Buscar

Historiografia - Copilado de informações

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 29 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 29 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 29 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

EA
D
Historiografia, Teoria da 
História e Retrospectiva 
Historiográfica
1. OBJETIVOS
• Conhecer e identificar os diferentes conceitos de histo-
riografia.
• Retomar e caracterizar conhecimentos já adquiridos so-
bre historiografia.
2. CONTEÚDOS
• Conceito e tipos de historiografia.
• A produção historiográfica no decorrer dos tempos (a 
partir de Heródoto até Annales e História Nova).
3. ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO DA UNIDADE
Antes de iniciar o estudo desta unidade, é importante que 
você leia as orientações a seguir:
1
© Historiografia e Teoria da História 30
1) Leia o Glossário atentamente e tenha sempre em mente 
o Esquema de Conceitos-chave. Isso favorecerá e facili-
tará seu aprendizado e desempenho.
2) Procure ler, ao menos, um livro indicado na bibliografia 
(básica ou complementar). Complemente sua formação.
3) Releia os conteúdos estudados nos Cadernos de Refe-
rência de Conteúdos Metodologia da História I e II. Ao 
recordar o que já assimilou e discutiu, você terá maior 
facilidade em acompanhar as mudanças nos paradigmas 
historiográficos que vêm acontecendo nas últimas déca-
das e que serão apresentados a seguir.
4) Outras definições de historiografia podem ser verifica-
das: historiografia como produto intelectual dos histo-
riadores, como pesquisa histórica e como representação 
do passado são exemplos que podem ser citados. Para 
maiores informações, sugerimos a leitura de LOMBARDI, 
José C. (Org.). Fontes, história e historiografia da educa-
ção. Ponta Grossa: Autores Associados, 2004.
5) O conceito de História Nova não é originário da década 
de 1960. Ele foi cunhado já na fundação dos Annales e 
retomado pelos representantes da terceira geração.
6) Não houve uma história das mentalidades homogênea e 
unificada. Três variantes dessa história podem ser iden-
tificadas: 1) a herdeira dos Annales, em que o estudo 
do mental está associado a totalidades explicativas; 2) 
a marxista, que relaciona o conceito de mentalidade à 
ideologia; 3) aquela que utiliza os microtemas – o modo 
de beijar, de chorar, o louco, a criança etc. –, que descre-
ve e narra épocas e episódios do passado. Para maiores 
esclarecimentos sugerimos a leitura de Vainfas (1997). 
Igualmente, é importante ressaltar que a história das 
mentalidades tanto é encarada como um braço dos An-
nales como herdeira de alguns de seus pressupostos, 
mas não todos.
7) Para saber mais sobre Heródoto e Tucídides, leia MOMI-
GLIANO, Arnaldo. As Raízes Clássicas da Historiografia 
Moderna. Tradução de Maria Beatriz B. Florenzano. Bau-
ru: EDUSC, 2004. (Coleção História).
Claretiano - Centro Universitário
31© U1 - Historiografia, Teoria da História e Retrospectiva istoriográfica
8) Vários autores serão citados no decorrer do conteúdo. 
Para obter maior conhecimento sobre eles, observe as 
informações a seguir e procure pesquisar nos sites indi-
cados.
Busto de Heródoto
Mármore. Cópia romana de original grego do século 4º a.C. 
Aproximadamente Período Imperial. Nápoles, Museo Nazio-
nale (RIBEIRO JR., W. A. Heródoto. Portal Graecia Antiqua, 
São Carlos. Imagem disponível em: <www.greciantiga.org/
arquivo.asp?num=0345>. Acesso em: 27 maio 2009).
Busto de Tucídides 
Mármore. Provavelmente cópia romana de um original 
grego do século 4º a.C. Data: não estabelecida. Inglaterra, 
Norfolk, Holkham Hall (RIBEIRO JR., W. A. O historiador 
Tucídides (-460/-400). Portal Graecia Antiqua, São Carlos. 
Imagem disponível em: <www.greciantiga.org/img/index.
asp?num=0177>. Acesso em: 27 maio 2009).
Políbio 
Políbio (200-115 a.C.), historiador grego que lutou contra a 
dominação romana, foi enviado a Roma como prisioneiro de 
guerra. Lá, passou a admirar aquela cultura e acompanhou 
campanhas militares pela Itália, Gália e Espanha. Também 
testemunhou a destruição de Cartago. Após essas experiên-
cias, narrou, em quarenta livros, 53 anos de conquistas ro-
manas. Suas fontes de pesquisa foram tanto testemunhos 
como documentos. Afirmou que a história deveria ser prag-
mática, tratar apenas de assuntos políticos e militares e que 
o historiador deve relatar os fatos como eles ocorreram, sem 
comentários ou interpretações, de modo a manter a objeti-
vidade histórica. Escreveu a obra Histórias (imagem e texto 
disponíveis em: <http://www.netsaber.com.br/biografias/ver_
biografia_c_2936.html>. Acesso em: 25 maio 2009).
© Historiografia e Teoria da História 32
Salústio 
Salústio (Caio Salústio Crispo – 86-35 a.C), historiador e 
político latino, foi um dos narradores dos acontecimen-
tos políticos do final do período republicano de Roma e 
considerado, por alguns estudiosos, como o introdutor 
da história filosófica na historiografia latina. Após uma 
conturbada passagem pela política romana como go-
vernador da Numídia, norte da África, sob a proteção de 
César, dedicou-se somente à atividade de escritor. Suas 
obras mais conhecidas são Conjuração de Catilina (Lúcio 
Sérgio Catilina, tido como um político sem escrúpulos) e 
Vida de Jugurta (rei da Numídia), narrativas históricas de 
fatos acontecidos em Roma (imagem e texto disponíveis em: <http://www.net-
saber.com.br/biografias/ver_biografia_c_3108.html>. Acesso em: 25 maio 2009.
Tácito
 
Tácito (Caio Cornélio Tácito – 55-120 d.C. [?]), 
historiador Romano que cumpriu uma vasta carreira 
jurídica, atuando como questor, pretor e cônsul. 
Reconhecido por sua oratória, alcançou prestígio como 
historiador. Relatou a história de imperadores romanos 
desde Tibério até Nero. Escreveu Annales, Histórias, 
Diálogo sobre os oradores e Germânia (em que trata da 
vida e da cultura dos povos germânicos) e alguns outros 
textos (imagem e texto disponíveis em: <http://www.
netsaber.com.br/biografias/ver_biografia_c_1095.html>. 
Acesso em: 25 maio 2009).
Cícero 
Cícero (Marco Túlio Cícero – 106 a.C – 43 d.C.) nasceu 
numa antiga família da classe equestre e, chegando à 
maioridade, foi entregue aos cuidados do célebre senador 
e jurista romano Múcio Cévola, que o pôs a par das leis 
e das instituições políticas de Roma. Estudou filosofia e 
oratória. Foi questor, edil, pretor e cônsul. Com o primeiro 
Triunvirato e fora da política, voltou às atividades forense 
e literária. Foi exilado na Grécia e voltou de forma quase 
triunfal. Tentou novamente a política, mas sem tanto su-
cesso. Autor das obras: Sobre os Fins, Controvérsias Tus-
culanas, Sobre os Deveres, Os Tópicos, Os Acadêmicos, 
A Natureza dos Deuses, Sobre a Arte Adivinhatória, Sobre 
o Destino, Sobre o Orador, e as mais conhecidas: A Re-
pública, redigida em 51 a.C., e Sobre as Leis (imagem e texto disponíveis em: 
<http://www.pucsp.br/~filopuc/verbete/cicero.htm>. Acesso em: 25 maio 2009).
Claretiano - Centro Universitário
33© U1 - Historiografia, Teoria da História e Retrospectiva istoriográfica
Aristóteles 
Aristóteles Mármore pentélico (Monte Pentélico, nordeste de 
Atenas). Cópia romana do original de bronze de Lisipo. Data: 
séc. I / II a.C. Museu do Louvre, Paris (RIBEIRO JR., W. A. O 
filósofo Aristóteles (-384/-322). Portal Graecia Antiqua, São 
Carlos. Imagem: disponível em: <www.greciantiga.org/img/
index.asp?num=0348>. Acesso em: 27 maio 2009).
Beda
Beda, o Venerável (672-735), representado em um manus-
crito medieval (imagem disponível em: <saxons.etrusia.
co.uk/saxons_kings.php>. Acesso em: 27 maio 2009).
Isidoro de Sevilha
 
