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NÚCLEO DE PRÁTICAS JURÍDICAS - DIREITO PENAL Professor Me. Márcio Godofredo de Alvarenga 1. Definição: Podemos definir a Queixa-crime como sendo a petição inicial da ação penal privada, ou seja, quando o querelante (vítima) pede ao juiz a condenação do autor da prática do crime (querelado) que se procede por meio de uma ação penal privada (note que a própria legislação aponta, quando se trata de ações dessa natureza, valendo-se da expressão: “somente se procede mediante queixa” (como no exemplo disposto no art. 145 do Código Penal). Cabe ressaltar que não pode confundir a queixa-crime com a notitia criminis, que é a comunicação da ocorrência de uma infração penal à autoridade. A notitia criminis pode iniciar a fase investigatória. A queixa-crime, por sua vez, pode iniciar a fase processual. 2. Princípios da ação penal privada São basicamente quatro os princípios que regem as ações penais privadas: a) Oportunidade ou conveniência: o titular da ação penal privada (a vítima ou seu representante legal) tem a faculdade de escolher se quer propor ou não a ação penal; b) Disponibilidade: o titular da ação penal privada pode desistir do prosseguimento da relação processual, o que pode ser feito pelo perdão ou desistência, por exemplo; c) Indivisibilidade: o querelante deve processar todos os autores do crime, não pode escolher quem processar, nos termos do art. 48 do CPP; d) Intranscendência: a ação penal só pode ser movida contra a pessoa que cometeu a infração penal (CF, art. 5º, inciso XLV). AULA 02 – QUEIXA-CRIME NÚCLEO DE PRÁTICAS JURÍDICAS - DIREITO PENAL Professor Me. Márcio Godofredo de Alvarenga 2. Disciplina Legal: a queixa-crime está regulada nos artigos 24 a 62 do CPP e no art. 100 do CP; ATENÇÃO: quem propõe a queixa-crime (vítima) é chamado de QUERELANTE, enquanto aquele que é acusado da prática do crime é denominado QUELELADO(A). Representação legal, espécies: • Curador especial: ofendido inimputável sem representante legal (por exemplo, pais) ou quando os interesses forem conflitantes (ex.: pai agressor); • Morte ou ausência: o direito de oferecer queixa ou prosseguir na ação passará ao cônjuge, ascendente, descendente ou irmão; • Mulher casada: não precisa mais da outorga uxória (Princípio da igualdade jurídica dos cônjuges); • Pessoa Jurídica: serão representadas por quem os respectivos contratos ou estatutos designarem; no silêncio, pelos seus diretores ou sócios-gerentes; • Documentos indispensáveis: procuração com poderes especiais (se comprovada pobreza, nomeação de advogado dativo), devendo constar do instrumento de mandato o nome do querelado; menção do fato criminoso e laudo pericial nos crimes materiais (aqueles que deixam vestígios). Rejeição da queixa: a) Quando for manifestadamente inepta (faltando requisitos do art. 41 do CP): A exposição e descrição do fato criminoso, com todas as suas circunstâncias; A qualificação do acusado ou esclarecimentos através dos quais se possam identificá-los (dados físicos, traços característicos etc), lembrando que a correta qualificação do acusado poderá ser feita ou retificada a qualquer tempo, sem que isso retarde o andamento da ação penal (art. 259 do CPP); Rol de testemunhas (quando houver); Para alguns, seria necessário indicar a capitulação legal do crime, contudo, como o juiz poderá atribuir definição diversa ao tipo penal, tal requisito não deve ser considerado como obrigatório. Além dos requisitos do art. 41 do CPP, deve ser observada a formalidade prevista no art. 44 do referido estatuto: NÚCLEO DE PRÁTICAS JURÍDICAS - DIREITO PENAL Professor Me. Márcio Godofredo de Alvarenga Art. 44. A queixa poderá ser dada por procurador com poderes especiais, devendo constar do instrumento do mandato o nome do querelante e a menção do fato criminoso, salvo quando tais esclarecimentos dependerem de diligências que devem ser previamente requeridas no juízo criminal. ATENÇÃO: Em regra,a competência para processar e julgar as ações penais é do local onde os crimes se consumaram ou no local onde