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FUNDAMENTOS HISTÓRICOS E TEÓRICO- METODOLÓGICOS DO SERVIÇO SOCIAL Professora Me. Aline Cristtine Marroco França Bertti Professora Me. Maria Cristina Araujo de Brito Cunha GrAduAção Unicesumar Reitor Wilson de Matos Silva Vice-Reitor Wilson de Matos Silva Filho Pró-Reitor de Administração Wilson de Matos Silva Filho Pró-Reitor de EAD Willian Victor Kendrick de Matos Silva Presidente da Mantenedora Cláudio Ferdinandi NEAD - Núcleo de Educação a Distância Direção de Operações Chrystiano Mincoff Coordenação de Sistemas Fabrício ricardo Lazilha Coordenação de Polos reginaldo Carneiro Coordenação de Pós-Graduação, Extensão e Produção de Materiais renato dutra Coordenação de Graduação Kátia Coelho Coordenação Administrativa/Serviços Compartilhados Evandro Bolsoni Gerência de Inteligência de Mercado/Digital Bruno Jorge Gerência de Marketing Harrisson Brait Supervisão do Núcleo de Produção de Materiais Nalva Aparecida da rosa Moura Design Educacional Camila Zaguini Silva Jaime de Marchi Junior Larissa Finco Maria Fernanda Canova Vasconcelos Nádila de Almeida Toledo rossana Costa Giani Projeto Gráfico Jaime de Marchi Junior José Jhonny Coelho Editoração Fernando Henrique Mendes Revisão Textual Ana Paula da Silva, Flaviana Bersan Santos, Jaquelina Kutsunugi, Keren Pardini, Nayara Valenciano e Viviane Favaro Notari CENTro uNIVErSITÁrIo dE MArINGÁ. Núcleo de Educação a distância: C397 Fundamentos Históricos e Teórico Metodológicos do Servi- ço Social / Aline Cristtine Marroco França Bertti / Maria Cristina Araújo de Brito Cunha. Maringá-Pr.: uniCesumar, 2014. 120p. “ Graduação - Ead”. 1.Metodologia. 2. História. 3. Serviço Social. Ead. I.Título. Cdd 22ª Ed. 362 NBr 12899 - AACr/2 Ficha catalográfica elaborada pelo bibliotecário João Vivaldo de Souza - CrB-8 - 6828 Viver e trabalhar em uma sociedade global é um grande desafio para todos os cidadãos. A busca por tecnologia, informação, conhecimento de qualidade, novas habilidades para liderança e so- lução de problemas com eficiência tornou-se uma questão de sobrevivência no mundo do trabalho. Cada um de nós tem uma grande responsabilida- de: as escolhas que fizermos por nós e pelos nos- sos farão grande diferença no futuro. Com essa visão, o Centro universitário Cesumar – assume o compromisso de democratizar o conhe- cimento por meio de alta tecnologia e contribuir para o futuro dos brasileiros. No cumprimento de sua missão – “promover a educação de qualidade nas diferentes áreas do conhecimento, formando profissionais cidadãos que contribuam para o desenvolvimento de uma sociedade justa e solidária” –, o Centro universi- tário Cesumar busca a integração do ensino-pes- quisa-extensão com as demandas institucionais e sociais; a realização de uma prática acadêmica que contribua para o desenvolvimento da consci- ência social e política e, por fim, a democratização do conhecimento acadêmico com a articulação e a integração com a sociedade. diante disso, o Centro universitário Cesumar al- meja ser reconhecido como uma instituição uni- versitária de referência regional e nacional pela qualidade e compromisso do corpo docente; aquisição de competências institucionais para o desenvolvimento de linhas de pesquisa; con- solidação da extensão universitária; qualidade da oferta dos ensinos presencial e a distância; bem-estar e satisfação da comunidade interna; qualidade da gestão acadêmica e administrati- va; compromisso social de inclusão; processos de cooperação e parceria com o mundo do trabalho, como também pelo compromisso e relaciona- mento permanente com os egressos, incentivan- do a educação continuada. Seja bem-vindo(a), caro(a) acadêmico(a)! Você está iniciando um processo de transformação, pois quan- do investimos em nossa formação, seja ela pessoal ou profissional, nos transformamos e, consequente- mente, transformamos também a sociedade na qual estamos inseridos. de que forma o fazemos? Criando oportunidades e/ou estabelecendo mudanças capa- zes de alcançar um nível de desenvolvimento compa- tível com os desafios que surgem no mundo contem- porâneo. o Centro universitário Cesumar mediante o Núcleo de Educação a distância, o(a) acompanhará durante todo este processo, pois conforme Freire (1996): “os homens se educam juntos, na transformação do mundo”. os materiais produzidos oferecem linguagem dialó- gica e encontram-se integrados à proposta pedagó- gica, contribuindo no processo educacional, comple- mentando sua formação profissional, desenvolvendo competências e habilidades, e aplicando conceitos teóricos em situação de realidade, de maneira a inse- ri-lo no mercado de trabalho. ou seja, estes materiais têm como principal objetivo “provocar uma aproxi- mação entre você e o conteúdo”, desta forma possi- bilita o desenvolvimento da autonomia em busca dos conhecimentos necessários para a sua formação pes- soal e profissional. Portanto, nossa distância nesse processo de cres- cimento e construção do conhecimento deve ser apenas geográfica. utilize os diversos recursos peda- gógicos que o Centro universitário Cesumar lhe possi- bilita. ou seja, acesse regularmente o AVA – Ambiente Virtual de Aprendizagem, interaja nos fóruns e en- quetes, assista às aulas ao vivo e participe das discus- sões. Além disso, lembre-se que existe uma equipe de professores e tutores que se encontra disponível para sanar suas dúvidas e auxiliá-lo(a) em seu processo de aprendizagem, possibilitando-lhe trilhar com tranqui- lidade e segurança sua trajetória acadêmica. Prof.ª Me. Aline Cristtine Marroco França Bertti Possui graduação em Serviço Social, pela Faculdade Estadual de Ciências Econômicas de Apucarana (2007); é especialista em Ética e Política, pela Fundação Faculdade de Filosofia Ciências e Letras de Mandaguari (2009); mestre em Ciências Sociais, pela universidade Estadual de Maringá. Atualmente, é assistente social do Centro de Triagens e obras Sociais do Vale do Ivaí e professora do curso presencial e a distância de Serviço Social da unicesumar – Maringá. Prof.ª Me. Maria Cristina Araújo de Brito Cunha Graduada em Serviço Social, pela universidade Federal do Amazonas; Especialista em Administração de recursos Humanos, pela universidade Federal da Paraíba; Mestre em Gerontologia Social, pela Pontifícia universidade Católica de São Paulo – PuC/SP. Coordenadora do Curso de Serviço Social presencial e na modalidade a distância da unicesumar – Centro universitário Cesumar. A U TO RE S SEjA BEM-VINDO(A)! Seja bem-vindo(a)! Caro(a) aluno(a), é um grande prazer e satisfação podermos trabalhar com você esta disciplina tão importante para sua formação profissional. o material elaborado o(a) au- xiliará no estudo da disciplina de Fundamentos Históricos Teórico Metodológicos do Serviço Social. Faremos, no decorrer de nossos estudos, uma análise da fundamentação teórica do sur- gimento do Serviço Social. Posto isso, no decorrer das cinco unidades deste material, você analisará questões em que propomos reflexão e, com isso, uma ampliação de seu conhecimento, formando, assim, um profissional capacitado para a compreensão do início de nossa profissão. durante a elaboração deste livro, propusemos criar um material que abordasse a funda- mentação sócio-histórica da profissão de um modo claro e de fácil compreensão. Agora, farei um breve relato do conteúdo que iremos abordar no decorrer de nosso estudo. Na unidade I, veremos os elementos para entendermos o capitalismo, a relação entre proletariado e burguesia e o surgimento do Serviço Social na Europa. Na unidade II, abordaremos sobre as protoformas do Serviço Social, o surgimento das primeiras escolas de Serviço Social no Brasil e o conservadorismo religioso e as bases teórico-metodológicas. Na unidade III, veremos a influência do Serviço Social de Caso, Grupo e Comunidade e a relação entre positivismoe funcionalismo na profissão. Já na unidade IV, abordaremos a defesa da qualificação profissional e a mobilização da categoria. Finalizando nosso livro, na unidade V, o assunto será o Serviço Social e a ditadura, a incorporação da profissão na esfera da burocracia e tecnocracia. E, encerrando, aborda- remos o Serviço Social e o processo de questionamento da prática profissional. Prezado(a) aluno(a), é de extrema importância que você faça a leitura do material pre- viamente e resolva todas as questões propostas no final de cada unidade, pois isso con- tribuirá amplamente para seu processo de aprendizagem, no qual estaremos pronta- mente disponíveis em atendê-lo(a). deixamos aqui nossos sinceros agradecimentos em poder compartilhar nosso conheci- mento e contribuir para o processo de sua formação profissional. desejamos um ótimo estudo e sucesso a você! ApresentAção FUNDAMENTOS HISTÓRICOS E TEÓRICO- METODOLÓGICOS DO SERVIÇO SOCIAL sumário 09 uNIdAdE I CAPITALISMO E SERVIÇO SOCIAL 13 Introdução 14 Capitalismo 16 Capitalismo Monopolista 19 proletariado X Burguesia 23 o surgimento do serviço social na europa 27 Considerações Finais uNIdAdE II AS PROTOFORMAS E O SURGIMENTO DO SERVIÇO SOCIAL NO BRASIL 35 Introdução 36 As protoformas do serviço social 40 As primeiras escolas de serviço social no Brasil 53 Conservadorismo religioso e Bases teórico-Metodológicas 56 Considerações Finais uNIdAdE III A INSTITUCIONALIZAÇÃO DO SERVIÇO SOCIAL 63 Introdução 64 A Influência do serviço social de Caso, Grupo e Comunidade sumário 69 positivismo na profissão 72 Introdução do Funcionalismo no serviço social 73 Considerações Finais uNIdAdE IV A CATEGORIA PROFISSIONAL 79 Introdução 79 Defesa da Qualificação profissional 89 A Mobilização Da Categoria 93 Considerações Finais