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Texto 13- Aristóteles: conceitos fundamentais da ética
 “A felicidade não é a vida de um só dia, nem de pouco tempo, mas de uma vida inteira” (Aristóteles))
 “Desde as primeiras linhas da “Ética a Nicômaco”, Aristóteles apresenta uma definição do bem que, de saída, poderia nos surpreender. O bem, diz ele, é “aquilo que todos desejam” e não, note-se, o que deveriam desejar. Em outras palavras, o bem não é definido como a 
obediência a uma lei imperativa, mas como a realização, a concretização de uma natureza. Todo ser, enquanto em potência, tende para seu ato. É precisamente essa realização de sua natureza que denominamos seu fim, sua perfeição, seu bem. Ora, o que todos homens desejam é a felicidade, isto é, um prazer sólido, durável. Todavia, o prazer mesmo não é o fim da atividade, mas o eco subjetivo de seu sucesso , o sinal de que a ação foi efetivamente realizada, uma espécie de ornamento que se acrescenta à atividade normal, como à juventude o seu viço.
Para conhecer a moral, será necessário, portanto, conhecer a natureza do homem, saber qual é a sua finalidade própria, qual atividade que lhe convém naturalmente, qual o seu oikeion ergon. A idéia grega de virtude não implica, de modo algum, num esforço por escapar à própria natureza. Ao contrário, toda função natural que se realiza perfeitamente é uma areté, uma virtude - a virtude do olho é bem ver -. As virtudes são funções normais da natureza humana que atingem o pleno desenvolvimento, a perfeição de seu exercício.
Ora, a função que caracteriza o homem propriamente é a atividade racional. É certo que, como as plantas, o homem possui uma alma vegetativa e, como os animais, uma alma sensitiva, isto é, o princípio de suas funções orgânicas e instintivas. Mas só a alma racional diferencia o homem de todos os outros animais. Só ela define logicamente e constitui ontologicamente sua natureza, sua forma, seu fim, e conseqüentemente, seu bem próprio. O único problema da ética, portanto, é o seguinte: como agir para se levar uma vida de acordo com a razão?
Existe, de início, uma forma perfeita da vida racional. É a vida contemplativa, a do sábio inteiramente consagrado à meditação. Aqui o intelecto atinge a pura fruição de si mesmo; é a participação do Ato puro. O sábio, portanto, está tão perto de Deus quanto possível (visto que Deus é pensamento de pensamento).
Mas a contemplação, que supõe o lazer e a ciência, não é acessível a todos. O próprio sábio não pode dedicar todos seus momentos à meditação. É preciso viver com seus semelhantes, em sociedade; “o homem é um animal político”, diz Aristóteles. Um homem sem vida social seria “um animal ou um Deus”. Mas,bem entendido, é a razão que deve assumir a direção dessa vida cotidiana, a fim de dominar as paixões e criar bons hábitos. Pois, para Aristóteles, não há virtude sem hábito (uma andorinha não faz verão, diz ele, assim como um ato isolado de generosidade não nos faz generosos). Ele distingue as virtudes dianoéticas, isto é, os hábitos método e de reflexão que devem orientar a vida intelectual, e as virtudes éticas que definem o que chamamos de uma conduta moral. Essas virtudes consistem em evitar o excesso e a falta. Uma ação é perfeita quando atinge a medida conveniente, o justo meio sem ir além ou aquém. A virtude é como uma cumieira na qual a arte ética nos mantém entre duas vertentes opostas de vícios. Desse modo, o justo meio não é uma ficção como uma média estatística, nem uma banal e desoladora mediocridade, mas uma perfeição rara. Nesse sentido, pode-se pecar de diversos modos, mas só se é virtuoso de uma só maneira. “O mal é (da ordem) do infinito, diz Aristóteles, o bem do finito, uma vez que só podemos nos conduzir bem de uma única maneira”. A coragem é um ponto de perfeição eqüidistante da covardia e da temeridade. A temperança é tão afastada do deboche quanto da insensibilidade. A altivez evita não só a insolência quanto a baixeza, a veracidade se afasta tanto da indiscrição quanto da dissimulação. Essa via média, cimo entre duas vertentes, é portanto um ideal muito exigente. A mesotés é uma acrotés “.
Extraído de:
HUISMAN,D. e VERGEZ, A.História dos filósofos ilustrada pelos textos. Rio de Janeiro: Freitas Bastos, 1980. p.45-8.
Leituras complementares:
ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco. São Paulo: Abril Cultural, 1989 (Os Pensadores)
CHAUÍ, M. Introdução à História da Filosofia. Dos pré-socráticos à Aristóteles. São Paulo: Brasiliense, 1944.
ERLER, Michael;GRAESER, Andreas. Filósofos da Antiguidade. Dos primórdios ao período clássico. São Leopoldo: Unisinos, 2003, p.205-228.
PECORARO, Rossano (org.) Os Filósofos. Clássicos da Filosofia. Petrópolis: Vozes/PucRJ, 2008.
PHILIPPE, Marie-Dominique. Introdução à Filosofia de Aristóteles. São Paulo: Paulus, 2002
REALE, Giovanni. História da Filosofia Antiga. São Paulo: Loyola, v.2, p. 405-32.
SANGALLI, Idaldo José. O fim último do homem. Da eudamonia aristotélica à beatitudo agostiniana. Porto Alegre: Edipucrs, 1998 (Filosofia, 80)
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