota. Introdução à morfologia. 6. ed. São Paulo: Con- texto, 2011. Sites consultados Dicionário etimológico. https://www.dicionarioetimologico.com.br/. Acesso em 14 de jun. de 2017. Ferramentas para a língua portuguesa - FLIP online. Gramática. http:// www.flip.pt/FLiP-On-line/Gramatica/Morfologia-Partes-do discurso/ Verbo/Elementos-do-verbo/Desinencias-pessoais.aspx. Acesso em: 14 de jun. de 2017. Morfologia Contextualizada 1ª edição 2017 Morfologia Contextualizada 21 Palavras do professor Você, a partir de agora, estudante, estudará a disciplina Morfologia Con- textualizada, que abrange aspectos históricos da nossa língua portu- guesa, de onde ela se originou e suas influências, assim como a sua natu- reza e estruturação, até tratar do processo de formação e classificação das palavras. E esse conhecimento acerca das unidades mínimas das palavras, deno- minadas de morfemas, bem como o modo de uma palavra formar outra, sendo a nova palavra chamada de derivada. Ainda, ampliará as suas pos- sibilidades de enriquecer o seu vocabulário, dar novos sentidos para as palavras e ensinar, conforme o que aprendeu através deste material. Portanto, caso você lecionar a disciplina de língua portuguesa, é essencial saber como tudo começou, em termos de linguagem, além de analisar cada palavra de forma isolada, servindo, assim, de embasamento nas par- tes seguintes que compõem os estudos gramaticais. Desde já, desejo sorte em sua trajetória e um ótimo aproveitamento. 2 22 Unidade 2 O que são classes de palavras? Para iniciar seus estudos Caro (a) estudante, esta unidade tem relevância acadêmica e profissional por ajudá-lo (a) a utilizar as palavras de forma consciente e coerente com a situação comunicativa em que você se encontre. Desse modo, com este material você será capaz de reconhecer as cate- gorias em que cada palavra falada e escrita se encaixa a fim de formar frases e orações, conforme a intencionalidade, já que, assim como nós, que somos da categoria humana, as palavras pertencem a classes espe- cíficas, podendo ser agrupadas de maneira a formar um todo de sentido, como atenta Bechara (2009, p. 37): “tudo na língua se refere sempre a combinações de formas”. Você também estudará sobre os verbos — palavras que designam ação, estado ou fenômeno da natureza — e a forma como são flexionados, conforme a concordância que estabelecem com algumas classes grama- ticais, tais como substantivo, adjetivo, advérbio e verbo. Tenha um bom aproveitamento! Objetivos de Aprendizagem • Enumerar as diferentes classes gramaticais e as suas designações; • Entender o que é flexão nominal e verbal. 23 Morfologia Contextualizada | Unidade 2 -O que são classes de palavras? 2.1 CLASSES GRAMATICAIS E SUAS DESIGNAÇÕES Se formos pensar na palavra classe, nos lembraremos de aula, de escola, não é mesmo? Pois então, é exatamente a partir dessa ideia que reside o significado dessa palavra; logo, classe tem o sentido de grupo, agrupamento, conjunto. A gramática é composta de prescrições ou descrições sobre o uso correto e adequado da língua falada e escrita nas mais diversas situações comunicativas. Assim, os elementos que compõem o conjunto das classes gramaticais da língua portuguesa serão apresentados a você e explicados de forma contextualizada, ou seja, parao seu uso prático, no dia a dia. Iniciaremos pelo substantivo, que se refere a tudo o que é substância, abstrata ou concreta, como carro, animal, sentimentos, emoções, estados do ser, processos. Veja o Quadro 2.1, a seguir, para compreender melhor: Quadro 2.1 – Substantivo Substantivo Abstrato Substantivo Concreto Saudade casa Cansaço gato Acumulação livro Fonte: Do autor. O substantivo também pode ser próprio, comum, sobrecomum, comum de dois gêneros ou epiceno. Conceitu- aremos cada um deles: • Substantivo próprio referencia nomes que se particularizam, de acordo com a sua espécie, por exemplo: nomes de pessoas, de países, de cidades, estados; de instituições públicas e privadas; de planetas, etc. • Substantivo comum indica tudo o que não é particularizado – é o oposto do substantivo próprio, por exemplo fogão. Caso referenciemos a marca do fogão, já será substantivo próprio. • Substantivo sobrecomum designa nomes que servem tanto para o gênero feminino quanto para o masculino, por exemplo vítima e testemunha (não existe “o” vítima nem “o” testemunha). • Substantivo comum de dois gêneros acrescentam-se ao substantivo, artigos ou pronomes, para desig- nar o gênero, por exemplo: o algoz/a algoz; seu artista/sua artista. • Substantivo epiceno refere-se a animais de um único gênero, podendo também ser acompanhado de artigos e pronomes, além de adjetivos, por exemplo: uma cobra fêmea/a cobra macho. Vamos aproveitar para tratar, na sequência, de outras duas classes gramaticais que acompanham o substantivo: artigo e pronome. Essas duas categorias da gramática diferem-se uma da outra pelo fato de a segunda possuir outra função que não somente a de acompanhar o substantivo, conforme analisaremos. Meu avô usa uma bengala. Nessa oração, temos dois substantivos: avô/ bengala, enquanto meu é pronome que aponta de quem é o avô, ou seja, da primeira pessoa do discurso, aquela que fala. Depois temos uma, que é artigo indefinido, já que não determina que tipo de bengala o avô usa, além do verbo usar, que está concordando com a terceira pessoa do discurso (ele). O que notamos? O artigo só tem a função de dar apoio ao substantivo, mas o pronome “meu” traz a ideia de posse, de que alguma coisa pertence a alguém. Ainda, porém, é possível que o pronome substitua o substantivo, quer ver como? 24 Morfologia Contextualizada | Unidade 2 -O que são classes de palavras? Denise gosta de sorvete Ela gosta dele. Algumas pessoas saíram de lá, enquanto algumas pessoas permaneceram (...) enquanto outras permanece- ram. A mãe de Pedro é brava que nem a minha mãe (...) que nem a minha. Marquei no caderno os apontamentos Marquei-os no caderno. Os caminhos de André se ajeitaram Seus caminhos se ajeitaram. Nos quatro primeiros exemplos, temos pronomes substantivos, já no último exemplo temos um pronome adje- tivo, porque particulariza o substantivo próprio André. Os pronomes se classificam em: • Pessoais: eu, tu, ele(a), nós, vós, eles(as) • Demonstrativos: esse(a), aquele(a), esses(as), aqueles(as) • Possessivos: meu, seu, nosso, vosso, dele, dela e seus respectivos plurais. • Relativos: que, quem, a (s) qual(is), cujo(a), quanto, onde • Indefinidos: alguém, ninguém, tudo, todo(s), cada, algo, nada, outrem • Interrogativos: que, quem, qual, quanto(s) De acordo com Bechara (2009, p. 137): As formas eu, tu, ele, ela, nós, vós, eles, elas, que funcionam como sujeito, se dizem retas. A cada um destes pronomes pessoais retos corresponde um pronome pessoal oblíquo que funciona como complemento e pode apresentar-se em forma átona ou forma tônica. Ao contrário das formas átonas, as tônicas vêm sempre presas à preposição. A diferença entre pronome substantivo e pronome adjetivo está no fato de que o primeiro substitui o nome ao qual se refere, enquanto o segundo caracteriza esse nome, particula- riza-o, atribui uma qualidade, critério, especificação.. 