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1 Disciplina: Orientação escolar: teoria e prática Autores: M.e Alessandra Schreiber Antunes Revisão de Conteúdos: Esp. Larissa Carla Costa Revisão Ortográfica: Ana Carolina Oliveira Freitag Ano: 2018 Copyright © - É expressamente proibida a reprodução do conteúdo deste material integral ou de suas páginas em qualquer meio de comunicação sem autorização escrita da equipe da Assessoria de Marketing da Faculdade São Braz (FSB). O não cumprimento destas solicitações poderá acarretar em cobrança de direitos autorais. 2 Alessandra Schreiber Antunes Orientação escolar: teoria e prática 1ª Edição 2018 Curitiba, PR Editora São Braz 3 FICHA CATALOGRÁFICA ANTUNES, Alessandra Schreiber. Orientação escolar: teoria e prática / Alessandra Schreiber Antunes – Curitiba, 2018. 52 p. Revisão de Conteúdos: Larissa Carla Costa. Revisão Ortográfica: Ana Carolina Oliveira Freitag. Material didático da disciplina de Orientação escolar: teoria e prática – Faculdade São Braz (FSB), 2018. ISBN: 978-85-5475-190-6 4 PALAVRA DA INSTITUIÇÃO Caro(a) aluno(a), Seja bem-vindo(a) à Faculdade São Braz! Nossa faculdade está localizada em Curitiba, na Rua Cláudio Chatagnier, nº 112, no Bairro Bacacheri, criada e credenciada pela Portaria nº 299 de 27 de dezembro 2012, oferece cursos de Graduação, Pós-Graduação e Extensão Universitária. A Faculdade assume o compromisso com seus alunos, professores e comunidade de estar sempre sintonizada no objetivo de participar do desenvolvimento do País e de formar não somente bons profissionais, mas também brasileiros conscientes de sua cidadania. Nossos cursos são desenvolvidos por uma equipe multidisciplinar comprometida com a qualidade do conteúdo oferecido, assim como com as ferramentas de aprendizagem: interatividades pedagógicas, avaliações, plantão de dúvidas via telefone, atendimento via internet, emprego de redes sociais e grupos de estudos o que proporciona excelente integração entre professores e estudantes. Bons estudos e conte sempre conosco! Faculdade São Braz 5 Apresentação da disciplina Atualmente os educadores vivenciam uma busca constante da garantia de uma educação de qualidade, realmente democrática, onde todos tenham acesso ao conhecimento, uma vez que aprender a ler e a escrever é um direito de todos, que precisa ser garantido através de uma prática educativa baseada em princípios ligados a uma escola inclusiva. Nesse sentido essa disciplina comtempla esse tema tão abrangente que é a atuação do Orientador Educacional. Nas próximas páginas será apresentado como surge essa função dentro das instituições de ensino e quais são suas funções, atribuições e as leis que a regem. 6 Aula 1 – Como surge a Orientação Educacional Apresentação da aula 1 Nesta aula será estudado o surgimento da função do orientador escolar nas instituições de ensino e sua diferenciação do coordenador pedagógico, do diretor e dos professores. 1.1 Origem do orientador educacional Segundo Pimenta (1988), a orientação educacional tem sua origem próxima da década de 30, baseando-se na orientação profissional que se fazia nos Estados Unidos. Aqui no Brasil, a orientação educacional demostrou-se válida na organização da sociedade brasileira na mudança da década de 40 e se fazia na ajuda ao adolescente em escolher sua profissão. A primeira menção a cargos de orientador nas escolas estaduais se deu pelo Decreto-lei No 4.073, de 30 de janeiro de 1942, capítulo XV, art. 56. DECRETO-LEI No 4.073, DE 30 DE JANEIRO DE 1942 Presidência da República Casa Civil Subchefia para Assuntos Jurídicos DECRETO-LEI No 4.073, DE 30 DE JANEIRO DE 1942. Lei orgânica do ensino industrial O Presidente da República. usando da atribuição que lhe confere o art. 180 da Constituição, decreta a seguinte Lei Orgânica do Ensino Industrial TÍTULO I Disposições preliminares Art. 1º Esta lei estabelece as bases de organização e de regime do ensino industrial, que é o ramo de ensino, de segundo grau, destinado à preparação profissional dos trabalhadores da indústria e das atividades artesanais, e ainda dos trabalhadores dos transportes, das comunicações e da pesca. (Redação dada pelo Decreto-Lei nº 8.680, de 1942) Art. 56. Os orientadores educacionais farão parte dos corpos docentes, sendo a sua formação, e os seus estudos de aperfeiçoamento ou especialização, feitos em cursos apropriados. Fonte: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/1937-1946/Del4073.htm http://legislacao.planalto.gov.br/legisla/legislacao.nsf/Viw_Identificacao/del%204.073-1942?OpenDocument http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/1937-1946/Del8680.htm#art1 7 O cargo de orientador nas escolas estaduais se deu pelo Decreto n. 17.698, de 1947, referente às Escolas Técnicas e Industriais. No passado a orientação educacional tinha um conceito terapêutico psicologizante, onde a mesma visava atuar nas questões ligadas ao comportamento do estudante. Vocabula rio Psicologizante: é uma palavra derivada de psicologizar. Analisar ou aplicar-se no estudo da psicologia. [Pejorativo] Fazer estimativas ou previsões de teor psicológico sem que haja comprovação científica. Fonte: https://www.dicio.com.br/psicologizante/ Pode-se dizer que houveram duas fases inicias da Orientação Escolar: 1. Fase romântica: em que se achava que a orientação resolvia todos os problemas direta ou indiretamente com ele. 2. Fase Objetiva: a orientação era vista como uma prestadora de serviço, de diversas ordens e essa não permitia que o aluno tivesse problemas. Atualmente vive-se na fase crítica, onde se vê o estudante em toda a sua totalidade e a orientação está sempre do seu lado. As Leis Orgânicas do Ensino vigentes no período de 1942 a 1946 fazem menção à Orientação Educacional, porém nessa época não existiam cursos de orientação educacional, isso ocasionou o preenchimento dos cargos pelos chamados “técnicos de educação”, os quais muitas vezes eram selecionados por critérios um tanto duvidosos. Até 1988, o estado de São Paulo tinha apenas cinco faculdades que ministravam o curso superior de Orientação Educacional, sendo o primeiro criado pela PUC – Campinas em 1945. Foi no ano de 1958 que o MEC regulamentou de forma provisória o exercício da função e o registro de Orientador Educacional, segundo a Portaria 8 n. 105, de março de1958, tendo essa permanecido provisória até 1961, quando a LDB 4.024 regulamentou a formação do Orientador Educacional. A Lei 5.564, promulgada em 21/12/68, assim como a LDB em vigor na época, demonstrava preocupação com a formação integral do adolescente, também trazia orientações referentes ao ensino primário, naquela época designado o ensino fundamental. No art.10 a Orientação Educacional destinava- se a assistir ao educando, individual ou no coletivo, nas escolas e sistemas escolares de nível médio e primário, tendo em vista o desenvolvimento integral e harmonioso de sua personalidade, ordenando e ligando elementos que exercem influência em sua formação preparando-o para o exercício da sua cidadania. A LDB 5.692/71, ressalta no art. 10: “será instituída obrigatoriamente a Orientação Educacional, incluindo aconselhamento vocacional em cooperação com os professores, a família e a comunidade”. Para Pimenta (1981), a LDB dá um novo sentido ao ensino de 1º e 2º graus: onde se sondava as aptidões profissionais dos adolescentes, sendo assim, a Orientação Educacionalteria o papel de conselheira vocacional. Assim, o que era apenas uma área da Orientação Educacional passa a ser confundida com a própria. Para atender às exigências da legislação, o Decreto 72.846 de 1973 veio a regulamentar a lei 5.564, de 1968, por meio de onze artigos, mantendo, porém, o artigo 1º da Lei 5.564, apenas substituindo as expressões “no âmbito das escolas e sistemas escolares de nível médio e primário” por “no âmbito do ensino de 1º e 2º graus. (PIMENTA, 1981, p. 101). Ao realizar uma leitura crítica e reflexiva da legislação e dos momentos históricos e sociais em que as leis que regem a educação foram promulgadas, pode-se compreender que a Orientação Educacional no Brasil vem cumprindo os objetivos que dela foram esperados, muitas vezes a favor do sistema excludente e poucas vezes carregada de irreverência no sentido da emancipação das classes populares. Isso se deve, principalmente por estarem atreladas às políticas educacionais vigentes nos diferentes momentos históricos e sociais que perpassa o país. 9 Sendo assim pode-se dizer que o campo de atuação do orientador educacional no início era apenas focalizar o atendimento ao educando, aos seus “problemas”, a sua família, aos seus “desajustes” escolares, entre outros fatores e pouco ou quase nada voltado à autonomia do mesmo e a sua formação como cidadão. Tempo depois, voltou-se à prestação de serviços, mas sempre com o objetivo de ajustamento ou prevenção. Na década de 70 muito se falou sobre o descompromisso da escola e de sua equipe pedagógica. Grinspun (2003) diz que nesse período: Tenta-se resgatar a importância da escolaridade para as estratégias de vida das camadas populares, chamando a atenção para a estrutura interna da escola como um dado significativo para o desempenho dos alunos. A Orientação estava dentro da escola e não se deu conta do papel. (GRINSPUN, 2003, p. 20) Porém como relata Balestro (2005, p.19) “os orientadores educacionais deixaram a banda passar sem dar a sua contribuição, isso é, sem fazer parte dela. Eles ficaram em cima do muro e calados”. Em decorrência de tais situações, a partir de 1980 a função de Orientador Educacional começa a ser questionada e seus pressupostos irônicos começam a ser repensados e rediscutidos, a partir disso o orientador começa a fazer-se presente em todos os momentos da escola, discutindo questões do currículo, tais como: objetivos, encaminhamentos, critérios de avaliação, métodos e metodologias de ensino, demonstrando-se preocupado com os alunos e o processo de aprendizagem. Nessa fase cursos de formação continuada foram oferecidos aos orientadores, os quais contribuíram para que a discussão fosse ampliada, envolvendo as práticas, os valores que a rodeavam, a realidade dos educandos, assim como o mundo do trabalho. Milet (1987), em uma atuação ousada para a época e incompreendida pelos profissionais da educação da escola onde ela mesma trabalhava, já apresentou, quase vinte anos atrás, uma mudança de enfoque no trabalho do orientador educacional. É necessário pensar junto com os alunos sobre o ambiente que os circunda e as relações que estabelecem com esse ambiente, para que, tomando consciência da expropriação a que são submetidos, sintam-se fortalecidos para lutar por seus direitos de cidadãos” (MILET, 1987 p.43). 