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EXAME NEUROLÓGICO Raciocínio neurológico: busca a obtenção dos diagnósticos sindrômico, topográfico e etiológico. Sindrômico: pesquisa de sintomas (através da anamnese) e sinais (por meio do exame físico neurológico). Topográfico: identificar local da lesão. Necessário conhecer a anatomia e interpretar os achados do exame neurológico. Etiológico: depende de informações da anamnese: pesquisar tempo e forma de instalação dos sintomas, progressão, antecedentes pessoais e familiares, exposição a agentes tóxicos, medicamentos e hábitos de vida, etc. A sequência do exame é livre. Além disso, o exame neurológico se concentra de modo a enfatizar certos aspetos em determinada situação clínica (o exame em um paciente com cefaleia é diferente do exame no paciente com dor lombar). Também é preciso adaptá-lo às circunstâncias. Pessoas instáveis e graves pode ser possível apenas fazer um exame curto. Antes de tudo: fácies e atitude. Partes do exame: Elisa Maria conseguiu seduzir muitos rapazes nessa ida. E – Estado mental M – Marcha e equilíbrio C – Coordenação e função cerebelar S – Sensibilidade M– Motricidade (força, tônus) R - Reflexos N – Nervos cranianos I – Irritação meníngea Não é necessário fazer todos os exames imagináveis em todos os pacientes, mas o de rastreamento é sempre importante: seus achados determinam a ênfase em um exame subsequente mais minucioso. Observações importantes: estereognosia é a capacidade de reconhecer e identificar um objeto pelo tato. A incapacidade de identificação é astereognosia, que só é anormal se há comprometimento de vias sensoriais periféricas ou das áreas de associação do lobo parietal. Vias sensoriais intactas → suspeita de lesão lobo parietal. Um paciente com síndrome do túnel do carpo e parestesia dos dedos pode ser incapaz de identificar um objeto pelo tato: isso não é astereognosia. Exame mental (funções corticais superiores) Dividida em duas partes: avaliação do nível de consciência e avaliação da qualidade da consciência. 1. Nível de consciência: grau de interação do indivíduo com o meio ambiente e a percepção de si (quão acordado ou quão alerta está) – deve ser sempre o passo inicial do exame neurológico. ▪ Vigil ou acordado: abertura ocular e interação espontânea com o meio; ▪ Sonolento: abertura ocular e interação após estímulo sonoro; ▪ Torporoso: abertura ocular e interação após estímulo doloroso; ▪ Comatoso: sem abertura ocular ou interação mesmo após estímulo doloroso. Escala de Coma de Glasgow pode ser usada! 2. Qualidade da consciência: nesse ponto do exame neurológico avalia-se cinco aspectos da qualidade da consciência – orientação e atenção; linguagem; agnosias; apraxias; memória. Realizar mini-mental. 3. Lembrar de avaliar o conteúdo da consciência: lucidez, orientação espacial e temporal, estado de alerta. Humor: colaborativo ou não colaborativo. 1. Escala de Glasgow: 2. Escala de Jouvet: DIGIT-SPAN: Pede-se ao paciente que repita os números na ordem direta e inversa, da seguinte maneira: ➔ 1, 53, 964... Lembrar de não falar de modo ritmado e não usar sequências diretas. Normalmente as pessoas conseguem repetir até 7 na ordem direta e 4 na inversa. Sempre dar mais uma chance na primeira vez que errar. MINI-EXAME DO ESTADO MENTAL: Exame da motricidade Definições importantes: • Paresia: fraqueza devido a déficit parcial da força muscular; • Plegia: perda ou déficit total da força muscular; • Monoparesia: perda parcial de força em 1 membro; • Hemiparesia: fraqueza em 1 hemicorpo; • Paraparesia: membros simétricos comprometidos (perda parcial de força); • Paraplegia: membros simétricos comprometidos (perda total de força); • Tetraplegia: 4 membros comprometidos com perda total da força; • Diplegia: 2 hemicorpos comprometidos com perda total da força (duplicidade de lesões/tempos diferentes). Hemiparesia • Proporcionada – força MS = força MI. (ex: grau 2 em 2 membros) • Desproporcionada - Força MS diferente do MI. • Completa – além do acometimento do MS e MI, há acometimento da face • Incompleta – sem acometimento da face AVC subcortical: hemiparesia desproporcionada AVC cápsula interna: acometimento proporcionado AVC supra-nuclear (acima do núcleo no NCVII) – hemiparesia completa AVC infra-nuclear (porção inferior da ponte para baixo) – incompleta Se o paciente apresenta hemiparesia isolada em um pequeno grupo muscular → pensar inicialmente em lesão de nervo periférico! AVC geralmente causa comprometimento do membro. Avaliação da motricidade • Seis aspectos devem ser avaliados: FORÇA, TÔNUS, FASCICULAÇÕES, TROFISMO, REFLEXOS, MOVIMENTOS ANORMAIS. 