Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
1 Disciplina: Orientação na Educação Inclusiva Autores: D.ra Maria Tereza Costa Revisão de Conteúdos: Esp. Marcelo Alvino da Silva Revisão Ortográfica: Juliano de Paula Neitzki Ano: 2018 Copyright © - É expressamente proibida a reprodução do conteúdo deste material integral ou de suas páginas em qualquer meio de comunicação sem autorização escrita da equipe da Assessoria de Marketing da Faculdade São Braz (FSB). O não cumprimento destas solicitações poderá acarretar em cobrança de direitos autorais. 2 Maria Tereza Costa Orientação na Educação Inclusiva 1ª Edição 2018 Curitiba, PR Editora São Braz 3 FICHA CATALOGRÁFICA COSTA, Maria Tereza. Orientação na Educação Inclusiva / Maria Tereza Costa. – Curitiba, 2018. 51 p. Revisão de Conteúdos: Marcelo Alvino da Silva. Revisão Ortográfica: Juliano de Paula Neitzki. Material didático da disciplina de Orientação na Educação Inclusiva – Faculdade São Braz (FSB), 2018. ISBN: 978-85-5475-230-9 4 PALAVRA DA INSTITUIÇÃO Caro(a) aluno(a), Seja bem-vindo(a) à Faculdade São Braz! Nossa faculdade está localizada em Curitiba, na Rua Cláudio Chatagnier, nº 112, no Bairro Bacacheri, criada e credenciada pela Portaria nº 299 de 27 de dezembro 2012, oferece cursos de Graduação, Pós-Graduação e Extensão Universitária. A Faculdade assume o compromisso com seus alunos, professores e comunidade de estar sempre sintonizada no objetivo de participar do desenvolvimento do País e de formar não somente bons profissionais, mas também brasileiros conscientes de sua cidadania. Nossos cursos são desenvolvidos por uma equipe multidisciplinar comprometida com a qualidade do conteúdo oferecido, assim como com as ferramentas de aprendizagem: interatividades pedagógicas, avaliações, plantão de dúvidas via telefone, atendimento via internet, emprego de redes sociais e grupos de estudos o que proporciona excelente integração entre professores e estudantes. Bons estudos e conte sempre conosco! Faculdade São Braz 5 Apresentação da disciplina O foco desta disciplina será a orientação na Educação Inclusiva, com abordagem nos aspectos referentes aos contextos históricos da Educação Especial no Brasil, passando pela compreensão de como esse caminho foi percorrido, chegando aos direitos assegurados e à política educacional. Nesse processo, além de outros documentos internacionais, destacaremos a Convenção Internacional sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência e o Decreto nº. 6.949/2009. No nosso segundo momento, a disciplina apresentará a concepção de inclusão e as práticas de organização da escola inclusiva para o atendimento de estudantes com Necessidades Educacionais Especiais (NEE) na sala de aula comum, com a apresentação das Tecnologias Assistivas (TA) e da Comunicação Aumentativa e Alternativa (CAA). Finalizando a disciplina, o foco versará sobre as possibilidades de orientação na educação especial inclusiva no processo de gestão escolar e a presença de equipes multi/transdisciplinares. 6 Aula 1 – Contextos Históricos da Educação Especial no Brasil Apresentação da aula Nesta aula vamos transitar pela história da educação especial até chegar à educação especial inclusiva enquanto compromisso da escola, no tocante à educação integral de todos os estudantes. Esta aula se destina a apresentar os aspectos históricos que são essenciais para a compreensão do paradigma da Educação Inclusiva e o atendimento ao grupo de estudantes que apresentam NEE. 1. Contextos Históricos da Educação Especial no Brasil Na medida em que fazemos uma visita aos registros históricos em referência às deficiências, vamos encontrar um tratamento diferenciado em distintos tempos e lugares. Esse percurso histórico nos leva à constatação das transformações educacionais resultantes de mudanças legislativas e de parâmetros curriculares nacionais, a novos entendimentos em relação à acessibilidade, a todos os bens e serviços e à transversalidade dos processos educacionais, bem como ao reconhecimento e valorização da diversidade, da multiplicidade de saberes e de conhecimentos. A era primitiva é representada pelo período mais extenso já conhecido na história da humanidade, ocasião em que surgiram nossos mais remotos antepassados. Nesse período, a história não registra indícios de como os primeiros grupos humanos se comportavam em relação às pessoas com deficiência. Estudos indicam que essas pessoas não sobreviviam ao ambiente hostil existente na Terra. No entanto, a antiguidade traz evidências arqueológicas que levam a crer que a pessoa com deficiência estava presente nas diferentes e hierarquizadas classes sociais. Os registros demarcam faraós, nobres, altos funcionários, artesãos, agricultores e escravos, entre outros, que estavam integrados à sociedade da época. Na Grécia, o planejamento das cidades indicava que pessoas nascidas com qualquer tipo de deformidade, os “disformes”, eram abandonadas e 7 deixadas expostas às intempéries, ou ainda eliminadas ao serem atiradas de uma cadeia de montanhas chamada Taygetos. Em Esparta, os gregos se dedicavam à arte da guerra, preocupados com as fronteiras de seus territórios, expostas às invasões bárbaras, principalmente do Império Persa. Pelos costumes espartanos, os nascidos com deficiência também eram eliminados. Somente os fortes sobreviviam para servir ao exército na defesa territorial. Conforme as leis romanas, aos pais era permitido matar as crianças com deformidades físicas, pela prática do afogamento, o que era legal e aceito pela sociedade da época. Alguns desses pais abandonavam seus filhos em cestos no Rio Tibre ou em outros lugares sagrados. Os sobreviventes tornavam-se andarilhos, pedintes, ou tornavam-se atração circense para o entretenimento dos abastados. Nesse período, em Alexandria, foi criada a primeira universidade de estudos filosóficos e teológicos de grandes mestres. Dentre eles, Dídimo, o Cego, conhecia e recitava a Bíblia de cor. Quando começou a ler e escrever, aos cinco anos de idade, perdeu a visão, mas continuou seus estudos, tendo ele próprio gravado o alfabeto em madeira para utilizar com o tato. A Idade Média passa a superar o entendimento do nascimento de pessoas com deficiência como castigo de Deus, ocasião em que os supersticiosos viam nelas poderes especiais. Também nesse período, as crianças que sobreviviam eram separadas de suas famílias e quase sempre ridicularizadas. A exemplo, a literatura da época coloca os anões e os corcundas como focos de diversão dos mais abastados. O advento do Cristianismo, religião centrada em Jesus Cristo e em sua passagem pela Terra, registra que pessoas com deficiências passaram a ser compreendidas como pessoas divinas. Esse período chega com uma nova concepção de deficiência, repleta de mitos, como a credibilidade na presença de maus espíritos e espíritos com poderes especiais encontrados em feiticeiros e bruxos, bem como a crença de que o nascimento de uma criança disforme era castigo de Deus, dando origem ao sentimento de culpa, ainda presente na atualidade, principalmente pelas mães. 8 A Idade Moderna, caracterizada pelo aparecimento dos primeiros movimentos de contestação ao poder da Igreja Católica, ocasionou a Reforma Religiosa. O Humanismo, filosofia moral que coloca o ser humano no centro do mundo, registrou período de grande desenvolvimento das artes plásticas, da cultura e da ciência, resultando na credibilidade das possibilidades das pessoas com deficiência. Em Paris, em 1760, foi criada a 1ª Escola para Surdos, originalmentedenominada Instituto Nacional de Surdos-Mudos de Paris. Gerolamo Cardomo (1501 a 1576), médico e matemático, inventou um código para ensinar pessoas surdas a ler e escrever. Pedro Ponce de Leon (1520-1584), monge beneditino, sofreu influência de Cardomo ao desenvolver um método de educação para pessoa com deficiência auditiva, por meio de sinais. Nessa mesma época, Pablo Bonet escreve a respeito das causas das deficiências auditivas e dos problemas da comunicação, ao mesmo tempo em que condena os métodos brutais e de gritos que eram utilizados na educação de alunos surdos. Em seu livro Reduction de las letras y arte para ensenar a hablar los mudos apresentou a língua de sinais. Em 1784 foi criado, em Paris, o Instituto Nacional de Jovens Cegos, sendo a primeira escola francesa para cegos e uma das primeiras da Europa. No século XIX, Charles Barbier desenvolve um código para uso em mensagens a serem transmitidas à noite, durante as batalhas, a pedido de Napoleão. Era um sistema de uma letra ou um conjunto de letras representado por duas colunas de pontos em relevo, que se referiam às coordenadas de uma tabela. Deveria ser utilizado para leitura manual, mas o sistema foi rejeitado pelos militares uma vez que esses o consideraram muito complicado. Dessa forma, Barbier apresentou o seu invento ao Instituto Nacional dos Jovens Cegos de Paris, onde, entre os alunos, encontrava-se Louis Braille, então com 14 (quatorze) anos que, de posse do sistema de escrita noturna, o modificou criando o sistema de escrita padrão, o BRAILLE, utilizado até os dias atuais por pessoas com cegueira. Em 1798, o francês Jean M. G. Itard toma conhecimento de um menino selvagem, encontrado nas matas de Aveyron. Adotando-o, passa a chamá-lo de 9 Victor de Aveyron e submete-o a vários exames médicos, os quais não detectaram anormalidades. No entanto, diante de um espelho, o menino não se reconhecia e, a exemplo desse não reconhecimento, tentava pegar uma batata refletida na imagem. Levado a Paris, Philippe Pinel, considerado pai da psiquiatria moderna, o diagnosticou como “acometido de