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PRIMEIRA TUTORIA MÓDULO DOR-24/02/2021 1. Definir dor, classificá-la quanto à sua origem e seus fatores desencadeantes. Apesar de a Associação Internacional para o Estudo da Dor (IASP) ter definido a dor como uma sensação subjetiva relacionada com uma lesão tissular, há evidências que essa associação possa não ocorrer. A cefaléia e a dor pélvica crônica, por exemplo, parecem existir sem lesão tissular detectável pelos métodos diagnósticos disponíveis na prática clínica atual, favorecendo a hipótese de que pode haver alterações neurofuncionais restritas ao âmbito biomolecular, cuja interação é pouco conhecida entre neuromediadores, neurotransmissores e transdutores de sinais, em uma rede de bilhões de sinapses, o que dificulta a compreensão da etiologia da dor . Por outro lado, o trauma e a estimulação do sistema nervoso periférico ou central também podem alterar as respostas imunes. Como consequência, observa-se a ativação de peptídeos e receptores, com posterior tradução do sinal para o meio intracelular. Nesse contexto, o avanço no conhecimento da neuroanatomia das vias de condução, da neurofarmacologia e da fisiopatologia da dor facilita o desenvolvimento de pesquisas visando a novas modalidades de tratamento. Assim, a analgesia efetiva para as síndromes dolorosas ainda é um grande desafio. A Associação Internacional para Estudo da Dor (International Association for the Study of Pain: IASP) conceitua a dor como “experiência sensorial e emocional desagradável, que é associada ou descrita em termos de lesões teciduais". Uma definição mais recente descreve dor como: "uma percepção somática contendo: (1) uma sensação corporal com qualidades, tais como aquelas relatadas durante a estimulação que danifica o tecido, (2) uma ameaça experimentada associada com essa sensação, e (3) uma sensação de desconforto ou outra emoção negativa com base nessa ameaça experimentada" No Brasil e em outros países 10% a 50% dos indivíduos procuram clínicas-gerais por causa da dor. A dor está presente em mais de 70% dos pacientes que buscam os consultórios brasileiros por motivos diversos, sendo a razão de consultas médicas em um terço dos casos. Dor: Aspectos Atuais da Sensibilização Periférica e Central- Rev Bras Anestesiol ARTIGO DE REVISÃO 2007 A percepção corporal da dor, conhecida como nocicepção, envolve mecanismos neurais complexos, que não são completamente compreendidos em suas etapas. Didaticamente, podemos dividir essas vias em quatro componentes básicos: - nociceptores: terminações livres de fibras aferentes primárias que respondem a estímulos de uma ampla variedade de tecidos. De acordo com o local de origem e tipo de fibra neural envolvida, podem ser ativados por diferentes estímulos, de natureza térmica, química ou mecânica. - tratos nociceptivos ascendentes: principalmente os tratos espinotalâmico e espino hipotalâmico, vias que conectam, através do corno posterior da medula espinhal, os nociceptores aos centros de processamento superior. As células desses tratos possuem receptores específicos para neurotransmissores e mediadores bioquímicos excitatórios (como glutamato e substância P) e inibitórias (GABA, glicina). - centros mais elevados no SNC: estão envolvidos na discriminação e interpretação consciente da dor (aspectos afetivos e relacionados à memória), e no controle motor relacionado à resposta imediata aversiva aos estímulos doloroso - sistemas inibitórios descendentes da dor: podem modular intensamente condução de sinal nos tratos ascendentes, através de 3 componentes principais: o sistema opióide, noradrenérgico e serotoninérgico. A dor surge em decorrência de lesões ou anormalidades funcionais em um ou mais desses componentes. Dessa maneira, pela fisiopatologia, podem ser diferenciados 3 tipos de dor: nociceptiva, neuropática ou mista. A dor nociceptiva tem importância na sobrevivência do organismo; trata-se do reconhecimento, pelos nociceptores, de um estímulo nocivo, desencadeando uma resposta motora adequada voltada para afastar esse estímulo. Tem relação direta, portanto, com lesão tecidual potencial ou já instalada. ❖ De acordo com o tipo de órgão ou tecido acometido, pode se dividir em dois subtipos: somática (pele, músculos, ossos e articulações) ou visceral (órgãos internos). A dor somática costuma ser melhor definida, descrita como facada, pontada, com localização bem relacionada ao estímulo doloroso. A dor visceral, por sua vez, tende a ser mais vaga, descrita como cólica, peso ou pressão, de localização mal definida ou mesmo referida (distante da origem do estímulo nociceptivo). A dor neuropática resulta de lesões anatômicas do sistema nervoso, tendo como característica a sensação de queimação ou ferroada. Pode vir associada a outros fenômenos neuropáticos, como sensação de choques, formigamentos, hipoestesia, alodinia (sensação álgica desencadeada por estímulos não dolorosos), hiperalgesia (dor desproporcional ao estímulo desencadeante). ❖ Decorre de danos no sistema nervoso periférico - por exemplo, neuropatia diabética, neuralgia pós-herpética ou radiculopatia lombar - ou, mais raramente, de lesões no sistema nervoso central (lesão da medula espinhal, esclerose múltipla ou acidente vascular cerebral). Alguns autores definem um quarto tipo de dor, por vezes classificada como “dor funcional”. Esta ocorre em alguns processos crônicos, onde não há uma lesão anatômica propriamente dita, relacionando-se a anormalidades funcionais e a fenômenos de neuromodulação nas vias previamente descritas. Estão incluídas nessa categoria, a fibromialgia, a síndrome do intestino irritável, a cefaléia tensional e algumas formas de dor torácica não-cardíaca. . Em condições fisiológicas, os potenciais de ação que percorrem os neurônios aferentes primários têm origem apenas nos terminais periféricos desses neurônios. Para o efeito, dispõem localmente dos receptores e canais iónicos qualitativamente e quantitativamente apropriados, sendo de salientar, pela sua importância funcional na génese dos potenciais de ação, os canais de sódio dependentes da voltagem (VDNC). Estes canais iónicos, como a esmagadora maioria das proteínas neuronais, são sintetizados no pericário (citoplasma) do neurônio e transportados para os terminais periféricos. Quando ocorre uma lesão da fibra nervosa, por exemplo uma secção traumática de um nervo periférico, seja ela de causa acidental ou no decurso de uma intervenção cirúrgica, o segmento distal das fibras nervosas degenera, enquanto a parte proximal, aquela que se mantém em contacto com o corpo celular, vai proliferar distalmente e formar uma massa de fibras nervosas pouco organizada designada por neuroma. Assim, os receptores e canais iônicos sintetizados no pericário, nomeadamente os VDNC, vão começar a acumular-se no neuroma, tornando-o particularmente sensível a estímulos externos, bem como à estimulação pelo sistema nervoso simpático Mas não é necessário haver interrupção total da fibra nervosa para aparecerem focos ectópicos. As fibras nervosas mielínicas possuem uma concentração muito diminuta de VDNC nas zonas recobertas pela mielina, devido a uma ação inibidora local dependente da própria mielina. Aqueles canais localizam-se preferencialmente nos nós de Ranvier, locais indispensáveis para a condução saltatória do impulso nervoso, onde a fibra não está recoberta pela mielina. Porém, quando uma lesão neuropática provoca uma desmielinização dos neurônios sensitivos, vai haver uma acumulação dos VDNC nas zonas desmielinizadas, que podem tornar-se fonte de impulsos ectópicos OBS.: Existem mesclas dessas classificações bem como outras classificações: A dor é aguda ou crônica? (menos de um mês, entre 1 e 6 meses, mais de 6 meses) É adaptada ou mal adaptada? (adaptada de alerta, trata causa, mal adaptada é cronica e trata a doença) Qual a intensidade da dor?