10 Segundo a autora, indisciplina, agressividade, desinteresse, dificuldades de aprendizagem, (queixas mais comuns dos professores), não podem e não devem ser tratadas isoladamente e sim, a partir de um estudo das relações “professor-aluno, aluno-conteúdo, aluno-aluno, aluno-estatutos escolares, aluno-comunidade, professor-comunidade” (MILET, 1987, p. 43). Pela apresentação de um relato de experiência, a autora conclui alertando para o caráter político da atuação do orientador educacional que “ultrapassa os limites dos muros da escola” e se envolve com a comunidade. Depois desse momento nasce um novo olhar em relação ao orientador educacional. A orientação, hoje, está mobilizada com outros fatores que não apenas cuidar e ajudar os ‘alunos com problemas’. Há, portanto, necessidade de nos inserirmos em uma nova abordagem de Orientação, voltada para a ‘construção’ de um cidadão que esteja mais comprometido com seu tempo e sua gente. Desloca-se, significativamente, o ‘onde chegar’, neste momento da Orientação Educacional, em termos do trabalho com os alunos. Pretendendo-se trabalhar com o aluno no desenvolvimento do seu processo de cidadania, trabalhando a subjetividade e a intersubjetividade, obtidas através do diálogo nas relações estabelecidas. (GRINSPUN, 1994, p. 13) Villon (1994) diz que a função do orientador educacional deve ser a de proporcionar a aproximação entre a escola e a comunidade, clareando os papéis e influência de diversas instituições, tais como clubes, industrias, comércios locais, associações, clubes, propiciando a liberdade de ultrapassar o espaço escolar, rumando para a além da comunidade escolar, evidenciando assim que o campo de atuação do orientador educacional não se limita apenas ao espaço escolar. Assis (1994) apresenta a relevância do papel do orientador educacional como corresponsável pela aprendizagem dos estudantes, questionando as práticas dos professores que envolvem aspectos didático-pedagógicos, tais como métodos, metodologia, avaliação, relação professor-aluno, objetivos, conteúdos, mostrando a necessidade de que os professores conheçam e reflitam sobre o real significado e função social da escola. O papel do orientador educacional é apresentado em uma dimensão mais ampla e falando da escola como um espaço privilegiado de participação, Assis (1994) questiona sua formação profissional, apontando para a necessidade do domínio de conteúdos 11 básico para atuação profissional, dizendo que a Filosofia auxilia a prática pedagógica do orientador educacional e acrescentando que outros conhecimentos devem fundamentar a prática do orientador educacional, tais como a psicologia, sociologia, história da educação, além de outros, originários da antropologia, ciências políticas, metodologia e pesquisa em uma abordagem qualitativa. Placco (1994) conceitua a orientação educacional como um processo social desencadeado dentro da escola, mobilizando todos os educadores que nela atuam - especialmente os professores - para que, na formação desse coletivo, auxiliem cada aluno a se construir, a identificar o processo de escolha pelo que passam, com fatores socioeconômicos, político-ideológicos e éticos que o permeiam e os mecanismos por meio dos quais ele possa superar a alienação proveniente da nossa organização social, tornando-se assim, um elemento consciente e atuante dentro dessa organização, contribuindo para a sua transformação. Na década de 1980, ocorre o período que é chamado de “questionador” por Grinspun (1994), o qual foi marcado por estudos, congressos, lutas sindicais que resultaram em grandes conquistas para os orientadores educacionais. A autora também nos diz que a partir da década de 90 surge o período “orientador” que foi marcado por incertezas e questionamentos, porém tais incertezas caíram por terra com a promulgação LDB 9394/ 96, que diz em seu artigo 64 que a formação de profissionais da educação para administração, planejamento, inspeção, supervisão e orientação educacional básica, será feita em cursos de graduação em pedagogia ou em nível de pós-graduação, a critério da instituição de ensino, garantida, nessa formação, a base comum nacional. Em 2000 inicia-se um novo período, onde se mostra necessário que as equipes escolares devem ser rearticuladas, portanto as Diretrizes Curriculares Nacionais para graduação em Pedagogia aprovada em dezembro de 2005, reduzem a orientação educacional a área de serviços e apoio escolar, ficando a um passo para a extinçãocompleta dessa função. Porém de forma arbitrária, o art. 5 menciona que o ingresso do curso de Pedagogia deve torná-lo apto para uma série de funções possíveis apenas a partir de um trabalho integrado com outros profissionais da educação. 12 Por sua vez, o estudante é a razão da existência da escola para colaborar com o aluno e com suas necessidades, a escola precisa contar com o trabalho do orientador educacional, uma vez que esse é o profissional que trabalha direto com o estudante preocupando-se com a sua formação pessoal, cabendo a ele desenvolver propostas que aumentem o nível cultural do estudante e fazendo de tudo para que o ambiente escolar melhore cada vez mais. O orientador educacional diferencia-se do coordenador pedagógico, do professor e do diretor, uma vez que o diretor ou gestor administra a escola como um todo, tanto no administrativo quanto no pedagógico, já o professor ocupa-se da especialidade de sua área do conhecimento, o coordenador pedagógico oferece condições para que o professor atue da maneira mais satisfatória possível e, por fim, o orientador educacional responsabiliza-se pela formação de seu estudante, para a escola e para a vida. Em uma versão contemporânea, o orientador educacional deve ter o estudante como o centro da ação pedagógica, sendo papel do orientador atender a todos os estudantes em suas expectativas e solicitações. Não se deve ater apenas aos estudantes que possuem problemas disciplinares e/ou dificuldades de aprendizagem, sendo sua maior função a de mediador entre o estudante e o meio social, discutindo problemas da atualidade, os quais fazem parte do conteúdo sociopolítico, econômico e cultural em que se vive, problematizando e a fim de levar o estudante a estabelecer relações e desenvolver sua consciência crítica. Para que o orientador exerça sua função, ele necessita compreender o desenvolvimento cognitivo do estudante, sua afetividade, emoções, sentimentos, valores e atitudes, promovendo entre os estudantes momentos de reflexão. 13 Amplie Seus Estudos SUGESTÃO DE LEITURA Orientação educacional: teoria, prática e ação, de Olívia Porto. Nessa leitura será percebido que o orientador educacional deve unir-se aos demais profissionais da educação e, dentro de suas especialidades, facilitar as relações entre o desenvolvimento e a aprendizagem. Resumo da aula 1 Nesta aula estudou-se como surge a função de Orientação Educacional no Brasil, bem como algumas legislações e orientações para esse importante profissional da área da educação. Viu-se que orientador educacional diferencia- se do coordenador pedagógico, do professor e do diretor, uma vez que o diretor ou gestor administra a escola como um todo tanto no administrativo quanto no pedagógico, já o professor ocupa-se da especialidade de sua área do conhecimento, o coordenador pedagógico oferece condições para que o professor atue da maneira mais satisfatória possível e por fim o orientador educacional responsabiliza-se pela formação de seu estudante, para a escola, e para a vida. Atividade de Aprendizagem Conforme conteúdo estudado na aula, discorra sobre a importância do trabalho do orientador educacional nas escolas da contemporaneidade. 14 Aula 2 - O que diz a legislação sobre Orientação Escolar Educacional Apresentação da aula 4 Nesta aula será estudada a legislação acerca da função do orientador escolar. Suas funções, paradigmas, preconceitos e contradições dessa profissão. 