idiotia” e sem condições de socialização e instrução. Ainda assim, Itard passou a estudá-lo, acreditando na possibilidade de educá-lo, mas obteve pequenos avanços e apenas a emissão de pouquíssimas palavras. [...] Victor, o selvagem de Aveyron, um menino, de cerca de 12 anos de idade, foi encontrado perto da floresta de Aveyron, sul da França. Estava sozinho, sem roupa, andava de quatro e não falava uma palavra. Aparentemente fora abandonado pelos pais e cresceu sozinho na floresta. O jovem médico Jean-Jacques Gaspar Itard encontrou um aglomerado de pessoas observando o menino enjaulado, a quem chamavam de menino-macaco. Com autorização judicial, o médico o conduziu à sua residência, onde se propôs a tratá-lo e educá-lo, tornando-o objeto de investigações científicas. Aparentando seis a oito anos de idade, surdo e mudo, com posturas próximas do animalesco, o menino que fora capturado no mato, onde teria sido abandonado ainda recém-nascido, quase nada aprendeu. Itard observou meticulosamente o menino durante três anos, período que teve de sobrevida em ambiente social. Entre as letras do alfabeto fonético, o menino aprendeu apenas a pronunciar o “ô”, derivando daí o nome Victor e o sobrenome d’Aveyron, região onde foi capturado. Durante este período, o máximo de imagens que Victor conseguiu reconhecer foi o desenho de uma garrafa de leite no quadro negro. Itard levantou comportamentos e reações de Victor, relacionou-os e fez descobertas importantes, como as relações fisiológicas entre garganta, nariz, olhos e ouvidos. Assim, criou a otorrinolaringologia. Foi o fundador da Psicologia Moderna e da Educação Especial; forneceu importantíssimos elementos para o estudo do significado das aquisições culturais ao funcionamento da inteligência humana. Em outras palavras, para a dicotomia natureza x cultura. Ao final do trabalho, Victor não era mais o menino selvagem de quando fora encontrado, mas, também, não se tornou, de acordo com os parâmetros da época, humano. (RODRIGUES, 2008, p.12). Outra importante colaboração para a educação especial foi a de Maria Montessori, italiana, a qual formou-se em medicina, mas não pode clinicar em função da não admissão, na época, de mulheres como médicas. Tornando-se educadora e pedagoga dedicou-se ao atendimento de crianças com e sem comprometimentos. A partir de estudos, pesquisas e do trabalho com crianças, envolvendo aquelas com deficiências, desenvolveu o Método Montessori, o qual parte do concreto para o abstrato e coloca sua ênfase na autoaprendizagem da 10 criança e no desenvolvimento natural de habilidades físicas, sociais e psicológicas, em um processo de aprendizagem que se dá a partir da evolução da própria criança, pela experiência direta e pela descoberta. O Trabalho é desenvolvido por meio do uso de materiais didáticos concretos formados por objetos simples, mas atraentes, tendo como principal objetivo o desenvolvimento do raciocínio. O professor tem o papel de acompanhar o desenvolvimento da criança, orientando-a, quando necessário. O Método Montessori, utilizado nas “escolas montessorianas”, chegou ao Brasil em 1910, pelas mãos de Joana Falce Scalco. Esse método tem grande contribuição no desenvolvimento de crianças com NEE, uma vez que se apresenta em sintonia com a proposta pedagógica da Educação Inclusiva. O Brasil registra, em sua história, a Roda dos Expostos, um mecanismo de acolhimento de crianças abandonadas ou enjeitadas, inclusive em função de deficiências. Originária da Itália, a Roda dos Expostos chegou em nosso país em 1825, sendo instalada, inicialmente, nas Santas Casas de Misericórdia. Era constituída por uma caixa giratória, em formato cilíndrico, feita em madeira dupla, com abertura do lado externo para receber a criança. Após a colocação dessa, a caixa era girada ficando a abertura para o lado interno da instituição, ocasião em que a criança era acolhida pelas irmãs de caridade, sem revelação da identidade de quem depositou. Em 1854 foi criado, no Rio de Janeiro, o Instituto Benjamin Constant. José Álvares de Azevedo, cego desde o nascimento, foi estudar, aos 10 anos de idade, no Real Instituto dos Meninos Cegos de Paris, onde conheceu o Sistema Braille de leitura para cegos. Ao voltar para o Brasil, aos 16 anos, passou a difundir o Braille e, por ocasião de uma audiência com o Imperador Pedro II, apresentou a proposta de se criar, no Brasil, uma escola para cegos como a existente em Paris, sendo essa inaugurada em 17 de setembro de 1854 com o nome de Imperial Instituto dos Meninos Cegos, 1ª instituição de educação especial da América Latina. No ano de 1857 o Brasil, no que se refere ao atendimento e educação de surdos, foi contemplado com a criação do Imperial Instituto de Surdos-Mudos, hoje Instituto Nacional de Educação dos Surdos – INES, também no Rio de Janeiro. 11 A partir da década de 30, o Brasil passa por um período de institucionalização, com a ocorrência da organização, pela sociedade, de associações de pessoas envolvidas com a deficiência e criação de instituições filantrópicas. Também ocorrem ações governamentais com a criação de instituições públicas voltadas ao atendimento das necessidades de pessoas com deficiência. Nesse período chega ao Brasil a psicóloga e educadora Helena Antipoff, a qual passou a coordenar os cursos de formação de professores no Estado de Minas Gerais, ocasião em que criou os serviços de diagnóstico, com o objetivo de identificar a clientela da educação especial e também das classes especiais, criadas em escolas públicas, para atendimento à deficiência mental (denominação dada à Deficiência Intelectual, na época) em seus diferentes graus. Em 1945 ocorre, na Sociedade Pestalozzi, por ação de HelenaAntipoff, a criação do primeiro atendimento educacional especializado para pessoas com superdotação. A partir de 1954, período marcado por iniciativas de caráter privado, ocorre, no Estado do Rio de Janeiro, a fundação da primeira Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais – APAE. As classes especiais, criadas em escolas da rede pública para atender, principalmente, estudantes com deficiência mental, se fazem presentes na educação brasileira a partir da década de 60. Em 1961, o atendimento educacional às pessoas com deficiência passa a ser fundamentado pelas disposições da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDB, Lei nº 4.024/61, que aponta o direito dos excepcionais (denominação dada à Deficiência intelectual no texto da Lei 4.024/61) à educação, preferencialmente, dentro do sistema geral de ensino. Na sequência, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDB nº 5.692/71 legisla sobre o tratamento especial destinado a estudantes com deficiência e com superdotação. Em seu art. 88, essa Lei traz a seguinte redação: “A educação de excepcionais deve, no que for possível, enquadrar-se no sistema geral de educação, a fim de integrá-los na comunidade”. 12 A partir de 1971, a Lei nº 5.692/71 altera a LDB de 1961, ao definir, conforme art. 9º, “tratamento especial” para os estudantes com deficiências físicas ou mentais, para os que se encontram em atraso considerável quanto à idade regular de matrícula e para os superdotados, os quais deverão receber tratamento especial, de acordo com as normas fixadas pelos competentes Conselhos de Educação. O que se configura nesse período é que não há evidências de uma política pública de acesso universal à educação, permanecendo a concepção de “políticas especiais” para tratar da educação de estudantes com deficiência. Em relação aos estudantes com superdotação, apesar do acesso ao ensino regular, não é organizado um atendimento especializado que considere as suas singularidades de aprendizagem. Em 1973 ocorre, por parte do MEC, a criação do Centro Nacional de Educação Especial – CENESP, o qual teve, sob sua responsabilidade, a gerência da educação especial. Mesmo sob o paradigma integracionista e com uma visão assistencialista, esse Centro impulsionou, de forma significativa, ações de atendimento educacional às pessoas com deficiência e também para aquelas com superdotação. No ano de 1986 foi implantada a Coordenadoria Nacional para Integração da Pessoa Portadora de Deficiência – CORDE, enquanto resultado de ações voltadas ao cumprimento do Plano Governamental de Ação Conjunta para Integração da Pessoa Portadora de Deficiência. Foi instituída pelo Decreto nº 93.481, de 29 de outubro de 1986. Essa Coordenadoria trouxe grande avanço para alunos com NEE no contexto da escola regular. A Constituição Federal de 1988 traz, como um dos seus objetivos fundamentais, “promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação” (art.3º, inciso IV) e define, no artigo 205, a educação como um direito de todos, garantindo o pleno desenvolvimento da pessoa, o exercício da cidadania e a qualificação para o trabalho. Em seu artigo 206, inciso I, estabelece a “igualdade de condições de acesso e permanência na escola” como um dos princípios para o ensino e garante, em seu artigo 208, como dever do Estado, a oferta do atendimento educacional especializado, preferencialmente na rede regular de ensino. 