Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
1 Laylla Oliveira Fagundes - Medicina DM – DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO ➔ DIAGNÓSTICO: Na história natural do DM, alterações fisiopatológicas precedem em muitos anos o diagnóstico da doença. A condição na qual os valores glicêmicos estão acima dos valores de referência, mas ainda abaixo dos valores diagnósticos de DM, denomina-se pré-diabetes. A resistência insulínica já está presente e, na ausência de medidas de combate aos fatores de risco modificáveis, ela evolui frequentemente para a doença clinicamente manifesta e associa -se a risco aumentado de doença cardiovascular e complicações. Na maioria dos casos de pré-diabetes ou diabetes, a condição é assintomática e o diagnóstico é feito com base em exames laboratoriais. • GLICEMIA EM JEJUM: Coletada em sangue periférico após jejum calórico de no mínimo 8h; • TOTG (Teste Oral de Tolerância à Glicose): Previamente à ingestão de 75g de glicose dissolvida em água, coleta-se uma amostra de sangue em jejum para determinação da glicemia; coleta-se outra, então, após 2h da sobrecarga oral. Permite avaliação da glicemia após sobrecarga, que pode ser a única alteração detectável no início do DM, refletindo a perda de 1ª fase da secreção de insulina. Obs.: é importante ressaltar que a dieta deve ser a habitual e sem restrição de carboidratos pelo menos nos 3 dias anteriores à realização do teste. • HEMOGLOBINA GLICADA (HbA1c): Oferece vantagens ao refletir níveis glicêmicos dos últimos 3-4 meses e ao sofrer menor variabilidade dia a dia e independer do estado de jejum para sua determinação. Obs.: vale ressaltar que se trata de medida indireta da glicemia, que sofre interferência de algumas situações, como anemias, hemoglobinopatias e uremia, nas quais é preferível diagnosticar o estado de tolerância à glicose com base na dosagem glicêmica direta. Outros fatores, como idade e etnia, também podem interferir no resultado da HbA1c. 2 Laylla Oliveira Fagundes - Medicina A confirmação do diagnóstico de DM requer repetição dos exames alterados, idealmente o mesmo exame alterado em segunda amostra de sangue, na ausência de sintomas inequívocos de hiperglicemia. Pacientes com sintomas clássicos de hiperglicemia, tais como poliúria, polidipsia, polifagia e emagrecimento, devem ser submetidos à dosagem de glicemia ao acaso e independente do jejum, não havendo necessidade de confirmação por meio de segunda dosagem caso se verifique glicemia aleatória > ou = 200mg/dL. Obs.: as categorias de pré-diabetes, além de conferirem risco aumentado para desenvolvimento de DM, também estão associadas a maior risco de doença cardiovascular e complicações crônicas. • DIAGNÓSTICO DE DMG: Embora não exista consenso sobre a melhor estratégia de rastreamento e diagnóstico do DMG, as recomendações + aceitas internacionalmente, propostas por várias sociedades cientificas, inclusive pela Sociedade Brasileira de Diabetes são: 3 Laylla Oliveira Fagundes - Medicina o No 1º trimestre da gestação, idealmente na 1ª consulta de pré-natal, sugere-se investigar DM preexistente por meio dos exames habituais. o Gestantes com diagnóstico de DM no 1º trimestre de gestação (critérios diagnósticos de DM em não gestantes) devem ser consideradas tendo DM preexistente; elas apresentam maior risco de malformações fetais e outras complicações gestacionais e neonatais. o Sugere-se que toda mulher sem diagnóstico reconhecido de DM francamente manifesto ou DMG seja submetida a TOTG com 75g de glicose após jejum calórico mínimo de 8h, entre 24- 28 semanas de gestação, com coleta de glicose em jejum, 1 e 2h após sobrecarga, conforme recomendação da OMS. Um único valor alterado no teste é suficiente para o diagnóstico de DMG. Obs.: manutenção de dieta sem restrição de carboidratos nos 3 dias anteriores ao exame. Obs.: o valor de corte da glicemia em jejum durante a gestação difere do considerado normal para não gestantes, sendo <92mg/dL em qualquer fase da gestação. Valores entre 92 e 126mg/dL são diagnósticos de DMG em qualquer fase da gestação. ➔ TRATAMENTO: O cuidado nutricional em DM é uma das partes + desafiadoras do tratamento e das estratégias de mudança do estilo de vida. O controle metabólico é apontado como a pedra angular do manejo do diabetes, pois alcançar um bom controle reduz o risco de complicações microvasculares e pode, também, minimizar as chances de doenças cardiovasculares. De modo semelhante, melhorar os níveis pressóricos e de lipídios pode ser eficaz na redução de eventos cardiovasculares. As escolhas alimentares promovem efeito direto sobre o equilíbrio energético e, por conseguinte, sobre o peso corporal e os níveis pressóricos e de lipídios plasmáticos. Evidências científicas demonstram que a intervenção nutricional tem impacto significativo na redução da hemoglobina glicada (HbA1c) no DM 1 e DM2, após 3-6 meses de seguimento com profissional especialista, independentemente do tempo de diagnóstico da doença. A abordagem do manejo nutricional não deve ser somete prescritiva, mas também apresentar caráter 6+ subjetivo, de olhar comportamental, colocando o indivíduo no centro do cuidado. Esse enfoque considera a disposição e a prontidão do paciente para mudar, possibilitando, por conseguinte, adaptar as recomendações às preferências pessoais, em uma tomada de decisão conjunta. 4 Laylla Oliveira Fagundes - Medicina Ao contrário do DM1, que não pode ser evitado, o DM2 pode ser retardado ou evitado por meio de modificações do estilo de vida, que incluem alimentação saudável e atividade física. O alerta mundial para a prevenção do DM2 é reforçado pelo substancial aumento da sua prevalência nas ultimas décadas. Apesar de a suscetibilidade genética parecer desempenhar um papel importante na ocorrência de DM2, a atual epidemia provavelmente reflete mudanças prejudiciais do estilo de vida, como aumento da ingestão energética e redução da prática de atividades físicas, o que, em associação a sobrepeso e obesidade, parece exercer papel preponderante no surgimento da doença. A conduta nutricional direcionada a indivíduos com DM1 e DM2, pré-diabetes e DMG deve ser definida com base em avaliação e diagnóstico nutricional, para posterior programação das intervenções nutricionais. Acompanhamento e avaliações contínuas apoiam mudanças de estilo de vida em longo prazo, bem como possibilitam analisar resultados e modificar intervenções, quando necessário. A abordagem nutricional individualizada requer mudanças no estilo de vida e objetivos que possam resultar em intervenções dietéticas complexas. Para essa individualização, é necessário conhecer alguns aspectos relacionados ao contexto da produção e do consumo dos alimentos, como cultura, regionalidade, composição de nutrientes e preparo de refeições. A orientação nutricional tem como alicerce uma alimentação variada e equilibrada. Além disso, o foco é atender às necessidades nutricionais em todas as fases da vida. Essa terapia tem como objetivos, ainda, manutenção/obtenção de peso saudável, alcance das metas de controle da glicemia (tanto em jejum como pré e pós-prandial) e adequação dos níveis pressóricos e dos níveis séricos de lipídios, considerando-se o uso de fármacos para prevenir complicações de curto e médio prazos. • EDUCAÇÃO NUTRICIONAL EM DIABETES: O ponto-chave da boa condução do diabetes é o envolvimento do paciente e dos familiares como parte ativa de todo o processo, de modo a desenvolver autoconhecimento e auxiliando na tomada de decisão. Serviços multidisciplinares que promovam educação em diabetes devem incentivar o conhecimento e desenvolver habilidades necessárias ao autocuidado, sempre com a colaboração ativa da equipe de saúde. Esta deve ser especializada em diabetes e preparada para incentivar mudanças de estilo de via e que contribua para melhorar os desfechos clínicos, o estado de saúde e a qualidade de vida. Indivíduos com DM, tipos1 e 2, e seus familiares devem ser inseridos em programas de educação nutricional desde o diagnóstico, com abordagem sobre a importância do autocuidado e da independência quanto a decisões e atitudes ligadas à alimentação e ao controle metabólico. Estratégias educacionais incluem atividades em grupos operativos, oficinas e palestras. A alimentação está diretamente