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UNIVERSIDADEDE ARARAQUARA – UNIARA DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS ARQUITETURA E URBANISMO JAMES LUCIAN CARVALHO SILVA RAFAELA TOBIO LIMA CATEDRAL DE BRASÍLIA Catedral Metropolitana Nossa Senhora Aparecida Arquiteto: Oscar Ribeiro de Almeida de Niemeyer Soares ARARAQUARA - SP 2019 CATEDRAL DE BRASÍLIA 1 "... como uma flor naquela terra agreste e solitária. Uma cidade erguida em plena solidão do descampado como uma mensagem permanente de graça e poesia..." (BRASÍLIA, SINFONIA DO ALVORADA VINÍCIUS DE MORAES) CATEDRAL DE BRASÍLIA 2 Sumário CONTEXTO HISTÓRICO: BRASIL NA DÉCADA DE 50 ............................................... 3 A Segunda Metade da Década de 50 ...................................................................................... 3 A Arquitetura Moderna Brasileira ...................................................................................... 4 BIOGRAFIA DE OSCAR NIEMEYER ................................................................................ 5 A Construção de Brasília ...................................................................................................... 14 Exilado do Brasil ................................................................................................................ 16 Sua Trajetória de 1980 a 2012.........................................................................................17 A CATEDRAL DE BRASÍLIA: ANÁLISE DA OBRA......................................................20 História...................................................................................................................................20 Implantação..........................................................................................................................23 O Projeto Arquitetônico....................................................................................................30 O Projeto Estrutural......................................................................................................32 A Execução...............................................................................................................34 Iconografia.............................................................................................................36 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..................................................................................48 CATEDRAL DE BRASÍLIA 3 1. CONTEXTO HISTÓRICO: BRASIL NA DÉCADA DE 50 A década de 50 é conhecida como os “anos dourados” do Brasil ou “anos de ouro”. O início da década é marcado pela chegada da televisão no Brasil. Em 18 de setembro de 1950 é lançada a TV Tupi em São Paulo, fundando assim o primeiro canal de televisão no país. No mesmo ano, o Brasil, pela primeira vez, foi sede da Copa do Mundo de Futebol e Getúlio Vargas é eleito presidente constitucional do Brasil. No dia 20 de outubro de 1951, é inaugurada a I Bienal Internacional de Arte de São Paulo e em 1953 é criada a empresa estatal Petrobrás. Em 1954, é realizado o primeiro transplante de córneas no Brasil e no mesmo ano, o então presidente do país, Getúlio Vargas, se suicida. O final da década é marcado pelo surgimento da Bossa Nova, a primeira vitória do Brasil em uma Copa do Mundo de Futebol, em 1958, os avanços no cinema e teatro, a internacionalização da arquitetura brasileira e sobretudo, as expectativas em torno de Brasília. 1.1 A Segunda Metade da Década de 50 Em outubro de 1955 é eleito como presidente do Brasil, Juscelino Kubitschek. O Brasil da primeira metade dos anos de 1950 sofreu convulsões políticas com o suicídio do presidente Getúlio Vargas e movimentações no sentido de impedir a posse constitucional do presidente eleito, Juscelino Kubitschek de Oliveira. O governo de JK (iniciais do presidente) entrou para história do país como a gestão presidencial na qual se registrou o mais expressivo crescimento da economia brasileira. Na área econômica, o lema do governo foi "Cinquenta anos de progresso em cinco anos de governo". Para cumprir com esse objetivo, o governo federal elaborou o Plano de Metas, que previa um acelerado crescimento econômico a partir da expansão do setor industrial, com investimentos na produção de aço, alumínio, metais não-ferrosos, cimento, álcalis, papel e celulose, borracha, construção naval, maquinaria pesada e equipamento elétrico. Neste plano estava previsto também o reordenamento do sistema de energia e transportes e o nascimento da indústria automobilística brasileira, além é claro da transferência da capital federal para Brasília, o que incluía toda sua construção. CATEDRAL DE BRASÍLIA 4 O Plano de Metas teve pleno êxito, pois no transcurso da gestão governamental a economia brasileira registrou taxas de crescimento da produção industrial (principalmente na área de bens de capital) em torno de 80%. A prioridade dada pelo governo ao crescimento e desenvolvimento econômico do país recebeu apoio de importantes setores da sociedade, incluindo os militares, os empresários e sindicatos trabalhistas. Porém, o acelerado processo de industrialização registrado no período e todos os gastos com a nova capital, não deixaram de acarretar uma série de problemas de longo prazo para a econômica brasileira. O governo realizava investimentos no setor industrial e concretizava a construção de Brasília a partir da emissão monetária e da abertura da economia ao capital estrangeiro. A emissão monetária (ou emissão de papel moeda) ocasionou um agravamento do processo inflacionário, enquanto que a abertura da economia ao capital estrangeiro gerou uma progressiva desnacionalização econômica, porque as empresas estrangeiras (as chamadas multinacionais) passaram a controlar setores industriais estratégicos da economia nacional. O controle estrangeiro sobre a economia brasileira era preponderante nas indústrias automobilísticas, de cigarros, farmacêutica e mecânica. Em pouco tempo, as multinacionais começaram a remeter grandes remessas de lucros (muitas vezes superiores aos investimentos por elas realizados) para seus países de origem. Esse tipo de procedimento era ilegal, mas as multinacionais burlavam as próprias leis locais. Portanto, se por um lado o Plano de Metas alcançou os resultados esperados, por outro, foi responsável pela consolidação de um capitalismo extremamente dependente que sofreu muitas críticas e acirrou o debate em torno da política desenvolvimentista. Quanto à população brasileira, em nenhuma outra década do século 20, a população cresceu tanto quanto no período de 1950 a 1960: um crescimento em torno de 35%, com o número de pessoas saltando de 52 para 70 milhões. 1.2 A Arquitetura Moderna Brasileira O modernismo arquitetônico nasce na Europa para encontrar soluções para os problemas gerados pelas mudanças sociais e econômicas durante a Revolução Industrial. No Brasil, diferentemente, ele surge sem a necessidade de solucionar problemas sociais, pois as obras modernistas surgem quando ainda se iniciava o processo de industrialização. Além disso, o movimento moderno brasileiro pregava que o Brasil devia expressar-se de forma autônoma e independente dos ideais europeus. Isso marcou o movimento CATEDRAL DE BRASÍLIA 5 arquitetônico brasileiro e fez com que surgisse uma nova maneira de desenvolver projetos arquitetônicos, adaptando-os à nossa cultura, formas e materiais. A origem da arquitetura moderna brasileira está discutivelmente atrelada ao movimento artístico brasileiro do início do século XX, cujo ápice e consolidaçãose deram com a Semana de Arte Moderna de 1922, que ocorreu na cidade de São Paulo em fevereiro daquele ano. Embora longe de haver sido bem aceita àquela época pelo público, a Semana de 22 proporcionou enfoques fundamentais para o desenvolvimento do movimento moderno brasileiro. Além disso, o movimento gerou uma nova fase estética que acabou integrando tendências que já vinham aparecendo, e não se limitou apenas a arquitetura e arte moderna, envolveu também aspectos ligados a áreas sociais, tecnológicas, econômicas e artísticas. As obras deste estilo apresentavam como características formas geométricas definidas, sem ornamentos; uso de pilotis a fim de liberar o espaço sob o edifício; vidros contínuos nas fachadas ao invés de janelas; aproveitamento do espaço do edifício etc. Seguia os cinco pilares da arquitetura moderna de Le Corbusier. Neste período, a arquitetura brasileira tem como marca um conflito entre o neocolonial - estilo dominante na arquitetura brasileira da época baseada na arquitetura usada em Portugal e que se manteve aqui pelos colonos portugueses - e o Modernismo, que começava a ganhar espaço. O Estado teve papel importante na consolidação do modernismo arquitetônico brasileiro, pois patrocinava obras, já que buscaram o modernismo como símbolo de modernidade e progresso do novo Brasil que se desenvolvia, a ideia de uma nova Nação com uma identidade própria, a tomar como exemplo o projeto arquitetônico de Brasília. E foi durante a construção de Brasília, na década de 50, que a arquitetura moderna brasileira, com o plano piloto de Lúcio Costa e os projetos de Oscar Niemeyer, ficou em evidência internacional e concretizou a ideia de um novo país. 2. BIOGRAFIA DE OSCAR NIEMEYER Oscar Ribeiro de Almeida de Niemeyer Soares nasceu em 15 de dezembro de 1907 no Rio de Janeiro, no bairro de Laranjeiras, na rua Passos Manuel, que receberia no futuro o nome de seu avô Antônio Augusto Ribeiro de Almeida, ministro do Supremo Tribunal Federal. CATEDRAL DE BRASÍLIA 6 Filho de Delfina Ribeiro de Almeida e Oscar de Niemeyer Soares, Niemeyer passa a sua juventude