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formador do valor e como elemento formador do produto. Quanto maior o período durante o qual a mesma máquina serve repetidamente para o mesmo processo de trabalho, tanto maior essa diferença. Em todo caso vimos que todo meio de trabalho ou instrumento de produção propriamente dito entra sempre inteiramente no processo de trabalho e sempre apenas em parte, na proporção de seu desgaste médio diário, no processo de valorização. Essa diferença entre utilização e desgaste é, no entanto, muito maior na maquinaria do que na ferramenta, porque ela, feita de material mais duradouro, tem vida mais longa, porque sua aplicação, regulada por leis rigorosamente científicas, possibilita maior economia no desgaste de suas partes componentes e de seus meios de consumo; finalmente, porque seu campo de produção é in- comparavelmente maior do que o da ferramenta. Deduzamos de ambas, da maquinaria e da ferramenta, seus custos médios diários ou a com- ponente de valor que, mediante o desgaste médio diário e o consumo de materiais acessórios, como óleo, carvão etc., agregam ao produto, então verificaremos que atuam de graça, exatamente da mesma forma que forças naturais preexistentes sem acréscimo de trabalho humano. Quanto maior o âmbito de atuação produtiva da maquinaria em relação ao da ferramenta, tanto maior o âmbito de seu serviço não-pago, em comparação com o da ferramenta. Só na grande indústria o homem aprende a fazer o produto de seu trabalho anterior, já objetivado, atuar gratuitamente em larga escala como uma força da Natureza.33 Do estudo da cooperação e da manufatura resultou que certas condições gerais de produção, como prédios etc., se comparadas com as condições de produção esparsas de trabalhadores isolados, são eco- nomizadas por meio do consumo coletivo e, portanto, encarecem menos o produto. Na maquinaria, não só o corpo de uma máquina de trabalho é consumido por suas muitas ferramentas, mas também a própria má- quina-motriz, além de parte do mecanismo de transmissão, é coletiva- mente consumida por muitas máquinas de trabalho. Dada a diferença entre o valor da maquinaria e a parte de valor transferida para seu produto diário, o grau em que essa parte do valor encarece o produto depende, antes de tudo, do tamanho do produto, OS ECONOMISTAS 22 33 Ricardo apreende esse efeito das máquinas — o qual aliás no restante ele desenvolve tão pouco quanto a diferença geral entre processo de trabalho e processo de valorização — com tanta exclusividade que ocasionalmente esquece a componente de valor que as máquinas transferem ao produto e as confunde totalmente com as forças da Natureza. Assim, por exemplo: “Adam Smith não subavalia em nenhum lugar os serviços que os agentes naturais e a maquinaria nos prestam, mas distingue muito justamente a natureza do valor, que eles agregam às mercadorias (...) como eles executam seu trabalho gratuitamente, o auxílio que nos prestam nada agrega ao valor de troca”. (RICARDO. On the Principles of Political Economy, and Taxation Londres, 1821, pp. 336-337.) Naturalmente a observação de Ricardo é correta contra J.-B. Say, que imagina que as máquinas prestam o “serviço” de criar valor, que constitui parte do “lucro”.
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