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EXMO. SR. DR. JUIZ DE DIREITO DA ___ VARA DA CRIMINAL DA COMARCA DE ____________– CE.
PROCESSO Nº: 0000000000000000
ACUSADO: TÍCIO
AUTOR (A): JUSTIÇA PÚBLICA
ALEGAÇÕES FINAIS DA DEFESA
TÍCIO, brasileiro, viúvo, agricultor, s/e-mail, portador da Cédula de Identidade Civil RG Nº xxxx-SSPCE, residente e domiciliado no Sítio Flores, Zona rural deste Município e Comarca de XXX, Estado do Ceará, por intermédio de sua advogada, e bastante procuradora, que esta subscreve, vem respeitosamente e com o devido acatamento, perante Vossa Excelência, com base no artigo 403, § 3º do Código de Processo Penal, apresentar ALEGAÇÕES FINAIS pelas razões fáticas e jurídicas a seguir:
1. DA SÍNTESE DOS FATOS
 Narra a respeitável denúncia que o acusado teria incorrido nos crimes previstos no § 1º e § 2º do art. 180 e art. 288 ambos do Código Penal, por ter supostamente adquirido, os veículos de marca Fiat Marea, de placa DF 02465; Ford modelo Courrier de placa MNV 1670/PB e um Caminhão Ford Cargo B15, placa KJP 4089/PE.
Aberta a instrução, buscou-se provar que tais alegações não devem prosperar, haja vista não terem os acontecimentos se dados como consta na exordial, de verus, o quanto ao Fiat Marea, o denunciado comprou o veículo com toda a documentação, que aparentemente comprovava a procedência lícita, de propriedade de escrivão da polícia aposentado, pessoa se presume ser cidadão de bem, a qual não se suspeitaria ter um veículo fruto de um roubo. O acusado como um bom cidadão que é, tomou todas as precauções necessárias para a aquisição de um veículo, comprando o veículo por preço compatível com o do mercado.
Empós, vendeu o Fiat Marea com toda a documentação que possuía ao Sr. Mévio, por preço compatível com o do mercado, uma vez que, sequer suspeitava que se tratasse de automóvel produto de uma ação criminosa.
Por outro lado, o veículo Ford modelo Courrier, o acusado comprou na cidade Cedro do Sr. CAIO, residente este na cidade de Morada Nova, acreditando que toda a documentação do veículo apresentada era verdadeira. Conferindo a documentação e reconhecendo sua falsidade.
Já em relação à realização da compra destes dois carros já citados, o acusado não nega que adquiriu, entretanto, não sabia que os carros eram frutos de roubo, já em relação ao Caminhão Ford, ele nunca possuiu, não podendo o representante do Ministério Público se basear para fundamentar sua acusação, em uma simples declaração do Sr. MÉVIO tendo ele como comprovar, pois, esta afirmativa não é verdadeira.
O acusado é uma pessoa de origem humilde e de maneira injusta foi enquadrado no artigo 180, §§ 1º e 2º, pois sempre trabalhou na roça, sendo até beneficiário de vários programas do governo que favorecem o agricultor, como: seguro safra e pronaf, como constam nas documentações acostadas aos autos.
Homem de pouca instrução sabendo apenas assinar seu nome, razão pela qual não conseguiu identificar a adulteração da documentação dos carros adquiridos, ressaltando, ainda, o DETRAN que nem mesmo identificaria aquelas falsificações sem acurado exame, imagine homem rude e de pouco conhecimento como no caso do acusado.
A acusação nos artigos acima citados não possui nenhum fundo de verdade, pois a acusação não traz aos autos nenhuma prova que o denunciado é comerciante, já a defesa traz várias provas que o réu sempre trabalhou na agricultura. Sendo com isto descaracterizado afigura do comerciante necessária para o cometimento do crime exposto no art. 180, § 1º e § 2º.
Ademais, o denunciado também foi acusado pelo crime descrito no art. 288, do CPB, sendo uma acusação totalmente infundada pelos fundamentos jurídicos que abaixo será exposto.
1. DAS RAZÕES E SEUS FUNDAMENTOS JURÍDICOS
1.1. QUANTO AO CRIME DE RECEPTAÇÃO
No que tange ao crime de recepção, é necessária a comprovação que o acusado possuía conhecimento que o objeto a ser vendido e adquirido através de uma ação criminosa, o que não foi provado na denúncia, pois o defendente desde o princípio foi só mais uma vítima de estelionatários, com isto sua atitude seria atípica.
