Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
ÉTICA NO MARKETING Rosiane Follador Rocha Egg Rodrigo Vinícius Sartori G es tã o É T IC A N O M A R K E T IN G R os ia ne F ol la d or R oc ha E g g R od rig o V in íc iu s S ar to ri Este livro apresenta uma discussão de amplas frentes no que diz respeito à éti- ca nas organizações, e em especial nos processos corporativos de marketing. De início, são revisitados os conceitos essenciais da história da ética e da moral e uma reflexão sobre os princípios éticos, assim como a relação da ética com as normas e, finalmente, sobre a ética empresarial (ou coletiva), a ética profissional (ou individual) e a ética no marketing. Toda essa discussão é acompanhada de casos práticos, nacionais e interna- cionais, que permitem ao leitor, na devida medida, aprofundar-se na consciên- cia ética e moral das práticas empresariais hoje amplamente adotadas. 9 788538 763291 Rosiane Follador Rocha Egg Rodrigo Sartori IESDE BRASIL S/A Curitiba 2017 Ética no Marketing CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ E28e Egg, Rosiane Follador Rocha Ética no marketing / Rosiane Follador Rocha Egg, Rodrigo Sartori - 1. ed. - Curitiba, PR : IESDE Brasil, 2017. 192 p. : il. Inclui bibliografia ISBN 978-85-387-6329-1 1. Comunicação. 2. Comunicação empresarial. 3. Comunicação na administração . 3. Comunicação em marketing. 5. Comunicação e tecnologia. 6. Responsabilidade da empresa. 7. Ética empresarial. I. Sartori, Rodrigo. II. Título. 17-43665 CDD: 658.45 CDU: 005.57 Direitos desta edição reservados à Fael. É proibida a reprodução total ou parcial desta obra sem autorização expressa da Fael. © 2007-2017 – IESDE Brasil S/A. É proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer processo, sem autorização por escrito dos autores e do detentor dos direitos autorais. Todos os direitos reservados. IESDE BRASIL S/A. Al. Dr. Carlos de Carvalho, 1.482. CEP: 80730-200 Batel – Curitiba – PR 0800 708 88 88 – www.iesde.com.br Produção FAEL Direção Acadêmica Francisco Carlos Sardo Coordenação Editorial Raquel Andrade Lorenz Revisão IESDE Projeto Gráfico Sandro Niemicz Capa Vitor Bernardo Backes Lopes Imagem Capa IhorZigor/Shutterstock.com Arte-Final Evelyn Caroline dos Santos Betim Sumário Carta ao Aluno | 5 1. História da ética | 7 2. Moral e princípios éticos | 23 3. Éticas e normas | 37 4. Lições sobre organizações | 53 5. Ética empresarial | 67 6. Ética profissional | 79 7. Ética em novos negócios | 93 8. Ética no atributo produto | 113 9. Ética no atributo comunicação | 131 10. Ética nos atributos preço e distribuição | 151 Gabarito | 169 Referências | 185 Carta ao aluno Ética nunca foi artigo fora de moda, por toda a trajetória humana e, em especial, ante ao mundo das organizações empre- sariais e suas complexas relações com a sociedade. Contudo, hoje mais que nunca, é totalmente indispensável considerar as dife- rentes dimensões éticas do business contemporâneo, tão marcado por sua velocidade, sua instabilidade, sua não linearidade, sua fome pelo lucro concomitante à pressão por demonstrar bons resultados socioambientais. Esta obra apresenta uma discussão de amplas frentes no que diz respeito à ética nas organizações, e em especial nos processos corporativos de marketing. De início, são revisitados os conceitos essenciais da história da ética e da moral, assim como a relação da ética com as normas e, finalmente, sobre a ética empresarial (ou coletiva) e a ética profissional (ou individual). – 6 – Ética no Marketing Damos uma especial ênfase à ética em novos negócios. Afinal, a palavra de ordem no mundo empresarial é inovação, como um meio para que os mercados se aqueçam com novos lançamentos de produtos e serviços, o que verdadeiramente gira a economia mundial e potencializa maiores níveis de lucratividade para as organizações reconhecidamente inovadoras. Tal cenário tem seus devidos desafios, tais como o equacionamento ético em tempos de inovação aberta (Open Innovation), na modelagem de novos produtos e servi- ços e novos modelos de negócio. Na sequência, detalham-se reflexões éticas sobre o marketing, a começar pelo atributo produto – pilar central para iniciar-se a análise em questão. São considerados os pontos nevrálgicos do posicionamento do produto, da premente necessidade de diferenciação frente à concorrência, além de um especial olhar ao alinhamento entre vendas e marketing. Também o atributo comunicação mereceu uma especial atenção, com o desdobramento da análise ética no tocante à propaganda e promoção de vendas, aos eventos e experiências, relações públicas, publicidade e marketing direto, interativo e boca a boca. Finalmente, um levantamento aprofundado é realizado nos atributos de preço e de distribuição. O processo de precificação é sensível em todo tipo de empresa, e por isso algumas importantes considerações são tomadas frente à discussão ética. Em especial, no que se refere aos canais de distribuição (dire- tos e indiretos), algumas situações especiais são levantadas, terminando por reconhecer-se alguns caminhos futuros que parecem ser inevitáveis frente às atuais tendências tecnológicas e econômicas. Toda essa discussão é acompa- nhada de casos práticos, nacionais e internacionais, que permitem ao leitor, na devida medida, aprofundar-se na consciência ética e moral das práticas empresariais hoje adotadas. Desejamos uma boa leitura, na esperança de conseguirmos desenvolver profissionais e gestores cada vez mais capacitados a criar, manter e expandir negócios de alto nível. História da ética Apresentação Falar sobre ética é lembrar os antigos ensinamentos de uma época em que o homem começou a conviver em sociedade e, a partir dessa experiência, passou a estabelecer normas de comportamento e convívio. Dessa convivência dos grupos societários, surgiu a ética, cujos valores até hoje permanecem, vão se modificando, vão sendo questionados e até mesmo banalizados ou esquecidos. Segundo o dicionário de Língua Portuguesa, ética é “o estudo dos juízos de apreciação que se referem à conduta humana susceptível de qualificação, do ponto de vista do bem e do mal, seja relativamente à determinada sociedade, seja de modo absoluto” (HOLANDA, 1999, p. 848). Para entender o que a ética representa nos tempos atuais, vamos começar, mesmo que sucintamente, com os ensinamentos dos primeiros filósofos. 1 Rosiane Follador Rocha Egg Ética no Marketing – 8 – 1.1 Fundamentos da ética O significado da palavra ética vem do grego ethos, referente ao modo de ser do indivíduo, ou ao caráter do ser humano. Na Grécia Antiga, período que coincide com o século IV a.C., os filósofos gregos foram os primei- ros amplamente reconhecidos por pensar o conceito de ética, associando o conceito à ideia de moral e cidadania. Precisavam de honestidade, fideli- dade e harmonia entre seus cidadãos, porque suas cidades-Estado1 estavam em desenvolvimento. 1.1.1 Sócrates Sócrates, Platão e Aristóteles são os pensadores gregos mais estudados e citados no campo da ética. De um modo geral, afirmavam que a conduta do ser humano deveria ser pautada no equilíbrio, a fim de evitar a falta de ética. Pregavam a virtude, a estreiteza moral e outras atitudes voltadas para a ética. Sócrates nasceu em Atenas, provavelmente no ano de 470 a.C., e tor- nou-se um dos principais pensadores da Grécia Antiga. Aprendeu música e literatura, mas se dedicou à meditação e ao ensino filosófico. Desde jovem, Sócrates ficou conhecido pela sua coragem e pelo seu intelecto. Serviu no exército, desempenhou alguns cargos políticos e foi sempre modelo irrepreen- sível de bom cidadão. Desde a juventude, Sócrates tinha o hábito de debater e dialogar com as pessoas de sua região. Não fundou uma escola de pensamento, pois preferiu realizar seu trabalho em locais públicos, principalmente nas pra- ças e ginásios. Costumava agir de forma descontraída e descompromissada, dialogandocom todas as pessoas, o que fascinava jovens, mulheres e políticos de sua época. Vázquez (1997, p. 231) esclarece com propriedade: Resumindo, para Sócrates, bondade, conhecimento e felicidade se entrelaçam estreitamente. O homem age retamente quando conhece o bem e, conhecendo-o, não pode deixar de praticá-lo; por outro lado, aspirando ao bem, sente-se dono de si mesmo e, por conse- guinte, é feliz. 1 A cidade-Estado ou pólis foi o modelo das antigas cidades gregas no período datado desde a Antiguidade até o helenista. – 9 – História da ética Para Sócrates, virtude é sabedoria (sofia) e conhecimento. Já o vício é o resultado da ignorância. O saber fundamental é o saber a respeito do homem. Sobre essa ideia, o pensador teria dito suas frases mais conhecidas como: “Conhece-te a ti mesmo” e “Sei que nada sei”. Sócrates, devido à liberdade com que se expressava e às fortes críticas que fazia à política da Grécia, foi acusado de corromper os jovens da época e foi condenado a beber cicuta2. Morreu em 399 a.C. 1.1.2 Platão Platão nasceu em Atenas, em 427 a.C. e morreu em 347 da mesma era. Pertencia a uma família rica, da mais alta aristocracia grega. Foi discípulo e admirador de Sócrates. Platão retratou seu mestre em muitas de suas obras, segundo Natrielli (2003), em A República: Platão descreve o diálogo no qual Sócrates pesquisa a natureza da justiça e da injustiça. Para isso, transferindo a análise do indivi- dual ao coletivo, procura a justiça “em letras grandes”, imaginando a constituição de uma cidade ideal. À medida que essa cidade vai sendo construída, desde sua forma mais primitiva até se tornar mais complexa, há a necessidade de uma especialização de tarefas cada vez maior. Essa cidade terá então uma classe de guardiões para defendê-la e estes deverão receber uma boa educação para que sejam, segundo Sócrates, “brandos para os compatriotas embora acerbos para os ini- migos; caso contrário não terão de esperar que outros a destruam, mas eles mesmos se anteciparão a fazê-lo” (p. 375). Sendo assim, uma grande parte do diálogo se dedica a decidir qual seria a educa- ção mais adequada para se formar homens “com uma certa natureza filosófica” que terão a função de proteger e governar essa cidade ima- ginada como perfeita e justa. A proposição da metafísica3 é atribuída à Platão, cujas reflexões filosófi- cas culminam para o mundo das ideias. Segundo a Teoria das Ideias de Platão, existem dois mundos; o primeiro mundo é composto por ideias imutáveis, eternas, invisíveis e diferentes das coisas concretas; o segundo, o mundo real, 2 Suco que se extrai de uma planta rica em conicina, um dos venenos mais letais que existem. Era comumente usado na Grécia Antiga para executar condenados (HOUAISS, 2009). 