13 Em 1990, a Conferência Mundial de Educação para Todos, em Jomtien, chama a atenção para os altos índices de crianças, adolescentes e jovens sem escolarização e traça objetivos no sentido de promover transformações nos sistemas de ensino para assegurar o acesso e a permanência de todos na escola, com a satisfação das necessidades básicas de aprendizagem. Nesse mesmo ano, no Brasil, a Presidência da República institui a Lei nº 8.069/90, o Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA que, em seu artigo 55, determina que “os pais ou responsáveis têm a obrigação de matricular seus filhos ou pupilos na rede regular de ensino”. A partir da década de 90, movimentos relacionados a ações voltadas a alunos com NEE, passam a influenciar a formulação das políticas públicas para a educação inclusiva. Entre esses movimentos estão a Declaração Mundial de Educação para Todos, de 1990 e a Conferência Mundial de Necessidades Educativas Especiais, realizada pela UNESCO, em 1994, a qual resulta na Declaração de Salamanca. Essa declaração evidencia a importância do alcance de metas de educação para todos e a necessidade de reflexão sobre as causas da exclusão escolar, bem como acerca das práticas educacionais que resultam na desigualdade social de diversos grupos, além de proclamar que as escolas comuns representam o meio mais eficaz para combater atitudes discriminatórias. Conforme a Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva: O princípio fundamental desta Linha de Ação é de que as escolas devem acolher todas as crianças, independentemente de suas condições físicas, intelectuais, sociais, emocionais, linguísticas ou outras. Devem acolher crianças com deficiência e crianças bem dotadas; crianças que vivem nas ruas e que trabalham; crianças de populações distantes ou nômades; crianças de minorias linguísticas, étnicos ou culturais e crianças de outros grupos e zonas desfavorecidos ou marginalizados (BRASIL, 1997). Em 1996, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, Lei nº 9.394/96, atualizada pela Lei nº 12.796/2013, preconiza: Art. 58 - Entende-se por educação especial, para os efeitos desta Lei, a modalidade de educação escolar oferecida preferencialmente na rede regular de ensino, para educandos com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação. 14 § 1º - Haverá, quando necessário, serviços de apoio especializado, na escola regular, para atender às peculiaridades da clientela de educação especial. § 2º - O atendimento educacional será feito em classes, escolas ou serviços especializados, sempre que, em função das condições específicas dos alunos, não for possível a sua integração nas classes comuns de ensino regular. § 3º - A oferta de educação especial, dever constitucional do Estado, tem início na faixa etária de zero a seis anos, durante a educação infantil. Art. 59 - Os sistemas de ensino assegurarão aos educandos com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação: I - currículos, métodos, técnicas, recursos educativos e organização específicos, para atender às suas necessidades; II - terminalidade específica para aqueles que não puderem atingir o nível exigido para a conclusão do ensino fundamental, em virtude de suas deficiências, e aceleração para concluir em menor tempo o programa escolar para os superdotados; III - professores com especialização adequada em nível médio ou superior, para atendimento especializado, bem como professores do ensino regular capacitados para a integração desses educandos nas classes comuns; IV - educação especial para o trabalho, visando a sua efetiva integração na vida em sociedade, inclusive condições adequadas para os que não revelarem capacidade de inserção no trabalho competitivo, mediante articulação com os órgãos oficiais afins, bem como para aqueles que apresentam uma habilidade superior nas áreas artística, intelectual ou psicomotora; V - acesso igualitário aos benefícios dos programas sociais suplementares disponíveis para o respectivo nível do ensino regular. Art. 60 - Os órgãos normativos dos sistemas de ensino estabelecerão critérios de caracterização das instituições privadas sem fins lucrativos, especializadas e com atuação exclusiva em educação especial, para fins de apoio técnico e financeiro pelo poder público.Parágrafo único - O poder público adotará, como alternativa preferencial, a ampliação do atendimento aos educandos com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação na própria rede pública regular de ensino, independentemente do apoio às instituições previstas neste artigo. Em 1999, o Decreto nº 3.298/99 regulamenta a Lei nº 7.853/89, ao dispor sobre a Política Nacional para a Integração da Pessoa Portadora de Deficiência e define a educação especial como uma modalidade transversal a todos os níveis e modalidades de ensino, enfatizando a atuação complementar da educação especial ao ensino regular. 15 TRANSVERSALIDADE DA EDUCAÇÃO ESPECIAL Educação Infantil Ensino Fundamental Ensino Médio Ensino Superior Educação de Jovens e Adultos Educação Indígena Educação do Campo Educação Quilombola Fonte: Elaborado pelo autor (2018). O Fórum Mundial sobre Educação que aconteceu em Dakar, no Senegal, no ano de 2000, aprovou declaração sobre o futuro da educação. Esse Fórum, que determinou compromissos coletivos a serem cumpridos até o ano de 2030, teve o Brasil como participante e signatário. Vocabula rio Signatário: é a condição de um indivíduo apto a assinar um documento, subscrevendo assim o teor do seu conteúdo. Uma pessoa jurídica ou uma nação também podem ser signatários. Quando se diz que determinado país é signatário, significa que essa nação subscreveu a algum tipo de manifesto, contrato, acordo, carta ou outro documento com o qual concorda com o conteúdo apresentado. A Resolução CNE/CEB nº 2/2001 trata das Diretrizes Nacionais para a Educação Especial na Educação Básica. Em seu artigo 2º define: “Os sistemas de ensino devem matricular todos os estudantes, cabendo às escolas organizarem-se para o atendimento aos educandos com necessidades educacionais especiais, assegurando as condições necessárias para uma educação de qualidade para todos” (MEC/SEESP, 2001). As Diretrizes ampliam o caráter da educação especial para realizar o atendimento educacional 16 especializado complementar ou suplementar à escolarização. O atendimento complementar é específico para estudantes com deficiência ou com transtornos globais do desenvolvimento (transtorno do espectro autista), enquanto que o atendimento suplementar é destinado a estudantes com altas habilidades ou superdotação. Ainda em 2001 a Lei 10.172 estabelece o Plano Nacional de Educação (PNE), o qual destaca que “o grande avanço que a década da educação deveria produzir seria a construção de uma escola inclusiva que garanta o atendimento à diversidade humana”. Em 2002, a Resolução nº 1/2002 do CNE/CP, institui as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Formação de Professores da Educação Básica em nível superior - curso de licenciatura de graduação plena, na perspectiva da Educação Inclusiva, ou seja, formação docente voltada para a atenção à diversidade, que contemple conhecimentos sobre as especificidades dos estudantes com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento (transtorno do espectro autista) e altas habilidades ou superdotação. A Lei nº 10.436/2002 dispõe sobre a Língua Brasileira de Sinais – LIBRAS e a reconhece como meio legal de comunicação e expressão, determinando que sejam garantidas formas institucionalizadas de apoiar seu uso e difusão, bem como a inclusão da disciplina de LIBRAS como parte integrante do currículo nos cursos de formação de professores e de fonoaudiologia. Da mesma forma, a Portaria nº 2.678/2002, aprova o projeto da Grafia Braille para a Língua Portuguesa e recomenda o seu uso em todo o território nacional, aprovando diretrizes e normas para ensino, produção e difusão do sistema BRAILLE em todas as modalidades de ensino. Em 2003, o MEC implanta o Programa Educação Inclusiva: direito à diversidade, com vistas a apoiar a transformação dos sistemas de ensino em sistemas educacionais inclusivos, promovendo um amplo processo de formação de gestores e educadores nos municípios brasileiros, para a garantia do direito de acesso de todos à escolarização, à oferta do atendimento educacional especializado e à garantia da acessibilidade. No ano de 2004, o Ministério Público Federal publica o documento “O Acesso de Estudantes com Deficiência às Escolas e Classes Comuns da Rede 17 Regular”, com o objetivo de disseminar os conceitos e diretrizes mundiais para a inclusão, reafirmando o direito e os benefícios da escolarização de estudantes com e sem deficiência nas turmas comuns do ensino regular. Nesse mesmo ano, impulsionando a inclusão educacional e social, o Decreto nº 5.296/04 regulamentou as Leis nº 10.048/00 e nº 10.098/00, estabelecendo normas e critérios para a promoção da acessibilidade às pessoas com deficiência ou com mobilidade reduzida. Atendendo a esse requisito, o “Programa Brasil Acessível”, com o objetivo de promover a acessibilidade urbana e apoiar ações que garantam o acesso universal aos espaços públicos, foi desenvolvido. No ano de 2005 é contemplado o Decreto nº 5.626, que regulamenta a Lei nº 10.436/2002, visando o acesso à escola aos estudantes surdos, ao mesmo tempo em que dispõe sobre a inclusão da LIBRAS como disciplina curricular, a formação e a certificação de professor de LIBRAS, instrutor e tradutor/intérprete de LIBRAS, o ensino da Língua Portuguesa como segunda língua para estudantes surdos e a organização da educação bilíngue no ensino regular. Nesse mesmo ano ocorre a implantação dos Núcleos de Atividades de Altas Habilidades/Superdotação – NAAH/S em todos os Estados e no Distrito Federal, os quais foram organizados como centros de referência na área das altas habilidades ou superdotação para o atendimento educacional especializado, para a orientação às famílias e para a formação continuada de professores, constituindo-se como política de educação inclusiva para garantir esse atendimento aos estudantes da rede pública de ensino. Na