Sobre a acusação de receptação qualificada (art. 180, § 1º e § 2º) foi comprovado que o Sr. TÍCIO é agricultor e não comerciante, gerando com isto a atipicidade da acusação. Ademais teceremos alguns comentários acerca do crime de receptação.
A “receptação dolosa” pressupõe que o agente saiba, tenha plena ciência da origem criminosa do bem (dolo direto); se apenas desconfia da origem ilícita, mas não tem plena certeza a esse respeito e, mesmo assim, adquire o objeto, responde por “receptação culposa” (dolo eventual).
Art. 180 (...)
§ 1º - Adquirir, recebe r, transportar, conduzir, ocultar, ter em depósito, desmontar, montar, remontar, vender, expor à venda, ou de qualquer forma utilizar, em proveito próprio ou alheio, no exercício de atividade comercial ou industrial, coisa que “deve saber” ser produto em crime:
Pena – reclusão de 3 a 8 anos, e multa.
 Expressão “deve saber”: existem três posicionamentos, mas o que parece ser o mais correto, é o que a expressão teria sido utilizada como elemento normativo e não como elemento subjetivo do tipo (para indicar dolo direto ou eventual); sendo assim, “deve saber” seria apenas um critério para que o juiz, no caso concreto, pudesse analisar se o comerciante ou industrial, tendo em vista o conhecimento acerca das atividades especializadas que exercem ou das circunstâncias que envolveram o fato, tinham ou não a obrigação de conhecer a origem do bem. Não podendo o suposto autor da recepção dolosa qualificada.
Existe até polêmica entre os doutrinadores sobre a aplicação do art. 180, § 1 do CP, pois questão relevante é saber qual a pena a ser aplicada ao agente que infringe a norma em comento. O caput exige conhecimento pleno, que a doutrina e jurisprudência conectam com o dolo direto. O parágrafo terceiro do artigo 180, do Código Penal, descreve a forma culposa, sendo que o parágrafo primeiro só pode tratar de crime doloso, com o chamado conhecimento parcial da origem ilícita da coisa, que a doutrina liga ao dolo eventual. Se o parágrafo primeiro definisse a modalidade culposa, a figura típica nele contida não teria sentido, face ao previsto no parágrafo terceiro, que anuncia a modalidade culposa.
Problema maior surge no tocante à aplicação da pena prevista, como por exemplo, no caso de um comerciante, que devia saber que a coisa era produto do crime, a pena é de três a oito anos de reclusão, e se sabia, ou seja, se tinha pleno conhecimento da origem ilícita da coisa, a conduta criminosa não se encontra descrita nem no caput, tão pouco no parágrafo primeiro.
Nota-se neste caso, uma grande desproporção dentro jurídico, do ordenamento jurídico, entre outras tantas existentes, As injustiças que advieram com a elaboração da Lei nº. 9426-96, que introduziu parágrafo primeiro, do artigo 180 do Código Penal, pois o legislador preocupou-se em punir a conduta em que o dolo é menos evidente, esquecendo-se de prever a figura típica em que a periculosidade do indivíduo é manifesta.
Em linhas gerais, o preceito sancionatório do parágrafo primeiro, do artigo 180, do mesmo codex, não pode ser aplicado, por lesar o Princípio Constitucional da Proporcionalidade, devendo desta forma, o preceito primário da referida regra penal ter por comando sancionatório, a pena cominada no caput do mesmo artigo. Com isto se restabelecerá o princípio violado pela norma em comento, tarefa essa atribuída ao juiz que é o garantidor de todos os princípios fundamentais, entre eles o da Individualização da Pena e o da Proporcionalidade.
Ademais, cabe salientar quanto à possível desclassificação do crime de receptação qualificada para a modalidade culposa, a qual não merece procedência, pois neste caso o autor do crime adquiriu um produto que por sua natureza era lícito, não existiu desproporção entre o valor e o preço, comprando o veículo por valor compatível com o do mercado e a pessoa que lhe ofereceu era um policial civil aposentado, não tendo motivos para desconfiar. O art180 do CP, diz:
§ 3º - Adquirir ou receber coisaque, por sua natureza cu pela desproporção entre o valor e o preço, peia condição de quem a oferece, deve presumir-se obtida por meio criminoso:
Pena - detenção, de 1 mês a 1 ano, ou multa, ou ambas as penas.