3 Ciência ou o conjunto das ciências que estudam a essência das coisas, os primeiros princípios e causas do que existe (HOUAISS, 2009). Ética no Marketing – 10 – é constituído por réplicas das ideias (coisas sensíveis), cópias imperfeitas e mutáveis. Ao contrário do que se poderia pensar, o mundo das ideias, de Platão, é o lugar das coisas verdadeiras enquanto o mundo real é o lugar onde reinam as aparências e as sombras. Segundo esta premissa, o homem não se pode deixar levar pelos sentidos, que sempre lhe passam uma percepção dis- torcida das coisas que o rodeiam. A verdadeira realidade só pode ser atingida e verdadeiramente com- preendida por intermédio da razão. Vale destacar que Platão também afirma que o bem é um molde sobre o qual deveria se processar toda a ação humana. Ele entendia que o elemento da vontade do homem deveria estar sempre voltado para o bem. Platão também encaminhou seus estudos para as áreas da política e da reforma social, em decorrência do seu envolvimento com a difícil situação de Atenas após a Guerra do Peloponeso4. Ele ainda entendia que a pólis5 é o próprio terreno da vida moral e que a ética necessariamente desemboca na política. Platão reconhecia como classes superiores as dos governantes e guerrei- ros, pelas suas atividades de contemplação, guerra e política. As classes infe- riores eram as dos artesãos – devido ao desprezo do pensador pelo trabalho físico – e dos escravos – considerados pela sua sociedade como desprovidos de virtudes morais e de direitos cívicos. A ética de Platão dava-se de acordo com as ideias dominantes a partir da realidade social e política daquela época. Seguindo suas ideias reformistas, Platão fundou a sua escola em Atenas, que denominou Academia, um estabelecimento destinado à educação de adultos, com aulas ministradas por vários professores. Nesse estabelecimento, as mulheres eram aceitas com os mesmos direitos à educação que os homens, um fato curioso que não condizia com a cultura daquele contexto, em que 4 Foi um conflito armado entre Atenas (centro político do mundo Ocidental do século V a.C.) e Esparta (cidade de tradição militarista e costumes austeros), de 431 a 404 a.C. De acordo com Tucídides, autor que relatou esse conflito, a razão fundamental deste foi o crescimento do poder ateniense e o temor que o mesmo despertava entre os espartanos. 5 Pólis: as Polei (termo no plural) constituíram-se elementos fundamentais no desenvolvimen- to da cultura grega e, de um modo geral, Ocidental, que reafirmou a ideia de que o homem é fundamentalmente político, ou seja, da pólis. – 11 – História da ética elas eram consideradas inferiores física e intelectualmente. No entanto, para as mulheres frequentarem as salas de aula deveriam trajar-se tal qual os homens. A Academia foi fechada após nove séculos de atividade pelo impera- dor Justiniano, por ser considerada um reduto de paganismo do povo grego. Vale notar que, depois destes nove séculos, a cultura grega foi incor- porada pelo Império Romano, que se dividiu em duas partes. A parte que coube ao imperador Justiniano, conhecida como Império Bizantino, ado- tou a religião cristã ortodoxa como oficial. Justiniano, durante seu governo (483 a 565 d.C.), buscou unir o Oriente e o Ocidente em torno de uma só religião. Autoritário, Justiniano combateu e perseguiu judeus, pagãos e heréticos, ao mesmo tempo que interveio em todos os negócios da Igreja, a fim de mantê-la como sustentáculo e sob controle. As catedrais dos Santos Apóstolos e de Santa Sofia foram construídas durante seu governo, para mostrar ao povo a força da aliança que a Igreja tinha com o Estado. Para Platão, as virtudes se dividem em grupos, como consta a seguir: 2 a prudência ou sabedoria é a virtude da parte racional do homem, ou seja, a parte que corresponde à razão; 2 a fortaleza ou valentia é a virtude do entusiasmo, ou seja, dos impulsos de vontade e ânimo; 2 a temperança ou autodomínio relaciona-se à parte do apetite, à vida impulsiva e instintiva, mas que freia os prazeres corporais; e 2 a justiça como o equilíbrio de todas as virtudes (VÁZQUEZ, 1997, p. 231). Platão associava cada parte da alma a uma determinada classe social pró- pria de seu contexto. Segundo ele, a razão era própria da classe dos governantes e filósofos, pois a prudência os guiava. Os guerreiros eram guiados pela valentia e entusiasmo, pois defendiam as cidades-Estado. A temperança era característica da camada dos artesãos e comerciantes, motivados pelo apetite e pela moderação. A justiça social era a responsável pela harmonia entre todas as partes da socie- dade grega da época. O principal legado de Platão são as obras A República e Leis. Ética no Marketing – 12 – 1.1.3 Aristóteles Aristóteles nasceu na Macedônia, na cidade de Estagira, no ano de 384 a.C. Seu pai chamava-se Nicômaco e exercia a profissão de médico do rei da Macedônia. No ano de 367 a.C., quando Aristóteles tinha aproximada- mente 17 anos, foi enviado a Atenas para completar sua educação, devido à intensa vida cultural daquela cidade que lhe acenara possibilidade de estudo. Ingressou na Academia de Platão e estudou ali até o ano da morte do mestre, quando consolidousua vocação para filósofo. Por volta de 342 a.C., Aristóteles foi chamado para ser mestre do jovem Alexandre, o rei da Macedônia, quando este ainda tinha 13 anos. Posteriormente, o filósofo voltou a Atenas, em 334 a.C., e fundou sua pró- pria escola, o Liceu, cujos alunos eram chamados de peripatéticos6. Morreu em 322 a.C. Aristóteles, refletindo sobre como o homem poderia viver uma boa vida, afirmava que a felicidade era a finalidade de todo homem e a plena realização humana era a contemplação do exercício da razão humana. Ele ensinava que há três formas de alcançar a felicidade: pela virtude, pela sabedoria e pelo prazer. Escreveu aproximadamente uma centena de obras, mas muitos de seus livros perderam-se por terem sido proibidos pela Igreja Católica, no final da Idade Média. O pensamento moral de Aristóteles está exposto em obras como Ética a Nicômaco, Ética a Eudemo e A Grande Ética. As suas obras foram das mais discutidas e comentadas da Antiguidade, deixando uma importante herança para a história da cultura e da filosofia. 1.2 Ética ao longo da história 1.2.1 Ética romana e Cícero Entre os filósofos romanos da Antiguidade, destaca-se Marco Túlio Cícero, que nasceu em 106 a.C. e morreu em 43 a.C. Além de filósofo, foi 6 Discípulos de Aristóteles, assim chamados porque passeavam no pátio do Liceu aristotélico enquanto aprendiam os ensinamentos do filósofo mestre. – 13 – História da ética também orador, escritor, advogado e político romano. Quando Julio César desencadeou a guerra que o levaria a dominar todo o império, tratou de eli- minar seus últimos adversários. Entre estes estava Cícero, que, na época, era senador e figura proeminente da política romana. Vendo-se obrigado a dei- xar a vida pública, Cícero recolheu-se à vida privada e retomou a meditação filosófica. Discutiu diferentes doutrinas gregas sem, no entanto, vincular- -se inteiramente a nenhuma. Seu conhecimento sobre a filosofia grega fora decorrente do período em que estudou em Atenas. Uma de suas frases mais célebres diz que “a filosofia é o melhor remédio para a mente.” Os filósofos romanos dessa época, de modo geral, convergiam para a mesma preocupação com a conduta humana, com o caráter do indivíduo e com seus costumes. Todos esses aspectos em conjunto recebem o nome de moral. Esses filósofos também acreditavam que o principal objetivo das ações humanas está na própria virtude, pela sua retidão ou honestidade. A moral foi para os romanos um conjunto de deveres que a natureza impôs ao homem, seja pelo respeito a si próprio, seja pela relação com os outros homens. 1.2.2 Ética cristã na Idade Média Por volta do século III a.C., o Império Romano passou por uma profunda crise econômica e política. Atribui-se à corrupção instalada no Senado e aos gastos exorbitantes com artigos de luxo a escassez dos recursos a serem inves- tidos no exército romano, fato que atingiu negativamente o Império. Com o enfraquecimento da instituição militar romana, somado à crise política no ano de 395 a.C., o imperador Teodósio resolveu dividir os limites de seu império. Dava-se, com isso, o fim da Antiguidade e o início da Idade Média. Nessa época, a religião cristã assumiu o papel de determinar os valores morais e éticos a serem seguidos por boa parte do Ocidente. Ganham ênfase as revelações dos livros sagrados traduzidos pelo clero e, a partir deles, passam a ser determinadas as regras de conduta sociais. A figura messiânica de Jesus de Nazaré tornou-se o grande arauto de uma nova ética: a do amor ao pró- ximo. A Igreja Católica e seus dogmas7 se mantiveram por longos anos. 7 Um dogma, no campo filosófico, é uma crença ou doutrina imposta, que não admite contes- tação. No campo religioso, é uma verdade divina, revelada e acatada pelos fiéis. Ética no Marketing – 14 – 1.2.2.1 São Tomás de Aquino Santo Tomás de Aquino (1225-1274) foi um frade dominicano8. Era responsável pela orientação e proteção religiosa da sociedade. Seu maior feito foi aplicar a visão aristotélica na doutrina cristã, fato decisivo para o surgi- mento da Escolástica9. De acordo com Aquino, era a união do corpo com a alma que forma a identidade e dignidade de uma pessoa. Este pensador tam- bém acreditava que somente por meio do exercício da razão humana aliado à revelação divina que o homem poderia atingir a perfeição das virtudes. Essa vertente afirma que Deus é o legislador; e os padres, os intérpretes da lei. Para Tomás de Aquino, a fé e a razão estão unidas e não poderia haver contradição entre ambas, pois estariam sempre dirigidas rumo a Deus. Esse pensador também afirma que toda a criação é boa, tudo o que existe é bom quando se está sob a orientação dos mandamentos de Deus. Ele também afirmou que o mal é a ausência de uma perfeição divina. 