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49 Ecologia: a vida em um nível mais amploU N I D A D E 2 A Caatinga é um ecossistema com grande diversidade de seres vivos. Na foto, araras- -azuis-de-lear (cerca de 70 cm de altura) na Estação Biológica de Canudos (BA), 2013. JO A O M A R C O S R O S A /N IT R O 02_UN2_CAP05_BIOLOGIA1-CSC_049a062.indd 49 4/26/16 6:23 PM Conceitos fundamentais em Ecologia5CA P Í T U L O AFINAL, O QUE É ECOLOGIA? A Ecologia costuma ser definida como o ramo da Biologia que estuda as relações dos seres vivos entre si e deles com os demais componentes do ambiente (abióticos). Muito frequentemente concordamos com essa definição, sem perceber a necessidade de discutir um outro termo aí presente: ambiente. E o que é ambiente? Uma definição possível, de acor- do com alguns dicionários, é: “complexo formado por fatores físicos, químicos e bióticos (tais como o clima, o solo e os seres vivos) que atuam sobre um organismo ou sobre uma comu- nidade ecológica e, em última análise, determinam sua forma e sua sobrevivência”. Porém, tanto o termo “ecologia” como o termo “ambiente” foram se distanciando de suas acepções iniciais e acabaram ganhando novas dimensões que nem sempre são compatíveis com o que se pretendia. Veja, por exemplo, a definição de Ecologia proposta a seguir. Ecologia é a preocupação com o relacionamento geral entre um ser e seu ambiente. O termo é usado também em referência à ecologia interna: o relacionamento global entre uma pessoa e seus pensamentos, estratégias, comportamentos, capacidades, valo- res e crenças. O equilíbrio dinâmico dos elementos em qualquer sistema. BERGER, Leoni. Estudo do emprego de técnicas da análise transacional e da programação neurolinguística na melhoria da comunicação pessoal e organizacional, 1999. Dissertação (Mestrado em Engenharia) UFSC. Florianópolis. Os seres humanos interagem com a natureza, por exemplo, retirando dela alguns alimentos que consomem. As relações dos seres vivos entre si e deles com seu ambiente são objeto de estudo da Ecologia. Na fotografia, coleta de açaí na aldeia indígena Ixima em Santa Isabel do Rio Negro (AM), 2011. 1. Converse com os colegas sobre essas questões: Quais são as definições de Ecologia apresentadas no texto? No que elas diferem? 2. É comum, hoje, o uso da palavra ecologia como sinônimo de ambiente em frases como: “O derramamento de petróleo acabou com a ecologia do lugar” ou “O homem está destruindo a ecologia do planeta”. De acordo com o texto, tal uso seria correto? Discuta com os colegas. EXPLORANDO AS IDEIAS DO TEXTO As respostas das questões dissertativas estão nas Orientações Didáticas, ao final deste volume. NÃO ESCREVA NO LIVRO 50 E D S O N S A TO 02_UN2_CAP05_BIOLOGIA1-CSC_049a062.indd 50 4/26/16 6:23 PM ECOLOGIA E ECOSSISTEMAS A ciência da Ecologia A Ecologia estuda, fundamentalmente, os níveis de organização acima do nível de organis- mo, preocupando-se com as relações dos seres vivos entre si e com o ambiente que os cerca. Ao pé da letra, a palavra ecologia significa “o estudo da casa” — do grego, oikos = casa e logos = estudo. A Ecologia, que envolve vários ramos do conhecimento científico, compre- ende a fisiologia dos seres vivos, seu comportamento, sua genética e sua evolução biológi- ca. Além disso, lida também com conceitos de Física e Química aplicados à luz, à água, ao ar e ao solo, enfim, aos fatores não vivos do ambiente. Muito mais do que isso, a Ecologia trata do estudo das inter-relações entre esses fatores. Conceituações da Ecologia Segundo o médico alemão Ernst Haeckel (1834-1919), “pela palavra ecologia queremos designar o conjunto de conhecimentos relacionados com a economia da natureza — a investi- gação de todas as relações entre o ser vivo e seu ambiente orgânico e inorgânico, incluindo suas relações, favoráveis ou não, com plantas, animais e outros organismos que tenham com ele