O agente, em razão de um dos parâmetros mencionados acima deveria ter presumido a origem espúria do bem, ou, em outras palavras, de que o homem médio desconfiaria de tal procedência ilícita e não adquiriria ou receberia o objeto.
Não basta a presença dos elementos objetivos do tipo para o reconhecimento da receptação, sendo necessária a prova de que o agente tinha conhecimento daquela origem ilícita, tratando—se do elemento subjetivo do tipo o dolo, ou seja, a prévia ciência da proveniência criminosa do material apreendido.
Que, por outro lado, o acusado não cometeu nenhum crime, eis que o fato praticado é atípico, tendo em vista que não convergiram nenhuma das características ou elementos do fato típico e antijurídico, ou seja, não se revelou, no fato praticado pelo réu, o elemento normativo do tipo que é a CULPA, traduzida por três indícios que podem ocorrer no momento da aquisição ou recebimento da coisa de crime: a) natureza do objeto material; b) desproporção entre o valor e o preço; e c) condição de quem a oferece.
Aliás, no que diz respeito a receptação culposa, diz DAMIÃO NETO, que o “receptor que agiu culposamente não pode ser considerado ladrão vulgar, é antes de mais nada vítima de sua própria ignorância, boa-fé, erro, cobiça ou ambição. Jamais delinquiria, agindo de “moto próprio” ou “sponte sua”. Não é agente, é sim um impulsionado, vítima das próprias circunstâncias”[1].
Que, indiscutivelmente o preço pago foi o justo e correto para aquelas na aquisição dos veículos de marca Fiat Marear de placa DF 02465; Ford modelo Courrier, de placa MNV 1670, observando-se, ainda, que o preço pago foi conforme estimas de diversas empresas comerciais que há muitos anos trabalham no ramo de venda de automóveis usados.
A rigor, o réu não deveria nem ter sido denunciado, posto que nenhum crime cometeu, nem sequer mesmo o de receptação culposa.
Fazemos integrar à nossa defesa preliminar o estudo sobre RECEPTAÇÃO CULPOSA feito pelo Dr. João Maria Lós, advogado de Londrina-PR, publicado na Tribuna da Justiça, jornal de 03 de setembro de 1980, sob nº 1.075, “in verbis”:
“Prescreve o Código Penal Pátrio, em seu artigo 180, § 3º, que é cominada pena de detenção de um mês a um ano, ou multa, ou ambas as penas a quem adquirir ou receber coisa que, por sua natureza ou pela desproporção entre o valor e o preço, ou condição de quem oferece, deve presumir obtida por meio criminoso. ”
Essa é a tipificação de nossa legislação para o crime de receptação culposa, na qual "o elemento psicológico consiste na vontade consciente de adquirir ou receber a coisa e na culpa em descuidar de conhecimento preciso de sua proveniência" conforme preleciona MAGALHÃES NORONHA, "in" Direito Penal, vol. 2, pág. 579. Desta forma, é de se ver que, para a perfeita tipificação do crime de receptação culposa, deve ser considerado o elemento psicológico, o qual transcende, através da natureza da coisa, ou da desproporção entre o preço e o valor, ou ainda, da condição daquele que oferece a coisa.
Na perfeita valoração de todos esses elementos, apreender-se-á, se o elemento psicológico para a perpetração do crime se concretizou. Nesse sentido, as lições de BENTO DE FARIA quando diz que "considera-se receptação culposa o fato da aquisição ou recebimento da coisa que por sua natureza ou pela desproporção entre o valor e o preço ou pela condição de que o oferece, deve presumir-se obtida por meio criminoso."[2]
Assim, três são os elementos que conduzem a pessoa a constituir o elemento psicológico necessário, à presunção ou respeito, digo, ou suspeita de que a coisa oferecida tem origem criminosa: a) a natureza da coisa; b) o preço vil; c) a condição de quem a oferece.
Consideremos, pois, a NATUREZA DA COISA, evidentemente, é um elemento que não carece de maiores e profundas indagações, pois para que esse elemento conduza uma pessoa a suspeitar que a mesma tenha origem criminosa, basta um simples exemplo aclarador: uma pessoa oferece à venda um foguete interplanetário, ou uma joia raríssima, ou a Cioconda, de Leonardo da Vinci, é evidente que dada a natureza da coisa ofertada, o comprador será conduzido a formar o elemento psicológico que conduza à suspeita quanto à origem criminosa do objeto ofertado.