1.2.3 Idade Moderna A partir do século XVI, durante a transição da Idade Média para a Moderna, a Igreja Católica começou a cair no descrédito da população devido ao protestantismo e a outros movimentos que eclodiram com a Reforma Religiosa do século XVII. Destaca-se dentro desse contexto a figura de Martinho Lutero, monge que viveu entre os anos de 1483 a 1546 e lutou pela reforma da Igreja Católica. Questionou a falta de ética na venda das indulgências10 e de relíquias sagra- das, como pedaços do manto de Jesus Cristo e de minúsculos fragmentos da sua cruz. Lutero foi a Roma e lá presenciou o comportamento antiético 8 Ordem religiosa, de característica mendicante, fundada no século XIII por São Domingos. 9 Uma linha dentro da filosofia medieval, surgida para responder às questões sobre a existência humana por meio da fé. Ensinada pela Igreja, foi considerada guardiã dos valores espirituais e morais de toda a crença católica. 10 Uma indulgência, na teologia católica, é o perdão ao cristão das penas temporais devidas a Deus, pelos pecados cometidos na vida terrena. – 15 – História da ética de alguns membros da Igreja. Percebeu que a venda de indulgências poderia confundir as pessoas e levá-las a confiar apenas nas indulgências, deixando de lado a confissão e o arrependimento verdadeiros. Além dessa questão, Lutero criticava o fato de a Bíblia ser pouco acessível à população geral, pois poucos conheciam o idioma em que estava escrita (latim), e os poucos exemplares do livro sagrado que existiam encontravam-se fechados nos conventos e igrejas. Ao contrário de uma elite eclesiástica, a grande maioria da população não conhecia a Bíblia. Lutero, no seu movimento reformista, promoveu a educação para todos, inclusive para camponeses e mulheres. Traduziu a Bíblia do latim para o Alemão, dando a oportunidade para que todos a conhecessem. O aperfei- çoamento da imprensa por Gutenberg11 também ajudou a divulgar a sagrada escritura dos cristãos. Na Idade Moderna, foram consideráveis as transformações de ordem social, econômica e política, como as viagens às Índias e às Américas e a revolução científica, proporcionada por Nicolau Copérnico, Galileu Galilei, Newton, entre outros. A partir desse contexto, alguns filósofos modernos resgataram aspectos do pensamento filosófico greco-romano no tocante à necessidade de toda a humanidade alcançar a sabedoria e a felicidade, principalmente pautando-se no equilíbrio e na razão. Immanuel Kant (1724-1804) foi um filósofo prussiano, considerado o último grande filósofo dos princípios da Era Moderna. Kant teve um grande impacto no Romantismo alemão e nas filosofias idealistas do século XIX. Para Kant, a ética é autônoma, ou seja, corresponde à lei ditada pela própria cons- ciência moral. Esse filósofo deu prosseguimento à construção da própria ideia moral, afirmando que aquilo que o homem procura está dentro dele mesmo. Muitos foram os filósofos que seguiram Kant. 11 João Gutenberg ou Johannes Gensfleisch zur Laden zum Gutenberg (1390-1468) foi um inventor alemão que se tornou famoso pela sua contribuição para a tecnologia da impressão e tipografia. Ética no Marketing – 16 – 1.3 Relaçãoda ética com outras ciências 1.3.1 Ética e política Estão relacionadas pela natureza do poder. Ao se pensar em democra- cia12, como ensina Zajdsznajder (1994, p. 96), a grande preocupação das pes- soas que elegem o político refere-se ao uso indevido do poder, que é quando o eleito coloca seus interesses particulares acima dos interesses do povo, desviando os recursos em benefício próprio ou para pagar promessas feitas durante a campanha eleitoral. É uma das questões éticas mais relevantes no campo da política. 1.3.2 Bioética Bioética enfoca as questões referentes à vida humana e às melhorias na qualidade de vida do homem. É composta por estudos multidisciplinares na área da Biologia, da Medicina e da Filosofia. Com o notável avanço da Medicina, em especial na pesquisa genética, surgiram grandes preocupações no campo da ética. A clonagem humana e a fecundação artificial são novas práticas genéticas que vêm alterar conceitos e realidades da sociedade de hoje. Por exemplo, com as descobertas da biociência, passou-se a questionar muitos pilares sobre os quais a família moderna está baseada. Tem-se por família o resultado da união em vida de uma mulher e um homem. No entanto, notícias como as veiculadas no jornal O Globo de 12/01/2003 (Caderno da Família, p. 2), discutem um novo conceito familiar. Vejamos: Uma clínica na Austrália mantém dois embriões congelados de um casal de milionários morto num acidente de carro em 1983. Ao saber da fortuna em jogo, numerosas mulheres ofereceram-se para gerar os bebês. Mas a justiça da Austrália decidiu manter os embriões congelados. 12 Regime de governo por meio do qual o poder de tomar importantes decisões políticas está com os cidadãos (povo), direta ou indiretamente, por meio de eleitos representantes. Numa frase famosa, democracia é o “governo do povo, pelo povo e para o povo”. – 17 – História da ética 1.3.3 Ética e Sociologia Estão estreitamente ligadas, pois a sociologia trata das leis que regem o desenvolvimento e a estrutura das sociedades humanas. Além disso, estuda o indivíduo inserido no meio social, de quem se espera um compor- tamento ético para o bem coletivo. As transformações sofridas nos tempos modernos atingem o homem em sociedade. A evolução das máquinas no campo e na indústria abre espaço para discussão a respeito de desemprego, da evasão rural e da superpopulação nas cidades. A Sociologia, por sua vez, está cada vez mais próxima da ética para melhor compreender o problema e possibilitar encontrar soluções para esses problemas presentes na vida do indivíduo contemporâneo. 1.3.4 Ética e Direito A relação entre essas áreas refere-se ao próprio fato de que o homem está sujeito às normas que regulamentam as condutas sociais. Os homens neces- sitam das leis e de sanções para manterem a ordem na sociedade. Como um exemplo disso, tem-se o Código de Trânsito Brasileiro. A sociedade também precisa de estatutos para determinar regras de convívio, deveres e direitos, assim como o que está disposto nos estatutos da Criança e do Adolescente e do Idoso, todos da década de 1990. Ampliando seus conhecimentos 2 Assistir ao filme Gladiador, de Ridley Scott, pois é uma produção que chama a atenção justamente pelos concei- tos de moral e ética de Roma. Seu império apoiava-se no poderio militar, cujos líderes colocavam seus capri- chos particulares acima dos interesses reais do Estado, com poderes absolutos. O filme se passa num período de decadência de valores, quando a corrupção já se Ética no Marketing – 18 – apossava do Senado romano e da maioria de seus repre- sentantes. Vale a pena refletir e comparar aos dias atuais. 2 Assistir ao filme Cruzada, também de Ridley Scott, que relata a história de dois guerreiros medievais com culturas, crenças e visões diferentes. No entanto, esses rapazes, acima de tudo, têm condutas éticas e acreditam que é possível a convivência entre os povos e o respeito à individualidade. O filme traz alguns aspectos da vida religiosa próprios da Idade Média, pois trata das guerras religiosas e da ocupação dos muçulmanos na Terra Santa (séculos VII a XII, aproximadamente). 2 Ler o livro O Mundo de Sofia: romance da história da filosofia, de autoria de Jostein Gaarder, editado pela Cia das Letras. Essa obra é um verdadeiro “passeio” por diferentes correntes filosóficas contadas a partir de uma narrativa sobre a protagonista principal, Sofia. Educação: da formação humana à construção do sujeito ético (RODRIGUES, 2001, p. 252-254) [...] Quem é o educador-formador do sujeito humano? Tradicionalmente, essa é tarefa inicial da família, a começar dos pais, passando a outros membros e a todos os adultos que convivem, desde o início, com as crianças. Em segundo lugar, já foi um papel desempenhado pelas comunidades, pois constituíam um corpo educativo formado, principal- mente, pelos mais idosos, que preservavam os princípios a serem seguidos por todos os membros da vida comunitária. A religião também já desempenhou um poder educativo em relação a uma série de valores invocados pelas comunidades. E, por último, as instituições sociais, como o Estado e seus aparelhos, a justiça, os partidos políticos, as organizações da – 19 – História da ética sociedade civil e, do ponto de vista dos conhecimentos e habilidades, as instituições educacionais. Ora, o que ocorre nos últimos tempos? Assiste-se a uma desintegração dessas unidades educativas. As famílias têm perdido sua hegemonia educativa, na medida em que deses- truturam as relações tradicionais entre seus membros. E não se está a referir apenas às famílias das classes pobres, mas de todas as chamadas unidades familiares. Os pais estão cada vez mais ausentes da vida dos filhos, desde os primeiros dias de suas vidas. Igualmente, a Igreja deixou de representar uma ins- tituição unitária e hegemônica, capaz de dar direção moral às novas gerações. E as comunidades