1. Força muscular voluntária: avaliada através da força que o paciente exerce contra uma resistência imposta pelo examinador ou pela ação da gravidade. Graduada em: 0 1 2 3 - 4 4 +4 5. Grau Exame de força Classificação 0 Nenhuma contração muscular Plegia 1 Contração fraca incapaz de mover articulação Paresia 2 Há movimento quando anulada a força da gravidade (com ação da gravidade, a contração não produz movimento) 3 Movimento ativo contra gravidade; outras resistências não são vencidas. -4 Vence pequenas resistências. 4 Vence resistências moderadas. +4 Vence resistências fortes. 5 Força Normal. Normal Avaliação da força pode ser cinética ou estática: cinética (para mudar de posição) e estática (resistir ao examinador). Comparar em termos absolutos e em relação ao membro contralateral. Pesquisa de fraqueza muscular • Manobra dos braços estendidos (Mingazzini para MMSS): braços e antebraços estendidos a 90º em relação ao tronco; dedos das mãos abduzidos; olhos fechados (para sensibilizar o teste). Paciente deve manter por 2 minutos. • Manobra de Raimiste para pacientes deitados: decúbito dorsal, antebraços fletidos sobre o os braços a 90º, mão estendidas e dedos abduzidos. • Manobra de Mingazzini para MMII: decúbito dorsal, coxas fletidas sobre o quadril a 90º, pernas fletidas sobre as coxas a 90º. Paciente deve manter por 2 minutos. • Manobra de Barré: decúbito ventral, pernas fletidas sobre as coxas a 90º. • Manobra de Watenberg para MMII (prova de queda do joelho): paciente em decúbito dorsal deve realizar pequena flexão do joelho, com quadril e calcanhares apoiados na superfície lisa e dura. O joelho não deve cair. Importante para avaliar força dos MMII em pacientes com hemorragia subaracnóidea, a fim de não aumentar a pressão intracraniana que ocorre nas manobras anteriores. Fraqueza não orgânica: problemas psíquicos > importante a palpação para ajudar a determinar isso. 2. Tônus: é o nível de tensão muscular no repouso. • Inspeção: observar se á achatamento do musculo sobre o plano do leito; palpação: palpação dos principais grupos musculares, na qual o examinador deve perceber que a consistência dos músculos não é completamente flácida, tampouco exageradamente rígida. • Movimentos passivos: No tônus normal, o paciente não oferece resistência grande a movimentos passivos e também não é exageradamente permissivo. Na hipertonia ocorre grande resistência ao movimento passivo (pode ser espástica/elástica ou plástica). Na hipotonia, há grande permissividade ao movimento passivo (dedos tocam antebraço na extensão passiva da mão; planta do pé toca face posterior da coxa/glúteo na flexão passiva do joelho). • Classificações: HIPOTONIA, TÔNUS NORMAL, HIPERTONIA (espástica ou plástica). • Hipertonia espástica – Sinal do canivete: ao ser realizado movimento passivo do membro, ocorre grande resistência inicial; a manutenção da resistência exercida pelo examinador faz com que o membro ceda aos poucos no início do arco do movimento com maior cessão ao movimento passivo na metade-fim do arco do movimento. Indica lesão de trato piramidal (AVE, mielopatias). • Hipertonia plástica – Sinal da roda denteada:rigidez com movimento passivo do membro que trava e cede aos poucos, se moldando ao alongamento. Mantém membro na posição final deixada pelo examinador. Indica síndrome extrapiramidal (ex: Parkinson). 3. Trofismo: trata-se do volume de massa muscular. Deve ser avaliado quanto a compatibilidade em relação a estrutura/biotipo do paciente, bem como quanto à simetria com grupamento contralateral. • Classificações: normotrófico (volume de massa muscular compatível); hipotrófico (redução do volume de massa muscular – ocorre por lesão de sistema nervoso periférico ou desuso); hipertrófico (aumento do volume muscular – ocorre em algumas distrofias e com o exercício vigoroso). 