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ANATOMIA DO PERIODONTO Inserir o dente no tecido ósseo dos maxilares e manter a integridade da superfície da mucosa mastigatória da cavidade oral. O periodonto é dividido em periodonto de proteção, inclui a gengiva, e periodonto de sustentação, que envolve o ligamento periodontal, cemento radicular e osso alveolar. 1. PERIODONTO DE PROTEÇÃO GENGIVA “Parte da mucosa mastigatória que cobre o processo alveolar e circunda a porção cervical dos dentes.” LINDHE, 2018 MACROSCOPIA Na cavidade bucal pode-se encontrar três tipos de mucosa, a mucosa de revestimento (lábios, assoalho da língua, mucosa alveolar), mucosa especializada (no dorso da língua), mucosa mastigatória (gengiva e palato dura – resiste a forças mastigatória) – durante a mastigação os alimentos são impactados/traumatizados contra esse tecido, logo essa mucosa precisa ser muito firme e por isso a gengiva forma um colar entorno aos dentes para proteger o tecido adjacente. GENGIVA MARGINAL LIVRE É chamada de “livre” pois não está inserida sobre o cemento, essa porção cobre a porção coronária dos elementos dentários (0,5-1 mm) e encontra-se aderida ao elemento dentário. Ao fim da gengiva marginal livre existe uma estrutura que pode ser visualizada em algumas situações, que é chamada de ranhura gengival livre, é uma linha imaginária que passa ao nível da junção cemento-esmalte e que delimita a gengiva livre da gengiva inserida, esta última está aderida tanto no cemento radicular quanto no osso alveolar na cortical óssea externa. Englobando a gengiva livre encontra-se também a gengiva interpapilar ou papila interdentária, que preenche todo espaço interdentário e também não está inserida sobre o elemento dentário. A gengiva inserida possui uma faixa ampla, principalmente em elementos anteriores, diminuindo na região posterior e podendo apresentar o aspecto de casca de laranja, isto ocorre 70% dos indivíduos adultos, não estando relacionado com saúde ou doença. A gengiva possui uma coloração rósea pálida opaca e tem uma consistência firme devido a grande quantidade de fibras colágenas que gera resistência aos impactados mastigatório. Lembrando que a gengiva não pode apresentar sangramento, nem a sondagem, nem espontâneo. PAPILA INTERDENTÁRIA Segue o formato de acordo com a relação de contato entre os dentes, largura da superfície proximal e trajeto da JCE, ou seja, em dentes anteriores, que têm superfície mais delgada, ocorre um ponto de contato e a gengiva preenche todo espaço interdentário, de aspecto mais piramidal, quando se caminha para posterior os dentes tem uma superfície mais larga fazendo com que haja no lugar do ponto de contato uma área de contato e a gengiva fica mais achatada, formando a área do COL (superfície em cela) que separa a porção lingual/palatina da porção vestibular, A área a baixo da superfície de contato (COL) é uma região de tecido muito fina, muitas vezes não queratinizado, altamente sensível, principalmente quando o ponto de contato não está presente (restauração de superfície de contato, problemas oclusais). Caso ocorra falta do ponto de contato, essa área será uma área que recebe muito impacto, o que não ocorre em condições normais. GENGIVA INSERIDA A largura pode variar de acordo com a região. Em dentes anteriores normalmente essa faixa de gengiva é maior e vai se tornando mais estreita na porção posterior. A largura de gengiva inserida possui uma grande importância na proteção dos impactos mastigatórios, pois quanto maior a largura de gengiva inserida, maior a proteção. Deve haver no mínimo 1 mm de gengiva inserida para que o elemento dentário tenha proteção e quanto mais ampla a faixa, maior a proteção, principalmente contra trauma de escovação e traumas mastigatórios. Faixas menores de proteção tornam o dente suscetível a recessão gengival. O que não pode ocorrer é a ausência da gengiva inserida, o paciente que apresenta uma recessão onde a margem gengival está apical, podendo até mesmo encontrar a mucosa alveolar, caracteriza uma condição de doença. A mucosa alveolar não possui consistência semelhante a gengiva inserida, sua constituição contém muitas fibras elásticas e tem como função o