uNIdAdE V O SERVIÇO SOCIAL E A PRÁTICA PROFISSIONAL 99 Introdução 100 o serviço social e a Ditadura Militar 107 A Incorporação da profissão na esfera da Burocracia e tecnocracia 108 o serviço social e o processo de questionamento da prática profissional 112 Considerações Finais 117 Conclusão 119 Referências U N ID A D E I Professora Me. Aline Cristtine Marroco França Bertti CApItALIsMo e serVIço soCIAL Objetivos de Aprendizagem ■ Identificar o surgimento do capitalismo e o capitalismo monopolista. ■ Analisar a relação entre proletariado e burguesia. ■ refazer a trajetória do Serviço Social, estudando sobre o surgimento na Europa. Plano de Estudo A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade: ■ Capitalismo ■ Capitalismo Monopolista ■ Proletariado X Burguesia ■ o surgimento do Serviço Social na Europa INTRODUÇÃO Olá, caro(a) aluno(a)! É necessário desvendar o contexto histórico do capitalismo, suas raízes e condições, assim, notamos que sua formação está intimamente ligada com as origens do serviço social, que nos remete a analisar a linha do tempo e conhecer a estrutura social do sistema capitalista, reconhecendo a face da força de produção e a respectiva organização social, mais especificamente a divisão de classes no contexto econômico brasileiro. Vamos verificar a história do capitalismo e a história das classes sociais, sendo que nesta reside o elemento essencial para fins de compreensão do capi- talismo, tanto quanto para a consideração da marcha histórica da humanidade, relevantemente relacionada com conflitos, antagonismos e lutas, estas últimas, em particular, consideradas verdadeiras forças motrizes da referida marcha. O destaque desta luta, sistematizada por Marx, e suprema para Engels, reputou que ela tem para a história a mesma consideração que a lei da transformação de energia tem para a ciência natural. A Unidade I focará no desenvolvimento do capitalismo e seus desdobramen- tos nas relações entre o capital, o trabalho e o Serviço Social. Portanto, caro(a) aluno(a), convidamos você a fazer uma busca na trajetória histórica do Serviço Social, pois temos como propósito buscar a compreensão do capitalismo enquanto classe histórica e sua correlação com a produção e reprodução das relações sociais. Para esse debate, vamos nos apoiar nos autores renomados do Serviço Social: Marilda Iamamoto, Raul de Carvalho, Maria Lucia Martinelli, Maria Lucia Barroco, entre outros. Nesse sentido, se faz necessário um regresso no tempo, a fim de investigar a história e com ela discutir. Assim, apresentamos nossa abordagem nesta pri- meira unidade. Vamos lá? 13 Introdução Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . CAPITALISMO E SERVIÇO SOCIAL Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. I CAPITALISMO O capitalismo é um modo de produção baseado na divisão societária em duas classes: a dos capitalistas (proprietários da matéria-prima do trabalho), que detêm o poder de compra da força do trabalho, e a dos proletariados (não pos- suem acesso aos meios de produção), que são forçados a venderem sua força de trabalho por não terem acesso aos meios de produção. Aqui, há a posse particular dos mecanismos de produção por uma classe que explora a força de trabalho daqueles que não os possuem, e esta fragmentação entre meios de produção e produtor é resultado da subordinação direta deste ao dono do capital, onde se permite a instauração do ciclo de vida do capitalismo e o seu processo de acúmulo primitivo. Na produção e reprodução dos meios de vida, os homens organizam deter- minados vínculos de interações recíprocas e, por intermédio dos quais, realizam uma ação transformadora da natureza realizando a produção. Dessa maneira, a produção social não trata apenas de produção objetiva de matérias, mas também de relações sociais entre as pessoas, entre classes sociais que personificam certa categoria econômica. O capital social, enquanto relação social, supõe o outro termo da relação, o trabalho assalariado, da mesma forma que supõe o capital. A transformação do dinheiro em capital requer, portanto, que os possuidores do dinheiro enxerguem no mercado não apenas os meios objetivos de produção como mercadoria, mas também uma mercadoria especial, a qual faz referência à força de trabalho, cujo valor de utilização tem a qualidade de ser fonte de valor, ou seja, onde há o con- sumo e, concomitantemente, a materialização de trabalho e, por isso, a criação de valor que se realiza na dinâmica do processo produtivo e na relação de com- pra e venda da força de trabalho. É por meio dessa relação que o capitalismo é impulsionado a encontrar no mercado o trabalhador livre, ou seja, livre de qualquer outra relação de domina- ção econômica, sendo proprietário de suas pessoas, com a finalidade de que possa enfrentar-se no mercado com seus possuidores do dinheiro, em uma interação entre possuidores juridicamente iguais de mercadorias, por meio da qual entre em relação o proprietário da força de trabalho e ceda-a ao comprador para a sua ©shutterstock 15 Capitalismo Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . utilização durante determinado período de tempo. Essa é a condição elementar para que seja mantido enquanto proprietário de sua mercadoria, podendo tornar a vendê-la. Tal condição se associa outra, ou seja, se encontra obrigado a vender, para suprir suas necessidades, o único bem que possui, qual seja, a sua força de trabalho. Isto é, alienar parte de si mesmo, já que do outro lado se enfrentam, como propriedade alheia de todos os meios produtivos, condições de trabalhos essenciais à materialização de seu trabalho bem como os meios imprescindíveis à sua sobrevivência. Desse modo, a partir do momento em que o capitalista transforma parte de seu capital em força de trabalho, o que adquire com isso é a exploração de todo o seucapital. Conquista benefícios não apenas do que retira do trabalha- dor, mas de tudo aquilo que transfere à classe trabalhadora na forma de salá- rio. O processo capitalista de produção exibe o trabalhador separado das con- dições de trabalho, o apresenta como o trabalhador assalariado. Este benefício econômico se disfarça pela ocorrência da renovação periódica da alienação da força de trabalho, seja devido à subs- tituição de patrões individuais, seja por culpa das oscilações de preço da força de trabalho no mercado. No entanto, o próprio processo elabora as aparências mistificadoras que impedem a expressão da revolta, garantindo, dessa forma, a continuidade do curso de produção. O capital supõe o monopólio dos meios de produção e de subsistência por uma parte da sociedade – a classe trabalhista – em confronto com os trabalha- dores desprovidos das condições materiais necessárias à materialização de seu trabalho. Supõe ao trabalhador que para sobreviver tem a vender sua força de trabalho. O capital supõe o trabalho assalariado e este o capita (MARX, 1975, p. 4-101). CAPITALISMO E SERVIÇO SOCIAL Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. I CAPITALISMO MONOPOLISTA O capitalismo dos Monopólios é a fase que segue o processo do capitalismo con- correncial, onde é imprescindível uma “exportação dos capitais”. Nele (capitalismo dos monopólios) acontece a centralização e a concentração do capital em níveis maiores, aumentando, dessa maneira, a exploração, alienação, a desigualdade e a exclusão social. Essa época é a de agudizamento de todas as contrariedades pertinentes ao sistema, ou seja, contradições existentes entre a relação Capital e Trabalho, acentuando e afiando, dessa forma, as expressões da “questão social”. As análises do Capitalismo Monopolista nas interações sociais são pífias, remetendo a sociedade e o mundo à barbárie, por exemplo, na 1ª e 2ª guerra mundial, holocausto, nazismo, fascismo etc. A finalidade do Estado, na era Imperialista, era ser apenas um “comitê executivo” da burguesia, sempre atenden- do-a e favorecendo-a. Em suas contrariedades e dinâmicas, a classe dominante captura o Estado, passando a ser seu, buscando por meio do jogo democrático a falsa democracia, a fim de se legitimar (o Estado) tanto politicamente quanto ide- ologicamente. Em síntese, pode-se dizer que, nesta sociedade, o Estado trabalha com o propósito de ofertar condições necessárias à acumulação e à valoriza- ção do capital monopolista. De acordo com a ordem monopólica, ele invade o espaço dos indivíduos e da sociedade de forma integral, originando propostas para redefinir características pessoais com estratégias e terapias de ajustamento. Partindo desse processo, o Serviço Social vai surgindo, e para atender às procu- ras daquela conjuntura, possuía uma atividade bastante funcionalista de “acertar” o indivíduo ao meio. Podemos perceber que o Serviço Social, enquanto profissão, está relacio- nado ao surgimento da “questão social”, dirigido por condutas assistencialistas e filantrópicas, com uma base da doutrina social da Igreja Católica, isto é, ori- ginado como resposta ao agravamento das contrariedades capitalistas em sua fase monopolista, para o “controle” da classe trabalhadora e para legitimação dos setores dominantes e do Estado. O serviço social se origina e se efetiva por meio da ordem monopólica, relacionando-se ainda com as mazelas próprias à ordem burguesa, à altura do capitalismo monopolista. A política social é um dos principais mecanismos de intervenção nas ©shutterstock 17 Capitalismo Monopolista Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . demonstrações da “questão social”, sendo resultado da capacidade de mobiliza- ção e reunião da classe operária e do aglomerado de trabalhadores. Diante disso, o Estado a usa