(variável, mas de valor pessoal, 0 a 10 mais usada, porem existem escalas mais dinâmicas e completas,especificas) DOR - PRINCÍPIOS GERAIS Márcio Veronesi Fukuda Carla Romagnolli Quintino2. Compreender a neurofisiologia da dor (reflexos, neurotransmissores, nociceptores e o limiar da dor). O primeiro passo na sequência dos eventos que originam o fenômeno doloroso é a transformação dos estímulos agressivos em potenciais de ação que, das fibras nervosas periféricas, são transferidos para o sistema nervoso central. O tipo de fibra nociceptiva parece estar envolvido com alterações periféricas distintas nas diversas síndromes dolorosas, e poderá, no futuro, contribuir para o tratamento mais eficaz da dor. Os nociceptores, então, são sensibilizados pela ação de substâncias químicas endógenas, denominadas algogênicas, presentes no ambiente tissular: acetilcolina, bradicinina, histamina, serotonina, leucotrieno, substância P, fator de ativação plaquetário, radicais ácidos, íons potássio, prostaglandinas, tromboxana, interleucinas, fator de necrose tumoral (TNFα), fator de crescimento nervoso (NGF) e monofosfato cíclico de adenosina (AMPc). Quando o estímulo provoca a lesão tecidual, há o desencadeamento de processo inflamatório seguido de reparação. As células lesadas liberam enzimas de seu interior, que no ambiente extracelular degradam ácidos graxos de cadeia longa e atuam sobre os cininogênios, dando origem à formação de cininas. As cininas são pequenos polipeptídeos da α2-calicreína presente no plasma ou nos líquidos orgânicos. A calicreína é uma enzima proteolítica que é ativada pela inflamação e outros efeitos químicos ou físicos sobre o sangue ou os tecidos. Ao ser ativada, a calicreína atua imediatamente sobre a α2 -globulina, liberando a cinina denominada calidina, que é, assim, convertida em bradicinina por enzimas teciduais. Uma vez formada, a bradicinina provoca intensa dilatação arteriolar e aumento da permeabilidade capilar, contribuindo para a propagação da reação inflamatória- assim como a substância P e a neurocinina A Em contrapartida, algumas substâncias, sobretudo as prostaglandinas E2 (PGE2), promovem diminuição do limiar de excitabilidade dos nociceptores NOCICEPTORES: As terminações nervosas das fibras nociceptivas Aδ- delta e C (nociceptores) são capazes de traduzir um estímulo agressivo de natureza térmica, química ou mecânica, em estímulo elétrico que será transmitido até o sistema nervoso central e interpretado no córtex cerebral como dor. As fibras responsáveis pela transmissão dos impulsos dolorosos terminam sem qualquer tipo de especialização aparente, as chamadas terminações nervosas livres. Em condições fisiológicas, qualquer destes tipos de fibras-: Aβ, Aδ e C- podem transmitir informação inócua, mas apenas as fibras C e Aδ transmitem informação nociceptiva. Quando um estímulo nociceptivo é aplicado à pele, os nociceptores Aδ (mielina fina) são responsáveis pela dor aguda imediata- até 30 m/s, a qual é seguida por uma dor mais difusa provocada pela ativação dos nociceptores C(sem mielina) de condução mais lenta- até 2m/s. Em condições não fisiológicas, nomeadamente na presença de inflamação tecidual ou após lesão dos nervos periféricos, podem ocorrer alterações neuroquímicas e anatómicas dos neurónios Aβ(mielina grossa)- até 100m/s, que podem provocar dor mediada por estes aferentes primários. Quanto à neuroquímica, os nociceptores são igualmente divididos em três grupos. Todos eles possuem glutamato, o neurotransmissor excitatório mais abundante no sistema nervoso. Porém, um grupo de nociceptores C peptidérgicos possui também neuropeptídeos, como a substância P (SP) ou o peptídeo relacionado com o gene da calcitonina (CGRP), e dependem do factor de crescimento neuronal (NGF) para o seu desenvolvimento e sobrevida. Os nociceptores C não peptidérgicos não possuem peptídeos, dependem do factor neurotrófico derivado do encéfalo (BDNF), e podem ser identificados pela presença de isolectinas específicas, receptores purinérgicos ou determinadas enzimas. Por fim, os nociceptores Aδ dependem da neurotrofina-3, e em parte do BDNF, e são facilmente identificáveis pela presença de determinados neurofilamentos específicos, como os identificados pelo anticorpo RT97. Os nociceptores sintetizam outras moléculas que podem contribuir para a transmissão ou modulação da informação nociceptiva para os neurónios do corno dorsal da medula espinhal, tais como prostaglandinas, ATP e óxido nítrico (NO). NOCICEPTORES TIPOS: A grande maioria dos nociceptores C designam-se por polimodais por serem sensíveis a estímulos térmicos, mecânicos e químicos. No entanto, alguns nociceptores C são sensíveis apenas a estímulos térmicos ou mecânicos, ou a estes dois tipos de estímulos. Quanto aos nociceptores Aδ, existem dois grupos principais. Os de tipo I são ativados predominantemente por estímulos mecânicos em condições fisiológicas, mas podem responder a estímulos térmicos ou químicos de longa duração, ou após sensibilização. Os nociceptores Aδ tipo II respondem predominantemente a estímulos térmicos e são insensíveis a estímulos mecânicos. Vários estudos concluíram que cerca de 10-20% das fibras C da pele, articulações e vísceras, não respondem a qualquer tipo de estímulo em condições fisiológicas. São os chamados nociceptores silenciosos. No entanto, quando estes nociceptores são sensibilizados por mediadores químicos presentes nos tecidos inflamados, passam a responder a diversos estímulos, podendo mesmo tornar-se espontaneamente ativos. Estes nociceptores foram particularmente bem estudados nas articulações artríticas, pensando-se que sejam responsáveis por uma grande parte da sintomatologia dolorosa que acompanha a patologia articular inflamatória. Os nociceptores não só podem codificar o tipo de estímulo, como também a sua intensidade e localização. A localização depende da distribuição somatotópica dos terminais dos nociceptores no corno dorsal da medula espinhal , e a intensidade do estímulo faz variar o número e a frequência dos potenciais de ação produzidos nos nociceptores, isto é, quanto maior a intensidade do estímulo maior é o número e/ou a frequência dos potenciais. Saliente-se a este propósito que estudos microneurográficos realizados no homem demonstraram que um único potencial de ação num nociceptor habitualmente não