Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
1 Disciplina: Qualidade da Educação e Gestão Escolar Autores: M.e Marcus Quintanilha da Silva Revisão de Conteúdos: Esp. Daniel Vicente / Esp. Marcelo Alvino da Silva Revisão Ortográfica: Jacqueline Morissugui Cardoso Ano: 2016 Copyright © - É expressamente proibida a reprodução do conteúdo deste material integral ou de suas páginas em qualquer meio de comunicação sem autorização escrita da equipe da Assessoria de Marketing da Faculdade São Braz (FSB). O não cumprimento destas solicitações poderá acarretar em cobrança de direitos autorais. 2 Marcus Quintanilha da Silva Qualidade da Educação e Gestão Escolar 1ª Edição 2016 Curitiba, PR Editora São Braz 3 FICHA CATALOGRÁFICA SILVA, Marcus Quintanilha da. Qualidade da Educação e Gestão Escolar / Marcus Quintanilha da Silva. – Curitiba, 2016. 52 p. Revisão de Conteúdos: Daniel Vicente / Marcelo Alvino da Silva. Revisão Ortográfica: Jacqueline Morissugui Cardoso. Material didático da disciplina de Qualidade da Educação e Gestão Escolar – Faculdade São Braz (FSB), 2016. ISBN: 978-85-5475-086-2 4 PALAVRA DA INSTITUIÇÃO Caro(a) aluno(a), Seja bem-vindo(a) à Faculdade São Braz! Nossa faculdade está localizada em Curitiba, na Rua Cláudio Chatagnier, nº 112, no Bairro Bacacheri, criada e credenciada pela Portaria nº 299 de 27 de dezembro 2012, oferece cursos de Graduação, Pós-Graduação e Extensão Universitária. A Faculdade assume o compromisso com seus alunos, professores e comunidade de estar sempre sintonizada no objetivo de participar do desenvolvimento do País e de formar não somente bons profissionais, mas também brasileiros conscientes de sua cidadania. Nossos cursos são desenvolvidos por uma equipe multidisciplinar comprometida com a qualidade do conteúdo oferecido, assim como com as ferramentas de aprendizagem: interatividades pedagógicas, avaliações, plantão de dúvidas via telefone, atendimento via internet, emprego de redes sociais e grupos de estudos o que proporciona excelente integração entre professores e estudantes. Bons estudos e conte sempre conosco! Faculdade São Braz 5 Apresentação da disciplina Esta disciplina tem um objetivo básico: discutir o conceito de qualidade. Assim, o estudo se desdobrará abordando pontos importantes para a gestão escolar, como condições de qualidade, de oferta de ensino e gestão democrática, ambiente educativo e espaço físico escolar, prática pedagógica e avaliação, formação e condições de trabalho para os profissionais da escola, perpassando por indicadores de qualidade e princípios da gestão democrática. Desagregando o tema por aulas, discutindo o conceito de qualidade e os desdobramentos no âmbito escolar. Sequencialmente a abordagem de qualidade na educação sob outro ponto de vista, o das condições oferecidas para a oferta de ensino de qualidade, com enfoque no ambiente educativo, espaço físico escolar e prática pedagógica. A terceira aula discute os princípios da gestão democrática na escola e nos sistemas de ensino. Por fim, serão resumidas as três aulas ao dedicar-se o enfoque às avaliações de larga escala e os indicadores de qualidade da educação brasileira. 6 Aula 1 – Conceito da qualidade e os desdobramentos no âmbito escolar Apresentação Aula 1 Definir o conceito de qualidade seja talvez o grande desafio da literatura acadêmica na linha pesquisa em Políticas Educacionais. Isso se dá pelo fato de existir uma multiplicidade de visões pessoais que envolvem o tema em questão. Não bastasse isso, essa mesma dificuldade se encontra nas formações acadêmica e continuada dos profissionais do magistério, muito em decorrência dessa lacuna nas pesquisas científicas e no posicionamento pouco efetivo dos sistemas de ensino que, apesar de existirem mecanismos que mensurem qualidade em educação (bastante contestados para esse objetivo) não definem claramente o que é uma escola de qualidade. 1. O que é qualidade? A palavra qualidade tem um verbete de definição na língua portuguesa, no entanto existem contrapontos na relação etimologia-significado. Sobre o termo qualidade aplicado à educação pode-se afirmar que o termo é controverso, pois envolve uma série de concepções pessoais. A discussão acadêmica em torno disso e a pluralidade de ideias que surgem em detrimento de sua indefinição tem reflexos nas práticas intraescolares. Evidentemente não se discute uma padronização de práticas escolares à medida que se tenha definida a resposta da pergunta título do capítulo, ainda mais quando temos um país de extensões continentais e diversidade cultural e socioeconômica como o Brasil. O que se constata é uma indefinição que permite aos sistemas de ensino livre-arbítrio para oferecer a vaga no ensino público com um nível de qualidade que as vezes é questionável e dificulta as pessoas a requererem qualidade na oferta pela ausência de ferramentas legais para que esse direito seja exigido. Essa dificuldade é decorrência de dois aspectos que se intercomunicam: a ausência de uma lei federal única que defina qualidade em educação e a participação do Brasil em diversos tratados internacionais que definem aspectos sobre padrão mínimo de qualidade educacional, mas que são pouco conhecidos do público geral. 7 Para continuar a discussão precisa-se situar principalmente nos preceitos legais sobre qualidade em educação, fazendo-se necessário recorrer aos textos legais de base da educação brasileira: a Constituição Federal e a Lei de Diretrizes e Bases da Educação n. 9394/96. 1.1 Preceitos legais da educação de qualidade A Constituição Federal e a LDB são os documentos de base da legislação educacional brasileira. Através delas pode-se observar os princípios que norteiam a oferta da educação com qualidade. Evidentemente seram “forçados” a olhar para outras legislações, haja visto que os documentos legais citados anteriormente baseiam a discussão, mas não especificam alguns detalhes que são esmiuçados em outras leis. Ao estudar-se as leis educacionais percebesse a presença do termo qualidade em diversos pontos. A respeito de sua definição na educação a Constituição Federal e na LDB discorrem que: Não tem definido o conceito, apenas a garantia de padrão de qualidade como um princípio. Os princípios elencados no sentido de nortear o ensino do país são definidos no art. 206 da CF/88, em seu inciso VII tem a seguinte redação: [...] Art. 206: [...] VII – Garantia de padrão de qualidade; (BRASIL, 1988, S/p.). Se tratando de um princípio, todo ensino brasileiro deveria ser permeado por esse padrão. E falamos de ensino como um todo porque no art. 209, que libera o ensino livre à iniciativa privada, exige que o mesmo seja autorizado e avaliado pelo poder público em relação ao seu padrão de qualidade. Quando se trata em redistribuição do dinheiro público e das ações voltadas às oportunidades educacionais a todos, o tema também é contemplado na forma da lei. O art. n°. 211 da CF/88, trata da organização dos sistemas de ensino em regime de colaboração. 8 [...] Art. 211: [...] § 1º A União organizará o sistema federal de ensino e o dos Territórios, financiará as instituições de ensino públicas federais e exercerá, em matéria educacional, função redistributiva e supletiva, de forma a garantir equalização de oportunidades educacionais e padrão mínimo de qualidade do ensino mediante assistência técnica e financeira aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios. (BRASIL, 1988, S/p.). Já no art.212 a redação voltada ao financiamento da educação indica que: [...] Art. 212: [...] § 3º A distribuição dos recursos públicos assegurará prioridade ao atendimento das necessidades do ensino obrigatório, no que se refere a universalização, garantia de padrão de qualidade e equidade, nos termos do plano nacional de educação. (BRASIL, 1988, S/p.). Percebemos que a Carta Magna do país contempla o tema e exige ao poder público que o padrão de equidade e qualidade sejam garantidos Ordena aos sistemas de ensino que o façam com vistas à oportunidade de ser bem educado à todos e que a redistribuição dos recursos públicos garantam o padrão mínimo com equidade, ou seja, que os entes federativos menos favorecidos em arrecadação sejam mais favorecidos na hora de redistribuir o dinheiro. A própria dinâmica do Fundeb (Fundo de Manutenção da Educação Básica) permite a diminuição da desigualdade, no entanto a política de fundos é muito recente para que tenham resultados que permitam dizer que as condições dos entes federativos são próximas da igualdade. No entanto, pesquisas educacionais indicam que a desigualdade entre municípios e estados no que diz respeito à educação diminuíram sensivelmente nos últimos anos. O gasto público com educação visando a oferta do ensino com qualidade é abordado no Ato das Disposições Constitucionais Transitórias, em particular no art. 60 que trata do Fundeb. [...] Art. 60: [...] VI - até 10% (dez por cento) da complementação da União prevista no inciso V do caput deste artigo poderá ser distribuída para os 9 Fundos por meio de programas direcionados para a melhoria da qualidade da educação, na forma da lei a que se refere o inciso III do caput deste artigo; [...] § 1º A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios deverão assegurar, no financiamento da educação básica, a melhoria da qualidade de ensino, de forma a garantir padrão mínimo definido nacionalmente. (BRASIL, 1988, S/p.). Isso corrobora com o texto anterior, nos quais os textos legais convergem para que o tema em questão seja executado e aperfeiçoado pelo poder público. A CF/88 aborda no art. 214 as diretrizes para que o país tenha um Plano Nacional de Educação. O plano em vigência, lei n. 13005 de 25 de junho de 2014, deve ser norteado por alguns objetivos. No artigo em questão, um dos seus eixos norteadores é: [...] Art. 214: [...] III - melhoria da qualidade do ensino; [...]