4.1 Primeiras diretrizes na Orientação Educacional A Orientação Educacional no Brasil nem sempre aconteceu de forma uniforme na escola, pois encontra suas origens na Lei Orgânica do Ensino Industrial de 30 de janeiro de 1942 e no Decreto Lei nº 4244 de 04 de abril de 1942 o qual estabeleceu as diretrizes para essa função, no que se refere a encaminhar os estudantes a escolha de uma profissão, sempre em harmonia com a sua família. DECRETO-LEI Nº 4.244, DE 9 DE ABRIL DE 1942 Lei orgânica do ensino secundário. O Presidente da República, usando da atribuição que lhe confere o art. 180 da Constituição, decreta a seguinte LEI ORGÂNICA DO ENSINO SECUNDÁRIO TÍTULO V Da organização escolar CAPÍTULO VI DA ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL Art. 80. Far-se-á, nos estabelecimentos de ensino secundária, a orientação educacional. Art. 81. É função da orientação educacional, mediante as necessárias observações, cooperar no sentido de que cada aluno se encaminhe convenientemente nos estudos e na escolha da sua profissão, ministrando-lhe esclarecimentos e conselhos, sempre em entendimento com a sua família. Art. 82. Cabe ainda à orientação educacional cooperar com os professores no sentido da boa execução, por parte dos alunos, dos trabalhos escolares, buscar imprimir segurança e atividade aos trabalhos complementares e velar por que o estudo, a recreação e o descanso dos alunos decorram em condições da maior conveniência pedagógica. 15 Art. 83. São aplicáveis aos orientadores educacionais os preceitos do artigo 79 desta lei, relativos aos professores. Rio de Janeiro, 9 de abril de 1942, 121º da Independência e 54º da República. GETULIO VARGAS. Gustavo Capanema. Fonte: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/1937-1946/Del4244.htm Pascoal, Honorato e Albuquerque (2008) fazem uma retrospectiva histórica sobre a orientação educacional no Brasil, identificando o seu surgimento por volta de 1930. Nesse período o Brasil tinha como referência o modelo norte-americano da orientação profissional e manteve suas características voltadas principalmente a área vocacional, cujo objetivo era identificar dons e aptidões dos alunos encaminhando-os a profissionalização. A Orientação Educacional nessa época tinha o intuito de modelar o aluno aos padrões sociais, auxiliando na escolha profissional do educando, além de assumir características psicológicas e terapêutica para resolver “os problemas” dos alunos, procurando ajustá-los à sociedade. Conforme Decreto-Lei n. 4.073 de 30 de janeiro de 1942, estabelecida como Lei Orgânica do Ensino Industrial, a orientação educacional era de caráter “corretivo”, voltado para o atendimento aos “alunos-problema”. Os orientadores eram incumbidos de desenvolver projetos como construção de revistas, jornais, grêmios e cooperativas, visando a autonomia e a elevação das qualidades morais do educando. Segundo o Decreto-Lei n. 4.244 de 09 de abril de 1942, a Lei Orgânica do Ensino Secundário coloca como função do orientador o encaminhamento dos alunos aos estudos e orientação na escolha da profissão. Nessa lei destacava- se a necessidade de o orientador cooperar com o professor para garantir a realização dos trabalhos escolares, recreação e estudos complementares. No Decreto-Lei n. 6.141 de 28 de dezembro de 1943, da Lei Orgânica do Ensino Comercial, o orientador educacional aparece com a função de auxiliar os alunos para que executassem seus trabalhos escolares com qualidade, cuidando-os quanto à saúde e respeitando seus problemas intelectuais e morais, conduzindo-os com segurança para que tivessem êxito em suas escolhas. 16 A orientação educacional no Decreto-Lei n. 9.613 de 20 de agosto de 1946 que se refere à Lei Orgânica do Ensino Agrícola, em relação ao orientador educacional, possui as mesmas especificações da Lei Orgânica do Ensino Comercial citada acima, em relação ao papel do orientador educacional. De acordo com a lei nº 4.024, de 20 de dezembro de 1961 onde se fixou diretrizes e bases da educação nacional, no artigo 62º, observa-se que já se pensava em especialização na área, pois nesse artigo ficava estabelecido que a formação do orientador deveria ser feita através de cursos especiais. No artigo 63º a formação do orientador educacional,para atuar no ensino médio, era responsabilidade das faculdades de Filosofia, onde segundo essa lei, seriam criados cursos especiais destinados aos licenciados em Pedagogia, Filosofia, Psicologia ou Ciências Sociais, bem como os diplomados em Educação Física pelas escolas superiores de Educação Física e os inspetores federais de ensino, todos com estagio mínimo de três anos no magistério. O artigo 64º refere-se aos orientadores de escola primária que deveriam ser diplomados no Ensino Normal (curso de formação de professores da época) também necessitando ter no mínimo três anos de atuação no magistério. A Lei nº 5.564 de 21 de dezembro de 1968, publicada no Diário Oficial da União em 27 de julho de 1973, reforçou a LDB de 1961, com o intuito de garantir um orientador educacional capacitado. Conforme essa lei: Art. 3º - A formação de orientador educacional obedecerá ao disposto nos Arts. 62 63 64 da Lei nº. 4.024, de 20 de dezembro de 1961 e aos outros diplomas legais vigentes. Art. 4º - Os diplomas de orientador educacional serão registrados em órgão próprio do Ministério da Educação e Cultura. (BRASIL, 1961) Ainda nessa lei nº 5.564, a Orientação Educacional ficava destinada a assistir o educando individualmente, dando ênfase a um trabalho voltado para o desenvolvimento cognitivo, psicomotor e afetivo dos alunos. Na lei N. 5.692, de 11 de agosto de 1971, na qual estava fixada a Lei de Diretrizes e Bases da Educação, a orientação educacional passou a ser obrigatória, conforme art. 10: “Será instituída obrigatoriamente a Orientação Educacional, incluindo aconselhamento vocacional, em cooperação com os professores, a família e a comunidade” (BRASIL, 1971). 17 Na Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996 que estabelece as atuais Diretrizes e Bases da Educação Nacional, o orientador educacional é citado apenas no Artigo 64º, onde informa que a formação do orientador se dará por meio de graduação em Pedagogia e/ou especialização: Art. 64. A formação de profissionais de profissionais de educação para administração, planejamento, supervisão e orientação educacional para a educação básica, será feita em cursos de graduação em pedagogia ou em nível de pós-graduação, a critério da instituição de ensino, garantida, nesta formação, a base comum nacional. (BRASIL, 1996) A resolução do Conselho Nacional de Educação/Conselho Pleno – CNE/CP Nº 1, de maio de 2006 que institui as Diretrizes Curriculares Nacionais para o Curso de Graduação em Pedagogia, licenciatura, define que o pedagogo pode atuar em todas as áreas nas quais sejam previstos conhecimentos pedagógicos. Isso inclui áreas de apoio como a orientação educacional, reforçando a não obrigatoriedade de possuir especialização para atuar na área. Reforçando o que diz a Lei nº 9.349 (LDB 1996), portanto, essa resolução deixa a especialização na área de orientação como opcional para trabalhar como orientador educacional. Em documentos mais atuais como no relatório da Conferencia Nacional de Educação – CONAE (2010), ressalta-se a importância da ampliação da oferta de cursos de pós-graduação para especialistas-gestores incluindo o orientador educacional. A função do orientador não é citada diretamente, mas refere-se à necessidade de um serviço de apoio e orientação ao educando em relação à vida social, se preocupando com o reconhecimento, com a valorização da diversidade, as desigualdades sociais de gênero, de orientação sexual e também de atendimento aos deficientes, com sistemas inclusivas, que contemplem a diversidade visando à igualdade. No entanto, as atribuições do orientador educacional na atualidade ainda estão pautadas na Lei nº 5564, de 21 de dezembro de 1968, regulamentada pelo Decreto nº 71846, de 26 de setembro de 1973. Em seu artigo 1º: 18 Constitui o objeto da orientação educacional a assistência ao educando individualmente ou em grupo, no âmbito do ensino de 1º e 2º graus, visando o desenvolvimento integral e harmonioso de sua personalidade, ordenando e integrando os elementos que exercem influência em sua formação e preparando-o para o exercício das opções básicas. (BRASIL, 1973) O artigo 8º deste Decreto atribui-se ao orientador planejar e coordenar o SOE Serviço de Orientação Educacional, o processo de informação educacional e profissional, sondar interesses, aptidões, e habilidades dos educandos, sistematizar o processo de acompanhamento dos alunos, encaminhando-os a outros especialistas, cabe também ao orientador educacional ministrar disciplinas de teoria e pratica da orientação educacional e supervisionar estágios na área. Ainda nesse Decreto em seu artigo 9º consta que compete ao Orientador Educacional participar no processo de identificação da comunidade, da clientela escolar, de elaboração do currículo pleno da escola, da composição e acompanhamento de turmas e grupos, do processo de avaliação e recuperação dos alunos, do encaminhamento de estágios, do processo de integração família e escola e realizar estudos e pesquisas na área da Orientação Educacional. Grinspun (2001) reforça que historicamente a orientação educacional tem se preocupado com os “fazeres” proclamados, que por um longo período na história foram mais importantes que compreender o porquê de fazer, então a orientação prendia-se a realizar o que estava presente no decreto que regulamentava e ainda regulamenta sua profissão sem pensar no porquê de atuar dessa forma, sem compreender a importância de ter sua atuação voltada ao aluno e a tudo que se refere ao mesmo. Atualmente, o orientador tem seu próprio espaço junto aos demais profissionais da escola para que o trabalho pedagógico ocorra de forma integrada, refletindo sobre as relações que estabelecidas no processo educacional, portanto o orientador deve estar atento ao trabalho coletivo da escola, atuando em harmonia com os demais profissionais educacionais, uma vez que o trabalho é interdisciplinar. Hoje pode-se perceber a existência de um número bem reduzido de Orientadores Educacionais nas escolas, além de um percebido descaso das