Assim, para que a natureza da coisa seja elemento suficiente para constituir tal elemento psicológico no comprador e, consequentemente, suspeitar da origem do bem ofertado, deve o bem-estar praticamente fora de comércio, pois outros bens móveis, que possam pertencer a qualquer pessoa comumente, evidentemente, não levarão nunca à suspeita ou dúvida. Portanto, se a pessoa oferece a venda um carro, uma joia comum, um relógio, tão somente pela sua natureza não pode o comprador suspeitar de sua origem.
Como segundo elemento, surge o PREÇO VIL. Seria a desproporção existente entre o valor efetivo da coisa e o preço efetivamente pago por essa coisa. Por consequência, a coisa aquele que dispõe de um determinado numerário, suficiente para a compra da coisa que lhe é ofertada. Todas essas ponderações, elementos e fatos, devem ser considerado a análise de eventual vileza do preço. Sem necessária, cuidadosa e minuciosa apreciação e avaliação desses elementos, não se poderá chegar a una conclusão justa a respeito do preço. Se é vil ou não.
E, por último, o terceiro elemento: A CONDIÇÃO DE QUEM OFERECE a coisa. É o último que a lei exige para conduzir o comprador a suspeitar da origem criminosa da coisa que lhe é ofertada. Tal elemento deve ser considerado em conjunto com o meio ambiente em que vivem tanto o comprador como o vendedor, pois os costumes variam de um lugar para outro, de tal forma que, muitas vezes, pessoas aparentemente simplórias têm possibilidades econômicas, que seus trajes não transcendem, ao passo que, em outras ocasiões e locais, determinadas pessoas, que apesar de bem trajadas e aparentemente desfrutarem de uma posição econômica sólida, em verdade não a tem.
Ademais, na consideração desse elemento, há que se convir que, para o comprador ter motivos para suspeitar da origem criminosa do bem, se deve associar a condição de quem oferece à natureza do bem, ou seja, a situação deve ser tal que a condição da pessoa, somada à natureza do bem, levem à conclusão de que o bem oferecido à venda tem sua origem criminosa.
De fato, nesse sentido é a preleção de CARRAUD, ao esclarecer que a lei exige que o comprador "deva saber que o indivíduo em cujo poder o dito objeto se encontra só o podia obter por meio de uma ação delituosa” (“TRAITÉ DU TROIT PÉNAL” – pag. 683).
Diante disso, é de se ver que, quando da apreciação dos elementos constitutivos do tipo penal da receptação culposa, devem ser considerados todos esses elementos, individual e coletivamente, e tal análise deve ser profundamente minuciosa, no sentido de se apreender o elemento psicológico que possuía o acusado quando da ocorrência do fato imputado, para que a sentença não conduza a uma condenação injusta, em detrimento do acusado e da própria sociedade, na qual vive, e para a qual pode ser um membro útil.
Que, restou provado nos autos, frise-se, que o acusado é pessoa totalmente ligada à agricultura, portanto, sem condição de efetivamente saber da vida íntima dos réus, tendo adquirido o Fiat Marrea de um policial civil aposentado, pessoa que se presume ser de bem pela natureza de sua profissão, comprado todos os automóveis por um preço justo produto que pela sua origem não tem como se suspeitar que fossem frutos de roubo. Assim, em nenhum momento poderia desconfiar de qualquer ato ilícito que estaria sendo praticado por aquele elemento. O acusado, ora definido, somente adquiriu os veículos, porque deles necessitava, e pagou o justo preço, ou seja, o preço de mercado aquela época.
O defendente é pessoa que sempre viveu trabalhando no campo, observando-se que neste caso não passou de vítimade sua própria ignorância.
1.2. QUANTO CRIME DE FORMAÇÃO DE QUADRILHA
 Na denúncia em momento algum foi comprovado através de provas que existisse um vínculo associativo estável e permanente, de natureza duradoura e com o propósito de praticar ilícitos de alta periculosidade entre os acusados, sendo pressuposto necessário para a tipificação no crime de formação de quadrilha, entre os acusados só existiu uma transação comercial de compra e venda de veículos e nada mais, diz o art. 288 do CP:
Art 288 (...)
Associarem-se mais de três pessoas, em quadrilha ou bando, para o fim cometer crimes:
Pena— reclusão, de um a três anos.
Os requisitos para a tipificação do crime é: durabilidade da associação; permanência de seus membros; mais de três pessoas (objetivos).