. (BRASIL, 1988, S/p.). Faz-se necessário o entendimento de que tem-se na CF/88 aspectos que remetem à obrigação do Poder Público em efetivar o direito à educação das crianças, mas com qualidade na oferta. Importante Na Constituição Federal, o art. 208 trata do dever do Estado para com a educação. Na sua redação os parágrafos esclarecem que: Art. 208: [...] § 1º O acesso ao ensino obrigatório e gratuito é direito público subjetivo. § 2º O não-oferecimento do ensino obrigatório pelo Poder Público, ou sua oferta irregular, importa responsabilidade da autoridade competente. (BRASIL, 1988, S/p.). Ou seja, na CF/1988 tem-se o acesso como direito público subjetivo, mas nenhuma garantia de responsabilizar o poder público pela ausência de qualidade. 10 A LDB reforça alguns preceitos elencados na CF/88. Nos princípios que norteiam o ensino no país (art. 3º) o inciso IX descreve “garantia de padrão de qualidade”, assim como no art. 7º que repete a avaliação de qualidade do Poder Público sobre as escolas da iniciativa privada. No art. 9º trata da incumbência da União com a educação, e no inciso IX define que o ente federativo será responsável pelas avaliações de rendimento em todos os níveis e etapas da educação, no sentido de promover a melhoria da qualidade de ensino. No art. 70 que define o que são gastos de MDE na educação do país, o inciso IV insere os levantamentos de dados estatísticos, objetivando melhoria da qualidade de ensino novamente. A efetividade desse texto se traduz hoje nas avaliações de larga escala existentes, assunto que será debatido por nós na aula 4. A qualidade de ensino também é vinculada na LDB quando se refere ao financiamento da educação. Os art. 74 e 75 tratam sobre o custo mínimo por aluno e a ação redistributiva e supletiva da União para correção progressiva da desigualdade, avaliando a capacidade de cada ente federativo em oferecer uma quantidade mínima de insumos por aluno. Essa quantidade mínima é descrita na CF/88 em seu art. 4º, o qual discorre principalmente no inciso IX. Art.4º: [...] IX - padrões mínimos de qualidade de ensino, definidos como a variedade e quantidade mínimas, por aluno, de insumos indispensáveis ao desenvolvimento do processo de ensino- aprendizagem. (BRASIL, 1988, S/p.). A Lei n. 11494/07, trata do Fundeb e corrobora com a ideia do ponto de vista legal do Poder Público de que a distribuição de recursos pode promover a melhoria da qualidade de ensino. Sabe-se assim que a Lei 11494/07 define as características e a dinâmica do Fundeb. Porém a CF/88 e a LDB também tratam do assunto. Sobre o investimento em educação, pode-se afirmar que, a legislação atrela o investimento em educação com vistas à melhoria e garantia de padrão 11 mínimo de qualidade na educação. No decorrer dos seus 49 artigos, a palavra qualidade aparece 21 vezes, sempre ligada aos aspectos mais importantes do financiamento, como complementação da União aos entes, fixação do plano de carreira, avaliação da qualidade, fatores de ponderação na redistribuição dos recursos, além de aspectos pedagógicos e gerenciais com o objetivo ligado à melhoria qualitativa da aprendizagem dos alunos. Amplie Seus Estudos SUGESTÃO DE LEITURA Leia o artigo Limites e possibilidades da redução das desigualdades territoriais por meio do financiamento da educação básica, de autoria de Raimundo Luiz Silva Araújo, a qual discute a construção e a ausência de embasamento técnico-científico para os fatores de ponderação, os quais visam a garantia de padrão de qualidade, descritos na lei do Fundeb (11494/07). Disponível no acesso: http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/48/48134/tde- 17122014- 114038/publico/RAIMUNDO_LUIZ_SILVA_ARAUJO_rev.p df Outra legislação básica para o entendimento da importância que os textos legais amparam ao tema, é a Lei n. 13.005, a qual trata do Plano Nacional de Educação (PNE). O PNE é composto de 14 artigos e 20 metas para o decênio a partir de sua publicação, ou seja, 26 de junho de 2014. Uma de suas diretrizes elencadas em seu art. 2º, propõe a “melhoria da qualidade em educação”, assim como o estabelecimento de uma meta de investimento da área em torno do Produto Interno Bruto (PIB) com o mesmo objetivo. Um ponto importante dessa legislação é o tratamento enfático ao Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica. Esse constitui fonte de informação fundamental para o monitoramento e aferição da qualidade da 12 educação no país, no entanto como a aula 4 será destinada à essa discussão, comentaremos sobre isso em outro momento. Qualidade em educação é um tema levantado em oito das vinte metas do PNE, reforçando a ideia que, ao menos nos textos das legislações, a qualidade em educação tem sua importância, seja na busca por melhoria ou na garantia de um padrão mínimo proposta pelo Poder Público. LEI N. 13.005, de 25 de junho de 2014 O Plano Nacional de Educação - PNE e dá outras providências. [...] Art. 1o É aprovado o Plano Nacional de Educação - PNE, com vigência por 10 (dez) anos, a contar da publicação desta Lei, na forma do Anexo, com vistas ao cumprimento do disposto no art. 214 da Constituição Federal. Art. 2o São diretrizes do PNE: [...] Disponível na integra no acesso: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2014/lei/l13005.htm 1.2 Conceito de qualidade: existe consenso? Observa-sena legislação básica educacional que qualidade em educação é citada com frequência, no entanto existe uma lacuna no que se refere à definição do conceito de qualidade. Isso se dá, entre outros fatores, por dois aspectos: a etimologia da palavra e a interpretação pessoal sobre o que vem a ser algo de qualidade. A definição da palavra no dicionário remete à perfeição, excelência, conformidade a um certo padrão. Segundo Oliveira e Araújo (2005), discutem o termo sob duas vertentes gerenciais: a qualidade do processo e a qualidade do produto. O primeiro faz com que a preocupação com a qualidade seja focada na produção, sem se preocupar com o resultado do produto, mas com a http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm#art214. 13 otimização do processo. O segundo não se preocupa com gastos do processo, seu objetivo é o melhor produto, independente de custos. Pode-se refletir acerca de como a educação é tratada nesse ponto de vista, sob qual padrão de qualidade a legislação se refere, um patamar atingido com preocupação em torno do produto (aluno) ou do processo. Fuenzalida (1994) ressalta que ainda que na literatura acadêmica evita- se a definição do conceito, não há dúvidas sobre a importância ao defini-lo em termos legais. No entanto, a polissemia da palavra é um obstáculo a ser superado. Entre os conceitos que diversos autores relacionam o termo está o contexto motivacional, mobilizador, emotivo, de visão individual. A polissemia da palavra qualidade é trabalhada em Oliveira e Araújo (2005). Segundo os autores, a palavra comporta “diversos significados e por isso tem potencial para desencadear falsos consensos”. Particularmente para a educação está terá múltiplas facetas, que tomarão forma de acordo com as experiências, valores e posição social de cada sujeito. Em torno dessa polissemia, e analisando outros estudos anteriores em nosso curso que discutiram a pluralidade de ideias, diversidade cultural, social e econômica, nos remete à certeza que tais fatores também contribuem para que as diversas localidades tenham sua concepção de qualidade em educação. 1.3 Qualidade em educação: linhas gerais Como visto no tópico, qualidade em educação é um assunto controverso, carregado de interpretações pessoas e influências baseadas nos mais variados aspectos da vida pessoal e coletiva nas mais diversas localidades. O tratamento do Poder Público sobre qualidade em educação também tem suas variações. Essas variáveis são mais sensíveis a dois aspectos: as características do local (cultura, economia, sociedade, etc.) e a necessidade da população ao longo do tempo. Passamos a olhar brevemente algumas dimensões da qualidade educacional no decorrer do tempo no Brasil. 