4. Coordenação: o cerebelo é o principal centro do SNC responsável pelo controle da coordenação movimentos. A sensibilidade proprioceptiva desempenha importante função na coordenação do movimento também. O cerebelo é responsável pelo controle da musculatura agonista e antagonista na realização do movimento, modulando o movimento de acordo com a necessidade voluntária ou involuntária. Lesões cerebelares podem levar a movimentos erráticos e descoordenados. • Achados típicos de lesão em cerebelo: hipotonia, tremor de ação, dismetria, disdiadococinesia, rebote, hiporreflexia, marcha ebriosa e Romberg positivo (oscilação corporal e desquilíbrio em posição ortostática com pés juntos e olhos fechados). • Provas para avaliação da coordenação: ▪ Prova indicador-nariz: solicitar que, com o membro inicialmente estendido, o paciente toque a ponta do nariz com o indicador de olhos abertos e posteriormente fechados. Repetir o teste algumas vezes para melhorar a sensibilidade. Paciente deve estar de pé ou sentado. ▪ Prova calcanhar-joelho: em decúbito dorsal, o paciente deve tocar o calcanhar do membro a ser examinado no joelho do membro contralateral. ▪ Prova dos movimentos alternados: solicitar que o paciente realize abertura e fechamento das mãos, pronação e supinação do braço, ou extensão e flexão dos pés de forma rápida e repetida. Diadococinesia: coordenação dos movimentos alternados preservada; disdiadococinesia: incoordenação dos movimentos alternados. 5. Reflexos: Estímulo sensorial → via aferente → SNC → centro reflexo → neurônio eferente. Alterações em reflexos podem ser uma indicação de distúrbio a função neurológica. Podem ser divididos em profundos e superficiais. • Reflexos profundos: obtidos pela percussão osteotendínea do músculo avaliado. Quando um musculo é passivamente estirado, suas fibras contraem-se para resistir ao estiramento. Fibras aferentes primárias do fuso → medula espinhal → reflexo. Função protetora, sobretudo na posição de pé durante a marcha: eles ajudam a neutralizar qualquer força súbita e inesperada. Podem estar: normais, ausentes, diminuídos ou vivos/exaltados (hiperreflexia). ▪ Hiperreflexia: redução do tempo de latência (tempo de resposta estímulo-ação), aumento da amplitude do movimento, reflexo policinético (mais que um movimento), aumento da área de obtenção do reflexo, impossibilidade de inibição voluntária do reflexo. Lesão do sistema piramidal ou corticoespinhal. ▪ Clonus: tipo de reflexo policinético → o estiramento muscular produz repetidas contrações involuntárias esgotáveis ou não! ▪ Hiporreflexia e arreflexia: a percussão osteotendínea não produz reflexo profundo fisiológico ou produz reflexo muito pouco expressivo. Resultado de lesão de algum componente do arco reflexo. ▪ Classificação de cruzes dos reflexos tendinosos: 0 = arreflexia; 1+ = hiporreflexia; 2+ = normorreflexia; 3+ = primeiro grau de hiperreflexia; 4+ = último grau de hiperreflexia. A graduação é subjetiva. • Reflexos superficiais: Resposta à estimulação de pele ou mucosa. São polissinápticos, latência mais longa e fadiga com mais facilidade. Abolidos em lesão de trato piramidal (associado com aumento dos reflexos tendinosos profundos). ➢ Cutâneo-abdominal: estímulo da parede abdominal com espátula → desvio do umbigo para lado estimulado. ➢ Cremastérico superficial: pressão digital sobre a musculatura da coxa na face medial entre o terço superior e médio → elevação testicular ipsilateral (caso elevação bilateral → reflexo vivo). ➢ Cutâneo-plantar: estimulação plantar com espátula na região medial → flexão dos dedos do pé. Em caso de dorsiflexão lenta do hálux e abertura em leque dos demais dedos → Sinal de Babinski (patológico acima de 1 ano de idade → indica lesão em trato piramidal). Hipoativos: lesões que afetam a continuidade do arco reflexo. Lesão da via corticospinal. Hiperativo: parkisonismo e outros distúrbios extrapiramidais. Reflexos patológicos Principais causas: lesão do trato corticoespinhal, doenças do lobo frontal, distúrbio do sistema extrapiramidal. ✓ Reflexo cutaneoplantar: Sinal de Babinski: distúrbio na via corticoespinhal. É normal no RN. ✓ Reflexo de preensão plantar: lesão do lobo frontal contralateral. ✓ Sinal de Rossolimo MMSS: podem ser encontrados em pessoas sem disfunção neurológica. ❖ Sinal de liberação frontal (suprime inibição de reflexos primitivos): reflexo de preensão; reflexo