25 Morfologia Contextualizada | Unidade 2 -O que são classes de palavras? Quadro 2.2 – Pronomes pessoais oblíquos átonos e tônicos Pronomes Oblíquos átonos Pronomes Oblíquios tônicos Me mim Te ti Lhe, o, a, se ele, ela si Nos nós Vos Vós Lhes, os as, se eles, elas si Fonte: Do autor De acordo com as regras da gramática, no início de oração temos os pronomes oblíquos após os verbos, funcio- nando como complementos, note: Manifestemo-nos a favor do plebiscito. Caso a nossa oração expresse ideia de companhia, subentendida a preposição “com”, utilizamos os pronomes oblíquos tônicos desse jeito: “Você vem conosco (comigo + contigo)? ”. Segundo Bechara (2009, p. 138): Empregam-se, entretanto, com nós e com vós, ao lado de conosco e convosco, quando estes pro- nomes tônicos vêm seguidos ou precedidos de mesmos, próprios, todos, outros, ambos, numeral ou oração adjetiva, a fim de evidenciar o antecedente. Assim: Fiquemos a favor de nós mesmos. Nesse caso, “mesmos” é pronome demonstrativo. Um tipo de pronome oblíquo que causa grande falha, tanto na fala quanto na escrita, é o reflexivo. Veja um exem- plo do erro e do acerto ao utilizá-lo: Nós se encontramos no barzinho hoje. Nós nos encontramos no barzinho hoje. Ao expressar ideia de reciprocidade, também funciona da mesma maneira, note: Eu e Marcelo se perdoamos nesta manhã. Eu e Marcelo nos perdoamos nesta manhã. Plebiscito: consulta pública por meio de votação popular. 26 Morfologia Contextualizada | Unidade 2 -O que são classes de palavras? Vamos tratar, a seguir, dos pronomes possessivos, seguidos dos demonstrativos e dos indefinidos. Como o pró- prio nome já o diz, os possessivos expressam a noção de posse, de algo pertencer a alguém, fazer parte, enfim, eles correspondem às três pessoas do discurso, tanto no singular como no plural: 1ª meu(s) – minha(s) / nosso(a) (s) 2ª teu(s) – tua(s) / vosso(a) (s) 3ª seu(s) – sua(s) Exemplo: Minha casa fica bem próxima da sua. * Se houver uma oração em que não se defina de quem pertença algo, substituiremos as formas pronominais seu, sua por dele, dela. Veja como: Mara, avise à Rita que pegou a sua blusa. Blusa de quem, de Mara ou de Rita? Para eliminar a confusão, basta usar o pronome possessivo dela, assim: Mara, avise à Rita que pegou a blusa dela. Os pronomes demonstrativos requerem maior atenção, devido a algumas peculiaridades nem tão conhecidas de parte dos falantes e escritores da língua portuguesa. • Eles indicam a posição das pessoas do discurso (1ª, 2ª e 3ª) • Este assunto do qual trato é de extrema importância (referente à 1ª pessoa do discurso “eu”); • A vogal “o” também funciona como pronome demonstrativo quando é possível substituí-la por um des- ses tipos de pronomes Falava-me sobre meu signo ser incompatível com o dele, mas não o fez direta- mente. (Não fez isso diretamente). • As palavras “mesmo”, “próprio”, “semelhante” e “tal” também equivalem a demonstrativos quando subs- tituem esses pronomes Meu ex-namorado partiu meu coração ao se esquecer do meu aniversário; ontem, fiz a mesma coisa... E conforme Bechara (2009, p. 139), a posição dos demonstrativos: pode ser no tempo, no espaço ou no discurso: 1.ª pessoa: este, esta, isto 2.ª pessoa: esse, essa, isso 3.ª pessoa: aquele, aquela, aquilo Os pronomes indefinidos, também como o próprio nome já o explica, indefinem as coisas, isto é, não as especifi- cam, mas podem ser variáveis ou invariáveis. Quadro 2.3 – Pronomes indefinidos Indefinidos invariáveis Indefinidos variáveis Ninguém Nenhum(a) (s) Alguém Algum (a/as) (ns) Tudo Todo (a) (s) Nada Outro (a) (s) Outrem Certo (a) (s) Cada Qualquer/quaisquer Adaptado de: BECHARA, Evanildo. Moderna gramática portuguesa. 37. ed. rev. e ampl. Rio de Janeiro: Lucerna, 2009. 27 Morfologia Contextualizada | Unidade 2 -O que são classes de palavras? Valem a pena algumas observações a respeito dos pronomes indefinidos para a sua consideração e ciência, como é o caso de: muito – pouco – mais – menos – quanto – diverso – vário – tanto– um. Vamos ver de modo contextualizado como isso funciona: • Menos descrença nacional, por favor! • Com pouca comida, fiz um jantar maravilhoso. O pronome indefinido não se relaciona a um verbo, mas a um substantivo (comida). Se fosse a um verbo, a sua classe gramatical seria advérbio. • Quanto não se faz por amor! Note que é uma exclamação e não uma pergunta. • Há sempre um que desafia. Possível é substituir um por alguém. E ainda de acordo com Bechara (2009, p. 141): Locução Pronominal Indefinida – É o grupo de palavras que vale por um pronome indefinido. Eis as principais locuções: cada um, cada qual, alguma coisa, qualquer um, quem quer, quem quer que, o que quer que, seja quem for, seja qual for, quanto quer que, o mais (hoje menos frequente que a maior parte, a maioria): “As verdades não parecem as mesmas a todos, cada uma vê em ponto diverso de perspectiva. ” Vamos tratar, então, desta vez, dos pronomes interrogativos, que nada mais são que os indefinidos quem, que, qual e quanto usados em perguntas explícitas ou implícitas. Veja dois exemplos: • Que há com você? (Pergunta explícita) • Não sabemos quem telefonou. (Pergunta implícita) • Talvez saibamos qual marca ele considera melhor. (Idem) • Quantas vezes você esteve aqui? (Pergunta explícita) Analisaremos agora os pronomes relativos, que se referem ao termo da oração antecedente, são estes: o/a qual(is), quem, cujo(a) (s), que, quanto(a) (s), onde. Vamos ver na prática como funciona: • As pessoas com quem você fala perguntaram sobre o ocorrido. Quem sempre vem precedido de pre- posição. • Essa casa é sobre a qual lhe falei recentemente. • O lugar onde trabalho é distante de sua casa. • O cachorro que adotamos é bem manso. • Enviou o e-mail a todos quanto pôde. Quanto vem acompanhado de um dos pronomes indefinidos: tudo – todo(a) (s) – tanto). Quadro 2.4 – Resumo sobre alguns pronomes relativos. Que, Qual Quem Refere-se a pessoas e coisas Refere-se a pessoas e coisas personificadas Fonte: BECHARA, Evanildo. Moderna gramática portuguesa. 