O crime de “quadrilha ou bando” não se confunde com o do concurso de pessoas" (coautoria ou participação comuns) - neste associam-se de forma momentâneo e visam a prática de um crime determinado; naquele reúnem-se de forma estável e visam cometer número indeterminado de infrações.
Para uma conduta ser tipificada neste crime é preciso:
Primeiro: as pessoas precisam se associar. Associar-se, em direito, significa querer. Ou seja, as pessoas precisam estar conscientes de que estão juntas com o propósito de cometer um ou mais crimes. Se várias pessoas cometerem crimes juntas, mas sem saberem que estão agindo em conjunto ou em paralelo, não há quadrilha.
Segundo: a lei fala em mais de três pessoas. Ou seja, do ponto de vista jurídico, não há quadrilha de duas ou três pessoas, pois, o menor número possível de integrantes está claro na lei: quatro.
A respeito da conduta estável e permanente, típica do crime de quadrilha. Sobre o assunto, ensina o do crime de quadrilha. Mestre Julio Fabrini Mirabete, in verbis:
“Não basta que se reúnam essas pessoas para o cometimento de um crime determinado, existindo aí simples concurso de agentes se o ilícito for ao menos tentado. É necessário que haja um vínculo associativo permanente para fins criminosos, uma predisposição comum de meios para a prática de uma série indeterminada de delitos. Exige-se, assim, uma estabilidade ou permanência com o fim de cometer crimes, uma organização de seus membros que revele acordo sobre a duradoura atuação em comum."[3].(GRIFO NOSSO).
1.3. QUANTO A INSUFICIÊNCIA DA PROVA DE AUTORIA
 Caso superada a preliminar, forçoso é reconhecer que a acusação é de todo improcedente, porque a instrução criminal não caracterizou a culpabilidade do Acusado, tendo como fulcro declarações desvinculadas da realidade dos autos e sem provas substanciais da autoria do delito.
Os elementos de convicção obtidos na fase de inquérito policial não podem ser considerados suficientes para a condenação (art. 155 do CPP). Daí o entendimento da jurisprudência de que, na ausência de provas obtidas em juízo, mediante contraditório, deve ser o réu absolvido ou, no mínimo, anulada a sentença:
“Nulidade da sentença condenatória fundamentada exclusivamente em elementos colhidos em inquérito policial e em procedimento administrativo” (STF, HC 83.864 – DF, rel. Min. Sepúlveda Pertence).
Portanto, falta nos autos prova essencial para demonstrar a existência do crime, sem a qual não poderá ser o réu condenado por MERA SUPOSIÇÃO OU PELA SIMPLES “CONFISSÃO” FORÇADA DO ACUSADO.
No caso vertente, a “prova” carreada aos autos dá conta de que a parte ex adversa, não se desincumbiu do ônus probandi, de trazer para os autos provas da realidade dos fatos deduzidos na pretensão punitiva (art. 156 do CPP) o que impõe a prolação de decreto absolutório consoante entendimento esposado pela jurisprudência hodierna, conforme os seguinte arestos:
“Não se presumindo a culpa, deve ser cumpridamente provada, dentro dos elementos de sua configuração, desprezadas as deduções e as ilações ou a conclusões que não se assentem em prova concreta, acima de qualquer dúvida” (Revista Forense 175/375).
“Ônus da prova. As alegações relativas ao fatos objeto da pretensão punitiva têm de ser provadas pelo acusador , incumbindo ao acusado, demonstrar apenas os fatos impeditivos e extintivos” (JTACrim – 72/243).
“Culpa. Presunção. A culpa não se presume em nosso ordenamento jurídico penal, devendo ser demonstrada de maneira positiva e cabal para justificar uma condenação” (JTACrim – 73/364).
“Ao Ministério Público cabe o ônus da prova acusatória, ou seja, da materialidade do fato e sua autoria. Ao acusado tão-só incumbe a prova de eventuais fatos impeditivos ou extintivos da imputação” (EI 174449 – TACrimSP – Rel. Weiss de Andrade).
“a favor de o réu é presumida a inocência, até que se demonstre o contrário. Assim, basta à acusação não promover prova capaz de infundir a certeza moral no espírito do julgador para que obtenha decreto absolutório” (Ap.1987.889 – TACrimSP – Rel. Weiss de Andrade). ).(GRIFOS NOSSOS)
A versão apresentada pelo acusado não foi contrariada em todo seu conteúdo pela prova produzida no processo, devendo assim prevalecer no momento da decisão de mérito no presente feito, de forma que está claro e evidente que não participou ativamente dos supostos fatos narrados na denuncia.