como ferramenta e atende a procura enquanto tática também para a reprodução e manutenção do sistema atual, preservando e controlando a mer- cadoria mais importante para o modo de produção capitalista, ou seja, a força de trabalho. É como dar com uma mão e retirar com a outra. A política social pode ser compreendida ainda como um acordo existente entre a burguesia e a classe operária, fragmentando e fragilizando a organização da classe operária e legítima do Estado Burguês. E com a ideologia neoliberal, que só intensifica o sistema capitalista, o entendimento da culpabilização do sujeito é cada vez mais usado, excluindo a conjuntura do próprio sistema, que em sua oposição acar- reta riqueza excedente, entretanto, esta fica reunida e/ou concentrada nas mãos de poucos, enquanto a maioria se encontra à margem do sistema. Para Iamamoto (2004), o serviço social não deve ser interpretado apenas como uma nova maneira de realizar a caridade, mas sim, como uma forma de inter- venção ideológica na vida dos trabalhadores, ainda que seu fundamento seja a atividade assistencial; no entanto, os efeitos produzidos são essencialmente políticos, por meio do “enquadramento” dos trabalhadores nas relações sociais vigentes, reforçando a recíproca colaboração entre capital e trabalho. CAPITALISMO E SERVIÇO SOCIAL Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. I Na evolução capitalista, destacamos: Capitalismo Comercial: surgiu com as grandes navegações e com as anti- gas grandes potências Espanha e Portugal, que estavam dispostas a explorar seus novos territórios recém-conquistados. Mas qual foi a forma que essas potências encontraram para essa exploração? Um sistema chamado de Plantation foi instalado nas colônias, que consiste em uma grande parcela de terra voltada para a monocultura, ou seja, um único produto agrícola; também caracterizado pelo uso da força de trabalho escravo e por todos os produtos serem destinados ao mercado externo, com a condição de que as colônias só estabelecessem relações mercantilistas com suas respecti- vas metrópoles, esse era o pacto colonial. Isso ocorreu em grande parte da América do sul, mas nas terras que hoje correspondem aos Estados Unidos e ao Canadá se deu outro tipo de coloniza- ção, eram as chamadas colônias de povoamento. Neste modelo adotado, eram pequenas propriedades de policultura, ou seja, vários produtos agrícolas, a mão de obra era assalariada e os produtos eram para enriquecer o comércio interno. Porém, não foi assim em todo o território, ao sul dos Estados Unidos, as colônias eram de exploração, isso devido ao clima semelhante ao tropical que favorecia a aplicação das Plantations. Eram sistemas muito diferentes coexistindo, mas isso trouxe consequências, afinal, após a primeira metade do século XVIII, ocorreu a Primeira Revolução Industrial e a Inglaterra começou a necessitar de muitos produtos têxteis para abastecer suas indústrias. Uma série de eventos e abusos acabou levando à independência dos Estados Unidos, em 1776, conduzindo ao próximo modelo capitalista que vamos conhecer. O Capitalismo Industrial: ocorreu com a chegada da Revolução Industrial e as suas fábricas, que inovaram e intensificaram as relações comercias e as produ- ções. Era um mundo de produção onde a coisa mais notável era a exploração do homem pelo próprio homem, aqui o trabalhador não tem consciência de como as coisas que são feitas industrialmente ocorrem como um todo, ele apenas sabe uma pequena parte da linha de montagem, e apenas a figura do burguês, dono das fábricas, sabe o processo completo. Os trabalhadores se sujeitavam a uma carga de trabalho muito grande para 19 Proletariado X Burguesia Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . receber muito pouco dinheiro na época. Capitalismo Financeiro: vem com a substituição das máquinas a vapor pelo motor à combustão interna, na Segunda RevoluçãoIndustrial, e essas novas máquinas foram substituindo os transportes, as fábricas ultrapassadas e o setor agrícola, gerando uma aceleração enorme no campo tecnológico em todas essas áreas; esse modelo irá perdurar até a Grande Crise da Bolsa de Valores de Nova York, em 1929. Capitalismo Especulativo: é o modelo como conhecemos hoje em dia, onde, por meio de sociedades anônimas, os capitalistas investem na especulação de títulos, como as ações de uma empresa, afinal, abrir uma empresa gera gastos e nem sempre traz os lucros esperados. PROLETARIADO X BURGUESIA Caro(a) aluno(a), está claro que de fato residimos em um meio social capitalista. Nossa sociedade apresenta divisão de classes e desigualdades sem igual. Na socie- dade capitalista, existem inúmeras desigualdades, basta ter olhos para enxergar. Uma pequena quantidade de pessoas concentra considerável número de bens em seu poder, quais sejam: dinheiro, propriedades, mansões e carros. De maneira oposta, grande parte das pessoas possui apenas o mínimo e, às vezes, menos que isso para sobreviver. Vivemos apertados em questões pertinentes à alimentação, casa, roupas, escola, transportes, saúde, lazer etc. Vemos, ainda, tantos efeitos trágicos desse meio social, como a subnutrição, doenças endêmi- cas, mortalidade infantil, desemprego, prostituição etc. É fato que entre os dois grupos existem camadas médias, as quais são Lembre-se que foi a diferença entre os modelos capitalistas nos Estados uni- dos, entre o norte e o sul, que com o passar do tempo gerou as tensões que levaram à guerra civil americana! © sh ut te rs to ck CAPITALISMO E SERVIÇO SOCIAL Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. I denominadas “classe média”. Mas não é esta classe que determina a natureza da sociedade capitalista, pois na referida sociedade, as classes sociais elementares são a burguesia e o proletariado. A burguesia é a classe dos proprietários das fábricas, das fazendas, das minas, dos bancos etc. Resumindo, são os donos particulares dos meios de produção, ou seja, os possuidores do capital, dessa forma, são chamados de capitalistas. Esses mecanismos de produção constituem um capital, pois são usados dentro de uma relação de exploração. Diante desse panorama, a classe proletária aos poucos vai se rebelando, dadas as condições de exploração a que estava submetida, ao elevado aumento da jornada de trabalho, associado à queda do padrão de vida dos assalariados. E considerando os altos custos sociais provocados pela prática do cresci- mento econômico, era necessário criar mecanismos, por parte do Estado, de contenção da classe operária, que vem requerer seus direitos sociais. É nesse cenário econômico e político que o assistente social é requisitado para intervir na realidade social, por meio das políticas sociais, em resposta às reivindicações da classe trabalhadora. ©shutterstock 21 Proletariado X Burguesia Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . A denominação de burguesia se deve ao motivo pelo qual quando essa classe se formou, ainda no término do feudalismo europeu, tratava-se de comerciantes e pequenos industriais que habitavam as pequenas cidades (conhecidas como bur- gos). Não eram pessoas nobres, nem eram mais servos responsáveis por lavrar a terra nos feudos, eram apenas um tipo de classe média, posteriormente trans- formada em classe predominante. É bem verdade que dentro do pro- letariado existem trabalhadores que recebem vantagens em relação aos demais. No entanto, ambos vivem e dependem do seu trabalho. A denominação “proletária” já se fazia presente na antiga Roma, designando aquelas pessoas que nada possuíam, a não ser seus des- cendentes, ou seja, seus próprios filhos. Nos primórdios da socie- dade capitalista, o proletariado se originou mediante antigos servos que saiam dos feudos e iam para os burgos, sem qualquer bem em sua posse; e, ainda, artesãos que não estavam munidos de condições para competir com as máquinas da classe dominante. Dessa maneira, os proletários são homens livres sob duas vertentes: não estão mais presos aos feudos e também não possuem nada a não ser a sua própria força de trabalho. Assim, na sociedade capitalista, existe uma fragmentação entre o capital e o trabalho. Aquele que trabalha diretamente não possui os meios de produção, e aquele que possui os meios de produção não trabalha diretamente. A classe domi- nante usa a força de trabalho dos proletários para fazer funcionar seus meios de produção e, dessa forma, produzir mercadorias com a finalidade de obter lucros. Com esse lucro, além de viver com qualidade, os burgueses melhoram em quan- tidade e qualidade os seus mecanismos produtivos, com o propósito de produzir mais mercadorias e obter, com isso, maiores lucros. CAPITALISMO E SERVIÇO SOCIAL Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. I Esse curso repetido, diariamente, consiste no processo de acumulação de capital. O proletariado, de forma oposta, não acumula nada, vendendo-se coti- dianamente no mercado de trabalho, para poder viver ou sobreviver, na maioria das vezes, muito mal e com muitas dificuldades. A classe dominante, assim, contrata os proletários para trabalharem em suas empresas, por determinado salário, durante tantas horas diárias, e sob certas condições anteriormente estipuladas. Os trabalhadores acordam formalmente com este “livre” contrato de trabalho. Qual é o jeito? Eles não são possuidores dos meios de produção, estando livres deles. Também não estão amarrados por alguma obrigação a nenhum senhor e/ou terra, sendo formalmente livres. Livres para alienar sua força de trabalho no mercado, ou então, se não quiserem fazer isso, livres para viverem em condições miseráveis. Esse “livre” contrato de trabalho feito