foram praticados os atos (no caso da tentativa), no entanto, nas ações penais privadas o art. 73 do CPP, por exceção, faculta ao querelante a escolha do foro, in verbis: Art. 73. Nos casos de exclusiva ação privada, o querelante poderá preferir o foro de domicílio ou da residência do réu, ainda quando conhecido o lugar da infração. CRIMES DE MENOR POTECIAL OFENSIVO: a propositura deve ocorrer perante o Juízado Especial Criminal, no entanto, se houver concurso de crimes ou incidência de causas de aumento de pena, de forma que ao se verificar a tipificação penal a somatória das penas (mínimas + majorantes) ultrapassem dois (02) anos, o endereçamento deve ocorrer à VARA CRIMINAL. ESTRUTURA DA QUEIXA-CRIME Endereçamento Descrição das partes (querelante e querelado); Identificação da peça; Narrativa dos fatos de forma minuciosa; No Pedido requerer: a) Incursão do querelado no tipo penal; b) Recebimento, autuação e processamento no rito indicado e condenação do querelado; c) Vistas do MP e protesto por provas (juntada de documentos e oitivas de testemunhas (arroladas); Assinatura do advogado e do querelante. NÚCLEO DE PRÁTICAS JURÍDICAS - DIREITO PENAL Professor Me. Márcio Godofredo de Alvarenga MODELO DE QUEIXA-CRIME EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA __VARA CRIMINAL DA COMARCA DE ___________ (MATÉRIA ESTADUAL) EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ FEDERAL DA __VARA CRIMINAL DA SEÇÃO JUDICIÁRIA DE ___________ (MATÉRIA FEDERAL) Nome do querelante, nacionalidade, estado civil, profissão, residente e domiciliado endereço, vem com o devido respeito e acato, por seu advogado que esta subscreve (procuração com poderes especiais anexa), à presença de Vossa Excelência, com fundamento nos artigos 41 e 44 do Código de Processo Penal combinado com o §2º do art. 100, do Código Penal, oferecer QUEIXA-CRIME em face de Nome do querelado, nacionalidade, estado civil, profissão, residente e domiciliado endereço, pelos motivos de fato e de direito a seguir aduzidos: NÚCLEO DE PRÁTICAS JURÍDICAS - DIREITO PENAL Professor Me. Márcio Godofredo de Alvarenga DOS FATOS 1. Narrar o fato criminoso, com todas as circunstâncias, sem inventar dados ou copiar (literalmente) a proposta. Por exemplo: (Tempo do crime) – No dia tal, do mês e ano, por volta das tantas horas, o Querelado ou o Querelante (Sujeitos), na rua tal (Lugar do crime). 2. (Motivo do crime); (Descrição do fato); (Circunstâncias);(Comportamento da vítima); (personalidade do Querelado); (conduta social do Querelado). 3. se houver concurso de agentes, esclarecer o comportamento exato de cada um deles. DO DIREITO 4. Comprovar a ocorrência do crime e sua respectiva autoria, com adaptação ao fato típico realizado no mundo real. 5. Demonstrar a ocorrência da infração, através da explicação dos seus requisitos (tipo penal, consumação, tentativa etc) NÚCLEO DE PRÁTICAS JURÍDICAS - DIREITO PENAL Professor Me. Márcio Godofredo de Alvarenga DO PEDIDO Diante do exposto, tendo o Querelado infringido o art. ___ do Código Penal, requer-se a Vossa Excelência que, recebida e autuada esta (ouvido o DD. Representante do Ministério Público) seja o mesmo citado para apresentar sua defesa inicial, sendo processado e ao final condenado. Requer,outrossim, a notificação das testemunhas arroladas no rol a seguir, para deporem em juízo, no dia e horário designados, sob as cominações legais. Termos em que, Pede deferimento. Cidade, ___ de _______ de ____ Advogado – OAB/SP Querelante Rol de Testemunhas: 1. Nome, profissão, endereço.......................... ; 2. Nome, profissão, endereço.......................... ; 3. Nome, profissão, endereço.......................... . NÚCLEO DE PRÁTICAS JURÍDICAS - DIREITO PENAL Professor Me. Márcio Godofredo de Alvarenga CASO PRÁTICO: JOSÉ DA SILVA, brasileiro, casado, funcionário público, morador da Rua das Flores, nº 28, Vila Romana, Santa Cecília-SP, no dia 02 de fevereiro do corrente ano, por volta das 23:00h, teve seu carro, da marca FIAT, modelo Uno CS, ano de fabricação 2010, de cor branca, placas ECA 