sem preocupações e na boêmia, frequentando o Café Lamas, o clube do Fluminense e a Lapa. Em suas palavras: "parecia que estávamos na vida para nos divertir, que era um passeio." Em 1928 formou-se no ensino médio e neste mesmo ano casou-se com Annita Baldo , na época com 18 anos, com quem teve sua única filha Anna Maria Niemeyer, em 1930, que deu ao arquiteto cinco netos, treze bisnetos e quatro trinetos. Annita Baldo faleceu em 2004, após 76 anos de união. Dois anos depois, aos 99 anos, Oscar casou com sua secretária, Vera Lúcia Cabreira, de 60 anos. Na juventude, após seu casamento, para sustentar a família, Niemeyer começou a trabalhar na tipografia de seu pai. Em 1929, ele se matriculou no curso de Engenharia e Arquitetura na Escola Nacional de Belas Artes do Rio de Janeiro. Durante a Segunda Guerra Mundial Niemeyer vivencia a reforma proposta pelo recém nomeado diretor do curso de arquitetura, Lucio Costa. Em sua rápida passagem pela diretoria da ENBA entre 1930 e 1931, Lucio Costa remodelou o curso de arquitetura com base nos princípios modernos vigentes na Europa. Esse novo modelo repercutiu nos estudantes, cuja turma rendeu alguns dos grandes nomes do modernismo brasileiro. Durante o terceiro ano de curso, ao invés de estagiar numa firma construtora como era comum, Niemeyer decide trabalhar de graça no escritório de Lúcio Costa, Gregori Warchavchik e Carlos Leão, mesmo passando por dificuldades financeiras. Em 1934, Niemeyer se forma Engenheiro Arquiteto. Em 1936, aos 29 anos, Lúcio Costa foi escolhido pelo então ministro da educação Gustavo Capanema para projetar a nova sede do Ministério da Educação e Saúde, no Rio de Janeiro, cujo concurso público ganho por Archimedes Memoria havia sido cancelado. Embora Lucio Costa estivesse convicto da modernidade arquitetônica necessária, ainda lhe faltava uma hábil utilização dessa linguagem, e, portanto, ele reuniu um grupo de jovens arquitetos (Carlos Leão, Affonso Eduardo Reidy, Jorge Moreira e Ernani Vasconcellos) para projetar o edifício. Este projeto estava inserido no contexto político do Estado Novo, quando Getúlio Vargas, presidente do Brasil, usava a arquitetura e o urbanismo como ferramentas para ilustrar os novos rumos da nação em uma fase intermediária, que buscava se transformar de potência agrícola exportadora de café em um país industrializado. CATEDRAL DE BRASÍLIA 7 Ele também insistiu que o próprio Le Corbusier devia ser convidado como consultor. Apesar de Niemeyer não ter sido inicialmente incluído na equipe, Lucio Costa o adiciona à equipe após insistência do jovem arquiteto. Durante o período de estadia de Le Corbusier no Rio, Niemeyer foi designado a ajudá-lo com os desenhos, o que lhe permitiu um contato mais próximo com o mestre franco-suíço. Depois da partida de Le Corbusier, que havia produzido duas soluções para o edifício, Niemeyer modifica alguns aspectos de um dos esquemas, o que impressionou Lucio Costa a ponto de o grupo decidir levar sua proposta adiante. Gradualmente Niemeyer se faz importante no grupo, sendo que em 1939 assume a liderança, após Lucio Costa se afastar do projeto. O Ministério, que havia assumido a tarefa de moldar o "novo homem, brasileiro e moderno" foi o primeiro edifício modernista no mundo a ser patrocinado pelo Estado, numa escala muito maior que qualquer projeto de Le Corbusier construído até então. Concluído em 1943, quando Niemeyer tinha 36 anos, o Ministério havia demonstrado na prática os elementos que viriam a ser reconhecido como a base do modernismo arquitetônico brasileiro: eleva-se da rua apoiando-se em pilotis, sistema de pilares de concreto que mantém o prédio suspenso, permitindo o trânsito livre de pedestres por baixo do mesmo (um espaço público de passagem). Empregou materiais locais, como os azulejos ligados à tradição portuguesa; revolucionou os brises-soleils corbusianos, ao torná-los ajustáveis e os relacionando com os dispositivos de sombreamento mouros da arquitetura colonial; cores ousadas, os jardins tropicais de Burle Marx, e especialmente encomendando obras de artistas, reunindo os maiores nomes do modernismo brasileiro, como Portinari, Alfredo Ceschiatti e Roberto Burle Marx. O edifício é considerado o primeiro grande marco da Arquitetura Moderna no Brasil e um dos mais influentes do século XX, sendo um modelo de diálogo entre estruturas baixas e blocos em altura (a exemplo da Lever House, em Nova Iorque). Em 1937, Niemeyer foi convidado por um parente para projetar um berçário para uma instituição filantrópica que atendia jovens mães, a Obra do Berço, que se tornaria seu primeiro trabalho finalizado. Neste edifício nota-se a presença dos elementos defendidos na arquitetura moderna e clara influência de Le Corbusier: o pilotis, a planta livre, a fachada livre, possibilitando a abertura total de janelas na fachada, o terraço-jardim e o brise-soleil, pela primeira vez utilizado na vertical. Durante a construção, o arquiteto estava fora do Brasil e, ao retornar, encontrou o brise instalado de forma inapropriada, sem proteger o interior contra a insolação. Sendo assim, Niemeyer, que nada havia cobrado pelo projeto, pagou pela CATEDRAL DE BRASÍLIA 8 execução do brise na forma em que havia projetado. O prédio da Obra do Berço foi inaugurado em 1938 e até 2019 a instituição ainda o ocupa. Em 1939, aos 32 anos, Niemeyer participa do concurso que escolheria o projeto para o pavilhão brasileiro na Feira Mundial de Nova Iorque. Embora Lucio Costa houvesse vencido o concurso por produzir um projeto em que, segundo o júri, havia grande teor nacionalista, Lucio Costa julgou o projeto de Niemeyer mais moderno e ousado, melhor e, portanto, propôs uma parceria para produzirum novo projeto. Executado em colaboração com Paul Lester Wiener, responsável pelo detalhamento dos interiores e stands da exposição, a estrutura era vizinha do pavilhão francês e contrastava com sua massa pesada por meio de sua pequena dimensão e delicadeza. Lucio Costa explicou que o Pavilhão brasileiro adotou uma linguagem de "graça e elegância", leveza e fluidez espacial, com um plano aberto, curvas e paredes livres, que ele chamou de "jônico", contrastando-a com a arquitetura purista dominante na época, que ele classificou de "dórica". Impressionado com seu design vanguardista, o prefeito Fiorello La Guardia concedeu a Niemeyer as chaves da cidade de Nova Iorque. Em uma época em que a Europa e os Estados Unidos estavam concentrando suas potências industriais na Segunda Guerra Mundial, o Brasil estava investindo em arquitetura, o que lhe colocou na vanguarda da Arquitetura Modernista internacional. Em 1940, aos 33 anos, Niemeyer conheceu Juscelino Kubitschek, então prefeito de Belo Horizonte. Kubitschek, junto com o governador Benedito Valadares, queria desenvolver uma área nobre ao norte da cidade chamada Pampulha e convidou Niemeyer para projetar uma série de prédios que se tornariam conhecidos como o "Conjunto Arquitetônico da Pampulha". O complexo inclui um cassino, um salão de dança e restaurante, um iate clube, um clube de golfe e uma igreja, os quais estão distribuídos em torno de um lago artificial. Uma casa de fim de semana para o prefeito também foi construída perto do lago. Os edifícios foram concluídos em 1943 e receberam aclamação internacional após a exposição "Brazil Builds", no Museu de Arte Moderna de Nova Iorque (MoMA). A maioria dos edifícios mostram abordagem particular de Niemeyer da linguagem corbusiana. No cassino, com sua fachada relativamente rígida, Niemeyer afasta-se dos princípios corbusianos e projeta volumes curvos fora do confinamento de uma grade racional.[17] Ele também explora o conceito de uma "promenade architecturale", na qual rampas-passarelas parecem flutuar, guiando as pessoas através do edifício ao mesmo tempo em que abrem a vista para a paisagem. CATEDRAL DE BRASÍLIA 9 O pequeno restaurante (Casa do Baile) foi construído numa ilha artificial própria e é composto de um bloco aproximadamente circular a partir do qual se projeta uma marquise de forma livre, seguindo o contorno da ilha. Embora a forma livre tenha sido utilizada até mesmo na arquitetura de Le Corbusier e Mies van der Rohe, a sua aplicação ao ar livre foi uma invenção de Niemeyer. Ela dilui a hierarquia entre interior-exterior em um nível anteriormente não realizado, embora o tema fosse constantemente explorado pela maioria dos arquitetos modernistas. Esta aplicação de forma livre, juntamente com o telhado borboleta usado no Iate Clube e na casa de Kubitschek tornou-se uma grande tendência na época. A obra-prima do complexo, porém, é considerada a igreja de São Francisco de Assis. Quando foi construída, o concreto armado ainda era utilizado de forma tradicional, como em estruturas de pilares, vigas e lajes. Perret, em Casablanca e Maillart em Zurique já haviam explorado a liberdade plástica do, aproveitando a geometria do arco parabólico para construir cascas extremamente delgadas. A decisão de utilizar tal abordagem econômica para a construção de uma igreja, revolucionária na época, com base na tecnologia inerentemente plástica do concreto para criar uma expressão estética. De acordo com Joaquim Cardozo, a unificação de parede e teto em um único elemento criou uma nova monumentalidade antivertical. A exuberância formal desta igreja adicionado à forte integração entre arquitetura e arte (a igreja é coberta por azulejos de Portinari e murais de Paulo Werneck) levou a uma interpretação quase barroca da obra. Embora alguns puristas europeus mais ortodoxos tenham criticado esse formalismo, a ideia de uma forma diferenciada diretamente derivada de uma razão lógica estrutural fez com que o prédio