desapareceram nas formas novas de organização da vida coletiva nos tempos modernos. Cada vez mais, as pessoas apenas vivem fisicamente próximas, sem qualquer unidade de projetos sociais, de princípios éti- cos, de trabalho, de dever, de relações. As cidades, por sua vez, se transformaram em simples aglomerações populacionais e não são formas de organização humanitária da vida coletiva. Como consequência, há grandes perdas de meios educativos na vida contemporânea. A única instituição que ainda mantém uma presença universal é a instituição escolar. Curiosamente, é ainda a única instituição para a qual se dirigem e são dirigidas todas as novas gerações, desde seu nascimento. Assim, se convida ao vislumbre da seguinte perspectiva, que pode ser considerada como crença ou aposta de futuro: cada vez mais a Escola exercerá ou poderá exercer um papel que a ela jamais foi atribuído em tempos passados: o de ser a instituição formadora dos seres humanos. O processo educativo que ela deverá desenvolver não poderá ser fragmentado e hierarquizado, nem qualquer de suas partes ser eleita como mais importante do que outra. Esse procedimento tenderia a uma espécie de ideologização da Educação. Mas isso tem acontecido. Em que sentido? Ética no Marketing – 20 – Desde os primórdios dos tempos modernos que alguns dos procedimentos próprios da ação escolar, isto é, a transmissão, a aquisição e o desenvolvimento de conhecimentos e habili- dades têm sido destacados e constituídos em núcleo central da Educação. Os processos de escolarização têm colonizado a Educação. Pode-se identificar a lógica desse fenômeno. A partir dos tem- pos modernos ocorreram diversos movimentos para universa- lizar a Educação Escolar. Como a Educação Escolar sempre teve por característica central lidar com questões do conheci- mento e da formação de habilidades, ambas as concepções de Educação Escolar e Educação foram se identificando até dissolver absolutamente o sentido de formação humana. A concepção de formação foi reduzida ao plano dos domíniosdos conhecimentos. No entanto, pode-se perceber, na atualidade, um movimento crescente em sentido contrário. Na medida em que os meios e as formas tradicionais de Educação acham-se de tal modo corroí- dos, começam a ser direcionados para a Escola os olhares dos povos, na esperança de que esta exerça uma função Educativa e não apenas a da Escolarização. Somente que será necessária uma outra visão da Escola, dos conteúdos escolares, do papel dos educadores e da relação da Escola com a sociedade. As crianças serão enviadas para a Escola cada vez mais cedo e nela permanecerão por um tempo mais extenso. E isso não será porque há um mundo novo de informações a ser pro- cessado e, sim, porque a Escola deverá exercer o tradicional papel das famílias, das comunidades, da Igreja, e ainda, o que lhe era próprio: desenvolver conhecimentos e habilidades. Ela deverá se ocupar com a formação integral do ser humano e terá como missão suprema a formação do sujeito ético. [...] – 21 – História da ética Atividades 1. Qual foi o motivo de indignação que levou Martinho Lutero a criar o movimento pela reforma da Igreja Católica? Que relação essa causa tem a ver com a ética? 2. Cite quais as preocupações da bioética. Moral e princípios éticos 2.1 Ética e moral Relembrando a origem das palavras, ética vem do grego ethos, que significa modo de ser. Moral, por sua vez, vem do latim mores e significa costumes. Entre os filósofos contemporâneos que discutem o tema, encontram-se aqueles que acreditam ser a distinção entre moral e ética algo de elevada importância; já outros sequer distinguem os dois conceitos, ou ainda, fazem uma mistura completa, entrelaçan- do-os e interligando-os constantemente, como se um conceito não pudesse existir sem o outro. 2 Rosiane Follador Rocha Egg Ética no Marketing – 24 – Na religião, por exemplo, pode-se dizer que tanto católicos como pro- testantes discutem regras de conduta e valores sociais. Contudo, para os pro- testantes, esses aspectos estão bastante relacionados à ética. Já os católicos, que discutem o mesmo conteúdo, definem-no no campo da moral. Para que haja uma compreensão simplificada sobre o assunto, é interessante alinhavar algumas diferenças, e, em outro momento, mostrar a igualdade de conceitos. 2.1.1 Diferenças de conceitos Para diferenciar ética de moral, é razoável lembrar que a primeira pro- cura as causas do comportamento humano, as atitudes do indivíduo inse- rido em uma determinada sociedade. Pensar sobre ética induz a uma reflexão sobre o significado do bem, das virtudes e de nossa relação com o próximo. A moral, por sua vez, trata do juízo de valor concebido pelo indivíduo que agirá conforme sua consciência determina. Corresponde a um conjunto de regras de conduta social que contribuem para a harmonia da ordem de uma socie- dade específica. Tais regras assumem as características próprias do contexto sócio-histórico vivenciado pelo indivíduo. Tendo em vista que os códigos de moral mudam de país para país, de comunidade para comunidade e até mesmo de família para família, deve-se ter muito cuidado ao se julgar esses códigos como inadequados ou ignoran- tes. Por exemplo, um ocidental, que possui uma moral muito diferente de qualquer povo oriental, não pode querer impor seus princípios. Não há um código mais correto que outro, tendo em vista a diversidade cultural que se estende ao redor do mundo. A moral, na explicação do filósofo Vázquez (1997, p. 24) é “um con- junto de normas e regras destinadas a regular as relações dos indivíduos numa comunidade social”. Pode-se citar um exemplo para a melhor compreensão dessa questão. Uma pessoa que sai para passear completamente nua numa rua movimen- tada da cidade seria imediatamente considerada imoral, mas sua atitude – 25 – Moral e princípios éticos dificilmente seria considerada uma falta de ética, pois não está praticando mal algum ao próximo. Mas se essa nudez é para um fim específico, represen- tando uma forma de perversão ou prostituição, daí sim estaria infringindo as leis éticas de nossa sociedade. A ética está diretamente relacionada à Filosofia, tendo em vista que busca refletir sobre a existência humana e, assim, estabelecer o ideal de com- portamento do homem em sociedade. A reflexão sobre o ethos leva-nos à prática do respeito ao próximo, do bem social, do exercício da cidadania. A partir da ética, fala-se sobre autono- mia da vontade em praticar o bem. Vale lembrar, no entanto, que o compor- tamento ético não se refere apenas à prática do bem, mas a exteriorizar aquilo que se aprendeu a respeito. É exercitar a tolerância diante das faltas alheias, a paciência em muitos momentos da vida, a obediência aos superiores em uma hierarquia, o silêncio ante uma ofensa recebida. Diferenças entre ética e moral: 2 Ética é permanente, moral é temporal. 2 Ética é universal, moral é cultural. 2 Ética é regra, moral é conduta da regra. 2 Ética é teoria, moral é prática. A ética é permanente, imutável e constante, posto que é a determinação do que é o bem, o justo, o correto. A moral se modifica conforme a passagem do tempo e se adapta à cultura de um grupo ou de um povo. É a regulamenta- ção dos valores e dos comportamentos considerados legítimos por uma deter- minada religião, sociedade, povo, tribo, ordem política, tradição cultural, e, dessa forma, não é universal. Por fim, a ética está nos conceitos teóricos do bem e do mal, do certo e do errado, do justo e do injusto. A moral, por sua vez, está no campo da prática, da consciência do homem, regulando seus atos no exercício do bem e da justiça. Ética no Marketing – 26 – 2.1.2 Igualdade de conceitos Em nossos dias, enfrentamos problemas de ordem moral e ética. Estamos sempre perguntando à nossa consciência se devemos fazer isto ou aquilo, sempre preocupados em não prejudicar o próximo. O entendimento da diferença entre esses dois conceitos na nossa realidade confunde-se e muitos estudiosos ainda encontram dificuldades em diferenciar ambos. Seus signifi- cados se misturam na forma cotidiana de viver e pensar de cada indivíduo. Assim, algumas considerações podem ser feitas para demonstrar que as duas denominações buscam fins idênticos e benéficos para as sociedades e suas organizações e, por isso, igualam-se. A conduta seria certamente criminosa caso não o tivesse feito com amparo legal. Contudo, o que suscita discussão é, justamente, o fato de o prefeito ter realizado o ato com base em permissão da lei. Aqui, a discussão de natureza ética e moral pode ir do prefeito até a própria lei, conforme perspectiva de cada pessoa daquela população. Afinal, não é incomum se discutir situações que são “legais, mas imorais”. Talvez, o que favoreça a confusão entre ética e moral seja o fato de que, originalmente, os romanos traduziram a palavra ética, do grego ethos, literal- mente para a palavra mores, moral, no tocante aos hábitos, costumes, usos e regras. Por isso, pode-se dizer que ocorre a fusão de ambos os conceitos, na medida em que não existe a prática de ato moral sem o prévio conhecimento de conceitos éticos. 