14 1.4 Dimensões históricas da qualidade em educação Oliveira e Araújo (2005) tratam da dimensão da qualidade em educação baseada em três momentos históricos. No primeiro momento a qualidade de educação significa acesso à escola. Nesse momento, que pode-se situar a partir da década de 40, já ocorriam discussões sobre qualidade no ambiente educacional em algumas partes do mundo, e no Brasil era o início de uma expansão maciça de vagas para o ensino primário, e posteriormente para o 1º Grau. No segundo momento remete-se no país à década de 90, a qual tinha um cenário de muitas reprovações e acentuada distorção idade série. Nesse período a qualidade em educação foi avaliada pelas políticas de correção de fluxos, no sentido de corrigir essa distorção. No terceiro momento, vivido atualmente, é baseado na aferição da qualidade na educação através das avaliações externas. Fuenzalida (1994) ressalta que é um momento em que se consolidam as avaliações, as quais visam medir a qualidade na educação básica. O país vive isso em grande intensidade e com uma série de avaliações federais, estaduais e até municipais. Vale reforçar a necessidade de se fazer a ligação do evidencia-se a ausência de uma definição conceitual padrão acerca do que é qualidade em educação. Em linhas gerais que tem-se uma régua de medida e que a legislação contempla a garantia e a melhoria do padrão de qualidade. Além disso vislumbra-se que não é fácil definir o que é qualidade em educação se o termo permite diversas interpretações. Amplie Seus Estudos SUGESTÃO DE LEITURA Leia o artigo O texto Qualidade de ensino: uma nova luta pelo direito à educação, de Romualdo Portela de Oliveira e Gilda Cardoso de Araújo, o qual reforça a indefinição e a visão histórica do termo qualidade em educação. Disponível no acesso: http://www.scielo.br/pdf/rbedu/n28/a02n28 15 1.5 Reflexões sobre o desdobramento no âmbito escolar Uma definição do Boletim da Unesco (2013) apresentada por Oliveira e Santos indica que a relação mais próxima de qualidade em educação está na tríade insumos-processos-resultados, ou seja, que haja investimento, a escola forneça um ambiente educativo adequado e por fim que se consolide a aprendizagem e o sucesso educacional do aluno. Isso significa que existe um ponto fundamental quando se pleiteia uma educação de qualidade: a gestão pedagógica, administrativa e financeira. Isso engloba entre outras questões a presença de insumos, a gerência dos mesmos e a atuação pedagógica dos profissionais do magistério. Essas práticas não se dão automaticamente, precisam de gerenciamento do Poder Público. Vale evidenciar a importância da prática pedagógica na escola. Pois nenhum profissional trabalha bem sendo mal remunerado, e com condições de trabalho ínfimas e sem valorização. Sendo assim, o ponto de partida são as condições de trabalho docente, que necessitam de um patamar adequado para que a gestão pedagógica funcione. A ausência de um consenso sobre qualidade educacional gera outro problema na escola: a unicidade de pensamento em torno do tema. Assim, a efetividade qualitativa do ensino dentro das instituições escolares perpassa por uma discussão coletiva em torno do assunto, a construção de documentos de forma democrática que propicie a audição de todas as vozes da escola, além da relação sólida entre equipe diretiva, professores e demais funcionários da instituição, no sentido de consolidar um bom trabalho pedagógico. Para a gestão escolar os desafios são grandes, haja visto que as indefinições e a autonomia que as escolas têm em vários aspectos, como pedagógica e de pluralidade de ideias, abrem uma gama de possibilidades ao gestor. Cabe a ele buscar formas democráticas de conduzir a gestão da escola, no sentido de incluir toda comunidade escolar como parte do processo de formação de uma cultura e tratamento da qualidade da educação da demanda atendida. 16 A diversidade do país, aliada à polissemia da palavra e à legislação pouco conclusiva sobre o assunto, não permite definir o que é exatamente qualidade em educação no país. Seu desdobramento no âmbito escolar exige da instituição acima de tudo formas democráticas de gerir a escola, no sentido de construir uma cultura e uma maneira de oferecer educação com qualidade. Resumo da Aula 1 Nesta aula o objetivo foi discutir o conceito de qualidade e buscar a relação com a educação, evidenciando seus quatro tópicos básicos. Reforçou- se que a qualidade em educação é contemplada na garantia de um padrão mínimo, além de ter a sua melhoria como princípio básico, seja na LDB, CF/88 ou PNE. Ao estudar a etimologia da palavra pode-se concluir que existe uma dificuldade de definir o conceito por ser um termo polissêmico. A dimensão histórica pode mostrar que apesar de não se definir o conceito, a qualidade educacional é tratada com ênfase diferente de acordo com o contexto histórico. Por fim, o desdobramento no âmbito escolar do assunto permitiu refletir sobre as dificuldades refletidas para a gestão em decorrência das conclusões mencionadas. Atividadede Aprendizagem Leia a meta 7 do PNE, a qual trata das avaliações de larga escala, refletindo sobre a forma que a qualidade em educação no país é concebida. Aula 2 – Gestão escolar, condições de qualidade e de oferta de ensino Apresentação da Aula 2 Nesta aula será dada a continuidade percebe-se que tem um problema de indefinição acerca do que é uma educação de qualidade, direcionando um 17 olhar especial para o tema, sob outro ponto de vista, visando na as condições ideais para a escola oferecer um ensino qualitativamente razoável. 2.1 Reflexões sobre uma escola de qualidade Uma grande dificuldade, sustentada pela literatura especializada é a educação de qualidade, definição essa que possui seus empecilhos claros, evidentemente distinguir uma escola de boa qualidade é uma tarefa tão difícil quanto. Mas, o que se espera inicialmente de uma escola é que seus alunos aprendam. Pelo menos essa expectativa sempre foi comum à todos. O fato é que a evolução da complexidade do contexto escolar tornou a instituição com um papel social mais abrangente do que somente ensinar. Exige-se que o aluno aprenda, seja bem tratado, tenha seu direito à educação resguardado, seja zelado pela sua integridade física, moral e psicológica. A escola tornou-se extensão de sua residência, e como tal a exigência em torno de tais aspectos, aliados à estrutura física, formação dos profissionais, ambiente escolar, entre outras, foram progressivamente aumentando. Se a definição sobre uma escola de qualidade é uma tarefa difícil, passa-se a discutir peculiaridades, as quais possam definir o que uma escola precisa para ofertar um ensino com avaliação qualitativa satisfatória. Atualmente, a qualidade da oferta é assunto pertinente na pauta da discussão em políticas educacionais no país. Os testes de larga escala fazem parte dessa discussão, afirmando-se que atualmente são a régua de medida para uma educação de qualidade. A discussão sobre qualidade em educação já existe desde meados do século passado. Sobre a melhoria de fluxo escolar pode-se concluir que na década de 90 a política de correção de fluxo esteve em voga no país. 2.2 Condições de qualidade nas escolas As condições necessárias para que uma escola oferte um ensino com qualidade perpassam por todos os quesitos que compõe a escola, sejam os 18 alunos, professores, funcionários, a infraestrutura e a forma como a escola é gerida. O aluno é parte integrante fundamental nesse processo de ensino- aprendizagem, considerando que não existe um formato ideal de discente, suas características e contexto de vida fora da escola são pontos de influência no seu aprendizado. Sobre as pesquisas relacionadas ao tema observa-se que, a partir da década de 60, os pesquisadores já concluíam que questões como contexto socioeconômico tinham influência nos resultados escolares. Houve uma série de estudos que tinham por objetivo analisar se a escola fazia diferença na aprendizagem do aluno, e a pesquisa mais inovadora na época foi relatada pelo Relatório Coleman. Nesse documento o relato de uma pesquisa com mais de 600 mil alunos descreveu que a escola fazia pouca diferença na aprendizagem nos alunos, cabendo ao nível socioeconômico o fator de maior influência para tal (BROOKE; SOARES, 2008). Esses estudos foram um grande golpe aos liberais, pois acreditavam que a igualdade de oportunidade para estudos era o suficiente. A partir de então, uma linha de pesquisa conhecida como escola eficaz passou a produzir uma série de estudos que analisavam o que uma escola precisava para compensar o déficit socioeconômico do aluno de modo que o mesmo aprendesse. Com o passar do tempo, a evolução dos estudos em escola eficaz permitiu algumas conclusões, entre elas que seriam necessários melhores instalações físicas das escolas, profissionais mais qualificados e remunerados, modelos de gestão que envolvesse toda comunidade escolar, entre outros fatores. No país as avaliações de larga escala, em particular a Anresc (Avaliação Nacional de Rendimento Escolar), mais conhecida como Prova Brasil, coleta uma grande quantidade de dados educacionais, os quais permitem traçar um panorama dessas condições. Os questionários de contexto nos anos em que a prova é aplicada são respondidos pelo diretor, aluno, professores de língua portuguesa e matemática das turmas que respondem a prova e pelos aplicadores da prova. O objetivo é coletar as informações referentes ao modelo de gestão, as condições socioeconômicas dos alunos, 19 carreira docente e infraestrutura material da escola. Horta Neto (2007) ressalta que essas informações foram implantadas progressivamente até sua consolidação em 2001, antes mesmo da existência da Prova Brasil. Desde então os questionários sofreram poucas alterações nos anos de aplicação. O Censo Escolar compõe outra fonte de informação interessante nesse aspecto. Vale-se reforçar a importância em discutir-se as condições de qualidade na escola, sob dois aspectos: a tríade infraestrutura/trabalho docente/gestão da escola e as condições socioeconômicas dos alunos. 