palmomentual ❖ Exagero do reflexo flexor dos dedos: sinal de Hoffmann, Sinal de Tomner Reflexos posturais e de endireitamento A postura é principalmente de origem reflexa (associação de vários sistemas). Doença de Parkison → diminuição dos reflexos posturais. ❖ Rigidez de descerebração: doenças gravdes do TE e aumento do tônus dos músculos extensores (anti ❖ Decorticação: extensão das pernas e pés 6. Movimentos anormais/distúrbios de movimento (discinesia): ocorrem geralmente por lesões nos núcleos da base. • Tremor: movimentos rítmicos de contração alternada dos músculos agonistas e antagonistas (exemplos: tremor essencial, fisiológico, parkinsoniano). • Coreia: movimentos involuntários bruscos, breves, migratórios e erráticos (C. de Sydenham, doença de Wilson); • Atetose: movimentos sinuosos lentos em torno em um eixo longo do membro afetado; • Balismo: movimentos bruscos, breves, proximais, semelhantes a chutes e arremessos; • Mioclonia: contrações involuntárias súbitas que lembram pequenos sustos. Positivas quando causadas por contrações musculares súbitas e negativas quando há cessação abrupta da contração muscular (Asterix da hepatopatia). • Tique: movimentos estereotipados, breves repetitivos, suprimíveis, motores e/ou vocais. • Distonia: contração sustentada concomitante de músculos agonistas e antagonistas, levando a abalos lentos, movimento articular mantido. VIAS MOTORAS Via piramidal • O corpo do neurônio motor superior está localizado no córtex motor primário (giro pré- central), seu axônio cursa pela cápsula interna → pedúnculo cerebral (mesencéfalo) → ponte → pirâmides bulbares → decussação das pirâmides a nível de bulbo → medula, se dividindo em tratos corticoespinhal lateral (90% das fibras) e anterior (10%) – somente as fibras do trato corticoespinhal lateral decussam em nível bulbar. o O trato corticonuclear faz sinapse com segundo neurônio motor nos núcleos motores dos pares cranianos, no tronco encefálico. o O trato corticoespinhal desce pela medula, na qual seus axônios fazem sinapse com neurônios motores inferiores alfa e gama, que inervarão respectivamente, fibras musculares e fusos neuromusculares. Em nível segmentar da medula, o neurônio motor superior pode fazer sinapse com um neurônio internuncial que por sua vez fará sinapse com o neurônio motor inferior (alfa ou gama). • Lesão em Neurônio Motor Superior ▪ Força voluntária: reduzida. ▪ Tônus: hipertonia espástica. ▪ Fasciculações: ausentes. ▪ Trofismo: preservado. ▪ Reflexos: perda dos reflexos cutâneos superficiais (cutâneo-plantar e cutâneo- abdominal – fisiológicos) e hiperreflexia de reflexos patológicos (tendinosos, Babinski). Topografiada Lesão Apresentação Clínica Central antes da decussação das pirâmides (córtex, cápsula interna ou tronco) Hemiparesia contralateral Unilateral em Medula Cervical Hemiparesia/plegia ipsilateral Completa em Medula Cervical Tetraparesia/plegia bilateral Unilateral em Medula Torácica Monoparesia/plegia de membro inferior ipsilateral Completa em Medula Torácica Paraparesia/plegia de membros inferiores As lesões irão variar entre paresia ou plegia de acordo com a gravidade da lesão e consequente apresentação clínica. Paresia: perda parcial de força; Plegia: perda total de força. Caso clínico: Síndrome de Bown-Séquard (lesão completa de hemimedula) • A lesão do trato corticoespinhal leva a paresia espástica ipsilateral abaixo do nível da lesão, e a lesão do funículo posterior leva a perda da sensibilidade proprioceptiva e vibratória ipsilateral abaixo do nível da lesão. • A sensibilidade a dor e a temperatura é perdida nos contralateralmente abaixo do nível da lesão. Lembrando: Trato espinotalâmico que conduz informações de dor, temperatura (trato ET lateral) e pressão e tato protopático (trato ET anterior) decussa em nível medular, enquanto os axônios do funículo posterior (propriocepção e vibração) decussam somente em nível bulbar. • Lesão em Neurônio Motor inferior ▪ Força voluntária: reduzida. ▪ Tônus: hipotonia (flacidez). ▪ Fasciculações: presentes. ▪ Trofismo: atrofia muscular (amiotrofia). ▪ Reflexos: tendinosos profundo reduzidos ou abolidos. Síndrome do Neurônio Motor Inferior Topografia da Lesão Apresentação Clínica Reflexos Nível medular (corno anterior) Monoparesia