37 ed. rev. ampl. Rio de Janeiro: Lucerna, 2009, p. 142. 28 Morfologia Contextualizada | Unidade 2 -O que são classes de palavras? Utilizamos o qual/a qual e seus respectivos plurais quando podemos substituí-lo pelo pronome que, principal- mente para evitar ambiguidade. Note: A costureira contratada, a qual nos recebeu para o valor adiantado, recomendou-nos à estilista. Casos especiais dos pronomes relativos que/onde: Nem sempre esses dois pronomes relativos (que/onde) vêm demarcando algum termo antecedente, veja como isso acontece: • Morei onde menos gostava. • Quem aceita tudo, não pode reclamar depois. Já o pronome relativo cujo(a) (s) tem valor de adjetivo e de posse. Para que você compreenda melhor, segue um exemplo: • O apartamento cujo proprietário me alugou é muito bem localizado. Ou seja, o apartamento do proprietário. Prosseguindo, como abordamos anteriormente o adjetivo será o nosso foco de agora em diante. Além de refe- renciar o substantivo, atribuindo-lhe uma peculiaridade ou característica, também o dota de limites estabe- lecidos pelo grau de atribuição dada a ele. Perceba através de um exemplo: A criança é bonita. Ao intensificar essa atribuição dada ao substantivo criança, ficaria: A criança é lindíssima. Ainda, podemos expressar a nossa opinião sobre a criança de maneira extensiva, acrescentando ao adjetivo um advérbio de intensidade, assim: A criança é muito bonita. Quadro 2.5 – Graus do adjetivo Superlativo absoluto analítico: é o exemplo que observamos, são acrescentados ao adjetivo os advérbios “muito”, “pouco”, “bastante”, etc. Superlativo absoluto sintético: acrescentam-se ao adjetivo os sufixos “íssimo” – “imo” – ílimo – érrimo. Superlativo relativo de superioridade ou inferioridade: relativiza o adjetivo com o acréscimo do artigo “o” ou “a” e seus respectivos plurais, além dos advérbios “mais” e “menos”. Superlativo comparativo de superioridade, inferioridade ou igualdade: acrescenta-se ao adjetivo para supervalorizá-lo a expressão “mais que” ou “mais do que”; já para inferiorizá-lo, acrescenta-se a expressão “menos que” ou “menos do que”; e para fins de comparação, basta acrescentar a expressão “tão quanto” ou “tão/tanto como”. Fonte: BECHARA, Evanildo. Moderna gramática portuguesa. 37 ed. rev. ampl. Rio de Janeiro: Lucerna, 2009. Veja os exemplos para compreender melhor: • A perda de um ente querido é dor dificílima de enfrentar. • Aquela menina é a mais sabida da classe. • O filho menor é menos estudioso que o mais velho. 29 Morfologia Contextualizada | Unidade 2 -O que são classes de palavras? Partiremos para abordar o numeral, o advérbio, a conjunção e a preposição daqui para a frente. Primeiramente, vamos a um resumo sobre essas quatro classes gramaticais: Quadro 2.6 – Classes gramaticais Numeral Advérbio Conjunção Preposição Determina quantidade ou derdem Acompanha e moficia o valor de verbos, exprime circunstância Serve para unir palavras para fazer sentido expressa valor Também une elementos numa oração, estabelecerelação Fonte: Do autor Começaremos com os numerais, que podem ser: • Cardinais: um, dois, 1, 2 • Ordinais: primeiro, segundo, 1o, 2o • Fracionários: um quarto, dois terços, ¼, 2/3 • Multiplicativos: dobro, triplo Os advérbios sempre acompanham verbos, isto é, aparecem junto deles, mas também aparecem com adjetivos ou com outros advérbios, revelando circunstâncias, as quais nós veremos também no Quadro 6, com resumo de alguns tipos de advérbio: Quadro 2.7 – Advérbios Advérbios Tempo Modo Lugar Dúvida Negação Condição Intensidade Afirmação Inclusão Exclusão Fonte: Do autor Pense em expressões do tipo: “A vida é para os fortes”, perceba que a palavra “fortes” é uma atribuição de vida, mas junto dela aparece um artigo definido “os”. Isso só serve para mostrar a você que, assim como os pronomes, os adjetivos são substantivados, ou seja, funcionam como substantivos.. 30 Morfologia Contextualizada | Unidade 2 -O que são classes de palavras? Vamos visualizá-los em orações, acompanhados de verbos, adjetivos e advérbios: • Chegou adentro cansado. Circunstância de lugar. • Ela era generosa sucessivamente com ele. Circunstância de tempo. • Retornou bem depressa para o trabalho. Circunstância de modo. • Realizou efetivamente a tarefa. Circunstância de afirmação. • Jamais menti para você. Circunstância de negação. • Comigo, ele não disse nada. Circunstância de intensidade. • Por certo contaram a você sobre a separação. Circunstância de dúvida. • A reunião não rendeu simplesmente porque havia dispersão. Circunstância de exclusão. • Posso lhe prometer o meu amor, e, ainda, minha amizade. Circunstância de inclusão. • Caso muito queira a casa, podemos negociar. Circunstância de condição. Seguiremos com o estudo sobre as conjunções, que unem os termos de uma mesma oração, podendo aparecer em forma de palavra ou expressão invariável: O casal estava deslumbrado, mas também precavido. Desse exem- plo, notamos que a expressão “mas também” adiciona outra informação, parte da mesma oração. Figura 2.1. Exemplos de uso de conjunções. Classificação Classificação Exemplos Aditivas e, nem, mas também, como também, bem como, etc Não se esforçou muito, porém obteve um bom resultado Adversativas mas, porém, todavia, contudo, entretanto, no entanto, etc. Não se esforçou muito, porém obteve um bom resultado. Alternativas ou...ou; ora...ora; quer...quer; já... já, etc. Ou você estuda, ou trabalha. Conclusivas ogo, portanto, por isso, assim, por conseguinte, etc. Possui um bom histórico profissional, logo não ficará desempregado. Explicativas que, porque, porquanto, pois, etc. Não compareci à festa porque não fui convidada. Fonte: http://portugues.uol.com.br/gramatica/conjuncoes.html. Devemos atentar para não confundir advérbio com pronome indefinido. O primeiro per- manece invariável e se relaciona com verbos, adjetivos e advérbios,enquanto o segundo se relaciona com substantivo e se flexiona, isto é, varia. Exemplo: estudei muito = advérbio de modo. / Aprendi muitos pronomes hoje! = pronome indefinido. 