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da jornada de trabalho. Daí o paradoxo econômico de que o meio mais poderoso para encurtar a jornada de trabalho se torna o meio infalível de transformar todo o tempo de vida do trabalhador e de sua família em tempo de trabalho disponível para a valorização do capital. “Se”, sonhava Aristóteles, o maior pensador da Antiguidade, “cada ferramenta, obedecendo às ordens ou mesmo pressentindo-as, pudesse realizar a obra que lhe coubesse, como os engenhos de Dédalo que se movimentavam por si mesmos, ou as trípodes de Hefaísto que iam por si mesmas ao trabalho sagrado, se as lança- deiras tecessem por si mesmas, não seriam, então, necessários au- xiliares para o mestre-artesão nem escravos para o senhor”.89 E Antípatros, um poeta grego da época de Cícero, saudava a invenção do moinho hidráulico de moer cereal, essa forma elementar de toda maquinaria produtiva, como libertadora das escravas e criadora da Idade do Ouro!90 “Os pagãos, ah sim, os pagãos!” Como descobriu o sensato Bastiat e, antes dele, o ainda mais prudente MacCulloch, eles não entendiam nada de Economia Política nem de cristianismo. Não entendiam, entre outras coisas, que a máquina é o mais compro- vado meio de prolongar a jornada de trabalho. Justificavam eventual- mente a escravidão de uns como meio para o pleno desenvolvimento de outros. Mas pregar a escravidão das massas para transformar alguns arrivistas grosseiros ou semicultos em eminent spinners, extensive sau- sage makers e influential shoe black dealers,91 para isso faltava-lhes o órgão especificamente cristão. MARX 41 89 BIESE, F. Die Philosophie des Aristoteles. Berlim, 1842, v. II. 90 Apresento aqui a tradução do poema por Stolberg porque, do mesmo modo que as citações anteriores sobre a divisão do trabalho, ele caracteriza a antítese entre a visão antiga e a moderna. “Schonet der mahlenden Hand, o Müllerinnen, und schlafet Sanft! es verkünde der Hahn euch den Morgen umsonst! Däo hat die Arbeit der Mädchen den Nymphen befohlen, Und itzt hüpfen sie leicht über die Räder dahin, Daβ die erschütterten Achsen mit ihren Speichen sich wälzen, Und im Kreise die Last drehen des wälzenden Steins. Laβt uns leben das Leben der Väter, und laβt uns der Gaben Arbeitslos uns freun, welche die Göttin uns schenkt.” (Poema traduzido do grego para o alemão por Christian, Conde de Stolberg. Hamburgo, 1782.) [Poupa essa mão moedora, ó moleira! E Dorme em paz! Que o galo anuncie a manhã em vão. Deo ordenou às ninfas o trabalho das moças, e sobre as rodas elas saltam agora, que os eixos estremecidos com seus raios rodem e movam em círculo a carga da pedra giratória. Deixem-nos viver a vida dos pais e deixem-nos gozar sem trabalho a dádiva que a deusa nos deu.] 91 Fiandeiros eminentes, grandes fabricantes de salsichas e influentes comerciantes de graxa de sapatos. (N. dos T.)
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