relacionada a questões psicossociais e culturais; é necessário, portanto, inserir considerações pertinentes no processo educativo. As principais características do processo de educação em diabetes são: o Participação efetiva do paciente e familiares no autogerenciamento contínuo da doença; 5 Laylla Oliveira Fagundes - Medicina o Reavaliação em quatro momentos críticos: diagnóstico, anualmente, no surgimento de complicações ou algum tipo de mudança no tratamento; o Principais objetivos: avaliação dos resultados clínicos, condição geral de saúde e qualidade de vida; o Centralização no paciente, mas podendo utilizar-se de ferramentas de grupos e/ou tecnologias; o Promoção de melhores resultados e redução de custos do tratamento. Para pacientes com diagnóstico recente, as diretrizes das sociedades americana, europeia e brasileira de diabetes são coincidentes nas recomendações iniciais de modificações do estilo de vida associados ao uso de metformina: • PACIENTES COM MANIFESTAÇÕES LEVES: Quando a glicemia é <200mg/dL, com sintomas leves ou ausentes (sem a presença de outras doenças agudas concomitantes): medicamentos que não promovem aumento da secreção de insulina, principalmente se o paciente for obeso. No caso de intolerância à metformina, as preparações de ação prolongada podem ser úteis. Persistindo o problema, um dos demais agentes antidiabéticos orais pode ser escolhido. • PACIENTES COM MANIFESTAÇÕES MODERADAS: Quando a glicemia de jejum é >200mg/dL, mas <300mg/dL, na ausência de critérios para manifestações graves: devem iniciar modificações de estilo de vida e uso de metformina associada a outro agente hipoglicemiante. A indicação desse segundo agente dependerá do predomínio de resistência insulínica ou de deficiência de insulina/falência da célula beta. Dessa maneira, o inibidor da DPP-4, a acarbose, os análogos do GLP-1, a glitazona e os inibidores de SGLT2 poderiam constituir a 2ª ou a 3ª medicação. No paciente com perda ponderal, poderia ser combinada um sulfonilureia ou glidinas. • PACIENTES COM MANIFESTAÇÕES GRAVES: Para os demais pacientes com valores glicêmicos >300mg/dL e manifestações graves (perda significativa de peso, sintomas graves e/ou cetonuria): deve-se iniciar insulinoterapia imediatamente. o Para um paciente obeso com controle inadequado em monoterapia ou combinação oral, a associação de exenatida, liraglutida, lixisenatida, dulaglutida ou semaglutida pode ajudar na melhora do controle e na perda de peso. Inibidores de SGLT2 também podem ser uma opção para o paciente obeso. o Paciente com doença cardiovascular estabelecida, em associação a metformina, estão indicados os análogos do GLP-1 e/ou inibidores do SGLT2. Nos casos em que houver a prevalência de insuficiência cardíaca, os inibidores de SGLT2 demonstrarão maior benefício, devendo ser preferidos em associação à metformina, caso não haja contraindicação. o Pacientes com doença renal crônica diabética devem utilizar inibidores de SGLT2 e/ou agonistas do GLP-1, pois reduziram a progressão da proteinúria/insuficiência renal, caso não haja contraindicações. o Com o tempo de evolução do DM2, ocorre falência progressiva das células beta pancreáticas secretoras de insulina, podendo a monoterapia falhar na manutenção do bom controle metabólico. Nessa fase, recomenda-se a associação de 2 ou + medicamentos (idealmente, com mecanismos de ação diferentes). Algumas vezes, é preciso acrescentar um 3º medicamento oral ou insulina basal caso o paciente não esteja na meta de HbA1c. 6 Laylla Oliveira Fagundes - Medicina Em qualquer momento, se o paciente apresentar sintomas de insulinopenia (poliúria, polidipsia, perda ponderal significativa), o tratamento com insulina j´apoderá ser recomendado, devendo ser iniciado com insulina basal de ação intermediária o uprolongada, aplicada por via SC antes do jantar ou de dormir, em associação às demais medicações antidiabéticas orais. Outra opção, nessa fase, é a associação de insulina basal a análogo do GLP-1 em uma mesma caneta. Essa postura terapêutica de estímulo à insulinoterapia oportuna previne a inércia clínica por parte do médico e é recomendada pela SBD.
Compartilhar