31 Morfologia Contextualizada | Unidade 2 -O que são classes de palavras? As tão aguardadas preposições, que também são invariáveis e se ligam às palavras numa oração para estabelecer uma relação, e sem as quais a oração perde um pouco de seu sentido, logo serão o nosso foco. Perceba como o uso de preposição na oração é importante para dar sentido a ela: Revelei o filme para o docu- mentário. A relação estabelecida aqui é de finalidade. Ao retirarmos a preposição, como fica a frase? As principais preposições, consideradas essenciais, são: a, ante, após, até, com, contra, de, desde, em, entre, para, perante, por, sem, sob, sobre, trás As consideradas acidentais são as palavras emprestadas, por assim dizer, de outras classes gramaticais, como conjunções e advérbios que funcionam como preposições. Por exemplo: Cedi segundo a minha vontade de engravidar. Frequentemente, usamos as preposições contraídas e nem nos apercebemos disso, veja: Neste inverno iniciarei minha dieta. Contração da preposição em + o pronome demonstrativo este = neste. Outras contrações: De + o = do De + a = da De + esta = desta De + este = deste Em + o = no Em + a = na Em + este = neste Em + esta = nesta Agora, vamos abordar a locução, que é a junção de dois termos, mas que equivalem a um único sentido. A locu- ção pode ser adjetiva, adverbial, conjuntiva, prepositiva e verbal. Desta última trataremos no final, assim já ini- ciaremos o assunto verbos e suas flexões. Acesse o link e saiba mais sobre o uso das preposições em: http://portugues.uol.com.br/ gramatica/preposicoes.html. Acesso em: 22 de jun. 2017. 32 Morfologia Contextualizada | Unidade 2 -O que são classes de palavras? Para facilitar a sua aprendizagem, exemplificaremos os tipos de locução: • Ajuda de compadre. = expressa ideia de parceiro, amigo, vem acompanhada do substantivo “ajuda”, é uma locução adjetiva. • Nossa casa faz sol de tarde. = expressa noção de tempo, mas acompanha o substantivo “sol”, logo é uma locução adjetiva. • Pediu a noiva em casamento às vésperas da formatura dela. = expressa tempo, locução adverbial de tempo. • A filha carinhosamente foi zelosa para com o pai. = expressa finalidade, locução prepositiva, devido às preposições: para / com. • Ficaremos calmos, contanto que ninguém se machuque. = expressa uma condição, é locução conjuntiva. • Sempre estou saindo quando você chega. = expressa uma ação, então é uma locução verbal. Portanto, para você identificar o tipo de locução, basta atentar para o sentido, o valor, a ideia que ela expressa, e, quando for uma locução adjetiva, ela virá acompanhada de um substantivo. Você também deve ter percebido que a locução verbal apareceu com dois verbos (estou/saindo), normalmente é assim mesmo, contudo precisamos prestar atenção à sua regra básica: Quadro 2.8 – Regra básica da locução verbal. Composição de uma locução verbal: Verbo Auxiliar = ser - ter - estar - haver - ir - poder - dever - crer - saber, etc. + uma forma nominal verbal = infinitivo - gerúndio - particípio Fonte: Do autor. Veja mais alguns exemplos: • A mãe pode alimentar o filho. Verbo “alimentar” no infinitivo. • Havia aprendido toda a tarefa. Verbo “aprendido” no particípio. • Estamos amando a nova casa. Verbo “amando” no gerúndio. A partir de agora, trataremos dos verbos e suas flexões. Vamos recapitular antes a definição de verbo: designa ação, estado ou fenômeno. Figura 2.2 – Definição de verbo Fonte: Do autor. 33 Morfologia Contextualizada | Unidade 2 -O que são classes de palavras? Os verbos flexionam-se em pessoa, número, modo e tempo, lembrando que pessoa se refere à 1ª, 2ª e 3ª do sin- gular e do plural = eu – tu – ele(a) ou você – nós – vós – eles(as) ou vocês. Já o modo pode ser indicativo (expressa ação, estado ou fenômeno com a certeza de sua ocorrência), subjuntivo (oposto do indicativo, expressa dúvida, incerteza) ou imperativo (expressa ordem, pedido, conselho, de forma afirmativa e negativa, a partir da 2ª pessoa do singular). Também o verbo flexiona-se no tempo: presente, passado e futuro. Com base na explicação sobre os modos como um verbo é expresso num discurso, analisaremos cada tempo verbal nas orações a seguir: Conforme Bechara (2009, p.182): Os tempos do verbo são: a) presente – em referência a fatos que se passam ou se estendem ao momento em que falamos: eu canto; b) pretérito – em referência a fatos anteriores ao momento em que falamos e subdividido em imperfeito, perfeito e mais-que-perfeito: cantava (imperfeito), cantei (perfeito) e cantara(mais-que-perfeito); c) futuro – em referência a fatos ainda não realizados e subdividido em futuro do presente e futuro do pretérito: cantarei (futuro do presente), cantaria (futuro do pretérito), que implica também a modalidade condicional Entretanto, existem algumas regras para saber como conjugar os verbos nas três conjugações, tanto para os regulares — aqueles cujo radical permanece inalterado — quanto para os irregulares — cujo radical se altera — conforme o tempo e o modo em que se encontrem: Quadro 2.9 – Conjugação verbal MODO INDICATIVO TEMPO PRESENTE 1ª conjugação 2ª conjugação 3ª conjugação Eu gravo creio uno Tu gravas crês unes Ele grava crê une Nós gravamos cremos unimos Vós gravais credes unis Eles gravam creem unem TEMPO PRETÉRITO PERFEITO 1ª conjugação 2ª conjugação 3ª conjugação Eu gravei cri uni Tu gravaste creste uniste Ele gravou creu uniu Nós gravamos cremos unimos Vós gravastes crestes unistes Eles gravaram creram uniram 34 Morfologia Contextualizada | Unidade 2 -O que são classes de palavras? TEMPO PRETÉRITO IMPERFEITO 1ª conjugação 2ª conjugação 3ª conjugação Eu gravava cria unia Tu gravavas crias unias Ele gravava cria unia Nós gravávamos críamos uníamos Vós graváveis críeis uníeis Eles gravavam criam uniam TEMPO PRETÉRITO MAIS-QUE-PERFEITO 1ª conjugação 2ª conjugação 3ª conjugação Eu gravara crera unira Tu gravaras creras uniras Ele gravara crera unira Nós graváramos crêramos uníramos Vós graváreis crêreis uníreis Eles gravaram creram uniram TEMPO FUTURO DO PRESENTE 1ª conjugação 2ª conjugação 3ª conjugação Eu gravarei crerei unirei Tu gravarás crerás