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1 Ian Dondoni | Radiologia | Medicina Ufes NEURORRADIOLOGIA - TRAUMATISMO CRANIOENCEFÁLICO (TCE) INTRODUÇÃO • O trauma é a terceira causa de morte no mundo ocidental, principalmente nos jovens – metade das mortes é por TCE; • Principal causa de morte e deficiência permanente nas primeiras décadas de vida; • 5 a 10% dos que sobrevivem apresentam déficit residual. CAUSAS As causas variam conforme a idade, mas no geral: • Acidentes automobilísticos (40 – 50%) • Quedas (20%) • Agressões (10 – 20%) • Esportes e recreações (10%) PARTICULARIDADES • RN: trauma de parto, principalmente • Crianças • Adulto • Idosos: queda ESCALA DE COMA DE GLASGOW • Atualmente o mínimo é 1, pois é levado em consideração a reatividade pupilar que vai de 0, -1 e - 2 | Máximo: 15. Mas, podemos encontrar o mínimo como 3 ainda (cuidado!) 2 Ian Dondoni | Radiologia | Medicina Ufes MÉTODOS DE IMAGEM INDICAÇÃO: • Raio-X: fratura com faca ou fratura que você já detectou na palpação. Mas o raio-x não é o melhor método para estudar uma fratura da calota craniana. • Ultrassonografia: até pode usar em recém-nascidos para estudar o trauma, pois eles possuem as fontanelas abertas e você pode avaliar bem o parênquima cerebral com o ultrassom sem expor a radiação ionizante da tomografia ou do raio-x. • Tomografia Computadorizada: método de escolha. • Ressonância Magnética. OBS.: lembre-se que a TC e o RX têm bastante radiação e não devem ser usados em crianças, pois elas estão em formação e suas células ainda se dividem, ou seja, o risco de câncer ainda existe. Então, peça apenas o exame que realmente é necessário, evitando expor a criança várias vezes a radiação ionizante. • Paciente com TCE + Glasgow leve (13 a 15) → não fazer TC, pode-se acompanhar esse paciente e, se ele não piorar na sua evolução, você pode dispensá-lo sem fazer a TC CLASSIFICAÇÃO LESÕES PRIMÁRIAS: • Originadas diretamente a partir do evento traumático; • Exemplos: o Lesões no escalpo; o Fratura óssea; o Coleções extra-axiais; o Hematoma parenquimatoso; o Concussão o LAT LESÕES SECUNDÁRIAS • Decorrentes da consequência do trauma inicial; • Exemplos: o Edema cerebral; o Herniação parenquimatosa; o Infarto; o Hidrocefalia; o Infecção; o Hipertensão intracraniana. 3 Ian Dondoni | Radiologia | Medicina Ufes LESÕES PRIMÁRIAS AVALIAÇÃO POR IMAGEM DO TCE 1) Escalpo 2) Estruturas Ósseas Cranianas 3) Coleções Extra-axiais 4) Lesões Parenquimatosas 1 - ESCALPO LESÕES DO ESCALPO • Expressão mais externa do trauma • Orienta o local a ser avaliado primariamente • Prediz a energia cinética do trauma → dar pista do que está acontecendo com o paciente (p. ex. chega uma criança com um galo muito grande na cabeça e o pai diz que ele esbarrou a cabeça em algum lugar, porém você percebe que o galo está muito grande, logo, você tem que pensar que o pai pode estar espancando a criança ou ela pode estar tendo um distúrbio da coagulação. LESÕES DE PARTES MOLES DO ESCALPO: • Bossa Serossanguinolenta o Sangue debaixo da pele o Comum no RN (trauma de parto) o Ultrapassa as suturas, pois não se prende ao periósteo • Hematoma Subgaleal o Sangue debaixo da gálea aponeurótica (azul na imagem), por isso o “galo” ou hematoma subgaleal o Comum em adultos 4 Ian Dondoni | Radiologia | Medicina Ufes • Cefalohematoma o Sangue debaixo do periósteo (camada branca grudada no osso) o Comum no RN (trauma de parto) o Não ultrapassa as suturas por estar abaixo do periósteo que gruda nas suturas. 