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texto 8 - A Alegoria da Caverna
“O mito [da caverna] foi sucessivamente visto como símbolo da metafísica platônica, da gnosiologia e da dialética platônicas, e também da ética e da ascensão mística segundo Platão” (Reale)
Sócrates - Agora leva em conta nossa natureza, segundo tenha ou não recebido educação e compara-a com o seguinte quadro: imagina uma caverna subterrânea, com uma entrada ampla, aberta à luz em toda a sua extensão. Lá dentro, alguns homens se encontram, desde a infância, amarrados pelas pernas e pelo pescoço de tal modo que permanecem imóveis e podem olhar tão-somente para a frente, pois as amarras não lhes permite voltar a cabeça. Num plano superior, atrás deles, arde um fogo a certa distância. E entre o fogo e os prisioneiros eleva-se um caminho ao longo do qual imagina que tenha sido construído um pequeno muro semelhante aos tabiques que os titeriteiros interpõem entre si e o público a fim de, por cima deles, fazer movimentar as marionetes.
Glauco - Posso imaginar a cena.
Sócrates - Imagina também homens que passam ao longo desse pequeno muro carregando uma enorme variedade de objetos cuja altura ultrapassa a do muro: estátuas e figuras de animais feitas de pedra, madeira e outros materiais diversos. Entre esses carregadores há, naturalmente, os que conversam entre si e os que caminham silenciosamente.
Glauco - Trata-se de um quadro estranho e de estranhos prisioneiros.
Sócrates - Eles são como nós. Acreditas que tais homens tenham visto de si mesmos e de seus companheiros outras coisas que não as sombras projetadas pelo fogo sobre a parede da caverna que se encontra diante deles?
Glauco - Ora, como isso seria possível se foram obrigados a manter imóvel a cabeça durante toda a vida?
Sócrates - E quanto aos objetos transportados ao longo do muro, não veriam apenas suas sombras?
Glauco - Certamente.
Sócrates - Mas, nessas condições, se pudessem conversar uns com os outros, não supões que julgariam estar se referindo a objetos reais ao mencionar o que vêem diante de si?
Glauco - Necessariamente.
Sócrates - Supões também que houvesse na prisão um eco vindo da frente. Na tua opinião, cada vez que falasse um dos que passavam atrás deles, não acreditariam os prisioneiros que quem falava eram as sombras projetadas diante deles?
Glauco - Sem a menor dúvida.
Sócrates - Esses homens, absolutamente, não pensariam que a verdadeira realidade pudesse ser outra coisa senão as sombras dos objetos fabricados.
Glauco - Sim, forçosamente.
Sócrates - Imagina agora o que sentiriam se fossem libertados de seus grilhões e curados de sua ignorância, na hipótese de que lhes acontecesse, muito naturalmente, o seguinte: se um deles fosse libertado e subitamente forçado a se levantar, virar o pescoço, caminhar e enxergar a luz, sentiria dores intensas ao fazer todos esses movimentos e, com a vista ofuscada, seria incapaz de enxergar os objetos cujas sombras ele via antes. Que responderia ele, na tua opinião, se lhe fosse dito que o que via até então eram apenas sombras inanes e que, agora, achando-se mais próximo da realidade, com os olhos voltados para objetos mais reais, possuía visão mais acurada? Quando, enfim, ao ser-lhe mostrado cada um dos objetos que passavam,fosse ele obrigado, diante de tantas perguntas, a definir o que eram, não supões que ele ficaria embaraçado e consideraria que o que contemplava antes era mais verdadeiro que os objetos que lhe eram mostrados agora?
Glauco - Muito mais verdadeiros.
Sócrates - E se ele fosse obrigado a fitar a própria luz, não acreditas que lhe doeriam os olhos e que procuraria desviar o olhar, voltando-se para objetos que podia observar, considerando-os, então, realmente mais distintos do que aqueles que lhe são mostrados?
Glauco - Sim.
Sócrates - Mas, se o afastassem dali à força, obrigando-o a galgar a subida áspera e abrupta e não o deixassem antes que tivesse sido arrastado à presença do próprio sol, não crês que ele sofreria e se indignaria de ter sido arrastado desse modo? Não crês que, uma vez diante da luz do dia, seus olhos ficariam ofuscados por ela, de modo a não poder discernir nenhum dos seres considerados agora verdadeiros?
Glauco - Não poderia discerní-los, pelo menos no primeiro momento.