unirás Ele gravará crerá unirá Nós gravaremos creremos uniremos Vós gravareis crereis unireis Eles gravarão crerão unirão TEMPO FUTURO DO PRETÉRITO 1ª conjugação 2ª conjugação 3ª conjugação Eu gravaria creria uniria Tu gravarias crerias unirias Ele gravaria creria uniria Nós gravaríamos creríamos uniríamos Vós gravaríeis creríeis uniríeis Eles gravariam creriam uniriam 35 Morfologia Contextualizada | Unidade 2 -O que são classes de palavras? MODO SUBJUNTIVO TEMPO PRESENTE 1ª conjugação 2ª conjugação 3ª conjugação Eu grave creia una Tu graves creias unas Ele grave creia una Nós gravemos creiamos unamos Vós graveis creais unais Eles gravem creiam unam TEMPO PRETÉRITO IMPERFEITO 1ª conjugação 2ª conjugação 3ª conjugação Eu gravasse cresse unisse Tu gravasses cresses unisses Ele gravasse cresse unisse Nós gravássemos crêssemos uníssemos Vós gravásseis crêsseis unísseis Eles gravassem cressem unissem TEMPO FUTURO 1ª conjugação 2ª conjugação 3ª conjugação Eu gravar crer unir Tu gravares creres unires Ele gravar crer unir Nós gravarmos crermos unirmos Vós gravardes crerdes unirdes Eles gravarem crerem unirem Fonte: <www.conjuga-me.net> O que percebemos? A semelhança nas terminações dos verbos nos três tipos de conjugação (ar – er – ir), usando verbos regulares, como “gravar”/“unir” e um verbo irregular, como “crer”. Uma boa maneira de saber de cor como conjugar os verbos é treinar, então acesse o link a seguir, insira qualquer verbo e fique craque! Disponível em: http://www.conjuga-me.net. Acesso em: 22 de jun. 2017. 36 Morfologia Contextualizada| Unidade 2 -O que são classes de palavras? Propositadamente, deixamos para o final deste nosso estudo os verbos no modo imperativo afirmativo e nega- tivo, que se iniciam a partir da 2ª pessoa do singular - tu. Para você compreender de uma forma mais acessível, analise o esquema: IMPERATIVO AFIRMATIVO - tu (2ª pessoa do singular) / vós (2ª pessoa do plural) = PRESENTE DO INDICATIVO sem a letra s AFIRMATIVO Grava tu Gravai vós IMPERATIVO AFIRMATIVO - você(s) / ele(a) (s) (3ª pessoa do singular e do plural) = PRESENTE DO SUBJUNTIVO IMPERATIVO NEGATIVO - NEGATIVO Não + PRESENTE DO SUBJUNTIVO + pronome Exemplos: Não creias tu / Não unas tu Desse modo, vimos que os verbos são bem usuais para nós, ou seja, fazem parte dos nossos discursos diários, e que variam, porque podem ser flexionados. Há também a flexão que ocorre conforme aquilo que é expresso pelo verbo em relação ao sujeito da oração, dividindo-se em: • VOZ ATIVA: Fiz as minhas unhas. • VOZ PASSIVA: As minhas unhas foram feitas por mim. • VOZ REFLEXIVA: Feri-me com minha unha. O que você pôde compreender disso? Simples, não é? A voz ativa designa uma ação praticada pelo sujeito do discurso, ou seja, por aquele que a realiza; a voz passiva inverte essa ordem, isto é, o sujeito do discurso recebe a ação; e a voz reflexiva é a ação realizada e recebida pelo sujeito simultaneamente. 37 Considerações finais Chegamos ao fim desta unidade de estudo sobre as classes gramaticais e as flexões verbais. Compreendemos que as palavras utilizadas por nós estão agrupadas em categorias com significados próprios, as quais se encontram muitas vezes em uma mesma oração. Portanto, listaremos os principais assuntos vistos nesta aula: • Definição de classe gramatical. • Categorias gramaticais do campo morfológico. • Os verbos e suas flexões. Referências bibliográficas 38 BECHARA, Evanildo. Moderna gramática portuguesa. 37. ed. rev. e ampl. Rio de Janeiro: Lucerna, 2012. FERREIRA, Maria Aparecida S. de Camargo. A linguística e o ensino de língua portuguesa. São Paulo: Martins Fontes, 1997. Sites consultados: www.conjuga-me.net. Acesso em: 22 de jun. 2017. Sítio de Língua Portuguesa. Site do UOL. Disponível em: www.portugues. uol.com.br. Acesso em: 22 de jun. 2017. Morfologia Contextualizada 1ª edição 2017 Morfologia Contextualizada 3 42 Unidade 3 Construindo o conceito da palavra Para iniciar seus estudos Nesta unidade, estudante, vamos observar o comportamento da palavra, contextualizando-a e analisando alguns de seus formatos, a partir do pro- cesso de derivação. Também, abordaremos a capacidade de utilizarmos a linguagem, resultante da construção da palavra, pontuando a importân- cia histórica na sua evolução, além de como se forma e produz sentido. Ainda, você compreenderá, de modo simples, a diferença entre um morfema derivacional e flexional e seus subtipos, bem como a defi- nição de morfema relacional, sinalizando-os em um sistema aberto e fechado da língua. Assim, desejo a você um ótimo aproveitamento desta matéria, bom estudo! Objetivos de Aprendizagem • Conhecer os eixos da linguagem; • Entender os tipos de morfemas flexionais; • Esclarecer as diferenças entre significação gramatical e lexical; • Entender como ocorre a construção do conceito da palavra. 43 Morfologia Contextualizada | Unidade 3: Construindo o conceito da palavra 3.1 O Contexto da Palavra Podemos iniciar o nosso estudo sobre a palavra revelando a você que ela sempre pertence a um determinado contexto, mesmo isoladamente. Por contexto, entendemos a relação que existe entre duas ideias ou dois fatos que são instrumentalizados pela palavra, isto é, por um discurso, por um texto. Note que a palavra (Fogo!), mesmo analisada isoladamente, constitui um sentido, logo compreendemos que algo está incendiando ou alguém está se queimando. Ou seja, o contexto ou a circunstância é interpretado por meio da palavra. A palavra também diz respeito à unidade que contempla as classes gramaticais, como os substantivos, verbos, pronomes etc., contudo, ela se atém apenas ao significado e não à flexão dessas classes. Figura 3.1 – Exemplo de palavra e flexão. O substantivo alface em processo flexional. Fonte: Elaborada pelo autor. As palavras são agrupadas em cinco categorias, as quais veremos a seguir: • Sinônimos → palavras cujo sentido é igual ou semelhante. Ex.: carro/automóvel. • Antônimos → palavras cujo sentido é oposto. Ex.: cheio/vazio. • Polissemia → uma mesma palavra cujos sentidos variam a depender do contexto. Ex.: tesouro (ouro, preciosidade/afetividade). • Homônimos → palavras que se assemelham na escrita ou na pronúncia, mas cujos sentidos diferem. Ex.: acento (sinal de pontuação)/assento (móvel para se sentar). • Parônimos → palavras muito semelhantes na escrita e na pronúncia, mas cujos sentidos diferem. Ex.: fluir (transcorrer)/fruir (desfrutar). Com relação aos HOMÔNIMOS, eles podem ser: • Perfeitos: grafia e pronúncia idêntica. Ex.: verão (estação do ano)/verão (verbo na 3ª pessoa do plural). • Homógrafos: grafia idêntica, mas pronúncia e sentido diferentes. Ocorre comumente com palavras de diferentes classes gramaticais. Ex.: Cor (substantivo)/de cor (locução adverbial). • Homófonos: pronúncia idêntica, mas grafia e sentido diferentes. Ex.: sem (falta, preposição)/cem (numeral). 