2- ESTRUTURAS ÓSSEAS CRANIANAS CLASSIFICAÇÃO DAS FRATURAS • Linear • Com afundamento • Cominutiva → aquela que tem 3 ou mais fragmentos de fratura • Base de Crânio → estruturas nobres passam pelos forames da base do crânio • Pingue-Pongue (como se fosse a fratura em galho verde só que na calota craniana) → dobra, mas não quebra • Composta → é aquela que comunica o meio interno com o meio externo ou o meio interno com os seios paranasais ou com as células da mastóide Linear, cominutiva ou afundamento, acomete a base do crânio e fratura composta (comunica o meio interno com as células da mastóide) FRATURA EM PINGUE-PONGUE • Refere-se a bolinha de pingue-pongue que quando pisamos amassa, mas não quebra. 5 Ian Dondoni | Radiologia | Medicina Ufes FRATURA EM CRESCENTE (GROWING FRACTURE) • É a fratura que cresce com o tempo devido a pulsação liquórica adjacente a fratura que vai afastando as margens da mesma e aumentando o espaço entre as duas margens. DIAGNÓSTICOS DIFERENCIAIS • Cuidado com as suturas e impressões vasculares que podem parecer fratura, mas são estruturas normais • Diástase da Sutura: tipo especial de fratura que alarga o local da sutura. 3 – COLEÇÕES EXTRA-AXIAIS → passando da calota craniana para o compartimento extra-axial • Hematoma Extradural → sangue • Hematoma Subdural → sangue • Higroma → líquor • Pneumocéfalo → ar • Hemorragia Subaracnóidea Traumática • Hemorragia Intraventricular 6 Ian Dondoni | Radiologia | Medicina Ufes HEMATOMA EXTRADURAL • O clássico hematoma extradural é por lesão da artéria meníngea média (que passa onde está circulado na segunda imagem), mas nem sempre é por lesão arterial • Características de imagem para reconhecermos o hematoma extradural: o Formato de lente biconvexa (primeira imagem) o Não ultrapassa as suturas, porque está abaixo da dura-máter que é agarrada as linhas de suturas o Geralmente tem uma fratura na região pterional da escama temporal onde passa a artéria meníngea média que é a principal artéria lesada no hematoma extradural (imagens 2 e 3) • Hematoma extradural em atividade: o Possui uma área hipodensa (vermelho) dentro do hematoma que significa que esse hematoma ainda está sangrando (em atividade) → sinal do redemoinho → tem que tratar logo, se não o paciente vai herniar e morrer HEMATOMA EXTRADURAL VENOSO: • Lente biconvexa, fratura e rompimento dos seios venosos durais • CUIDADO! Na maioria das vezes o hematoma é arterial, mas às vezes pode ser sangramento venoso dos seios venosos durais, como nesse caso. 7 Ian Dondoni | Radiologia | Medicina Ufes HEMATOMA EPIDURAL (EXTRADURAL) TEMPORAL ANTERIOR BENIGNO • O hematoma extradural é uma EMERGÊNCIA CIRÚRGICA, o paciente vai ter que ser operado, exceto nesse caso • Esse hematoma é indolente e não cresce nos exames de controle • Na maioria das vezes não precisa ser operado, é reabsorvido naturalmente • Ocorre por lesão do seio esfenoparietal (pequeno que não dá um volume grande de sangue, logo não precisa ser drenado) HEMATOMA SUBDURAL AGUDO • Características: o Possui um formato de meia lua (seta na imagem 3) o Ultrapassa as suturas por estar subdural, mas não ultrapassa as linhas de reflexão dural ou dobras durais, ou seja, não passa para o outro lado (como por exemplo e fissura inter- hemisférica como podemos observar no detalhe em vermelho da imagem 3) o O hematoma escorre e passa na fissura inter-hemisférica o É HIPERATENUANTE (branco) Hematoma subdural na fossa posterior, hematoma subdural supratentorial, e as imagens 3 e 4 estão mostrando que não ultrapassa, mas sim acompanha as reflexões durais (no coronal e no sagital). Seio esfenoparietal 8 Ian Dondoni | Radiologia | Medicina Ufes HEMATOMA SUBDURAL SUBAGUDO • Possui as mesmas características do agudo, mas a atenuação será menor (isoatenuante / mais cinza) • Idoso que de vez em quando cai e bate a cabeça → evolui para uma síndrome demencial → demora para ir no PS → hematoma subdural subagudo HEMATOMA SUBDURAL CRÔNICO • Mesmas características do agudo, mas é hipoatenuante na tomografia aparecendo com líquor o Imagem 1: hematoma subdural bilateral isoatenuante de um lado (subagudo / cinza) e hipoatenuante do outro (crônico / preto)HEMATOMA SUBDURAL LAMINAR • Na fissura inter-hemisférica é fácil de vê-lo, pois temos cinza de um lado e cinza do outro • Mas, quando o laminar é agarrado no osso (branco) pode ser difícil de vê-lo Na imagem do centro e em destaque temos um hematoma pequeno. 