contato direto ou indireto. Enfim, Ecologia é o estudo das complexas inter-relações chama- das por Darwin de ‘condições da luta pela vida’”. Para o ecólogo inglês Charles Elton (1900-1991), a Ecologia é uma “história natural científica”. Frederic E. Clements (1874-1945), um ecólogo estadunidense, considera a Ecologia a “ciência da comunidade”, enquanto para o ecólogo estadunidense contemporâneo Eugene Odum (1913- -2002), a Ecologia é o estudo da “estrutura e função da natureza”. Os diferentes níveis de organização estudados pela Ecologia Já vimos que populações são grupos de organismos da mesma espécie que vivem em uma determinada área no mesmo intervalo de tempo e que comunidade biótica é o conjunto de populações de determinada área no mesmo intervalo de tempo. Quando consideramos a comunidade junto com os fatores não biológicos do meio (abióticos), temos o ecossistema. A biosfera, por sua vez, é o conjunto de todos os ecossistemas do planeta. Tanto as populações como as comunidades e os ecossistemas estão sujeitos a mecanismos homeostáticos delicados, que controlam e mantêm vários tipos de equilíbrio na natureza. (abióticos), temos o , por sua vez, é o conjunto de todos os ecossistemas do planeta. (abióticos), temos o ecossistema. A biosfera, por sua vez, é o conjunto de todos os Tanto as populações como as comunidades e os ecossistemas estão sujeitos a mecanismos homeostáticos delicados, que controlam e mantêm vários tipos de equilíbrio na natureza. Ecossistema Esquema dos níveis de organização em Ecologia. (Elementos fora de proporção de tamanho entre si. Cores fantasia.) Biosfera População Comunidade IL U ST R A ÇÕ ES : R O D VA L M AT IA S Conceitos fundamentais em Ecologia • CAPÍTULO 5 51 02_UN2_CAP05_BIOLOGIA1-CSC_049a062.indd 51 4/26/16 6:24 PM ECOSSISTEMA: A UNIDADE ECOLÓGICA Definição de ecossistema A biosfera, parte do planeta que abriga a vida, é constituída de muitos ecossistemas. O ecossistema é, portanto, uma unidade de estudo da Ecologia; enten- der o que ele é, como funciona e como se mantém em equilíbrio é a chave para a compreensão do funciona- mento da natureza. O ecossistema tem uma parte biótica, viva, repre- sentada pela comunidade, e uma parte abiótica, não viva, que inclui todos os fatores físicos e químicos do ambiente. Os ecossistemas podem ser pequenos, como uma lagoa, ou muito grandes, como a Floresta Amazônica. Independentemente de seu tamanho, em todos eles ocorre um intercâmbio de matéria e de energia. Além disso, cada ecossistema também troca matéria e energia com os ecossistemas vizinhos. ■ A lagoa: um exemplo de ecossistema Em uma lagoa, há vegetais nas margens e no fundo. Flutuando na superfície, há o fitoplâncton, conjunto de algas microscópicas de várias espécies. Tanto os vegetais como as algas realizam fotossíntese. Os caramujos, que vivem na lama do fundo, alimentam-se de plantas. Peixes herbívoros também comem partes de vegetais, além de organismos do fitoplâncton. Há, ainda, os peixes carnívoros, que comem caramu- jos e outros animais, e as aves da margem, que se alimentam de rãs e de peixes de diferentes tamanhos. Além do fitoplâncton, há também grande quantidade de orga- nismos invisíveis a olho nu, como os microcrustáceos, que se alimentam do fitoplânc- ton e servem de alimento a alguns peixes carnívoros. Eles compõem o zooplâncton. Por fim, existem bactérias e fungos que decompõem os restos de plantas, animais e outros organismos mortos. Veja na página 55 um esquema que representa algumas das relações alimentares entre os seres vivos que habitam a área da lagoa. As florestas tropicais úmidas, como a Mata Atlântica, são ecossistemas com grande diversidade de espécies. Reserva Particular do Patrimônio Natural Parque do Zizo, em Japiraí (SP), 2015. Em uma lagoa, diversos seres vivos interagem entre si e com os fatores físicos e químicos do ambiente. Na fotografia, lagoa na Reserva