revestimento, logo quando alimentos se impactam sobre uma superfície móvel há trauma e progressão da doença por permiti a entrada de MO na região o que favorece a inflamação. Nessas situações onde se perdeu todo o tecido gengival na região é preconizado a realização de cirurgia periodontais para se devolver o periodonto de proteção. Obs.: HARMONIA TECIDUAL A gengiva tem um contorno cervical parabólico onde o ápice da parábola é chamada de zênite, onde nos incisivos superiores o zênite é um pouco distalizado, no lateral é bem centralizado e nos caninos é bem distalizado. A altura da margem do incisivo central coincide com a altura dos caninos, e a do incisivo lateral é um pouco abaixo, isto forma um triangulo gengival, que é uma característica bastante harmoniosa durante o sorriso. FENÓTIPO PERIODONTAL “O fenótipo periodontal é uma característica fundamental para o planejamento e a previsibilidade do tratamento odontológico. Ele não deve ser avaliado só pelo periodontista, como por todos os profissionais de Odontologia” Kahn e Dias, 2019. O periodonto pode variar de um indivíduo para outro, podendo responder de forma diferentes a os tipos de tratamento proposto. Tanto as características anatômicas, como comportamentais/habituais, tudo isso influencia o tratamento periodontal. O termo foi alterado de biótipo periodontal para fenótipo periodontal, porque o periodonto sofre influência ambiental e é passível de mudança, já o biótipo não. Para identificar o fenótipo periodontal é necessário avaliar algumas características do periodonto, são elas: espessura gengival, espessura óssea e largura de faixa de gengiva queratinizada. A espessura gengival pode ser verificada quando uma sonda é introduzida no sulco gengival, sendo assim possível observar a transparência gengival, isto é, se a sonda é visível por transparência. A espessura óssea só pode ser visualizada por exames mais precisos, como tomografias computadorizadas, que hoje também podem ser feitas para tecidos moles, principalmente para tratamentos reabilitadores, auxiliando na avaliação pré-cirurgica. A faixa de largura de gengiva queratinizada, quanto maior mais espesso e melhor qualidade será esse periodonto. Classificação de De Rouck et al, 2009 – descreve os tipos de fenótipo periodontal existente TIPO A1 – fino e festonado: paciente que possui tanto espessura gengival quanto espessura óssea delgada. TIPOS A2 – espesso e festonado: paciente possui periodonto espesso e festonado (recontorno gengival), pode ter gengiva espessa e espessura óssea fina ou o oposto. TIPO B – espesso e plano: boa espessura gengival e osso também espesso. São características fundamentais a serem observadas no exame clínico e alguns itens devem ser observados. a. Coloração da gengeiva: deve possuir coloração rósea. b. Superfície gengival: opaca. c. Consistência: firme d. Contorno: parabólico cervical com papilas preenchendo todo espaço interproximal (piramidal para anteriores, achatada nos dentes posteriores). e. Sangramento a sondagem: ausente Obs.: essas são as características de um periodonto CLINICAMENTE normal, são características macroscópicas que podem ser vistas na clínica. As características microscópicas envolvem um infiltrado inflamatório de células que estão prontamente ativas a agir em caso de agressão, mesmo que na cavidade oral exista uma situação simbiótica, as células inflamatórias estão constantemente respondendo a estímulos antigênicos que ocorrem a cada ciclo alimentício. A saúde periodontal (hoje) pode ser classificada em periodonto normal ou sem doença, mas também existe o periodonto que já passou pelo processo de doença e se recuperou e, este é chamado de periodontosaudável reduzido. Este periodonto pode estar reduzido por escovação inadequada, recessões gengivais recorrentes de processos restauradores (p.ex: aumento de coroa clínica), recessão gengival decorrente de tratamento ortodôntico e outros. Porém também pode estar reduzido por processo de doença periodontal, o paciente teve perda de periodonto de suporte, crista óssea interproximal, mas no momento o paciente apresenta saúde. O periodonto fica mais brilhoso quando o processo inflamatório começa, o periodonto começa a perder a