provoca dor, sendo necessário ocorrerem vários potenciais de ação sucessivos, e/ou a ativação de vários nociceptores em simultâneo, um fenómeno conhecido por somação espacial e temporal. Os mecanismos pelos quais um determinado estímulo dá origem a potenciais de ação nas terminações periféricas dos nociceptores, levando à consequente transmissão de impulsos nervosos até à medula espinhal, ainda não estão totalmente elucidados. No caso dos estímulos mecânicos três hipóteses são possíveis: ❖ 1) ação sobre canais iônicos sensíveis à distensão; ❖ 2) ação sobre proteínas membranares sensíveis a estímulos mecânicos, que ativam sistemas de segundos mensageiros intracelulares, que vão por sua vez influenciar a atividade de canais iónicos, nomeadamente baixando o limiar da sua ativação, e/ou aumentando o seu tempo de abertura, e/ou diminuindo o tempo de inativação; ❖ 3) ativação pelo estímulo mecânico de células não neuronais, que por sua vez libertarão substâncias pró-inflamatórias que irão atuar sobre os nociceptores. No caso dos estímulos térmicos nociceptivos, a intensidade do limiar de ativação dos nociceptores varia de estudo para estudo. Sabe-se que o aumento da temperatura acima dos 43 ºC provoca a abertura de canais iônicos permeáveis a cátions incluindo o receptor vanilóide VR1, e a corrente iónica resultante provoca a despolarização do nociceptor e o aparecimento de potenciais de ação. Além disso, a estimulação térmica pode igualmente ativar os nociceptores indirectamente através da libertação de mediadores da reação inflamatória. As substâncias químicas com propriedades algogénicas podem dividir-se em dois grupos: as exógenas ou irritantes, como a capsaicina ou o formol, muito utilizados em experimentação animal, e as endógenas, muitas das quais estão envolvidas na reação inflamatória. ❖ As substâncias -exógenas ou irritantespodem atuar sobre receptores específicos, como no caso da capsaicina, que atua sobre os receptores vanilóides, ou mais frequentemente alterar de forma inespecífica as propriedades da membrana e/ou do metabolismo celular, provocando despolarização da membrana e o aparecimento de potenciais de acção. Refira-se que os receptores vanilóides também são ativados por estímulos térmicos, permitindo a entrada de Ca2 + no terminal sensitivo, e a sua dessensibilização provoca analgesia local ❖ Sempre que há uma lesão tecidual provocada por um estímulo nóxico, são libertadas para o meio extracelular substâncias algogênicas de proveniência diversa que podem ativar os nociceptores. Esta ação pode resultar da ativação de receptores específicos dos nociceptores, ou da modulação da ação de outras substâncias que são igualmente libertadas no decurso da reação inflamatória. Note-se que uma substância algogênica pode ter origem em várias células e ativar vários receptores, e uma mesma célula pode produzir e libertar várias substâncias algogênicas diferentes. Algumas destas substâncias podem ativar os nociceptores através de receptores ionotrópicos que promovem diretamente a abertura de canais iónicos e a consequente despolarização da membrana dos nociceptores. É o caso do glutamato, ATP ou protões. Outras, como as prostaglandinas ou a bradicinina, atuam sobre receptores metabotrópicos que vão ativar sistemas de transdução intracelulares, levando a modificações na concentração de moléculas como o AMP cíclico, o diacilglicerol, o trifosfato de inositol ou o Ca2+. Estas substâncias vão, por sua vez, modular o funcionamento de canais iónicos ou receptores, nomeadamente através da sua fosforilação por intermédio da ativação de enzimas intracelulares. Outras ainda, como o óxido nítrico, atravessam facilmente as membranas celulares e vão exercer o seu efeito diretamente sobre o metabolismo do terminal periférico dos nociceptores. Saliente-se que os próprios nociceptores, quando ativados, podem libertar para o meio extracelular, através de colaterais ativados antidromicamente (reflexo axonal), peptídeos, como a SP ou o CGRP, e aminoácidos excitatórios, como o glutamato ou o aspartato, que contribuem direta ou indiretamente para a ativação dos nociceptores vizinhos. HIPERALGESIA PRIMÁRIA: Vários estudos demonstraram que a hiperalgesia secundária (aumento dos campos receptivos) depende fundamentalmente de mecanismos de sensibilização que ocorrem no corno dorsal da medula espinhal. Pelo contrário, na gênese da hiperalgesia primária estão mecanismos periféricos, que conduzem à sensibilização dos nociceptores e à ativação dos nociceptores silenciosos(através das prostaglandinas e bradicinina). As substâncias algogênicas podem, pois, ter uma ação excitatória direta, responsável pela sensação de dor aguda, e uma ação menos imediata e mais prolongada sobre a excitabilidade da membrana dos nociceptores, que resulta na sua sensibilização. Enquanto a ação excitatória se produz habitualmente através da abertura de canais iónicos, que levam à rápida despolarização da membrana dos terminais periféricos dos nociceptores, a sensibilização resulta da ativação de mecanismos intracelulares que provocam a redução do limiar de ativação dos nociceptores, facilitando assim a ocorrência de potenciais de acção em resposta a estímulos subsequentes de menor intensidade. Alguns nociceptores podem mesmo apresentar atividade espontânea, independente de qualquer estimulação, a qual provocará a dor espontânea característica dos estados inflamatórios. Estes dois fenómenos, excitação e sensibilização, estão frequentemente associados, podendo mesmo ser desencadeados em simultâneo pela mesma substância algogênica. É o caso da serotonina, que através da ativação dos receptores 5-HT3 provoca a despolarização da membrana dos nociceptores, devido à abertura imediata de canais de sódio, e por outro lado ativa a fosfolipase C, a qual provoca um aumento da concentração intracelular de diacilglicerol, trifosfato de inositol, e Ca2+. Estes metabólitos vão provocar um aumento prolongado da excitabilidade dos nociceptores, através da ativação de cinases proteicas (PKs) e subsequente fosforilação de canais iónicos e/ou receptores, que conduzem à sua sensibilização. Os nociceptores podem também apresentar alterações fenotípicas que facilitam a transmissão dos impulsos nociceptivos. A inflamação tecidual leva ao aumento da concentração de SP, CGRP, NO e glutamato nos nociceptores. Algumas substâncias algogênicas sensibilizam os nociceptores de forma indireta. hiperalgesia é, por definição, o aumento da percepção da dor provocada por um estímulo nóxico, a alodínia é a percepção de dor provocada por um estímulo que habitualmente é inócuo EFEITO CONTRÁRIO: Algumas substâncias presentes nos tecidos inflamados têm ação antiálgica. É o caso dos opióides produzidos e liberados por células do sistema imunitário, que vão actuar sobre receptores específicos (µ, δ e κ) presentes nos nociceptores. Estes receptores são responsáveis pelo efeito analgésico da administração local de opióides. Por outro lado, a interleucina-10 tem uma ação antiálgica indireta, pois ao inibir a cicloxigenase tipo 2 vai provocar uma diminuição da síntese de prostaglandinas