instituições públicas em estimular esse profissional a desenvolver as suas 19 atividades. Em muitos casos, o Orientador Educacional fica responsável por atividades simplistas dentro da escola, como cuidar da disciplina nos corredores ou no recreio, cobrir a ausência do diretor, do secretário ou de outros profissionais que atuam na escola e até substitui a falta de um ou outro professor. A autora Giacaglia (2002), esclarece que é incompatível com o exercício da função de Orientador Educacional: Proceder à chamada de alunos; recolher, caminhar e/ou entregar cadernetas escolares ou de passes; cuidar da própria disciplina em salas de aula, nos corredores ou nos recreios; cobrir sistematicamente as ausências do diretor (a não ser que seja afastado de seu cargo e designado para assumir a direção), do secretário ou de qualquer outro profissional que atue na escola. (GIACAGLIA, 2002, p. 7) Quanto à questão de substituir o professor, a autora nos diz que: O Orientador Educacional poderá ser considerado um substituto eventual de professores, o contribuirá para o estabelecimento de confusões de funções, comprometendo, inclusive, a sua imagem. (GIACAGLIA, 2002, p.7) Cada profissional tem suas funções próprias, que não podem ser confundidas com a dos demais profissionais, evitando assim, que as mesmas se afastem da sua verdadeira imagem. Atualmente vive-se uma fase crítica, onde procura-se ajudar o estudante, de forma integral, com os seus problemas e o momento histórico, nesse sentido, o orientador educacional é considerado um educador e voltando seu trabalho para o que é fundamental na escola, ou seja, o currículo, o ensino, a aprendizagem e todas as relações decorrentes, tendo um papel fundamental nessa caminhada. O autorRubem Alves compara a profissão do professor e do educador: Educadores, onde estarão? Em que covas terão se escondido? Professores, há aos milhares, mas o professor é profissão, não é algo que se define por dentro, por amor. Educador, ao contrário, não é profissão; é vocação. E toda vocação nasce de um grande amor, de uma grande esperança. (ALVES, 2000, p. 16) Para que se concretize essa maneira de ensinar, o orientador possui um grande paradigma, ele é o elo que atua com os estudantes, professores, pais e toda a comunidade escolar, criando possibilidades para uma educação 20 globalizada, sendo necessário ter em vista as transformações nos contextos sócias, econômicos e políticos, que criam novas demandas e desafios na educação e que resultam em novas necessidades. Assim surge um novo perfil de estudante, exigindo a relevante atuação do orientador educacional no espaço escolar, tendo no estudante o seu principal objeto de trabalho, buscando um positivo resultado final do processo ensino aprendizagem, devendo comprometer-se com a formação do cidadão consciente da sociedade em que vive. Há um grande número de professores que atuam como orientadores educacionais, porém tal situação é bastante criticada por muitos educadores. Há um consenso de que essa função tem importância fundamental para o trabalho desenvolvido nas escolas, uma vez que o orientador educacional, junto ao professor, estabelece diretrizes para que o currículo seja o melhor possível e o desenvolvimento do ensino seja adequado ao estudante, pois a aprendizagem se torna mais significativa quando ela ocorre em situações que facilitam a sua consolidação. O orientador torna-se um mediador das dificuldades encontradas pelos estudantes, pois é sabido que o meio em que o estudante está inserido tem uma grande influência nessa aprendizagem. Através da articulação e reflexão constroem-se novas propostas de ação, que geram novas formas de ensinar e essas poderão tornar o mundo melhor. Antigamente o orientador educacional se preparava para resolver todos os possíveis problemas enfrentados pelo estudante, fossem estes de ordem afetiva, sexual, familiar ou social. Hoje seu papel direciona-se a refletir, discutir e identificar os problemas vivenciados não apenas pelos estudantes, mas pela comunidade escolar em geral. Ainda existem preconceitos e contradições, muitas vezes falsos entre a escola e o orientador educacional. Por esse estar em contato com os diferentes segmentos escolares, tem a possibilidade de percebê-los mais facilmente e assim cuidar para que a escola como um todo seja guiada por interesses comuns, sendo certamente essa uma das mais importantes funções do orientador: conduzir reflexões que entendam a estreita relação entre autoridade e liberdade, de respeito às normas e formação de cidadãos, da disciplina, da construção do conhecimento e criticidade. 21 Em muitas escolas permanece o pensamento de que o orientador educacional tenha as soluções para todos os problemas que lhe são apresentados, porém ele não tem como dar conta de todos os conflitos, nem poderia restringir-se a aconselhar os estudantes, uma vez que se se almeja a autonomia de pensamento e senso crítico, para optar pelo caminho que o sujeito achar melhor. Segundo Charlot (2013), não se pode negar o fato de que a educação é fundamental para o desenvolvimento e socialização do indivíduo. Por educação, a Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), afirma: Art. 1º - A educação abrange os processos formativos que se desenvolvem na vida familiar, na convivência humana, no trabalho, nas instituições de ensino e pesquisa, nos movimentos sociais e organizações da sociedade civil e nas manifestações culturais. Art. 2º A educação, dever da família e do estado, inspirada nos princípios de liberdade e nos ideais de solidariedade humana, tem por finalidade o pleno desenvolvimento do educando, seu parceiro para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho. (BRASIL, 1996) Amplie Seus Estudos SUGESTÃO DE LEITURA A orientação educacional: conflito de paradigmas e alternativas para a escola, de Míriam Grinspun. Nesse livro você poderá analisar como ocorre a formação do orientador educacional na graduação, bem como o mesmo pode colaborar de forma positiva na formação do cidadão. Resumo da aula 2 Nesta aula foi possível conhecer as leis que regem o trabalho da Orientação Escolar/ Educacional. Realizou-se uma leitura crítica da legislação e dos contextos sociais em que as leis ligadas a educação foram homologadas. Pôde-se compreender que a função de orientação educacional no Brasil tem cumprido os papéis que dela eram esperados, muitas vezes favorecendo a 22 permanência de um sistema excludente, que não privilegia as camadas populares, pelo fato de estar atrelada às políticas educacionais vigentes nos diferentes momentos históricos. Atividade de Aprendizagem No período de 1930 o Brasil tinha como referência a orientação educacional norte-americana. Nessa época, qual era seu objetivo? Aula 3 - O papel do Orientador Escolar Apresentação da aula 3 Nesta aula será conhecida a função do orientador escolar nas instituições de ensino, suas dificuldades, suas concepções práticas e a medicação entre professor e estudante. 3.1 A construção da coletividade e cidadania O orientador educacional deve esmerar-se para construir na escola um clima de coletividade que sensibilize a todos, quanto à necessidade de se cooperar nas suas atividades, com entusiasmo, respeito e solidariedade, buscando sempre cumprir com o que se estabelece no Projeto Político Pedagógico da escola e contribuir não só no atendimento dos estudantes com dificuldades, mas para discutir, junto a direção, coordenações e professores, os fatos ocorridos, buscando ações possíveis de serem realizadas, para a formação integral do estudante na sua construção cidadã. Na escola o orientador escolar é um dos membros que compõe a equipe gestora, juntamente com o diretor e o coordenador pedagógico, sendo o principal responsável pelo desenvolvimento pessoal de cada estudante, dando suporte a 23 sua formação cidadã, levando-o a refletir sobre valores morais e éticos e a ser capaz de resolver conflitos e a lidar com os mesmos. Junto ao professor, o orientador escolar preza pelo processo de aprendizagem e formação dos estudantes, auxiliando o docente na compreensão dos comportamentos dos estudantes atualmente. Muitas mudanças têm ocorrido com nossa sociedade, dando origem a novas demandas, levando a escola a buscar novas alternativas de atendimento a todos, pois a realidade da educação passa por conflitos sociais e políticos. Conforme Silva (1995), existe um senso comum na modernidade que atribui a educação a realização de algumas ideias, como progresso social, da ciência e da razão, da autonomia do sujeito no papel da sua própria educação. Segundo a definição que Silva (1995) faz sobre a educação moderna: Educação moderna é a instituição disciplinar por excelência – nos dois sentidos da palavra. A sua natureza disciplinar, isto é, como instituição organizada em torno de disciplinas – no sentido epistemológico - e como instituição encarregada da disciplina – no sentido político - é talvez o traço que a define de forma mais caraterística e também o seu traço mais permanente e impermeável. Numa perspectiva que questiona uma tal sociedade disciplinar é obviamente, a sua principal instituição disciplinar que se encontra sob ataque. (SILVA, 1995, p. 251) Para que se compreenda a função do orientador nesse processo de integração da comunidade escolar e no processo educacional do estudante, recorre-se a definição de Martins (1984), para o trabalho de Orientador Educacional:A orientação educacional (OE) é um processo organizado e permanente que existe na escola. Ela busca a formação integral dos educandos (este processo é apreciado em todos os seus aspectos, tido como capaz de