individualmente reside em um contrato realizado entre duas partes que ocupam posições distintas dentro da sociedade. O burguês, dono dos mecanismos produtivos, encontra-se em uma situação de destaque para procurar a mercadoria força de trabalho, e encontra uma abun- dância na oferta. Se um trabalhador não aceita suas condições, existem inúmeros outros concorrendo entre si que certamente as aceitarão. O êxodo rural que, por inúmeros fatores, sempre acompanha a origem da produção capitalista, encar- rega-se de formar um excedente de oferta de força de trabalho. O proletário, dono apenas da sua força de trabalho, encontra-se em uma posição bastante negativa e fica entre a cruz e a espada, ou seja, entre a exploração do patrão e a miséria acarretada pelo desemprego. Essa é a “liberdade” do trabalhador na sociedade capitalista. Mas, para o burguês, o livre contrato de trabalho reside na liberdade sagrada dentro de sua economia de livre empresa. As duas classes, quais sejam, a dos burgueses e a dos proletários, possuem interesses que são objetivamente antagônicos, em palavras mais simples, inte- resses inconciliáveis. “Objetivamente” significa que isto não depende da boa ou má intenção dos indivíduos. Os interesses das referidas classes são inconciliáveis porque se uma ganha, a outra, obrigatoriamente, perde. O que é bom para uma classe é malé- fico para a outra. A burguesia, que tem propósitos em conservar sua situação de destaque, “A burguesia não pode existir sem revolucionar constantemente os ins- trumentos de produção e, portanto, as relações de produção, isto é, todo o conjunto das relações sociais. Esta mudança contínua da produção, esta transformação ininterrupta de todo o sistema social, esta agitação, esta per- pétua insegurança distinguem a época burguesa das precedentes. Todas as relações sociais tradicionais e estabelecidas, com seu cortejo de noções e idéias antigas e veneráveis, dissolvem-se; e todas as que as substituem en- velhecem antes mesmo de poder ossificar-se.” (Karl Marx,1848)23 o Surgimento do Serviço Social na Europa Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . tenta obscurecer o fato da fragmentação social em classes de interesses incon- ciliáveis, acenando para a ascensão social, dizendo que o operário de hoje pode ser o patrão no futuro. Mas a gente sabe que é quase impossível para o tra- balhador assalariado obter a quantia necessária para constituir uma pequena empresa. Além do mais, ainda que alguns operários individualmente mudas- sem de classe, nem assim deixaria de existir a fragmentação social em classes de objetivos inconciliáveis. Desde o surgimento do capitalismo, foi de percepção geral que esse sistema ocasiona grandes desigualdades e injustiças. Percebeu-se, ainda, que quanto mais a minoria dominante enriquece, a maioria proletária afunda na pobreza e misé- ria. Resumindo, inúmeras foram as denúncias acerca da exploração. Mas qual é o meio pelo qual se propaga a exploração? Isto não aparece logo de cara, foram imprescindíveis muitos estudos e pesquisas para responder a essa questão. Quem conseguiu deslindar o mistério foi Karl Marx. O SURGIMENTO DO SERVIÇO SOCIAL NA EUROPA No término do século XVIII e começo do XIX, aconteceu, na Inglaterra, a Revolução Industrial, uma vez que o país era possuidor de vastas reservas de carvão mineral em seu subsolo, possuindo, dessa forma, a fonte de energia capaz de promover o movimento das máquinas e das locomotivas a vapor. CAPITALISMO E SERVIÇO SOCIAL Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. I Os ingleses possuíam não apenas as fontes de energia, mas também gran- des reservas de minério de ferro; possuíam ainda mão de obra abundante, pois muitos trabalhadores procuravam empregos nas cidades inglesas. A burguesia inglesa detinha capital suficiente para o financiamento de fábricas, aquisição de matérias-primas, de máquinas e contratação de funcionários. Nessa época, aconteceram diversas substituições, ocasionando a troca da produção humana pela fabril, ferramentas por máquinas e energia humana pela motriz. A Revolução Industrial propagou-se pela Europa Ocidental e Estados Unidos, caracterizando um novo modelo de produção, que eram as fábricas e as indús- trias, acarretando um capitalismo industrial. Entretanto, tanto as indústrias quanto as fábricas necessitam de pessoas para dar continuidade ao processo de produção. Dessa forma, uma grande quanti- dade de trabalhadores passa a viver em volta da indústria, sendo designados enquanto proletariados à classe social que aliena sua força de trabalho ao empre- sário capitalista. A população operária era explorada pela classe dominante, e o Estado era subordinado a ela, pois tinha como propósito proteger o capital e seus possuidores. Nos primórdios, as fábricas não eram munidas dos melhores ambientes de trabalho. As condições eram extremamente precárias, a remuneração era baixa e o trabalho feminino e infantil se fazia constantemente presente. Os emprega- dos trabalhavam por longas jornadas de trabalho, sujeitando-se a castigos físicos por parte de seus patrões. Inexistiam quaisquer direitos trabalhistas, como férias, décimo terceiro salário, auxílio doença etc. A exploração vivenciada pela população fabril foi tão relevante que a levou a conflitar com a finalidade de melhorar suas condições de trabalho, por meio de inúmeras manifestações. Assim, restou à burguesia a busca por novas táticas, uma vez que seu objetivo residia na expansão de seu modo de produção, domi- nando a exploração e a opressão para com os seus subordinados. Porém, isso só gerou mais miséria por parte da classe trabalhadora, a qual continuou se colo- cando contra a classe dominante. Mediante essa situação, a classe dominante tomou consciência de que era preciso fazer algo para controlar o teor das manifestações e conter a propagação 25 o Surgimento do Serviço Social na Europa Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . da pobreza. Dessa maneira, ocorreram as primeiras práticas assistencialistas, as quais viabilizavam a conservação das ordens capitalistas, fazendo com que os proletariados não mais questionassem, mas sim, aceitassem suas condições de vida e de trabalho. No entanto, o elevado nível de pobreza se estendia ainda mais, e, então, os membros da classe dominante, a Igreja Católica e as autoridades locais, se organi- zaram com o objetivo de transformar a assistência pública. Para solucionar esses problemas, incumbiram os reformistas sociais de exercerem sua função realizando um inquérito da vida pessoal e familiar do atendido, e o mesmo tinha que assu- mir a dependência em relação ao poder público, sendo dessa forma controlado. A nova tática ainda era incumbida para assegurar a manutenção e propagação e/ou extensão do capitalismo. Inúmeros outros conflitos continuaram a ocorrer, levando a burguesia, a Igreja e o Estado a unirem-se, acarretando, assim, na origem da Sociedade de Organização da Caridade, no ano de 1869. A mencionada Sociedade organizou os reformistas sociais, os quais se responsabilizavam pela reforma e regulamen- tação da prática da assistência da sociedade. A partir de então, apareceram os primeiros assistentes sociais, os quais executavam práticas referentes à assistên- cia social. A profissionalização dos mesmos acontecia por meio da prestação de serviços, designado como Serviço Social, denominação essa que fora utilizada pelos Estados Unidos, em 1904. O serviço social fora caracterizado, em sua origem, por várias determina- ções e valores, através de práticas repressoras e controladoras. Assim, podemos entender que o Serviço Social resulta da emergência da questão social do con- junto de expressões da desigualdade social, econômica e/ou cultural. Posteriormente à criação do Centro de Ação Social em Londres, no ano de 1884, no qual as atividades realizadas faziam referência às questões de higiene e saúde para com os pobres e proletariados, a Sociedade de Organização da Caridade utilizou-se de novas ideias, organizando e efetivando também visitas domiciliares, nas quais aconteciam ações voltadas à educação. A partir dessa meto- dologia, conheciam a realidade das famílias operárias e incutiam o pensamento capitalista. A classe dominante apoiava essas práticas assistencialistas, uma vez que “desarmava” as manifestações coletivas e disfarçavam o sistema capitalista. ©shutterstock CAPITALISMO E SERVIÇO SOCIAL Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. I Acreditava-se, dessa maneira, que os problemas que afligiam os proletaria- dos e os pobres consistiam em uma questão de caráter, de forma que a assistência social passou a agir mediante uma reforma do mesmo. A prática social conti- nuou a ser executada com rigor para o controle e correção dos desfavorecidos, os quais não mais se valiam da assistência pública, pois preferiam ajudar-se mutua- mente, continuando a reclamar do modo como eram tratados, uma vez que não eram atendidos em suas reivindicações. Por longo período de tempo se fizeram presentes a exploração, a miséria, o poder capitalista e as práticas assistenciais objetivando tão somente o controle social. No ano de 1897, precisamente na Conferência Nacional de Caridade e Correção, Mary Richmond apresentou sua ideia de Assistência Social, propondo, com isso, a elaboração e/ou criação de uma escola voltada à aprendizagem de Filantropia Aplicada. Enfatizou a relação existente entre as pessoas e o mundo, considerando o sujeito enquanto pessoa no momento em que interage com o meio social do qual faz parte. Foi com a escola de Filantropia Aplicada que tive- ram início a institucionalização e profissionalização do Serviço Social, onde o interessado trabalhava como agente reintegrador e transformadorde caráter. 