1313, que encontrava-se estacionado na via pública, em frente a residência de ARMANDO NASCIMENTO DE JESUS, vulgo “Presépio”, brasileiro, solteiro, desempregado, RG e CPF/MF ignorados, residente na Rua das Flores, nº 30, Vila Romana, Santa Cecília-SP, quebrado por este os faróis dianteiros e o retrovisor do lado do motorista. Ato contínuo, arremessou um tijolo que estilhaçou todo o vidro dianteiro, somente parando quando percebeu a chegada dos vizinhos José Carneiro e sua esposa, Sra. Maria Marcolina Carneiro (que o identificaram). Os danos somaram R$ 1.500,00, comprovados por notas fiscais dos materiais e o recibo de prestação de serviços de funelaria e pinturas. A vítima encontrou o autor em um bar de propriedade do Sr. Bernardo Lopes, que atende pela alcunha de “Bigode” e ao tentar tomar satisfações o mesmo lhe havia dito que: “tinha botado pra quebrar mesmo e que não tinha medo de polícia, traficante, playboy ou general” e que aqui é “curintia”, Manu”. Desta forma, na qualidade de advogado contratado por José, confeccione a peça processual cabível. NÚCLEO DE PRÁTICAS JURÍDICAS - DIREITO PENAL Professor Me. Márcio Godofredo de Alvarenga EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DO JUIZADO ESPECIAL CRIMINAL DA COMARCA DE SANTA CECÍLIA/SP JOSÉ DA SILVA, brasileiro, casado, funcionário público, morador da Rua das Flores, nº 28, Vila Romana, Cruzeiro-SP, vem com o devido respeito e acato, por seu advogado que esta subscreve (procuração com poderes especiais anexa), à presença de Vossa Excelência, com fundamento nos artigos 41 e 44 do Código de Processo Penal combinado com o §2º do art. 100, do Código Penal, oferecer QUEIXA-CRIME em face de ARMANDO NASCIMENTO DE JESUS, vulgo “Presépio”, brasileiro, solteiro, desempregado, RG e CPF/MF ignorados, residente na Rua das Flores, nº 30, Vila Romana, Santa Cecília-SP, pelos motivos de fato e de direito a seguir aduzidos: DOS FATOS Relata o QUERELANTE que no dia 02 de fevereiro de 2016, por volta das 23h00min, seu carro, da marca FIAT, modelo Uno CS, ano de fabricação 2010, de cor branca, placas ECA 1313, encontrava-se estacionado na via pública, em frente a residência de ARMANDO NASCIMENTO DE JESUS, vulgo “Presépio”. Que sem qualquer motivo, o QUERELADO quebrou os faróis dianteiros e o retrovisor do lado do motorista do referido veículo, e ainda, arremessou um tijolo que estilhaçou todo o vidro dianteiro, somente parando quando percebeu a chegada dos vizinhos, ora testemunhas, José Carneiro e sua esposa, Sra. Maria Marcolina Carneiro. Que o QUERELANTE ainda encontrou o QUERELADO em um bar de propriedade do Sr. Bernardo Lopes, que atende pela alcunha de “Bigode”, e ao tentar tomar satisfações, o mesmo lhe disse que “tinha botado pra quebrar mesmo e que não tinha medo de polícia, traficante, playboy ou general” e que aqui é “curintia”, Manu”. NÚCLEO DE PRÁTICAS JURÍDICAS - DIREITO PENAL Professor Me. Márcio Godofredo de Alvarenga DO DIREITO Conforme demonstrado pelos fatos narrados pelo QUERELANTE, ficou constatado que o QUERELADO, Sr. ARMANDO NASCIMENTO DE JESUS, vulgo “Presépio”, é o autor do dano material causado no veículo de propriedade do QUERELANTE. Assim, dispõe o artigo 163 do CP, in verbis: “Art. 163. Destruir, inutilizar ou deteriorar coisa alheia: Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa. Dano qualificado Parágrafo único - Se o crime é cometido: ................................................................................................................... IV - por motivo egoístico ou com prejuízo considerável para a vítima”. Pena - detenção, de seis meses a três anos, e multa, além da pena correspondente à violência. No caso em tela Excelência, observa-se que a conduta de ARMANDO se enquadra na modalidade qualificada, especificamente, no parágrafo único, inciso IV do referido artigo, em decorrência do motivo egoístico e o prejuízo material considerável para a vítima. Destarte, devemos observar o artigo 167 do CP, que disciplina a procedência de ação penal privada mediante queixa, no caso do art. 163, inciso IV do seu