2.1.3 Moral como objeto da ética Pode-se relacionar os dois conceitos, afirmando que a moral é o objeto de estudo da própria ética. Tal asserção torna-se coerente se pensarmos que fazem parte da ética os bons costumes, valores como o amor, solidariedade, paz, bondade e tolerância, ou seja, aspectos de natureza eminentemente moral. A ética é a teoria ou ciência do comportamento moral dos homens em sociedade. Ética não é moral. Ética é a reflexão crítica do ato moral, do que está certo ou errado, do que é justo ou injusto. Como lembra Nalini (2001, p. 57), ao praticar um ato seguindo sua moral, o indivíduo estará sujeito a sofrer consequências negativas. Muitas – 27 – Moral e princípios éticos vezes, o que para uns parece correto, para outros pode ser imoral. Alguns povos têm hábitos culturais que consideram corretos, mas quepodem ser incorretos para outro grupo social. Ou seja, tais hábitos podem ser imorais1 ou amorais2. Em uma determinada família, pai, mãe e filhos têm o costume de tomar banho todos juntos. É um hábito decorrente de uma cultura específica que foi nela introduzido por costumes de familiares antepassados. Nessa cultura, considera-se a exposição do corpo nu sem quaisquer conotações de sexuali- dade ou de promiscuidade. No entanto, tal hábito, caso seja relatado a outras pessoas, não pertencentes à cultura da família citada, certamente não terá uma boa aceitação, e será considerado imoral. Diante de uma diversidade de culturas, é necessário que se regulamen- tem as condutas socialmente aceitas. Para isso, tem-se o Código de Ética, uma ampla gama de estatutos e regulamentos que normalizam o que pode ou não pode ser considerado moral numa organização, numa sociedade, ou seja, no âmbito comum. Dentro do campo da ética, está sendo estipulada o que se considera aceitável sobre a conduta individual, para manter o equilíbrio, a igualdade de condições, o respeito mútuo, enfim, a maneira correta de se comportar adequadamente em sociedade. 2.2 Virtudes segundo Aristóteles Ao falarmos sobre ética e moral, é oportuno lembrar que Aristóteles ques- tionou-se bastante sobre a ideia do bem e do mal. Esse filósofo grego, por meio da observação do comportamento humano, notou que o homem parece neces- sitar de riqueza e prosperidade, mas para ser feliz também precisa das virtudes. A felicidade é uma atividade virtuosa da alma. O filósofo ensina que há duas espécies de virtudes: as intelectuais e as morais. As virtudes intelectuais resul- tam do ensinamento. As virtudes morais resultam do hábito, adquiridas pelo 1 Imoral: contrário à moral, contrário às regras de conduta vigentes em dada época ou so- ciedade ou ainda contrário àquelas regras que um indivíduo estabelece para si próprio; sem moralidade, indecoroso, vergonhoso. 2 Amoral: moralmente neutro (nem moral nem imoral, isto é, nem contra, nem a favor da moral); que não leva em consideração preceitos morais, indiferente a eles; que não tem senso de moral. Ética no Marketing – 28 – exercício desses costumes. Os homens tornam-se arquitetos construindo edi- fícios. O homem torna-se justo praticando atos justos. Mas Aristóteles alerta que, da mesma forma que se gera virtudes, pode-se destruí-las. O homem tor- na-se completamente bom ou completamente mal, não havendo meio-termo. Como já afirmou Chauí (1994, p. 310), “(...) e assim, a felicidade não é obra de um só dia, nem de pouco tempo, mas de uma vida inteira”. Para tanto, o pensador grego explica que a Doutrina do Meio-Termo garante a prática de ações que possibilitam a formação de um caráter exce- lente, do homem feliz. A virtude ética é a perfeita medida da razão para o comportamento do homem, o qual, muitas vezes, tende a cometer excesso em suas atitudes. São alguns exemplos de virtudes aristotélicas, de seus respecti- vos excessos e deficiências: 2 Coragem – é o meio-termo em relação ao sentimento de medo e de confiança. A covardia é a deficiência dessa virtude e a temeridade é o excesso. 2 Temperança – é o meio-termo em relação aos prazeres. Assim, por exemplo, a moderação é a temperança no comer e a sobrie- dade no beber. A gula é o outro extremo dessa virtude. 2 Seriedade – é o meio-termo entre a complacência e a soberba. 2 Justa indignação – é o meio-termo entre a inveja e o despeito. 2 Calma – é o meio-termo em relação à cólera e à pacatez. 2 Magnificência – é o meio-termo entre a suntuosidade e a mesquinharia. 2 Veracidade – é o meio-termo no tocante à verdade. Já o exagero é a jactância, e a carência dessa virtude gera a falsa modéstia. 2 Amabilidade – é o meio-termo na disposição de agradar a todos de maneira devida e amável; o excesso é o obsequioso, se não tiver propósito; e lisonjeiro, se visa a um interesse próprio; a deficiência é a pessoa mal-humorada (mau-humor). 2 Modéstia – seu exagero gera o envergonhado (vergonha); enquanto aquele que mostra deficiência é o despudorado, que não se envergonha de coisa alguma (despudor). – 29 – Moral e princípios éticos 2 Justiça – é o meio-termo entre o ganho e a perda. A justiça é a disposição de caráter que torna as pessoas propensas a fazer o que é justo e a desejar o que é justo. Dessa forma, a justiça é uma virtude completa, por isso, é considerada, muitas vezes, a maior das virtudes. É importante saber que é o caráter voluntário ou involuntário que determina o justo. O homem só é justo quando age de maneira voluntária e tem consciência de seus atos. Caso contrário, não pode ser considerado justo ou injusto. Temos nesses ensinamentos o quanto é importante saber a respeito das deficiências e excessos das virtudes para se buscar o meio-termo e, com isso, tornar-se digno e virtuoso. É fundamental aprender, por exemplo, o quanto é prejudicial ser excessivamente polido numa determinada situação, ou quando se poderia ser amável e conquistar a todos. Igualmente, se algumas pessoas fos- sem menos ostensivas, certamente se tornariam mais autênticas. A justa medida dos sentimentos traz ao homem mais sucesso em todas as instâncias de sua vida. 2.3 Princípios éticos Vale lembrar que são muitos os problemas a serem enfrentados pelo homem contemporâneo quanto à sua conduta moral. Dentre eles, destaca-se a dificuldade de discernimento entre o bem e o mal. É comum, ao longo de sua vida diária, os indivíduos se perguntarem: 2 O que é o bem? 2 Quais são os fundamentos das condutas morais e éticas? Colocando tais questões, entra-se no campo dos princípios éticos, refle- tindo sobre experiências dos bons costumes, das obrigações e dos deveres. Ao longo do texto, é destacada a importância dos princípios éticos para a vida em sociedade. Tais princípios devem ser retomados e renovados. Devem ainda instigar a reflexão no tempo e no espaço em que vive o homem. Falar, por exemplo, em dignidade humana, liberdade e igualdade é buscar nortear e esclarecer as pessoas para que não incorram em desvios de valores e des- considerem o corrente código ético e moral. O homem a serviço ou não da Ética no Marketing – 30 – sociedade onde vive, julga e é julgado por ela, com base em princípios éticos comuns. Por isso, os indivíduos têm por obrigação conhecer esses princípios sociais, para neles pautar sua conduta moral. Atitudes como a de ser íntegro, preservar com sabedoria a liberdade de escolha, praticar o absoluto respeito à vida humana em todas as suas formas e manifestações, ser honesto com o próximo e consigo mesmo, falar sempre a verdade, agir com responsabilidade sobre suas atitudes, além de ter boa conduta pessoal, são exemplos considerados éticos para boa parte das socie- dades contemporâneas. Vázquez (1997) afirma que é possível falar em comportamento moral somente quando o indivíduo opta conscientemente por ele. Isso envolve o pres- suposto de que o homem pode fazer o que quer, ou seja, escolher entre duas ou mais alternativas, agindo de acordo com sua decisão. Por isso, pode-se afirmar que a liberdade torna os indivíduos totalmente responsáveis pelas suas escolhas. 2.3.1 Valores no mundo atual Segundo a Bíblia, Moisés repassou 10 mandamentos ou regras ao seu povo que, de acordo com o profeta, teriam vindo diretamente de Deus. Passados milhares de anos, as pessoas ainda relembram esses ensinamentos como a verdadeira forma de conduta moral e ética. Contudo, essas mesmas pessoas parecem estar numa encruzilhada, sem saber o que é certo ou errado, principalmente quando se trata de sua sobrevivência financeira no mundo dos negócios e na ascensão profissional. Então, como manter intacto o respeito aos valores, às questões e princí- pios éticos elaborados e desenvolvidos ao longo da história? Como se manter ético na guerra dos negócios? A ética e a moral determinam a perfeição do ser. Mas, as pessoas, sofrendo com as pressões da vida moderna, confundemos meios com os fins, e não conseguem visualizar claramente o fim último da existência humana. O amor ao próximo, o respeito à vida, à igualdade, à solidariedade são valores que não caem de moda, são perenes. A ambição nasce de uma vontade a ser realizada e pode ser considerada um sentimento virtuoso, digno, correto. Mas, o que se vê nos dias atuais? – 31 – Moral e princípios éticos Vemos homens e mulheres esquecendo-se dos princípios éticos, funda- mentais para o sucesso no campo dos negócios. Para realizar seu projeto de vida, não é necessário que a prática de ações golpeie os valores morais. E o mesmo serve para as ações individuais no cumprimento dos deveres, que devem respeitar a liberdade do indivíduo e, principalmente, a do próximo. Nas relações sociais, os princípios éticos têm extrema importância. Nenhum indivíduo é respeitado se não dispensar o mesmo tratamento ao próximo. Ele só é considerado ético se estiver vivendo e agindo de acordo com as normas e convenções sociais. Pelo mundo afora, a população tem assistido a ondas de organizações criminosas, que têm como código moral não praticar seus crimes nas comu- nidades onde residem. Além disso, os componentes das organizações do nar- cotráfico obedecem ao código moral imposto pelos traficantes. E na política do nosso país? Atualmente há uma reestruturação nos par- tidos políticos. Todos os dias, eleitos pelo povo passam de um grupo para outro, motivados por falsos princípios morais, por armações e atitudes indi- viduais vergonhosas com relação ao erário3. Mesmo assim, acabam sendo reeleitos, recolocados nas câmaras, assembleias e no Senado Federal. Como bem lembra Zajdsznajder (1994, p. 96): Os políticos dispõem mais que o poder de elaborar e votar leis: podem estabelecer programas e dotações que irão beneficiar comunidades, cidades, regiões, setores econômicos. É certo que também faz parte do jogo democrático que os interessados busquem, tanto no Congresso quanto nas agências governamentais, a realização de seus interesses. Essas atividades, denominadas lobby, contêm um elemento legítimo, que é o de apresentar o caso, mostrando a validade dos interesses. O lado ilegítimo apresenta-se quando se parte para adquirir a boa vontade por meio de presentes e facilidades – como viagens e hos- pedagens gratuitas, informações sobre possibilidade de negócios ou mesmo dinheiro. Todo esse processo ilegítimo já é conhecido há décadas. A cada momento histórico, assiste-se a mais uma história de vergonha política. Como se não bastasse, surgem cada vez mais as ondas de violência, motivadas pelos novos valores do incorreto e do injusto. 