no tecido inflamado. AREA SENSITIVA PRIMÁRIA: O corno dorsal da medula espinhal, e o seu homólogo bulbar representado pelo núcleo espinhal do nervo trigémio, constituem a área sensitiva primária. Essas estabelecem sinapses com interneurônios locais(maioria), que modulam aquela informação, e com os neurónios espinhais de projecção( Para além de ativarem estruturas responsáveis pelos vários componentes da dor, ativam também centros moduladores que, por seu lado, enviam axônios de volta para a medula espinhal, onde vão exercer uma ação inibidora ou facilitadora da transmissão da informação nociceptiva), que a transmitem para os níveis superiores do sistema nervoso central. É também nesta área que terminam muitas fibras descendentes, provenientes de neurónios localizados em várias zonas do sistema somatossensitivo, que, à semelhança dos interneurônios espinhais, modulam a transmissão espino fungal da informação sensitiva(teoria do gate control, proposta por Ronald Melzack e Patrick Wal) Ao entrar na face dorsal da medula espinhal, as fibras dividem-se em ramos ascendentes e descendentes. Enquanto maioria das fibras grossas, responsáveis pela informação inócua, ascendem pelo cordão dorsal até aos núcleos gracilis ou cuneatus situados no bulbo raquidiano, as fibras finas cursam no funículo dorsolateral (tracto de Lissauer) e terminam apenas alguns segmentos acima ou abaixo daquele em que penetraram na medula espinhal. Para além da segregação dorsoventral, os terminais das fibras nociceptivas têm também uma distribuição somatotópica rostrocaudal e mediolateral, bem demonstrada nas lâminas mais superficiais do corno dorsal, nas quais as fibras provenientes da região dorsal do corpo terminam lateralmente, enquanto as provenientes das regiões ventrais terminam medialmente. Deste modo, à semelhança do que acontece no córtex sensitivo ou motor, existe na medula espinhal uma representação somatotópica do corpo, a qual se estende paralelamente à superfície dorsal da medula espinhal. Embora a esmagadora maioria dos terminais centrais dos nociceptores se localizem no corno dorsal ipsilateral ao respectivo corpo celular, uma pequena proporção termina no lado contralateral, dando assim suporte anatómico a algumas alterações medulares que são observadas bilateralmente após uma estimulação unilateral. Uma classificação funcional dos neurónios espinhais tem sido igualmente muito utilizada. Nela, os neurônios são divididos em três grupos: não-nociceptivos(respondem maximamente a estímulos inócuos), nociceptivos específicos (ativados por estímulos nóxicos) e de largo espectro dinâmico(respondem a estímulos inócuos, mas também a estímulos nóxicos, e ao contrário do que sucede com os neurónios não-nociceptivos, a resposta é tanto maior quantomaior for a intensidade do estímulo. ) (WDR: wide-dynamic range), Admite-se que tanto os interneurônios como os neurónios proprioespinhais ou de projecção possam ter qualquer das características funcionais acima descritas. NEUROTRANSMISSORES: Os nociceptores normalmente respondem apenas quando os estímulos são suficientemente intensos para provocar lesão tecidual. No entanto, todos nós sabemos que a pele, as articulações ou os músculos que já estão lesionados ou inflamados estão mais sensíveis que o normal. Um toque leve e condoído de uma mãe sobre uma área da pele queimada de seu filho pode desencadear gritos devido à dor insuportável. Esse fenômeno é conhecido como hiperalgesia e é o exemplo mais familiar da capacidade corporal de autocontrole da dor. A hiperalgesia pode ser um limiar reduzido à dor, uma intensidade aumentada dos estímulos dolorosos ou, até mesmo, dor espontânea. A hiperalgesia primária ocorre na área do tecido lesado, porém os tecidos que envolvem a região da lesão também podem se tornar supersensíveis, pelo processo de hiperalgesia secundária. Muitos mecanismos distintos podem estar envolvidos na hiperalgesia, alguns no nociceptor ou perifericamente no tecido a seu redor e outros no SNC. Como foi observado anteriormente, quando ocorre lesão na pele, diversas substâncias, que são chamadas algumas vezes de sopa inflamatória, são liberadas. A sopa contém certos neurotransmissores (glutamato, serotonina, adenosina, ATP), peptídeos (substância P, bradicinina), lipídeos (prostaglandinas, endocanabinoides), proteases, neurotrofinas, citocinas, quimiocinas, íons, como K+ e H+, entre outras substâncias. Em conjunto, essas substâncias podem causar inflamação, que é uma resposta natural dos tecidos corporais na tentativa de eliminar a lesão e estimular o processo de cura. Os sinais característicos de inflamação na pele são dor, calor, rubor e edema. Várias daquelas substâncias também podem modular a excitabilidade dos nociceptores, tornando-os mais sensíveis aos estímulos térmicos ou mecânicos. A bradicinina foi apresentada anteriormente como uma das substâncias que despolarizam diretamente os nociceptores. Além desse efeito, a bradicinina estimula mudanças intracelulares de longa duração, que tornam mais sensíveis os canais iônicos ativados por calor. As prostaglandinas são substâncias produzidas pela clivagem enzimática dos lipídeos da membrana celular. Apesar de as prostaglandinas não causarem dor diretamente, elas aumentam muito a sensibilidade dos nociceptores a outros estímulos. O ácido acetilsalicílico e outros fármacos anti-inflamatórios não esteroides são um tratamento utilizado para tratar a hiperalgesia, uma vez que inibem as enzimas necessárias à síntese de prostaglandinas. A substância P é um peptídeo sintetizado pelos próprios nociceptores. A ativação de uma ramificação do neurito periférico do nociceptor pode levar à secreção de substância P por outras ramificações do neurito do mesmo nociceptor nas áreas vizinhas da pele. A substância P causa vasodilatação (aumento do diâmetro dos capilares sanguíneos) e a liberação de histamina dos mastócitos. A sensibilização de outros nociceptores pela substância P em torno do local da lesão é uma das causas da hiperalgesia secundária. Os mecanismos do SNC também contribuem com a hiperalgesia secundária. Após a lesão, a ativação dos axônios mecanorreceptores Ab por um toque leve pode resultar em dor. Portanto, outro mecanismo de hiperalgesia envolve uma interação sináptica (linha cruzada) entre a via do tato e a via da dor na medula espinhal. interneurônios excitatórios: aminoácidos excitatórios, nomeadamente glutamato e aspartato, que atuam sobre receptores ionotrópicos e metabotrópicos . Podem ainda conter peptídeos com ação pró-nociceptiva, como a SP, neurotensina, colecistocinina ou VIP, e libertar outras substâncias excitatórias como o ATP, o NO ou as prostaglandinas. Os interneurónios inibitórios podem classificar-se, de acordo com o neurotransmissor que possuem, em GABAérgicos( A sua acção exerce-se sobre receptores de dois tipos, GABAA e GABAB, que ocorrem quer nos neurónios espinhais, onde o GABA exerce uma acção dita pós-sináptica, quer nos terminais centrais dos aferentes primários, onde promovem a chamada inibição pré-sináptica,), opioidérgicos (contém encefalinas e dinorfina, que vão actuar