Extrativista Lago do Cuniã, em Porto Velho (RO), 2013. UNIDADE 2 • ECOLOGIA:A VIDA EM UM NÍVEL MAIS AMPLO525252 FA B IO C O LO M B IN I A N D R E D IB /P U LS A R IM A G E N S 02_UN2_CAP05_BIOLOGIA1-CSC_049a062.indd 52 4/26/16 6:24 PM Todos os organismos desse ecossistema dependem uns dos outros de alguma maneira. Alguns fazem fotossíntese, outros se aproveitam do alimento que a fotossín- tese produz. Há os que são presas e os que são predadores — animais que matam presas para delas se alimentar. Há, ainda, os parasitas. Outros, como bactérias e fungos decompositores, utilizam como alimento restos dos demais seres vivos. O conjunto das populações existentes de seres vivos – fitoplâncton, zooplâncton, peixes herbívoros e carnívoros, caramujos, rãs, vegetais, bactérias e fungos – repre- senta a comunidade biótica da lagoa. E os fatores abióticos desse ecossistema? Podemos citar a água, sua temperatura e seu pH, e também o gás oxigênio, o gás carbônico e os sais minerais nela dissolvidos, entre outros. Os materiais em suspensão, que tornam a água mais turva, e a intensida- de luminosa, que é diretamente influenciada pela quantidade desses materiais, tam- bém são fatores abióticos, assim como a lama e as rochas do fundo da lagoa. Como exemplo da interação entre os fatores abióticos e os organismos podemos citar a lama do fundo do lago e as rochas que servem de abrigo para animais meno- res. Outro exemplo são os organismos fotossintetizantes, que dependem da luz e produzem parte do oxigênio utilizado pelos peixes e demais organismos. Quando a temperatura da água aumenta, a solubilidade do gás oxigênio diminui. Assim, por não conseguirem respirar, muitos seres vivos morrem. A decomposição desses orga- nismos pela ação das bactérias torna a água mais turva, reduzindo a intensidade da luz no interior da lagoa. Por isso, ocorre menos fotossíntese e a produção de gás oxigênio cai. A respiração dos organismos é ainda mais prejudicada, e os demais eventos são agravados. Os níveis tróficos na comunidade A estrutura de um ecossistema sempre é composta de três categorias básicas de organismos: os produtores, os consumidores e os decompositores. Cada uma dessas categorias ocupa um nível trófico (ou alimentar) diferente. ■ Os produtores Os produtores ocupam o primeiro nível trófico em qualquer ecossistema. Correspondem aos organismos autótrofos, como aqueles que têm clorofila e fazem fotossíntese. Lembre-se de que a maioria dos autótrofos faz fotossíntese; uma par- cela muito menor faz quimiossíntese1. No caso da lagoa, os produtores são as algas do fitoplâncton e as plantas das margens e do fundo. Por meio da fotossíntese, elas produzem o gás oxigênio, funda- mental para a respiração da maioria dos seres vivos. ■ Os consumidores Os consumidores são organismos heterótrofos que se alimentam de outros orga- nismos em um ecossistema. São exemplos de consumidores os protozoários e os animais. Consumidores que se nutrem de vegetais são chamados de consumidores pri- mários ou consumidores de primeira ordem. No caso da lagoa, os integrantes do zooplâncton, os caramujos e os peixes herbívoros são consumidores primários. Organismos que se alimentam de consumidores primários são denominados consu- midores secundários ou de segunda ordem; na lagoa, são os peixes carnívoros. As aves da margem quando se alimentam desses peixes (consumidores de segunda ordem) são consumidores terciários. Em um ecossistema, um organismo pode ser consumidor de várias ordens ao mesmo tempo. Quando comemos salada, somos consumidores de primeira ordem; quando comemos carne de vaca, somos consumidores de segunda ordem. Se ingeri- mos um peixe carnívoro, somos consumidores de terceira ordem. Aqui está uma boa oportunidade para ressaltar os aspectos interdisciplinares da Ecologia, mostrando fatores físicos e químicos que influem no funcionamento dos ecossistemas. Por exemplo: os materiais em suspensão, que determinam a transparência da água e a quantidade de luz disponível; e a temperatura da água, que se relaciona à solubilidade de gases, como o oxigênio. 