mesma vertente de atenção às pessoas com NEE, em 2006, a Secretaria Especial dos Direitos Humanos, os Ministérios da Educação e da Justiça, juntamente com a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura – UNESCO lançam o Plano Nacional de Educação em Direitos Humanos, que objetiva, dentre as suas ações, contemplar, no currículo da educação básica, temáticas relativas às pessoas com deficiência e desenvolver ações afirmativas que possibilitem acesso e permanência na educação superior. No ano de 2007, o Plano de Desenvolvimento da Educação – PDE, reafirmado pela Agenda Social, apresenta como eixos: formação de professores para a educação especial; implantação de salas de recursos multifuncionais; 18 acessibilidade arquitetônica dos prédios escolares; acesso e permanência das pessoas com deficiência na educação superior; monitoramento do acesso à escola dos favorecidos pelo Benefício de Prestação Continuada - BPC. Em 2008, o Ministério da Educação/Secretaria de Educação Especial institui a Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva, reconhecendo avanços no que se refere à ampliação de conhecimentos e lutas sociais, visando constituir políticas públicas que possam promover uma educação de qualidade para todos os estudantes. Em sua apresentação destaca: O movimento mundial pela inclusão é uma ação política, cultural, social e pedagógica, desencadeada em defesa do direito de todos os alunos de estarem juntos, aprendendo e participando, sem nenhum tipo de discriminação. A educação inclusiva constitui um paradigma educacional fundamentado na concepção de direitos humanos, que conjuga igualdade e diferença como valores indissociáveis, e que avança em relação à ideia de equidade formal ao contextualizar as circunstâncias históricas da produção da exclusão dentro e fora da escola.(MEC/SEESP, 2008). No ano de 2009, o decreto presidencial de nº. 6949/09 promulga a Convenção Internacional dos Direitos das Pessoas com Deficiências, que em seus princípios gerais estabelece: “respeito pela dignidade, autonomia, liberdade para escolhas e independência; não-discriminação; participação e inclusão na sociedade; respeito pela diferença e pela aceitação das pessoas com deficiência como parte da diversidade humana; igualdade de oportunidades; acessibilidade; igualdade entre o homem e a mulher; respeito pelo desenvolvimento das capacidades das crianças com deficiência e pelo direito das crianças com deficiência de preservar sua identidade”. Ainda no ano de 2009, o Conselho Nacional de Educação Pública institui a Resolução CNE/CEB nº 04, estabelecendo as Diretrizes Operacionais para o Atendimento Educacional Especializado – AEE na Educação Básica, com a finalidade de: orientar a organização dos sistemas educacionais inclusivos; determinar o público-alvo da educação especial; definir o caráter complementar ou suplementar do AEE; prever a sua institucionalização no projeto político pedagógico da escola. 19 Saiba Mais CNE – Conselho Nacional de Educação CEB – Câmara de Educação Básica Em 2010, a resolução n°04 - CNE/CEB ratifica o caráter não substitutivo e transversal da educação especial, em seu art. 29, define as Diretrizes Curriculares Nacionais da Educação Básica e institui que os sistemas de ensino devem matricular os estudantes com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento (transtorno do espectro autista) e altas habilidades ou superdotação nas classes comuns do ensino regular e no Atendimento Educacional Especializado - AEE, complementar ou suplementar à escolarização, ofertado em Salas de Recursos Multifuncionais – SRM, em Centros de AEE da rede pública, ou ainda em instituições comunitárias, confessionais ou filantrópicas, sem fins lucrativos. O Decreto n°7084/10 dispõe sobre programas nacionais de materiais didáticos e estabelece, no art. 28, que o MEC adotará mecanismos para promoção da acessibilidade nos programas de material didático destinado aos estudantes da educação especial e professores das escolas de educação básica públicas. No ano de 2011, o Decreto n°7612/11 institui, nos termos da Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, o Plano Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficiência – Viver sem Limite, a fim de promover políticas públicas de inclusão social das pessoas com deficiência, dentre as quais, aquelas que efetivam um sistema educacional inclusivo. O Decreto n° 7611/11 incorpora o Decreto nº 6571/08 que institui a política pública de financiamento no âmbito do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação - FUNDEB, estabelecendo o duplo cômputo das matrículas dos estudantes com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento (transtorno do espectro autista) e altas habilidades ou superdotação. 20 Em 2012, a Lei nº 12.764/12 cria a Política Nacional de Proteção dos Direitos da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista que, além de consolidar um conjunto de direitos, em seu artigo 7º proíbe a recusa de matrícula a estudantes com qualquer tipo de deficiência e estabelece punição para o gestor escolar ou autoridade competente que venha a praticar esse ato discriminatório. No ano de 2013, a Lei nº 12.796, de 04/04/2013, altera a Lei no 9.394/96, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, cuja modificação já se encontra mencionada nesse texto. Em 2014, a Lei nº 13.005/14, ancorada nas deliberações da Conferência Nacional de Educação – CONAE/2010, institui o Plano Nacional de Educação – PNE que, em seu inciso III, parágrafo 1º, do artigo 8º, determina que os Estados, o Distrito Federal e os Municípios garantam o atendimento as necessidades específicas na educação especial, assegurado o sistema educacional inclusivo em todos os níveis, etapas e modalidades. Com base nesse pressuposto, a meta 4 e respectivas estratégias objetivam universalizar, para as pessoas com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento (transtorno do espectro autista) e altas habilidades ou superdotação que se encontram na faixa etária de 04 a 17 anos, o acesso à educação básica e ao AEE, ofertado preferencialmente na rede regular de ensino, o qual pode, também, ser realizado por meio de convênios com instituições especializadas, sem prejuízo do sistema educacional inclusivo. Em dezembro de 2017, ocorre por parte do MEC, a homologação da Base Nacional Comum Curricular. A BNCC é um “[...] documento de caráter normativo que define o conjunto orgânico e progressivo de aprendizagens essenciais que todos os alunos devem desenvolver ao longo das etapas e modalidades da Educação Básica.” (BRASIL, 2017). Em conformidade com princípios éticos, políticos e estéticos que constam das Diretrizes Curriculares Nacionais da Educação Básica, a BNCC persegue a uma educação que promova a formação humana integral e a construção de uma sociedade justa, democrática e inclusiva. “Nesse sentido, a educação inclusiva deve fazer parte da rotina do educador, pois o que era uma possibilidade tornou- se um direito de todo cidadão”. 21 A BNCC, ao fazer referência ao atendimento à diversidade e ao direito de todas as pessoas à educação, indica a necessidade do estabelecimento de medidas adequadas e favoráveis à participação efetiva de todos os estudantes no processo educacional em igualdade de condições e com sucesso, onde a intencionalidade educativa deve se evidenciar no esforço e nas distintas maneiras de se buscar meios e recursos procedimentais que atendam as particularidades de todos os estudantes, com equidade. Vocabula rio Equidade: igualdade; Retidão na maneira de agir. Imparcialidade; Reconhecimento dos direitos de cada um. Justiça, reta e natural. Faz-se importante a compressão sobre os diferentes momentos históricos pelos quais a Educação Especial passou, momentos esses que modificaram, também, o olhar para as pessoas com deficiências e/ou com outras necessidades especiais, no Brasil. A mudança de paradigmas resultante desses momentos históricos teve reflexos significativos na legislação que define procedimentos para o atendimento a estudantes com NEE, seja em termos educacionais ou de acessibilidade, também aqui explicitados. Resumo da Aula 1 Nesta aula abordaram-se os aspectos referentes ao histórico da educação especial e ao aspecto legal, evidenciando a compreensão quanto ao atendimento de estudantes com deficiências, transtornos globais do desenvolvimento (transtorno do espectro autista) e altas habilidades ou superdotação. Foi possível tomar conhecimento dos diferentes movimentos em favor de estudantes com NEE acontecidos em nosso país ou em outros pontos do planeta, movimentos esses em que o Brasil se fez presente. Os compromissos assumidos nesses movimentos resultaram em mudanças nos 22 documentos legais e nos procedimentos voltados ao atendimento de pessoas com NEE, trazendo à tona o paradigma da educação especial inclusiva, o qual se efetiva no acolhimento de todos os estudantes na escola comum, independentemente da presença ou não de diferenças de ordem sensorial, física, intelectual e/ou emocional, transtornos e/ou dificuldades de aprendizagem, bem como referentes às altas habilidades ou superdotação. Atividade de Aprendizagem Discorra a respeito do Atendimento Educacional Especializado - AEE, complementar ou suplementar à escolarização, ofertado em Salas de Recursos Multifuncionais – SRM. Aula 2 - Inclusão educacional e práticas pedagógicas inclusivas Apresentação da aula Nesta aula serão abordadas as possibilidades pedagógicas que se destinam ao atendimento de estudantes comNecessidades Educacionais Especiais – NEE, presentes em escolas do ensino comum, enfatizando que a educação inclusiva não se efetiva apenas na possibilidade de atender estudantes com NEE em salas de aulas do ensino regular, mas na mudança de procedimentos pedagógicos que se destinam a atender a todos com qualidade e com equidade. 