2.2.1 Condições materiais, de trabalho docente e gestão da escola Existem dimensões fundantes para a escola reunir condições para ofertar um ensino com qualidade. Com base no texto, as principais são as condições de: infraestrutura material da escola; trabalho docente; modelo de gestão escolar. As condições da escola para a oferta de um ensino de qualidade são compostas por vários fatores. Eles compõe a tríade insumos-processos- resultados, culminando em algo próximo à um ensino de qualidade. Sobre isso pode-se entender que os insumos mínimos são fundamentais para que os processos possam ser realizados e que a escola tenha melhores condições de oferecer aos alunos sucesso escolar. Reconhecidas como três dimensões importantes para um ensino de qualidade, a infraestrutura, o trabalho docente e o modelo de gestão são três questões fundamentais para que a escola reúna condições qualitativas para o ambiente educacional. Quando se fala em condições materiais, certamente fala-se em questões de iluminação, ventilação, infraestrutura predial, posse de materiais pedagógicos, computadores e acesso à internet, banheiros adequados, 20 equipamento de multimídia, bibliotecas, salas de vídeo, laboratórios, entre outros. De fato a presença de tais elementos eleva o patamar da escola e oferece aos profissionais do magistério a possibilidade de incrementar seu trabalho pedagógico. Schneider (2014) alia o direito à educação e as condições materiais da escola necessárias para isso. Na discussão, salienta-se que na maioria dos países desenvolvidos não se discute condições materiais, à medida que é um assunto consolidado, no entanto o nosso país carece de discussão e aprofundamento em torno do tema. As condições estruturais e materiais da escola são fundamentais para o trabalho pedagógico. Nessa categoria de condições de fundamento para a oferta de ensino com qualidade, pode-se elencar: Laboratórios, bibliotecas, salas iluminadas, banheiros adequados e equipamento de multimídia. As dimensões que baseiam um trabalho docente de qualidade perpassam pela remuneração, quantidade de horas aula, quantidade de escolas que o professor trabalha, formação inicial e continuada, docência em sua área de formação, momento de planejamento de aulas, experiência profissional, entre outras. Não há dúvidas que um professor bem remunerado, motivado, bem formado e com aulas bem planejadas é uma ferramenta imprescindível para uma escola ofertar um ensino com qualidade. Uma das ações governamentais (ainda que não suficiente) foi a implantação em 2008, a partir da lei n. 11.738/08 do Piso Salarial Profissional Nacional. A partir dessa lei, o salário do professor de nível médio tem um valormínimo regulamentado anualmente pelo Governo Federal para uma jornada de no máximo 40 horas. Ainda que o valor seja baixo, estabelece uma régua mínima que permite alguma dignidade. Alguns municípios brasileiros tem uma arrecadação que dificulta o pagamento desse valor mínimo, assim esse deve se justificar em vias do não pagamento desse valor, e a União em caráter complementar atuar em regime de colaboração de modo a fazer cumprir a lei. A gestão de uma escola modifica sua cultura, ações, prioridades, etc. A disputa pelo poder através da política é uma realidade escolar que possibilita renovações, mudanças, democratização e movimentação dentro da escola. A 21 equipe de gestão é um grupo fundamental para as ações da escola na comunidade. Questões relacionadas à remuneração do diretor, existência e efetividade dos conselhos de escola, construção coletiva de proposta pedagógica e participação da comunidade, professores e funcionários, nas decisões são aspectos reconhecidos pela literatura como pontos importantes para possibilitar a elevação do padrão de qualidade de uma escola. Dourado, Oliveira e Fernandes (S/d.), salientam que a existência de uma estrutura material mínima de uma escola para oferecer condições de qualidade da oferta envolvem algumas variações relacionadas ao projeto político pedagógico, o clima escolar e a gestão dos sistemas e das escolas. Com base em documentos de instituições nacionais e internacionais, os autores elencam as condições primárias que impactam na oferta de ensino com qualidade: Salas de aula adequadas com a etapa/modalidade e idade; Ambiente escolar adequado para lazer, recreação, prática de esportes e reunião com a comunidade escolar; Equipamentos eletrônicos adequados e em quantidade necessária, assim como bibliotecas, acervos online ou on-line, laboratórios de ensino, informática, etc.; Serviços de apoio pedagógico e adaptação à portadores de necessidades especiais; Ambiente seguro e voltado para uma cultura de paz. Todas essas dimensões só tem efetividade se bem trabalhadas com o discente. Assim, passamos a discutir as fragilidades que advém de outro contexto fora da escola, o socioeconômico. 22 Amplie Seus Estudos SUGESTÃO DE LEITURA Leia o projeto de pesquisa Qualidade no ensino fundamental: uma leitura das condições de efetividade dos sistemas estaduais e municipais de ensino a partir de indicadores de financiamento, condições de oferta e resultados escolares, de coordenado pela Andréa Barbosa Gouveia, no qual são discutidas as condições de qualidade na criação de metodologias que auxiliem o mapeamento das mesmas. Disponível no acesso: http://www.nupe.ufpr.br/observa2010.htm 2.2.2 Nível socioeconômico dos alunos As pesquisas em escola eficaz realizadas a partir da década de 60 concluíram que alunos com vulnerabilidade social tendem a ter resultados escolares desfavoráveis. Sobre a relação do nível socioeconômico dos alunos e as avaliações de larga escala podemos afirmar que, existem uma crítica quanto à utilização dos resultados dos testes sem a contextualização socioeconômica do público atendido pela escola. Portanto, não é novidade que alunos com vulnerabilidade social precisam de escolas dotadas de condições adequadas para suplementar os estudos de seus alunos. Tais condições não se resumem aos aspectos citados anteriormente, ações de caráter supletivo e redistributivo são essenciais nesse contexto. Como exemplo de tais ações, podem-se apontar o suporte técnico e financeiro, além de assistência médica, suplementação de material didático, alimentação e transporte, ações previstas em legislação no inciso VII do art. 208 da CF e inciso VIII do art. 4º da LDB. Tangendo a equidade na educação, numa perspectiva de dar uma atenção especial à setores sociais desfavorecidos economicamente, equiparando as condições que proporcionem êxito a todos. Franco et Al. (2007) denomina equidade intraescolar como uma “distribuição social do desempenho escolar dos alunos dentro das escolas”. 23 Atualmente, o nível socioeconômico e sua contextualização à resultados educacionais é um assunto em voga na pesquisa em políticas educacionais no país. A discussão sobre condições materiais na escola é inexistente nos países desenvolvidos. Isso se deve ao fato que. Trata-se de um assunto já consolidado em tais países, haja visto que a universalização das condições materiais já está concretizado. Os testes de larga escala fazem parte dessa discussão. Sobre isso pode-se afirmar que atualmente que são a régua de medida para uma educação de qualidade. Chirinéa e Brandão (2015) criticam a publicação de um resultado de avaliação externa sem correlacionar com condições sociais e econômicas, assim como outras condições de qualidade citadas na seção anterior. A efetividade dessa discussão culminou, por exemplo, na construção de indicadores que indiquem um panorama de vulnerabilidade social nas escolas, através das respostas obtidas em questionários de contexto nas avaliações de larga escala, em particular a Prova Brasil. O exemplo atual é o ISE (Índice Socioeconômico) proposto pelo Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira), que considera questões como escolaridade dos pais, infraestrutura domiciliar, bens e imóveis como relevantes para traçar esse perfil. Amplie Seus Estudos SUGESTÃO DE LEITURA Leia o livro Pesquisa em Eficácia Escolar, organizado por Nigel Brooke e José Francisco Soares, a obra traz um histórico, que reúne alguns resultados de pesquisas desde a década de 60 sobre a escola eficaz. 2.3 Ambiente educativo e espaço físico escolar, prática pedagógica e implicações para a gestão. Dourado, Oliveira e Fernandes (S/d.), descrevem que “a existência de um ambiente escolar adequado é diretamente relacionado a questão do desempenho dos estudantes” (p. 11). Isso parece fácil de entender para quem 24 vive diariamente a realidade da escola. Ambiente educativo, espaço físico e prática pedagógica andam juntos na busca do objetivo de promover um resultado satisfatório na oferta de ensino, que seus alunos aprendam. O ambiente escolar tem relação direta com os resultados escolares dos estudantes. Sobre o preparo do espaço físico escolar concluí-se que, tem o poder de propor possibilidades ou estabelecer limites, de acordo com o seu preparo. Ambiente escolar se torna um local de aprendizagem à medida que é preparado para isso. Assim, não existe ambiente escolar se não há estrutura para tal. Aí precisa-se de um espaço físico adequado. Não há como estabelecer um locus de aprendizagem se não há espaço físico para isso. Um centro de educação infantil não consolida um ambiente de aprendizagem se não há espaço amplo, limpo, com materiais adequados e profissionais capacitados. Existem outras questões que envolvem ações suplementares como alimentação, transporte e assistência médica que incrementam esse espaço, que além de estrutura adequada necessita de alunos bem nutridos e dispostos para aprender. Ribeiro (2004) enfatiza que “o espaço escolar deve compor um todo coerente, pois é nele que se desenvolve a prática pedagógica”. Isso significa que o espaço físico escolar pode propor possibilidades ou estabelecer limites. À medida que esse espaço promove sensações que, mesmo quando adulto elas permanecem, temos um ambiente. O cuidado com o espaço físico cresce de importância à medida que não se trata de um local destinado somente à aprendizagem, mas também a socializar com todos ao seu redor. Ribeiro (2004) ressalta que a construção de um espaço escolar o cuidado na observância de alguns critérios como fatores geográficos (topografia, clima, posição do sol), localização, acesso ao transporte, demanda populacional, etc. De fato o cuidado com esses aspectos previnem outros problemasfuturos, em boa parte relacionada à estrutura básica. Dourado, Oliveira e Fernandes (S/d.), enfatizam que “ambientes planejados, acolhedores, humanizadores e integrados às necessidades da comunidade escolar tem sido destacados pelos agentes escolares e pela comunidade como valores agregados importantes”. Ou seja, tais fatores são considerados fundamentais para a gestão escolar e o trabalho pedagógico. 