27 Considerações Finais Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . Foi criada, no ano de 1908, na Inglaterra, a primeira escola de Serviço Social. Posteriormente à sua fundação, inúmeras outras escolas foram criadas por conhe- cimentos e atendimentos especializados, sempre apoiados pela Igreja Católica. Com o decorrer dos anos, a ação social estava cada vez mais ligada à política, agindo com o objetivo de acalmar os ânimos dos trabalhadores, controlando, dessa forma, as suas manifestações; também ocultavam o semblante da miséria, atendendo aqueles que nela residiam. Nos anos seguintes do fim da guerra, a relação com a Igreja Católica fora tro- cada para o Estado, remetendo a prática social para outro contorno. Em 1917, com a obra “Diagnóstico Social”, da autora Mary Richmond, o serviço social apresentou um considerável avanço enquanto profissão, levando em conta o entendimento do sujeito, enfatizando o fortalecimento do ego para a obtenção do êxito no tangível à solução de problemas internos e externos. No ano de 1936, foi criada a primeira escola de Serviço Social no Brasil, em resultado da expansão das práticas de assistência social, ainda por meio do assis- tencialismo e do caráter fortemente religioso. A escola foi criada na cidade de São Paulo, por iniciativa de Maria Kiehl e Albertina Ramos. O curso era constituído de formação técnica, sendo constantemente influenciado pelos meios cristãos. A metodologia fundamentava-se no homem enquanto ser livre, desenvolvido e dotado de inteligência, possuidor do direito de viver em sociedade, extraindo dela os meios necessários à sua sobrevivência. CONSIDERAÇõES FINAIS Dessa maneira, caro(a) aluno(a), chegamos ao fim de nossa primeira unidade, compreendendo a longa e fascinante história do Serviço Social, que desde sua origem é munido de metodologias tão extremas umas das outras. A partir dos conteúdos descritos, buscamos levar a você, futuro(a) assistente social, conhecimentos relevantes do contexto sócio-histórico que inaugura o Serviço Social como profissão. A profissão se vinculou ao processo de produção CAPITALISMO E SERVIÇO SOCIAL Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. I capitalista que resultou do interesse do capital em controlar os trabalhadores, uma vez que o referido controle consistia em uma necessidade da época, gerando, com isso, vários agravos sociais. No que se refere, sobretudo, à estruturação do perfil da emergente profissão do assistente social, procuramos deixar claro a influência da igreja católica no processo de formação dos assistentes sociais brasileiros, sendo ela responsável pelo ideário e pelos conteúdos expressos por seu pensamento social. Ela trata a questão social como questão moral, como um conjunto de problemas focados na responsabilidade individual dos sujeitos sem considerar as relações sociais do sistema capitalista. Portanto, segundo Yasbek (2009), trata-se de um enfo- que individualista, psicologizante e moralizador da questão, que necessita, para seu enfrentamento, de uma pedagogia psicossocial, que encontrará no Serviço Social efetivas possibilidades de desenvolvimento. Conforme afirma Yazbek (2000b, p. 92) (...) terá particular destaque na estruturação do perfi l da emergente profissão no país a Igreja Católica, responsável pelo ideário, pelos con- teúdos e pelo processo de formação dos primeiros assistentes sociais brasileiros. Cabe ainda assinalar, que nesse momento, a questão social é vista a partir de forte influência do pensamento social da Igreja, que a trata como questão moral, como um conjunto de problemas sob a responsabilidade individual dos sujeitos que os vivenciam, embora si- tuados dentro de relações capitalistas. Trata- se de um enfoque indivi- dualista, psicologizante e moralizador da questão, que necessita para seu enfrentamento de uma pedagogia psicossocial, que encontrará no Serviço Social efetivas possibilidades de desenvolvimento.” Com isso, o pensamento conservador e a influência da doutrina católica traça- ram um perfil de ação para os profissionais de Serviço Social atrelados ao pensamento burguês, atribuindo-lhes tarefas de amenizar conflitos, recuperar o equilíbrio e preservar a ordem vigente, com frágil consci- ência política, pois envolvida pelo “fetiche” da ajuda não conseguia ter claras as contradições do exercício profissional (MARTINELLI, 2000, p.127). A profissão de Serviço Social nasce, nesse contexto, para atender aos interesses da burguesia em uma perspectiva assistencialista, sem reflexão crítica distinta- mente da contemporaneidade, onde o assistente social realiza sua função por 29 Considerações Finais Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . meio da investigação, diagnóstico, planejamento, projetos de pesquisa, avalia- ção das demandas e intervenção da realidade social. o cerne da questão social está no conflito entre capital e trabalho, confi- gurando, nesse contexto, as várias expressões da questão social expressa na sociedade brasileira. Assim, podemos identificar uma situação extrema de desigualdade social, determinada pelo forte crescimento econômico do país, conforme o poema intitulado o BICHo, de Manuel Bandeira. Vi ontem um bicho Na imundície do pátio Catando comida entre os detritos. Quando achava alguma coisa, Não examinava nem cheirava: Engolia com voracidade. o bicho não era um cão, Não era um gato, Não era um rato. o bicho, meu deus, era um homem. Manuel Bandeira Fonte: <http://factivel.wordpress.com/poesia/o-bicho/>. 1. Conceitue capitalismo e o explique em sua fase monopolista. 2. Explique sobre o fator principal da dominação da burguesia na classe proleta- riada. 3. Explique em que contexto se deu o surgimento do Serviço Social na Europa. 4. A “pobreza” é a expressão direta das relações vigentes na sociedade, localizan- do a questão no âmbito de relações constitutivas de um padrão de desenvol- vimento extremamente desigual, em que convivem acumulação e miséria. A nossa sociedade a produz e reproduz. A pobreza, nesse caso, significa uma de- manda de intervenção para o Serviço Social? Justifique. Material Complementar Material CoMpleMentar Capitalismo Monopolista e Serviço Social José Paulo Netto editora: Cortez sinopse: este livro tematiza o surgimento da profissão, vinculando a sua história à emergência do Estado burguês na idade do monopólio, aos projetos das classes sociais fundamentais e à execução das políticas sociais. discute também a estrutura teórico-prática do Serviço Social fundada em peculiar sincretismo. Tempos Modernos um operário de uma linha de montagem, que testou uma “máquina revolucionária” para evitar a hora do almoço, é levado à loucura pela “monotonia frenética” do seu trabalho. Após um longo período em um sanatório ele fica curado de sua crise nervosa, mas desempregado. Ele deixa o hospital para começar sua nova vida, mas encontra uma crise generalizada e equivocadamente é preso como um agitador comunista, que liderava uma marcha de operários em protesto. Simultaneamente uma jovem rouba comida para salvar suas irmãs famintas, que ainda são bem garotas. Elas não têm mãe e o pai delas está desempregado, mas o pior ainda está por vir, pois ele é morto em um conflito. A lei vai cuidar das órfãs, mas enquanto as menores são levadas a jovem consegue escapar. Comentário: É um filme onde o personagem vagabundo de Chaplin tem que se adaptar ao mundo que está se industrializando de uma forma muito bem humorada e desastrada. uma forte critica ao sistema capitalista da época e as condições sub-humanas de trabalho que os homens recebiam nas fábricas pós-revolução industrial. E como curiosidade, você sabia que Chaplin uma vez entrou em um concurso de sósiasde Charles Chaplin e os jurados acharam que ele merecia apenas o Terceiro lugar? U N ID A D E II Professora Me. Aline Cristtine Marroco França Bertti Professora Me. Maria Cristina Araujo de Brito Cunha As protoForMAs e o sUrGIMento Do serVIço soCIAL no BrAsIL Objetivos de Aprendizagem ■ Analisar a estrutura conceitual das protoformas do Serviço Social. ■ Identificar o surgimento das primeiras escolas de Serviço Social no Brasil. ■ Conceituar o conservadorismo religioso como base teórico- metodológica da profissão. Plano de Estudo A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade: ■ As Protoformas do Serviço Social ■ As Primeiras escolas de Serviço Social no Brasil ■ Conservadorismo religioso e bases teórico-metodológicas INTRODUÇÃO Nesta unidade, veremos que o Serviço Social se originou da ajuda ao próximo, da caridade, filantropia e beneficência. No século XVIII, com a Revolução Industrial, surgem graves crises econômicas, com repercussão política e social. Diante dessa situação, as formas de assistência até então utilizadas já não respondiam às necessidades emergentes da época, sendo necessário um Serviço Social insti- tucionalizado, com fundamentos em conhecimentos técnicos e não apenas com boas intenções. Dentro desse contexto histórico, surge o Serviço Social profissio- nal e, com ele, a primeira escola de Serviço Social, fundada em 1898, na cidade de New York, denominada New York School of Philanthropy, sob a influência de Mary Richmond. Diante dos crescentes problemas sociais, surgem leis protetoras das classes menos favorecidas e a necessidade de uma profissão que respondesse a essas, exigências. O Assistente Social surge com a proposta de amenizar as condições que favorecem a desigualdade humana. Em 1925, surge o Serviço Social latino-americano, com influência europeia e depois americana. O surgimento