claramente fosse moderno sem romper completamente com o passado como era a tendência na época. Devido à sua importância na história da arquitetura brasileira e mundial, a igreja foi o primeiro edifício moderno a ser tombado no Brasil. Este fato não influenciou as autoridades conservadoras da igreja de Minas Gerais, que se recusaram a consagrar a igreja (o que só ocorreu em 1959), em parte por sua aparência não usual e em parte pelo painel pintado por Portinari, que possuía traços abstratos e onde reconhecia-se um cachorro, representando um lobo junto a São Francisco de Assis. A Pampulha, diz Niemeyer, ofereceu-lhe a oportunidade de “desafiar a monotonia da arquitetura contemporânea, a onda do funcionalismo mal interpretado que a limitava, e os CATEDRAL DE BRASÍLIA 10 dogmas de forma e função que havia surgido, contrariando a liberdade de plástico que o concreto permitia”. A experiência também permitiu as primeiras colaborações entre Niemeyer e Roberto Burle Marx, considerado o mais importante paisagista do século XX. Eles seriam parceiros em muitos projetos nos próximos 10 anos, uma colaboração que produziu alguns dos melhores resultados em suas carreiras. Com o sucesso da Pampulha e da exposição Brazil Builds, Niemeyer alcança fama internacional. Sua arquitetura do período desenvolveu o estilo brasileiro (Brazilian style), a Igreja da Pampulha e em menor parte (devido à sua linguagem primariamente corbusiana) o prédio do Ministério, iniciaram. Seus projetos deste período mostram preocupações claramente modernista, tal como no método projetual em que forma segue a função. Niemeyer, porém, parte do purismo estrito e manipula escala e proporção mais livremente, o que permitiu-lhe resolver programas e problemas complexos com plantas simples e inteligentes. Em 1947, aos 40 anos, Niemeyer voltou para Nova Iorque para integrar a equipe internacional encarregada de projetar a sede das Nações Unidas. O esquema número 32 de Niemeyer foi aprovado pelo conselho de projetistas, mas Niemeyer acabou por ceder à pressão de Le Corbusier, e, juntos, eles apresentaram o projeto 23/32 (desenvolvido com Bodiansky e Weissmann), que mantinha a disposição geral de Niemeyer, porém com a grande assembleia posicionado ao centro, que Corbusier julgou hierarquicamente correto. Apesar da insistência de Le Corbusier para desenvolver e detalhar o esquema 23/32, aprovado pelo conselho de administração, ele foi realizado por Wallace Harrison e Max Abramovitz. Esta estada nos Estados Unidos também rendeu Niemeyer o projeto para a residência Burton G. Tremaine, um de seus mais ousados projetos residenciais. Em meio a jardins exuberantes de Burle Marx, a residência apresenta um plano extremamente aberto projetado para uma experiência de vida total próxima do Oceano Pacífico, em Montecito, Califórnia. Niemeyer projetou pouco para os Estados Unidos, dada a sua filiação ao Partido Comunista, que em várias ocasiões o impediu de obter um visto. Isso ocorreu em 1946, quando ele foi convidado a dar aulas na Universidade Yale. Em 1953, aos 46 anos, Niemeyer foi escolhido para o cargo de reitor da Escola de Design da Universidade Harvard, mas novamente suas visões políticas foram uma questão problemática. Em 1950, Niemeyer já era autoconfiante em seu trabalho para seguir seu próprio caminho no cenário internacional da arquitetura moderna. Foi nessa época que Niemeyer CATEDRAL DE BRASÍLIA 11 parte da experiência dos arcos parabólicos que ele havia projetado na Pampulha para explorar ainda mais o seu material padrão, o concreto. Neste mesmo ano ele foi convidado para projetar o parque Ibirapuera em São Paulo devido as comemorações do 400º aniversário da cidade. O plano, que consistia de vários pavilhões porticados interligados através de uma gigantesca marquise de forma livre, teve que ser simplificado devidoa razões econômicas. Os edifícios resultantes são menos interessantes individualmente, o que transfere para as disposições volumétricas o papel de experiência estética dominante. Para estes edifícios Niemeyer desenvolveu pilotis de diversas formas, tais como aqueles em V, que se tornou extremamente popular. Uma variação sobre o mesmo tema foram os pilotis em W que suporta o Conjunto Governador Juscelino Kubitschek (1951), dois grandes edifícios que contém cerca de mil apartamentos. Seu projeto foi baseado num esquema anterior para o hotel-apartamento Quitandinha em Petrópolis, concebido um ano antes e nunca realizado. Com 33 andares e mais de 400 metros de comprimento, abrigaria 5.700 unidades juntamente com serviços comuns, tais como comércio e escolas, sendo uma versão de Niemeyer para o programa desenvolvido por Le Corbusier em sua Unité d'Habitation em Marselha. Um programa semelhante foi realizado no centro de São Paulo com o edifício Copan (1953-1966). Este famoso cartão-postal representa um microcosmo da população diversa da cidade. Sua horizontalidade, enfatizada pelos brises de concreto, juntamente com o fato de ser um edifício residencial, foi uma abordagem interessante para habitação popular na época, uma vez que em 1950 o processo de suburbanização já havia começado e os centros urbanos estavam sendo ocupado principalmente por empresas e corporações, geralmente ocupando edifícios verticais "masculinos", opostos à abordagem "feminina" de Niemeyer. Em 1954, Niemeyer também projetou o Edifício Niemeyer na Praça da Liberdade, em Belo Horizonte. O edifício tem uma planta de forma totalmente livre é reminiscente do arranha-céu de vidro que Mies van der Rohe havia projetado em 1922, embora com uma qualidade material oposta à solução transparente do alemão. Na mesma praça Niemeyer projeta a Biblioteca Pública Estadual, também em 1954. Ainda em Belo Horizonte é responsável pelo projeto do Colégio Estadual Central, onde novamente Niemeyer se utiliza da técnica estrutural para obter resultados estéticos delicados, sem prejudicar funções programáticas. Durante esse período, Niemeyer projeta inúmeras residências. Entre eles estão uma casa de fim de semana para o seu pai, em Mendes (1949), que foi construída a partir da estrutura de um galinheiro existente; a residência Prudente de Morais Neto, no Rio de Janeiro (1943-1949), baseada no projeto original de Niemeyer para a casa de Kubitschek na CATEDRAL DE BRASÍLIA 12 Pampulha; uma casa para Gustavo Capanema (1947) (o ministro que encomendara o edifício do Ministério em 1935); a residência Leonel Miranda (1952), com duas rampas em espiral que dão acesso ao primeiro piso sobre pilotis oblíquos e com telhado borboleta. Estes projetos contam com a mesma fachada inclinada usada na Residência Tremaine, o que permite uma boa iluminação natural. Ainda em 1954 ele projetou a famosa casa Cavanelas, com seu telhado metálico aludindo a uma tenda e que, com a ajuda de jardins de Burle Marx, está perfeitamente adaptada ao sítio montanhoso. No entanto, a sua obra-prima residencial é considerada a casa que Niemeyer projetou para si mesmo em 1953. A casa das Canoas está localizada em um terreno em declive com vista de longe para o mar, e é desenvolvida em dois pisos: o primeiro é um pavilhão transparente e fluido com um telhado em forma livre suportado em finas colunas metálicas. Os cômodos estão localizados no andar de baixo e é mais tradicionalmente organizado. O projeto aproveita o terreno irregular, de modo a não perturbar a paisagem. Embora a casa seja bem integrada no terreno, ela não escapou de críticas. Niemeyer lembrava que Walter Gropius, que visitou o país como um júri na segunda Bienal de São Paulo, argumentou que embora bela, a casa não poderia ser pré-fabricada, para que Niemeyer respondeu que a casa foi projetada para sua própria família e num terreno peculiar, não um plano simples. Para Henry-Russell Hitchcock, a casa das Canoas foi a expressão mais extrema do lirismo de Niemeyer, definindo ritmo e dança como a suprema transgressão à utilidade. Mesmo ignorando algumas críticas, Niemeyer percebeu que tal arquitetura orgânica é de fato muito específica e dependente de grandes talentos e qualidade de execução para ser bem-sucedida. Em meados da década de 1950, Oscar Niemeyer atuou, ainda que brevemente, no mercado imobiliário de São Paulo, para o Banco Nacional Imobiliário (BNI). Os edifícios Montreal, Triângulo, Califórnia e Eiffel são fruto de seu escritório montado em São Paulo neste período, sob supervisão do arquiteto Carlos Lemos, também responsável pela finalização e acompanhamento da execução do Copan. Na mesma época, Niemeyer também projetou o Edifício Itatiaia, em Campinas. Em 1955, funda a revista Módulo, no Rio de Janeiro, uma das mais importantes revistas de arquitetura, urbanismo, arte e cultura da década de 50. Foi um dos grandes meios do arquiteto de divulgar sua obra no Brasil. Sua produção foi proibida pela ditadura militar em 1965 e só voltou a circular em 1975. CATEDRAL DE BRASÍLIA 13 Em 1953 a arquitetura moderna brasileira, que havia sido enormemente elogiada desde a exposição Brazil Builds, começou a ser alvo de críticas internacionais, principalmente das frentes racionalistas. A arquitetura de Niemeyer em particular foi muito criticada por Max Bill, arquiteto e designer suíço que havia concedido uma entrevista para a revista Manchete, onde atacou o uso de formas livres por Niemeyer como puramente decorativo (em oposição ao conjunto Pedregulho, de Affonso Reidy), seu uso de painéis murais e o caráter individualista de sua arquitetura, que "está em risco de cair em um academicismo antissocial perigoso". A primeira reação de Niemeyer à crítica de Bill foi de ignorar e desqualificá-la, seguido por um ataque baseado na atitude paternalista de Bill, que o teria impedido