Isidoro de Sevilha (560-636). Óleo sobre tela, de autoria de 
Bartolomé Esteban Perez Murillo. Data aproximada: entre 
1632 e 1682 (imagem disponível em: <www.dec.ufcg.edu.
br/biografias/SaoIsidoS.html>. Acesso em: 27 maio 2009).
Marc Bloch
Marc Bloch (1886-1944) (imagem disponível em: <www.ca-
sadellibro.com>. Acesso em: 25 maio 2009).
© Historiografia e Teoria da História 34
Lucien Febvre
 
Lucien Febvre (1858-1956) (imagem disponível em: 
<www.culture.fr>. Acesso em: 25 maio 2009). 
Jacques Le Goff
Jacques Le Goff (1924) (imagem disponível em: <www.casa-
dellibro.com/img/autores/LeGoff>. Acesso em: 25 maio 2009).
Emmanuel Le Roy Ladurie
EmmanuelLe Roy Ladurie (1929) (imagem disponível em: 
<http://www.clio.fr/espace_culturel/emmanuel_le_roy_ladu-
rie.asp>. Acesso em: 27 maio 2009).
Michel Vovelle
 
Michel Vovelle (1933) (imagem disponível em: <http://sites.
univ-provence.fr/webtv/cible.php?urlmedia=vovelle_haut>. 
Acesso em: 25 maio 2009).
Claretiano - Centro Universitário
35© U1 - Historiografia, Teoria da História e Retrospectiva istoriográfica
Robert Mandrou
 
Robert Mandrou (1921-1984) (imagem disponível em: 
<http://histoireparis8.canalblog.com/images/mandrou_dou-
ble_portrait.jpg>. Acesso em: 25 maio 2009).
4. INTRODUÇÃO À UNIDADE
“Historiografia”, “pesquisas historiográficas”, “abordagens 
historiográficas” – esse termo e essas expressões lhe são familia-
res, não? Em praticamente todo o material disponibilizado a você 
até o momento e em tantos outros ainda por vir, os conceitos de 
“historiografia” e “historiográfico(a)” tornaram-se e irão se tornar 
lugar comum. Mas você apreendeu o(s) significado(s) desses ter-
mos? Saberia identificar e explicar os tipos de historiografia exis-
tentes? Esses são os propósitos desta unidade: levá-lo a identificar 
e a entender a historiografia e as suas aplicações.
Há, também, outro objetivo a ser alcançado: rever algumas 
questões já estudadas por você. Nos Cadernos de Referência de 
Conteúdos Metodologia da História I e II, você entrou em contato 
com as discussões historiográficas acerca das teorias da História a 
partir de Heródoto até os pós-modernos – estes últimos vistos bre-
vemente. Desse modo, esta unidade tem o intuito de invocar Mne-
mosine, a personificação da memória, para contextualizá-lo dian-
te do que veremos nas próximas unidades. Rememorando, ficará 
mais fácil entender os debates sobre as mudanças nos paradigmas 
da História que vêm ocorrendo nos grandes centros acadêmicos 
nacionais e estrangeiros, essencialmente nas últimas décadas. 
 É importante salientar que veremos apenas alguns ele-
mentos-chave desse processo historiográfico. Esta unidade não 
objetiva retomar todo o conhecimento já adquirido nem mesmo 
© Historiografia e Teoria da História 36
apresentar um resumo particularmente exato e pontuado de to-
das as transformações da História no decorrer dos tempos. Assim, 
leia atentamente o conteúdo ora apresentado tanto como um 
exercício mnemônico, já salientado, como também um ponto de 
partida para novas leituras e aprofundamento dos elementos em 
discussão. Para mais informações, será pertinente que recorra aos 
Cadernos de Referência de Conteúdos de Metodologia da História 
I e II e a outras bibliografias sugeridas. 
5. O QUE É HISTORIOGRAFIA?
Eis um conceito simples de se explicar: em resumo, historio-
grafia é a escrita da História. Quem dera ser realmente tão sim-
ples. Este é um daqueles momentos em que ditados populares não 
são meros clichês: “a simplicidade é complexa”. O problema reside 
no fato de que escrever a História implica considerar contextos di-
ferentes (do tema, do historiador), ideologias diversas (do histo-
riador, da editora, do público), fontes utilizadas para a pesquisa 
(escritas, orais, iconográficas), questionamentos dirigidos a essas 
fontes, teoria empregada para análise.
 Assim, é interessante que você tenha acesso a distintas 
definições de historiografia, para além daquela já citada. Vejamos 
dois casos!
“A historiografia seria assim a melhor vacina contra a inge-
nuidade” (SILVA; SILVA, 2006, p. 189).
O que apreender de uma assertiva como essa? Se aceitarmos 
que historiografia é o questionamento acerca da produção e da 
escrita da História, sobre o(s) discurso(s) dos historiadores e seus 
métodos, compreenderemos que, se conhecemos o que influencia 
os historiadores em suas escolhas de temas a abordar e na teoria 
a seguir, se conhecemos o resultado de suas pesquisas, se temos 
acesso aos erros e acertos por eles elencados, a ingenuidade não 
Claretiano - Centro Universitário
37© U1 - Historiografia, Teoria da História e Retrospectiva istoriográfica
fará parte de nossa profissão. Dito de outro modo, se conhecemos 
o historiador em seu ofício, em seu contexto e a sua produção, não 
há como ficarmos alheios à memória das sociedades. 
Uma última definição, segundo Carbonell (1987, p. 6):
O que é historiografia? Nada mais que a história do discurso – um 
discurso escrito e que se afirma verdadeiro – que os homens têm 
sustentado sobre seu passado. É que a historiografia é o melhor 
testemunho que podemos ter sobre as culturas desaparecidas, in-
clusive sobre a nossa – supondo que ela ainda existe e que a semi-
-amnésia de que parece ferida não é reveladora da morte. Nunca 
uma sociedade se revela tão bem como quando projeta para trás 
de si a sua própria imagem. 
Vamos refletir juntos sobre essa definição? Inicialmente, to-
memos a frase “nada mais que a história do discurso”, ou seja, his-
toriografia é o estudo de tudo o que já foi dito sobre um tema em 
diferentes modos, lugares e tempos. Depois, “um discurso escrito 
e que se afirma verdadeiro”, ou seja, o que foi dito deve ser con-
siderado como discurso digno de ser acatado. E, por fim, “nunca 
uma sociedade se revela tão bem como quando projeta para trás 
de si a sua própria imagem”. Em outras palavras, como não temos 
como nos desvencilhar totalmente de nossas ideologias, de nossos 
conceitos, das marcas de nosso tempo, sempre que apresentamos 
o resultado de uma pesquisa histórica, a marca de nossa época fica 
evidenciada. Resumindo, a historiografia é o produto de uma era, 
é uma construção histórica. 
Como se pode observar, trata-se de um conceito polissêmi-
co. Mas, para além do conceito, igualmente devemos considerar 
que a historiografia depende de dois elementos: da formulação de 
um problema e das fontes disponíveis. Ao levantar essas questões, 
Blanke (2006) estudou a história da historiografia e apontou dez 
tipos e três funções, conforme você pode verificar nos Quadros 1 
e 2. O autor adverte: “Os tipos que (re)construí, no entanto, pos-
suem um alcance mais amplo do que os exemplos dos quais eles 
são uma abstração” (BLANKE, 2006, p. 29). 
© Historiografia e Teoria da História 38
Quadro1 Tipos de historiografia. 
Os tipos de história da historiografia
1) História dos historiadores Pesquisas que abordam a vida e a obra de um historiador.
2) História das obras Pesquisas sobre um gênero literário (qual o estilo literário da obra).
3) Balanço geral Pesquisas que classificam os historiadores em campos específicos.
4) História da disciplina Pesquisas sobre conferências e trabalhos de instituições históricas.
5) História dos métodos Pesquisa sobre os métodos históricos.
6) História das ideias históricas Pesquisa sobre as tendências da história intelectual.
7) História dos problemas
Pesquisa sobre a história das subdisciplinas 
(Antiga, Medieval...), da relação entre a 
História e outras Ciências Sociais etc.
8) História das funções do pensamento 
histórico
Pesquisa sobre as funções sociais da 
historiografia.
9) História social dos historiadores Pesquisa da historiografia como história social.
10) História da historiografia 
teoricamente orientada
Pesquisa sobre o desenvolvimento da 
disciplina no interior de sua reflexão 
metateórica.
Fonte: BLANKE in MALERBA, 2006.
 