ipsilateral sem hipoestesia Reduzido/abolido Raiz anterior do nervo periférico Monoparesia ipsilateral sem hipoestesia Reduzido/abolido Nervo periférico Monoparesia ipsilateral com hipoestesia associada Reduzido abolido Junção neuromuscular Tetraparesia sem hipoestesia Preservado Músculo Tetraparesia sem hipoestesia Preservado As doenças que acometem o neurônio motor inferior em nível muscular geralmente são generalizadas e não associadas a um trauma/acidente vascular, por isso há tetraparesia. A miastenia gravis é um exemplo (doença autoimune que interfere na junção neuromuscular). Miopatias inflamatórias e distrofias também são exemplos. Vias extrapiramidais • Compreende os tratos rubroespinhal, vestibuloespinhal, tetoespinhal e reticuloespinhal. O 1º neurônio tem seu corpo originado dos núcleos rubro, dos núcleos vestibulares, dos colículos superiores do mesencéfalo e da substância reticular do tronco encefálico. • Trato rubroespinhal: primeiro neurônio decussa em nível mesencefálico. Essa via funciona como facilitadora do estímulo da musculatura flexora e inibidora do estímulo a musculatura extensora. • Trato vestibuloespinhal: inibição da musculatura flexora e estimulação da musculatura extensora. • Trato tetoespinhal: controla os músculos da cabeça, olhos, tronco e porção proximal de membros superiores, sendo relacionado à orientação sensorial e motora da cabeça, de modo que é responsável por reflexos motores decorrentes de estímulos visuais. • Trato reticuloespinhal: controle da coordenação automática da locomoção e postura. Os neurônios que descendem através desse trato agem sobre neurônios motores inferiores que inervam a musculatura proximal e do tronco. • Lesões nas vias extrapiramidais: ▪ Força voluntária: normal. ▪ Tônus: hipertonia plástica (se molda ao alongamento). ▪ Fasciculações: ausentes. ▪ Trofismo: normotrófico. ▪ Reflexos: normais. Doença de Parkinson: síndrome extrapiramidal hipocinética – há acinesia ou hipocinesia (dificuldade para realizar movimento voluntário), hipomimia (redução da mímica facial – fácies parkinsoniana ou em mascara), festinação (andar em bloco, vários passos no mesmo lugar), redução da amplitude dos movimentos, hipertonia plástica, movimentos anormal associados: tremor de repouso. Síndromes extrapiramidais hipercinéticas: síndromes coreicas, atetósicas, coreoatetósicas; basicamente movimentos anormais. Avaliação da Sensibilidade • A sensibilidade é dividida geral: tato, dor, temperatura, propriocepção e sensibilidade visceral; e em especial: visão, olfato, audição e paladar. • Relembrando neuroanatomia (trajeto das fibras sensitivas): nos nervos periféricos, as fibras relacionadas a sensibilidade geral e as fibras motoras estão juntas. Na medula, se separam em diferentes vias/tratos. ▪ Fásciculos grácil e cuneiforme (cordão posterior da medula): sensibilidade vibratória, tato discriminatório e propriocepção. Medula → núcleos no bulbo (grácil e cuneiforme) → decussação no fascículo arqueado → tálamo → córtex sensitivo (giro pós-central). ▪ Trato espinotalâmico lateral: dor e temperatura. Medula → decussação em nível de comissura anterior da medula → tálamo → giro pós-central. ▪ Trato espinotalâmico anterior: tato protopático e pressão. Medula → decussação em nível medular → tálamo → córtex sensitivo. • Como avaliar sensibilidade geral? ▪ Tato simples: algodão; ▪ Dor: agulha (sem perfurar o tecido! Descartar após primeiro uso!); ▪ Sensibilidade profunda vibratória: diapasão de 64 a 128 Hz, sobre eminências ósseas; ▪ Sensibilidade térmica: tubo de água fria ou quente. • Lesões periféricas: lesões no nervo periférico ou craniano, ocorre alteração sensitiva no território de sua distribuição, com perda sensitiva (além da perda motora). ▪ Mononeuropatia: apenas 1 nervo está lesado; ▪ Mononeuropatia múltipla: vários nervos são comprometidos, mas em tempos diferentes (diabetes, arterites); ▪ Polineuropatia: distribuição distal e simétrica, com vários nervos comprometidos na mesma relação temporal (ambas as mãos, ambos os pés); ▪ Lesões radiculares: perda de sensibilidade em faixa no dermátomo relacionado a raiz (hérnias de disco). • Lesões centrais (principais síndromes sensitivas): ▪ Secção medular completa: sensibilidade superficial e profunda – dermátomos acima da lesão