da profissão data, no Brasil, da década de 1940, época do Estado Novo de Getúlio Vargas e da implementação das leis trabalhistas. Foi também um período em que o país começou a estabelecer a sua indús- tria de base e a constituir-se capitalista. A sociedade de então passou a sentir falta de um profissional capacitado para ajudar a promover o bem-estar social, uma vez que se tornaram visíveis as desigualdades surgidas da relação entre capital e trabalho. A profissão de serviço social também se iniciou a partir do desenvolvimento do capitalismo, no período da Revolução Industrial, para suprir a necessidade de um trabalho voltado para a classe trabalhadora, como já foi citado acima. As diferenças impostas pelo capital dividiam a sociedade entre oprimida e opres- sora, ficando a primeira com os proletariados e a outra com os donos do poder. No Brasil, a profissão surgiu em 1936, com a inauguração da primeira escola em São Paulo, na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), for- temente atrelada aos princípios do catolicismo. As primeiras entidades sociais 35 Introdução Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . AS PROTOFORMAS E O SURGIMENTO DO SERVIÇO SOCIAL NO BRASIL Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. II foram organizadas pela Igreja Católica para atuar com a classe trabalhadora. No Brasil, a “semente” do Serviço Social foi plantada junto ao nascimento do projeto político da Igreja Católica. Eram os anos 30, em cujo momento histórico houve a passagem do capitalismo concorrencial para o capitalismo monopolista, e o Estado utilizava mecanismos à efetivação de sua interferência nos diferentes setores da vida social. Desse modo, o primeiro projeto do Serviço Social unia-se a uma ala do clero que insistia na reorganização da classe trabalhadora. Foram criados os Círculos Operários, substituídos, no final do Estado Novo, pela JOC – Juventude Operária Católica. Houve uma influência recíproca das transfor- mações histórico-político-econômico-sociais e da atividade do Serviço Social desde seu começo até nossos dias. AS PROTOFORMAS DO SERVIÇO SOCIAL Antes de darmos início ao nosso estudo, vamos definir o significado de proto- formas, que são as instituições sociais que se mostram com origem confessional, prática da ajuda, caridade e solidariedade, impregnadas pela filosofia tomista e a serviço da classe dominante. Quando surgiu em nosso país, nas décadas de 1920 e 1930, o Serviço Social tinha como fundamento para sua implantação o reconhecimento de conflitos sociais, acarretados mediante a industrialização. Primordialmente, apresentava caráter filantrópico, possuindo uma característica assistencial, missionária e beneficente, onde a Igreja Católica controlava o processo voltado ao auxílio de pessoas necessitadas. As protoformas da profissão se relacionavam diretamente com o desenvol- vimento da Ação Social, realizada pela Igreja Católica. Esta, com a finalidade de recristianizar a classe trabalhadora, passou a assumir o enfrentamento da ques- tão social. Entretanto, nesse momento do Serviço Social, inexistia a expressão da questão social, mas sim, as expressões concretas da “questão social”, isto é, o conceito de um conflito social, interpretado enquanto uma questão moral e 37 As Protoformas do Serviço Social Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . religiosa, onde as condições precárias do proletariado eram interpretadas como consequência da falta de dinâmica do processo industrial, sem relacioná-la à luta de classes, o que significa, na verdade, a sua essência. A complicada relação existente entre as protoformas do Serviço Social e a Igreja fez com que fosse predominante dentro do exercício da profissão o pen- samento conservador baseado na corrente neotomista. Nesse âmbito, as bases estruturais do Serviço Social, durante longo perí- odo de tempo, encontraram-se a serviço da classe dominante, sendo fortemente influenciadas pela doutrina social, a qual era desenvolvida pela Igreja Católica. Versando a respeito desse período do processo histórico referente ao Serviço Social, Iamamoto (1998, p. 27) ensina que: “o Serviço Social surgiu como uma das estratégias concretas de disciplinamento, controle e reprodução da força de trabalho e seu papel era conter e controlar as lutas sociais.” Assim, neste sistema de organização social capitalista, a classe dominante se aliava com a Igreja e com o Estado, com a finalidade de profissionalizar a assistência social. Por meio da influência do pensamento europeu e norte-americano, a caridade passou a valer-se de novos métodos, ou seja, recursos que a ciência e a técnica lhe ofer- tam. Busca-se, então, a adaptação do indivíduo ao meio em que está inserido e vice-versa. Por meio das relações formadas por moças católicas que prestavam assistência ao proletariado, surgiu a primeira Escola de Serviço Social no Brasil, fazendo com que o Estado solicitasse assistentes sociais para trabalhar em ins- tituições estatais. A igreja católica tornou-se essencial na abertura das duas primeiras escolas de Serviço Social: a escola de Serviço Social de São Paulo, em 1936, e a Escola do Serviço Social do Rio de Janeiro, em 1937, escolas estas consideradas as pio- neiras do Serviço Social em nosso país, recebendo notável influencia europeia. ©shutterstock AS PROTOFORMAS E O SURGIMENTO DO SERVIÇO SOCIAL NO BRASIL Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. II Com a movimentação do processo de industrialização, o Estado passou a financiar bolsas de estudo para pessoas que pertenciam a classes subalternas, enviando-as para os Estado Unidos. A instituição responsável pelo processo de currículo do curso era a Associação Brasileira de Ensino e Serviço Social (ABESS). A partir de então, tem início uma certa padronização, e no currículo mínimoconstam o estudo de caso, grupo e comunidade. Daí, relacionadas à igreja católica, tiveram origem as escolas de trabalho e as protoformas da profissão. Para Iamamoto (1998, p.18), “o debate sobre a ‘questão social’ atravessa toda a sociedade e obriga o Estado, as frações dominantes e a Igreja a se posicionarem diante dela”. Assim, o seu surgimento corresponde à conjuntura vivenciada em nosso país naquele período, em razão da industrialização e das grandes mobilizações da classe operária, que crescia cada vez mais e em condições precárias de higiene, saúde e habitação, eviden- ciando-se a questão social que tomava proporções imensas, voltando a atenção social do Estado às manifestações da classe operária que passava a reclamar seus direitos, melhores condições de vida e de trabalho. Entretanto, se de um lado se reconhece a existência dessa contrariedade do capital e trabalho, resultado da ordem liberal que estimula a competitividade excessiva, o proletariado é também responsabilizado por sua condição de vida precária. 39 As Protoformas do Serviço Social Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . O proletariado é visto como uma classe denominada “ignorante social”, de pouca e fraca formação moral, que somada à sua baixa condição financeira o deixa submisso aos capitalistas, e por sua deficiência individual, o impede de alcançar uma maior ascensão social. Isso reflete o cenário em que a pobreza é naturalizada, passando por cima da contrariedade existente entre o modo de produção capitalista, causas e efei- tos, que são invertidos e reinvertidos. Seguindo esse raciocínio, os assistentes sociais observam a necessidade de intervir na crise de “formação moral, intelectual e social” da família, para que assim seja possível a obtenção de um padrão de vida que lhes ofereça o mínimo de qualidade. Para isso, faz-se necessário realizar um ajuste familiar por meio de uma ação educativa de longo prazo, para que tenha início a sua reeducação moral. ©shutterstock AS PROTOFORMAS E O SURGIMENTO DO SERVIÇO SOCIAL NO BRASIL Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. II AS PRIMEIRAS ESCOLAS DE SERVIÇO SOCIAL NO BRASIL As obras de caridade realizadas pela Igreja e por pessoas leigas possuem uma vasta tradição, remetendo aos primórdios do período colonial. A parca e a pés- sima infraestrutura hospitalar e assistencial existentes até o período pós Império se justificam quase que unicamente à ação das ordens religiosas europeias que implementam e se disseminam pelo país. A tentativa de intervenção na organização e controle da classe proletária também não é atual. Os Carlistas, ou Scalabrianos, se efetivam no Brasil logo depois das amplas ondas migratórias quem surgem na Itália, para atuar conjun- tamente com seus patriotas. Estes se constituíram no principal contingente da Força de Trabalho que veio substituir o escravo nas vastas plantações e, conse- quentemente, integrar o mercado de trabalho urbano. A interação do clero no controle direto do operariado industrial remete à origem das primeiras grandes unidades industriais, nos fins do século passado. É viva a presença de religiosos no interior das referidas unidades, que na maio- ria das vezes possuíam capelas próprias, onde cotidianamente os trabalhadores eram submetidos a participarem das missas e outras liturgias. Nas vilas operá- rias, sua presença é constante. No âmbito sindical, com o apoio patronal, realizam 41 As Primeiras Escolas de Serviço Social no Brasil Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . iniciativas assistenciais e organizacionais objetivando opor-se ao sindicalismo independente de inspiração anarco-sindicalista. Na imprensa operária autônoma, são comuns as críticas à posição patronal e divisionista desses movimentos, cujos aderentes e mentores são ironicamente denominados