Quadro2 Funções da História.
As funções da história da historiografia
Função afirmativa Afirmar uma ideologia oficial.
Função crítica Críticas aos princípios ideológicos, visões de mundo, modelos tradicionais etc.
Função exemplar Oferecer material para a reflexão teórica (servir de exemplo).
Fonte: BLANKE in MALERBA, 2006.
Esses tipos e funções não serão sistematicamente analisados 
aqui. Porém, explicitá-los ajuda-nos a observar e a confirmar que a 
historiografia é mais do que a escrita da história: é a compreensão 
de todo o contexto que envolve essa escrita. 
Claretiano - Centro Universitário
39© U1 - Historiografia, Teoria da História e Retrospectiva istoriográfica
Nesta conjuntura, podemos iniciar nossa compreensão do 
que é Teoria da História.Alguns a leem mesmo como historiogra-
fia, como debate historiográfico, e muitos outros, como metodo-
logia. Igualmente, é entendida como qualquer atividade reflexiva 
do historiador. Desse modo, os conceitos de historiografia e teoria 
da História são justapostos. A historiografia, enquanto escrita da 
História, apresenta-nos concepções diferenciadas do passado de 
acordo com as teorias norteadoras do ofício do historiador, a sa-
ber: o marxismo, a nova história, a micro-história etc. 
Agora que já refletiu sobre os conceitos de historiografia, Te-
oria da História e possibilidades historiográficas, que tal iniciarmos 
nossa retrospectiva? Vamos lá!
6. A HISTORIOGRAFIA NA ANTIGUIDADE 
Antes de adentrar na produção de Heródoto e Tucídides, é 
importante entendermos o contexto no qual a escrita da História 
nasceu: aquele da oralidade e, também, da mitologia. 
Para o Grego das épocas arcaica e clássica, a palavra repre-
sentava o poder por excelência. Vejamos o que o helenista Jean-
-Pierre Vernant tem a dizer a esse respeito (o termo “Grego” é uti-
lizado aqui em maiúsculo não só para caracterizar os habitantes da 
Grécia, mas igualmente compreendendo-o como uma categoria 
que inclui homens e mulheres, crianças, jovens e adultos, todos 
incluídos dentro de um contexto social e cultural maior):
O que implica o sistema da polis é primeiramente uma extraordiná-
ria proeminência da palavra sobre todos os outros instrumentos de 
poder... A palavra não é mais o termo ritual, a fórmula justa, mas 
o debate contraditório, a discussão, a argumentação (VERNANT, 
1996, p. 34). 
Com base nessa assertiva, observamos que o logos ocupava um 
lugar central nessa época da nascente razão. Mas não nos engane-
mos: logos e mythos não eram totalmente excludentes, nem mesmo 
contraditórios. A razão, representada pelo logos, nasce do mythos. 
© Historiografia e Teoria da História 40
Mas como esse logos foi utilizado e compreendido no cerne 
da primeira História? Essa nova maneira de se narrar os aconteci-
mentos se distanciou de forma definitiva do mito?
Observemos, então, as diferenças e as similitudes entre os 
dois historiadores, que, desde a Antiguidade, estão no centro da 
discussão que tenta decidir quem é o “pai da História”.
Heródoto: ouvir, ver e escrever
Ouvir, ver e escrever. Não se trata de um ordenamento alea-
tório de verbos. Os dois primeiros podem até se alternar, porém, 
escrever vem depois. Esta era a prática de Heródoto (484-420 a.C): 
colher testemunhos (essencialmente história oral, embora tenha 
tido acesso a alguns documentos), observar regiões, pessoas, fatos 
e, posteriormente, narrá-los. Em sua obra História (2,9), ele afir-
mou: “Até aqui disse o que vi, refleti e averiguei por mim mesmo, 
a partir de agora direi o que contam os egípcios, como ouvi, ainda 
que acrescente algo do que vi” (HERÓDOTO, 1998, p. 152).
 Heródoto procurou registrar a tradição, feitos e fatos que, 
em seu entendimento, não deveriam ser esquecidos – a lembran-
ça e o conhecimento do passado como forma de reforçar a iden-
tidade dos helenos. Em sua escrita, utilizou-se do termo “logos” 
no sentido de relato, de conhecimento, de razão; tudo isso repor-
tando-se a opiniões contrastantes que nem sempre puderam ser 
comprovadas (o que se ouviu, mas não se viu). A obra História, 
nesse contexto, procura estabelecer as causas da guerra entre gre-
gos e persas apresentando uma escrita que, embora ainda traga 
elementos mitológicos, traz como novidade o relato do ocorrido, 
de fatos concretos, de feitos de homens, e não histórias mitológi-
cas, feitos heroicos e/ou divinos, de um mundo abstrato.
 Por essa inovação, Heródoto foi considerado o “pai da Histó-
ria” já na Antiguidade, título atribuído a ele por Marco Túlio Cícero 
(106-43 a.C.) em De Legibus – Das Leis, (1,1,5). Porém, apenas nos 
tempos modernos, tal honraria estabeleceu-se definitivamente.
Claretiano - Centro Universitário
41© U1 - Historiografia, Teoria da História e Retrospectiva istoriográfica
Tucídides: a busca da verdade do que se vê
Segundo Detienne (1998, p. 105), “O ouvido é infiel e a boca 
é sua cúmplice. Frágil, a memória é igualmente enganadora: ela 
seleciona, interpreta, reconstrói”. 
Tomamos por empréstimo essas palavras do helenista Mar-
cel Detienne por acreditarmos que ela representa bem a repulsa 
de Tucídides em relação à escrita de Heródoto. Diferentemente 
deste, Tucídides preocupou-se com as causas imediatas. Atentou-
-se para o presente, narrou o que viu, acreditava no que estava 
diante dos olhos. O passado, para ele, mostrava-se como boatos: 
fulano disse que ouviu de sicrano o ocorrido com beltrano na terra 
de alguém. Para o autor de Guerra do Peloponeso, memória sem 
provas não é História. 
Por que devo vos falar de acontecimentos muito antigos quando 
estes são atestados antes por boatos que circulam (akoaí) do que 
pelo que se viu com seu olhos aqueles que nos ouvem (TUCÍDIDES, 
I, 73, 2).
Resumindo, algumas das principais diferenças entre Heródo-
to e Tucídides são: o primeiro privilegia o resgate da tradição, e 
o segundo, o registro do presente com o pensamento focado no 
futuro; Heródoto é considerado mais romântico, enquanto Tucídi-
des, mais realista. As diferenças também podem ser observadas na 
escolha das fontes: o primeiro elege as fontes orais, e o segundo, 
não vendo credibilidade nestas, descarta-as. 
Outros nomes podem e devem ser citados para esse período 
da historiografia: Aristóteles, Políbio, Salústio, Tácito e Cícero.
Vale ressaltar aqui a diferença estabelecida por Aristóteles 
entre História e poesia. Reproduziremos, a seguir, uma das mais 
famosas passagens desse autor em que esclarece este binômio 
contrário: 
Não é ofício de poeta narrar o que aconteceu; é, sim, o de repre-
sentar o que poderia acontecer, quer dizer: o que é possível segun-
do a verossimilhança e a necessidade. Com efeito, não diferem o 
historiador e o poeta por escreverem verso ou prosa (...) – diferem, 
sim, em que diz um as coisas que sucederam, e outro as que pode-
© Historiografia e Teoria da História 42
riam suceder. Por isso, a poesia é algo de mais filosófico e mais sério 
do que a História, pois prefere aquele principalmente o universal, e 
esta o particular (ARISTÓTELES. 2003, 9, 50).
De forma bem esclarecedora, assim Funari e Silva (2008, p. 
23) se expressam acerca desta afirmação: 
Aristóteles aponta como característica essencial da História sua 
preocupação com o efêmero, com o acontecimento que não se 
pode repetir e que, por isso mesmo, nada nos pode ensinar sobre a 
natureza humana ou mesmo do mundo. O particular, por definição, 
nada revela. 
É bom e temeroso poder discordar de alguém como Aristó-
teles. Mas o desenvolvimento da História como disciplina e como 
teoria veio nos mostrar que o particular diz muito sobre homens e 
sobre o mundo, assim como sobre os homens no mundo.
7. A HISTORIOGRAFIA NO MEDIEVO
A Historiografia no Medievo está intrinsecamente ligada ao 
Cristianismo. Basta lembrar, com o auxílio dos Cadernos de Refe-
rência de Conteúdos História Medieval I e II, que, durante muito 
tempo, a Igreja foi a detentora do saber. Nesse período, os ho-
mens, suas obras e os acontecimentos só ganhavam importância 
se vistos como resultados dos desígnios divinos. 
 Essa historiografia produziu genealogias, anais (reais e mo-
násticos) e cronologias de acontecimentos sucedidos nos reinados 
dos seus senhoris ou da sucessão de abades. Nos documentos, en-
contramos, igualmente, hagiografias e biografias de reis. Os textos 
ainda podiam exaltar uma dinastia como condenar aqueles que 
não seguiam os preceitos do Cristianismo. 
 A escrita dessas fontes estava sob a responsabilidade de 
hagiógrafos, cronistas, integrantes do clero episcopal ligados ao 
poder e por monges. Como exemplo dessa historiografia, citamos: 
História Eclesiástica do Povo Inglês, do século 8, de autoria de 
Beda, o Venerável, e Etimologias, de Isidoro de Sevilha.
Claretiano - Centro Universitário
43© U1 - Historiografia,Teoria da História e Retrospectiva istoriográfica
8. A HISTORIOGRAFIA NOS SÉCULOS 18 E 19
É contraproducente unir as historiografias dos séculos 18 e 19 
num mesmo tópico. Pode parecer que as continuidades e permanên-
cias são superiores às descontinuidades e rupturas no interior da es-
crita da História. No entanto, essa junção aqui realizada justifica-se por 
dois motivos: primeiro, não é a passagem de um século para o outro 
(temporalmente falando) que modifica as estruturas e, em segundo 
lugar, porque o século 19 pode ser entendido como um momento de 
concreção e reação ao que foi divulgado no século precedente.
Observe os tópicos a seguir:
1) Avanço do Iluminismo → Nova roupagem das Universi-
dades → Surgimento da Filologia.
2) Filologia Histórica: conhecimento mais rigoroso e aprofun-
dado das línguas antigas → conhecimento das fontes mais 
objetivo.
3) Conhecimento mais objetivo do passado → início do 
positivismo historiográfico: crítica textual que visava sa-
ber se os documentos eram verdadeiros e fidedignos: 
descrição factual precisa. A História, desse modo, surge 
como um conjunto de fatos que existem nos documen-
tos. Basta extraí-los. Há um rompimento com a escrita 
da História de tradição literária (fácil de ler) rumo a um 
discurso árido e douto. Seus principais representantes: 
Barthold Georg Niebuhr e Leopold Von Ranke.
4) Revue Historique (1876) – surgimento da Escola Metódi-
ca: autores associados a essa escola estavam preocupa-
dos com a escrita da história nacional e o estabelecimen-
to da identidade da nação. Para tanto, exigiu-se um rigor 
metódico, o afastamento da parcialidade, da especulação 
e da não objetividade para se contar como a história re-
almente aconteceu. Dois de seus representantes são: Ga-
briel Monod e Gustave C. Fagniez. Veja informações com-
plementares sobre a Revue Historique no quadro a seguir.
5) Karl Marx e a concepção dialética da História: a história 
de toda sociedade é a história da luta de classes; a revo-
© Historiografia e Teoria da História 44
lução é a força motriz da História. A vida social, política e 
intelectual é condicionada ao modo de produção da vida 
material (materialismo).
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
Informações complementares sobre a Revue Historique ––––
Em 1870, ocorreu a derrota do exército francês na guerra franco-prussiana. 
Com essa derrota, a França sentiu a necessidade de reescrever sua história 
e de construir sua identidade. O pensamento histórico alemão teve grande 
influência nesse contexto. Dentre os autores mais conhecidos desse período, 
citamos: Gabriel Monod, Charles Seignobos e Ernest Lavisse. Todos eles, ao 
lado de Theodor Mommsen, serviram de modelo e inspiração para as gerações 
posteriores de historiadores franceses.
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
9. O SÉCULO 20 E OS ANNALES
Segundo Burke (1991, p. 127):
Da produção intelectual, no campo da historiografia, no século XX, 
uma importante parcela do que existe de mais inovador, notável e sig-
nificativo origina-se da França. A historiografia jamais será a mesma.
É assim que Peter Burke inicia e finaliza o seu livro A Revolu-
ção Francesa da Historiografia: a Escola dos Annales, 1929-1989, 
em que descreve e analisa as três gerações do movimento inte-
lectual francês associadas à revista Annales (o primeiro título da 
revista foi Annales d’histoire économique et sociale [1929]), que 
teve como seus principais representantes Marc Bloch, Lucien Fe-
bvre, Fernand Braudel, Georges Duby, Jacques Le Goff, Emmanuel 
Le Roy Ladurie, Ernest Labrousse, Pierre Vilar, Maurice Agulhon, 
Michel Vovelle, entre tantos outros.
 A última assertiva da citação anterior não é fortuita ou 
mero chavão. Reflete bem a prática historiográfica dos membros 
dos Annales, que objetivaram suprir a tradicional narrativa de 
acontecimentos por uma história-problema, como também deixar 
de fazer apenas a história política e abordar a história de todas as 
atividades humanas e, por fim, estabelecer uma relação profícua 
com outras disciplinas das Ciências Sociais, como a Antropologia, 
Claretiano - Centro Universitário
45© U1 - Historiografia, Teoria da História e Retrospectiva istoriográfica
a Sociologia, a Geografia etc. As massas anônimas e seus modos 
de viver, sentir e pensar foram analisados nesse contexto de in-
terdisciplinaridade. No entanto, vale ressaltar que essa escola não 
formou um grupo monolítico, executando uma historiografia uni-
forme. Bem pelo contrário. As diferenças podem ser observadas 
no interior das três fases (ou gerações) desta escola: 
1ª geração de 1920 a 1945
História enquanto ciência do homem: há uma separação en-
tre os conceitos de História e passado. O que se procura entender 
é a história do passado e não o passado em si, que é compreendi-
do como uma construção histórica. Seus maiores representantes 
foram Marc Bloch e Lucien Febvre.
2ª geração de 1945 a 1968
O que se aspirava era uma prática histórica mais aberta, ou 
seja, que abordasse os campos social, econômico, cultural, geográ-
fico e religioso, em suas diferentes temporalidades e diversas pers-
pectivas. Dito de outro modo: aspirou-se por uma história total. 
Fernand Braudel representa exemplarmente essa geração.
3ª geração de 1968... 
Fase também conhecida por História Nova ou Nova Histó-
ria. Essa geração particularmente nos interessa, pois os questiona-
mentos apresentados no decorrer deste Caderno de Referência de 
Conteúdo são oferecidos a nós pelos integrantes desse grupo ou 
por estudiosos que questionaram os paradigmas da história a par-
tir das discussões desse grupo. Por esse motivo, um item separado 
abordará o tema.
10. A NOVA HISTÓRIA
Três processos caracterizam a terceira geração: a assimilação 
definitiva de novos problemas, novas abordagens e novos objetos. 
© Historiografia e Teoria da História 46
Temas como mulher, sexualidade, prisão, doença, sonho, corpo 
e morte são estudados não somente sob a luz da História, mas 
igualmente na sua relação com a Antropologia, a Psicologia e a 
Sociologia. 
 Ocorre um distanciamento acentuado em relação à histó-
ria política tradicional. A questão da unidade do objeto e a possi-
bilidade concreta de uma história total também foram deslocadas. 
Não existe mais o homem, mas os homens, e não mais história, 
mas histórias.
 Então, a atenção voltou-se para o sótão, deixando-se o po-
rão (o material) para trás, ou seja, as mentalidades ressurgiram 
com nova roupagem nos estudos históricos acadêmicos. Philip-
pe Ariès foi, talvez, o maior responsável por esse retorno; Robert 
Mandrou, pela divulgação; e Jacques Le Goff, Georges Duby, Em-
manuel Le Roy Ladurie e Michel Vovelle, pela aplicação dos estu-
dos das mentalidades.
De acordo com Chartier (1990, p. 14-15):
[...] as atitudes perante a vida e a morte, as crenças e os compor-
tamentos religiosos, os sistemas de parentesco e as relações fa-
miliares, os rituais, as formas de sociabilidade, as modalidades de 
funcionamento escolar etc [...] Sob a designação de história das 
mentalidades ou de psicologia histórica delimitava-se um novo 
campo [....]
 Mas esses objetos carecem de uma abordagem apropriada. 
Como você analisaria essas temáticas no tempo, melhor dizendo, a 
uma primeira vista? Acredita ser capaz de reconhecer as atitudes 
perante a morte num breve espaço de tempo? Os adeptos da his-
tória das mentalidades não apostaram nessa possibilidade. Houve 
um aprofundamento nas pesquisas de longa duração: “[...] tempos 
das estruturas, tempo quase imóvel da relação entre o homem e a 
natureza” (VAINFAS, 1997, p. 134). 
 Mas essa história foi rebatida: se não há o homem, no sin-
gular, se não há a história, também no singular, igualmente não 
há uma única forma de pensamento que caracterize o homem na 
Claretiano - Centro Universitário
47© U1 - Historiografia, Teoria da História e Retrospectiva istoriográfica
história, mas diferentes modos de viver, sentir e pensar para dife-
rentes homens e passados.É óbvio, e você já estudou em outros Cadernos de Referên-
cia de Conteúdos, que a Nova História não se resumiu à História 
das Mentalidades. O que se deu após as críticas direcionadas a 
ela será o tema das outras unidades a seguir. Para finalizar, a sua 
atenção, nesse momento, deve voltar-se para o fato de que, com 
a introdução de novos problemas, novas abordagens e novos ob-
jetos nos estudos historiográficos, o próprio conceito de História 
mudou, o modo de se contar a história mudou, e a sua relação com 
outras disciplinas também. São essas transformações que veremos 
mais adiante.
 Uma última consideração importante à compreensão dos 
conteúdos futuros: nessa terceira geração, não houve a predomi-
nância de um grupo à frente dos demais estudiosos, não houve 
mais a prevalência da língua francesa nos estudos, como também 
a própria França deixou de ser o centro do pensamento histórico. 
Autores de outras línguas e outras regiões entraram no embate 
contra a “velha” História. 
Para Falcon (1997, p. 111):
Batizada de nouvelle histoire, essa historiografia compreende his-
toriadores cujas trajetórias intelectuais e políticas podem ser muito 
distintas entre si, tal como a maneira de cada um deles encarar a 
disciplina histórica e seu ofício.
11. TEXTO COMPLEMENTAR 
Os fragmentos a seguir versam sobre o único tratado da An-
tiguidade sobre a historiografia. Eles fazem parte de um artigo es-
crito por André L. Lopes. 
A leitura desses fragmentos levará a conhecer um pouco mais 
sobre a temática discutida até aqui. Observe o que o historiador 
antigo fala sobre a escrita da História. Algumas de suas colocações 
vêm ao encontro do que estamos estudando. Observe, também, o 
© Historiografia e Teoria da História 48
que ele fala sobre a verdade. Esse tema ainda será estudado nas 
demais unidades. 
Para auxiliá-lo numa reflexão crítica sobre a historiografia, 
após alguns fragmentos, foram inseridos comentários direcionan-
do a leitura. Sugerimos que após essa leitura dirigida, você busque 
pelo artigo na íntegra e elabore seu próprio bloco de anotações. 
O artigo pode ser consultado na íntegra no site disponível em: 
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0101-
-90742005000200008&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 4 jun. 2010.
Moralidade e justiça na historiografia antiga: o ‘manual’ 
historiográfico de Luciano de Samósata –––––––––––––––––
Na Antigüidade se inventou a história, e foi pródiga em produções historiográ-
ficas, bastante econômica em reflexões sobre essa novidade. Se existem refe-
rências a algumas obras antigas que parecem tratar da historiografia – como, 
por exemplo, o tratado de Teofrasto, Perì Historías (Sobre a história), do qual 
conhecemos apenas o título, ou o livro de Praxífanes citado por Amiano Marceli-
no em sua Vida de Tucídides –, essas obras estão hoje completamente perdidas 
e especular sobre seu conteúdo seria perda de tempo. Aliás, é significativo que 
nenhuma obra sobre a história seja citada nas bibliografias dadas por Diógenes 
Laércio em Vidas e doutrinas dos filósofos ilustres. 
O silêncio dos filósofos antigos sobre a historiografia é quase completo. Mesmo 
Aristóteles, tão prolífico a respeito de todos os campos do conhecimento, a igno-
ra em toda a sua extensa obra. As únicas aparições da história no extenso corpus 
do filósofo de Estagira são duas passagens da Poética, nas quais é rejeitada em 
favor da poesia, e uma breve recomendação, na Retórica, aos políticos que leiam 
história para ampliar seus conhecimentos. 
Encontramos algumas reflexões sobre a historiografia nas obras dos próprios 
historiadores. Mas, na maior parte das vezes, essas reflexões são fragmentárias, 
estão inseridas em polêmicas com outros historiadores ou trata-se de simples 
elogios retóricos da historiografia. Na verdade, a mais completa investigação 
antiga sobre a historiografia encontra-se em um pequeno tratado da autoria de 
Luciano de Samósata, um escritor satírico nascido na Síria no século II da Era 
Cristã: Como se deve escrever a história, a única obra antiga inteiramente dedi-
cada à historiografia de um ponto de vista teórico que conhecemos. 
Comecemos, portanto, pelo próprio ineditismo da obra: por que Luciano resolveu 
escrever uma teoria da história? Por que escrever um tratado que nenhum outro 
escritor da Antigüidade tivera necessidade ou interesse em escrever? 
Como se deve escrever a história, além de um “manual metodológico”, é um 
“panfleto literário”, ou seja, uma obra destinada à crítica de uma prática literária 
que Luciano não via com bons olhos. Dos 63 parágrafos do texto, Luciano de-
dica 19, quase um terço da obra, a exemplos de maus historiadores (§§ 14-32). 
Essa mesma técnica, “como não fazer” (crítica cômica) e “como fazer” (preceitos 
sérios), foi usada por ele em diversos outros panfletos do mesmo tipo como, 
Claretiano - Centro Universitário
49© U1 - Historiografia, Teoria da História e Retrospectiva istoriográfica
por exemplo, em Mestre de retórica – “como não ser bem-sucedido na retórica 
e como sê- lo” – e em Lexífanes – “como não reviver palavras áticas e como 
fazê-lo”. No entanto, Como se deve escrever a história se destaca dentre todos, 
pois apenas nele a caricatura não é a principal preocupação do texto e “a balan-
ça é mais ou menos equilibrada”:
2 
contrapondo-se aos 19 parágrafos dedicados 
à crítica cômica dos maus historiadores, 27 são destinados aos ensinamentos 
prescritivos sobre a história (§§ 34-60). 
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
Observe este pequeno resumo da obra onde o autor do ar-
tigo descreve alguns elementos do texto analisado. É interessante 
constatar que a crítica historiográfica já era utilizada nos primór-
dios da escrita da História. 
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
Sendo uma obra de crítica, Como se deve escrever a história estava, portanto, 
vivamente inserida na prática historiográfica do século II d.C.. O que não significa 
necessariamente que os vários exemplos ridículos de histórias e historiadores 
citados por Luciano tenham realmente existido. O próprio Luciano parece extre-
mamente irônico ao garantir a veracidade das histórias por ele criticadas: 
Dir-lhes-ei então, em detalhes, o quanto me lembro haver ouvido alguns his-
toriadores dizerem recentemente na Jônia, e agora mesmo na Acaia, des-
crevendo essa mesma guerra. E, em nome das Graças, que ninguém deixe 
de acreditar no que vou dizer. Pois eu juraria por sua veracidade, se fosse 
próprio inserir um juramento em um tratado. 
É provável que diversos historiadores estivessem ativos na época em que Lu-
ciano escreveu e que novas histórias da guerra entre os romanos e os partos 
fossem publicadas – ou recitadas – com freqüência. Já no séc. I a.C., [...] No en-
tanto, nada impede que Luciano tivesse criado histórias e historiadores “ideais”, 
que se encaixassem melhor nos pontos que ele critica. A crítica aos maus histo-
riadores se mantém, mesmo que todos os historiadores criticados sejam criação 
do crítico. E a crítica é necessária, pois o que Luciano busca é uma história justa 
(historías dikaías). A verdade, um dos traços mais importantes da historiografia 
desde o seu início na Grécia, em Luciano não é senão o instrumento que conduz 
ao justo. “É necessário” escrever a história “com o verdadeiro”: “eis sua régua e 
seu fio de prumo para uma história justa”.
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
História justa... verdadeira – eis a proposta de Luciano. Para 
elaborar essa crítica, o autor parte do pressuposto de que mui-
tas histórias estão fantasiadas; não narram o que realmente teria 
acontecido. Muito disso estava relacionado ao contexto no qual 
o historiador estava inserido (funcionário de governo, funcionário 
direto ou escravo do imperador etc.). Podemos dizer que hoje em 
dia também é necessário considerar o lugar do historiador?
© Historiografia e Teoria da História 50
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
Para Luciano, o poder romanoera uma constatação evidente e explícita: nin-
guém se atreveria a combatê-lo, pois ele já havia submetido e conquistado todos 
os povos. Com efeito, a época da vida de Luciano, o século II d.C., foi o auge do 
poderio imperial romano, o período dos Antoninos, e a dificuldade de se escrever 
uma história justa era que a maioria dos historiadores, “negligenciando contar 
o que ocorreu [os eventos], gastam seu tempo no elogio dos chefes e dos ge-
nerais, elevando os nossos até as nuvens e depreciando os do inimigo além de 
toda a medida”.
Tratava-se, portanto, de mais do que um panfleto literário. Como se deve escre-
ver a história era, também, um panfleto anti-romano. E a crítica era feita em um 
campo que, para a maior parte dos antigos, era naturalmente político, a historio-
grafia: 
[...] como o judeu Flávio Josefo traduziu a história da guerra judaica em gre-
go para formar um contraste com o florescimento da mentirosa historiografia 
filo-romana, assim – mais ou menos um século mais tarde – o sírio Luciano 
reagiu com o opúsculo Como se deve escrever a história na ocasião da 
explosão de uma historiografia filo-romana que floresceu a partir da euforia 
provocada pelas vitórias de Lúcio Vero. 
Luciano, embora não critique os romanos diretamente nem uma vez, resume 
seus preceitos para a história dizendo que é necessário escrever a história “com 
o verdadeiro […] mais do que com a adulação [kolakeía]”.
 