3 Erário: o tesouro público, ou seja, o conjunto de bens ou valores pertencentes ao Estado. Ética no Marketing – 32 – Como alternativa a esse quadro, muitas reflexões devem ser feitas. Os conceitos também deverão ser analisados com base nas nossas aspirações, naquilo que a humanidade quer para os seus dias futuros. Certamente se deseja o resgate dos valores éticos, queremos a vida de condutas corretas e um mundo de respeito e cidadania. É interessante refletir acerca do comportamento humano, quando mui- tos apontam criminosos do campo da política, do meio ambiente, da área econômica. Culpa-se o outro pela conduta vergonhosa, quando se sabe que pouco se faz para erradicar o crime. A covardia para a realização de soluções eficazes também pode ser considerada uma falha ética. O problema é global. A infância e a juventude, cada qual ao modo mais adequado, devem ser conscientizadas da forma mais ampla possível, acerca dos conceitos de moral, ética, princípios e valores. A compreensão deve ser tal, que possa refletir imediatamente na nossa realidade, no momento atual, para que haja tempo de corrigir e reconsiderar. Não se pode esquecer também que somente ensinar a moral e a ética nas escolas não é suficiente, pois os mais jovens aprendem através da experiência e do exemplo dos mais velhos. Assim, devemos exercer a sabedoria, a felicidade, a coragem, a temperança e a justiça em nosso dia a dia; lembrando que se agirmos com respeito para com os outros, temos o direito de também sermos respeitados. Ampliando seus conhecimentos 2 Leitura do livro de Aristóteles Ética a Nicômaco. É de fácil leitura e uma boa iniciação para estudar Filosofia. 2 Leitura do livro Ética, de Adolfo Sánchez Vázquez. Os termos ‘Ética’ e ‘Moral’ (GONTIJO, 2006) […] A palavra “ética” provém do adjetivo “ethike”, termo corrente na língua grega, empregado originariamente para qualificar um – 33 – Moral e princípios éticos determinado tipo de saber. Aristóteles foi o primeiro a definir com precisão conceitual esse saber, ao empregar a expressão ‘ethike pragmatéia’ para designar seja o exercício das excelên- cias humanas ou virtudes morais, seja o exercício da reflexão crítica e metódica (praktike philosophia) sobre os costumes (ethea). Com o passar do tempo, o adjetivo gradualmente se substantiva e passa a assinalar uma das três partes da filosofia antiga (logike, ethike, physike). O adjetivo ‘ethike’, por sua vez, originara-se do substantivo ‘ethos’, que constitui uma transliteração de dois vocábulos gre- gos: éthos (com eta inicial - hqoV) e êthos (com epsilom inicial - eqoV). Éthos com eta (ç) inicial designa, em primeiro lugar, a morada dos homens e dos animais. É o éthos como morada que dá origem à significação do éthos como costume, estilo de vida e ação. A metáfora contém a ideia de que o espaço do mundo torna-se habitável pelo homem por meio do seu éthos. Isto é, mais do que habitar a physis, a natureza, o homem habita o seu éthos: pois, diferentemente da physis, o éthos, como espaço construído e incessantemente reconstruído - e tecido pelo logos - é o seu abrigo protetor mais próprio. Êthos com epsilom (å) inicial refere-se primordialmente ao processo genético do hábito (hexis) como disposição estável para agir, que decorre do exercício dos atos. A partir daí, passa a significar o caráter pessoal como um padrão relativa- mente constante de disposições morais, afetivas, comporta- mentais e intelectivas de um indivíduo. O termo latino mos, de onde provém o termo moral, foi usado (provavelmente por Cícero) para traduzir o vocábulo ethos, o qual conhece, no mundo latino, quase idêntica história semântica ao termo grego ethos. Designando originariamente a morada dos homens e dos animais, amplia gradualmente seu significado para denotar, do ponto de vista coletivo, os costumes, e de um ponto de vista individual, o modo de ser - o caráter. Ética no Marketing – 34 – Com a criação da Ética como ciência do ethos no mundo grego - como aplicação do logos demonstrativo à reflexão crítica sobre os costumes e modos de ser dos homens - a palavra ‘ética’ passou a designar, na tradição filosófica, tanto o objeto de estudo de uma disciplina quanto o estudo do objeto. ‘Ética’ significa, portanto, tanto a disciplina que reflete criticamente sobre o saber ético encarnado nos costumes e modos de ser, como esse próprio saber. O mesmo se veri- fica com a palavra ‘moral’, que servirá para designar tanto o objeto de estudo - a mo- quanto o estudo crítico do objeto - a Filosofia Moral. No que respeita a tradição filosófica, os termos ‘moral’ e ‘ética’ designam, portanto, o mesmo campo de fenômenos e o mesmo domínio de reflexão. Isto é, são sinônimos. Posição esta que pessoalmente assumo e que, igualmente, é assumida pela maior parte dos filósofos e está plenamente de acordo com a organizadora do principal dicionário de ética de nossa época - Dicionário de Ética e Filosofia Moral - Monique Canto-Sperber. Eis, com todas as letras, o que ela afirma, de forma inequívoca, em outra obra, A inquietude moral e a vida humana, publicada recentemente no Brasil: Vou decepcionar o leitor dizendo que em geral me sirvo dos termos ‘moral’ e ‘ética’ como sinônimos.[...] não há nenhuma dúvida sobre o fato de que os termos ‘moral’ e ‘ética’ designam o mesmodomínio de reflexão. E para nos referirmos ao tipo particular de atitude que é a refle- xão sobre a ação, o bem ou o justo podemos nos servir indiferentemente de qualquer um dos dois termos. […] – 35 – Moral e princípios éticos Atividades 1. Qual é a diferença entre ética e moral? 2. Cite no mínimo três virtudes, apontando seus excessos e suas defi- ciências, respectivamente. 3. Defina estes três principios éticos: responsabilidade, dignidade e solidariedade. Éticas e normas Introdução É evidente que o homem, como um ser social e político, não vive sozinho. Ao estabelecer sua vida em grupo, por necessidade de segurança e por estímulos de sobrevivência, busca garantir o bem- -estar individual e coletivo. Como um ser social, o homem está sempre aprendendo a melhor maneira de conviver com seus semelhantes e isso significa considerar seu próximo como ele é, com todas suas qualidades, defeitos e outras características pessoais. No contato com os outros, o homem deve buscar sempre compartilhar experiências, exercitar a confiança e a tolerância. 3 Rosiane Follador Rocha Egg Ética no Marketing – 38 – Como um ser político, o homem é, segundo as palavras de Aristóteles, um animal político, isto é, destinado a viver na pólis (cidade), onde se rea- liza como cidadão. Por isso, os aspectos referentes à vida em sociedade são considerados políticos. Nela, o homem e seus pares organizam-se em forma de comunidades e desenvolvem a noção de governo, de poder, de liberdade e de igualdade. Para o estabelecimento de uma vida coletiva harmoniosa, o homem pas- sou a constituir normas, padrões de condutas, regras e leis com a finalidade de regular a vida coletiva. Afinal, para que a harmonia seja instaurada em uma dada comunidade, seus membros devem respeitar uns aos outros, guiados por limites preestabelecidos que, como uma linha imaginária, têm a função de orientar os impulsos, dominar os instintos e, assim, tornar harmoniosa a convivência coletiva. 3.1 Evolução das normas O costume de escrever as normas vem de milênios, data dos tempos anteriores à Era Cristã. As normas, como visto, passaram a existir como forma efetiva de garantir o equilíbrio entre as relações humanas, nas sociedades organizadas. Geralmente, os sistemas dessas normas são voltados à proteção do homem e à disciplina do seu comportamento. 3.1.1 Antiguidade Nesta época, as pessoas viviam em um ambiente em que todos os fenô- menos maléficos eram vistos como resultantes das forças divinas. Para conter aquilo que acreditavam ser a ira dos deuses, criaram várias proibições que, quando não obedecidas, resultavam em castigo. Das desobediências, surgiram os crimes e as penas. Muitas vezes, os castigos eram cumpridos com oferendas aos deuses ou com o sacrifício da própria vida. O castigo não era algo feito para ofender ou humilhar o castigado. Acima de tudo, a prática do castigo tinha um caráter moralizador e corretivo. Pode-se afirmar que os homens na Antiguidade limitavam-se a proteger a vida, a integridade física, a honra e a propriedade. São algumas das leis escritas dessa época: – 39 – Éticas e normas 3.1.1.1 Código de Hammurabi (séc. XVII a.C.) Hammurabi (1728-1686 a.C.) foi considerado o maior rei da Mesopotâmia Antiga, o verdadeiro consolidador do Império Babilônico, que era composto por uma grande heterogeneidade de povos. Ele foi também um exímio administrador público. Uma de suas primeiras preocupações foi a implantação do direito e da ordem na sociedade da época, fundamento da unidade interna do seu reino. O código proposto instituiu 282 parágrafos com matéria processual, penal, patrimonial, obrigacional e contratual, famí- lia, sucessão, regulamenta profissões, preços e remuneração de serviços. Eis alguns exemplos: Se um inquilino paga ao dono da casa a inteira soma do seu aluguel por um ano e o proprietário, antes de decorrido o termo do aluguel, ordena ao inquilino mudar-se de sua casa antes de passado o prazo, deverá restituir uma quota proporcional à soma que o inquilino lhe deu. (EDUCATERRA, 2007) As penas adotadas pelo legislador Hammurabi eram severas, principal- mente para os crimes de lesão corporal e homicídios. Suas leis embasavam-se no princípio de Talião1, cuja premissa era a do “olho por olho, dente por dente”. Esse código chegava ao extremo de determinar que, caso um homem matasse o filho de outro, a pena seria paga com a vida do filho do homicida. Segundo Costa (1992, p. 23), sobre esse código: O autor de roubo por arrombamento deveria ser morto e enterrado em frente ao local do fato. (...) As penas eram cruéis: jogar no fogo (roubo em um incêndio), cravar em uma estaca (homicídio praticado contra o cônjuge), mutilações corporais, cortar a língua, cortar o seio, cortar a orelha, cortar as mãos, arrancar os olhos e tirar os dentes. 