2. Inclusão educacional e práticas pedagógicas inclusivas O conceito de educação inclusiva evidencia a existência de uma escola, que modifica-se em sua totalidade, para acolher e permitir a participação de todos os estudantes, com ou sem NEE, nos estabelecimentos de ensino regular. 23 Nesse sentido, faz-se necessário um novo olhar para a escola do ensino regular, uma mudança de paradigma educacional que se efetive na reescrita de políticas educacionais e na reestruturação da cultura e dos procedimentos educacionais, para que esses estejam de acordo com as habilidades, potencialidades, possibilidades e dificuldades de estudantes que compreendem a diversidade presente no cenário da educação brasileira. 2.1 Necessidades Educacionais Especiais - NEE Conforme a Resolução do CNE\CEB nº2 de 2001, que institui as Diretrizes Nacionais para a Educação Especial na Educação Básica, estudantes com NEE são aqueles que, durante o processo educacional, apresentam: I - dificuldades acentuadas de aprendizagem ou limitações no processo de desenvolvimento que dificultem o acompanhamento das atividades curriculares, compreendidas em dois grupos: a) aquelas não vinculadas a uma causa orgânica específica; b) aquelas relacionadas a condições, disfunções, limitações ou deficiências; II – dificuldades de comunicação e sinalização diferenciadas dos demais alunos, demandando a utilização de linguagens e códigos aplicáveis; III - altas habilidades/superdotação, grande facilidade de aprendizagem que os leve a dominar rapidamente conceitos, procedimentos e atitudes (CEB/CNE, 2001). Enquadram-se nessa designação estudantes com Deficiências, Transtornos Globais do Desenvolvimento (TGD) / Transtorno do Espectro Autista (TEA) e com Altas Habilidades ou Superdotação (AHSD). Saiba Mais O Transtorno do Espectro Autista (TEA), no Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders (DSM), [Manual Diagnóstico dos Transtornos Mentais], publicado pela APA (American Psychiatric Association) em 2013, propõe que haja critérios padrão para a classificação dos transtornos mentais. Segundo o manual, o transtorno do espectro autista engloba transtornos ANTES chamados de autismo infantil precoce, autismo infantil, autismo de Kanner, autismo de alto funcionamento, autismo atípico, transtorno global do 24 desenvolvimento sem outra especificação, transtorno desintegrativo da infância e Transtorno de Asperger. Fonte: https://www.ufrgs.br/psicopatologia/wiki/index.php?title=O_e spectro_do_autismo_no_DSM-V) Todos esses estudantes fazem parte do grupo da inclusão educacional e também social. Esse processo inclusivo pauta-se no exercício de ações que combatam todo e qualquer tipo de exclusão, seja ela devido às diferenças de classe, educação, idade, deficiência, gênero, preconceito social ou racial, e sim inclusão a todo e qualquer benefício da vida em sociedade, gerada pela oferta de oportunidades iguais e acesso a bens e serviços comuns a todos. Uma sociedade que assume responsabilidade de ser inclusiva está voltada para o compromisso com as minorias de todas as naturezas, para quem volta sua atenção de maneira irrestrita. Tem compromisso com as pessoas que compreendem a diversidade, a quem destina e exige transformações intrínsecas, compreendendo um movimento com características humanas, sociais, políticas, mas também atitudinais. Para maior compreensão do conceito que se destina a explicar a inclusão, é fundamental diferenciá-lo de integração, uma vez que essas duas definições trazem ações significativamente diferentes. INTEGRAÇÃO ESCOLAR INCLUSÃO ESCOLAR - Preocupação com as deficiências; - Resultado: dependência, assistencialismo, pena, caridade, tolerância, paternalismo, segregação; - Problema centrado no aluno; - Não há pressuposição de mudança do ensino e da escola; - Serviços organizados em níveis, sendo que, muitas vezes, os alunos retornam para serviços mais segregados. - Preocupação com as potencialidades; - Meta: autonomia; Inclusão social. - Inclusão escolar; - Oportunidades educacionais e sociais; - Participação; - Solidariedade; - Prevê a reestruturação do sistema educacional; - Reformulação dos currículos, das formas de avaliação, da formação de professores e da política educacional; - Intensificação na prestação de atendimento educacional que atenda as potencialidades e necessidades do educando. Fonte: Elaborado pelo autor (2018). 25 O processo de integração surgiu na década de 70 e parte do pressuposto de que cabe às pessoas que apresentam qualquer tipo de deficiência ou outra NEE, o direito de usufruir de uma forma de vida o mais próximo do que se entende por comum ou normal dentro de uma sociedade. Essa concepção não se define por tornar a pessoa normal, mas dar a essa as mesmas oportunidades para seu reconhecimento social. Seguindo essa linha de raciocínio, é perceptível que a integração tem como foco o aluno e suas dificuldades. É uma concepção que permanece centrada na deficiência, na dificuldade, na necessidade especial e não nas possibilidades de ajustes em atenção à diversidade presente. Por conta desse olhar, entende que as modificações necessárias para que ocorra aprendizagem por parte de um indivíduo com NEE só dependem dele próprio, cabendo a escola oferecer ao aluno um ensino igual a todos os demais estudantes, sem alterações de qualquer natureza. A Resolução nº 2/2001 do CNE/CEB enfatiza a concepção de Educação inclusiva, afirmando que: A política de inclusão de alunos que apresentam necessidades educacionais especiais na rede regular de ensino não consiste apenas na permanência física desses alunos junto aos demais educandos, mas representa a ousadia de rever concepções e paradigmas, bem como desenvolver o potencial dessas pessoas, respeitando suas diferenças e atendendo suas necessidades. (PARECER Nº 17/2001). É perceptível que no processo de educação inclusiva causa-se um verdadeiro impacto sobre a qualidade da educação, uma vez que tem por objetivo principal, incluir a todos os estudantes, sem distinção ou discriminação de qualquer natureza, mesmo que com limitações. Esse processo prevê a ampliação das oportunidades de formação dos profissionais da educação para a inclusão, o uso de novas abordagens pedagógicas e principalmente um amplo investimento na Educação Infantil e nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental, o conhecimento do percurso educacional de todos os alunos, inclusive e principalmente aqueles com NEE e a construção de políticas de atenção às diferenças. 26 Para Refletir Entre os diversos questionamentos que estão presentes nas discussões que permeiam a educação inclusiva, um nos faz refletir sobre: como a escola poderá atender estudantes com NEE, principalmente aqueles que não conseguem atingir os objetivos, os conteúdos e os componentes propostos no currículo regular? A escola que ainda se faz presente em nossa sociedade, em determinadas situações, não aposta nas possibilidades das crianças, jovens e adultos com NEE, fazendo com que suas aprendizagens não traduzam os seus verdadeiros significados ou sendo vistas de forma restrita, com pouco sentido no que se refere ao seu desenvolvimento. Para responder a essa questão, se faz necessário que a educação, a escola e seus profissionais, passem a desenvolver um olhar inovador e inclusivo para as questões centrais do processo educativo, tornando-se uma escola inclusiva. O princípio fundamental das escolasinclusivas consiste em todos os alunos aprenderem juntos, sempre que possível, independentemente das dificuldades e das diferenças que apresentem. Estas escolas devem reconhecer e satisfazer as necessidades diversas dos seus alunos, adaptando-se aos vários estilos e ritmos de aprendizagem, de modo a garantir um bom nível de educação para todos, através de currículos adequados, de uma boa organização escolar, de estratégias pedagógicas, de utilização de recursos e de uma cooperação com as respectivas comunidades. É preciso, portanto, um conjunto de apoios e de serviços para satisfazer o conjunto de necessidades especiais dentro da escola. (UNESCO, 1994). O olhar inovador pressupõe uma escola aberta à pluralidade e à diversidade cuja presença, na escola regular, enriquece, significativamente, as concepções evidenciadas nas salas de aula, uma vez que diferentes pessoas têm diferentes modos de pensar, de dar significado às coisas, de aprender e de responder às demandas educacionais e/ou sociais. Em uma sala de aula que se constitui de forma diversa teremos a possibilidade de observar e de sermos contemplados com diferentes estilos de aprendizagem para a apropriação de conhecimentos. 