Portanto, o alvo das 
críticas de ambos eram os historiadores aduladores, intelectuais que estavam 
mais preocupados com os favores dos poderosos do que com a narrativa dos 
eventos ou com o rigor histórico, as preocupações de um verdadeiro historiador. 
Além disso, ao escrever em grego, ambos os autores visavam, evidentemente, 
a um público que falava grego e, certamente, suas críticas eram dirigidas aos 
historiadores que escreveram histórias romanas em grego. Ora, qual seria a re-
lação possível entre esses intelectuais gregos e seus senhores romanos senão 
a adulação e a troca de favores? 
Podemos ler, assim, em Luciano, uma forte oposição entre a verdade que a his-
tória deveria possuir e a adulação que, na maior parte dos casos, era o que se lia 
nas narrativas dos historiadores. A oposição central do Como se deve escrever 
a história não é, portanto, entre verdade e mentira, como poderíamos pensar 
inicialmente; é entre verdade e adulação, pois a história era um assunto político 
que exigia imparcialidade e justiça. 
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
Verdade x mentira... história x ficção? Será que podemos 
fazer tal associação? Se a adulação não é uma escrita justa e ver-
dadeira, ela não pode ser estudada como um produto de uma si-
tuação? Em outras palavras, por que adular? A quem atingir com 
o texto? Sabendo que muitos escritores antigos trabalhavam dire-
tamente ligados a órgãos do governo, como analisar a produção 
deles? Que cuidados tomar quando da análise desse tipo de do-
cumento?
Claretiano - Centro Universitário
51© U1 - Historiografia, Teoria da História e Retrospectiva istoriográfica
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
A única ação possível para Luciano contra o poder invencível de Roma e seus 
aduladores era a crítica. Em diversas obras de Luciano os filósofos cínicos – 
como Diógenes, Crates, Menipo e outros – são encarregados dessa crítica que, 
mesmo cômica e caricatural, não perde sua mordacidade. Eles são os médicos 
das paixões – as doenças da mente humana – e o próprio Luciano, pela boca de 
Diógenes, nos diz qual a função do crítico cínico: “Sou um libertador de homens 
e um médico de suas paixões; para dizer tudo, quero ser um profeta da verdade 
e da franqueza.”
 