aperfeiçoamento e realização), através de conhecimentos científicos a métodos técnicos. A Orientação Educacional é um sistema em que se dá através da relação de ajuda entre orientador, aluno e demais segmentos da escola, resultado de uma relação entre pessoas, realizada de maneira organizada que acaba por despertar no educando oportunidades para amadurecer, fazer escolhas, se auto conhecer e assumir responsabilidades. (MARTINS, 1984, p. 97) Valorizar a humanização do sujeito e abrir espaço para sua autonomia são ações fundamentais no processo da educação. Martins (1999) define a importância do professor e traça uma postura adequada para sua função: 24 O educador é, sem dúvida, o elemento fundamental da comunidade educativa, pois desempenha a missão de formar a alma do educando. Em função disso, não pode limitar-se a um mero transmissor de conhecimento ou ser apenas alguém que faz da educação um meio de ganhar a vida, antes disso, o educador deve irradiar entusiasmo, vibrando com a ação educativa. (MARTINS, 1999, p. 136) Partindo desse pressuposto de uma escola autônoma e democrática que se visa a participação de toda a comunidade escolar na construção de uma escola que possibilite a formação do sujeito. Puig (2000) define escola democrática como uma instituição que se propõe instruir e formar estudantes por meio da participação no decorrer das atividades de trabalho e vivência docente, pois uma escola democrática pretende que os atores principais da sua própria educação sigam participando ou fazendo parte direta de todos aqueles aspectos do processo formativo, possíveis de realizar com autonomia. Cabe a escola cuidar em não limitar em excesso o que pode ser feito pelos seus estudantes, porém, também cabe a ela atribuir responsabilidades e tarefas. Portanto, uma escola democrática deseja que a participação de seus estudantes e responsabilidade dos professores sejam complementares, de acordo com a faixa etária e as diferentes realidades de cada escola, ou seja, uma escola realmente democrática é aquela que possibilita a participação dos estudantes sem negar, contudo, a função e a responsabilidade dos seus educadores. Uma escola democrática é uma instituição que possibilita em níveis acessíveis a participação do estudante, onde esse adquira a autonomia e responsabilidade que permitam a sua participação na comunidade. Algumas intercorrências de ordem pessoal como dificuldades interpessoais, problemas familiares, baixa autoestima, podem influenciar no rendimento escolar do estudante. Coll (2004), ao descrever alguns fatores que se relacionam com a aprendizagem do sujeito, traz o essencial na prática escolar: É fundamental que as crianças com dificuldades de aprendizagem não sejam vistas como culpadas, e que a escola não sacralize como único valor o rendimento escolar, de modo que aqueles que tenham dificuldades de aprendizagem sejam bem-aceitos na escola, na família e na sociedade, circunscrevendo o problema à própria dificuldade de aprendizagem. (COLL, 2004, p.118) 25 O Orientador Educacional está imergido em um contexto contínuo de conflitos e problemas escolares, onde deve-se considerar que além da busca pela garantia da real aprendizagem do currículo disciplinar que o estudante necessita é preciso construir uma adequada rede de relações sociais e interpessoais, sendo o orientador educacional o favorecedor da segurança emocional dos estudantes e professores, promovendo ainda o envolvimento dos pais com a educação dos filhos, resgatando o espirito de cooperação e ajuda dos indivíduos diretamente responsáveis pela construção do sujeito. Por sua vez, Coll (2004) coloca que o ideal seria a ampliação a rede de apoio, já que é na escola que se explicitam os conflitos. É preciso que se implante nas escolas programas efetivos de intervenção com as famílias, visando ações preventivas: Uma proposta preventiva globalizada não deveria centrar-se somente no âmbito escolar, mas teria de incidir também no contexto social. Por essa razão, as políticas sociais que reduzem as condições de risco (pobreza, clima de violência) e incentivam fatores geradores de bem- estar (serviços de saúde, trabalho, proteção social, moradia digna) têm uma relação positiva no âmbito educativo. (COLL, 2004, p. 124) Segundo Lück (1994) o orientador educacional deve ter como ponto primordial a educação que consiga ligar conhecimento, habilidades e sentimentos na prática do professor e no currículo, ou seja, aquela que consegue reequilibrar tanto as necessidades individuais quanto as do grupo e da escola. É fato que há tempos passados o processo de ensino e aprendizagem ocorria apenas na escola, porém hoje sabe-se que o mesmo sofre influência do seu entorno. Sendo assim é fundamental que se conheça a realidade em que a escola e os estudantes estão inseridos, para que se garanta o sucesso da aprendizagem. É nesse ponto que se cumpre a função do orientador educacional. É sabido que se aprende nas relações do dia a dia, na interação com o outro, portanto uma das funções do orientador educacional é a de mediador da relação estudante-professor, não sendo apenas o que aponta culpados e defende inocentes, mas o que caminha para o planejar, coordenar, avaliar e assessorar tais relações. Mira (2017), reflete que: 26 Educar somente para o trabalho, para o cumprimento de metas qualitativamente mensuráveis, para a boa posição nos rankings das avaliações externas não é suficiente para garantir a formação de pessoas humanas. (MIRA, 2017, p. 20) Existem profissionais que demonstram, por meio de suas concepções e práticas pedagógicas, a preocupação de garantir condições e conhecimentos aos estudantes e que garantam aos mesmos um futuro condizente com o que a sociedade exige para a sua vida profissional. Porém, é necessário olhar além do resultado quantitativo de um estudante, sendo relevante acompanhar seu desenvolvimento e quais os fatores que o impedem de atingir a aprendizagem desejada e almejada. Alguns questionamentos são necessários para provocar os atores principais da educação, visando acompanhar suas ações dentro da instituição de ensino, provocando conflitos que farão necessária a atuação e intervenção do orientador educacional, tais questionamentos como: ➢ Como será que os indivíduos aprendem e se desenvolvem? ➢ Há apenas uma única forma de avaliar o indivíduo? ➢ O que a escola e o professor querem ensinar? ➢ O que será que o estudante traz de conhecimento ao chegar na escola? ➢ Quem são os indivíduos envolvidos no processo de aprendizagem? ➢ Qual a reação dos estudantes diante das novas aprendizagens? Ainda nos dias de hoje, há escolas que não conseguem conviver harmoniosamente com as diferenças, conservar valores tradicionais de formação humana, professores que idealizam a mesma aprendizagem e da mesma forma para todos os estudantes. Trabalha-se no presente projetando o futuro, questionando sobre o que realmente se quer ensinar. Mantoan (2011) descreve a visão que muitos pais e professores fazem da qualidade na educação: Vigora ainda a visão conservadora de que as escoas de qualidade são as que enchem as cabeças dos alunos com datas, fórmulas, conceitos justapostos, fragmentados. A qualidade desse ensino resulta do primado e da supervalorização do conteúdo acadêmico em todos os 27 seus níveis. Persiste a ideia de que as escolas consideradas de qualidade são as que centram a aprendizagem no racional, no aspecto cognitivo do desenvolvimento, e que avaliam os alunos quantificando respostas-padrão. Seus métodos e práticas preconizam a exposição oral,a repetição, a memorização, os treinamentos, o livresco, a negação do valor do erro. São aquelas escolas que estão sempre preparando o aluno para o futuro: seja este a próxima serie a ser cursada, o nível de escolaridade posterior, o exame vestibular! (MANTOAN, 2011, p. 60) O Orientador Educacional nesse ponto, deve ter a mediação entre professor e estudante como seu principal papel, fazendo-se perceber como articulador, com o empenho necessário entre o que se tem e o que se deseja, contribuindo para a organização, dinamização e o sucesso do processo educativo, não podendo ser um mero ouvinte passivo das reclamações dos professores, nem apenas aquela pessoa que aponta os problemas familiares como a causa do insucesso na educação. A atuação do orientador educacional precisa ser a de resgatador da capacidade de os professores enxergarem além do estudante/número, mas sim fazê-los refletir que recorrentes fracassos de um estudante não o tornam um incapacitado. O orientador educacional pode ser quem promove a possibilidade da qualidade, quando as ações educativas estão associadas a solidariedade, a colaboração, ao compartilhamento de todos os envolvidos como estudantes, professores, pais e/ou responsáveis e comunidade escolar. Uma educação realmente democrática e de qualidade para todos implica não apenas no sucesso do ensino de habilidades para desenvolver a função de ensinar com sucesso. A visão de orientação de que dispomos hoje deixa para trás as funções desempenhadas por esse profissional no passado e que nem sempre colaboravam com o processo educativo. Não se trata de “apagar o fogo”, como, historicamente, fazia o orientador educacional, chamado nas ocasiões em que havia problema a ser solucionado ou para abafar os casos de indisciplina. Nem inspetor de alunos, nem psicólogo. Hoje, além de conhecer o contexto socioeconômico e cultural da comunidade, bem como a realidade social mais ampla, o orientador educacional pode ser um profissional da educação encarregado de desvelar as forças e contradições presentes no cotidiano escoar e que podem interferir na