Sócrates - Penso que ele precisaria habituar-se, a fim de estar em condições de ver as coisas do alto de onde se encontrava. O que veria mais facilmente seriam, em primeiro lugar, as sombras: em seguida, as imagens dos homens e de outros seres refletidas na água e, finalmente, os próprios seres. Após, ele contemplaria, mais facilmente, durante a noite, os objetos celestes e o próprio’ céu, ao levar os olhos em direção à luz das estrelas e da lua - vendo-o mais claramente do que ao sol ou à sua luz durante o dia.
Glauco - Sem dúvida.
Sócrates - Por fim, acredito, poderia enxergar o próprio sol - não apenas sua imagem refletida na água ou em outro lugar -, em seu lugar, podendo vê-lo e contemplá-lo tal como é.
Glauco - Necessariamente.
Sócrates - Após, passaria a tirar conclusões sobre o sol, compreendendo que ele produz as estações e os anos; que governa o mundo das coisas visíveis e se constitui, de certo modo, na causa de tudo o que ele e seus companheiros viam dentro da caverna.
Glauco - É evidente que chegaria a estas conclusões.
Sócrates - Mas, lembrando-se de sua habitação anterior, da ciência da caverna que ali se cultiva e de seus companheiros de cativeiro, não ficaria feliz por haver mudado e não lamentaria por seus companheiros?
Glauco - Com efeito.
Sócrates - E se entre os prisioneiros houvesse o costume de conferir honras, louvores e recompensas àqueles que fosse m capazes de prever eventos futuros - uma vez que distinguiriam com mais precisão as sombras que passavam e observariam melhor quais dentre elas vinham antes, depois ou ao mesmo tempo -, não crês que invejaria aqueles que as tivessem obtido? Crês que sentiria ciúmes dos companheiros que, por esse meio, alcançaram a glória e o poder, e que não diria, endossando a opinião de Homero, que é melhor lavrar a terra para um camponês pobre do que partilhar as opiniões de seus companheiros e viver semelhante vida?
Glauco - Sim, na minha opinião ele preferiria sustentar esta posição a voltar a viver como antes.
Sócrates - Reflete sobre o seguinte: se esse homem retornasse à caverna e fosse colocado no mesmo lugar de onde saíra, não crês que seus olhos ficariam obscurecidos pelas trevas como os de quem foge bruscamente da luz do sol?
Glauco - Sim, completamente.
Sócrates - E se lhe fosse necessário reformular seu juízo sobre as sombras e competir com aqueles que lá permaneceram prisioneiros, no momento em que sua visão está obliterada pelas trevas e antes que seus olhos a elas se adaptem - e esta adaptação demandaria um certo tempo -, não acreditas que esse homem se prestaria à jocosidade? Não lhe diriam que, tendo saído da caverna, a ela retornou cego e que não valeria a pena fazer semelhante experiência? E não matariam, se pudessem,a quem tentasse libertá-los e conduzi-los para a luz?
Glauco - Certamente.
Sócrates - É preciso aplicar inteiramente esse quadro ao que foi dito anteriormente, isto é, assimilando-se o mundo visível à caverna e a luz do fogo aos raios solares. E se interpretares que a subida para o mundo que está acima da caverna e a contemplação das coisas existentes lá fora representam a ascensão da alma em direção ao mundo inteligível terás compreendido bem meus pensamentos, os quais deseja conhecer mas que só Deus sabe se são ou não verdadeiros. As coisas se me afiguram do seguinte modo: na extremidade do mundo inteligível encontra-se a idéia do Bem, que apenas pode ser contemplado, mas que não se pode ver sem concluir que constitui a causa de tudo quanto há de reto e de belo no mundo: no mundo visível, esta idéia gera a luz e a sua fonte soberana, dispensa a inteligência e a verdade. É ela que se deve ter em mente para agir com sabedoria na vida privada ou pública”.(Platão, A República, livro VII)
Extraído de:
PIETTRE, Bernard.Platão, A República: livro VII. Brasília: UNB, 1985. p.46-51.