25 É certo que os alunos com deficiência, comumente tem problemas de acesso em virtude da falta de adaptação dos espaços e no que tange aos ambientes escolares, a lei descreve que: A igualdade de condições de acesso e permanência na escola proposta no art. 3º da LDB obriga que as escolas ofereçam condições de acessibilidade a todos os sujeitos. Entre os princípios da LDB elencados no art. 3º destaca-se a “igualdade de condições para o acesso e permanência na escolas” e a liberdade de aprender e ensinar. Essa igualdade é estendida à todos os sujeitos que desfrutam do ensino público, inclusive os portadores de necessidades especiais. A redação da LDB em seu art. 58 define com exatidão a educação especial: [...] Art. 58: Entende-se por educação especial, para os efeitos desta Lei, a modalidade de educação escolar oferecida preferencialmente na rede regular de ensino, para educandos com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação. (BRASIL, 1996, S/p.). Assim, os cuidados com o espaço físico e o ambiente escolar são redobrados, assim como o preparo profissional para a prática pedagógica e a construção de uma cultura escolar que conviva com a diferença de maneira natural. A prática pedagógica não costuma ter a mesma efetividade se não existe um ambiente escolar favorável e um espaço físico adequado. Com essas condições, o professor tem facilitado o seu trabalho no sentido de oferecer ao seu aluno uma formação de qualidade, voltada ao grande objetivo da educação, fazer com que o aluno realmente aprenda. Os aspectos relacionados à uma boa prática docente envolvem assuntos discutidos no capítulo 1, como remuneração digna, dedicação a uma escola, uma etapa/modalidade, hora atividade, turno de trabalho, experiência profissional além de vinculação profissional (estatutário, contratado, sem contrato, etc.). Assim, a complexidade do trabalho docente envolve diversos aspectos que não são relacionados somente ao processo de ensino- aprendizagem na sala de aula, e sim, o envolvimento de questões que 26 norteiam a vida do professor fora das quatro paredes da escola. Pesquisas comprovam que professores contemplados por essas questões elencadas acima tem maior rendimento, são mais criativos e tem em seus alunos maior aprendizado. Vale reforçar que a gestão escolar tem papel de protagonismo nesse processo. O ambiente escolar é carregado de complexidade que passa da estrutura da escola às condições socioeconômicas dos alunos e de trabalho dos professores, e a mediação, é papel fundamental da gestão, a qual exige habilidade técnica e de relacionamento interpessoal para que haja sucesso no ambiente escolar. Importante A Lei do Piso Salarial Profissional Nacional aos professores da educação básica foi fundamental para corrigir algumas injustiças sociais históricas referente a remuneração docente. Estudos comprovam alguns entes federados pagando menos que o salário mínimo a alguns profissionais. Um ensino de qualidade perpassa por uma escola com condições ideais para a sua oferta. É claro que existem casos em que escolas com pouca estrutura material, professores com péssimas condições de trabalho e mal geridas obtém sucesso com seus alunos, mas isso é exceção à regra. Ofertar um ensino com qualidade tem relação direta com uma gestão que englobe todos os atores sociais que compõe a comunidade escolar, isso é democracia e a escola precisa de ares democráticos. Resumo da Aula 2 Nesta aula foram trabalhados os conceitos fundamentais para que a escola tenha condições de ofertar um ensino de qualidade, evidenciando a importância das condições materiais da escola, de trabalho docente e de gestão. Discutiu-se também o papel do aluno e a influência que sua vulnerabilidade social (quando existe) pode exercer no movimento de ensino- 27 aprendizagem, sintetizando com uma reflexão sobre ambiente escolar, espaço físico e prática pedagógica, reforçando a importância da gestão escolar e o seu papel na mediação desses fatores. Atividade de Aprendizagem A lei n. 11738/08 instituiu o Piso Salarial Profissional Nacional para os profissionais do magistério. Dentre as principais características elencadas na legislação temos. Piso mínimo para o profissional de uma jornada de até 40 h com formação de ensino médio. Pesquise o valor atual do piso, verificando se o seu município cumpre o valor, e discorra sobre o tema. Aula 3 – Gestão democrática nos sistemas de ensino e nas escolas Apresentação da Aula 3 Nesta aula serão evidenciados os princípios da gestão democrática no ambiente escolar, apresentando um breve histórico os seus princípios básicos amparados pela legislação. 3. Gestão democrática nos sistemas de ensino e nas escolas 3.1 Princípios da gestão democrática Tão importante quanto qualquer dimensão que condicione uma escola ou sistema de ensino a oferecer uma educação com padrão de qualidade é o seu modelo de gestão. Ainda que a reforma de cunho gerencial tenha acontecido em seu maior vulto na década de 80 e 90 (no caso brasileiro) nos serviços públicos, paralelamente a educação viveu (e ainda vive) ares democráticos, com a progressiva consolidação da gestão democrática nos sistemas de ensino e nas escolas. Entender esse processo é fundamental para a compreensão do contexto de uma escola com condições de ofertar um ensino com qualidade. A gestão dos sistemas de ensino envolve um jogo político que certamente afeta a qualidade do ensino oferecido por aquela rede. Seja no 28 estabelecimento das prioridades pelo poder público, o investimento financeiro do ente federativo em regime de colaboração com os demais entes até a concepção da gestão política do município, estado ou a própria União. Pela sua complexidade, gerir qualquer sistema envolve habilidade gerencial, conhecimento em educação e influência política de modo a atingir os objetivos propostos pelo Poder Público e a garantia da efetividade do direito à educação à população. Quando a escola é contemplada com investimento, infraestrutura, bons profissionais, materiais pedagógicos de qualidade, atendimentos suplementares, cabe à gestão da escola articular de forma a todos esses fatores atuarem em conjunto. Essa articulação passa pela gestão democrática, que culmina na comunidade escolar e profissionais da educação com a sensação de sujeitos pertencentes àquela escola. 3.2 Breve histórico da trajetória da gestão democrática O histórico da gestão democrática coincide com a trajetória da oferta e responsabilidade pela educação no país. Isso porque o caráter descentralizador do sistema educacional brasileiro desde os tempos dos jesuítas é característica marcante até os dias atuais. Historicamente falando, a gestão dos sistemas de ensino não ocorreu de maneira uniforme no país. As responsabilidades educacionais desde o Brasil Império foram dos Municípios e Estados, de forma desigual na oferta e investimento, cabendo ao Poder Central apenas a administração das instituições de ensino superior e algumas de ensino médio. Desde a chegada dos jesuítas e outras companhias religiosas, o ensino é descentralizado, e não existia um poder central que efetivamente detinha o controle da formação educacional no país. Essa prática se estendeu por todo o Brasil Império, culminando em ações pontuais de municípios e estados no sentido de democratizar a educação no país.A evolução desigual em termos econômicos no Brasil contribuiu para que tivesse um investimento diferenciado nas regiões brasileiras, e a responsabilidade do ensino público básico se manteve aos estados e 29 municípios, cabendo ao Governo Federal a regulamentação e complementação, além de alguns institutos de educação de ensino médio e as Universidades. Com isso, a democratização do ensino evoluiu a passos muito lentos, enquanto tinham localidades com um grande número de alfabetizados outras eram compostas basicamente por analfabetos. O luta pela democratização da educação no país começa a tomar corpo à medida que a sociedade civil e acadêmica começa a se mobilizar, em particular a partir da década de 30 com as Conferências de Educação. A partir dos anos 80, com a redemocratização política as associações se reinventam e passam a construir ideias coletivas em torno das questões educacionais, algumas em pauta na agenda brasileira atualmente. 3.3 Princípios básicos da gestão democrática na lei A gestão democrática nas escolas é um fenômeno recente, popularizado a partir de 1988. Na Constituição o tema é abordado da seguinte forma é um princípio voltado à todas as escolas públicas do país. A partir de 1988, o Brasil foi invadido por uma onda democrática, fruto de uma ditadura longínqua e um movimento social de proporções gigantescas denominado Diretas Já. A materialização dessa onda foi em forma de um documento conhecido popularmente como Constituição Cidadã, a nossa atual Constituição Federal. A educação passou a respirar ares democráticos, em particular com a democracia nas escolas. Na CF/88 a gestão democrática é um princípio elencado no art. 206. Na redação do artigo, o princípio é descrito como: [...] Art. 206 [...] VI - gestão democrática do ensino público, na forma da lei. (BRASIL, 1988, S/p.). Tratando-se de um princípio, a democracia passa a transformar os ambientes escolares, e a LDB contempla a gestão democrática como um dos princípios do ensino no país, definindo as normas de gestão democrática no ensino público no país. Essas normas são definidas pelos sistemas de ensino. 