44 Morfologia Contextualizada | Unidade 3: Construindo o conceito da palavra Com esse conteúdo a seguir, você saberá mais sobre as palavras homônimas e parônimas, tenha acesso a uma lista! Disponível em: <http://www.fenixonline.com.br/modulo_profes- sor/upload/arqs_professor/2015-03-24_11-12-33_baed0295-70d1-31f2.pdf>. Acesso em: 26 jun 2017. 3.1.1 Definição de linguagem De um modo resumido, podemos definir linguagem como sendo um sistema de comunicação, isto é, que nos possibilita interagir com as outras pessoas, expressar o que pensamos, sentimos, queremos, enfim, baseia-se em um código, que é a língua, composta por regras gramaticais comuns a todos os falantes e escritores do idioma utilizado. A linguagem não se limita ao uso da palavra, pois, para existir a linguagem, também se utiliza de imagens, símbo- los, sinais, sons e gestos. Entretanto, o nosso foco é a palavra, que se insere na linguagem verbal. Segundo Bondarenco; Galush; Moya (2011), Com base nos pressupostos da Teoria histórico-cultural, a linguagem desempenha um papel fun- damental no desenvolvimento das funções psicológicas superiores, pois enquanto uma faca é um instrumento que potencializa a ação do homem sobre a natureza, a linguagem atua no con- trole das ações psicológicas do sujeito como um elemento mediador interno. Isso explica que a linguagem é um instrumento que media as relações estabelecidas por nós, sendo uma base para a nossa racionalidade. Com a evolução da cultura humana e as modificações operadas na natureza, o homem fica sujeito às transformações ocorridas nesse meio, consequentemente, as funções superiores também são modificadas, considerando que o desenvolvimento dessas funções é um processo histórico e assume diferentes formas, de acordo com o contexto da cultura de cada época. Pois, quanto mais o indivíduo apropria-se da cultura material e intelectual produzida, mais ele se humaniza (PORO- LONICZAK, 2017). O que podemos perceber com todas essas informações acerca da linguagem? Ela é responsável pelo nosso desenvolvimento psíquico, humano, educativo e social, que contribui para as transformações necessárias no mundo, incluindo em nós mesmos. Ainda, com base nos estudos de Perini (2010), o uso da linguagem nos apropria da possibilidade de construirmos enunciados, levando em conta a forma e o conteúdo em si, que refletem aspectos fonológicos, morfológicos, sintáticos e semânticos, sendo que estes últimos se atêm na posição, estrutura das palavras e na significação delas, conforme o contexto. 45 Morfologia Contextualizada | Unidade 3: Construindo o conceito da palavra 3.1.2Eixos da linguagem Para tratarmos dos eixos da linguagem, é necessário nos aprofundarmos no objeto de estudos morfológicos, que é a palavra e suas unidades mínimas (morfemas), pois, ao considerarmos que a palavra engloba valores diferentes a partir da posição que ocupa em um enunciado, ao estabelecer relação de forma ou sentido, entenderemos a palavra de modo paradigmático e sintagmático. Assim, no campo do sentido, ou no eixo paradigmático, a relação entre as palavras dá-se com aquilo que guar- damos em nossa memória, quando, por exemplo, substituímos uma palavra por outra, isto é, por um sinônimo, já que o sentido é equivalente. Eixo: centro de algo. Glossário E, no campo da forma, podemos atribuir relação entre palavras cujas terminações ou sufixos, por exemplo, sejam idênticos, como ocorre com orador – agitador – vendedor. Tanto no campo do sentido quanto no da forma, as palavras pertencem ao mesmo paradigma, por isso estão em um eixo paradigmático. Paradigma: modelo ou padrão. Glossário Entretanto, no eixo sintagmático, as relações entre as palavras não estão em sua forma, em suas unidades de sentido, mas no enunciado onde elas aparecem, na posição que ocupam. Essas relações que as palavras esta- belecem nesse eixo se refletem nas classes gramaticais a que elas pertençam: As facas foram lavadas. O artigo definido as se relaciona com o substantivo facas em uma relação entre termo determinante e determinado, enquanto que o sintagma nominal facas se relaciona com o sintagma verbal: foram lavadas. Sintagma: unidade de sentido, forma orações. Glossário 46 Morfologia Contextualizada | Unidade 3: Construindo o conceito da palavra Perceba que o eixo paradigmático trata de relações que ocorrem entre as palavras mnemo- nicamente, a partir da análise de seus morfemas e, claro, de seu sentido isolado. O eixo sin- tagmático trata das relações entre as palavras a partir da análise do enunciado no qual elas estão inseridas, no arranjo entre elas, em que uma complementa o sentido da outra. 3.2. Flexão de morfemas Para ajudar você a compreender de uma forma fácil como ocorre a flexão dos morfemas, que são as unidades mínimas de uma palavra, precisamos nos ater à ideia de que eles, quando combinados, estruturam o vocabulário, ao mesmo tempo em que apontam valores gramaticais. Veja isso por meio de um exemplo: o morfema felic + i +dade = substantivo. radical sufixo vogal de ligação A partir daí, percebemos que a morfologia, que é o estudo da formação e estrutura da palavra e de suas unidades mínimas (morfemas), concentra-se tanto na derivação das palavras quanto na flexão, sendo que o primeiro pro- cesso possibilita que se formem novas palavras por meio da palavra primitiva (originária); e o segundo especifica a palavra, ou seja, CLASSIFICA-A. Resumindo para você: Figura 3.2 – Diferença entre Derivação e Flexão. Definição de derivação e flexão de palavras. Fonte: Elaborada pelo autor. 