aprendizagem. A prática dos orientadores deve estar vinculada às questões pedagógicas e ao compromisso ético de contribuir na construção de uma escola democrática, reflexiva e cidadã. (BALESTRO, 2005, p. 21) 28 A função de orientador escolar vai além de um cargo de confiança da equipe diretiva ou integrante burocrático da Gestão Escolar, sua atuação implica em ser autêntico, visionário, líder, para que consiga envolver todos no trabalho realizado na escola, fazendo de suas ações e atitudes um exemplo, dando a mesma importância para professores e estudantes, motivando todos os envolvidos a acreditarem em seu próprio valor pessoal. Reconhecemos que é de suma importância que o orientador escolar administre suas próprias ações, respeitando as diferenças, pesquisando, analisando todos os pontos de uma situação, conversando, ouvindo e aceitando opiniões diferentes das suas, agindo com a razão e liderando para que, dessa forma, a escola se constitua em um ambiente envolvente de aprendizagem onde se promova o crescimento do indivíduo educativo. É crescente a consciência de que as formações continuadas são essenciais para o professor, para tanto, o orientador escolar precisa estar pesquisando constantemente novas formas de desempenhar seu papel com sucesso na formação tanto dos professores, quanto dos estudantes. A prática do orientador educacional vem desempenhando sua função para estreitar a relação professor e estudantes, buscando a aprendizagem de todos. Conforme já relatado, a escola é um local associado à sociedade moderna, pois ninguém pode deixar de passar por ela ou sair, sem um resultado positivo e objetivos, não correndo o risco do fracasso em um mundo cada vez mais seletivo e competitivo. A escola deve ser quem promove da educação integral do indivíduo, onde seus membros devem aperfeiçoar suas práticas para que todos os indivíduos atinjam os objetivos que foram propostos, observando que não haja meio termo quando se fala em aprendizado. Vive-se em um mundo globalizado, onde os professores devem compreender qual é o seu papel nas relações educacionais e também sociais, históricas e culturais, desestruturando as regras de dominação e de controle enfatizadas em nossa cultura, contribuindo em um movimento de mudança na vida dos sujeitos, inclusive no que diz respeito à diversidade na escola e na sociedade como um todo. A escola é um espaço de relação com o outro e o orientador educacional deve aceitar o desafio de humanizar o pensamento e a ação do professor, resgatando a autoestima das diferentes realidades estudantis, onde estará 29 estreitando a relação entre professores e estudantes e, por consequência, contribuíra de forma efetiva para a consolidação da aprendizagem. O ato de ensinar exige esforço e não admite forma de discriminação ou preconceito, considerando que em algumas situações serão necessários profissionais especializados, atendimentos em demais setores fora do que as escolas conseguem alcançar, para que se possa realmente garantir um ensino de qualidade. Para tanto, a atuação do orientador educacional é consciente e comprometido com o seu papel de mediador da aprendizagem, necessitando em muitos aspectos ser reorganizado, retomado, questionado para que efetivamente as escolas sejam igualitárias para todos os estudantes. Existe ainda, a falta de paridade entre os princípios legislativos e o contexto das instituições de ensino, fato esse que precisa ser continuamente analisado e colocado em relevância para que, coletivamente, os indivíduos envolvidos nos processos educacionais possam pensar, elaborar e analisar novos procedimentos para transformá-los em ação pedagógica propriamente dita. A tarefa dos educadores é árdua e, muitas vezes, frustrante, e esse sentimento de frustação torna-se constante nas atividades diárias desses profissionais. Porém, por se acreditar que a educação e o conhecimento transformam o sujeito, tem-se a ciência de que a escola é um espaço privilegiado para as interações e um ambiente recheado de possibilidades e aprendizagens. Mesmo que essas funções do orientador sejam essenciais no processo de ensino e aprendizagem, na maioria das vezes as instituições de ensino não possuem esse profissional em sua equipe gestora, porém com ou sem ele, o trabalho deve ser feito. Da mesma forma que uma escola sem coordenador pedagógico não pode deixar de planejar suas ações didáticas, uma escola sem orientador educacional não pode deixar preocupar-se com a formação cidadã dos seus estudantes. Na ausência desse profissional, essa função deve ser cumprida pelo diretor, coordenador e também pelos professores. Para Lück (2011, p.7): “A administração da escola, a supervisão escolar e a orientação educacional se constituem em três áreas de atuação decisivas no processo educativo”, para a autora tais cargos são muito importantes por influenciarem em todas as áreas da escola, onde estabelecem as formas do 30 trabalho educacional, quais as prioridades de ação e atuação, entre demais aspectos importantes para a educação. Toda a comunidade escolar se interliga quanto as suas funções em uma relação de interdependência em busca da obtenção de um desenvolvimento completo. Conforme Lück (2011) o diretor ocupa posição central na escola, pois seu trabalho influencia todo o ambiente escolar. Ele deve organizar as unidades que compõem a escola, ter controle financeiro, deve coordenar e orientar todos aqueles que assumem responsabilidades no campo escolar, estimular a inovação do processo educacional, entre outras atribuições do cargo. De acordo com a autora: É do diretor da escola a responsabilidade máxima quanto a consecução eficaz da política educacional do sistema e desenvolvimentopleno dos objetivos educacionais, organizando, dinamizando e coordenando todos os esforços nesse sentido, e controlando todos os recursos para tal. (LÜCK, 2011, p. 16) Lück (2011) se refere ao supervisor educacional, citando que sua função é a de somar esforços na escola, com o papel de assistência e coordenação dos professores, visando a melhoria dos materiais de instrução dos métodos, técnicas e procedimentos de ensino, dos programas curriculares, do processo de avaliação e recuperação do aluno, dos objetivos educacionais e desempenho do professor. Mais importante do que a melhoria em infraestrutura e materiais é a qualidade do ensino em sala de aula, pois, mesmo com os equipamentos mais modernos em uma escola, se não houver um professor capacitado de nada adianta. Lück (2011) afirma que função do supervisor é de suma importância, para que ocorra essa qualidade no ensino contribuindo para o processo de ensino-aprendizagem. Lück (2011) também descreve a orientação educacional, apontando que a sua ação envolve toda a comunidade escolar, com enfoque tanto para o grupo como para os indivíduos. Segundo a autora, o orientador assume a função de dar assistência ao professor, pais e pessoas da escola com os quais o educando mantém contatos significativos, com a intenção de contribuir para que possam compreender as necessidades do educando em seus aspectos cognitivos, 31 psicomotores, afetivos e sociais. Para isso se deve realizar ações de orientação e aconselhamento com atendimento individual ou coletivo, pensando na qualidade de relacionamento entre professor/aluno, aluno/família. O orientador pode contribuir para todas essas relações dentro da escola, pensando no aluno como sujeito do processo-educacional e todas as suas relações. Segundo Grinspun (2011): Chegou-se a dizer, principalmente na década de 70, que os especialistas de educação estavam com as suas atividades interferindo no próprio trabalho do professor, isto é, eles é que detinham o “poder” dentro da escola. (GRINSPUN, 2011, p. 14) Um cargo criado para auxiliar o desenvolvimento do aluno e para identificar os problemas e soluções do contexto educacional e social causava desunião dentro da escola. Tipificou-se a Orientação, sacrificou-se a sua existência, culpando-a até por ser uma especialização dentro da escola que “sabia mais que o professor”. De um lado o que pensava do outro o que fazia, a Orientação contribuía, portanto, para a divisa social do trabalho. (GRINSPUN, 2001, p. 14). Para Giacaglia (2002) não há diferença hierárquica entre orientador e supervisor, porém para que não haja conflitos se faz necessário que ambos entrem em acordo e delimitem suas áreas de atuação. Segundo Pascoal (2005, p. 121), na falta do profissional orientador nas escolas, alguém deve assumir essa função e isso causa um acúmulo de funções. “Normalmente esse profissional é o coordenador pedagógico que, além de cumprir a sua função junto aos professores, associa a ela a função do orientador, resultando em uma inadequação das duas.” Então o coordenador pedagógico é o profissional em que seu trabalho está em relação aos professores, alunos e a tudo que está a cargo desses profissionais. Quando a escola possui ambos os cargos, de orientador e supervisor, o trabalho pode fluir mais, pois o primeiro, geralmente fica responsável por cuidar das questões relativas aos alunos e suas famílias, e o segundo, da formação dos professores. Grinspun (2010, p. 108) ressalta como deve ser o trabalho do orientador com o professor: 32 Trabalhando juntos dos professores, através de uma reflexão crítica da prática pedagógica, o Orientador procurará contribuir para a discussão da realidade dos alunos, das finalidades do processo pedagógico, do sistema de avaliação, das questões de evasão e repetência escolar, dos recursos físicos e materiais que a escola dispõe, das metodologias empregadas, enfim, sobre as questões técnicas-pedagógicas da escola. (GRINSPUN, 