Não se pode deixar de observar que quase todas essas virtudes aparecem na 
definição do historiador ideal em Como se deve escrever a história: 
Assim, pois, para mim, deve ser o historiador: sem medo, incorruptível, livre 
[eleútheros], amigo da franqueza [parresías] e da verdade [alétheias]; como 
diz o poeta cômico, alguém que chame os figos de figos e a gamela de 
gamela; alguém que não admita nem omita nada por ódio ou por amizade; 
que a ninguém poupe, nem respeite, nem humilhe; que seja juiz equânime, 
benevolente com todos até o ponto de não dar a um mais que o devido; 
estrangeiro nos livros, sem cidade, independente [autónomos], sem rei, não 
se preocupando com o que achará este ou aquele, mas dizendo o que se 
passou. 
Assim, vemos que, para Luciano, o historiador deve ser uma espécie de filósofo 
cínico, livre e sem medo de ser sincero. Mais uma vez, é possível ligar essa pas-
sagem ao problema da adulação: se o historiador cometesse o erro de bajular os 
poderosos, estaria abdicando de sua liberdade e de sua auto-suficiência. 
Para todos os lados que se olhe, a adulação surge como um pecado a ser evi-
tado. Como a adulação não devia ter espaço em uma obra de história, Luciano, 
para criticar esse vício, escreveu um panfleto com a forma de uma teoria da 
história. Em Como se deve escrever a história, os aspectos teóricos do tratado 
estão a serviço da intenção crítica; uma crítica surgida das necessidades políti-
cas do presente. Se a circunstância da guerra e das histórias adulatórias que ela 
gerou não ocorresse, imagino que Luciano não teria escrito um tratado sobre a 
história. 
Segundo Luciano, seus conselhos funcionavam “de uma maneira dupla”; ensina-
vam os historiadores “a escolher isso e evitar aquilo”. Assim, ele começa a parte 
teórica de seu tratado catalogando “os vícios que seguem nos calcanhares dos 
historiadores medíocres” e ensinando, precisamente, como não se deve escre-
ver a história. 
Não à toa, dada a insistência de Luciano contra a adulação, a primeira distinção 
feita por ele é entre a história e o panegírico: com efeito, os historiadores “igno-
ram que não é um istmo estreito que delimita e separa a história do panegírico 
[enkómion], mas que há entre os dois uma grande muralha e, como dizem os 
músicos, uma distância de duas oitavas”.
A posição de Luciano nessa guerra entre a filosofia e a sofística é clara: ele se 
posiciona contra a retórica vazia, simples discursos de aparato, sem conteúdo. 
Luciano começou sua carreira como orador e nunca deixou de sê-lo, mas voltou 
o arsenal da retórica e da sofística contra os filósofos, sofistas, historiadores, 
gramáticos ou qualquer outro que considerasse hipócrita ou mentiroso. 
A retórica, para Luciano, deveria ser uma retórica idealizada que seguisse “as 
pegadas de Demóstenes, Platão e alguns outros”. Mas a retórica dos antigos 
não existia mais; fora substituída por uma retórica das aparências, simples or-
© Historiografia e Teoria da História 52
namento sem conteúdo ou utilidade. Restava apenas o “outro caminho”, trilhado 
por “muita gente”.
 