30 Reforçada nos princípios do ensino no país, a gestão tem uma modificação interessante, passando a responsabilidade da legislação do tema aos sistemas de ensino, através do texto do inciso VII do art.3º. A descrição “gestão democrática do ensino público, na forma desta Lei e da legislação dos sistemas de ensino” do inciso em questão confirma nosso pensamento. O art. 14 da CF/88 é mais importante em termos de gestão democrática. A redação do artigo descreve que: Art. 14. Os sistemas de ensino definirão as normas da gestão democrática do ensino público na educação básica, de acordo com as suas peculiaridades e conforme os seguintes princípios: I - participação dos profissionais da educação na elaboração do projeto pedagógico da escola; II - participação das comunidades escolar e local em conselhos escolares ou equivalentes. (BRASIL, 1988, S/d.). Esse texto é fundamental, pois estabelece autonomia aos sistemas de ensino na definição das formas de gestão, no entanto elenca princípios democráticos que nortearão o ensino público. Ainda que o foco da disciplina esteja voltado para a educação básica, o seu art. 56 complementa essa ideia com a inclusão das instituições de ensino superior nos princípios elencados, fundando e mantendo órgãos colegiados deliberativos. Portanto, cada sistema de ensino é responsável pela sua legislação que contemple a democracia nas escolas. Chama a atenção a ausência de eleições para direção da escola, o que permite aos sistemas indicações ou concursos específicos para o cargo, práticas vistas com ressalva pela literatura especializada. Souza et Al. (2005) ressalta que há um mito, o qual necessita der desmistificado, de que a equipe diretiva não é o coração da escola. A relação entre professores e alunos sempre será o ponto principal e as ações da escola (inclusive o modelo de gestão) são voltados para o aprimoramento dessa relação e a melhoria da qualidade de ensino. 31 Importante A municipalização do ensino, fenômeno que ganhou força a partir de 1988, foi acompanhada da abertura de boa parte das escolas para a eleição de sua equipe diretiva. Poucos municípios tinham essa prática anteriormente, Curitiba – PR, por exemplo elegeu seus primeiros diretores com o voto da comunidade escolar em 1988, tendo uma eleição com votos de colegiados anterior a essa. 3.4 Instrumentos da gestão democrática “Por que o ensino público tem que ser democrático?” Souza et Al.(2005) argumenta que, “para planejar, decidir, coordenar, executar ações, acompanhar e controlar, avaliar as questões públicas, como a educação, é importante envolver o maior número possível de pessoas neste processo”, no sentido de dialogar e democratizar a gestão. Segundo os autores, democracia pode ser entendida como governo do povo ou de maneira sinônima soberania popular. Incrementando o conceito, a participação coletiva de todos nas decisões que influenciam na apropriação de bens coletivos são características do termo em questão. A gestão democrática ocorre de duas formas: nos sistemas/redes de ensino e nas escolas. Para cada forma existem instrumentos específicos que trabalham a democracia na gerência, seja do conjunto de escolas ou da complexidade interna da instituição. Assim, nossa discussão será dividida em duas partes, discorrendo sobre a gestão democrática nos sistemas de ensino e posteriormente nas escolas. A definição de normas de gestão democrática tem seu grau de autonomia, mas a LDB elenca alguns princípios norteadores. Destacam os seguintes elementos. Participação da comunidade escolar ou local em conselhos escolares ou equivalentes. Na gestão escolar existe uma relação complexa entre profissionais, alunos e comunidade, cabendo à equipe gestora o papel de mediação nesse processo, e que, de acordo com as discussões, indique o foco principal das ações na escola. A relação entre professores e alunos, e a gestão entra como um instrumento para a melhoria da qualidade de ensino. 32 3.5 Gestão democrática nos sistemas de ensino Faz-se necessário uma pequena revisão sobre sistemas de ensino. Saviani (1999) enfatiza que, usualmente o sistema de ensino é tido como uma organização que administra escolas. Assim ele pode ser denominado como federal, estadual ou municipal, de acordo com o ente que o administra. Para nós, o foco é o sistema enquanto entidade administrativa do ensino público. 3.5.1 Sistemas de Ensino: breve revisão da legislação A existência dos sistemas de ensino é normatizada na CF/88, pelo art. 211 da Constituição, reforçada pela redação de seu parágrafo 4º: [...] Art. 211 […] § 4º Na organização de seus sistemas de ensino, a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios definirão formas de colaboração, de modo a assegurar a universalização do ensino obrigatório. (BRASIL, 1988, S/p.). A redação do artigo estabelece a possibilidade de pluralidade de sistemas de ensino no país. Entre outras justificativas o Plano Nacional de Educação, a qual se justifica no art. 214 pela possibilidade de articular e juntar todos os sistemas de ensino em um regime de colaboração e objetivação de metas em comum. Na LDB o art. 8º enfatiza a liberdade de ensino dos sistemas. Aos estados e municípios cabem manter seus sistemas de ensino, assim como baixar suas normas complementares. Aos entes federativos cabe manter seus sistemas, facultando aos municípios optarem por estarem integrados ao sistema estadual. Cabe aos sistemas de ensino normas complementares para educação técnica, assegurar o fornecimento da educação de jovens e adultos, assegurar atendimento especializado aos educandos com deficiência, transtornos globais de desenvolvimento, altashabilidades ou superdotação, a valorização dos profissionais do magistério, estabelecimento de normas para educação à distância, podendo haver cooperação entre os entes para tal. 33 3.5.2 Instrumentos da gestão democrática nos sistemas de ensino A gestão democrática nas escolas é um fenômeno recente. Apesar de vários sistemas de ensino não elegerem seus diretores por voto direto (concursos, indicações, etc.) algumas práticas estão popularizadas em boa parte das escolas brasileiras. Sobre o Conselho de Escola, as principais características são, é composto por uma representatividade que reúne professores, equipe diretiva, alunos, pais de alunos, funcionários e acompanham assuntos de ordem financeira, administrativa e pedagógica; Com base no modelo proposto por Souza et Al. (2005), cinco instrumentos são considerados fundamentais para a democratização dos sistemas: Conferência de Educação; Conselho Municipal de Educação; Conselho de Acompanhamento e Controle Social do Fundef (agora Fundeb); Orçamento Participativo (na educação); Eleições de dirigentes escolares. A Conferência de Educação é organizada por um gestor ou um grupo de pessoas de uma rede ou sistema de ensino. Em encontros anuais ou bienais são convocados toda a população para debater temas de suma importância para a política educacional. Apesar do foco do autor está no município, atualmente a Conferência Nacional da Educação (CONAE) reúne a comunidade acadêmica, fóruns e demais setores da sociedade civil para discutir problemas da educação brasileira. Já o Conselho Municipal de Educação se diferencia da Conferência em alguns aspectos. Primeira diferença se refere aos seus componentes, eleitos e representando diversos segmentos da sociedade, e a segunda diferença é pela sua frequência de reunião, ao mínimo mensal. A terceira característica é o seu a fazer, que consiste em deliberar, orientar e fiscalizar os 34 sistemas de ensino, sempre de acordo com a autonomia que a lei orgânica do município oferece. O Conselho de Acompanhamento e Controle Social do Fundeb visa fiscalizar os gastos com o fundo. Os autores de base sugerem que a ação de fiscalização fosse estendida para todos os gastos em manutenção e desenvolvimento do ensino. O orçamento participativo visa reunir a população uma vez ao ano para discutir as prioridades para o investimento público em educação que excede a vinculação de receitas prevista em lei. As eleições diretas para escolha dos dirigentes é fundamental para a consolidação da democracia nas escolas. A ideia é clara: eleição direta por voto dos integrantes da comunidade escolar para a escolha do profissional da educação que representará a escola ao poder constituído e consequentemente à sociedade. A gestão democrática dos sistemas de ensino pode ser concretizada com a utilização de diversos instrumentos, como a Conferência de Educação e o Conselho Municipal de Educação. Existem outras ferramentas como o orçamento participativo. As características dessa ação consiste em reunir anualmente a comunidade para discutir prioridades para o gasto do orçamento em educação acima da vinculação de receitas. 