de perceber as diferentes realidades sociais e econômicas entre o Brasil e os países europeus. Apesar de exagerada e mal recebida, as palavras de Bill foram eficazes em trazer a atenção a arquitetura medíocre que estava sendo produzida por arquitetos menos talentosos, que utilizavam o vocabulário de Niemeyer da maneira antimoderna que Bill criticara. Niemeyer mesmo admitiu que por um determinado período "aceitava trabalhos em demasia, executando-os às pressas, confiante na habilidade e na capacidade de improvisação de que me julgava possuidor”. A Interbau de Berlim em 1957 proporcionou a Niemeyer não só a chance de construir um exemplo de sua arquitetura na Alemanha, mas também a oportunidade de visitar a Europa pela primeira vez, em 1954. O contato com os antigos monumentos do velho mundo, de Lisboa a Moscou, teve um impacto duradouro sobre as opiniões de Niemeyer sobre arquitetura, que então considerava completamente dependente das qualidades estéticas. Juntamente com suas análises sobre a produção brasileira da época e a recente crítica internacional, esta viagem levou Niemeyer a um processo de revisão de seu próprio trabalho, que ele publicou como um texto intitulado “Depoimento” em sua revista Módulo. Ele propôs uma simplificação de sua arquitetura, descartando múltiplos elementos secundários tais como brises-soleil, pilotis esculturais e marquises. Sua arquitetura a partir de então seria uma expressão da estrutura através de volumes puros. Seu método de projeto também mudaria, priorizando impacto estético sobre outras funções programáticas, uma vez que para ele, "quando a forma cria beleza, tem na própria beleza sua justificação". Em 1955, aos 48 anos, Niemeyer projetou o Museu de Arte Moderna de Caracas, na Venezuela. Esse projeto seria a materialização de sua revisão crítica, entretanto, nunca chegou CATEDRAL DE BRASÍLIA 14 a ser executado. Posicionado no topo de um penhasco com vista para centro de Caracas, o museu teriauma forma de pirâmide invertida que dominaria a paisagem. O edifício prismático e opaco quase não possuiria conexão com o exterior em suas paredes, embora seu teto de vidro permitiria quantidades específicas de luz natural no edifício. Um sistema eletrônico manteria as condições de iluminação inalteradas durante todo o dia com luz artificial complementar. O interior, no entanto, seria mais familiar à linguagem de Niemeyer, com o rampas-passarelas que ligariam os diferentes níveis e o mezanino, uma laje de forma livre que teria função estrutural de tirantes estabilizadores da forma piramidal. Esta pureza da forma e da simplicidade arquitetônica culminaria em seu trabalho em Brasília, onde as qualidades plásticas dos edifícios são expressas apenas por elementos estruturais. 2.1 A Construção de Brasília “…quem for a Brasília, pode gostar ou não dos palácios, mas não pode dizer que viu antes coisa parecida. E arquitetura é isso — invenção.” (Oscar Niemeyer, 2001) Convidado pelo então Presidente da República Juscelino Kubitschek para projetar a nova capital do Brasil, é nomeado diretor do Departamento de Urbanismo e Arquitetura da Novacap, empresa responsável pela construção de Brasília. É encarregado de organizar um concurso para escolha do plano-piloto de Brasília, participando também da comissão julgadora. Em 1957, o concurso público é lançado e o projeto vencedor é o apresentado por Lúcio Costa, seu amigo e ex-professor e patrão. Niemeyer, arquiteto escolhido por Juscelino, seria responsável pela concepção dos edifícios, enquanto Lúcio Costa desenvolveria o plano urbanístico da cidade. A construção de Brasília foi desafiadora. A cidade foi erigida na velocidade de um mandato, e Niemeyer teve de planejar uma série de edifícios em poucos meses para configurá- la. Entre os de maior destaque estão a residência do Presidente (Palácio da Alvorada), o Palácio do Congresso Nacional (Câmara dos Deputados e Senado Federal), a Catedral de CATEDRAL DE BRASÍLIA 15 Brasília, os prédios dos ministérios, a sede do governo (Palácio do Planalto) além de prédios residenciais e comerciais. A nova capital foi concebida, no espírito de seu fundador, como um símbolo do desenvolvimento do Brasil e da união nacional, como uma afirmação da grandeza e da vitalidade do país, de sua capacidade de empreendimento e sua confiança no futuro. O engenheiro calculista Joaquim Cardozo foi o responsável pelos projetos estruturais das obras mais complexas da nova capital, como os palácios e a catedral, solucionando os desafios propostos por Niemeyer. A determinação de Kubitschek foi fundamental para a construção de Brasília, levando para frente sua intenção de desenvolver o centro despovoado do Brasil (a exemplo da marcha do oeste norte-americana): povoar o interior e levar o progresso Brasil adentro. O projeto de Lúcio Costa, vencedor do concurso, punha em prática os conceitos modernistas de cidade: o automóvel no topo da hierarquia viária, facilitando o deslocamento na cidade, os blocos de edifícios afastados, em pilotis sobre grandes áreas verdes. Brasília possui diretrizes que remetem aos projetos de Le Corbusier na década de 1920 e ainda ao seu projeto para a cidade de Chandigarh, pela escala monumental dos edifícios governamentais. A cidade de Lúcio Costa também possui conceitos semelhantes aos dos estudos de Hilberseimer. Nesta nova cidade projetada, levou-se em conta a ideia da Carta de Atenas, onde todas as moradias seriam reunidas numa área comum. Dessa, todos os funcionários, fossem serventes ou parlamentares, deveriam habitar os mesmos prédios, o que foi equivocadamente relacionado às posições políticas de Niemeyer. As obras de Niemeyer em Brasília podem ser divididas em três categorias distintas: os palácios de pórticos, os edifícios compostos por jogos de volume simples e os edifícios religiosos de planta centrada. Desses três grupos, o mais inesperado, mas também o mais homogêneo e o mais clássico em sua inegável originalidade é, sem sombra de dúvidas, o primeiro. Em maio de 1958 inaugurou-se o primeiro templo de alvenaria em Brasília, a Igrejinha Nossa Senhora de Fátima. Construída em 100 dias, mostra entre tantos monumentos como Niemeyer manipula a escala pequena e humana. O interior possuía painéis de Alfredo Volpi. O Palácio da Alvorada foi o primeiro edifício público inaugurado em Brasília, em junho de 1958. Nesta obra Niemeyer desenha pilares em um formato inusitado. A forma dos CATEDRAL DE BRASÍLIA 16 pilares da fachada deu origem ao símbolo e emblema da cidade, presente no brasão do Distrito Federal. O Palácio do Planalto foi inaugurado no dia da transição da capital, em 21 de abril de 1960. Durante a construção do edifício, a sede do Governo funcionou no Catetinho, um sobrado de madeira, nos arredores de Brasília. É um dos edifícios da Praça dos Três Poderes, sendo os demais o Supremo Tribunal Federal e o Congresso Nacional. Marcante por sua arquitetura singular, a Catedral Metropolitana é uma das obras mais expressivas de Brasília. O acesso à nave se dá através de uma passagem subterrânea, intencionalmente escura e mal iluminada, visando o contraste com o interior que recebe iluminação natural intensa. O edifício do Congresso Nacional do Brasil, inaugurado em 1960, localiza-se no centro do Eixo Monumental, a principal avenida de Brasília. À frente há um espelho d'água e um grande gramado e na parte posterior do edifício se encontra a Praça dos Três Poderes. É um dos edifícios mais importantes do Brasil. É composto de duas semiesferas, que abrigam o Câmara dos Deputados e o Senado. Entre as semiesferas há dois blocos de escritórios. Em Brasília, Oscar Niemeyer foi responsável também pelo projeto de ampliação do prédio da Aliança Francesa em 1976. 2.2 Exilado do Brasil Em 1964 viaja para Israel a trabalho e volta para um Brasil completamente diferente. Em março o presidente João Goulart (Jango), que assumira após o presidente eleito Jânio Quadros renunciar, havia sido deposto por um golpe dos militares, que assumem o controle do país e instauram um regime de ditadura que duraria 21 anos. O comunismo de Niemeyer lhe custou caro. No período da ditadura militar do Brasil, a revista Módulo, que dirigia, tem a sede parcialmente destruída, o escritório de Niemeyer é saqueado, seus projetos passam a ser recusados e a clientela desaparece. Em 1965, 223 professores, entre eles Niemeyer, se demitem da Universidade de Brasília, em protesto contra a política universitária e retaliações do Governo Militar. No mesmo ano viaja para França, para uma exposição sobre sua obra no Museu do Louvre. CATEDRAL DE BRASÍLIA 17 No ano seguinte, impedido de trabalhar no Brasil, muda-se para Paris. Começa aí uma nova fase de sua vida e obra. Abre um escritório na avenida Champs-Élysées, número 90, recebendo comissões de diversos países, em especial da Argélia, onde desenha a Universidade de Constantine e, em 1970, a mesquita de Argel. Na França, projeta a sede do Partido Comunista Francês (doação), a Bolsa de Trabalho de Bobigny, o Centro Cultural Le Havre e na Itália a Editora Mondadori. Este último edifício foi encomendado por Arnoldo Mondadori, que havia se impressionado com o Palácio do Itamaraty durante uma visita a Brasília. Ao especificar que gostaria de uma colunata similar em seu edifício, Niemeyer atendeu ao pedido, porém utilizando arcos de contornos paramétricos, que poderiam cobrir vãos diferenciados, oposto aos arcos plenos do edifício de Brasília. No edifício milanês, todos os cinco pavimentos são suspensos na colunata, o que transfere às delicadas colunas muito mais cargas que no esquema do Itamaraty. 