Esse era o caminho da retórica “moderna”, o caminho trilhado 
pelos “segundos” sofistas, biografados por Filóstrato, que visavam apenas a ga-
nhos materiais. 
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
É interessante observar que Luciano propôs uma escrita his-
toriográfica que seguisse as pegadas da Filosofia. Nesse contexto, 
a mitologia e a poesia seriam vistas como instrumentos utilizados 
pelos “aduladores”? Escrever com raciocínio e retórica com con-
teúdo. É nesse caminho que seguem os historiadores contempo-
râneos?
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
Juntamente com a retórica sem conteúdo, Luciano renega o prazer dos discursos 
e não lhes permite um lugar na história. No entanto, os maus historiadores acha-
vam que era possível distinguir entre o prazeroso e o útil quando se tratava de 
história. “Por essa razão”, prossegue, eles “trazem elogios para ela [a história], 
para dar prazer e divertimento aos leitores”. Eles não sabem quão longe estão 
da verdade, pois “a história tem uma única tarefa e um único objetivo – o que é 
útil – e isso deriva somente da verdade”. Por isso, os historiadores “não pode[m] 
admitir uma mentira, mesmo em pequenas doses”, enquanto os oradores de suaépoca não se importavam em mentir para obter seus resultados: o prazer dos 
ouvintes, a fama e a fortuna resultantes do sucesso na carreira declamatória. 
No entanto, Luciano concede que possa haver lugar para elogios em uma obra 
historiográfica, desde que eles sejam controlados pelo interesse da posteridade 
e pela utilidade. Tanto os elogios (épainoi) quanto as censuras (psógoi) deviam 
ser “cuidadosos e bem considerados, livres de contaminação pelos informantes, 
suportados pela evidência [metà apodeíxeon], curtos e não inoportunos, pois os 
envolvidos não estão sendo acusados no tribunal”.
Ou seja, há um lugar para o elogio na historiografia, desde que “seja feito na 
hora certa e que se mantenha dentro de limites razoáveis”.
 