2010, p. 108) Mediante a necessidade de mudanças quanto a atuação do orientador educacional, devemos salientar a contribuição de Grinspun (2011, p.13): Pretendendo-se trabalhar com o aluno, no desenvolvimento do seu processo de cidadania, trabalhando a subjetividade e a intersubjetividade, obtidas através do diálogo nas relações estabelecidas. (GRINSPUN, 2011, p. 13) Em uma perspectiva de um trabalho concretizado do orientador, onde considera a realidade do estudante, traz-se essa para dentro da escola, no intuito de contribuir no desenvolvimento do educando em uma perspectiva crítica, (Grinspun, 2001). Portanto: [...] pode se dizer que, se antes cabia ao orientador ser uma figura “neutra” no processo educacional, para “guiar os jovens em sua formação cívica, moral e religiosa”, hoje, espera-se um profissional comprometido com sua área, com a história de seu tempo e com a formação do cidadão. (GRINSPUN, p.14, 2010) Vale aqui destacar as contribuições do orientador educacional para que a escola exerça sua função social e o fato desse profissional não ser obrigatório nas escolas, podendo ser excluído nos concursos públicos e ter outros profissionais atuando em sua área. Mas isso não significa o fim da orientação educacional, como explica Grinspun (2001) ao destacar que a orientação nunca deixará de existir, pois está muito ligada com a educação até no contexto etimológico, onde educare se refere a orientar, guiar, conduzir o indivíduo. A construção de uma escola de qualidade implica um projeto coletivo, que requer atenção coordenada e participação de todos nela envolvidos. A qualidade não está na adjetivação externa, mas na substancialidade interna da instituição. (GRINSPUN, 2010, p. 113) 33 Segundo o Decreto nº 72846/73 de 26 de setembro de 1973, entre as funções do orientador educacional cabe ao mesmo a implantação do Serviço de Orientação Educacional o SOE, que segundo Giacaglia (2009) tem como objetivo assistir o aluno em seu desenvolvimento, identificando nas suas potencialidades e limitações, colaborar com professores e gestores na realização do processo educativo que vise o desenvolvimento integral, atender os educandos nas várias áreas da orientação educacional descritas nesse decreto. DECRETO No 72.846, DE 26 DE SETEMBRO DE 1973 Presidência da República Casa Civil Subchefia para Assuntos Jurídicos DECRETO No 72.846, DE 26 DE SETEMBRO DE 1973. Regulamenta a Lei nº 5.564, de 21 de dezembro de 1968, que provê sobre o exercício da profissão de orientador educacional. O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, usando da atribuição que lhe confere o artigo 81, item III, da Constituição, DECRETA: Art. 1º Constitui o objeto da Orientação Educacional a assistência ao educando, individualmente ou em grupo, no âmbito do ensino de 1º e 2º graus, visando o desenvolvimento integral e harmonioso de sua personalidade, ordenando e integrando os elementos que exercem influência em sua formação e preparando-o para o exercício das opções básicas. Art. 2º O exercício da profissão de Orientador Educacional é privativo: I - Dos licenciados em pedagogia, habilitados em orientação educacional, possuidores de diplomas expedidos por estabelecimentos de ensino superior oficiais ou reconhecidos. II - Dos portadores de diplomas ou certificados de orientador educacional obtidos em cursos de pós-graduação, ministrados por estabelecimentos oficiais ou reconhecidos, devidamente credenciados pelo Conselho Federal de Educação. III - Dos diplomados em orientação educacional por escolas estrangeiras, cujos títulos sejam revalidados na forma da legislação em vigor. Art. 3º É assegurado ainda o direito de exercer a profissão de Orientador Educacional: I - Aos formados que tenham ingressado no curso antes da vigência da Lei nº 5.692-71, na forma do art. 63, da Lei nº4.024-61, em todo o ensino 1º e 2º graus. http://legislacao.planalto.gov.br/legisla/legislacao.nsf/Viw_Identificacao/DEC%2072.846-1973?OpenDocument http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/1950-1969/L5564.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/1950-1969/L5564.htm 34 II - Aos formados que tenham ingressado no curso antes da vigência da Lei nº 5.692-71 na forma do artigo 64, da Lei nº 4.024, de 20 de dezembro de 1961, até a 4º série do ensino de 1º grau. Brasília, 26 de setembro de 1973; 152º da Independência e 85º da República. EMÍLIO G. MÉDICI Confúcio Pamplona Fonte: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/1970-1979/d72846.htm Giacaglia (2009) ainda esclarecem que: A criança de modo geral, se desenvolve na instituição familiar que é encarregada de promover os recursos necessários à sua sobrevivência: de propiciar-lhe assistência na área de saúde e de ministrar-lhe os primeiros ensinamentos. Por sua vez a instituição escolar esta incumbida de realizar a educação formal das crianças e dos jovens. (GIACAGLIA, 2009, p. 63) Durante muito tempo, o papel do orientador educacional foi visto como uma atividade de aconselhamento dentro da escola, atuando com os estudantes, promovendo as condições para o estudante pensar, aprender a desenvolver suas atividades, tornando-se reflexivo, até chegar a construção do seu próprio conhecimento. Segundo Martins (1984), a educação, considerando o homem como prioritário no processo educativo e estreitamente relacionado com o meio, leva em consideração alguns aspectos da realidade do estudante como: desenvolvimento psicológico, afetividade e intelecto, socialização, desenvolvimento pleno de suas capacidades e realização pessoal, sendo justamente essa complexa abordagem da educação em relação ao estudante que tornou necessária a atuação do orientador educacional na escola com a função facilitadora do desenvolvimento integral do estudante. Sendo assim, concorda-se com Martins (1984), que a Orientação Educacional é um serviço planejado, organizado, que visa proporcionar condições ao estudante de ultrapassar suas dificuldades de aprendizagem escolar, de relacionamento familiar e social, bem como de escolha profissional para o futuro. De acordo com Garcia (1994), a orientação é definida como: 35 Um método pelo qual o Orientador Educacional ajuda o aluno, na escola a tomar consciência de seus valores e dificuldades, concretizando, principalmente, através do estudo sua realização em todas as suas escolhas e em todos os planos de vida. (GARCIA, 1994, p. 32) Amplie Seus Estudos SUGESTÃO DE LEITURA Planejamento em orientação educacional de Heloísa Lück. Sugere-se este livro aos orientadores educacionais em geral, pois o mesmo tem o objetivo de fornecer subsídios para o desenvolvimento de conhecimentos, habilidades, atitudes e interesse em relação ao trabalho da orientação educacional. Resumo da aula 3 Nesta aula foi possível conhecer e compreender qual é o papel do Orientador Educacional dentro das instituições de ensino. A visão contemporânea da função do Orientador Educacional aponta para o estudante como centro da prática pedagógica, cabendo ao mesmo atender a todos os estudantes em suas necessidades e expectativas, não relacionando a sua atenção apenas aos estudantes que apresentam problemas de disciplina ou dificuldades de aprendizagem, devendo ser o mediador entre o estudante e o meio social, discutindo problemas atuais que fazem parte do contexto sociopolítico, econômico e cultural em que se vive. Atividade de Aprendizagem Qual é a função do Orientador Educacional com relação à função social da escola? Discorra sobre o assunto. 36 Aula 4 - A atuação do Orientador Educacional Apresentação da aula 4 Nesta aula será conhecido o campo de atuação do Orientador Educacional dentro das instituições de ensino. Será estudado que a importância do orientador educacional nas instituições de ensino está atrelada a necessidade de pensar, refletir, analisar contexto social em que se está inserido, com base no cotidiano integral. Com base nesse princípio, pode-se ressaltar que o orientador educacional nas escolas, tem como função, alavancar a melhora do ambiente escolar, indo além dos conhecimentos estabelecidos no currículo escolar e contribuindo de maneira primordial com a formação de um cidadão de primeira categoria. 4.1 O ofício no orientador educacional na atualidade Hoje a atuação da orientação educacional é caracterizada por um trabalho mais abrangente como prática transformadora que busca o trabalho conjunto, onde todos os profissionais contribuem oferecendo sua especificidade de ação e tendo como objetivo comum atender ao aluno real na busca da apropriação do conhecimento. Esclarece-se aqui, o que realmente deve fazer um Orientador Educacional: ➢ Orientar o aluno no seu desenvolvimento pessoal, primando pela construção de seus sentimentos, emoções valores e atitudes; ➢ Orientar, ouvir e dialogar com os estudantes, gestores, pais e/ou responsáveis e com toda a comunidade escolar; ➢ Participar da organização e realização do Projeto Político Pedagógico e da Proposta Pedagógica da instituição de ensino; 37 ➢ Ajudar o professor a compreender o comportamento dos estudantes e de como atuar adequadamente em reações aos mesmos; ➢ Ajudar o professor a identificar e trabalhar com as dificuldades de aprendizagem dos alunos; ➢ Mediar conflitos entre estudantes, professor e demais membros da comunidade escolar; ➢ Conhecer a legislação educacional do município, estado e país em que atua profissionalmente; ➢ Conviver com os estudantes; ➢ Participação do processo avaliativo e da recuperação dos estudantes; ➢ Participar do processo educativo junto a direção e coordenação pedagógica. Para Garcia (1994), na medida que os conhecimentos construídos na