2.3 Sua Trajetória de 1980 a 2012 Niemeyer retorna ao Brasil no começo dos anos 1980, no início da abertura política, quando da anistia dos exilados no governoJoão Figueiredo. Na ocasião o antropólogo Darcy Ribeiro, amigo de Niemeyer, era vice de Leonel Brizola, ex-exilado e governador do Rio de Janeiro eleito em 1982. Para consolidar os projetos educacionais e culturais de Darcy Ribeiro, Niemeyer projeta os CIEPs e o Sambódromo do Rio de Janeiro, que possui salas de aula sob as arquibancadas. Projetou ainda na década de 1980 o Memorial JK; o Edifício Manchete; sede do Grupo Bloch em 1983; a Arena de Rodeios e o Parque do Peão "Mussa Calil Neto", na cidade de Barretos, interior de São Paulo (1984); o Panteão da Pátria em Brasília (1985) e o Memorial da América Latina (1987), em São Paulo. Em 1988, é criada a Fundação Oscar Niemeyer a fim de preservar o seu acervo de cerca de 500 trabalhos. O Memorial da América Latina, localizado no bairro da Barra Funda, na cidade de São Paulo, inaugurado em 18 de março de 1989, possui o conceito e o projeto cultural desenvolvido pelo antropólogo Darcy Ribeiro. Em 1991, aos 84 anos, projetou o MAC Niterói, em um terreno que ele próprio escolheu quando andava de carro por Niterói. Considerado uma de suas grandes obras, o projeto do MAC integra a arquitetura com o panorama da Baía de Guanabara, a praia de Icaraí e o relevo do Rio de Janeiro. CATEDRAL DE BRASÍLIA 18 Em 22 de novembro de 2002 foi inaugurado o complexo que abriga o Museu Oscar Niemeyer, em Curitiba. Por sua forma inusitada, o museu é popularmente chamado de Museu do Olho ou Olho do Niemeyer. Abriga diversas exposições ao longo do ano e traz milhares de turistas do Brasil e do exterior. O Museu preza por sua arquitetura moderna, representando originalmente um pinheiro (segundo Niemeyer). Em 2003, Niemeyer foi escolhido para projetar seu primeiro edifício na Grã-Bretanha, um pavilhão provisório na Serpentine Gallery - uma galeria londrina que constrói a cada ano um pavilhão no Jardim do Hyde Park. Apesar de sua preferência pelo concreto, Niemeyer optou pela execução em aço devido ao caráter temporário da obra, que pedia uma arquitetura desmontável. No ano de 2002 é concluída a 12ª versão do projeto do Auditório Ibirapuera, projetado para o local desde 1952 e cujas obras são finalizadas em 2005. Em 15 de dezembro de 2006, com quase 50 anos de atraso, foi inaugurado o Museu Nacional Honestino Guimarães e a Biblioteca Nacional Leonel de Moura Brizola, que formam, juntas, o maior centro cultural do Brasil, denominado Complexo Cultural da República, na Esplanada dos Ministérios em Brasília. O Complexo, de 91,8 mil metros quadrados custou 110 milhões de reais ao Governo do Distrito Federal. A inauguração foi programada para coincidir com o 99º aniversário de Oscar Niemeyer. Niemeyer completou em 2007 o centésimo aniversário perfeitamente lúcido e ativo. Neste mesmo ano, no dia 12 de dezembro, recebeu a mais alta condecoração do governo francês pelo conjunto de sua obra, o título de Comendador da Ordem Nacional da Legião de Honra. Vladimir Putin, presidente da Rússia, conferiu-lhe a condecoração da Ordem da Amizade no dia 14 de dezembro. No mesmo ano de 2007 o Iphan tombou 35 obras do arquiteto, das quais 24 foram selecionadas pelo próprio Niemeyer. Fora do Brasil, em 2007, o arquiteto iniciou as obras do seu primeiro projeto na Espanha: um centro cultural com o seu nome, Centro Niemeyer, em Avilés, Astúrias. Este projeto foi oferecido à Fundação Príncipe das Astúrias como agradecimento pela condecoração que Niemeyer recebeu, em 1989 (Prémio Príncipe das Astúrias das Artes). Do projeto consta de cinco peças separadas e complementares: praça, auditório, cúpula, torre e um edifício polivalente. Foi inaugurado na Primavera de 2011. CATEDRAL DE BRASÍLIA 19 Em julho de 2008, foram inaugurados a Estação Cabo Branco e o Parque da Cidade Dom Nivaldo Monte em duas capitais nordestinas, respectivamente, João Pessoa e Natal. A Estação está localizada na Ponta do Seixas, ponto turístico da capital paraibana conhecido como extremo oriental das Américas, e tem como foco central "uma torre espelhada erguida em forma octogonal, com 43 metros de distância entre lados opostos e apoiada sobre uma parede cilíndrica com quinze metros de diâmetro". A Estação Cabo Branco possui área construída de 8.571m². Já o Parque, localizado em uma grande área verde de 64 hectares (640.000 m²) preservada na capital potiguar, possui um mirante de sessenta metros de altura de onde é possível observar toda a cidade. Também foi convidado a elaborar o projeto arquitetônico do novo centro administrativo do governo de Minas Gerais. Este centro localiza-se entre a capital mineira e o Aeroporto Internacional Tancredo Neves (Confins). Mais um projeto ousado que - entre outras edificações no local - previa uma laje de quase 150 metros apoiada em apenas dois pilares. Curvas, concreto armado e o maior prédio suspenso do mundo. A Cidade Administrativa de Minas Gerais é considerada o projeto mais ousado de Oscar Niemeyer. A obra, realizada no governo Aécio Neves, abriga as Secretarias e órgãos do Estado e foi inaugurada em 4 de março de 2010. Dar vida às formas desenhadas por Niemeyer foi um grande desafio conquistado pela engenharia. O conjunto abriga ao todo cinco edificações. O Palácio Tiradentes, sede do governo, é totalmente suspenso por cabos de aço, formando um vão livre de 147 metros no térreo. As secretarias foram alocadas em dois prédios idênticos com os nomes "Minas" e "Gerais", feitos em curva, com quinze andares cada um. Completam o cenário, um centro de convivência em formato redondo, com lojas, restaurantes e bancos, e o auditório JK com 490 lugares. Até 23 de setembro de 2009, quando foi internado, passando em seguida por duas cirurgias, para retirada da vesícula e de um tumor do cólon, o arquiteto costumava ir todos os dias ao seu escritório em Copacabana, onde trabalhava no projeto Caminho Niemeyer, em Niterói, um conjunto de nove prédios de sua autoria. Até outubro de 2009, Niemeyer permaneceu internado no mesmo hospital, no Rio de Janeiro. Em 25 de abril de 2010, foi novamente internado, apresentando um quadro de infecção urinária. O arquiteto deveria CATEDRAL DE BRASÍLIA 20 participar do lançamento da edição especial da revista "Nosso Caminho", no dia 27 de abril, em homenagem aos 50 anos de Brasília. A festa foi cancelada. Poucos dias antes de completar 105 anos de idade, Oscar Niemeyer faleceu no Rio de Janeiro, a 5 de dezembro de 2012, às 21h55, em decorrência de uma infecção respiratória. Ele estava internado desde 2 de novembro, no Hospital Samaritano, em Botafogo, na Zona Sul da cidade. Seu corpo encontra-se sepultado no Cemitério de São João Batista no Rio de Janeiro onde também encontra-se sepultada sua única filha Anna Maria Niemeyer, falecida também em 2012. Niemeyer se destacou por seu uso de formas abstratas e pelas curvas que caracterizam a maioria de suas obras, e escreveu em suas memórias: “Não é o ângulo reto que me atrai, nem a linha reta, dura, inflexível, criada pelo homem. O que me atrai é a curva livre e sensual, a curva que encontro nas montanhas do meu país, no curso sinuoso dos seus rios, nas ondas do mar, no corpo da mulher preferida. De curvas é feito todo o universo, o universo curvo de Einstein.” *Trechos retirados do site Wikipédia. 3. CATEDRAL DE BRASÍLIA: ANÁLISE DA OBRA “Eu não queria uma catedral como as antigas catedrais. Eu queria uma catedral que exprimisse o concreto. E mesmo não sendo católico me preocupei que quando alguém estivesse na nave, visse o espaço infinito. Mas eu procurei uma ligação que para os católicos é importante: a ligação da nave, da terra, com o céu.” (Niemeyer, 2001) 3.1 História CATEDRAL DE BRASÍLIA 21 Projetada pelo arquiteto Oscar Niemeyer, foi o primeiro monumento a ser criado em Brasília. Sua pedra fundamental foi lançada em 12 desetembro de 1958. Teve sua estrutura pronta em 1960, onde apareciam somente a área circular de setenta metros de diâmetro, da qual se elevam dezesseis colunas de concreto (pilares de secção parabólica) num formato hiperboloide, que pesam noventa toneladas. O engenheiro Joaquim Cardozo foi o responsável pelo cálculo estrutural que permitiu a construção da catedral. Em 31 de maio de 1970, foi inaugurada de fato, já nesta data com os vidros externos transparentes. Na praça de acesso ao templo, encontram-se quatro esculturas em bronze com 3 metros de altura, representando os evangelistas; as esculturas são de Alfredo Ceschiatti, com a colaboração de Dante Croce. No interior da nave, estão as esculturas de três anjos, suspensos por cabos de aço. As dimensões e peso das esculturas são de 2,22 m de comprimento e 100 kg a menor; 3,40 m de comprimento e 200 kg a média e 4,25 m de comprimento e trezentos kg a maior. Esculturas de Anjos CATEDRAL DE BRASÍLIA 22 Esculturas de Anjos O batistério em forma ovoide teve em suas paredes o painel em lajotas cerâmicas pintadas em 1977 por Athos Bulcão. O campanário composto por quatro grandes sinos, doado pela Espanha, completa o conjunto arquitetônico. A cobertura da nave tem um vitral composto por dezesseis peças em fibra de vidro em tons de azul, verde, branco e marrom inseridas entre os pilares de concreto. Cada peça insere-se em triângulos com dez metros de base e trinta metros de altura que foram projetados por Marianne Peretti em 1990. O altar foi doado pelo papa Paulo VI e a imagem da padroeira Nossa Senhora Aparecida é uma réplica da original que se encontra em Aparecida – São Paulo. CATEDRAL DE BRASÍLIA 23 O Campanário A via sacra é uma obra de Di Cavalcanti. Na entrada da catedral, encontra-se um pilar com passagens da vida de Maria, mãe de Jesus, pintados por Athos Bulcão. *Texto retirado do site da Catedral Metropolitana Nossa Senhora Aparecida. 