de amarelos e urubus. Entretanto, o que se poderia interpretar como protoformas do Serviço Social, como é hoje considerado, tem seu fundamento nas obras e instituições que come- çam a originar-se posteriormente, ao final da Primeira Guerra. Marca esse momento, no contexto externo, a origem da primeira nação socialista e a efervescência do movimento popular operário em todo o conti- nente Europeu. O Tratado de Versalhes busca estatuir a nível internacional uma política social inédita mais compreensiva no tocante à classe operária. É ainda o momento em que surgem e se intensificam na Europa as escolas de Serviço Social. No âmbito interno, como visto, os intensos movimentos operários de 1917 a 1921 tornaram patente para a sociedade a existência da “questão social” e da necessidade em buscar soluções para resolvê-la, ou então, reduzi-la. As instituições assistenciais que surgem a partir de então, por exemplo, a Associação das Senhoras Brasileiras (1920), no Rio de Janeiro, e a Liga das Senhoras Católicas (1923), em São Paulo, possuem uma diferenciação em função das atividades tradicionais voltadas à caridade. Desde os primórdios, consti- tuem obras que envolvem de maneira mais direta e vasta os nomes das famílias e compõem a grande burguesia paulista e carioca, e, às vezes, militância de seus componentes femininos. Possuem um suporte de recursos e potencial de contra- tos em termos de Estado que lhes permite o planejamento de obras assistenciais de maior envergadura e eficiência técnica. A origem dessas instituições ocorre dentro da primeira etapa do movimento de “reação católica”, da apresentação do pensamento social da Igreja e da cons- trução das bases organizacionais e doutrinárias do apostolado laico. Objetiva não o auxílio aos indigentes, mas, já dentro de uma perspectiva embrionária de assistência preventiva, de apostolado social, atender e atenuar determinadas consequências do desenvolvimento capitalista, especificamente no que se refere aos menores e mulheres. É nessa fase ainda que a inserção da mulher à Força de Trabalho urbana deixa de ser privilégio das famílias operárias, acometendo também as parcelas da pequena burguesia. AS PROTOFORMAS E O SURGIMENTO DO SERVIÇO SOCIAL NO BRASIL Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. II A criação, em 1922, da Confederação Católica objetiva a centralização polí- tica e dinâmica dos primeiros embriões do apostolado laico. As considerações dessas instituições e obras, e de sua centralização, a partir da cúpula da hierarquia, não podem ser subestimadas à compreensão da gênese do Serviço Social no Brasil. Se sua ação efetiva é extremamente restrita, se seu conteúdo é assistencial e paternalista, será mediante seu lento desenvolvimento que se criarão as bases materiais e organizacionais, e especificamente humanas, que a partir da década seguinte possibilitarão a expansão da Ação Social e a ori- gem das primeiras escolas de Serviço Social. A Sra. Estela de Faro, por exemplo, designada como a grande pioneira do Serviço Social no Rio de Janeiro e figura preeminente da Ação Social na década de 1930, é, em 1922 – na qualidade de componente de confiança de dom Sebastião Leme –, a primeira coordenadora do ramo Feminino da Confederação Católica. Será, entretanto, a partir do desenvolvimento do Movimento Laico que essas iniciativas embrionárias se propagara no compreendidas no interior da Ação Social Católica; tomarão aí sua marca característica de apostolado social. Dentre elas, se destacarão as instituições voltadas à organização da juventude católica para a ação social junto à classe operária e sua extensão a outros setores, por meio da Juventude Estudantil Católica, Juventude Independente Católica, Juventude Universitária Católica e Juventude Feminina Católica. O componente humano e o fundamento organizacional que viabilizarão aorigem do Serviço Social se constituirão diante da mescla entre as antigas Obras Sociais, as quais se diferenciavam criticamente da caridade tradicional, e os novos movimentos de apostolado social, principalmente aqueles voltados à intervenção junto ao proletariado, ambos envolvidos no interior da estrutura do Movimento Laico, impulsionado e controlado pela hierarquia. os Scalabrianos tinham como lema uma passagem do evangelho de Ma- theus “Eu era estrangeiro e me acolheste.” Matheus 25:35 ©shutterstock 43 As Primeiras Escolas de Serviço Social no Brasil Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . O CENTRO DE ESTUDOS E AÇÃO SOCIAL DE SÃO PAULO E A NECESSIDADE DE UMA FORMAÇÃO TéCNICA ESPECIALIZADA PARA A PRESTAÇÃO DE ASSISTêNCIA O Centro de Estudos e Ação Social de São Paulo (CEAS), visto como manifesta- ção original do Serviço Social em nosso país, aparece, em 1932, com o incentivo e sob o controle da hierarquia. Surge como condensação da necessidade sentida por setores da Ação Social e Ação Católica – principalmente da primeira – de tornarem-se cada vez mais concretas e acarretarem maior rendimento às ini- ciativas e obras realizadas pela filantropia das classes dominantes paulistas sob patrocínio da Igreja e de dinamizar a mobilização do laicado. Seu começo oficial será a partir do “Curso Intensivo de Formação Social para Moças”, realizado pelas Cônegas de Santo Agostinho, para o qual fora con- vidada Mlle. Adèle Loneaux, pertencente à Escola Católica de Serviço Social de Bruxelas. Com o final do curso, será realizado um apelo para a organização de uma ação social objetivando o bem-estar da sociedade. As integrantes do curso, na demons- tração do 1° relatório do CEAS, haviam participado no intuito de se orientar, esclarecer ideias, formar um julgamento acertado acerca dos problemas sociais da atu- alidade. O grupo constituiu-se por jovens formadas em estabelecimentos religiosos de ensino, uma represen- tativa demonstração feminina das famílias que compõem as diferentes frações das clas- ses dominantes e setores abastados aliados. AS PROTOFORMAS E O SURGIMENTO DO SERVIÇO SOCIAL NO BRASIL Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. II O objetivo central do CEAS “será o de realizar a formação de seus membros pelo estudo da doutrina social da Igreja e pautar sua ação nessa construção doutriná- ria e no conhecimento aprofundado dos problemas sociais”, objetivando “tornar mais eficiente a realização das trabalhadoras sociais” e “adotar uma orientação definida em relação às questões a resolver, favorecendo a coordenação de esfor- ços espalhados nas inúmeras atividades e obras de caráter social”. (Iamamoto, 2007, p. 168). Os registros existentes sobre essa compreensão demonstram que seu núcleo organizador partia da consciência de vivenciar uma fase de profundas mudan- ças políticas e sociais e da necessidade de interferir nesse processo a partir de uma perspectiva ideológica e de uma prática homogênea: As reuniões dessa comissão – de moças católicas que frequentaram o curso ministrado por Mlle. de Loneaux – foram o início das atividades do CEAS. Tinham se realizado as primeiras durante os meses de maio a junho quando a 9 de julho rebentou em São Paulo o movimento pela reconstitucionalização do país, que absorveu todas as energias e inicia- tivas, dirigindo-se para o único fim da vitória de nossa causa (IAMA- MOTO, 2007, p. 164). Certamente, não foi hoje que a Paulista aprendeu a se interessar pelos destinos políticos de sua terra (...) Se largos anos de paz e prosperida- de haviam adormecido o interesse feminino pela política do país, ele despertou nas horas de sofrimento de São Paulo. E foi em 1932 que a mulher resolveu retomar parte ativa e direta na luta que se está travan- do pelos destinos de nosso Estado e do Brasil. Á causa que abraçou ela deu, na guerra, tudo o que podia dar: os seus entes mais caros, toda a sua dedicação e atividade, o seu ouro e as suas jóias. Na paz, ela aceitou o voto feminino, compreendeu o seu alcance e exerce-o a bem de seu ideal. A mulher paulista de hoje conhece o seu dever cívico e sabe cum- pri-lo ‘para o bem de São Paulo’ (IAMAMOTO, 2007, p. 46). E no campo da ação social? Também desse lado, largos e novos horizontes se abriram, em 1932, para a atividade feminina. Surge de maneira tão explícita que a origem desse movimento não pode ser desvinculada da conjuntura particular de São Paulo, principalmente por- que ocorre no momento em que as classes dominantes desse Estado se lançam no movimento surreal de 1932, buscando reaver o poder local e nacional do qual havia sido alijado dois anos antes. E, nessa vertente, se envolve dentro dos 45 As Primeiras Escolas de Serviço Social no Brasil Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . movimentos políticos e ideológicos do início da década de 1930, que possui como pano de fundo as tentativas de reunificação e a reação a que se lançam os antigos grupos dirigentes. Existe também uma precisão referente ao sentido novo dessa ação social; tratar-se-à de intervir claramente junto ao proletariado para afastá-lo de influ- ências subversivas. Por que, então, não datar de 1932 uma nova era na atividade social feminina? É que se até então a generosidade e o espírito cristão das Paulistas as impeliram a fundar obras de socorro e assistência para acudir um sem -número de males, foi apenas em 1932 que as moças residentes em São Paulo despertaram interesses pelo estudo metódico da questão social, através da ação nos meios operários nela abrangendo o problema do trabalho (IAMAMOTO, 2007, p. 48). Logo no mês seguinte mons. Gastão Leberal Pinto, vigário-geral da ar- quidiocese, que se achava a par de nossos projetos, aconselhou-nos a continuar nossos trabalhos, e a 29 de agosto realizávamos a reunião preliminar de fundação do Centro pela leitura do projeto dos estatutos. Nessa reunião resolvemos não nos limitar preliminarmente aos estu- dos, como era nosso propósito, mas começar ao mesmo tempo nossa ação, aproveitando a oportunidade que nos ofereciam os serviços de assistência da retaguarda em que estávamos quase todas empenhadas, para entrar em contato com os meios operários, nesse momento anor- mal muito trabalhado por elementos subversivos (...) (IAMAMOTO, 2007, p. 45). Até dezembro de 1932, o CEAS fundou quatro centros operários onde suas propa- gandistas, por meio de aulas de tricô e trabalhos manuais, conferências, conselhos sobre higiene etc., procuraram interessar e atrair as operárias, e entrar, assim, em contato com as classes trabalhadoras, analisando os ambientes e necessidades. Os referidos Centros ofertavam uma tríplice vantagem e seriam o ponto de partida para um desenvolvimento maior (IAMAMOTO; CARVALHO, 2007, p. 171): 1° - São campos de observação e de prática para a trabalhadora social, que aí completa e aplica os seus estudos teóricos. 