27 Para os diferentes estilos no modo de aprender, se faz necessário romper com visões reducionistas, que acabam minimizando o potencial de estudantes com NEE e, consequentemente, seus desafios e suas possibilidades, privilegiando apenas os aspectos intelectual e/ou afetivo, sem garantia de acesso às aprendizagens que são essenciais, conforme previsto pela Base Nacional Comum Curricular - BNCC. Em atendimento a esses requisitos, é fundamental a construção intencional de processos educativos que demonstrem a importância de um trabalho coletivo e a valorização do aspecto processual. Para tanto, se faz necessário a elaboração de um currículo comum que seja mais flexível, fruto do repensar a lógica da dinâmica do ato pedagógico na escola, onde seja possível superar a fragmentação existente entre as áreas do conhecimento e entre os conteúdos, religando as partes curriculares entre si, ou seja, um currículo que se faça na sua flexibilização. Garcia (2014) reforça que a flexibilidade curricular se faz presente em sete documentos nacionais e internacionais publicados entre 1994 e 2004. Entre os nacionais encontramos documentos publicados pelo MEC/SEESP, pela Secretaria de Ensino Fundamental (SEF), pelo Conselho Nacional de Educação (CNE) e Câmara de Educação Básica (CEB). As publicações internacionais são da UNESCO. É importante entender o conceito de flexibilização. Flexibilidade na educação pode se apresentar como “[...] qualidade, inclusivo, inovação, não tradicional, não rígido, não homogêneo, dinamicidade, movimento, atendimento ao local” (GARCIA, 2007). Assim, é possível entender um currículo não engessado, que priorize um olhar inovador às distintas NEE evidenciadas nos estudantes da educação inclusiva e que possibilite adaptar as propostas pedagógicas ao perfil, às habilidades, às possibilidades e às dificuldades apresentadas por esses estudantes. É fundamental uma proposta de flexibilização curricular que permita diversificar as possibilidades de aprendizagem, favorecer a mediação com e entre as crianças e oferecer os suportes necessários à aprendizagem e à convivência familiar. Para o MEC/SEESP (2000), flexibilização e adaptação são tomados como sinônimos. No Brasil, a presença do termo “adaptações curriculares”, no ensino fundamental aparece, inicialmente, em 1994. Posteriormente o MEC/SEESP 28 implementa o "Projeto Escola Viva: garantindo acesso e permanência de todos os alunos na escola - alunos com necessidades educacionais especiais" (ARANHA, 2000), que ofertou, por intermédio de formação continuada, conhecimentos teórico-operacionais aos professores e gestores de ensino de diversas realidades municipais. Nesse documento, as adaptações curriculares são previstas para garantir a permanência de alunos com necessidades educacionais especiais nas escolas regulares. No Banco de escola: educação para todos encontramos: As adaptações curriculares propostas pelo MEC/SEF/SEESP para a educação especial visam promover o desenvolvimento e a aprendizagem dos alunos que apresentam necessidades educacionais especiais, tendo como referência a elaboração do projeto pedagógico e a implementação de práticas inclusivas no sistema escolar. Baseiam- se nos seguintes aspectos: 1. atitude favorável da escola para diversificar e flexibilizar o processo de ensino- aprendizagem, de modo a atender às diferenças individuais dos alunos; 2. identificação das necessidades educacionais especiais para justificar a priorização de recursos e meios favoráveis à sua educação; 3. adoção de currículos abertos e propostas curriculares diversificadas, em lugar de uma concepção uniforme e homogeneizadora de currículos; 4. flexibilidade quanto à organização e ao funcionamento da escola para atender à demanda diversificada dos alunos; 5. possibilidade de incluir professores especializados, serviços de apoio e outros não convencionais, para favorecer o processo educacional (SÁ, S./d.). Os processos educativos inclusivos, demonstram a importância de um trabalho coletivo e a valorização do aspecto processual e dependem do repensar do currículo escolar, para atender, adequadamente, os estudantes com NEE; evidenciando-se assim a importância da aplicabilidade de um currículo flexível. A flexibilização curricular ou adaptações curriculares realizadas na escola pode ser de pequeno porte ou de grande porte. Fonte: https://nova-escola-pcns.s3.amazonaws.com/X6E6wQc2wkH2 29 De acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais – PCNs, adaptações curriculares de pequeno porte ou não significativas, compreendem modificações menores, de competência específica do professor, as quais se configuram por pequenos ajustes nas ações planejadas a serem desenvolvidas no contexto da sala de aula, conforme abaixo: Fonte: (MANJÓN, 1995, apud ARANHA, 2003). ADEQUAÇÕES NÃO SIGNIFICATIVAS DO CURRÍCULO Organizativas Organização de agrupamentos; Organização didática; Organização do espaço. Relativas aos objetivos e conteúdos Priorização de áreas ou unidades de conteúdos; Priorização de tipos de conteúdos; Priorização de objetivos; Sequenciação; Eliminação de conteúdos secundários. Avaliativas Adequação de técnicas e instrumentos; Modificação de técnicas e instrumentos. Nos procedimentos didáticos e nas atividades Modificação de procedimentos; Introdução de atividades alternativas às previstas; Introdução de atividades complementares às previstas; Modificação do nível de complexidade das atividades; Eliminando componentes; Sequenciando a tarefa; Facilitando planos de ação; Adaptação dos materiais; Modificação da seleção dos materiais previstos. Na temporalidade Modificação da temporalidade para determinados objetivos e conteúdos previstos. 30 A eliminação de conteúdos básicos do currículo compreende em adaptações curriculares de grande porte ou significativas, conforme as que constam a seguir, representam estratégias de competência e atribuição de instâncias político-administrativas superiores, uma vez que requerem mudanças que extrapolam a competência da sala de aula, como as de natureza política, administrativa, financeira, burocrática, entre outras, inclusive interferindo no Projeto Político-Pedagógico. São destinadas a eliminar barreiras significativas no processo de aprendizagem. ADEQUAÇÕES CURRICULARES SIGNIFICATIVAS Elementos curriculares modalidades adaptativas Objetivos Eliminação de objetivos básicos; Introdução de objetivos específicos, complementares e/ou alternativos. Conteúdos Introdução de conteúdos específicos, complementares ou alternativos; Eliminação de conteúdosbásicos do currículo. Metodologia e Organização Didática Introdução de métodos e procedimentos complementares e/ou alternativos; de ensino e aprendizagem; Organização; Introdução de recursos específicos de acesso ao currículo. Avaliação Introdução de critérios específicos de avaliação; Eliminação de critérios gerais de avaliação; Adaptações de critérios regulares de avaliação; Modificação dos critérios de promoção. Temporalidade Prolongamento de um ano ou mais de permanência do aluno na mesma série ou no ciclo (retenção). Fonte: (MANJÓN, 1995, apud ARANHA, 2003). Em respeito à diversidade presente na escola, essas adaptações, sejam elas de pequeno ou de grande porte, não significam minimizar a importância e o significado do currículo escolar ou da qualidade de ensino, e sim oferecer 31 possibilidades para que estudantes com NEE tenham acesso ao conhecimento, participando do processo de aprendizagem, sem exclusão. Conforme Aranha (2003): [...] Essas adequações resguardam o caráter de flexibilidade e dinamicidade que o currículo escolar deve ter, ou seja, a convergência com as condições do aluno e a correspondência com as finalidades da educação na dialética de ensino e aprendizagem (ARANHA, 2003). A responsabilidade de exercer a verdadeira inclusão de estudantes com NEE, cujo comprometimento é bastante significativo, indica a importância de se estruturar um Plano de Desenvolvimento Individual (PDI), com adaptações curriculares direcionadas diretamente às peculiaridades educacionais de determinado estudante, com base em sua potencialidade, suas habilidades e dificuldades de aprendizagem. O PDI prioriza um currículo adequado, adaptado a cada potencialidade, habilidade e necessidade, orientações metodológicas diferentes e, consequentemente, um enfoque avaliativo que contemple aspectos quantitativos, qualitativos e processuais. Conforme MEC/SEESP (2008): A avaliação pedagógica como processo dinâmico considera tanto o conhecimento prévio e o nível atual de desenvolvimento do aluno quanto às possibilidades de aprendizagem futura, configurando uma ação pedagógica processual e formativa que analisa o desempenho do aluno em relação ao seu progresso individual, prevalecendo na avaliação os aspectos qualitativos que indiquem as intervenções pedagógicas do professor (BRASIL, 2008). Cabe também ao PDI, apresentar proposições para o atendimento pedagógico do estudante, levando em conta o seu potencial de aprendizagem, com propostas de ações que atendam as NEE no âmbito da escola, da sala de aula, da família e dos serviços de apoio. Amparado pela LDB nº 9394/96, o PDI tem como referência um currículo escolar e pretende oferecer igualdade de oportunidades educacionais por meio da promoção da educação inclusiva e da escola para todos, como previsto também pela BNCC, a qual, para atender ao proposto pela flexibilização curricular, tem como princípios: a própria flexibilidade curricular, a articulação 32 entre teoria e prática, ensino e aprendizagem centrados na produtividade, a integração entre realidade cultural, econômica e social e a interdisciplinaridade aberta, o que requer uma intensa diferenciação no fazer pedagógico. Para tanto, é fundamental que a flexibilização curricular aconteça por meio de um trabalho pedagógico inovador, cuja intencionalidade se efetive no fato de atender a diversidade humana e em respeito à identidade cultural local, cujo propósito seja a reversão de uma situação de exclusão, que é histórica. Dessa forma, se faz necessário um planejamento que tenha com foco a igualdade de direitos e que desenvolva suas práticas respeitando os diferentes estilos e tempos de aprendizagem, a história educacional de cada estudante, as distintas maneiras de aprender e de demonstrar o aprendido e as múltiplas inteligências. Em Aranha (2005) vamos encontrar que “[...] cada pessoa tem características que são