3.2 Implantação Localizada numa praça autônoma – a Praça de Acesso – a Catedral está disposta lateralmente na Esplanada dos Ministérios, no local em que o urbanista Lúcio Costa a previu, por questões de escala e tendo em vista a valorização do Monumento, segundo o próprio urbanista. Elementos presentes na praça: CATEDRAL DE BRASÍLIA 24 1 – Templo Principal Templo Católico de Brasília, a Catedral é dedicada a Nossa Senhora da Conceição Aparecida, Padroeira do Brasil e de Brasília. Constitui uma das mais expressivas edificações da Capital, beleza não só religiosa, nos seus significados e símbolos cristãos. Joia arquitetônica e artística, foi escolhida pelo povo brasiliense maravilha número um da cidade. 2 – A Cruz no Topo do Templo Na parte superior externa do Templo, onde as colunas parabólicas se unem numa laje, repousa expressiva cruz metálica, símbolo da Igreja Católica. Medindo 12 metros de altura, foi ali colocada no dia 21 de abril de 1968. Benta pelo Papa Paulo VI, guarda no seu interior duas relíquias: um fragmento da Cruz de Cristo e a Cruz Peitoral do primeiro Arcebispo de Brasília, D José Newton de Almeida Baptista. 3 – O Espelho d’Água O Espelho d’Água, sobre o qual a Catedral parece pousar, proporciona não apenas proteção, mas ajuda a refrigerar e garantir umidade ao ar seco do cerrado, além de refletir a beleza do Templo. Com 40 centímetros de profundidade e 12 metros de largura, tem capacidade para um milhão de litros de água. Circunda todo o Templo, ocultando a base das colunas e dando a impressão de que elas nascem dali. Os vidros da fachada-cobertura estão afastados do Espelho d’Água cerca de 50 centímetros. É por essa fresta que entra na Catedral a brisa do cerrado umidificada pela água do Espelho. 4 - O Campanário CATEDRAL DE BRASÍLIA 25 Situado à direita de quem entra, o Campanário apresenta-se de forma inovadora e ousada. Criado por Niemeyer para ser a Torre da Catedral, foi inaugurado em 1977, por D. José Newton de Almeida Baptista, então Arcebispo de Brasília. Mede 20 metros de altura e suporta quatro sinos de bronze, doados pelo Governo da Espanha. Três deles – Santa Maria, Pinta e Nina –, lembram as Caravelas de Cristóvão Colombo na descoberta da América. O quarto – Pilarica – é uma homenagem a Nossa Senhora do Pilar, muito cultuada naquele país. Desde 1987, controlados eletronicamente, os sinos tocam às seis, às doze e às dezoito horas. 5 – A Cúpula do Batistério Ainda parte do conjunto arquitetônico da Praça de Acesso, à esquerda de quem entra situa-se a Cúpula do Batistério – uma construção de concreto armado, de forma ovóide, que protege e complementa o interior da Capela onde se realizam os batizados. Uma escada de mármore liga a parte externa do Templo ao Batistério, o que permite acesso direto a este, sem que seja necessário passar pela nave da igreja. 6 – A Cúria Metropolitana Complementa o conjunto arquitetônico da Catedral o edifício da Cúria Metropolitana de Brasília. Obra de Niemeyer, foi inaugurado em 2007 e abriga os diversos órgãos administrativos da Arquidiocese, como a Chancelaria, Comissões e Departamentos. Localiza- se na área de três mil metros quadrados posterior ao Batistério e se comunica internamente com a Catedral. 7 – As Estátuas dos Evangelistas Esculpidas por Alfredo Ceschiatti e Dante Croce, quatro estátuas de bronze, cada uma com três metros de altura, estão posicionadas à esquerda e à direita da entrada principal do Templo. Representam os quatro Evangelistas – Mateus, Marcos, Lucas e João – e o pergaminho que trazem à mão os identifica como os primeiros registradores da história de Jesus Cristo na Terra. Uma tradição eclesiástica permite entender o posicionamento dado às quatro estátuas. Contudo, não foram encontrados registros, na história da Catedral, de que os construtores tenham tido essa intenção. Do lado esquerdo de quem entra estão Mateus, Marcos e Lucas, autores dos Evangelhos Sinóticos, assim chamados pela semelhança dos três relatos, a qual se permite, “a um só olho”, perceber. À direita está João, o autor do quarto Evangelho. Seus escritos apresentam traços que lhe são próprios e o distinguem claramente dos outros três, na estrutura, na forma e na ordem de relatar os acontecimentos da vida de Jesus. CATEDRAL DE BRASÍLIA 26 No Interior da Catedral A Entrada O corpo principal do Templo, isto é, a nave, situa-se três metros abaixo do nível da Esplanada dos Ministérios. Para acessá-la a partir do caminho ladeado pelos Evangelistas, segue-se por uma galeria em declive, desenhada por Oscar Niemeyer, com características significativas: um corredor estreito em relação às dimensões do Templo, piso negro e paredes de granito da mesma cor. É assim descrita pelo próprio arquiteto: “Eu criei uma galeria escura de modo que, quando a pessoa chegar à nave, tem um contraste de luz: olha e vê até os espaços infinitos; e o corpo da igreja, esplendorosamente transbordante de luz e cor”. O Corpo Principal À saída do túnel escuro, que faz a aproximação exterior/interior, está a nave, corpo principal do Templo, lugar das celebrações. É um plano circular, de setenta metros de diâmetro, com capacidade para abrigar quatro mil fiéis. Percebe-se, aí, sua grandeza, dimensão e estrutura. Parede e cúpula aparentemente unidas legam ao interior quarenta metros de pé direito, com paredes e piso de mármore de Carrara. A cúpula, como se vê do exterior, é de vidro: vitrais, cuja disposição garante iluminação natural à nave. Trinta e seis mil pedaços triangulares de fibra de vidro colorida, unidos por liga de chumbo e assentados em caixilhos de aço, formam o teto da Catedral. Sem abrir mão da transparência, os vitrais enriquecem-se de desenhos coloridos da vitralista francesa Marianne Peretti. A partir do corpo principal, duas saídas seabrem como passagem para corredores: o que está à direita de quem entra conduz à sacristia, às salas auxiliares e escritórios eclesiásticos e sanitários; já o da esquerda, leva ao Batistério. Por detrás do altar principal, duas escadas, uma de cada lado, conduzem à Cripta, no subterrâneo. Elementos presentes em seu interior: CATEDRAL DE BRASÍLIA 27 1 – O Presbitério Lugar central, sobrelevado – onde está o altar, a Mesa da Eucaristia –, é o espaço em que o sacerdote, diáconos e outros ministros exercem as funções litúrgicas. Dele fazem parte: O Altar principal: Em destaque no presbitério, na sua parte central, todo em mármore de Carrara, foi presente do Papa Paulo VI à Catedral. O grande Crucifixo: Atrás do altar principal, coloca-se um enorme crucifixo, Cruz e Cristo esculpidos em madeira de cedro, pelo santeiro brasileiro Miguel Randolfo Ávila, do estado de Minas Gerais. O Ambão: À direita do altar principal, o ambão – uma coluna de mármore branco, de desenho adequado à Liturgia da Palavra –, é a Mesa da Palavra, de onde se faz a proclamação da Palavra de Deus nos livros sagrados. A Imagem de Nossa Senhora da Conceição Aparecida: Padroeira de Brasília e do Brasil, Nossa Senhora da Conceição Aparecida tem a Catedral dedicada a ela. Guardada numa redoma de cristal projetada por Oscar Niemeyer, essa imagem é uma réplica da imagem CATEDRAL DE BRASÍLIA 28 original – surgida das águas do Rio Paraíba, no interior do estado de São Paulo –, a qual se encontra hoje na Basílica de Aparecida, no mesmo estado. Após visitar todas as capitais brasileiras, a imagem foi entregue à Catedral em 12 de outubro de 1967, por ocasião da Consagração do Templo, pelas mãos de D. Carlos Carmelo de Vasconcelos Motta – primeiro Arcebispo de Aparecida e primeiro Cardeal de São Paulo. Incrustadas na parte frontal do Altar, as letras JHS são um monograma do nome JESUS, um dos mais antigos símbolos cristãos, livremente interpretado como Jesus Hominum Salvator (“Jesus, Salvador dos Homens”). Na parte posterior do altar, nova incrustação retrata um peixe, outro símbolo cristão dos primeiros séculos do cristianismo. A palavra Ichthys (peixe em grego), é um acrônimo de Iesus Christus Theou Yicus Soter, “Jesus Cristo Filho de Deus Salvador”. Perseguidos, os cristãos se reconheciam entre si por esse símbolo. 2 – Os Anjos Da cúpula da Catedral, presos por cabos de aço, pendem três anjos. O maior pesa trezentos quilos e mede 4,45 metros. O médio pesa 200 quilos e tem 3,40 metros. O menor pesa 100 quilos e mede 2,20 metros. Esculpidos por Alfredo Ceschiatti e Dante Croce, lembram os 3 Arcanjos bíblicos: Miguel, Gabriel e Rafael. 3 – O Coro No corpo principal destaca-se, ainda, uma coluna branca, bastante alta, em forma de cone e de base elíptica, recoberta de mármore. É o local do Coro da igreja, cuja parte posterior abriga, na base, uma pequena loja de souvenirs e artigos religiosos. Na parte frontal, quinze quadros de Di Cavalcanti – renomado pintor brasileiro –, apresentam as estações da Via- Sacra, ou Via Crucis, o caminho percorrido por Jesus, com a cruz, desde o momento de sua condenação até a crucificação e morte no Monte Calvário. 4 – Coluna das Iconografias Também no corpo da nave, próxima à entrada principal, encontra-se outra coluna de mármore branco, de forma triangular, que expõe iconografias do artista Athos Bulcão, apresentando os principais mistérios da vida de Jesus e da Virgem Maria. 