sobre receptores µ, δ e κ,que podem igualmente ter uma localização pré- ou pós-sináptica.), colinérgicos ou glicinérgico(os receptores tipo A da glicina têm localização predominantemente pós sináptica). Saliente-se, no entanto, que o GABA (ácido γ-aminobutírico) está frequentemente presente em qualquer dos tipos de interneurônios inibitórios. O conteúdo neuroquímico dos neurónios proprioespinhais e dos neurónios de projecção está menos estudado, mas como a sua acção é fundamentalmente excitatória e pode ser bloqueada por substâncias antagonistas dos receptores do glutamato, é geralmente aceite que este aminoácido excitatório constitui o seu principal neurotransmissor. SENSIBILIZAÇÃO CENTRAL: Uma das características do estado de hiperexcitabilidade é o seu prolongamento no tempo para além da estimulação que lhe deu origem. Neste aspecto, a sensibilização central assemelha-se a um fenômeno de facilitação da transmissão sináptica descrita em diversas regiões do sistema nervoso central, incluindo o corno dorsal da medula espinhal, e que se designa por potenciação a longo prazo (long term potentiation – LTP). A LTP consiste no aumento da eficácia de uma sinapse excitatória após uma estimulação de curta duração e alta frequência dessa sinapse, e será muito provavelmente um dos mecanismos envolvidos na sensibilização central. Saliente-se que é possível induzir LTP com estímulos cutâneos térmicos, mecânicos ou químicos. O windup é outro fenômeno de sensibilização central, que consiste no aumento da resposta dos neurônios WDR da medula espinhal, quando se aplica um estímulo repetitivamente, mas a baixa frequência e com intensidade constante e suficiente para ativar as fibras C. PRINCIPAIS VIAS ASCENDENTES: Os neurônios espinhais de projecção transmitem a informação nociceptiva para diversos núcleos supraespinhais através de várias vias, que classicamente se englobam em dois grupos: 1) a via ascendente lateral, relacionada com o componente sensorial e discriminativo da dor, isto é, com a detecção e percepção da localização, intensidade, duração e modalidade do estímulo nociceptivo; 2) a via ascendente medial, envolvida nos aspectos cognitivos e afetivos da dor, ou seja, a relação entre a dor e a memória, os estados emocionais, a capacidade de tolerância à dor, a racionalização e interpretação afetiva da dor. Contudo, aceita-se atualmente que as duas vias não são ativadas isoladamente, e estão interligadas a diversos níveis de modo a interatuarem recíproca e interativamente As principais vias de projeção supraespinhal monossináptica são os feixes espinotalâmico, espinomesencefálico, espinoparabraquial, espinorreticular e espinohipotalâmico. O feixe espinotalâmico subdivide-se em dois componentes: um componente lateral que ascende no funículo ventrolateral e termina nos núcleos do complexo ventrobasal do tálamo. NEOESPINOTALAMICO: Diferentemente da via coluna dorsal-lemnisco medial, os axônios dos neurônios secundários decussam no mesmo nível da medula espinhal em que ocorreu a sinapse e ascendem pelo tracto espinotalâmico ao longo da superfície ventral da medula espinhal. De acordo com os nomes, as fibras espinotalâmicas projetam-se da medula espinhal, passando pelo bulbo, pela ponte e pelo mesencéfalo, sem fazer sinapse, até alcançar o tálamo . À medida que os axônios espinotalâmicos percorrem o tronco encefálico, eles posicionam-se ao longo do lemnisco medial,mas permanecem como um grupo axonal distinto da via mecanossensorial. e um componente medial que corre no funículo dorsolateral contralateral e termina em núcleos mediais do tálamo, como os núcleos ventromedial posterior (VMPo), ventroposterior inferior (VPI)ou medial dorsal (MDvc).PALEOESPINOTALAMICA Enquanto o componente lateral está relacionado com os aspectos discriminativos sensoriais da dor, o componente medial está associado aos aspectos afetivos cognitivos. De salientar que este feixe dá colaterais que terminam na substância cinzenta periaqueductal e outras estruturas reticulares do mesencéfalo que estão envolvidas na modulação descendente A Via da Dor Trigeminal. A informação da dor (e da temperatura) da face e do terço anterior da cabeça segue por uma via ao tálamo, análoga à via espinhal. As fibras de pequeno diâmetro do nervo trigêmeo fazem a primeira sinapse com os neurônios sensoriais secundários no núcleo espinhal do trigêmeo no tronco encefálico. Os axônios desses neurônios decussam e ascendem ao tálamo pelo lemnisco trigeminal. O Tálamo e o Córtex. O trato espinotalâmico e os axônios do lemnisco trigeminal fazem sinapse em uma região mais extensa do tálamo do que os axônios do lemnisco medial. Alguns dos axônios terminam no núcleo VP (ventral posterior), tal qual fazem os axônios do lemnisco medial, porém as vias do tato e da dor ainda permanecem segregadas, ocupando regiões separadas do núcleo. Outros axônios espinotalâmicos terminam nos pequenos núcleos intralaminares do tálamo. A partir do tálamo, as informações sobre dor e temperatura projetam- se para várias áreas do córtex cerebral. Assim como fazem no tálamo, essas vias cobrem um território muito mais extenso do que as conexões corticais da via coluna dorsal-lemnisco medial. A área somatossensitiva primária e secundária. MEMÓRIA:Os núcleos mais mediais do tálamo, incluindo o núcleo ventromedial posterior (VMpo) e a porção ventral da zona mediodorsal do tálamo (MDvc), recebem predominantemente informação de neurónios nociceptivos específicos localizados na lâmina I da medula espinhal, através do componente medial do feixe espinotalâmico. Os neurónios destes núcleos, tal como os do núcleo ventroposterior inferior (VPI), têm campos receptivos difusos, frequentemente bilaterais, e projetam para o córtex somatossensitivo secundário, córtex cingulado anterior e outras áreas do sistema límbico Estes núcleos talâmicos estarão, pois, particularmente envolvidos nos componentes emocional e cognitivo da dor. Fibras Dolorosas Periféricas —Fibras "Rápidas” e "Lentas". Os sinais dolorosos pontuais rápidos são desencadeados por estímulos mecânicos ou|| térmicos; eles são transmitidos pelos nervos periféricos para a medula espinhal por meio de fibras AÔ-delta- do tipo pequeno, com velocidade entre 6 e 30 m/s. Inversamente, o tipo de dor lenta crônica é desencadeado principalmente por estímulos dolorosos do tipo químico mas, algumas vezes, por estímulos mecânicos ou térmicos persistentes. Essa dor lenta crônica é transmitida para a medula espinhal por fibras tipo C com velocidades entre 0,5 e 2 m/s. Devido a este sistema duplo de inervação para a dor, o estímulo doloroso súbito, em geral, causa sensação dolorosa “dupla”: dor pontual rápida que é transmitida para o cérebro pela via de fibras AÔ, seguida, em 1 segundo ou mais, por uma dor lenta transmitida pela via das fibras C. A dor pontual avisa a pessoa rapidamente sobre o perigo e, portanto, desempenha papel importante na reação imediata do indivíduo para se afastar do estímulo doloroso. A dor lenta tende a aumentar com o passar do tempo. Essa sensação, por fim, produz dor intolerável e faz com que a pessoa continue tentando