O grande problema, 
portanto, não parece ser o elogio em si, mas o exagero do seu uso. Além disso, 
quando Luciano diz que o elogio na historiografia deve se basear em evidências 
(metà apodeíxeon), mostra a antiga filiação daquela com a verdade e afasta-a 
ainda mais da retórica epidítica. Com efeito, assim como a apódeixis da retórica 
aristotélica, a história deveria partir de fatos verdadeiros e mostrar sua causa. 
Isto fica bem claro no prefácio de Heródoto: 
[...] esta é a demonstração da investigação [historíes apódexis] de Heródoto 
de Halicarnasso, para que nem as coisas feitas pelo homem se apaguem 
com o tempo, nem que as grandes e maravilhosas obras, algumas realiza-
das [apodechthénta, i.e., demonstradas] pelos gregos, outras pelos bárba-
ros, se tornem inglórias, tanto em outros respeitos, quanto sobre a causa 
[aitíen] pela qual eles moveram guerra uns contra os outros. 
Ou seja, Heródoto partiu de um acontecimento – a guerra contra os persas – e 
tentou demonstrar (apódeixis) sua causa (aitía), mediante um procedimento ba-
seado na investigação (historía). 
Claretiano - Centro Universitário
53© U1 - Historiografia, Teoria da História e Retrospectiva istoriográfica
O uso de procedimentos retóricos na elaboração da narrativa histórica era ab-
solutamente natural e necessário para Luciano – que, não podemos esquecer, 
teve ampla formação retórica. A “retórica historiográfica” proposta por Luciano 
(e levada a cabo por Heródoto e Tucídides), no entanto, se afastava da retórica 
exibicionista dos sofistas de seu tempo e se aproximava da retórica filosófica de 
Aristóteles. Tratava-se de partir dos acontecimentos, verdadeiros e evidentes, e 
demonstrá-los. Mas nunca se poderia esquecer que a história “tem uma única 
tarefa e um único objetivo – a utilidade – e isso deriva apenas da verdade”.
 
To-
dos os procedimentos retóricos utilizados na elaboração historiográfica deveriam 
estar sujeitos a isso. 
Por fim, creio que vale a pena examinarmos uma pequena metáfora utilizada 
por Luciano em seu manual. Segundo o sírio, o historiador deve deixar que sua 
inteligência seja “semelhante a um espelho impoluto, brilhante, preciso quanto a 
seu centro – e, qualquer que seja a forma dos fatos que recebe, assim os mostre, 
sem nenhuma distorção, diferença de cor ou alteração de aspecto”.
A referência à mente do historiador como um espelho que reflete os fatos é bas-
tante interessante. Pois o espelho, por mais centrado e impoluto que seja, reflete 
uma imagem parecida com a original, mas que guarda algumas diferenças des-
sa. A mais evidente dessas diferenças é a inversão que se efetua na superfície 
do espelho entre direita e esquerda – e os antigos jamais deixaram de percebê-
-la. Platão, por exemplo, cita diversas vezes esse fenômeno. 
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
Muitos autores antigos, modernos e contemporâneos fi-
zeram uso da metáfora do espelho. Procure saber mais sobre os 
significados tomados por esse utensílio tão precioso aos homens. 
Perceberá que, muito mais do que refletir, ele pode deturpar uma 
realidade. As fontes históricas também não cumprem esses pa-
péis?
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
Isso poderia significar que o historiador sempre vai acrescentar algo aos fatos, 
malgrado sua precisão e imparcialidade? Talvez. Mas creio que isso seria ler Lu-
ciano pensando em Hayden White. Luciano, como todos os antigos, acreditava 
na possibilidade de “narrar a história tal como ela aconteceu”.
 
Além do que, não 
podemos esquecer que o espelho criticado por Platão e Aristóteles é o objeto, 
o disco metálico que reflete imagens. Na literatura grega, no entanto, o espelho 
aparece quase sempre com um sentido figurado. E esse sentido sempre se re-
flete sobre o plano moral....
A única tarefa do historiador é contar o que aconteceu. Quando um homem vai 
escrever história, deve ignorar todo o resto. 
Vê-se novamente nessa passagem a questão da verdade da historiografia opos-
ta à adulação dos poderosos. Como já dissemos antes, essa é a oposição central 
em Como se deve escrever a história. 
Ao utilizar o espelho como metáfora para a mente do historiador, creio que Lu-
ciano estava, como nos demais exemplos citados, ressaltando o aspecto moral e 
ético da história. Pois se o espelho reflete tanto o certo quanto o errado, é tarefa 
© Historiografia e Teoria da História 54
do historiador refletir, dentre as imagens que sua mente vê nos acontecimentos, 
aquelas que são justas. Se o historiador pretende que sua história seja justa, se 
pretende que sua obra tenha alguma utilidade para o futuro e possa ser, como 
Tucídides “legislou”, “um tesouro [ktêmá] para sempre”,
 