5 – A Cripta No subterrâneo da nave, por trás do altar principal, está a Cripta, uma outra capela, cujo ambiente, revestido de mármore negro, gera uma penumbra que convida ao recolhimento e à oração silenciosa. A cripta comporta ainda um altar próprio – por trás do qual está colocada uma cruz com o Cristo –, e a parede posterior ao altar abriga os túmulos destinados à CATEDRAL DE BRASÍLIA 29 sepultura dos arcebispos de Brasília. Quadros de mármore fecham a entrada de cada túmulo, num dos quais está sepultado D. José Newton de Almeida Baptista, primeiro Arcebispo de Brasília (2001). Nessa Capela fica o negativo da foto do Santo Sudário de Turim (Itália), em tamanho natural. De acordo com a tradição católica, o Santo Sudário é o lençol que envolveu o Corpo sepultado do Senhor Jesus, uma fina peça de linho que exibe a imagem detalhada da frente e das costas do Crucificado, tal qual o descrevem as Escrituras. A palavra Cripta é de origem grega e significa esconderijo. Na tradição católica, recorda as primeiras sepulturas dos cristãos nas Catacumbas. Assim, existem nas Catedrais. 6 – O Batistério Concluído em 1977, o Batistério ocupa um lugar próprio. É parte anexa em composição subtrativa, e está separado da nave da igreja para não comprometer a pureza e claridade do corpo principal. Tem forma ovóide e paredes revestidas de painéis de lajotas nas cores verde, azul e branca, criados por Athos Bulcão. Conecta-se com a nave por um corredor interno; e com a Praça de Acesso por uma escada helicoidal. Com iluminação indireta e piso forrado de tapetes escuros, mantém um ambiente que convida à reflexão e à contemplação da beleza dos significados de sua função. A pia batismal está colocada bem no centro, em plano mais elevado. 7 – A Cruz Histórica À esquerda de quem entra na Catedral, ao lado do Coro, está a Cruz histórica, assim chamada porque foi plantada no solo da capital por ocasião da Primeira Missa oficialmente programada para a inauguração da nova Capital, no dia 3 de maio de 1957. Presidida por D. Carlos Carmelo de Vasconcelos Motta, Cardeal Arcebispo de São Paulo, a Missa foi celebrada junto a essa Cruz, colocada a mil cento e setenta e três metros de altitude, no lugar hoje situado entre o Memorial JK e a Catedral Militar. A data foi especialmente escolhida por ser, de acordo com o calendário litúrgico da época, dia da festa da Santa Cruz. O presidente Juscelino Kubistchek – fundador da cidade – em discurso na ocasião, afirmou: “Plantamos, com o sacrifício da Santa Missa, uma semente espiritual neste sítio que é o coração da Pátria”. Acrescentando: “Hoje é o dia da Santa Cruz, dia em que a Capital recém-nascida recebe o seu batismo cristão.” 8 – A Pietá CATEDRAL DE BRASÍLIA 30 Ao lado da Cruz histórica está a imagem da Pietá, abençoada pelo Papa João Paulo II. Réplica da obra de Michelangelo que se encontra na Basílica de São Pedro, em Roma, foi produzida num período de três anos pelo Museu do Vaticano, com mármore em pó e resina. Constitui a primeira réplica milimetricamente igual à original – feita há mais de quinhentos anos pelo célebre escultor italiano. Pesa seiscentos quilos e mede 1,74 metros de altura. Essa réplica da Pietá, doada à Catedral pelo casal Paulo Xavier e Carmem Morum Xavier, chegou a Brasília no dia 21 de dezembro de 1989. 9 – D. Bosco Junto à Pietá encontra-se a imagem de Dom Bosco, que pesa duas toneladas e foi esculpida pelo Mestre Mauro Baldasari – artista italiano de Turim, que utilizou como matéria prima uma peça única de mármore de Carrara. O escultor explica os significados de sua obra: As mãos do santo apontam, a da direita, para a entrada da Catedral, num gesto de acolhimento aos visitantes; a da esquerda, para o altar, onde estão Jesus na Eucaristia e Nossa Senhora Aparecida, a Padroeira. O corpo esculpido com acentuada concavidade representa sua total doação aos jovens. Na grande peça, presa atrás da imagem, desenhos correspondem às cenas que representam os sonhos de D. Bosco. Dentre essas destaca-se, no lado esquerdo, a imagem da Catedral da cidade localizada entre os paralelos 15 e 20 do globo terrestre – sonho profético de Dom Bosco que previa, nesse local, o nascimento de uma nova civilização, outra “terra prometida”. Dom Bosco foi proclamado Copadroeiro de Brasília em 10 de junho de 1962. O Livro Tombo daIgreja de D. Bosco no Núcleo Bandeirante registra que nesta data – 10 de junho de 1962, Festa de Pentecostes –, Nossa Senhora Aparecida e S. João Bosco foram proclamados Padroeira e Copadroeiro de Brasília. Houve grande manifestação. E a celebração – presidida por D. José Newton –, contou com a presença do Presidente da República, Juscelino Kubitschek, autoridades eclesiásticas, políticas e o povo de Brasília. A imagem verdadeira de Nossa Senhora Aparecida veio trazida do Santuário de Aparecida do Norte (São Paulo), para a Catedral ainda em construção, por D. Carlos Carmelo. Uma imagem de São João Bosco, trazida por Padre Roque Valiati Baptista – pioneiro e pároco da igreja São João Bosco do Núcleo Bandeirante – veio em carreata. 10 – Os Confessionários CATEDRAL DE BRASÍLIA 31 À esquerda da entrada principal da nave, próximos à entrada da sacristia, estão colocados os confessionários, em madeira, cuja originalidade e formas foram dadas pelo arquiteto Oscar Niemeyer. *Texto retirado do site da Catedral Metropolitana Nossa Senhora Aparecida. 3.3 O Projeto Arquitetônico Niemeyer decidiu fazer da catedral uma obra revolucionária digna da capital, da qual deveria ser um dos monumentos marcantes. Essa estrutura inédita, iria caracterizar sozinha o edifício, já que só ela iria emergir do chão como um novo tipo de cúpula, pousada suavemente sobre uma catedral parcialmente subterrânea; dessa maneira, o arranjo interno não prejudicaria a perfeição formal externa, apesar da transparência absoluta que iria resultar do preenchimento do vazio deixado entre os montantes com placas de vidro refratário ligeiramente coloridas, encarregadas de atenuar o excesso de luz solar e de filtrar os raios do sol criando uma atmosfera favorável ao recolhimento. Contudo, as dificuldades começaram quando se passou do projeto para a execução. Niemeyer tinha confiança absoluta nas possibilidades ilimitadas da técnica contemporânea; concebia o papel do arquiteto como sendo um inventor de formas, cuja validade dependia, antes de mais nada, de sua beleza, deixando ao engenheiro a tarefa de resolver os problemas criados. Nesse aspecto, ele podia contar com o gênio para cálculos e com a compreensão total de Joaquim Cardozo, que partilhava inteiramente de seu ponto de vista. Porém, dessa vez o arquiteto teve de se inclinar perante as leis do equilíbrio, que ele havia desafiado em excesso, fazendo certas modificações. O Anteprojeto original previa vinte e um paraboloides (logo reduzidos para dezesseis), fixados em dois anéis de concreto: um de 70m de diâmetro, repousando no chão e servindo de alicerce, o outro, quase no topo da coroa, teria sido um simples ponto de apoio para assegurar a rigidez do conjunto e permitir uma completa iluminação pelo alto; foi preciso renunciar a este anel, por uma questão de estabilidade, substituindo-o por uma laje situada muito mais embaixo. A leveza e transparência da estrutura forram com isso atenuadas, mas o efeito obtido continua sendo extraordinário. CATEDRAL DE BRASÍLIA 32 Outro contratempo bem mais sério corria o risco de recair na obra e por longo tempo impediu que ela fosse concluída. A ameaça surgiu quando chegou o momento de colocar os vidros nessa esplêndida estrutura; todos os especialistas consultados confessaram-se incapazes, já que nenhuma empresa do mundo seria capaz de fundir painéis com esse tamanho e essa forma; ora, Niemeyer recusava-se a dividir os painéis em caixilhos múltiplos que teriam alterado o caráter do monumento. A discussão perdurou por muito tempo e ninguém sabia como a questão seria resolvida. Iria a técnica, em prazo mais ou menos curto, fazer progressos suficientes para ir ao encontro da visão profética do artista ou iria este inclinar-se perante as imposições materiais? A vontade de terminar a obra manifestada pelas autoridades, e o cansaço do arquiteto tornaram possível chegar a um acordo, elaborado depois de múltiplas pesquisas e negociações: as vidraças, colocadas em 1970, foram construídas por placas poligonais inseridas numa fina rede metálica, que conservava a transparência e leveza do conjunto. Niemeyer jamais tinha ousado desafiar a técnica de modo tão completo: desta vez, assiste-se a uma superação das pesquisas habituais visando explorar ao máximo, com uma finalidade estética, as possibilidades decorrentes do progresso técnico. Antes jamais tinha afirmado com tanta clareza a prioridade absoluta da forma sobre todas as demais considerações: é verdade que mais de uma vez na própria Brasília, ele tinha sem nenhum escrúpulo enterrado as partes que o perturbavam e, particularmente, as partes comuns (Palácio da Alvorada, Brasília Palace Hotel), mas nunca tinha as mascarado integralmente; ora, desta vez, é o edifício inteiro que desaparece sob a terra, inclusive o corpo principal para deixar aparecer apenas as superestruturas que o definem: sem dúvida alguma, é uma retomada do princípio aplicado no Palácio do Congresso, mas sem limitar esse princípio à escala da perspectiva longínqua, como no caso anterior. E jamais a preocupação com uma plástica tão pura, tão rigorosa, tinha-se manifestado de modo tão gigante; nenhum outro monumento conseguiu fazer a síntese tão completa de todas as qualidades do estilo Niemeyer: mistura de simplicidade geral e audácia inédita, fusão de uma planta circular basicamente estática e de estruturas livres essencialmente dinâmicas, determinando um volume claro, ao mesmo tempo revolucionário e clássico, constituição de um espaço interno bem definido sem que com isso se colocasse uma ruptura na continuidade exterior/interior, continuidade esta que sempre foi uma das preocupações principais do arquiteto. Jamais, enfim, o aspecto simbólico, tão característico dos monumentos de Brasília, foi