2° - São Centros de educação familiar, onde se procura estimular nas jovens operárias o amor ao lar e prepará-las para o cumprimento de seus deveres nessa missão. AS PROTOFORMAS E O SURGIMENTO DO SERVIÇO SOCIAL NO BRASIL Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. II 3° - São núcleos de formação de elites que irão depois agir na massa operária. Com esse intuito não somente cuidamos de estimular nessas jovens uma fé viva e esclarecida, o sentimento do exato cumprimen- to do dever, como também despertar-lhes o espírito de apostolado da classe pela classe, com a noção das responsabilidades que lhe incum- bem nesse terreno. Os Centros Operários são idealizados como uma fase intermediária, e, segundo Iamamoto e Carvalho (2007), os organismos transitórios deveriam dar seu lugar a associações de classeque nossas elites operárias iriam formar e dirigir, assim que estivessem em condições. Aceitando a idealização de sua classe sobre a vocação natural da mulher para as tarefas educativas e caridosas, essa interferência assumia, na opinião desses ativistas, a consciência do posto que cabe à mulher na preservação da ordem moral e social e o dever de tornarem-se aptas para agir de acordo com as suas convicções e suas responsabilidades. Incapazes de promover a ruptura com essas representações, o apostolado social possibilita àquelas mulheres, a partir da reti- ficação daquelas qualidades, uma interação ativa no empreendimento político e ideológico de sua classe, e da defesa de seus interesses. De forma paralela, sua posição de classe lhes faculta um sentimento de superioridade e proteção em relação ao proletariado. Não somente é justificável a ação feminina social como ainda é indis- pensável (...). Não tem a mulher, na sociedade a missão de educar? Ima- ginem a restauração da família sem a cooperação da mulher: a remode- lação da mentalidade, de hábitos e de costumes que irão depois influir na economia e nas leis do país, tem de ser, toda ela, trabalho da mulher, em qualquer classe da sociedade (IAMAMOTO; RAUL, 2009, p. 172). Mas por qual motivo uma associação que importa moças da sociedade se ocu- paria com questões da classe operária? Essa iniciativa é também legítima e é explicável: ela se baseia num sen- timento profundo de justiça social e de caridade cristão, que leva aque- las que dispõem de facilidade de tempo e de meios a auxiliar as clas- ses sociais mais fracas a formar as suas elites, para que estas também possam cumprir eficientemente seu dever. Elas mostram a essas elites como deverão se organizar para defender a Família e a Classe Operária contra os ambiciosos e os agitadores que exploram seu trabalho ou a sua ignorância (IAMAMOTO; CARVALHO, 1982, 177). ©shutterstock 47 As Primeiras Escolas de Serviço Social no Brasil Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . As atividades dos CEAS se orientarão para a construção técnica especializada de quadros para a ação social e a propagação da doutrina social da Igreja. Ao admi- tir essa orientação, passa a se comportar como dinamizador do apostolado laico por meio da organização de associações para moças católicas e para a interven- ção direta juntamente ao proletariado. Esta última globalizará, teoricamente, as demais, na proporção em que se destinam ao mesmo fim. São promovidos inúmeros cursos de filosofia, moral, legislação do trabalho, doutrina social, enfer- magem de emergência etc. O ano de 1933 caracteriza uma intensificação dessas atividades: interação na Liga Eleitoral Católica por meio de campanhas de alistamento de eleitores e pro- selitismo, realização da Primeira Semana de Ação Católica, começo da formação de quadros da Juventude Feminina Católica constituída mediante aos Centros Operários e Círculos de formação para Moças, delegação pela hierarquia da representação da Juventude Feminina Católica etc. No ano de 1936, diante dos esforços desenvolvidos por esse grupo e o auxílio da hierarquia, é criada a Escola de Serviço Social de São Paulo, a primeira desse gênero a existir em nosso país. AS PROTOFORMAS E O SURGIMENTO DO SERVIÇO SOCIAL NO BRASIL Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. II Partindo desse momento, é possível notar que paralelamente à busca inicial por quadros habilitados por essa formação técnica especializada, criada da própria ação social católica, começa a surgir outro tipo de procura, partindo de certas instituições do Estado. Elas serão enxergadas pelos integrantes desse movimento enquanto conquistas significativas. Com a demonstração de um memorial ao Governo do Estado, obteve (o CEAS) a criação de cargos de fiscais femininos para o trabalho de mulheres e menores, no Departamento Estadual do Trabalho. No ano de 1937, o CEAS trabalha no Serviço de Proteção aos Imigrantes, funcionando dois anos juntamente com a Diretoria de Terras, Colonização e Imigração; no ano de 1939, assina o contrato com o Departamento de Serviço Social de Estado (SP) para a organização de três Centros Familiares em bair- ros populares. No ano de 1935, fora criada a Lei n° 2.497, de 24.12.1935. À referida lei competiria: a. superintender todo o serviço de assistência e proteção social; b. celebrar, para realizar seu programa, acordos com instituições particula- res de caridade, assistência e ensino profissional; c. harmonizar a ação social do Estado, articulando-a com a dos particulares; d. distribuir subvenções e matricular as instituições particulares realizando seu cadastramento. Caberia ainda a estruturação de Serviços Sociais de Menores, Desvalidos, Trabalhadores e Egressos de Reformatórios, penitenciárias e hospitais e da Consultoria Jurídica do Serviço Social. A maior parte dos artigos da mencio- nada lei dedica-se à assistência do menor e aos requisitos essenciais para a sua qualidade de vida. ©shutterstock 49 As Primeiras Escolas de Serviço Social no Brasil Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . No ano de 1938, será organizada a Seção de Assistência Social, tendo como objetivo realizar o conjunto de funções necessárias ao reajustamento de certos indivíduos ou grupos às condições normais de vida, e organiza para isso o Serviço Social dos Casos Individuais, a Orientação Técnica das Obras Sociais, o Setor de Investigação e Estatística e o Fichário Central de Obras e Necessitados. A meto- dologia central a ser aplicada é definida como sendo o Serviço Social de Casos Individuais, devendo-se estimular o necessitado, interagindo-o ativamente em todos os projetos relacionados com seu tratamento, e usar todos os componentes do meio social que possam de alguma forma influenciá-lo no sentido desejado, auxiliando sua readaptação, proporcionando uma ajuda material diminuindo ao mínimo indispensável com a finalidade de não prejudicar o tratamento. Ainda nesse mesmo período, o Departamento sofre uma transformação de siglas, passando a chamar-se Departamento de Serviço Social. O Estado perpassa o marco de sua primeira área de intervenção para superin- tender a gestão da assistência social. Assim, procurará racionalizar a assistência, fortalecendo e enfatizando sua participação própria e controlando as iniciati- vas particulares. Estas tenderão a se tornar ainda mais dependentes e destinadas para a busca de serviços por parte do Estado, por meio de convênios etc. De forma paralela, figuras de importância, saídas das instituições particulares, serão AS PROTOFORMAS E O SURGIMENTO DO SERVIÇO SOCIAL NO BRASIL Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. II cooptadas para constituir os quadros técnicos e Conselhos Consultivos das ins- tituições estatais de coordenação e execução. O governo buscará, portanto, subordinar a seu programa de ação as inicia- tivas particulares no mesmo modo que adota as técnicas e a formação técnica especializada desenvolvida a partir daquelas instituições de caráter particular. Dessa maneira, a busca por essa formação técnica especializada, crescentemente, encontrará no Estado seu setor mais dinâmico, ao mesmo tempo em que passará a regulamentá-la e incentivá-la, institucionalizando sua progressiva mudança em profissão legitimada no interior da fragmentação social-técnica do trabalho. Nessa vertente, quando em 1936 é criada pelo CEAS a primeira Escola de Serviço Social, esta não pode ser considerada como resultado de uma iniciativa exclusiva do Movimento Católico Laico, uma vez que já se faz presente uma procura – real ou potencial – a partir do Estado, que assimilará a formação dou- trinária própria do apostolado social. A
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