somente suas e que, na verdade, as diferenciam das demais”. (ARANHA, 2005) A flexibilização curricular ou adaptações curriculares pode envolver três etapas: ➢ 1ª etapa: formulação das adaptações curriculares que abrange: conhecer a proposta curricular do grupo de referência; realização de uma avaliação prévia com o objetivo de conhecer as potencialidades e as dificuldades de cada estudante com NEE nas áreas curriculares; definição de objetivos, conteúdos e metodologias a serem adaptados; conhecimento de cada NEE. Todos esses aspectos são fundamentais para a escolha dos procedimentos a serem elencados e exercidos; ➢ 2ª etapa: implementação: dispor de materiais diversos e diversificados; (re)organização do espaço físico a ser utilizado; escolha de estratégias adequadas e pertinentes à nova proposta curricular; garantia do enriquecimento da prática pedagógica e das experiências de aprendizagem para todos os estudantes; ➢ 3ª etapa: avaliação e continuidade do processo: se faz necessário avaliar como as adaptações realizadas nos objetivos, nos conteúdos, nas metodologias, nos materiais selecionados estão se efetivando na prática pedagógica e que resultados estão trazendo; avaliar também o espaço físico, a distribuição dos mobiliários e dos 33 estudantes nesse espaço, o tempo destinado à aprendizagem de estudantes que aprendem em tempos distintos, as diferentes formas de aprender e as diferentes possibilidades para avaliar, não só o resultado das aprendizagens, mas todos os recursos que estão envolvidos nesse processo. A BNCC, sendo um instrumento que indica a importância de uma escola aberta à pluralidade e à diversidade, considera fundamental que os direitos de aprendizagem e desenvolvimento de todos os alunos sejam assegurados, que a escola tenha um olhar inovador e inclusivo para as questões centrais do processo educativo e para todos os estudantes. Os processos educativos devem ser construídos de maneira intencional para que ocorram aprendizagens significativas, em consonância com o perfil de aprendizagem de cada estudante, possibilitando assim, a existência de uma escola capaz de fazer, realmente, uma diferença positiva em suas vidas. Faz-se importante o esclarecimento do conceito de inclusão escolar fazendo um paralelo com o conceito de integração escolar e apontando as diferenças entre cada um, enfatizando os pontos relacionados à flexibilização e/ou adaptação curricular presentes nas leis que sustentam a educação inclusiva, para permitir que estudantes com NEE tenham acesso ao currículo, considerando também aspectos da BNCC quando prevê uma escola aberta à pluralidade e a diversidade como oportunidade de enriquecimento e garantia de acesso às aprendizagens essenciais para todos os estudantes. Resumo da Aula 2 Nesta aula abordou-se a possibilidade do desenvolvimento de práticas pedagógicas voltadas à inclusão de estudantes com NEE, por meio do entendimento do que são essas necessidades, do que falamos quando nos referimos à inclusão educacional e que recursos a escola tem, por meio de flexibilização e/ou adaptação curricular, para que todos os estudantes tenham acessibilidade aos conteúdos curriculares e ao desenvolvimento de suas competências educacionais, como direito contemplado também na BNCC. 34 Atividade de Aprendizagem Discorra a respeito das três etapas da flexibilização curricular ou adaptações curriculares. Aula 3 – Tecnologias Assistivas e a Comunicação Aumentativa e Alternativa Apresentação da aula 3 Nesta aula serão apresentados os recursos das Tecnlogias Assistivas (TA) destinados a contribuir com o desenvolvimento de habilidades funcionais de pessoas com deficiência, bem como aspectos da Comunicação Aumentativa e Alternativa, enquanto área indicada para a ampliação e/ou alternativa de habilidades de comunicação para pessoas com NEE que delas necessitam.3. Tecnologias Assistivas e a Comunicação Aumentativa e Alternativa A compreensão das TA, enquanto área de caráter interdisciplinar, nos permite identificar e fazer escolhas de produtos, recursos, metodologias, estratégias, práticas e serviços que podem ser utilizados com estudantes com NEE, a depender de suas dificuldades. Da mesma forma, conhecer os auxílios promovidos pela Comunicação Aumentativa e Alternativa (CAA) favorece escolhas de recursos que promovam a ampliação de habilidades de comunicação. Abordaremos também o Atendimento Educacional Especializado (AEE), onde as TA estão presentes. 35 3.1 Tecnologias Assistivas e o Atendimento Educacional Especializado Para a compreensão do uso das TA, é fundamental abordarmos o Atendimento Educacional Especializado (AEE), o qual é um “[...] serviço da educação especial que identifica, elabora, e organiza recursos pedagógicos e de acessibilidade, que eliminem as barreiras para a plena participação dos alunos, considerando suas necessidades específicas." (SEESP/MEC, 2008). O AEE é um serviço oferecido na Sala de Recursos Multifuncionais (SRM), destinado a atender às NEE de estudantes com Deficiência, Transtornos Globais do Desenvolvimento (TGD) / Transtorno do Espectro Autista (TEA) e Altas Habilidades ou Superdotação (AHSD), com o objetivo de permitir o acesso aos conteúdos curriculares. Esse serviço visa identificar as necessidades específicas de cada estudante que dele precisam, bem como as habilidades conquistadas, se efetivando, também, com o levantamento de materiais, equipamentos, serviços e recursos necessários à acessibilidade educacional desses estudantes. A escolha do espaço físico na escola onde a SRM será implantada, para a realização do AEE, é de responsabilidade da gestão da própria escola, como também a sua organização, administração e indicação do professor que atuará nesse serviço, sendo de responsabilidade do MEC o envio de equipamentos e recursos materiais para o desenvolvimento do trabalho educacional. A Resolução CNE/CEB nº 4/2009 estabelece as Diretrizes Operacionais para o Atendimento Educacional Especializado na Educação Básica e define, em seu art. 5º: O AEE é realizado, prioritariamente, nas salas de recursos multifuncionais da própria escola ou em outra de ensino regular, no turno inverso da escolarização, não sendo substitutivo às classes comuns, podendo ser realizado, em centro de atendimento educacional especializado de instituição especializada da rede pública ou de instituição especializada comunitárias, confessionais ou filantrópicas sem fins lucrativos, conveniadas com a secretaria de educação ou órgão equivalente dos estados, do Distrito Federal ou dos municípios (BRASIL, 2010). 36 Como é possível observar, esse atendimento é distinto do ensino escolar, não se caracterizando como reforço ou complementação das atividades escolares. Acontece no turno contrário ao que o estudante estuda, sendo um espaço composto por mobiliário, materiais didáticos e pedagógicos, recursos de acessibilidade e equipamentos específicos. O público-alvo da SRM é formado por estudantes que precisam e têm direito ao AEE, ou seja, estudantes com Deficiência, Transtornos Globais do Desenvolvimento (TGD) / Transtorno do Espectro Autista (TEA) e Altas Habilidades ou Superdotação (AHSD). O Atendimento Educacional Especializado desenvolvido na SRM envolve a ação do professor especializado, sendo que esse deve estabelecer uma ampla parceria com o professor da sala comum, para o desenvolvimento de um trabalho pedagógico-educacional que permita acessibilidade aos recursos que são necessários, inclusive o uso de Tecnologias Assistivas. Na organização do trabalho a ser desenvolvido com um estudante com NEE, é importante tomar conhecimento do diagnóstico contido no relatório que o encaminhou para o atendimento especializado. Faz-se necessário, também, a realização de uma avaliação prévia, a qual contribuirá para a definição do tipo de atendimento, se individual ou em grupo, o número de vezes por semana, o tempo destinado a cada atendimento e os recursos destinados a cada caso. De início, o atendimento individual oferecerá mais clareza para a definição de todos os passos que virão a seguir, uma vez que permite maior proximidade durante a sondagem das necessidades e habilidades. Permite também a formação dos grupos, definindo o número de participantes e quem estará na composição de cada grupo. Com o levantamento das potencialidades, habilidades, dificuldades e necessidades de cada estudante, é possível fazer a indicação dos materiais e equipamentos que serão necessários para o desenvolvimento do trabalho: Softwares, recursos e equipamentos tecnológicos, mobiliário, recursos ópticos, dicionários, entre outros. Entre esses vários materiais, alguns poderão ser produzidos na forma de transcrição, adaptação, ampliação, gravação, entre outras possibilidades que atendam as NEE identificadas. 