47 Morfologia Contextualizada | Unidade 3: Construindo o conceito da palavra Antes de vermos as diferenças principais entre os aspectos derivacionais e flexionais, pense em uma frase qual- quer. Considere os elementos dessa sua frase: desinência de gênero e plural, por exemplo. Depois, pense em uma das palavras de sua frase que se originou de outra. Assim: Vi gatos na rua. Temos, nesta oração, a palavra gatos, que carrega a maior importância no enunciado, pois não teria muito sentido se fosse somente: Vi na rua, certo? Logo, gatos possui flexão de gênero (masculino) e de número (plural). PROCESSO FLEXIONAL. Agora note algo diferente: Vi ratazanas na rua. Percebemos que o aumentativo indica uma seleção para a cons- trução do enunciado; no entanto, não é algo que, se não estivesse presente, limitaria a estrutura e significação da palavra, certo? PROCESSO DERIVACIONAL. Ou seja, poderia ser ratos, ratinhos, ratões, quase daria no mesmo! O que concluímos, então, desse primeiro fator que diferencia o processo derivacional do flexional? Pois bem, enquanto o derivacional é um processo opcional, o flexional é obrigatório. Outra diferença que vale ressaltar se refere ao caráter sistemático, homogêneo, pois somente o eixo flexional é estruturado dessa forma: A madrasta incentivava o rapaz a mentir para o pai. Note nas palavras sublinhadas que cada uma delas compõe o todo para que faça sentido. Já no processo derivacional, o caráter é heterogêneo, pois, muitas vezes, perceberemos uma mesma palavra assumir classes gramaticais diferentes: casar (verbo); casa (substantivo); caso (substantivo ou verbo – depen- dendo do contexto). Que tal saber mais uma diferença entre esses dois eixos? O derivacional embasa relações entre as palavras abertas, como vimos no exemplo anterior, em que o radical de uma palavra dá forma a outras, variando a categoria gramatical delas. O flexional se baseia em uma relação fechada entre as palavras, pois cada uma delas possui uma função espe- cífica (a encadear) no enunciado. Vejamos, agora, um pouco sobre o sistema aberto e fechado da língua, a fim de que você compreenda melhor os processos derivacional e flexional das palavras. Figura 3.3 – Sistema aberto X Sistema fechado da língua. Tipos de palavras no sistema aberto e fechado da língua. Fonte: Elaborada pelo autor. 48 Morfologia Contextualizada | Unidade 3: Construindo o conceito da palavra Comumente, por incrível que pareça, vemos mais nos enunciados a presença do sistema fechado de palavras que do aberto, não é? Daqui por diante, trataremos dos tipos de morfemas flexionais, exemplificando-os. Vale iniciarmos essa nossa abordagem com as ideias de Leonard Bloomfield, que define morfema “como uma forma (significativa) recor- rente que não pode, por sua vez, ser analisada novamente em formas (significativas) recorrentes menores”. Retornemos a uma das palavras citadas nos exemplos vistos: CAS/A. O que temos aí? Notamos que o radical da palavra casa é CAS, e a vogal temática nominal é A. Essas são as uni- dades mínimas dos morfemas nas unidades de sentido, pois, para cada uma delas, é atribuída uma significação (radical + vogal temática). O básico que você precisa entender é que MORFEMA = LÉXICO, embora os morfemas analisados sejam conside- rados morfemas lexicais, pois o radical permanece o mesmo: CASEBRE / CASANDO etc. Os morfemas lexicais concentram-se no eixo do léxico, enquanto que os morfemas gramaticais, na gramática. Vejamos por meio de um exemplo. Figura 3.4 – Ilustração de morfemas lexicais e sua significação gramatical. O radical part formando novas palavras. Fonte: Elaborada pelo autor. Antes de darmos continuidade ao nosso estudo, convém que fique clara a diferença também entre morfe e morfema. Segundo Laroca (1994, p. 32), o primeiro é “[...] como segmento mínimo significativo recorrente que representa um dado morfema”. Morfema, por sua vez, designa a combinação de morfes. Como já vimos, os morfemas flexionais referem-se às categorias gramaticais: • Nos nomes e alguns pronomes: variam de gênero (feminino/masculino) e de número (singular/plural). • Nos verbos: variam de modo, tempo, número e pessoa. E ainda, existem cinco subtipos de morfemas flexionais, os quais veremos em um esquema: 49 Morfologia Contextualizada | Unidade 3: Construindo o conceito da palavra Figura 3.5 – Exemplos dos Subtipos de Morfemas Flexionais. Denominações dos morfemas flexionais. Fonte: Adaptada por Junior (1970). Ainda há o morfema denominado suprassegmental, que ocorre quando a diferença entre as palavras consiste na tonicidade de uma das vogais. Veja: Figura 3.6 – Exemplificação de traço tônico em vogais. Adjetivo no masculino e feminino com variação de tonicidade. Fonte: Elaborada pelo autor. 3.2.1 Morfemas Derivacional e Relacional Abordaremos mais um pouco sobre os morfemas derivacionais, como também acrescentaremos uma análise sobre os morfemas relacionais. Iniciaremos, então, por retomar o conceito de derivação, que éa soma de afixos à raiz de uma palavra, a fim de dar-lhe nova forma e sentido, sendo que a raiz de uma palavra é denominada primitiva. Esses afixos podem ser prefixos e/ou sufixos, porque uma mesma palavra pode recebê-los simultaneamente: acastanhar, tal palavra, somada pelo prefixo a=preencher o que falta e o sufixo ar=ação, resulta de um processo de derivação. 50 Morfologia Contextualizada | Unidade 3: Construindo o conceito da palavra Já os morfemas relacionais servem para organizar e conectar as palavras em um enunciado: Os recém-formados que foram selecionados para residência já assinaram o contrato. O que percebemos? No enunciado, há um pronome relativo (que) e uma preposição (para), agrupando os elementos da oração para completar o seu sentido. Acesse o link a seguir e saiba mais sobre os tipos de morfemas. SILVA, A. P. A. UMA QUESTÃO DE TERMINOLOGIA GRAMATICAL A CLASSIFICAÇÃO DOS MORFEMAS. UERJ. Disponível em: http://www.filologia.org.br/viiicnlf/anais/caderno14-20.html. Acesso em: 29 de jun de 2017. 