firmeza (perda de fibras colágenas dando lugar para infiltrado inflamatório), há também perda do contorno parabólico, as papilas podem se encontrar hiperplasiadas devido a de edema, sangramento gengival, espontâneo ou durante a escovação e coloração avermelhada devido ao aumento da vascularização para que mais células cheguem ao local da agressão. MICROSCOPIA Nós precisamos entender as características de doença tendo em mente as características inerentes ao tecido. Todos os tecidos em contato com ambiente externo tem um revestimento epitelial, a gengiva é revestida por um epitélio oral queratinizado, é um epitélio espesso e a queratina do epitélio está relacionada ao estímulos mastigatório, esse epitélio se continua até começar a entrar contato com o dente e passa a ser chamado de epitélio do sulco ou sulcular que não é queratinizado (falta de estímulo). Logo abaixo do epitélio sulcular existe um epitélio que é diferente dos citados, ele é menos espeço por ter uma origem diferente e função diferente, na embriogênese ele é gerado do epitélio reduzido do esmalte. Esse epitélio é chamado de epitélio juncional e é mais delgado, chegando a apresentar de 1-3 células na porção mais apical do epitélio, ele tem como função unir a gengiva ao elemento dental, também não possuindo queratinizado. EPITÉLIO ORAL: pavimentoso estratificado paraqueratinizado (alguns núcleos ainda são visualizados na camada córnea). TIPOS CELULARES • Queratinócitos (90%). Abaixo são chamadas células claras. • Melanócitos (em negros podem estar em grande quantidade ficando mais amarronzada – localizados na camada basal). • Células de Langerhans. • Celulas de Merkel. • Células inflamatórias. CAMADAS DO EPITÉLIO ORAL • Camada basal – possuem células mesenquimais indiferenciadas. • Camada espinhosa – células que emitem muitos prolongamentos – “espinhosas”, também há muitos desmossomos. • Camada granulosa – células perdem capacidade de síntese proteica e o citoplasma começa a ficar repleto de queratina. • Camada córnea ou queratinizada – nesta camada a célula está toda ou quase totalmente repleta de queratina e a célula esforlia. Obs.: essa passagem de células pelas camadas é fundamental para a renovação do epitélio, além disso a célula da camada córnea que descama leva consigo microrganismos que estejam aderido nela. É um processo fisiológico que confere proteção ao tecido. Obs.II: no epitélio oral uma célula leva cerca de 30 dias para passar pelas camadas e esfoliar. DESMOSSOMOS São estruturas responsáveis pela aderência epitelial, tanto de uma célula com outra quanto a aderência da célula do tecido (tal como na membrana basal). Um desmossomo é a união de dois hemidesmossomos e sua composição são fibras colágenas do tipo XVII e outras proteínas (integrinas). EPITÉLIO JUNCIONAL Possui características diferentes do epitélio oral, é mais largo na parte correspondente à coroa (15 a 30 camadas de células) e mais estreiro na junção cemento esmalte (1-3 células). Também possui uma alta taxa de renovação celular (5 a 6 dias – maior esfoliação), sendo que essa renovação ocorre na camada basal e suprabasal, que são suas únicas duas camadas. Sua derivação embrionária parte do epitélio reduzido do esmalte. Outra função do epitélio juncional seria a proteção, a sua união com o esmalte, através de hemidesmossomos que são secretados pelas células junto a uma camada basal, os microrganismos são barrados pelo epitélio juncional que está aderido a superfície dentária, impedindo que esses MO entre em contato com o tecido conjuntivo subjacente. Esse epitélio possui duas membranas basais, uma interna, que une o epitélio ao esmalte, e uma externa, que une o epitélio ao conjuntivo subjacente. EPITÉLIO ORAL EPITÉLIO JUNCIONAL CÉLULAR MENORES CÉLULAS MAIORES MENOR ESPAÇO INTERCELULAR MAIOR ESPAÇO INTERCELULAR MAIOR QUANTIDADE DE DESMOSSOMOS MENOR QUANTIDADE DE DESMOSSOMOS INTERDIGITAÇÕES COM O TECIDO CONJUNTIVO (necessita ser nutrido pelo conjuntivo; não possui vasos.) NÃO POSSUI INTERDIGITAÇÕES COM TECIDO CONJUNTIVO Obs.: pensar na função protetora do epitélio, o oral tem que “proteger”; o epitelial a função adesiva influencia as características, precisa ser permeável, por isso poucas células, para