ele não pode dar espaço 
para a adulação ou para os excessos da poesia. Sua obra deve ser uma história 
verdadeira e digna de confiança, que ensine e eduque os homens do futuro com 
os acontecimentos do presente, para que, quando os acontecimentos, devido à 
natureza humana, venham a se repetir, eles estejam preparados para agir me-
lhor. 
Notas 
* 
Professor de Teoria da História e Historiografia no Depto. de História da Uni-
versidade Estadual de Goiás – UEG, Formosa, GO. CEP 73802-000. e-mail: 
a.lemelopes@gmail.com 
1 
Como se deve escrever a história, 2. Luciano se refere à guerra iniciada pelo rei 
parto Vologésio IV na primavera do ano 162 e vencida pelo co-imperador Lúcio 
Vero quatro anos depois (o triunfo foi celebrado em 12 de outubro de 166). A 
edição consultada para as obras de Luciano é Lucian in eight volumes. Londres, 
Cambridge, Mass.: William Heinemann, Harvard University, 1913-1959; as tradu-
ções, exceto quando indicado, são minhas. 
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
12. QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS
Sugerimos que você procure responder, discutir e comentar 
as questões a seguir, que tratam da temática desenvolvida nesta 
unidade, ou seja, da revisão sobre a historiografia no decorrer da 
História. 
A autoavaliação pode ser uma ferramenta importante para 
você testar o seu desempenho. Se você encontrar dificuldades em 
responder a essas questões, procure revisar os conteúdos estuda-
dos para sanar as suas dúvidas. Esse é o momento ideal para que 
você faça uma revisão desta unidade. Lembre-se de que, na Edu-
cação a Distância, a construção do conhecimento ocorre de forma 
cooperativa e colaborativa; compartilhe, portanto, as suas desco-
bertas com os seus colegas.
Confira, a seguir, as questões propostas para verificar o seu 
desempenho no estudo desta unidade:
1) Quais são as principais diferenças constatadas nos conceitos de historiogra-
fia citados no corpo do texto?
Claretiano - Centro Universitário
55© U1 - Historiografia, Teoria da História e Retrospectiva istoriográfica
2) Quais são as diferenças pontuais encontradas nos conceitos de História de 
Heródoto, Tucídides e Aristóteles?
3) Qual(ais) foi(ram) a(s) real(is) contribuição(ções) do grupo dos Annales?
4) Releia o conteúdo sobre a Nova História nos Cadernos de Referência de Con-
teúdos Metodologia da História I e II, pesquise sobre o tema em livros e sites, 
e escreva um texto que contenha as principais características desse grupo.
5) O que ficou sem uma compreensão mais apurada? Releia e tente sanar suas 
dúvidas. 
13.CONSIDERAÇÕES
Você estudou, nesta unidade, os diferentes conceitos de his-
toriografia e viu que o conceito de Teoria da História é pratica-
mente indissociável. O fato de esses conceitos serem polissêmicos 
indica que as definições são construções históricas, ou seja, a es-
crita da História e tudo o que isso implica, é fruto de uma época 
e reflete a forma de pensamento característica dessa época. Ao 
mesmo tempo, com essa constatação, um problema é apresen-
tado: podemos afirmar que há uma única forma de pensamento 
característica de um período? A resposta leva-nos a um esforço 
de reflexão que nos convida a compreender a nossa própria con-
cepção de História e de método histórico. A saída mais pondera-
da para tamanha dificuldade é conhecer as diferentes dinâmicas 
históricas que se apresentarão na sequência e, a posteriori, nos 
engajarmos nos conceitos que mais se evidenciam pertinentes às 
nossas próprias ideias. 
Você igualmente foi convidado a recorrer à sua memória e 
rever alguns pontos-chave das diferentes etapas do estudo e da 
produção historiográfica. Viu, ainda, que o conceito de História foi 
modificado no tempo e espaço e foi embutido de ideologias, des-
pido de outras. Do mesmo modo, relembrou que novos objetos e 
temáticas ganharam espaço nas pesquisas históricas, assim como 
outras disciplinas das Ciências Sociais vieram contribuir (com com-
plementações, métodos e críticas) para com o entendimento do 
© Historiografia e Teoria da História 56
Homem, dos homens, do passado enquanto fato dado ou enquan-
to construção. 
Nas próximas unidades, você será provocado a conhecer os 
diversos debates que estão ocorrendo no meio acadêmico acer-
ca das mudanças dos paradigmas da História. A apresentação dos 
autores e de suas teorias não seguirá uma ordem cronológica, 
mesmo porque os diferentes embates se deram, e ainda ocorrem, 
simultaneamente, nos centros francês, inglês, americano e brasi-
leiro. 
O que você verá a seguir são as discussões sobre o processo 
de mudanças nos paradigmas epistemológicos no interior da his-
toriografia após a incorporação de novos temas, novos métodos 
e novas linguagens pelos historiadores, por meio do estudo das 
perspectivas que demarcam o debate contemporâneo, especial-
mente no final do século 20 e início do século 21, dando ênfa-
se às novas propostas da historiografia pós-moderna. Em outras 
palavras, você terá acesso aos debates que entendem a História 
como narrativa, como discurso, como literatura e ficção e a Histó-
ria como representação. 
A escolha dos autores e de suas temáticas no contexto pós-
-moderno tem algumas justificativas: inicialmente, trata-se de uma 
retomada e, ao mesmo tempo, de um aprofundamento do saber 
em relação a nomes e teorias vistos rapidamente no final do Ca-
derno de Referência de Conteúdo Metodologia da História II. Outro 
fator que contribuiu para tal seleção é o fato de que as discussões 
sobre a História e historiografia pós-moderna ganharam espaço 
e produção nos principais centros acadêmicos mundiais. E, final-
mente e não menos importante, porque esses mesmos autores 
e teorias que tanto contribuíram com a mudança nos paradigmas 
historiográficos tradicionais agora são alvo de reflexões, críticas e 
reprimendas.
Claretiano - Centro Universitário
57© U1 - Historiografia, Teoria da História e Retrospectiva istoriográfica
14. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ARISTÓTELES. Arte Poética. Tradução de Pietro Nassetti. São Paulo: Martin Claret, 2003.
BLANKE, H. W. Para uma Nova História da Historiografia. In: MALERBA, Jurandir (Org.). A 
História Escrita: Teoria e História da Historiografia. São Paulo: Contexto, 2006.
BOURDÉ, G.; MARTIN, H. As Escolas Históricas. Tradução de Ana Rabaça. Lisboa: 
Publicações Europa-América, 1990.
BURKE, P. A Revolução Francesa da Historiografia: a Escola dos Annales, 1929-1989. 
Tradução de Nilo Odália. São Paulo: Unesp, 1991.
CARBONELL, C. Historiografia. Tradução de Pedro Jordão. Lisboa: Teorema, 1987.
CHARTIER, R. A História Cultural: entre Práticas e Representações. Tradução de Maria 
Manuela Galhardo. Lisboa: DIFEL; Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1990.
CÍCERO. Tratado das Leis. Tradução de Marino Kuri. Caxias do Sul: Editora da Universidade 
de Caxias do Sul, 2004.
DETIENNE, M. A Invenção da Mitologia. Tradução de André Telles e Gilza M. S. da Gama. 
Rio de Janeiro: José Olympio; Brasília: UnB, 1998. 
FALCON, F. História das Idéias. In: CARDOSO, C. F.; VAINFAS, R. (Orgs.). Domínios da 
História: ensaios de teoria e metodologia. Rio de Janeiro: Campus, 1997.
FUNARI, P. P.; ILVA, G., J. da. Teoria da História. São Paulo: Brasiliense, 2008. (Tudo é 
História; 153)
HERÓDOTO. Histórias. Tradução de Mário da Gama Kury. 2. ed. Brasília: UnB, 1998.
LOMBARDI, J. C. (Org.). Fontes, história e historiografia da educação. Ponta Grossa: 
Autores Associados, 2004.
MALERBA, J. Teoria e História da Historiografia. In: MALERBA, J. (Org.). A História Escrita: 
teoria e história da historiografia. São Paulo: Contexto, 2006.
MOMIGLIANO, A. As Raízes Clássicas da Historiografia Moderna. Tradução de Maria 
Beatriz B. Florenzano. Bauru: EDUSC, 2004. (Coleção História).
SILVA, K. V. e SILVA, M. H. (Orgs.). Dicionário de Conceitos Históricos. 2. ed. São Paulo: 
Contexto, 2006.
TUCÍDIDES. História da Guerra do Peloponeso. Tradução de Mario da Gama Kury. São 
Paulo: Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 2001. 
VAINFAS, R. História das mentalidades e história cultural. In: CARDOSO, C. F.; VAINFAS, R. 
(Orgs.). Domínios da História: ensaios de teoria e metodologia. Rio de Janeiro: Campus, 
1997.
VERNANT, J. As origens do pensamento grego. Tradução de Isis B. B. da Fonseca. 9. ed. 
Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1996.
VEYNE, P. O inventário das diferenças: história e sociologia. Tradução de Sônia Aquino. 
São Paulo: Brasiliense, 1983.

Outros materiais