9 Ian Dondoni | Radiologia | Medicina Ufes HEMATOMA EXTRADURAL X SUBDURAL HIGROMA • Coleção de líquor que geralmente acontece tardiamente no trauma • Paciente bate a cabeça → faz o exame ou não → quando faz não tem nada → e tardiamente você vê uma coleção de líquor no espaço subdural → rompe a membrana aracnoide e o líquor foge do espaço subaracnóide para o espaço subdural HIGROMA X HEMATOMA SUBDURAL CRÔNICO • Em apenas 1 tomografia, é impossível diferenciar um higroma de um hematoma subdural crônico. • Uma forma de diferenciá-los é pegando o exame anterior do paciente, pois um hematoma subdural crônico um dia foi agudo, outro dia foi subagudo e hoje ele é crônico. • Outra forma de diferenciá-los é pela ressonância o Como o higroma é uma coleção de líquor, ele vai ter sinal semelhante ao líquor em todas as sequências (T1, T2, flair e difusão, imagem acima) o O hematoma subdural crônico não vai ter sinal de líquor, vai ter um sinal um pouco aumentado no flair. 10 Ian Dondoni | Radiologia | Medicina Ufes Espaço subaracnóide: HEMORRAGIA SUBARACNOIDE TRAUMÁTICA • A coleção de sangue vai acompanhar os sulcos, pois está no espaço subaracnóide onde tem líquor • Imagem 3: um lado tem líquor preto e o outro tem líquor branco com sangue (porque o sangue está acompanhando o espaço subaracnóide) HEMORRAGIA INTRAVENTRICULAR • O líquor dentro do ventrículo é preto e o sangue agudo é hiperatenuante (branco – onde está a seta na imagem) Sangue depositado dentro do ventrículo junto com hematoma subdural (imagem 3). 11 Ian Dondoni | Radiologia | Medicina Ufes Coleções de ar: PNEUMOCÉFALO • Pneumocéfalo: ar dentro da caixa craniana • Pneumoencéfalo: ar dentro do parênquima encefálico • Imagem 3: ar no espaço subdural (pneumocéfalo subdural) junto com a fratura com afundamento ou cominutiva • Não precisa de fazer nada com ele, pois será reabsorvido normalmente • Causas: trauma ou iatrogênico (quando vai fazer uma cirurgia de craniotomia onde tem que fraturar o osso, esse é o fenômeno de válvula) • Pneumocéfalo hipertensivo: o Tipo especial de pneumocéfalo o É preciso ser drenado, como se fosse um hematoma extradural, pois temos um fenômeno de válvula (o ar entra, mas não sai), ou seja, uma hora vai herniar e o paciente vai morrer o Sinal do Monte Fuji Pneumocéfalo hipertensivo. Sinal do Monte Fuji. 12 Ian Dondoni | Radiologia | Medicina Ufes 4 - LESÕES PARENQUIMATOSAS (parênquima cerebral) • Concussão Cerebral; • Contusão Cortical; • Hematoma Intraparenquimatoso; • Explosão Lobar; • Lesão Axonal Traumática (LAT). CONCUSSÃO CEREBRAL • Nas imagens estruturais não tem repercussão • Pugilista (boxeador) que tomou um soco e foi para nocaute → fazemos o exame dele e não tem nada → foi só uma concussão cerebral CONTUSÃO CORTICAL • Possui alteração no exame de imagem • Trauma → locais próximo ao osso (base do lobo frontal, base do temporal e o parietal e o occipital lá em cima onde eles encostam na calota craniana) → choca na calota → pode levar a contusão cortical (hemorragia no córtex) • Geralmente ocorre nos locais pintados de vermelho e, mais raramente, nos locais em azul (occipital e cerebelo) • Locais: o Pode ser no local do trauma secundário a fratura o No local do trauma, porém sem fratura o No contragolpe: bateu a cabeça, cérebro foi para frente e o lobo frontal bate no osso o Imagem 1: golpe → focos hemorrágicos no córtex cerebral o Imagem 2: contragolpe • Quando essas contusões corticais se juntam e formam um hematoma maior, chamamos de contusão maior Contusão maior no contragolpe (lobo frontal). O golpe foi onde fraturou (seta). 