aliviar a causa da dor. Ao entrarem na medula espinhal, vindas pelas raízes espinhais dorsais, as fibras da dor terminam em neurônios-relé(interneurônios) nos cornos dorsais. Aí novamente existem dois sistemas para o processamento dos sinais dolorosos em seu caminho para o encéfalo. Vias Duplas para Dor na Medula Espinhal e no Tronco Cerebral — O Trato Neoespinotalâmico e o Trato Paleoespinotalâmico Ao entrar na medula espinhal, os sinais dolorosos tomam duas vias para o encéfalo, pelos (1) do trato neoespinotalâmico (2) do trato paleoespinotalâmico. Trato Neoespinotalâmico para Dor Rápida. As fibras dolorosas AO do tipo rápido transmitem principalmente as dores mecânica e térmica agudas. Elas terminam em sua maioria na lâmina I (lâmina marginal) dos cornos dorsais, como mostrado na Figura 48-2, e excitam os neurônios de segunda ordem do trato neoespinotalâmico. Estes neurônios dão origem a fibras longas que cruzam imediatamente para o lado oposto da medula espinhal pela comissura anterior e depois ascendem para o encéfalo nas colunas anterolaterais. Terminação do Trato Neoespinotalâmico no Tronco Cerebral e no Tálamo. Algumas fibras do trato neoespinotalâmico terminam nas áreas reticulares do tronco cerebral mas a maioria segue até o tálamo sem interrupção, terminando no complexo ventrobasal junto com o trato da coluna dorsal-lemnisco medial para sensações táteis, como discutido no Capítulo 47. Algumas fibras terminam também no grupo nuclear posterior do tálamo. Dessas áreas talâmicas, os sinais são transmitidos para outras áreas basais do encéfalo, bem como para o córtex somatossensorial. Capacidade do Sistema Nervoso Central em Localizar a Dor Rápida no Corpo. A dor pontual rápida pode ser localizada com muito mais precisão nas diferentes partes do corpo do que a dor crônica lenta. Entretanto, quando somente são estimulados os receptores para dor, sem a estimulação simultânea dos receptores táteis, mesmo a dor rápida pode ser mal localizada, em geral, dentro de 10 centímetros da área estimulada. Quando os receptores táteis que excitam o sistema da coluna dorsal-lemnisco medial são estimulados simultaneamente, a localização pode ser quase exata. Glutamato, o Provável Neurotransmissor das Fibras Dolorosas Rápidas do Tipo AÔ. Acredita-se que o glutamato seja a substância neurotransmissora secretada nas terminações nervosas para a dor do tipo A5 da medula espinhal. Esse é um dos transmissores excitatórios mais amplamente utilizados no sistema nervoso central, em geral com duração de ação de apenas alguns milissegundos. Via Paleoespinotalâmica para a Transmissão da Dor Crônica Lenta. A via paleoespinotalâmica é um sistema muito mais antigo e transmite dor principalmente por fibras periféricas crônicas lentas do tipo C, apesar de transmitir alguns sinais das fibras do tipo AS também. Nessa via, as fibras periféricas terminam na medula espinhal quase inteiramente nas lâminas II e III dos cornos dorsais, que, em conjunto, são referidas como substância gelatinosa pelas fibras da raiz dorsal do tipo C mais laterais. Em seguida, a maior parte dos sinais passa por um ou mais neurônios de fibra curta, dentro dos cornos dorsais propriamente ditos, antes de entrar principalmente na lâmina V, também no cornodorsal. Aí, os últimos neurônios da série dão origem a axônios longos que se unem, em sua maioria, às fibras da via de dor rápida, passando primeiro pela comissura anterior para o lado oposto da medula e depois para cima, em direção do encéfalo, pela via anterolateral. Substância P, o Provável Neurotransmissor (Dor Crônica Lenta) das Terminações Nervosas do Tipo C. Pesquisas sugerem que os terminais de fibras para dor do tipo C que entram na medula espinhal liberam tanto o neurotransmissor glutamato como a substância P. O glutamato atua instantaneamente e persiste apenas por alguns milissegundos. A substância P é liberada muito mais lentamente, com sua concentração aumentando em período de segundos ou mesmo minutos. De fato, foi sugerido que a sensação “dupla” de dor, sentida após agulhada, resulte parcialmente do fato do neurotransmissor glutamato gerar sensação de dor rápida, enquanto o neurotransmissor substância P gera sensação mais duradoura. A despeito de detalhes ainda não conhecidos, parece claro queo glutamato é o neurotransmissor mais envolvido na transmissão da dor rápida para o sistema nervoso central, e a substância P está relacionada à dor crônica lenta. Projeção da Via Paleoespinotalâmica (Sinais Dolorosos Crônicos Lentos) para o Tronco Cerebral e o Tálamo. A via paleoespinotalâmica crônicalenta termina de modo difuso no tronco cerebral. Somente entre um décimo e um quarto das fibras ascende até o tálamo. A maioria das fibras termina em uma dentre três áreas: (1) nos núcleos reticulares do bulbo, da ponte e do mesencéfalo; (2) na área tecto do mesencéfalo profundamente até os colículos superior e inferior; ou (3) na região cinzenta periaquedutal,que circunda o aqueduto de Sylvius. Essas regiões basais do encéfalo parecem ser importantes para o tipo de sofrimento da dor pois animais cujos cérebros foram seccionados acima do mesencéfalo, para bloquear os sinais de dor que chegam ao cérebro, ainda demonstram evidências inegáveis de sofrimento quando qualquer parte do corpo é traumatizada. De áreas do tronco cerebral, vários neurônios de fibras curtas transmitem sinais ascendentes da dor pelos núcleos intralaminar e ventrolateral do tálamo e em direção de certas regiões do hipotálamo e outras regiões basais do encéfalo. Capacidade Muito Baixa do Sistema Nervoso de Localizar Precisamente a Fonte de Dor Transmitida pela Via Crônica Lenta. A localização da dor transmitida pela via paleoespinotalâmica é imprecisa. Por exemplo, a dor crônica lenta em geral só pode ser localizada em uma parte principal do corpo, como no braço ou na perna mas, não em ponto específico do braço ou da perna. Isso se deve à conectividade multi-sináptica difusa dessa via. Isso explica porque os pacientes, em geral, têm sérias dificuldades de localizar a fonte de alguns tipos de dor crônica. Capacidade Especial dos Sinais Dolorosos em Desencadear uma Excitabilidade Encefálica Geral. A estimulação elétrica das áreas reticulares do tronco cerebral e dos núcleos intralaminares do tálamo,áreas onde terminam os sinais da dor lenta, tem forte efeito de alerta sobre a atividade neural de todo o encéfalo. De fato, essas duas áreas constituem parte do principal “sistema de alerta”. Isso explica porque é quase impossível para a pessoa dormir nos casos de dor grave. Interrupção Cirúrgica das Vias Dolorosas. Quando a pessoa apresenta dor grave e intratável (algumas vezes, resultante de câncer de disseminação rápida), é necessário aliviar a dor. Para isso, as vias neurais da dor podem ser cortadas em um entre vários pontos. Se a dor se localiza na parte inferior do corpo, a cordotomia,na região torácica da medula espinhal, em geral alivia a dor durante algumas semanas ou meses. Para isso, a medula espinhal, no lado oposto ao da dor, é parcialmente cortada em seu quadrante anterolateralpara interromper a via sensorial anterolateral. 