células poderem chegar nos tecidos. MEMBRANA BASAL Promove integração entre os dois tecidos e é secretado pelo tecido epitelial. É uma estrutura produzida por células epiteliais e tem como função fazer a transição entre o tecido epitelial e o conjuntivo, além de fazer a adesão mecânica entre eles. Com o ME a membrana basal se apresenta em três camadas, são elas: a lâmina lúcida (rica em lâminina), a lâmina densa (colágeno tipo IV) e fibrilas de ancoragem (colágeno tipo VII). O hemidesmossomos faria a aderência da célula da camada basal a membrana basal. TECIDO CONJUNTIVO Logo abaixo da membrana basal temos o tecido que é o constituinte predominante dos tecidos periodontais, o tecido conjuntivo. A célula predominante neste tecido são os fibroblastos, cerca de (5%), também são encontradas firas colágenas (60%) e vasos, nervos e matriz extracelular (35%). Existem também outras células em menor quantidades, tais como mastócitos, macrófagos e outras células inflamatórias, que quando o tecido está inflamado, se encontram em maior quantidade. FIBROBLASTO É uma célula que possuem núcleo ovoide e especializada na produção de vários tipos de fibras (colágenas, elásticas, reticulares) e da matriz do tecido conjuntivo. MASTÓCITOS No seu citoplasma existem inúmeros grânulos com substâncias vasoativas que podem afetar a função do sistema microvascular e controlar o fluxo sanguíneo através do tecido, principalmente no começo do processo inflamatório. MACRÓFAGO São células derivadas dos monócitos dos vasos sanguíneo, que no tecido inflamado agem na fagocitose de microrganismos e grande partículas e no reparo tecidual, também sintetizam algumas células da matriz extracelular. OUTROS - Leucócitos polimorfonucleares (neutrófilos): primeira linha de defesa do hospedeiro, estão presentes no sulcogengival e epitélio juncional. - Linfócitos: - Plasmócitos: FIBRAS • Colágenas: maior quantidade, conferem resistência. • Reticulares: ao redor de vasos sanguíneos e próximas a camada basal. • Oxitalânicas: no ligamento periodontal. • Elásticas: ao redor de vasos controlando o fluxo. As fibras gengivais formam um colar bem resistente na cervical dos elementos dentais, então de acordo com o feixe de fibras, elas recebem uma nomenclatura. Essas fibras (conjuntivas) se iniciam logo abaixo do epitélio juncional e há cerca de um milímetro de fibras conjuntivas até a crista óssea alveolar, a partir disso, quando as fibras se inserem de um lado no cemento e do outro no osso nós temos fibras do ligamento periodontal. MATRIZ É o meio no qual as células do tecido conjuntivo estão inseridas, é essencial para a manutenção normal desse tecido, todos os transportes, água, eletrólitos, nutrientes, metabólitos e outros, entre as células. A composição básica são macromoléculas de carboidratos e proteínas, que são importantes também para resiliência da gengiva. ESPAÇO BIOLÓGICO (em torno de 2 mm) É composto pelo epitélio juncional (0,97) e a inserção das fibras conjuntivas supra-alveolar (1,07). É definido como uma entidadeanatômica que representa a união entre os tecidos gengivais e as superfícies dentárias, ou seja, a união dentogengival. A função do espaço biológico é fornecer uma barreira protetora contra a invasão de microrganismos, a partir do momento que se tem o epitélio juncional aderido a superfície dentária e impedindo que os microrganismos presentes no sulco gengival entrem no tecido conjuntivo há uma proteção da crista óssea contra os agentes patógenos. A partir do momento que o espaço biológico é rompido a crista óssea fica exposta a doença, esse rompimento pode ocorrer através de lesões de cárie, lesões não cariosas, preparos que invadam o espaço biológico, restaurações subgengivais (classe V), próteses mal cimentadas, fraturas, e outros. Inicialmente se observa uma inflamação e se nada for feito para se reestabelecer o espaço biológico, a crista óssea acaba sendo remodelada, havendo reabsorção óssea, perda de inserção, tudo em uma tentativa do espaço biológico se reestabelecer mais apicalmente. O tamanho do espaço biológico, em torno de 2 mm, não leva em conta o fenótipo periodontal. LINDHE 2018. KAHN 2019
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