expresso de modo tão cativante: os elementos formais que definiam os palácios eram criações onde se encarnavam o espírito ideal da instituição a quem eram destinados; o mesmo fenômeno ocorre na Catedral, composição CATEDRAL DE BRASÍLIA 33 ascendente que se lança para o céu em um verdadeiro desprendimento das realidades terrestres, mas agora um símbolo concreto soma-se ao símbolo abstrato: a estrutura em forma de coroa estilizada com pontas aceradas lembra fortemente a coroa de espinhos de Cristo na Paixão. *Texto retirado do livro Arquitetura Contemporânea no Brasil de Yves Bruand 3.4 O Projeto Estrutural Trata-se de uma estrutura auto equilibrada, composta por 16 pilares, dispostos, em planta, circunferencialmente. A sustentação é feita por dois anéis de concreto armado. O superior, com, aproximadamente, 6,8m de diâmetro, está localizado próximo do topo dos pilares, absorvendo os esforços de compressão. Esse anel passa por dentro dos pilares, tornando-se imperceptível aos olhos do observador. Já o anel inferior, com 60,0m de diâmetro, ao nível do piso, absorve os esforços de tração, funcionando como um tirante, reduzindo as cargas nas fundações, que recebem apenas esforços verticais. Esse anel só é visível no interior da Catedral. A laje de cobertura não tem função estrutural, mas apenas de vedação (Figura 2). Infelizmente, não foram localizados quaisquer registros da concepção e cálculo estrutural, de autoria do notável engenheiro Joaquim Cardozo, responsável pelas estruturas de várias edificações de Niemeyer. Informações preciosas foram obtidas no depoimento escrito do responsável técnico da obra para os autores deste trabalho, o arquiteto Carlos Magalhães, então funcionário da Novacap - Companhia Urbanizadora da Nova Capital do Brasil. Esse depoimento destaca que o modelo estrutural de Cardozo incluía, além do cálculo para suportar as cargas permanentes e sobrecargas, uma análise do efeito das cargas de vento nos vitrais, interagindo com os pilares, verificação um tanto sofisticadapara a época (Magalhães, 2001). A concepção dos pilares é especialmente interessante. A seção é toda variável ao longo do comprimento e, em alguns trechos, com uma geometria particular, que se assemelha á um triângulo vazado. O escoramento das fôrmas dos pilares de concreto, no sistema ‘caixão perdido’, foi feito em estrutura metálica tubular, na forma de ‘leque’, apoiando cada coluna (Figura 3). Conforme antes citado, dois anéis garantem a estabilidade dos 16 pilares. O anel superior combate os esforços a compressão e serve como união dos pilares. O inferior funciona como um tirante e se subdivide em outros quatro anéis, um desses com dois metros CATEDRAL DE BRASÍLIA 34 de base, unidos por vigas e formando uma grelha circular. O fechamento dessa grelha se dá através de duas lajes de vedação, na parte inferior e superior. O anel inferior de tração foi concebido de forma a permitir a transmissão exclusiva de esforços verticais aos blocos de fundação. O espaço entre o anel e a infraestrutura foi preenchido com placas de neoprene, para liberar a rotação nesses apoios. A estrutura de suporte dos vitrais é composta por treliças de aço tridimensionais, fixadas ao longo dos pilares de concreto, através de barras de aço. A estrutura do espelho d´água que circunda a Catedral é de concreto protendido e só foi realizada dez anos após o início das obras. Do depoimento escrito do arquiteto Carlos Magalhães (2001), destacam-se as informações seguintes, importantes para o entendimento da concepção estrutural adotada por Cardozo: - Fundações: “Tubulões escavados a céu aberto com diâmetro de 0,70m e profundidade de, aproximadamente, 28,00 m, com as bases alargadas. São 16 blocos ligados através de cintamento, apoiados em 16 grupos de tubulões”. - Estrutura: “Nos blocos de fundação nascem 16 pilares, um em cada bloco, que suportam o anel de onde saem as 16 colunas que marcam a estrutura da Catedral de Brasília. O anel de tração está separado dos pilares da infraestrutura por placas de neoprene (50cm x 50cm x 2.5cm). A função deste anel de tração é a de absorver os esforços horizontais transmitidos pelas 16 colunas. O neoprene impede que qualquer movimento horizontal do anel de tração seja CATEDRAL DE BRASÍLIA 35 transmitido para os pilares da infraestrutura. As colunas emergem do anel de tração, maciças e delicadas, armadas com 70 vergalhões CA-50 de uma polegada. Em seguida, as suas dimensões vão aumentando e o cálculo estrutural criou caixões perdidos, que evitam o aumento exagerado do peso da peça, mantendo as dimensões estabelecidas pelo arquiteto e a estabilidade da construção. As 16 colunas, ao mesmo tempo em que ganham altura, se aproximam e depois de se tocarem voltam a subir, afastando-se uma das outras, novamente maciças. Nos pontos em que se tocam, as colunas se apoiam em um anel que trabalha à compressão e impede que elas se fechem”. *Texto retirado do artigo: CATEDRAL DE BRASÍLIA: HISTÓRICO DE PROJETO/ EXECUÇÃO E ANÁLISE DA ESTRUTURA de Diogo Fagundes Pessoa e João Carlos Teatini de S. Clímaco 3.5 A Execução A grande maioria das informações sobre a execução da obra da Catedral foi conseguida do depoimento de Carlos Magalhães. Outra fonte importante foi o arquivo histórico da Novacap (2001), onde foram obtidas informações como a procedência e o tipo de materiais empregados, traço do concreto de algumas peças estruturais, nomes de colaboradores e financiadores da Catedral, etc. Segundo Magalhães, as fôrmas da estrutura de concreto, em madeira, foram verdadeiras “obras de arte”, de difícil concepção e execução, pois a geometria das seções era bastante complicada: “Para que as fôrmas das colunas pudessem ser construídas, foi necessário desenhar no canteiro de obras, com as dimensões reais, uma das colunas e a partir daí, montar aproximadamente 20 ‘cortes transversais’, a fim de que fosse possível transferir para o concreto a forma projetada pelo arquiteto. Sobre o escoramento, foi montado o fundo das colunas, depois a armação, os caixões perdidos e o complemento das armações. As fôrmas eram fechadas, de maneira a permitir que a concretagem fosse feita por etapas e que as colunas recebessem o mesmo volume de concreto a cada etapa de concretagem”. O projeto de escoramento previa o uso de pilares metálicos, para sustentar a execução dos pilares definitivos. “O escoramento da estrutura da Catedral foi montado com tubos Mills, em forma de ‘leque’, apoiando cada coluna. Foram construídos 16 blocos e 80 estacas CATEDRAL DE BRASÍLIA 36 inclinadas”, descreve Magalhães (2001). As estacas de sustentação desse escoramento foram cortadas no nível do piso inferior e permanecem até hoje sob o terreno da Catedral. A concretagem dos pilares foi realizada em segmentos de quatro metros. O concreto era lançado através de guindastes e dosado na própria obra. Os materiais eram procedentes de diferentes regiões: o cimento de Minas Gerais, Goiás e Mato Grosso, a areia do próprio solo de Brasília e a brita da região do Entorno, próxima a Sobradinho-DF. Segundo o responsável técnico, foi feito o controle rigoroso do concreto, com a moldagem de corpos de prova e ensaios pelo laboratório do engenheiro Mauricio Viegas, no Distrito Federal. Entretanto, não foram localizados os certificados de ensaios e os registros dos traços do concreto, obtidos da Novacap (2001), não apresentam a relação água-cimento. A cura foi feita através de molhagem contínua das formas. A desforma foi realizada cerca de 28 dias após a concretagem dos últimos trechos de cada pilar. No projeto original, a armadura longitudinal da seção mais próxima do anel inferior de tração consiste em cerca de 70 barras de uma polegada de diâmetro, aço CAT-50, hoje não mais produzido. À medida que a seção varia, há um aumento na quantidade de barras, com o mesmo diâmetro, chegando a seção mais solicitada a ter mais de 90 barras de aço. Dessa forma, segundo Magalhães, não era possível haver trespasse, tendo sido os vergalhões unidos com solda de topo. Ainda segundo o responsável técnico da obra, havia um controle tecnológico rigoroso da solda, com amostras de soldas sendo retiradas e enviadas para análise no Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT) - São Paulo. O projeto especificava para as armaduras uma camada de cobrimento de concreto de espessura de cerca de 2cm, prevendo o uso de espaçadores. *Texto retirado do artigo: CATEDRAL DE BRASÍLIA: HISTÓRICO DE PROJETO/ EXECUÇÃO E ANÁLISE DA ESTRUTURA de Diogo Fagundes Pessoa e João Carlos Teatini de S. Clímaco CATEDRAL DE BRASÍLIA 37 3.6 Iconografia CATEDRAL DE BRASÍLIA 38 CATEDRAL DE BRASÍLIA 39 CATEDRAL DE BRASÍLIA 40 CATEDRAL DE BRASÍLIA 41 CATEDRAL DE BRASÍLIA 42 CATEDRAL DE BRASÍLIA 43 CATEDRAL DE BRASÍLIA 44 CATEDRAL DE BRASÍLIA 45 CATEDRAL DE BRASÍLIA 46 CATEDRAL DE BRASÍLIA 47 CATEDRAL DE BRASÍLIA 48 CATEDRAL DE BRASÍLIA 49 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS A Arquitetura da Década. Disponível em: http://culturanosanos50.blogspot.com/2009/06/arquitetura-da-decada.html. Acesso em 23, novembro, 2019. As Artes nas Décadas de 50 e 60. Disponível em: http://www.historia.seed.pr.gov.br/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=208. Acesso em 23, novembro, 2019. BRUAND, Yves. Arquitetura Contemporânea no Brasil. 5º Edição. São Paulo: Editora Perspectiva S.A, 2010. Catedral Metropolitana Nossa Senhora Aparecida. Disponível em: https://catedral.org.br/. Acesso em 23, novembro, 2019. Década de 50. Disponível em: https://www2.camara.leg.br/atividade- legislativa/plenario/discursos/escrevendohistoria/visitantes/panorama-das-decadas/decada-de-
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