3.6 Gestão democrática nas escolas No art. 15 da LDB é descrito em sua redação que “os sistemas de ensino assegurarão às unidades escolares públicas de educação básica que os integram progressivos graus de autonomia pedagógica e administrativa e de gestão financeira, observadas as normas gerais de direito financeiro público”. Assim, é estendido de forma progressiva a ideia de escola autônoma e a possibilidade de democratizar a decisão quanto à forma de gasto do dinheiro público. De acordo com Souza et Al. (2005), no âmbito da escola os cinco instrumentos são: Conferência Local da Comunidade Escolar, Conselho de 35 Escola, Rotatividade no quadro de dirigentes da escola, Associação de Pais e Grêmio Estudantil. Perceba que a dimensão democrática na escola pode ser bem maior do que a contemplada na LDB, haja visto a possibilidade da existência de diversas ferramentas de envolvimento social na educação. A Conferência Local da Comunidade Escolar é equivalente a Conferência de Educação, pois tem a intenção de reunir toda comunidade escolar, desde os profissionais que trabalham na escola até o entorno escolar, no sentido de debater os problemas da instituição e da localidade a qual a escola é situada. Amplamente debatido nas pesquisas, o Conselho de Escola é a instituição que tem por objetivo a coordenação da gestão escolar, estudando, planejando, debatendo, deliberando e acompanhando o dia à dia da escola, seja na parte pedagógica, administrativa ou financeira. É composto por uma representatividade que reúne professores, funcionários, pais, alunos e equipe diretiva. A rotatividade do dirigente é descrita pelos autores como salutar para o ambiente escolar. Perpetuar-se no poder não renova ideias, estaqueia uma força política que por vezes não permite o amplo debate e a circulação de novas ações para melhoria da escola. A associação de pais e o grêmio estudantil são citadas como relevantes no processo de gestão democrática. Seja para auxílio de captação de recursos e representatividade dos pais na escola ou para a mobilização dos estudantes em torno de uma entidade representativa, as duas associações são vistas como fundamentais para a participação de todos nas decisões da escola. Pesquise Visite o site da CONAE e saiba mais sobre os assuntos em pauta na agenda brasileira. http://conae.mec.gov.br/ A democracia nas escolas é prevista em lei, tem uma evolução truncada e carregada de luta política. Ainda é possível observar sua evolução e 36 a complexidade de instrumentos para que os sistemas/redes de ensino e as instituições escolares sejam um geridas por um ambiente democrático. Resumo da Aula 3 Falou-se de gestão democrática abordando quatro aspectos: um breve histórico de trajetória, a gestão democrática na forma da lei, sua aplicação nos sistemas de ensino e nas escolas. Discorremos sobre a evolução lenta dos dispositivos democráticos, as legislações sancionadas somente a partir de 1988, os instrumentos de gestão democrática nos sistemas de ensino e nas instituições escolares, concluindo que a escola precisa de ares democráticos e isso é perfeitamente possível. Atividade de Aprendizagem Entre no site da CONAE e acesse o artigo Gestão Democrática com participação popular no planejamento e na organização da educação nacional, de autoria de Moacir Gadotti. Após efetuar a leitura, discorra sobre a sua relação com o conteúdo apresentado nesta disciplina. Link: http://conae2014.mec.gov.br/images/pdf/artigogadotti_final.pdf Aula 4 – Avaliações de larga escala e os indicadores de qualidade da Educação brasileira Apresentação da Aula 4 Nesta aula será apresentado um breve histórico surgimento das avaliações de larga escala no Brasil e os seus indicadores no Ensino Médio. 37 4. Breve histórico do surgimento das avaliações de larga escala A educação pública é ofertada pelo Poder Público. Assim, as alterações significativas no que diz respeito à concepções de Estado, política econômica e social afetam o setor educacional, seja positivamente ou não. A presença e consolidação das avaliações de larga escala em vários países é fruto disso, portanto temos um instrumento construído em um processo de mudança de modelo administrativo da máquina pública e uma tentativa de incluir conceitos de quase mercado nos serviços públicos, entre eles a educação. Ainda sim, as avaliações de larga escala e os indicadores educacionais são realidade e a discussão acadêmica se volta para o seu bom uso, e não sua extinção. As avaliações de larga escala são um fenômeno recente na educação brasileira, e entende-se que a sua primeiraaplicação do Saeb acontece em 1990. As pesquisas iniciais mais relevantes sobre escola eficaz são datadas da década de 60 (BROOKE; SOARES, 2008). No entanto a discussão sobre qualidade em educação se inicia ainda na década de 40 nos países desenvolvidos. No Brasil essa preocupação, tem forte influência do contexto histórico à medida que a necessidade social por “qualidade” em educação passou por acesso, permanência e atualmente através das avaliações de larga escala (OLIVEIRA; ARAÚJO, 2005). Após a Segunda Guerra Mundial, boa parte dos países foi invadido por uma onda de concepções de Estado voltadas ao protecionismo social. Tais modelos são conhecidos como Welfare State, ou Estado de Bem Estar Social, definidos como uma resposta à demanda por políticas sociais (ARRETCHE, 1995), políticas essas que surgem aos poucos mediante necessidade de sobrevivência dos pobres que são intensificadas desde o final do século XIX até sua universalização após 1960 em boa parte dos países. O Welfare é uma proteção mínima, parte da política de Estado, com vistas a níveis básicos de renda, de educação, moradia, saúde e previdência, sendo que esses devem ser vistos como direito e não um favor. No final da década de 70 e início do decênio seguinte uma crise financeira assolou o mundo e os liberais culparam o modelo econômico e de concepção estatal pelo momento de dificuldade. Assim, impulsionados pelos 38 governantes americanos e ingleses, surgem ideias neoliberais voltadas ao gerenciamento estatal baseados nos princípios de eficiência e produtividade. A mudança de postura política do Estado passa a propor o que se chama de Estado Mínimo, ou seja, a proposição de serviços mínimos à população, reduzindo investimento em políticas sociais e com incentivo claro à iniciativa privada. Chirinéa (2011) cita uma das características do neoliberalismo na educação, onde apesar do Estado subsidiar o serviço, ele divide a responsabilidade com o setor privado, no sentido de “aquecer o mercado educacional”, promovendo competitividade e visando garantir qualidade com resultados mais satisfatórios e menos custo. Trata-se de um Estado menos intervencionista e mais regulador. A preocupação com os fins (os resultados), precede a preocupação com os meios. A materialização da reforma gerencial no país ocorre na década de 90 com o MARE (Ministério da Administração e Reforma do Estado). Nesse contexto, a educação é influenciada à medida que trata-se de um serviço público, e a concretização se dá através das avaliações de larga escala. 4.1 Avaliações de larga escala no Brasil Atualmente, a educação do Brasil vive uma tentativa de unir a tríade acesso-permanência-resultados escolares, entendendo que uma educação de qualidade se faz com o sujeito na escola, sem evasão ou abandono e com a promoção do sucesso escolar, entendendo que esse processo decorre do uso das avaliações e dos indicadores educacionais (em particular o Ideb). O surgimento das avaliações externas no país se dá no final da década de 80, com o SAEB (Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica). A primeira aplicação é em caráter amostral, e se estende nesse formato até a reformulação do sistema em 2005. Araújo e Fernandes (2009) descrevem a criação e consolidação do SAEB em quatro ciclos, a partir de 1990 até 1997, onde o aprofundamento das unidades gestoras do sistema educacional no que se refere principalmente, a pesquisa e avaliação educacional, o fornecimento de elementos para a 39 melhoria da capacidade técnica dos estados e municípios, a alimentação de subsídios para políticas educacionais voltadas para qualidade, equidade e eficiência e o monitoramento das políticas brasileiras foram respectivamente focos principais dos ciclos de 1990, 1993, 1995 e 1997. O ano de 1997 é muito importante, pois estabelece as metodologias de base que permanecem quase inalteradas até hoje. Em 2001, são inseridos questionários de contexto que visam alimentar um banco de dados de informações gerais como condições socioeconômicas dos alunos, condições materiais da escola, de trabalho docente e aspectos da gestão escolar, respondidos por discentes, docentes das turmas em que as avaliações foram aplicadas, incluindo o diretor da escola. O movimento de utilização dos resultados de larga escala para o fomento de indicadores, assim como outros aspectos provenientes de dados educacionais administrados pelo Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira) toma forma a partir de 2005, com a reformulação das avaliações de larga escala no país. As avaliações de larga escala não tem como objetivo aferir o desempenho do aluno, e sim de um conjunto de alunos, sejam em uma escola ou rede de ensino. A metodologia de aplicação da prova não avalia individualmente ninguém, essa avaliação é realizada em sala pelo docente. Outro aspecto é relacionado ao conteúdo cobrado, que sempre tem como base o currículo, cabendo aos sistemas de ensino e escolas trabalharem normalmente o currículo, pois a matriz de referência e os descritores são apenas um fragmento do currículo dos sistemas. A Teoria de Resposta ao Item, metodologia de avaliação das respostas, é um método diferente da teoria clássica de testes, pois não visa aferir apenas respostas certas, e sim o pensamento lógico do aluno como um todo. Nesse contexto, trabalhar os conteúdos visando apenas as avaliações é ser reducionista em termos educacionais, haja visto que o currículo é bem maior que as abordagens dos descritores (conteúdos estruturantes avaliados nas provas) e as matrizes de referência (régua de pontuação de acordo com a aferição do desempenho na prova). 