Termos fundamentais da dialética platônica
a - IDÉIA (  
	“Idéia, de idein, que quer dizer ver, corresponde a forma. Primeiro significa a forma sensível em geral, depois na linguagem filosófica, assume significado técnico ontológico e metafísico... O termo torna-se famoso com Platão, o qual, em conseqüência das conquistas da “segunda navegação”, chama Idéia a realidade supra-sensível, o modelo, o paradigma inteligível,o ser puro. Platão usa também o termo eidos, como sinônimo, para indicar a idéia.”
b - NOESE (
	“O termo indica pensamento e conhecimento e, particularmente, o conhecimento mais elevado, de caráter prevalentemente imediato. Em Platão, coincide com a forma de pensamento ou conhecimento que capta as Idéias”.
c. DIANOIA (
	“No seu significado genérico, o termo quer dizer razão e pensamento, em oposição à experiência e sensação; na sua significação mais determinada e específica e, portanto, técnica, designa a razão ou pensamento discursivo, ou seja, o pensamento que procede passo a passo, dis-correndo (dia-noein), a saber, mediatamente e não imediatamente. Nesse sentido, dia-noia se opõe a noesis, pensamento intuitivo ou imediato. Essa significação técnica foi fixada tematicamente por Platão”.
d. PISTIS ( 
	“Significa fé. Platão a considera uma forma de opinião e a situa no segundo nível do conhecimento sensível, o que se dirige às coisas e aos objetos sensíveis”.
e. EIKASIA ( 
	“Para Platão, é o primeiro nível da doxa, a saber, o conhecimento sensível voltado para as sombras e para as imagens sensíveis das coisas”.
Extraído de:
REALE, Giovanni. História da Filosofia Antiga. São Paulo: Loyola, 1995, v.5.
“A conversão da inteligência, à qual nos convida a leitura de Platão “e que descreve” “a alegoria da caverna”, consiste em inverter nossos critérios de evidência: as realidades materiais e corporais - que nos parecem bem mais “reais” do que as “quimeras” do Verdadeiro, do Bem, do Belo, do Justo, do Divino...- são, na verdade, quimeras e “ilusões”...(Pietre, B. Platão, A República: Livro VII, p.37). 
Leituras sugeridas:
ANDRADE, Rachel Gazolla. Platão .O cosmo, o homem e a Cidade. Petrópolis: Vozes, 1994
DERRIDA, Jacques. A farmácia de Platão. São Paulo: Iluminuras, 1991.
DROIT, Roger-Pol. Silêncios e comentários. In: _____. A companhia dos filósofos. São Paulo: Martins Fontes, 2002. cap. III. p.56-72
DROZ, Geneviève. Os mitos platônicos. Brasília: UNB, 1997
ERLER, Michael; GRAESER, Andréas (org.) Filósofos da Antiguidade. Dos primórdios ao período clássico. São Leopoldo: Unisinos, 2003 (História da Filosofia)
HARE, R.M. Platão. São Paulo: Loyola, 2000 (Mestres do Pensamento)
HADOT, Pierre. Platão e a Academia. In:______. O que é a filosofia antiga? São Paulo: Martins Fontes, 1999. Cap. 5, p.89-117.
JEANNIÈRE, Abel. Platão. Rio de Janeiro: Zahar, 1995
LIMA VAZ, H.C. Platão revisitado. Ética e Metafísica nas origens platônicas. Síntese. 
Nova Fase.
LIMA VAZ, H.C. A nova Imagem de Platão. Síntese Nova Fase.v.23, n.74 (1996): 399-404.
NUNES, Renato. A filosofia e a educação na República de Platão. Barbarói. n.17 (2002). 
PAULO, Margarida Nichele. Indagação sobre a imortalidade da alma em Platão. Porto Alegre: Edipuc,1996.
PAVIANI, Jayme. Filosofia e Método em Platão. Porto Alegre: EdipucRs, 2001.
PAVIANI, Jayme. Platão & A República. Rio de Janeiro: Zahar, 2003 (Passo –a- Passo)
PIETTRE, B. Platão. A República: livro VII. Brasília: UNB, 1985.
REALE, Giovanni..História da Filosofia. São Paulo: Loyola, 1994. v.2
REALE, Giovanni.. A Filosofia como diálogo. Síntese Nova Fase. v. 24, n.76 (1997):5-10.
ROGUE, Christophe. Compreender Platão. Petrópolis: Vozes, 2005
SOARES, Márcio. A ontologia de Platão. Um estudo das formas no Parmênides. Passo Fundo: UFP, 2001
WILLIAMS, Bernard. Platão. A invenção da Filosofia. São Paulo: Unesp. 2000 (Grandes Filósofos)

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