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texto 14

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texto 14 - A política de Aristóteles: pressupostos da sociedade política e suas partes constitutivas
“O homem é um animal político por natureza, ou seja, é da natureza humana buscar a vida em comunidade e, portanto, a política não é uma simples convenção (nómos) (M. Chauí)
 “A sociedade que se formou da junção de várias aldeias constitui a Cidade, que tem a faculdade de se bastar a si própria, sendo organizada não somente para conservar a existência, mas também para procurar o bem-estar. Por conseguinte, esta sociedade está também, por sua vez, abrangida pelos desígnios da natureza, como todas as outras que constituem os seus elementos. Ora a natureza de cada coisa é precisamente o seu fim. Deste modo, quando um ser é perfeito, qualquer que seja a espécie a que pertença - homem, cavalo, família -, dizemos que pertence à natureza. Além disso, e pela mesma razão, aquilo que ultrapassa as outras coisas e mais se aproxima do fim proposto deve ser considerado como o melhor. Bastar-se a si próprio é um fim para que tende toda a produção da natureza e esse estado é também o mais perfeito. É evidente, portanto, que toda a Cidade pertence à natureza e que o homem é naturalmente feito para a sociedade política. Aquele que pela sua natureza, e não como conseqüência do acaso, existisse sem qualquer pátria seria um indivíduo detestável, muito acima ou muito abaixo do homem, segundo Homero: Um ser sem lar, sem família e sem leis. 
	Aquele que pela sua natureza fosse assim só respiraria guerra, não teria qualquer freio a retê-lo,e, como uma ave de rapina, estaria constantemente pronto a cair sobre os outros.
	Também o homem é um animal político, mais social do que as abelhas e outros animais que vivem em comunidade. A natureza, que nada faz em vão, só a ele concedeu o dom da palavra, dom que não se pode confundir com o emitir sons. Os sons mais não são do que a expressão de sensações agradáveis ou desagradáveis que os outros animais, tal como nós próprios, são capazes de emitir. a natureza dotou-os com um órgão limitado para esse efeito; mas, pela nossa parte, temos, além disso, senão o conhecimento desenvolvido, pelo menos o sentimento obscuro do bem e do mal, do útil e do prejudicial, do justo e do injusto, para manifestação dos quais nos foi concedido especialmente o órgão da palavra. É esta troca de palavras que é o laço de união de qualquer sociedade doméstica e política.
	O Estado, ou sociedade política, é mesmo o primeiro objeto que a natureza se propôs. O todo é, necessariamente, anterior à parte. As sociedades domésticas e os indivíduos mais não são do que as partes integrantes da Cidade, totalmente subordinadas ao corpo na sua totalidade, perfeitamente distintas pelas suas capacidades e pelas suas funções e completamente inúteis se separam, semelhantes às mãos e aos pés, que, uma vez separados do corpo, só conservam o nome e a aparência, sem qualquer realidade, como acontece com uma mão de pedra. O mesmo se passa com os membros da Cidade; nenhum pode bastar a si próprio. Quem quer que seja que não tenha necessidade dos outros homens ou que não seja capaz de viver em comunidade com eles ou é um deus ou um animal” (p.7-8)
	“Se todas as artes precisam de instrumentos próprios para o seu trabalho, a ciência da economia doméstica também deve ter os seus. Dos instrumentos, uns são animados, outros inanimados... Do mesmo modo a propriedade é um instrumento essencial à vida, a riqueza uma multiplicidade de instrumentos, e o escravo uma propriedade viva...
	Fica demonstrado claramente o que é o escravo em si e o que pode ser. Aquele que não se pertence mas pertence a outro, e, no entanto, é um homem, esse é escravo por natureza. Ora, se um homem pertence a outro,e ,no entanto, é um homem, esse é escravo por natureza. Ora se um homem pertence a outro, é uma coisa possuída,mesmo sendo homem. E uma coisa possuída é um instrumento de uso, separado do corpo ao qual pertence...
	Há na espécie humana indivíduos tão inferiores a outros como o corpo o é em relação à alma, ou a fera ao homem; são os homens nos quais o emprego da força física é o melhor que deles se obtêm. Partindo dos nossos princípios, tais indivíduos são destinados, por natureza, à escravidão; porque para eles nada é mais fácil que obedecer. Tal é o escravo por instinto: pode pertencer a outrem, e não possui razão além do necessário para dela experimentar um sentimento vago; não possui a plenitude da razão...” (p.10-4)
Extraído de:
ARISTÓTELES. Política. Lisboa: Publicações Europa-América. 1977, p.7-14.
Leituras complementares:
CHAUÍ, Marilena. Aristóteles: a filosofia como a totalidade dos saberes. In: ____.Introdução à História da Filosofia. Dos pré-socráticos a Aristóteles. São Paulo: Brasiliense,1994,p.231-332
PHILIPPE, Marie-Dominique. Introdução à Filosofia de Aristóteles. São Paulo: Paulus, 2002.
REALE, G. História da Filosofia Antiga. São Paulo: Loyola, 1994. v. 2. p.432-49.
SILVEIRA, Denis Coitinho. Os sentidos da justiça em Aristóteles. Porto Alegre: EdipucRs, 2001. (Filosofia, 121).
STIRN, François. Compreender Aristóteles. Petrópolis: Vozes, 2006.
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