3. Elucidar como a percepção de um estímulo doloroso pode interferir em outro (modulação da dor). A percepção da dor é muito variável. Dependendo da atividade concomitante de aferências sensoriais não dolorosas e do contexto comportamental, o mesmo nível de atividade do nociceptor pode produzir mais ou menos dor. É muito importante compreender essa modulação da dor, pois ela pode oferecer novas estratégias para o tratamento da dor crônica, uma condição que aflige até 20% da população adulta. Regulação Aferente. Vimos que um toque leve pode causar dor pelo mecanismo da hiperalgesia. Contudo, a dor provocada pela atividade dos nociceptores também pode ser reduzida pela atividade simultânea de mecanorreceptores de limiar baixo (fibras Aβ). Presumivelmente, esse é o motivo pelo qual você se sente melhor quando massageia a pele da sua canela logo após contundi-la. Esse mecanismo também pode explicar o efeito de um tratamento elétrico para alguns tipos de dor crônica intratáveis. Fios condutores são fixos à superfície da pele, e, quando o paciente simplesmente liga um estimulador elétrico destinado a ativar axônios sensoriais de grande diâmetro, a dor é suprimida. Nos anos 1960, Ronald Melzack e Patrick Wall, do MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts), propuseram uma hipótese para explicar esses fenômenos. A teoria do portão da dor((teoria do gate control,) sugere que certos neurônios do corno dorsal, os quais projetam seus axônios pelo tracto espinotalâmico, são excitados tanto por axônios sensoriais de grande diâmetro como por axônios não mielinizados. O neurônio de projeção também é inibido por um interneurônio, e o interneurônio é simultaneamente excitado pelo axônio sensorial calibroso e inibido pelo axônio nociceptivo. Por meio desse circuito, a atividade apenas do axônio nociceptivo resultaria em excitação máxima do neurônio de projeção, permitindo que os sinais nociceptivos cheguem ao encéfalo. Contudo, se os axônios de mecanorreceptores dispararem conjuntamente, eles ativarão o interneurônio que suprimirá a sinalização nociceptiva. Regulação Descendente. Há inúmeras histórias sobre soldados, atletas e vítimas de tortura que sofreram ferimentos terríveis, mas aparentemente não sentiram dor. Emoções fortes, estresse ou determinação estóica podem suprimir de maneira poderosa as sensações dolorosas. Várias regiões encefálicas estão envolvidas na supressão da dor. Uma delas é uma região de neurônios do mesencéfalo, chamada de substância cinzenta periaquedutal (PAG, do inglês, periaqueductal gray matter). A estimulação elétrica da PAG pode causar analgesia profunda, que tem sido, algumas vezes, explorada clinicamente. A PAG recebe, normalmente, aferências de várias estruturas do encéfalo, muitas das quais são responsáveis pela transmissão de informações relacionadas ao estado emocional. Os neurônios da PAG enviam axônios descendentes para várias regiões situadas na linha média do bulbo, principalmente para os núcleos da rafe (cujos neurônios liberam o neurotransmissor serotonina). Esses neurônios bulbares projetam os axônios, por sua vez, para os cornos dorsais da medula espinhal, onde podem deprimir de maneira eficiente a atividade dos neurônios nociceptivos. . Estudos experimentais demonstraram que o aumento da pressão arterial ativa os neurônios do bolbo raquidiano ventrolateral, o qual inibe a transmissão espinhal da informação nociceptiva. Admite-se que estes dados estejam relacionados com resultados de estudos clínicos que demonstram que o limiar à dor está geralmente elevado em indivíduos hipertensos. As variações do limiar à dor, induzidas por diversos fatores emocionais ou cognitivos, envolvem a ativação de núcleos supraespinhais que participam na modulação descendente Os Opioides Endógenos. O ópio era conhecido provavelmente pelos antigos sumérios por volta de 4.000 a.C. Seu pictograma para a palavra papoula traduz-se, a grosso modo, por “planta da alegria”. No século XVII, o valor terapêutico do ópio era incontestável. O ópio, os seus ingredientes narcóticos ativos e seus análogos – incluindo a morfina, a codeína e a heroína – são hoje amplamente usados e abusados, na maioria das culturas. Essas drogas, e outras com ações similares, chamadas de opióides, produzem analgesia profunda quando administrados de forma sistêmica. Os opioides também podem produzir alterações de humor, sonolência, confusão mental, náusea, vômito e constipação. A década de 1970 trouxe as impressionantes descobertas de que os opióides atuam se ligando de forma firme e especificamente a vários tipos de receptores opióides no sistema nervoso, e que o próprio sistema nervoso produz substâncias endógenas semelhantes à morfina, chamadas coletivamente de endorfinas. As endorfinas são proteínas relativamente pequenas, ou peptídeos. As ttaendorfinas e seus receptores estão amplamente distribuídos no SNC, e estão particularmente concentrados em áreas que processam ou modulam a informação nociceptiva. Pequenas quantidades de morfina ou endorfinas injetadas na PAG, nos núcleos da rafe ou no corno dorsal podem produzir analgesia. Pelo fato desse efeito ser impedido pela administração de um bloqueador específico de receptores opióides, a naloxona, as drogas injetadas devem ter agido, ligando-se a receptores opióides nessas áreas. A naloxona também pode bloquear os efeitos analgésicos induzidos pela estimulação elétrica dessas áreas. No âmbito celular, as endorfinas exercem múltiplos efeitos, os quais incluemsupressão da liberação de glutamato das terminações pré-sinápticas e inibição dos neurônios pela hiperpolarização das membranas pós-sinápticas. Em geral, os extensos sistemas de neurônios que contêm endorfinas na medula espinhal e no tronco encefálico reduzem a passagem de sinais nociceptivos no corno dorsal e nos níveis superiores encefálicos, onde é gerada a percepção da dor Fisiopatologia da Dor Autor: Prof. José Manuel Castro Lopes gyton 4. Entender os processos de evocação da dor (através da memória). 5. Discutir os perigos da automedicação e as consequências do uso exacerbado dos analgésicos. ❖ Mascarar sintomas ❖ alergias ❖ perda de efeito ❖ problemas estomacais, renais e hepáticos ❖ tolerância (Uma pessoa pode desenvolver tolerância quando algum medicamento é usado repetidamente. Por exemplo, quando morfina ou álcool são usados por um longo período de tempo, devem ser tomadas doses cada vez maiores para produzir o mesmo efeito. Geralmente, a tolerância se desenvolve devido à aceleração do metabolismo do medicamento (frequentemente porque as enzimas hepáticas envolvidas no metabolismo de medicamentos ficam mais ativas) e porque o número de sítios (receptores celulares) aos quais o medicamento se liga ou a força da ligação (afinidade) entre o receptor e o medicamento diminuem ) 6. Explicar a ineficácia do paracetamol no caso em questão. O paracetamol é uma droga analgésica e antipirética, apresentando pouca nenhuma ação anti-inflamatória seu mecanismo de ação não está completamente elucidado, mas parece produzir analgesia por elevação do limiar da dor sendo capaz de bloquear