13 Ian Dondoni | Radiologia | Medicina Ufes HEMATOMA INTRAPARENQUIMATOSO À medida que essas coleções de sangue intraparenquimatosas vão aumentando, vão fazendo hematomas mais volumosos... EXPLOSÃO LOBAR ...e à medida que ele ocupa todo ou quase todo um lobo cerebral, chamamos de explosão lobar → lesão mais grave por ser maior. LESÃO AXONAL TRAUMÁTICA (LAT) ou LESÃO AXONAL DIFUSA (LAD) • A transição córtico-subcortical, o corpo caloso e o tronco cerebral possuem uma energia cinética diferente e se movem de forma diferente no trauma. Então, temos uma dissecção entre a substância branca e cinzenta que se movem de forma diferente (é como se rompesse os neurônios). • Pode acometer a transição córtico-subcortical (grau 1), o corpo caloso (grau 2, mais grave) e o tronco cerebral (grau 3, gravíssimo) • Apresentação clínica da LAT: o Paciente que tem um trauma grave/gravíssimo que rebaixou o nível de consciência no momento do trauma e não acorda mais, ele faz a tomografia e, em geral, é normal! • Apresentação da LAT na tomografia computadorizada e na ressonância: (TOMO COSTUMA SER NORMAL e na ressonância é possível ver pequenos focos hemorrágicos) → a imagem só mostra a ponta do iceberg, pois esse paciente tem muito mais lesão do que nós conseguimos ver! 14 Ian Dondoni | Radiologia | Medicina Ufes LESÕES SECUNDÁRIAS LESÕES SECUNDÁRIAS AGUDAS: • Inchaço cerebral ou edema cerebral; • Herniações Parenquimatosas; • Lesões vasculares o Infarto; o Pseudoaneurisma; o Dissecção; o Trombose. INCHAÇO CEREBRAL – EDEMA VASOGÊNICO • Pode ser localizado ao redor das contusões ou dos hematomas ou das explosões lobares • Ou pode ser difuso e acometer o cérebro inteiro, inclusive levar o paciente a herniação, compressão de estruturas vasculares → morte • Morte cerebral: elevação muito grande da pressão intracraniana que desfavorece o suprimento sanguíneo, ou seja, não chega mais sangue. HERNIAÇÕES PARENQUIMATOSAS • Paciente pode herniar, comprimir o tronco ou morrer • Pode herniar e comprimir uma artéria, levando a um infarto • Formação do hematoma extradural → à medida que vai crescendo vai comprimindo o parênquima cerebral → hérnia → comprime o tronco (se for uma hérnia de uncus) → se não drenar esse hematoma, o paciente tem uma parada cardiorrespiratória e vai morrer TIPOS DE HÉRNIAS 1. Hérnia subfalcina: debaixo da foice 2. Herniação central: onde o diencéfalo hernia para baixo do tentório 3. Hérnia uncal ou transtentorial: tentório 4. Herniação das tonsilas: pode herniar e comprimir o bulbo Herniação uncal (círculo vermelho): observe a relação dela com a artéria que pode ser comprimida levando a um infarto (alteração secundária ao trauma). 15 Ian Dondoni | Radiologia | Medicina Ufes LESÕES SECUNDÁRIAS CRÔNICAS DO TRAUMA • Hidrocefalia; o P. ex.: hemorragia subaracnóide obstrui as granulações aracnóides impedindo, assim, a reabsorção do líquor e levando ao desenvolvimento de uma hidrocefalia • Encefalomalácia/gliose o Evolução das hemorragias intraparenquimatosas (contusão, hematoma e explosão lobar) o Áreas hipoatenuantes (pretas) • Cisto leptomeníngeo o Fratura que vai crescendo pelo pulsar do líquor pode invaginar uma membrana aracnoide e formar um cisto leptomeníngeo CONSIDERAÇÕES FINAIS: • Conhecimento anatômico intracraniano minimiza os erros diagnósticos • Diagnóstico rápido e preciso limita o dano encefálico; • Métodos de imagem estimam o prognóstico do paciente e não apenas fazem um diagnóstico. Olá! 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