escola se assemelham à sua vida diária, se tem maiores chances de o interesse do estudante ser conquistado, uma vez que os assuntos tratados dizem respeito a um mundo semelhante e conhecido, sendo isso condição fundamental para que ele tenha possibilidades novos conhecimentos. É tarefa do orientador educacional, buscar elementos que propiciam debates sobre questões que, direta ou indiretamente dizem respeito ao aluno, em relação ao processo de ensino-aprendizagem, com o propósito de contribuir para a reflexão de toda a equipe escolar, que inclui professores, supervisor e equipe de direção. O ideal seria que os próprios alunos, assim como seus pais, tomassem parte nessas discussões, como representantes das pessoas diretamente ligadas no processo. Esta é uma situação ainda a ser conquistada. (GARCIA, 1994, p. 49) Para tanto, o orientador educacional deve ser comprometido com seu trabalho, não se omitindo diante dos desafios apresentados no processo da inclusão social, dos menos favorecidos e dos que possuem dificuldade e/ou 38 necessidades especiais de aprendizagem, estando sempre em sintonia com os estudantes e com os professores, garantindo o sucesso do processo a fim de evitar práticas excludentes. O orientador educacional deve ter a consciência de si, da realidade absoluta que o cerca e o conhecimento da sua função diante dessa realidade. Segundo Heloisa Lück (1982): O homem se torna acrítico, mais receptor que transmissor, mais paciente do que agente. É necessário interferir neste contexto. Sendo assim, cabe à educação, estimular e promover a formação da consciência, ou seja, estabelecimento com o mundo. Este processo não pode ser considerado acabado e sim entendido como dinâmico e um constante “deve ser”. Deve despojar-se de preconceitos e subjetividades. (LÜCK, 1982, s/p) A autora cita ainda alguns fatores que interferem na formação daconsciência humana: ➢ Intencionalidade: predisposição do sujeito para compreender, interpretar e explicar os fatos; ➢ Capacidade perspectiva: à medida que mais adequada e objetiva for a capacidade de percepção, maior será a correspondência da consciência com o fato real; ➢ Operações mentais: são essas as determinantes da superioridade, flexibilidade e nível de conscientização; ➢ Historicidade e temporalidade: estabelecem o espirito da consciência e do ato consciente; ➢ Julgamento moral: são os valores que formam parte principal da consciência que o indivíduo elabora de si e do mundo que o cerca. Mosquera (1978) afirma que: 39 A vida autentica inicia quando nos negamos a permanecer na alienação e na desumanização e caminhamos rumo a uma vida consciente, autentica e mais humana. O processo educativo deve ter como função primordial à formação da consciência do indivíduo, entendida como conscientização do homem enquanto homem e não orientado por uma ideologia política. Não se trata de doutrinação, mas sim ensinar a pensar a pensar e não, o que pensar. Deve possibilitar ao homem aumento de sua capacidade e liberdade de escolha. (MOSQUERA, 1978, s/p) De acordo com as citações anteriores, quando o homem tem maior consciência de si torna-se um ser crítico, atuante e transformador do mundo que o cerca, observando tudo o que o cerca. Por diversas vezes o trabalho do orientador educacional é comprometido pela imagem que se formou ao longo do tempo, porém isso torna-se mais complicado ao se sabe que a consciência de si não se forma isoladamente, mas através das relações. Porém, o orientador educacional deve tomar o cuidado de não tornar-se o doutrinador, no sentido de determinar a consciência crítica dos estudantes, uma vez que o sentimento de identidade do sujeito se inicia quando ele concebe o mundo exterior como algo separado e independe dele, quando começa a tomar consciência de suas ações, quando é capaz de dizer: “eu sou, eu sei.” A identidade do orientador educacional como um profissional e o seu posicionamento frente à vida são fatores que caracterizam e desencadeiam a sua atuação, onde vivencie valores pessoais, crenças e atitudes, como elementos comportamentais que delineiam um perfil profissional. Na medida que se adquire maior coerência e coesão entre os valores pessoais e os impostos pela sociedade, a identidade profissional torna-se mais consciente, clara e precisa, o que ajuda a definir metas e objetivos que favorecem o desempenho da função desse profissional da educação. Porém o orientador educacional anda confuso quanto a sua atuação profissional, e isso se deve a condições históricas de seu surgimento ou pelo fator de sua classe ser considerada uma subclasse dentro da instituição de ensino, o que gera muita confusão quanto a sua função. O conflito de funções acontece quando o orientador educacional não consegue concretizar o que cabe a sua responsabilidade e acaba realizando atividades que não competem com seu papel. O orientador educacional deve posicionar-se com ética profissional, debatendo questões práticas, sendo capaz de operacionalizar pensamentos que 40 o desafiam, levam a refletir e a pesquisar, buscando uma identidade autêntica apoiada em valores significativos. Cabe destacar que o desempenho do papel do professor proporciona que sua proposta seja, formalizada, na educação, basta que os profissionais se proponham realmente a realizar seus projetos educacionais, pois espaço para isto existe, basta empenhar-se. Para toda ação do orientador educacional faz-se necessário uma reflexão contínua sobre a realidade em que está inserido, isto lhe possibilita uma posição profissional mais adequada, devendo ter sempre presente em suas atividades os princípios que servem de suporte ao processo de orientação, levando-o a uma ação mais consistente e coerente. Segundo Saviani (1980): [...] a especialidade no campo Educacional, como toda especialidade, só faz sentido na medida em que a área básica não seja perdida de vista. [...] a especificidade da Orientação Educacional é apenas a divisão no plano de educação. (SAVIANI, 1980, p. 38) O orientador educacional é antes de tudo professor, sendo a finalidade de toda e qualquer ação orientadora educativa. A escola é uma instituição que tem por finalidade maior o ato de ensinar e dentro desse contexto a função fundamental do orientador educacional é mobilizar os diferentes saberes dos profissionais que atuam na escola, para que a mesma cumpra a sua função primordial que vem a ser o sucesso da aprendizagem dos estudantes. Para que essa função se concretize com sucesso, os professores devem ter condições básicas para desempenhar suas tarefas específicas, capacitados pela sua habilitação e cujo objetivo final é a aprendizagem. Faz-se necessário que se investigue sobre a realidade vivida pelos estudantes e a percepção dessa realidade pelo educador deve ser o ponto de partida e o fio condutor do processo educativo e pedagógico. O orientador educacional pode ser o grande personagem dessa investigação sobre a realidade dos estudantes, percebendo que no processo de ensino-aprendizagem está em jogo inúmeras relações, compreendendo que as relações dentro da escola não acabam ali, mas são sim um meio para que o estudante aprenda e amplie o seu conhecimento sobre relações de colaboração, 41 ajuda e companheirismo, trabalhando as diferentes relações, que podem influenciar para a aprendizagem do estudante. O desenvolvimento de uma concepção crítica de educação comprometida com a realidade social e com sua transformação, não prescinde em todos os seus desdobramentos, tanto de tempo, quanto de espaço. Segundo Heloisa Lück (1991), “planejar a Orientação Educacional implica delinear o seu sentido, os seus rumos, a sua abrangência e as perspectivas de sua atuação”. Vale dizer que esse planejamento envolve antes de tudo, uma visão global sobre a natureza da Educação, da Orientação Educacional e de suas possibilidades de ação. 4.2 O Orientador Educacional na Educação Infantil O Orientador Educacional tem um papel muito importante na Educação Infantil, por exercer junto à comunidade escolar uma visão criativa do trabalho ali realizado, conscientizando os pais do seu dever de participar ativamente da vida escolar de seus filhos. Sua função é também despertar nos professores, pais e/ou responsáveis, a necessidade de observar todos os momentos da vida da criança, percebendo seu desenvolvimento integral, sugerindo ações integradas entre pais, professores e orientadores educacionais que venham fortalecer a responsabilidade de todos numa ação conjunta pela educação e formação da criança. 4.3 O Orientador Educacional no Ensino Fundamental A orientação educacional no Ensino Fundamental tem duas tarefas distintas a executar, sendo a primeira correspondente aos cinco primeiros anos e a segunda aos quatro anos finais dessa etapa de ensino. E ainda tendo como suas atribuições nessas etapas as abaixo listadas: ➢ Desenvolver junto aos estudantes, um trabalho que possibilite a adaptação dos mesmos ao ambiente escolar; ➢ Desenvolver nos estudantes, atitudes otimistas e de contemplação pelo mundo que os cerca; 42 ➢ Proporcionar ações que favoreçam a socialização, a confiança em si e nos outros; ➢ Proporcionar atividades que estimulem nos estudantes a iniciativa e a criatividade; ➢ Direcionar a visão dos estudantes para os novos horizontes do mundo, onde possam descobrir novas possibilidades de enxergar os outros, a si e a tudo que o cerca; ➢ Levá-los a viver e a conviver no ambiente escolar ajustando-se, para que revejam suas capacidades e potencialidades; ➢ Observar e conhecer os estudantes para melhor atendê-los e orientá-los; ➢ Observar os estudantes
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