a cicloxigenase (COX) em locais com baixos teores de peroxidases, como o hipotálamo, o que possivelmente explica a fraca atividade anti-inflamatória do paracetamol, uma vez que a região da inflamação geralmente contém 4 concentrações elevadas de peróxidos gerados pelos leucócitos. Estes resultados não excluem o PAR como um membro da classe dos AINEs e explicam a sua fraca inibição pela COX, particularmente a cicloxigenase-2 (COX-2) , uma isoenzima que produz menor efeito colateral, com um percentual de 30% de inibição máxima por AINEs, pois sua atividade inibitória sobre a cicloxigenase pode estar relacionada a sua capacidade inibir oradicaltirosil presente na PGES. 7. Classificar os graus de queimadura associando-os à conduta terapêutica adequada. Queimadura de primeiro grau As queimaduras de primeiro grau estão restritas à epiderme. São lesões que apresentam hiperemia intensa, com hipersensibilidade e desconforto local. Evoluem com melhora espontânea dos sintomas em dois ou três dias, podendo apresentar descamação após esse período. Há regeneração integral da epiderme após uma semana. ❖ As lesões de 1° grau necessitam apenas ser higienizadas e protegidas contra a contaminação e o ressecamento do meio ambiente. O que se recomenda é proporcionar um ambiente limpo e úmido, de forma a acelerar a epitelização. Isso pode ser conseguido com curativos sintéticos protetores. Queimadura de segundo grau superficial A queimadura de segundo grau superficial afeta a epiderme e a derme papilar (superficial). A destruição da junção dermo-epidérmica provoca o desprendimento da epiderme e a formação de bolhas, típicas da queimadura de segundo grau. Há hiperemia intensa, edema, dor e hipersensibilidade que indica estímulo e preservação das terminações nervosas presentes na derme. Como grande parte dos capilares presentes na derme não são lesados, há intensa exsudação da ferida, levando à formação de bolhas que se rompem facilmente, o que dá à ferida um aspecto úmido, vermelho e brilhante. Também ocorre a regeneração espontânea, a epiderme recupera-se em até duas semanas mesmo que um quadro inflamatório esteja associado. ❖ As queimaduras de 2° grau superficiais também devem ser mantidas limpas e protegidas enquanto a reepitelização ocorre. Após a higienização da ferida, pode-se utilizar uma gaze não aderente impregnada com parafina, petrolato ou óleo mineral, caracterizando um curativo primário em contato com o leito da ferida, quando as flictenas estão íntegras e esvaziadas. Caso tenha ocorrido a ruptura delas, a derme permanecerá exposta e perderá o isolamento proporcionado pela epiderme. Nesse caso, deve ser usado um produto que contenha um agente bacteriostático ou bactericida até o curativo permanente após 48 horas. Em nosso meio, os agentes disponíveis mais utilizados são a Sulfadiazina de prata creme ou pomada de hialuronidase. Após as primeiras 48 horas, nas queimaduras de 2º grau superficial e profunda, ocorre o retorno da permeabilidade capilar ao normal e a lesão deixa de ser exsudativa. Nesse momento, a lesão deve ser novamente higienizada com solução degermante e então aplicado novo curativo. Caso a flictena mantenha-se íntegra, mantêm-se também os curativos não aderentes trocados duas vezes por semana; caso a flictenas esteja rota, com exposição da derme, pode optar-se por curativos biológicos e semi biológicos que não necessitam de trocas, permitindo assim a migração de queratinócitos a partir da membrana basal dos anexos dérmicos e uma reepitelização mais rápida da ferida, com menos trocas de curativos, menos dor e menor custo. Queimadura de segundo grau profunda A queimadura de segundo grau profunda afeta a epiderme, a derme papilar e a profundidade variável da derme reticular (profunda). A lesão pode apresentar bolhas, mas a hiperemia e a exsudação são menores porque parte do plexo vascular da derme foi destruído ou trombosado pelo calor. O leito da ferida é rosa-esbranquiçado, seco e opaco. A sensibilidade superficial é diminuída e provoca menos dor do que a queimadura de segundo grau superficial. A regeneração espontânea está significativamente diminuída e se ocorrer será acompanhada de cicatrizes. A possibilidade de infecção é maior e algumas dessas lesões podem evoluir para lesões de espessura total (terceiro grau). ❖ Por outro lado, as queimaduras de 2° grau profundas e as de 3° grau, além de levarem muito tempo para cicatrizar, podem aumentar a susceptibilidade à infecção e ao desenvolvimento de cicatrização patológica hipertrófica ou queloide. Portanto, tem indicação para excisão do tecido queimado cirurgicamente e sua cobertura com enxerto de pele autólogo ou uso de matrizes de regeneração dérmica após as 48 horas. De qualquer modo, enquanto a cirurgia não ocorre, deve-se cobrir a área atingida, com o objetivo de prevenir a infecção ou reduzir a densidade bacteriana in situ, ou seja, no local. O elemento bacteriostático mais utilizado é a prata e está disponível em vários produtos. A disposição em creme, apesar de economicamente vantajosa, tem como desvantagem a necessidade de troca diária, associada com irritação celular e toxicidade. Para os grandes queimados, as unidades especializadas dispõem normalmente de camas e duchas especiais, denominadas balneoterapia, que permitem a colocação do paciente em qualquer posição facilitando que seja lavado com soluções aquecidas assim como para a realização dos curativos e desbridamentos. Queimadura de terceiro grau Toda a espessura da pele é destruída, a epiderme, derme papilar e derme reticular. Como a rede vascular da derme é destruída, não há circulação, portanto, não há exsudação. A característica é de uma lesão seca, com aspecto de couro. A pele desvitalizada forma uma escara dura e inelástica. Dependendo da intensidade do calor, a cor da escara pode variar do branco ao marrom ou até mesmo ao preto, devido à carbonização do tecido. Há pouca ou nenhuma dor e sensibilidade na superfície da lesão, todas as terminações nervosas são destruídas. As lesões de espessura total não apresentam possibilidade de regeneração e a possibilidade de infecção é alta se a escara não for removida em curto período de tempo. Atendimento A) “Airway”: preservação da via aérea com controle da coluna cervical B) “Breathing”: boa ventilação C) “Circulation”: boa perfusão D) “Disability”: exame neurológico E) “Exposition”: exposição do paciente (com controle ambiental)• História da queimadura: • Qual foi o agente causal? • Em que horário ocorreu a lesão? • A lesão ocorreu em ambiente fechado? • Ocorreu inalação da fumaça? • Há trauma associado? • Houve perda de consciência no local do acidente? • Em crianças: havia algum responsável ou adulto no momento do acidente? Existe a possibilidade maus tratos? • História mórbida pregressa: • Relacionar doenças preexistentes (diabetes, hipertensão, doença cardíaca, renal, entre outras); • Uso de medicações, álcool e outras drogas; • História de alergias; • Imunidade para o tétano. ❖ Reposição volêmica (SCQ: porcentagem do corpo queimado) ❖ Analgesia e sedação
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