normais, dermátomos abaixo da lesão com sensibilidade ausente. ▪ Hemissecção medular completa (síndrome de Brown-Séquard): sensibilidade superficial – dermátomos acima da lesão normais, dermátomos contralaterais abaixo da lesão com sensibilidade ausente; sensibilidade profunda – dermátomos acima normais, dermátomos ipsilaterais abaixo da lesão com sensibilidade ausente. ▪ Lesão de funículo posterior (tabes dorsalis – neurossífilis): sensibilidade superficial global normal, dermátomos acima da lesão normais, dermátomos abaixo da lesão com sensibilidade ausente. ▪ Degeneração combinada subaguda da medula (deficiência de vit B12): sensibilidade superficial normal e diminuição da sensibilidade profunda nos quatro membros. ▪ Síndrome siringomiélica: sensibilidade superficial diminuída no tórax e MMSS apenas para dor e temperatura; sensibilidade profunda normal. ▪ Síndrome da cauda equina: anestesia perineal e sensibilidade profunda normal. ▪ Síndrome do cone medular: anestesia perineal e sensibilidade profunda normal. Exame neurológico dos pares de nervos cranianos I. Nervos olfatórios: as alterações olfação podem ocorrer devido a lesões no epitélio olfatório (na concha nasal superior), por lesão no bulbo ou nervo olfatório (acima da lâmina crivosa), por lesão no trato olfatório ou no córtex entorrinal (olfatório primário) e em regiões do hipocampo (crises olfativas com percepção de odor desagradável → pode indicar tumor de lobo temporal). O exame da olfação é realizado através da percepção unilateral de odores específicos conhecidos pelo paciente (sem auxílio de outros sentidos, como tato, visão ou paladar), o reconhecimento do odor afasta lesões – a substância não pode ser irritativa! II. Nervos ópticos: os campos visuais temporais são projetados nas retinas nasais, cujas fibras cursam os nn. ópticos ipsilaterais e decussam a nível de quiasmaóptico → dessa forma, as imagens temporais são formadas no córtex visual contralateral. Os campos visuais nasais são projetados nas retinas temporais, cujas fibras cursam os nn. ópticos ipsilaterias e não decussam → as imagens nasais são formadas no córtex visual ipsilateral. • Lesão de retina: escotomas (descolamentos, infecções ou traumas); • Lesões de nervo óptico: amaurose (se a lesão for total) ou escotomas (quando parciais). Ex: glaucoma, neurite óptica. • Lesão de quiasma óptico: hemianopsia bitemporal (tumores hipofisários). • Lesão de trato óptico: hemianopsia homônima direita ou esquerda (o lado da hemianopsia é oposto ao da lesão nesse caso). Pesquisa visual: • Avaliação da acuidade visual com discriminação de detalhes usando tabela de Snellen, a 6 metros do paciente, ou cartão de Jaeger a 36 cm. • Campimetria de confrontação – com olhar do paciente fixado nos olhos do examinador e com um de seus olhos ocluídos, o paciente deve informar quando não perceber o objeto que o examinador movimentar medial-lateralmente (para fora de seu campo visual). O objeto deve estar a cerca de 60 cm do paciente e o exame deve ser feito para os dois olhos. A avaliação do resultado é subjetiva, cabendo ao examinador decidir quando há necessidade de maior investigação. • Paciente deve ser interrogado quanto a percepção visual: percepção de cor, forma, profundidade e movimento. Fundoscopia: o NCII é o único nervo que pode ser visualizado no exame físico. É possível observar a retina, vasos (e possíveis hemorragias oculares), o nervo óptico (e possíveis protrusões) e a fóvea centralis, III, IV e VI: nervos oculomotores, trocleares e abducentes • Esses três pares são avaliados em conjunto, por inervarem a musculatura extrínseca dos olhos, o músculo constritor da pupila e o m. ciliar. • Controle das pupilas: constrição pupilar devido a estímulo luminoso sugere função parassimpática do nervo oculomotor ipsilateral preservada (reflexo fotomotor direto); constrição da pupila contralateral a partir de estímulo luminoso indica reflexo fotomotor consensual preservado (a via aferente do reflexo consensual é através do nervo óptico, que envia fibras ao núcleo mesencefálico, de onde emergem eferências para ambos os músculos constritores da pupila). Investigar anisocoria em ambiente claro e escuro! • Movimentação ocular extrínseca: Oculomotores: inerva os mm. retos superior, medial e