Em momento algum o Acusado, que ora se defende, teve premeditação ou a intenção de agir da forma preconizada na denúncia, nem assumiu a direção dos atos objeto do presente processo.
Vale Frisar que o Acusado sempre pautou a sua vida profissional na ética e respeito às coisas públicas, além do mais é pessoa de excelente relacionamento social e familiar. A sua conduta profissional sempre, isto, sempre, esteve integrada dentro da normalidade, ou seja, nunca moveu um passo sem que estivesse amparado pela lei e atento ao que cívica e moralmente perfila a sua vida de agricultor.
Assim, como não há nos autos o meio de prova hábil a demonstrar a materialidade do suposto crime, evidente a insuficiência probatória. Impõe-se, então, a absolvição do acusado, nos exatos temos do artigo 386, inciso II, do Código de Processo Penal.
3. DA CONCLUSÃO E DOS REQUERIMENTOS
 EX POSITIS, requer a Vossa Excelência que:
Postas tais considerações e por entendê-las prevalecentes sobre as razões que justificaram o pedido de condenação despendido pelo preclaro órgão do Ministério Público e confiante no discernimento afinado e no justo descortino de Vossa Excelência, a defesa requer a ABSOLVIÇÃO do senhor TÍCIO, pois NÃO HÁ nos autos o meio de prova hábil a demonstrar a materialidade dos supostos crimes, EVIDENTE A INSUFICIÊNCIA PROBATÓRIA. Impõe-se, então, a absolvição do acusado, nos exatos temos do artigo 386, inciso II, do Código de Processo Penal.
Seja, portanto JULGADA IMPROCEDENTE A DENÚNCIA, pois o réu não agiu em consonância com o tipo penal a que está incurso, e, ao mesmo tempo, requer a sua ABSOLVIÇÃO da imputação que lhe pesa, na forma do artigo 386, do Código de Penal.
Ato contínuo, caso assim não entenda Vossa Excelência, o que não se espera, protesta a defesa do acusado que na dosimetria da pena do acusado, a sua situação seja a mais favorável possível, ante a sua primariedade e falta de violência ou grave ameaça no crime que lhe é imputado, observando e aplicando-lhe, alternativamente:
3.a) Os crimes concorrentes NÃO RESULTAM DE DESÍGNIOS AUTÔNOMOS, Consequentemente não há razão para acolher eventual concurso de crimes, mas ao contrário, que seja aplicado o CONCURSO FORMAL PRÓPRIO (Artigo 70, caput, 1ª parte, do CP) ao invés da cumulação das penas, aumentada em qualquer caso no patamar mínimo de 1/6;
3. b) Fixação da pena base no mínimo legal, (O acusado não possui maus antecedentes). Não há, no caso em tela, circunstâncias agravantes, majorantes ou quaisquer qualificadoras que elevem a pena além do mínimo legal, observado o artigo 59, do Código Penal;
3. c) Em face da pena aplicada como acima requerido é perfeitamente possível e cabível o regime inicial ABERTO, nos termos do art. 33, § 2º, c, do Código Penal;
3.d) O BENEFÍCIO PENAL da Substituição da pena privativa de liberdade por restritivas de direitos haja vista o acusado preencher todos os requisitos dos incisos I, IIe III, do artigo 44 do Código Penal, caso venha a pena castigo ser aplicada no limite de quatro anos de privação da sua liberdade, observado a súmula nº 493, do STJ;
3.e) Ainda, restando frustados os requerimentos acima, a concessão do Benefício Penal do “sursis” da pena se Vossa Excelência fixar privativa de liberdade não superior a 2 (dois) anos, nos termos do artigo 77, do Código Penal; e
3.f) Finalmente, o perdão da pena de multa ou a sua aplicação no seu patamar mínimo ante à simples situação econômica do réu, evidenciada pelas condições do seu labor e pelo singelo, quase ínfimo, poder aquisitivo do mesmo, evidenciadas no transcorrer da persecução penal
Termos em que,
Pede e aguarda deferimento.
Cedro, Estado do Ceará.
26 de junho de 2017.
[1] referido por RIBEIRO PONTES, 'in"Código Penal Brasileiro, Comentado, 8ª Ed. Freitas Bastos, pág. 284
[2] BENTO DE FARIA, "in" Código Penal Brasileiro, vol. V, pág. 198
[3] in Código penal interpretado, 5ª edição. Editora Atlas, 2005; p. 2130

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