37 O acompanhamento quanto ao uso desses materiais e equipamentos é fundamental, tanto quando usados na SRM quanto na sala de aula comum ou em casa, quando for o caso. Cabe também a verificação da aplicabilidade e funcionalidade de cada item. Com esse acompanhamento e avaliação é possível analisar o impacto, os efeitos, as distorções, a pertinência, os limites e as possibilidades quanto ao seu uso, seja na sala de aula ou em outros espaços, com a devida orientação às famílias e aos professores do ensino comum. Entre os recursos de acessibilidade ao conhecimento destinados aos estudantes com NEE estão aqueles pertencentes às Tecnologias Assistivas. Saiba Mais No Brasil, o Comitê de Ajudas Técnicas - CAT, instituído pela PORTARIA N° 142, DE 16 DE NOVEMBRO DE 2006 propõe o seguinte conceito para a tecnologia assistiva: "Tecnologia Assistiva é uma área do conhecimento, de característica interdisciplinar, que engloba produtos, recursos, metodologias, estratégias, práticas e serviços que objetivam promover a funcionalidade, relacionada à atividade e participação de pessoas com deficiência, incapacidades ou mobilidade reduzida, visando sua autonomia, independência, qualidade de vida e inclusão social." (ATA VII - Comitê de Ajudas Técnicas (CAT) - Coordenadoria Nacional para Integração da Pessoa Portadora de Deficiência (CORDE) - Secretaria Especial dos Direitos Humanos - Presidência da República). Disponível na integra: http://www.assistiva.com.br/tassistiva.html As TA compreendem recursos e serviços. A designação de recursos refere-se a equipamentos ou parte deles, produto ou sistemas que são fabricados em série ou sob medida, com o objetivo de ampliar, manter ou tornar mais eficientes as capacidades funcionais das pessoas que apresentam deficiência. Os recursos são diversos, podendo ser, desde uma bengala até sofisticados sistemas computadorizados como softwares e hardwares específicos, destinados à acessibilidade de diferentes naturezas. Compreendem 38 ainda jogos, brinquedos, equipamentos de comunicação alternativa, aparelhos de escuta e aparelhos visuais, entre outros. Os serviços são entendidos como transdisciplinares e compreendem aqueles que permitem a uma pessoa com deficiência ou a quem com ela trabalha, selecionar, entre as várias possibilidades, aquelas que melhor atendam às necessidades. Entre as escolhas possíveis, podemos citar: fisioterapia, terapia ocupacional, fonoaudiologia, educação, psicologia, enfermagem, medicina, engenharia, arquitetura, design, técnicos e muitas outras especialidades. Os recursos da TA podem ser: ➢ Auxílios para a vida diária: materiais e produtos para auxílio em tarefas rotineiras tais como comer, cozinhar, vestir-se, tomar banho e executar necessidades pessoais, manutenção da casa etc; ➢ Recursos de acessibilidade ao computador: equipamentosde entrada e saída (síntese de voz, Braille), auxílios alternativos de acesso (ponteiras de cabeça, de luz), teclados modificados ou alternativos, acionadores, softwares especiais (de reconhecimento de voz etc.), que permitem as pessoas com deficiência usarem o computador; ➢ Projetos arquitetônicos para acessibilidade: adaptações estruturais e reformas na casa e/ou em ambiente de trabalho (ou escolar), por meio de rampas, elevadores, adaptações em banheiros, entre outras, que retiram ou reduzem as barreiras físicas, facilitando a locomoção da pessoa com deficiência; ➢ Órteses e Próteses: troca ou ajuste de partes do corpo, faltantes ou de funcionamento comprometido, por membros artificiais ou outros recursos ortopédicos (talas, apoios etc.). Incluem-se os protéticos para auxiliar nos déficits ou limitações cognitivas, como os gravadores de fita magnética ou digital que funcionam como lembretes instantâneos; ➢ Adequação postural: adaptações para cadeira de rodas ou outro sistema de sentar, visando o conforto e a distribuição adequada da pressão na superfície da pele (almofadas especiais, assentos e 39 encostos anatômicos), bem como posicionadores e contentores que propiciam maior estabilidade e postura adequada do corpo por intermédio do suporte e posicionamento de tronco/cabeça/membros; ➢ Auxílios para cegos ou com visão subnormal: auxílios para grupos específicos que incluem lupas e lentes, Braille para equipamentos com síntese de voz, grandes telas de impressão, sistema de TV com aumento para leitura de documentos, publicações etc; ➢ Auxílios para surdos ou com déficits auditivos: auxílios que incluem vários equipamentos (infravermelho, FM), aparelhos para surdez, telefones com teclado — teletipo (TTY), sistemas com alerta táctil-visual, entre outros; ➢ Adaptações em veículos: acessórios e adaptações que possibilitam a condução do veículo, elevadores para cadeiras de rodas, camionetas modificadas e outros veículos automotores usados no transporte pessoal (e escolar); ➢ Comunicação Aumentativa e Alternativa (CAA): compreende a seleção de materiais, ferramentas e estratégias a serem utilizadas por pessoas com NEE, no sentido de resolver os desafios de comunicação que estão presentes no seu cotidiano. Corresponde a ampliação de habilidades de comunicação para pessoas sem fala ou sem escrita funcional ou em defasagem entre sua necessidade comunicativa e a habilidade de falar e/ou de escrever. Saiba Mais O termo Comunicação Aumentativa e Alternativa foi traduzido do inglês Augmentative and Alternative Communication (AAC). Além do termo resumido "Comunicação Alternativa", no Brasil também é possível encontrar as terminologias Comunicação Ampliada e Alternativa (CAA) e Comunicação Suplementar e Alternativa (CSA). 40 Entre as possibilidades de CAA, conforme Bersch; Sartoretto (2017), são encontrados recursos eletrônicos, ou não, que permitem a comunicação expressiva e receptiva das pessoas sem a fala ou com limitações da mesma, construídos de forma personalizada, considerando várias características que atendem às necessidades do usuário. Com o objetivo de ampliar o repertório comunicativo que envolve habilidades de expressão e compreensão, as CAA compreendem também recursos materiais e equipamentos organizados e construídos para auxílios externos como cartões de comunicação, pranchas de comunicação, pranchas alfabéticas e de palavras, vocalizadores ou o próprio computador que, por meio de software específico, pode tornar-se uma ferramenta poderosa de voz e comunicação. TA - Prancha com símbolos PCS Fonte: http://www.assistiva.com.br/ca.html A CAA também pode acontecer sem auxílios externos, valorizando a expressão do sujeito, a partir de outros canais de comunicação diferentes da fala (gestos, sons, expressões faciais e corporais para manifestar desejos, necessidades, opiniões e posicionamentos). 41 Amplie Seus Estudos Com o intuito de ampliar seus conhecimentos a respeito das Tecnologias Assistivas, entre outros recursos de acessibilidade à educação, sugiro a leitura do texto Assistiva: Tecnologia e Educação, que poderá ser acessado no link: http://www.assistiva.com.br/index.html O conhecimento das TA é fundamental para quem atua ou pretende atuar com pessoas que apresentam NEE. São recursos destinados à promoção da maior independência para essas pessoas, auxiliando na execução de tarefas que até então não eram possíveis ou, quando o eram, representavam grande dificuldade em sua realização. Pensar as TA na educação é pensar em possibilitar aos estudantes com NEE, maiores possibilidades de acessibilidade ao processo educacional. Resumo da Aula 3 Nesta aula apresentou-se o Atendimento Educacional Especializado e sua forma de desenvolvimento, evidenciando o que acontece (na maioria das vezes) nas Salas de Recursos Multifuncionais. O AEE tem por objetivo, atender as especificidades de estudantes com Necessidades Educacionais Especiais. Também foi possível conhecer as Tecnologias Assistivas e as suas diferentes possibilidades e, entre elas, a Comunicação Aumentativa e Alternativa, que objetivam ampliar o repertório comunicativo de pessoas que desse recurso dependem para sua melhor comunicação. Atividade de Aprendizagem Discorra a respeito dos recursos das Tecnologias Assitivas, enfatizando-as 42 Aula 4 – Gestão Escolar e Equipe Multi/transdisciplinar Apresentação da aula 4 Nesta aula o foco será na gestão escolar enquanto maneira de administrar a escola como um todo, no sentido oferecer a esse espaço um importante desenvolvimento educacional que atenda, com qualidade, a todos os estudantes, inclusive aqueles que apresentam NEE, enfatizando abordagem do papel da equipe multi/transdisciplinar na promoção de recursos e estratégias de acessibilidade ao desenvolvimento das atividades e, consequentemente, ao conhecimento. 4. Gestão Escolar e Equipe Multi/transdisciplinar Pensar em uma escola inclusiva, que acolha a todos os estudantes, independentemente de suas características físicas, cognitivas, sociais ou culturais, é pensar em uma escola que evidencie e viva um ambiente que proporcione acessibilidade ao conhecimento e uma permanência feliz e prazerosa, bem como sucesso no processo de aprendizagem de todos os estudantes, com qualidade. 4.1 Gestão escolar A gestão escolar se refere à forma de administrar a escola como um todo, principalmente uma gestão preocupada com cada área da escola, atenta às necessidades e particularidades de cada setor, promovendo uma melhor relação e desenvolvimento das atividades. Em uma escola inclusiva, a gestão escolar deve contemplar aspectos como: construção de uma comunidade inclusiva que esteja preocupada com a elaboração de um planejamento voltado ao melhor desenvolvimento curricular; preparação da equipe no sentido de atuar de maneira cooperativa, compartilhando informações, recursos, saberes e possibilidades mais apropriadas a cada caso, a fim de desenvolver um programa em contínuo 43 progresso; promoção e criação de dispositivos de comunicação entre a toda a comunidade escolar, entendendo essa comunidade como estudantes, professores, técnicos, setor administrativo e famílias, uma vez que todos esses componentes compreendem os atores do cenário escolar; criação e desenvolvimento de espaços para estudos, discussões e análises fundamentadas na literatura correspondente e reflexões sobre a prática desenvolvida, a fim de aprimorá-la. Uma gestão escolar voltada a uma escola inclusiva e participativa se caracteriza por ser democrática e, assim sendo, está preocupada em afirmar e integrar, ao seu cotidiano, as políticas públicas, dando a cada profissional da educação, subsídios para o desenvolvimento
Compartilhar