inferior, bem como o músculo oblíquo inferior. Sua lesão leva a estrabismo divergente (globos voltados para as laterais, devido ao tônus mantido do reto lateral e oblíquo superior), associado a midríase, prejuízo da movimentação da pálpebra superior com ptose. Responsável pelos movimentos para superior, medial e inferior e de exciclodução (distanciamento do globo ocular do nariz). Lesão de n. oculomotor direito. Trocleares: inervam os músculos oblíquos superiores, que realizam o abaixamento do olho e sua inciclodução (aproximação do globo ocular para o nariz). Sua lesão causa diplopia ao olhar para baixo (no descer de escadas por exemplo) pois o olho do nervo lesado tende a ser puxado para superior (movimento de exciclodução prevalece!). Em repouso, o globo ocular lesado está mais voltado para superior que o não lesado. Posição compensatória: inclinação lateral do pescoço para o lado não lesado (melhora da diplopia). Abducentes: inervam os retos laterais e sua lesão causa estrabismo convergente. Não ocorre diplopia ao olhar para a frente; não ocorre diplopia para olhar para o lado contralateral a lesão. Ocorre diplopia ao olhar para o lado ipsilateral a lesão. • Movimento conjugado dos olhos: fibras descendem do córtex cerebral para o tronco encefálico formando o fascículo longitudinal medial; essas fibras estabelecem conexões cruzadas entre os núcleos dos nervos III e VI (III esquerdo-VI direito; III direito-VI esquerdo) para coordenação do movimento conjugado horizontal – a nível pontino. O movimento conjugado vertical é coordenado a nível mesencefálico. V. Nervos trigêmeos • Funções: sensibilidade superficial e profunda da face; motricidade mastigatória. • Avaliação da função motora: pedir que o paciente abra a boca e posteriormente cerre os dentes com força, inspecionando e palpando a contração dos mm. masseteres e temporais. Ou pedir que morda uma espátula em cada um dos lados da dentição posterior; se for mais fácil, puxar a espátula em um dos lados, pode haver lesão. Nas lesões bilaterais, a mandíbula cai por ação da gravidade. Nas lesões unilaterais, a boca aberta desvia para o lado lesado (ação do m. pterigoideo normal). Essas lesões podem levar a disartrias. • Avaliação da função sensitiva: três nervos principais fazem sinapse no gânglio trigeminal, de onde emergirá as fibras aferentes que compõem do nervo trigêmeo. São estes: oftálmico (V1), maxilar (V2) e mandibular (V3). Esses nervos obedecem a topografia ao lado. ▪ Avaliação das áreas: tato (algodão), pressão (digitopressão leve), dor (objeto pontiagudo sem romper contiguidade da pele), temperatura (tubos de vidro com líquido frio ou quente). ▪ Prejuízos em relacionados a dor e temperatura indicam lesão de núcleos trigeminais inferiores (núcleo do trato espinhal); prejuízos de tato e propriocepção sugerem lesão de núcleos trigeminais do trato mesencefálico e sensitivo principal. ▪ O núcleo do trato mesencefálico também recebe aferências relacionadas a propriocepção muscular mastigatória, função de difícil avaliação. Reflexos: ▪ Corneopalpebral: estimulação corneana com algodão leva a fechamento das pálpebras pelo musculo orbicular dos olhos (aferência sensitiva pelo V par (n. oftálmico → trigêmeo; eferência motora pelo VII par). Integração dos pares é feita em nível de tronco encefálico. Para obter o reflexo franco, sem componente consciente, deve-se pedir que o paciente olhe fixamente para cima em direção ao dedo indicador esquerdo do examinador que está erguido acima da cabeça, enquanto com a mão direita o examinador passa levemente o algodão sobre a córnea sem que o paciente perceba. ▪ Mandibular: conexão trigêmeo-trigêmeo. Núcleo sensitivo → núcleo motor. Com a boca do paciente entreaberta, o examinador coloca um dedo sobre o mento e o percute, obtendo a contração dos músculos da mastigação (masseter visível, com fechamento da boca). VII. Nervos faciais • Inervação motora dos músculos da mímica facial e sensitiva dos dois terços anteriores da língua. • Avaliação sensorial: avaliação da gustação (com diluente – água) e da sensibilidade tátil do tragus. • As lesões periféricas dos nervos faciais causam paralisia de hemiface ipsilateral. As lesões centrais provocam perda motora de terço inferior contralateral, pois os terços superiores recebem