3.1.1.2 Lei Mosaica (séc. XIII a.C.) Sua autoria é atribuída ao profeta Moisés e é encontrada nos primei- ros livros da Bíblia cujo conjunto leva o título de Pentateuco. O judeus os chamam também de Torá. É considerado um dos códigos mais importantes da Antiguidade e se divide nos seguintes livros: Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio. Teria como fundamento as leis divinas. Apesar 1 O termo Talião vem do latim talis, que significa igual ou semelhante. A lei tem esse nome justamente porque determina que o criminoso sofra tal qual fez sua vítima sofrer. Ética no Marketing – 40 – de também considerar o princípio de Talião, essa lei possui um caráter mais humanitário, ou seja, concebe o indivíduo com maior dignidade, visto que lhe reserva um dia de descanso e, com isso, poupa-lhe do trabalho escravo. Além disso, trata a relação social de forma mais igualitária. 3.1.1.3 O Código de Manu (séc. II a.C.) Este conjunto de leis da Índia Antiga é composto de 12 livros. Protege em especial a posse individual de bens, a propriedade privada, a honra pes- soal, a vida, a integridade física e o clã, já que exigia do homem do casal comportamento digno com relação à mulher e à família. Punia o adultério e admitia a separação de casais. Entre suas mais altas penas, estava a de morte, o exílio e o confisco de bens. Esse código não teve a mesma projeção como o de Hammurabi, no entanto, seus escritos se expandiram pelas regiões da Assíria, Judeia e Grécia. Essas leis são consideradas uma obra-prima de organização geral da socie- dade, com fortes motivações políticas e religiosas. Nesse código, há uma série de ideias sobre valores, tais como verdade, justiça e respeito. Versa sobre a credibilidade dos testemunhos, atribui dife- rente validade à palavra dos homens, conforme a casta que pertencem. 3.1.1.4 Lei das XII Tábuas (452 a.C.) A repercussão desta lei foi maior que qualquer outro código antigo, pois serviu de alicerce para a legislação romana. É um dos maiores monumentos jurídicos de todos os tempos e é con- siderado fonte do direito universal. Decorridos mais de 2.000 anos, suas palavras estão em legislações de muitos povos, ainda que transformadas pelo tempo e adaptadas às novas condições sociais. 3.1.1.5 Alcorão (Corão) Datado do início do século VII d. C., é o livro religioso e jurídico dos muçulmanos. Os seus seguidores acreditam que foi ditado por Alá (Deus) através do arcanjo Gabriel e, portanto, não foi redigido por Maomé, que não sabia escrever. Por meio de recursos sociológicos e lógicos, muitas – 41 – Éticas e normas complementações foram feitas ao longo do tempo até os dias atuais, mas sem perder a força dos ditames de Alá ao profeta Maomé. Ainda em vigor em alguns Estados, como Arábia Saudita e Irã, o Alcorão estabelece severas penalidades em relação ao jogo, bebida e roubo, além de considerar a mulher inferior ao homem. 3.1.2 Idade Média A Idade Média caracterizou-se por ser uma época de batalhas sangren- tas, intolerância religiosa, perseguições e torturas. Além da frequência com que era aplicada a pena de morte, era executada com requintes decrueldade (fogueira, afogamento, soterramento, enforcamento), como forma de inti- midação e atemorização e com o objetivo de dar exemplo. As sanções penais eram desiguais, dependendo da condição social e política do réu, sendo comum o confisco, a mutilação, os açoites, a tortura e as penas infamantes. As leis medievais puniam o suicida com o confisco de bens quando consumado o crime, que acabava punindo injustamente os filhos pelo ato do pai. Nessa época, a Igreja Católica produziu uma considerável quantidade de informações sobre o que era certo e justo na visão da Lei Divina. Também normatizou o comportamento, o socialmente aceitável, como os bons cos- tumes e os cultos religiosos ministrados em latim, de forma a estabelecer o comportamento padrão para essa época. No cenário medieval, o que prevalecia era a lei fundada naquilo que se acreditava ser a vontade de Deus. Outros exemplos do processo de desenvol- vimento das leis nessa mesma época encontram-se nos seguintes documentos: 2 a Carta Magna (1215-1225) – firmada pelo rei inglês John Lackland (ou “João Sem Terra”), feita para proteger os privilé- gios dos barões e os direitos dos homens livres. É considerado o documento básico das liberdades inglesas. 2 as Leis de Leão de Castela (1256) – denominadas as Sete Partidas, que visavam proteger a inviolabilidade da vida, da honra, do domicílio e da propriedade, assegurando aos acusa- dos um processo legal que evitasse a punição injusta. A primeira das sete regras dispunha: os juízes devem garantir a liberdade. Ética no Marketing – 42 – 2 a Carta das Liberdades (1253) – de Teobaldo II, de Navarra. 2 o Código de Magnus Erikson (Suécia, 1350) – segundo o qual o rei devia jurar lealdade e justiça ao povo, comprometendo-se a não privar nem o pobre nem o rico, de sua vida ou de sua inte- gridade corporal sem processo judicial em devida forma. 3.1.3 Idade Moderna Vale lembrar que, na transição da Idade Média para a Idade Moderna (séculos XV e XVI), muitas transformações sociais, científicas, econômicas e culturais aconteceram na Europa, como a expansão do comércio marítimo, o descobrimento de novas terras pelos povos ibéricos, a formação da burguesia mercantil, o advento da imprensa, as descobertas científicas, a Reforma da Igreja Católica e o movimento Protestante. Tudo isso resultou em novas ati- tudes filosóficas e científicas que situaram o homem no centro dos estudos e dos acontecimentos. Na Inglaterra, foram produzidos documentos de grande expressão no século XVII , acerca da proteção dos direitos individuais. Estes são alguns deles: 2 Petition of Rights (1628) – requerimento que impunha condições como a de que nenhum homem livre pudesse ser detido ou aprisionado, nem despojado de seu feudo, suas liberdades e franquias, nem posto fora da lei, nem exilado, nem molestado de qualquer outro modo, senão em virtude de sentença legal de seus pares ou de disposição das leis do país, respeitando princípios legais (PINHEIRO, 2001). Esse documento redigido pelos parlamentares foi dirigido ao monarca como forma de reconhecimento de diversos direitos e liberdades para os súditos. 2 Habeas Corpus Amendment Act (1679) – foi um documento que ficou conhecido pela sua conquista com relação à liber- dade individual, diante da prepotência dos detentores do poder público da época. 2 Bill of Rights (1688) – declarou ilegais os atos da autoridade real inglesa que, sem permissão do parlamento, suspendia as – 43 – Éticas e normas leis ou sua execução e mandava arrecadar dinheiro em nome da Coroa inglesa, além da quantia permitida pelo Parlamento. Esse documento também proclamou a liberdade de discussão e proibiu a imposição de penas cruéis e sem fundamento. Ainda no século XVIII foram editados três documentos, igualmente expressivos no que diz respeito à preocupação com o indivíduo: 2 a Declaração de Direitos do Bom Povo da Virgínia (1776) – considerada a primeira declaração de direitos fundamentais, no sentido moderno: consagrava o princípio da isonomia2; da imparcilidade do juiz, da liberdade de imprensa e de religião; 2 a Declaração da Independência dos Estados Unidos (Thomas Jefferson, 1776) – confirma os direitos inalienáveis do ser humano e proclama que os poderes dos governantes derivam do consentimento do povo governado; 2 Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão (1789) – é uma das conquistas mais importantes das liberdades indivi- duais no Ocidente moderno. Surgiu no contexto da Revolução Francesa e representa a síntese do pensamento político, moral e social do século XVIII até os dias atuais. É o documento mar- cante do Estado liberal e proclama os seguintes princípios: iso- nomia, liberdade, propriedade, legalidade, presunção de ino- cência, liberdade religiosa, livre manifestação do pensamento (PINHEIRO, 2001). 3.1.4 Idade Contemporânea Muitos historiadores afirmam que esta fase teve seu início a partir da Revolução Francesa (1789). Com o evento das duas grandes guerras mun- diais, o ceticismo imperou no mundo juntamente com a crença de que a humanidade toda (até mesmo as nações consideradas mais avançadas para a época) era capaz de cometer atrocidades dignas de bárbaros. A Primeira 2 Igualdade conforme a lei. Ética no Marketing – 44 – Grande Guerra3 resultou na criação da Sociedade das Nações (1919) e a Segunda Guerra Mundial, na criação da ONU4 (1945). A partir desses eventos, a necessidade de normatizar e determinar siste- maticamente o que eram direitos humanos, em âmbito universal, tornou-se mais evidente. A exemplo desta preocupação surgiu a Declaração Universal dos Direitos Humanos, de 1948. Aprovado pela ONU, em meados do século XX, esse documento visou estabelecer direitos para todos os seres humanos, independentemente de suas características, tais como idade, cor, raça, religião, sexo etc. Traz em seu cerne os princípios iluministas de liberdade, igualdade e fraternidade. Baseando-se nestes, essa declaração prevê, ainda, a garantia contra qualquer tipo de escravidão humana, tortura, prisão, penas arbitrárias e discriminações (PINHEIRO, 2001). Possui 30 artigos no total. 