40 Sobre o processo de implantação do Saeb, pode-se afirmar que: O processo de formação da prova se estendeu de 1990 até 1997, incluindo questionários de contexto em 2001. Saiba Mais Para saber mais sobre o Inep, acesse o site oficial. Link: www.inep.gov.br 4.2 Indicadores da educação brasileira Atualmente, é possível explorar o site do Inep e baixar microdados, analisar resultados e ter acesso a uma série de documentos e ferramentas que propiciem traçar um panorama em números da educação, seja no município, estado ou país. Antes de conhecermos um pouco do que o Inep produz, vejamos como isso se deu historicamente a partir de 2005. Em 2005, inicia-se a aplicação da Prova Brasil, e o antigo Saeb continua a ser aplicado. A primeira busca a universalidade dos alunos de 5º e 9º ano do ensino fundamental, a segunda é em caráter amostral. DECRETO N.6094 DE 24 DE ABRIL DE 2007 Dispõe sobre a implementação do Plano de Metas Compromisso Todos pela Educação, pela União Federal, em regime de colaboração com Municípios, Distrito Federal e Estados, e a participação das famílias e da comunidade, mediante programas e ações de assistência técnica e financeira, visando a mobilização social pela melhoria da qualidade da educação básica. O PRESIDENTE DA REPÚBLICA no uso das atribuições que lhe confere o art. 8, incisos IV e V, alínea “a”, da Constituição, e tendo em vista o disposto nos arts. 23, inciso V, 205 e 211, § 1º da Constituição, e nos arts. 8º a 15 da Lei n. 9394/96, de 20 de dezembro de 1996, Decreta: CAPÍTULO I DO PLANO DE METAS COMPROMISSO TODOS PELA EDUCAÇÃO Art. 1º O Plano de Metas Compromisso Todos pela Educação (Compromisso) é a conjugação dos esforços da União, estados e Distrito Federal e municípios, atuando em regime de colaboração, das famílias e da comunidade, em proveito da melhoria da qualidade da educação básica. [...] Disponível na integra no acesso: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Decretos/D6094.htm 41 4.3 Surgimento da Prova Brasil e do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica Dois anos antes do surgimento do Ideb tomar corpo de mensuraçãoda qualidade da educação brasileira a Portaria n°. 931 de 21 de março de 2005 regulamenta o SAEB com a composição de duas avaliações, a ANEB (Avaliação Nacional da Educação Básica) e a ANRESC (Avaliação Nacional de Rendimento Escolar), a qual fica conhecida como Prova Brasil. A primeira permanece em caráter amostral e a segunda censitária, destinada a alunos de 4ª e 8ª série (atuais 5º e 9º ano). Na letra a, segundo parágrafo do art. 1º o objetivo claro é “avaliar a qualidade do ensino ministrado nas escolas”, imprimindo uma cultura avaliativa nos segmentos educacionais, conforme estabelece a letra posterior, sempre no intuito textual de contribuir para a melhoria dos padrões de qualidade (BRASIL, 2005). Em 24 de abril de 2007, através do Decreto n. 6094, é instituído pelo Governo Federal o Plano de Metas Compromisso Todos pela Educação, impulsionando o Plano de Desenvolvimento da Educação, com o objetivo explícito de reunir esforços dos entes federados em busca da melhoria da qualidade da educação. Em consonância com o Plano de Aceleração do Crescimento, o Plano de Metas cria um indicador de qualidade chamado Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb). O objetivo do indicador fica explicito no art. 3º, discorrendo que “A qualidade da educação básica será aferida, objetivamente, com base no IDEB, calculado e divulgado periodicamente pelo INEP”, na combinação de rendimento escolar e desempenho de estudantes. O parágrafo único desse artigo enfatiza que “O IDEB será o indicador objetivo para a verificação do cumprimento de metas fixadas no termo de adesão ao Compromisso”. Apesar da adesão voluntária, o texto oferece apoio técnico e financeiro aos entes que aderirem ao Plano de Metas, por meio do PAR (Plano de Ações Articuladas), assim, milhares de municípios, somado aos estados e distrito federal aderiram ao plano. Fica claro que a partir desse momento o Ideb faria parte da agenda educacional das administrações públicas e do cotidiano das escolas. De fato a adesão ao Plano de Metas Compromisso Todos pela 42 Educação faz com que o Ideb assuma um papel de “de indutor de políticas para melhoria da educação” (SOARES; ALVES, 2013). Os dados para a alimentação do Ideb serão provenientes do Censo Escolar e do SAEB, ambos coletados, trabalhados e divulgados pelo INEP (Instituto Nacional de Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira). De fato o Ideb assume um papel peculiar nas políticas educacionais brasileiras. Se tomarmos como exemplo o Plano Nacional de Educação, Lei n. 13005 de 25 de junho de 2014, estabelece no Art. 11 a sua divulgação, inclusive excluindo a possibilidade de o mesmo ser exposto junto com outros indicadores educacionais que trata o parágrafo 1º do referido artigo, como perfil do alunado, estrutura escolar, perfil docente entre outros. Na meta 7 coloca o Ideb como protagonista de mensuração da qualidade no país, estabelecendo metas nacionais e para o Piso. Segundo Araújo e Fernandes (2009) “Portanto, o IDEB assume ser um indicador estratégico da atual política educacional desenvolvida e traz uma determinada concepção de qualidade: rendimento e desempenho”. Segundo Soares e Alves (2013) “O Ideb, inegavelmente, conquistou legitimidade na atual conjuntura, haja visto sua incorporação no texto do Plano Nacional da Educação (PNE) para o presente decênio.” Segundo Araújo e Fernandes (2009) “O SAEB representa, portanto, a efetivação da avaliação em larga escala no contexto brasileiro, sendo a qualidade aferida mediante resultados cognitivos”. Em uma análise bastante superficial, o quadro anterior nos dá olhar um comparativo dos índices apresentados nessa perspectiva histórica nos estados da federação. Araújo e Fernandes (2009) salientam que, ainda que o Ideb apresente uma possibilidade comparativa, também pode extrair as desigualdades regionais que caracterizam a heterogeneidade da educação brasileira. Desde então a Prova Brasil é aplicada bienalmente em anos ímpares, se consolidando como uma avaliação censitária fundamental para o monitoramento da educação no país. A fusão com a taxa de rendimento, aliando permanência e sucesso escolar é a justificativa de Reinaldo Fernandes, presidente do Inep na época, para que o indicador traduza qualidade da educação. 43 Além da Aneb e da Prova Brasil existem outras avaliações de larga escala nacionais e locais. Citamos a ANA (Avaliação Nacional de Alfabetização) aplicada anualmente aos alunos de 3º ano do ensino fundamental, a Avaliação da Alfabetização Infantil - Provinha Brasil, aplicada aos alunos de 2º ano, o Enem, destinado à alunos do 3º ano de Ensino Médio e porta de entrada para muitas universidades em substituição aos tradicionais vestibulares, o Enade que avalia os cursos de ensino superior no país, assim como avaliações locais como o SIMARE em Curitiba, o SARESP em São Paulo, o SIMAVE em Minas Gerais, entre outras. O Ideb é o indicador mais importante em termos de norteamento das políticas educacionais do país. Sua composição é definida pela Proficiências em Língua Portuguesa e Matemática e a média harmônica das taxas de aprovação das escolas. Importante O Plano Nacional de Educação enfatiza o Ideb como delineador das políticas educacionais do país, estabelece metas para o ensino fundamental e médio e propõe diversas estratégias para tal, com base no regime de colaboração entre os entes federados 4.4 Formulação do Ideb e crítica da literatura acadêmica Segundo Alves e Soares (2013) “Em um único número, expresso na escala de zero a 10, ele (Ideb) traduz a qualidade da educação e permite comparar as unidades avaliadas – escolas, redes e sistemas estaduais e municipais de ensino”, tornando possível acompanhar sua evolução ao longo do tempo, em decorrência da permanência de suas matrizes de referência. A literatura acadêmica alerta que, ainda que o indicador meça dimensões importantes, como rendimento e desempenho, não são os únicos fatores para que tenhamos uma educação de qualidade. Condições como infraestrutura adequada, ambiente escolar, clima organizacional, 44 vulnerabilidade social dos alunos, modelo de gestão da escola, condição de trabalho docente, são fundamentais para contextualizar esses resultados. O que normalmente acontece é o tratamento do Ideb em um sentido de ranqueamento das escolas e responsabilização pelo ente federativo. O que deveria ser uma ferramenta de monitoramento da educação se torna em um índice de produtividade e eficiência, em que classificam escolas e sistemas de ensino, “aquecendo o mercado educacional” e transformando o ambiente da educação em uma competição. A literatura não se mostra contra o Ideb, somente questiona a forma como ele é utilizado. O Ideb utiliza a proficiência da Prova Brasil, que é composta por duas provas, a de Língua Portuguesa e Matemática, e essa avaliação é corrigida através de uma metodologia denominada de Teoria de Resposta ao Item, que permite mapear a linha de pensamento do aluno. Com bases nessas proficiências é realizado uma transformação de modo que se tenha um índice de 0 à 10 para cada prova, tendo a média das duas notas como a proficiência convertida das provas de desempenho. O cálculo do rendimento é realizado através da média harmônica entre as taxas de aprovação dos anos avaliados. Se a Prova Brasil foi aplicada no 5º ano, são consideradas as taxas de aprovação por bloco do 1º ao 5º ano, se aplicadas ao 9º ano, considera-se as aprovações de 6º ao 9º. O resultado dessa média harmônica é a taxa de rendimento, que é multiplicada diretamente pela nota da proficiência, originando o resultado do Ideb. É possível explorar as notas técnicas do Inep de modo a observar as formulas que transformam a proficiência em nota e a mesma em Ideb. O que nos interessa para o momento é entender que temos um indicador de 0 à 10
Compartilhar