eferências motoras corticais bilaterais enquanto o terço inferior recebe somente eferências corticais contralaterais. Além da perda da mímica facial, a lesão de nervo facial pode prejudicar a gustação e causar distúrbios de fonação. A paralisia central e periférica é explicada na imagem abaixo. VIII. Nervos vestibulococleares • Possuem somente componente sensitivo. Responsáveis pelas aferências auditivas e relacionadas ao controle postural e equilíbrio. • Hipoacusias por lesão periférica: condutiva X neurossensorial ▪ Condutiva: o som não chega a cóclea para sensibilizar as células receptoras presentes na cóclea e por isso o som não é transmitido à porção coclear do nervo VIII. Ocorre por impedimento mecâncio da chegada do som: perfuração timpânica, cerume, otosclerose. ▪ Neurossensorial: o som chega a cóclea porém não é percebido pelos receptores ou transmitido através do nervo. ▪ Prova de Rinne: diapasão deve ser vibrado com haste posicionada no processo mastoide. Quando paciente referir perda da sensação vibratória, o diapasão deve ser rapidamenteretirado do processo mastoide e posicionado com a porção vibratória lateralmente a entrada do meato acústico externo; o som deve ser percebido pela via aérea por poucos segundos após percebida a perda da sensação vibratória por condução óssea (exame normal; condução aérea melhor que óssea). Caso 1: som percebido pela via óssea mas não pela via aérea → hipoacusia condutiva; caso 2: som não é percebido por via aérea e também não melhora por via óssea → hipoacusia neurossensorial. ▪ Prova de Weber: diapasão é vibrado e posicionado na linha média do crânio entre bregma e lambda; som é mais percebido na orelha afetada → hipoacusia condutiva → o problema de condução reduz o ruído ambiente da sala, ao passo que a orelha interna que funciona bem recebe o som através dos ossos do crânio, gerando percepção mais intensa do som; som é mais percebido na orelha não afetada → hipoacusia neurossensorial → a orelha afetada é menos efetiva em absorver o som mesmo que ele seja transmitido diretamente por condução óssea. ▪ Otoscopia: observação do tímpano e do conduto auditivo. ▪ Prova de rotação: cadeira giratória – equilíbrio na marcha. ▪ Prova calorimétrica: água gelada é infunfida no conduto auditivo externo do paciente → resposta típica: movimento conjugado horizontal dos olhos para lado da infusão. IX e X. Nervos glossofaríngeos e vagos • IX: sensibilidade gustatória do terço posterior da língua; • X: motricidade das cordas vocais; • IX e X: sensibilidade e motricidade do palato e faringe. Exame dos nervos IX e X: • Avaliação da motricidade do palato mole: ocorre elevação do palato mole e úvula ao pedir que o paciente projete a vogal “A” continuamente. Caso a úvula e o palato estejam desviados para um lado (no repouso), suspeita-se de lesão IX e X contralateral ao desvio (sinal da cortina). • Reflexo palatino: estimulação da úvula ou palato mole provoca elevação do palato mole reflexa. • Avaliação da gustação de terço posterior da língua: com diluente. • Avaliação do reflexo do vômito: com estimulação por espátula da parede posterior da orofaringe, sem sensação de vômito na lesão dos nervos IX e X. • Avaliação da sonoridade dada pelas cordas vocais. XI. Nervos acessórios • Motricidade dos mm. esternocleidomastoideos e dos mm. trapézios (porção espinhal) e inervação motora da laringe e faringe (porção craniana). • Avaliação: rotação lateral ativa da cabeça (esternocleidomastoideo contralateral) e tentativa do examinador em abaixar os cotovelos do paciente que tem seus membros superiores abduzidos a 90º (trapézio). • A lesão do ramo interno pode se confundir com lesão de nervo vago por também produzir alterações de fonação (voz rouca, bitonal, sussurrada) e de respiração (dispneia, respiração ruidosa). XII. Nervos hipoglossos • Motricididade e trofismo da língua. • Avaliação da movimentação: inspeção dinâmica dos movimentos da língua interiorizada e exteriorizada. Se houver lesão, a língua exteriorizada tem desvio para o lado lesado. • Avaliaçao do trofismo: se há lesão ocorre hipotrofismo da língua que se torna achatada e com sulcos pronunciados. Pode haver simulação de macroglossia (o tônus reduzido leva a menor tensão das fibras, mas ainda assim elas estão atrofiadas).