3.2 Normas como regras de convívio 3.2.1 Direitos humanos na Constituição Federal do Brasil (1988) Encontra-se relação da Constituição Federal com os direitos humanos, pois, já no primeiro artigo, aponta a cidadania, a dignidade da pessoa humana e os valores sociais do trabalho como princípios fundamentais. Também determina os objetivos fundamentais para a construção de uma sociedade livre, justa e solidária, em que seja possível erradicar a pobreza, a margina- lização, reduzir as desigualdades sociais e promover o bem de todos sem, qualquer forma de discriminação. 3 “Primeira” ou “Segunda” Grande Guerra são nomes, mais propriamente conceitos históricos, aceitos academicamente e aqui adotados pela autora. 4 A Organização das Nações Unidas (ONU) é a organização internacional que tem como objetivo: manter a paz e a segurança internacionais; estabelecer relações cordiais entre as nações do mundo, obedecendo aos princípios da igualdade de direitos e da autodeterminação dos povos; e incentivar a cooperação internacional na resolução de problemas econômicos, sociais, culturais e humanitários. – 45 – Éticas e normas A Constituição de 1988, também conhecida como nossa Carta Magna, garante a igualdade de todos perante a lei, sem distinção de qualquer natu- reza. Ainda, garante aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade. São incisos do artigo 5º: I - homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações, nos termos desta Constituição; II - ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei; III - ninguém será submetido a tortura nem a tratamento desumano ou degradante; IV - é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato. A Constituição Federaldo Brasil trata ainda dos direitos sociais, no que diz respeito à educação, à saúde, ao trabalho, ao lazer, à segurança, à previdência social, à proteção à maternidade, à infância e à assistência aos desamparados. 3.2.2 Estatuto do Idoso Representado pela Lei 10.741/2003, veio para convocar toda a socie- dade para zelar pelos idosos, estabelecendo regras a fim de esclarecer como devem ser amparados. Esse estatuto esclarece que o idoso goza dos mesmos direitos que o indi- víduo comum e assegura-lhe, por lei, todas as oportunidades e facilidades com o fim de preservar-lhe a saúde físico-mental, aperfeiçoamento moral, intelectual, espiritual e social, sempre em condição de dignidade e liberdade. Esse código de normas veio esclarecer, no seu artigo 3º, que é obrigação não só dos familiares do idoso, como também da comunidade e do Poder Público, assegurar-lhe com absoluta prioridade a efetivação do direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, à cultura, ao esporte, ao lazer, ao trabalho, à cidadania, à liberdade, à dignidade, ao respeito e à convivência familiar e comunitária, bem como determinar que é dever de todos prevenir a ameaça ou violação aos direitos do idoso. Ética no Marketing – 46 – Antigamente, desrespeitar um indivíduo idoso significava uma atitude antiética. Atualmente, aquele que assim proceder, tratando o indivíduo com mais de 60 anos com negligência, discriminação, violência, crueldade ou opressão, será punido na forma da lei. 3.2.3 Estatuto da Criança e do Adolescente A Lei 8.069/1990 defende a proteção integral à criança e ao adolescente, considerando criança a pessoa até 12 anos de idade incompletos e adolescente aquela entre 12 e 18 anos de idade. Determina em seu artigo 3º: Art. 3º. A criança e o adolescente gozam de todos os direitos funda- mentais inerentes à pessoa humana, sem prejuízo da proteção integral de que trata essa Lei, assegurando-se-lhes, por lei ou por outros meios, todas as oportunidades e facilidades, a fim de lhes facultar o desen- volvimento físico, mental, moral, espiritual e social, em condições de liberdade e de dignidade. Essa lei veio responder a questões como a da responsabilidade dos pais ou pessoas físicas e jurídicas que, por algum motivo, tornaram-se responsáveis pela manutenção do menor, aplicando medidas que vão desde a advertência até a suspensão ou destituição do poder familiar. Igualmente ao que está estipulado em favor do idoso, o artigo 4º do Estatuto da Criança e do Adolescente dispõe que, além do dever da família em assegurar com absoluta prioridade a efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à profissiona- lização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência fami- liar e comunitária, também incumbe as mesmas obrigações à comunidade, à sociedade em geral e ao Poder Público. E mais, o estatuto impõe que “nenhuma criança ou adolescente será objeto de qualquer forma de negligência, discriminação, exploração, violên- cia, crueldade e opressão, punido na forma da lei qualquer atentado, por ação ou omissão, aos seus direitos fundamentais”. A grande preocupação do legislador é o bem comum individual e da coletividade, considerando a condição peculiar da criança e do adolescente como pessoas em desenvolvimento. Num país como o Brasil, sem dúvida – 47 – Éticas e normas alguma, as crianças devem ter prioridade na prevenção e tratamento de saúde, uma rica alimentação e educação, para que se possa mudar o cenário nacional. Infelizmente, a realidade ainda está a demonstrar que as crianças brasileiras são alvos da exploração do trabalho sem remuneração (pois o que ganham entregam aos pais ou a outro adulto) e da delinquência (são usadas de mulas no tráfico de drogas), com grande representação no alto índice de criminalidade (são usadas por maiores de idade5 como álibi para a impuni- dade de seus atos). 3.2.4 Código do Consumidor Este conjunto de normas surgiu em resposta ao anseio da sociedade bra- sileira, cansada de sofrer abusos decorrentes da falta de ética de fornecedores de produtos e serviços, fatos estes que frequentemente voltam à tona no noti- ciário jornalístico. O Código do Consumidor, formalizado pela Lei 8.078/1990, estabelece normas de proteção e defesa do consumidor e está em conformidade com os termos dos artigos 5º, inciso XXXII, artigo 170, inciso V, da Constituição Federal e artigo 48 de suas Disposições Transitórias. De acordo com esse código, considera-se consumidor “toda pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza produto ou serviço como destinatário final”. Considera fornecedor “toda pessoa física ou jurídica, pública ou privada, nacional ou estrangeira, bem como os entes despersonalizados que desen- volvem atividade de produção, montagem, criação, construção, transforma- ção, importação, exportação, distribuição ou comercialização de produtos ou prestação de serviços”. Estabelece no seu artigo 4º: Art. 4º A Política Nacional das Relações de Consumo tem por obje- tivo o atendimento das necessidades dos consumidores, o respeito à sua dignidade, saúde e segurança, a proteção de seus interesses econô- micos, a melhoria da sua qualidade de vida, bem como a transparên- cia e harmonia das relações de consumo. 5 “Adultos” não corresponde a um termo adequado para assuntos referentes à Constituição, que entende como “maior” o indivíduo com mais de 18 anos. Ética no Marketing – 48 – Nesse código, fica expressamente estabelecida a Política Nacional das Relações de Consumo, que é composta por regras que visam proteger o con- sumidor brasileiro, principalmente no que se refere à sua dignidade finan- ceira, saúde e segurança (SIQUEIRA NETO, 2007). A grande importância na leitura desse código é o respeito dos direitos básicos do consumidor, reconhecidos, principalmente: 2 a proteção da vida, saúde e segurança contra os riscos provoca- dos por práticas no fornecimento de produtos e serviços consi- derados perigosos ou nocivos; 2 a educação e divulgação sobre o consumo adequado dos produ- tos e serviços, asseguradas a liberdade de escolha e a igualdade nas contratações; 2 a informação adequada e clara sobre os diferentes produtos e serviços, com especificação correta de quantidade, característi- cas, composição, qualidade e preço, bem como sobre os riscos que apresentem; 2 a proteção contra a publicidade enganosa e abusiva, métodos comerciais coercitivos ou desleais, bem como contra práticas e cláusulas abusivas ou impostas no fornecimento de produtos e serviços; 2 a modificação das cláusulas contratuais que estabeleçam presta- ções desproporcionais ou sua revisão em razão de fatos superve- nientes que as tornem excessivamente onerosas; 2 a efetiva prevenção e reparação de danos patrimoniais e morais, individuais, coletivos e difusos; 2 o acesso aos órgãos judiciários e administrativos com vistas à prevenção ou reparação de danos patrimoniais e morais, indi- viduais, coletivos ou difusos, assegurada a proteção jurídica, administrativa e técnica aos necessitados; 2 a facilitação da defesa de seus direitos, inclusive com a inversão do ônus da prova, a seu favor, no processo civil, quando, a crité- rio do juiz, for verossímil a alegação ou quando for ele hipossu- ficiente, segundo as regras ordinárias de experiências. – 49 – Éticas e normas Muito embora não se esteja ainda diante do melhor entrosamento entre consumidor e fornecedor, com essas normas regulamentadoras temos um campo aberto para muitas negociações, conciliações e adaptações que vão alinhavando a melhor conduta a ser praticada nas relações de consumo. A exemplo disso, muitas empresas passaram a melhor redigir seus contratos, a esclarecer melhor os manuais de instrução dos seus produtos e a qualificar melhor seus funcionários em benefício da coletividade. Ampliando seus conhecimentos 2 Assistir ao filme O Escorpião Rei, do diretor Chuck Russell. A história se passa na
Compartilhar