3.2.2 Significação lexical X Significação gramatical Nós escolhemos esses dois autores porque eles representam muito a poesia portuguesa. Camões porque fun- dou-se como um marco, principalmente entre a lírica medieval e a renascentista. Sua poesia influenciou os demais poetas dos séculos seguintes, em forma e em conteúdo, e por essa razão ele é um marco da poesia portuguesa. E Pessoa foi o poeta que quebrou com os parâmetros de Camões no século XX e sugeriu uma nova poesia para Portugal. Os morfemas lexicais consistem no universo extralinguístico da língua, isto é, associa-se à língua, contudo, não faz parte do seu sistema. Relaciona-se ao conhecimento de mundo dos falantes e escritores sobre ela, visto que é possível o acréscimo de outros elementos à palavra, a fim de formar novos sentidos. Ex.: canto → cantoria/cantora/cantarolar. Já para os morfemas gramaticais, são atribuídos significados que compõem o sistema da língua, como é o caso do traço do plural “s”, das preposições, conjunções etc. Ex.: Sol de manhã faz bem. O falante tem um conhecimento intuitivo da possibilidade de combinar um número ilimitado de elementos lexicais com um número reduzido de elementos gramaticais, específicos do português, resultando dessa combinação os vocábulos com que expressa o seu conhecimento do mundo. Essa significação lexical é expressa nos vocábulos por aquilo que, em morfologia, designamos por morfema lexical. Já a significação gramatical corresponde ao que designamos por morfema gra- matical. Um pouco de Morfologia para Começar. 2009. http://www.pead.letras.ufrj.br/tema13/ umpoucodemorfologia.html. Acesso em: 29 de jun. de 2017. Leia o material na sequência para compreender mais a fundo a diferença entre léxico e gra- mática. GONÇALVES, G. F.; BRUM-DE-PAULA, M. R. Léxico & Gramática: uma relação de causa e efeito? UFSM. Disponível em: <revistaseletronicas.pucrs.br/ojs/index.php/fale/article/down- load/5612/4087>. Acesso em: 29 jun 2017. 51 Morfologia Contextualizada | Unidade 3: Construindo o conceito da palavra 3.3 A construção da palavra Você já refletiu sobre a razão de as palavras existirem? Pois bem, nesta parte de nosso material de estudo, dare- mos atenção à construção das palavras, mas, antes, precisamos compreender a sua natureza e suas funções. Vamos começar por afirmar que tudo na vida tem um sentido, constituído por meio da linguagem, e a palavra é um dos instrumentos para significar as coisas, nomeá-las, relacioná-las e, até mesmo, ressignificá-las con- forme nos socializamos. Já vimos que toda palavra tem também a sua história (origem), por isso as consideramos como elementos de materialidade, que, de acordo com o tempo, vão se transformando e, desse modo, significando o mundo. Então, notamos que, sem as palavras, nem haveria cultura, na qual a constância advém das modificações que ocorrem no meio em que vivemos, e que a palavra possui uma materialidade dinâmica que dá forma e sentido a essa transformação. As palavras estão presentes até no universo tecnológico, pois, para entendê-lo, buscamos as informações por meio delas, por um código ou vocabulário específico. Agora, esboçaremos diferentes períodos, baseando-nos na concepção da palavra, da língua, a fim de contri- buir para o seu conhecimento acerca dos aspectos morfológicos, posteriormente. Figura 3.7 – Resumo do processo evolutivo da língua. A língua histórica. Fonte: Junior (1970). Vamos nos apropriar da época atual para analisarmos a palavra, partindo da abordagem gerativa, cujo foco é uma gramática universal, ou seja, composta por fatores sintáticos comuns às demais línguas. Talvez, você deva estar pensando: Como pode haver uma gramática universal se as línguas são diferentes? 52 Morfologia Contextualizada | Unidade 3: Construindo o conceito da palavra Embora as línguas sejam diferentes, sempre é possível saber se um enunciado está bem ou mal formulado. Por- tanto, a gramática gerativa afirma ser fundamental que a linguagem possua recursividade, isto é, possibilidades de construir frases infinitamente. Já no enfoque estruturalista, Câmara Jr. (1970) ressalta que a estrutura do verbo é de natureza flexional e que o nome também apresenta certa complexidade em sua estrutura: escrevo/escreva mos; i nov ar / nov i dade. Enquanto, na gramática gerativa, o léxico constitui-se de uma lista de palavras, na gramática estruturalista, essa mesma lista ganha novos processos: flexão, derivação e composição. A gramática gerativa tem a sua contribuição na nossa língua portuguesa pela possibilidade de inúmeras combinações entre as palavras do nosso léxico, cuja significação ocorre con- forme a presença dessas combinações em enunciados. 3.3.1 Processo flexional, derivacional e composicional da palavra Dessa vez, vamos atentar para os tipos de processos por meio dos quais a palavra é construída, formada e estru- turada para que você os identifique prontamente e, com isso, possa se utilizar da linguagem de modo vasto. Para chegarmos ao conceito de processo flexional, é necessário que nos voltemos aos estudos de Câmara (1970) sobre a diferença entre sexo e gênero gramatical. Segundo o autor, algumas palavras da língua portuguesa, bem como as de outras línguas, isto é, palavras pensadas universalmente, não têm sexo, apenas gênero gramatical: sapato = sem sexo, somente gênero masculino, podendo variar em número (plural). No entanto, o mesmo autor nos chama atenção para a marca da pluralidade nas flexões das palavras, como vimos no exemplo de sapato, pois existem determinados vocábulos em que essa marca equivale tanto para o gênero masculino quanto para o gênero feminino: pais = dois homens que são pais de alguém, ou um casal com filhos. Outro exemplo é avós = os pais da mãe ou do pai / duas avós. Uma questão importante para apontar diante desse assunto é o MORFEMA ZERO ou MORFEMA Ø. Tal morfema representa a marca do gênero masculino e de flexão de número singular de algumas palavras: Caderno = Ø, Isso porque essa palavra no singular é um conjunto vazio. Já os processos derivacional e composicional consistem em estudar as palavras sob a perspectiva sincrônica, na qual as palavras podem ser simples ou compostas. As simples são consideradas primitivas e derivadas, entretanto, somente as últimas se originam das primeiras. Como vimos em outro momento, as palavras derivadas são formadas a partir das primitivas, sendo que o novo acréscimo dado a elas aparece antes e/ou depois do radical. Degustação – amável – ansiosamente (substantivo) (adjetivo) (advérbio) Por meio dos exemplos, podemos constatar que os nomes, já que não se trata de verbos, possuem funções: subs- tantiva – adjetiva e adverbial. 53 Morfologia Contextualizada | Unidade 3: Construindo o conceito da palavra Também, dois tipos de derivação merecem destaque por serem considerados por gramáticos: REGRESSIVA e IMPRÓPRIA. Embora na imagem contenha o assassinato de nosso idioma, ao
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