parágrafo. DO PEDIDO Ante o exposto, requer a Vossa Excelência: I- Seja recebida e autuada a presente QUEIXA CRIME, determinando-se a citação do querelado; II- A intimação do Ilustre Representante do Ministério Público para se manifestar no feito, nos termos do artigo 45 do Código de Processo Penal; IV- A intimação e oitiva das testemunhas abaixo arroladas; http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/1033702/c%C3%B3digo-penal-decreto-lei-2848-40 http://www.jusbrasil.com.br/topicos/10618030/artigo-167-do-decreto-lei-n-2848-de-07-de-dezembro-de-1940 http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/1033702/c%C3%B3digo-penal-decreto-lei-2848-40 http://www.jusbrasil.com.br/topicos/10675770/artigo-45-do-decreto-lei-n-3689-de-03-de-outubro-de-1941 http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/1028351/c%C3%B3digo-processo-penal-decreto-lei-3689-41 http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/1028351/c%C3%B3digo-processo-penal-decreto-lei-3689-41 NÚCLEO DE PRÁTICAS JURÍDICAS - DIREITO PENAL Professor Me. Márcio Godofredo de Alvarenga V- Requer ainda a fixação de valor mínimo de indenização pelos prejuízos sofridos pelo querelante, nos termos do artigo 387, inciso IV do Código de Processo Penal na importância de R$ 1.500,00, comprovados por notas fiscais dos materiais e o recibo de prestação de serviços de funilaria e pintura; Diante do exposto, tendo o Querelado infringido o art. 163, IV do Código Penal, requer-se a Vossa Excelência que, recebida e autuada esta, seja o mesmo citado para apresentar sua defesa inicial, sendo processado e ao final condenado. Requer, outrossim, a notificação das testemunhas arroladas no rol a seguir, para deporem em juízo, no dia e horário designados, sob as cominações legais. Termos em que, Pede deferimento. Cruzeiro, ___ de _______ de ____ Advogado – OAB/SP Querelante Rol de Testemunhas: 1. José Carneiro, End: _____; 2. Maria Marcolina Carneiro, End: __________; 3. Bernardo Lopes, vulgo “Bigode”, End: __________. http://www.jusbrasil.com.br/topicos/10643326/artigo-387-do-decreto-lei-n-3689-de-03-de-outubro-de-1941 http://www.jusbrasil.com.br/topicos/10643149/inciso-iv-do-artigo-387-do-decreto-lei-n-3689-de-03-de-outubro-de-1941 http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/1028351/c%C3%B3digo-processo-penal-decreto-lei-3689-41 NÚCLEO DE PRÁTICAS JURÍDICAS - DIREITO PENAL Professor Me. Márcio Godofredo de Alvarenga PROPOSTA 02: No dia 16 de agosto do corrente ano, por volta das 18h00, Carlos Bolenaro, brasileiro, solteiro, de profissão ignorada, publicou na rede social Facebook, em uma página denominada “Os negacionistas”, o seguinte texto: “Esse tal de RONALDO RODRIGUES é um burro que fica relinchando, quer se aparecer, não sei por qual razãoele não assume que é gay, porque todo mundo já sabe mesmo”. Essa postagem foi comentada por Roberto Jefferson Zebu da Silva, brasileiro, divorciado, aposentado, que na mesma data, por volta das 18h23, comentou: “RONALDO é uma gazela mesmo, já foi visto na parada gay, que vergonha pra sua esposa e filhos”. Na data de hoje, Ronaldo Rodrigues, brasileiro, casado, comerciante, foi ao seu escritório disposto a tomar as providências judiciais cabíveis no âmbito criminal. Ronaldo reside na Rua Jair Filho, 171 – Vila Carlucho - Santa Cecília-SP e tem conhecimento que Carlos mora na Rua dos Terraplanistas, 121, Bairro Melicianos - Santa Cecília-SP e que Roberto mora na mesma rua, porém, no numeral 13. Ronaldo, registra que as postagens lhe ofenderam muito, por ter sido chamado de burro, sendo que várias pessoas foram ao seu comércio e começaram a fazer várias brincadeiras que o tem incomodado, assim como, sua esposa e filhos tem sofrido com as postagens que fazem referência a sua pessoa, o que acredita ter ocorrido em razão de ser grande defensor da causa LGBTQI+, participando de manifestações e compartilhando informações acerca do tema em suas redes sociais. Diante do apresentado, proponha a medida cabível. Marcadores do Word art73
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