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máquina simples e a máquina como uma ferramenta composta. Não
vêem aí nenhuma diferença essencial e até chamam as potências me-
cânicas simples, como alavanca, plano inclinado, parafuso, cunha etc.,
de máquinas.2 De fato, cada máquina constitui-se daquelas potências
simples, como quer que estejam transvestidas e combinadas. Do ponto
de vista econômico, no entanto, a explicação não vale nada, pois lhe
falta o elemento histórico. Por outro lado, procura-se a diferença entre
ferramenta e máquina no fato de que na ferramenta o homem seria
a força motriz, enquanto na máquina ela seria uma força natural di-
ferente da humana, como a força animal, hidráulica, eólica etc.3 De
acordo com isso, um arado puxado por bois, que pertence às mais
diversas épocas da produção, seria uma máquina; o circular loom de
Claussen, que, movido pela mão de um único trabalhador, apronta 96
mil malhas por minuto, uma mera ferramenta. Sim, o mesmo loom
seria ferramenta se movido a mão e máquina se movido a vapor. Como
a utilização de força animal é uma das mais antigas invenções da
humanidade, a produção com máquinas precederia, de fato, a produção
artesanal. Quando, em 1735, John Wyatt anunciou sua máquina de
fiar e, com ela, a revolução industrial do século XVIII, em momento
algum aventou que, em vez de um homem, um burro moveria a má-
quina, e, no entanto, esse papel acabou por recair sobre o burro. Uma
máquina “para fiar sem os dedos”, rezava seu prospecto.4
Toda maquinaria desenvolvida constitui-se de três partes essen-
cialmente distintas: a máquina-motriz, o mecanismo de transmissão,
finalmente a máquina-ferramenta ou máquina de trabalho. A máqui-
OS ECONOMISTAS
8
2 Ver, por exemplo, HUTTON. Course of Mathematics.
3 "Desse ponto de vista pode-se, então, traçar uma nítida linha divisória entre ferramenta
e máquina: pás, martelo, escopo etc., alavancas e chaves de fenda, para os quais, por
artificiais que sejam, o homem é a força motriz (...) tudo isso cabe no conceito de ferramenta;
enquanto o arado, com a força animal que o move, os moinhos movidos a vento etc. devem
ser contados entre as máquinas." SCHULTZ, Wilhelm. Die Bewegung der Produktion. Zu-
rique, 1843. p. 38. Uma obra louvável em vários sentidos.
4 Antes dela, ainda que muito imperfeitas, foram usadas máquinas para torcer o fio, primeiro
provavelmente na Itália. Uma história crítica da tecnologia provaria, sobretudo, quão pouco
qualquer invenção do século XVIII cabe a um só indivíduo. Até hoje não existe tal obra.
Darwin atraiu o interesse para a história da tecnologia da Natureza, isto é, para a formação
dos órgãos de plantas e animais como instrumentos de produção para a vida das plantas
e dos animais. Será que não merece igual atenção a história da formação dos órgãos
produtivos do homem social, da base material de toda organização social específica? E não
seria mais fácil reconstituí-la, já que, como diz Vico, a história dos homens difere da
história natural por termos feito uma e não a outra? A tecnologia revela a atitude ativa
do homem para com a Natureza, o processo de produção direto de sua vida, e com isso
também suas condições sociais de vida e as concepções espirituais decorrentes delas. Mesmo
toda história da religião que abstraia essa base material é — acrítica. É efetivamente
muito mais fácil mediante análise descobrir o cerne terreno das nebulosas representações
religiosas do que, inversamente, desenvolver, a partir das condições reais de vida de cada
momento, as suas formas celestializadas. Este último é o único método materialista e,
portanto, científico. As falhas do materialismo científico natural abstrato, que exclui o
processo histórico, já se percebem pelas concepções abstratas e ideológicas de seus porta-
vozes, assim que se aventuram além dos limites de sua especialidade.

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