1. Quimiossíntese: processo de produção de matéria orgânica que não se utiliza de energia luminosa. Representantes do fitoplâncton; a maioria deles é composta por algas diatomáceas. (Fotografia ao microscópio óptico.) Pequenos crustáceos do zooplâncton são consumidores primários. (Fotografia ao microscópio óptico.) Aumento de 67 vezes. Aumento de 40 vezes. Conceitos fundamentais em Ecologia • CAPÍTULO 5 53 A N D R E W S Y R E D /S P L/ LA TI N S TO C K R O LA N D B IR K E /P H O TO TA K E /E A S Y P IX 02_UN2_CAP05_BIOLOGIA1-CSC_049a062.indd 53 4/26/16 6:24 PM ■ Os decompositores Os decompositores são representados por muitas espécies de fungos e de bacté- rias, todos heterótrofos, que agem sobre restos de plantas, excretas e cadáveres de animais e outros organismos. Ao degradar esses elementos, devolvem ao ambiente sais minerais e nutrientes, que são novamente utilizados pelos produtores. Sem os decompositores, os átomos de carbono e de nitrogênio existentes nos restos de ani- mais e plantas ficariam retidos, não sendo reaproveitados no ecossistema. Cadeias alimentares As cadeias alimentares representam a maneira mais simples, porém parcial, de descrever as relações alimentares nos ecossistemas. A ilustração a seguir representa uma cadeia alimentar na lagoa, que mostra apenas um dos possíveis caminhos do alimento no ecossistema. As setas sempre vão da espécie que serve de alimento para aquela que consome esse alimento. No caso da figura, as algas aquáticas servem de alimento para os caramujos, que, por sua vez, são ingeridos pelos peixes carnívoros, que são comidos pelas aves da margem. Caramujo Algas Peixe carnívoro Garça Vegetação da margem ■ Alguns exemplos de cadeias alimentares Em um ecossistema aquático (de água doce ou marinho), podemos reconhecer os seguintes representantes para cada nível trófico: • Produtores: algas microscópicas que vivem na superfície (fitoplâncton); algas macros- cópicas e plantas aquáticas (submersas, flutuantes ou da margem). • Consumidores primários: várias espécies de microrganismos (adultos ou formas larvais) que vivem na superfície (zooplâncton), alguns microcrustáceos (como o krill, um pequeno animal marinho), moluscos, vermes, equinodermos, peixes herbí- voros, larvas de anfíbios (girinos), entre outras. • Consumidores secundários: animais que se alimentam dos organismos do nível anterior. Exemplos: insetos, moluscos e peixes carnívoros, anfíbios adultos, tartaru- gas marinhas, cágados e alguns mamíferos (como lontras, focas e baleias). • Consumidores terciários: animais que se alimentam de organismos do nível ante- rior. Certas aves aquáticas, jacarés e tubarões são exemplos de consumidores ter- ciários. Uma cadeia alimentar típica para o ambiente aquático poderia ser assim repre- sentada: Algas microscópicas # Microcrustáceos # Peixes carnívoros # Aves aquáticas Cogumelo, organismo decompositor. Cerca de 3 cm de altura. Esquema representando uma cadeia alimentar simples. (Elementos fora de proporção de tamanho entre si. Cores fantasia.) R O D V A L M A TI A S UNIDADE 2 • ECOLOGIA: A VIDA EM UM NêVEL MAIS AMPLO545454 TH IN K S TO C K /G E TT Y IM A G E S 02_UN2_CAP05_BIOLOGIA1-CSC_049a062.indd 54 4/26/16 6:24 PM Gavião-caramujeiro Plantas da margem Larvas de insetos Irerê Peixe carnívoro Peixes herbívoros Girinos Zooplâncton Caramujos Fitoplâncton Algas Garça Sapo Besouro- -d’água Microrganismos decompositores Em um ambiente terrestre, as cadeias alimentares mais conhecidas são aquelas em que os consumidores primários são herbívoros (isto é, alimentam-se de plantas). De modo geral, podemos citar os seguintes exemplos de participantes para cada nível trófico em uma cadeia terrestre: • Produtores: plantas em geral (ervas rasteiras, como as gramíneas, arbustos e árvores). • Consumidores primários:animais herbívoros, como alguns moluscos e ácaros, a maioria dos insetos e várias espécies de aves e mamíferos (por exemplo, roedores e ruminantes). • Consumidores secundários: animais que se alimentam dos organismos do nível anterior. Exemplos: aranhas, escorpiões, sapos, lagartos, cobras, aves e mamíferos. • Consumidores terciários: aves de rapina e certos mamíferos. Poderíamos representar uma cadeia alimentar típica para um ambiente de campo aberto por meio do seguinte exemplo: Plantas # Insetos # Sapos # Serpentes # Gaviões Repare que, nesse caso, temos um exemplo de consumidor quaternário, repre- sentado pelos gaviões. Esse nível é pouco comum nas cadeias alimentares. As teias alimentares Como foi dito anteriormente, as cadeias alimentares são representações apenas parciais das relações alimentares existentes. Uma maneira mais completa de descre- ver a complexidade dessas relações é a teia alimentar, como a representada no esquema abaixo. As mesmas algas que servem de alimento para os caramujos podem nutrir os peixes herbívoros. Os peixes carnívoros comem não apenas caramujos, mas tam- bém girinos e peixes herbívoros, por exemplo. Os peixes, tanto os herbívoros como os carnívoros, servem de alimento para as aves da margem. Em suma, a teia alimen- tar é um conjunto de cadeias alimentares entrelaçadas. Atente para a seguinte informação: em uma teia alimentar, uma mesma espécie pode ocupar ao mesmo tempo níveis tróficos diferentes, em função do alimento que ela ingere. Por exemplo, quando a ave da margem come um peixe herbívoro (consu- midor primário), ela está se comportando como consumidor secundário. Ao se ali- mentar de um peixe carnívoro (consumidor secundário), ela ocupa o nível trófico dos consumidores terciários. Esquema representando uma teia alimentar na lagoa. Que nível trófico a garça ocupa quando come peixes herbívoros? E quando se alimenta de peixes carnívoros? (Elementos fora de proporção de tamanho entre si. Cores fantasia.) R O D V A L M A TI A S Conceitos fundamentais em Ecologia • CAPÍTULO 5 55 02_UN2_CAP05_BIOLOGIA1-CSC_049a062.indd 55 4/26/16 6:24 PM Onça-pintada Sucuri-amarela Jacaré Veado Folhas Capivara Frutos Macaco-prego Piraputanga Piranha Sementes Gavião CorujaBesouro Gafanhoto Preá Calango Sapo Vegetais Esquema representando um exemplo de teia alimentar do Pantanal. Os decompositores não foram representados. (Elementos fora de proporção de tamanho entre si.) UM EXEMPLO DE TEIA ALIMENTAR M A R C O S A M E N D W A S A N R IT T H A W O N / S H U T T E R S TO C K IM A G E B R O K E R /A LA M Y/ FO TO A R E N A EVANTRAVELS/SHUTTERSTOCK T U I D E R O Y/ M IN D E N P IC T U R E S / LA T IN S TO C K A G U S T IN E S M O R IS / S H U T T E R S TO C K P A U LO M E LO /S H U T T E R S TO C K T H IN K S TO C K /G E T T Y I M A G E S JO A O L U IZ L IM A /S H U T T E R S TO C K LU C IA N O Q U E IR O Z / S H U T T E R S TO C K S A N T I R O D R IG U E Z / S H U T T E R S TO C K UNIDADE 2 • ECOLOGIA: A VIDA EM UM NêVEL MAIS AMPLO565656 M IC H A E L R A N S B U R G / S H U T T E R S TO C K A N D R E W M . A LL P O R T/ S H U T T E R S TO C K M IC H A E L R U N K E L/ R O B E R T H A R D IN G /C O R B IS / FO TO A R E N A LU C IA N O Q U E IR O Z / S H U T T E R S TO C K FA B IO C O LO M B IN I H A R O LD O P A LO J R . FA B IO C O LO M B IN I 02_UN2_CAP05_BIOLOGIA1-CSC_049a062.indd 56 4/26/16 6:24 PM Os métodos de conservação de alimentos aqui discutidos (refrigeração, salga, secagem ao sol e acondicionamento em ambientes sem oxigênio) certamente já foram vivenciados pelos estudantes, o que possibilita uma contextualização com seu cotidiano. Essa vivência prévia, somada à compreensão de como esses métodos funcionam, representa uma ótima oportunidade para que os estudantes ampliem o conhecimento sobre o tema. Cogumelos orelha-de-pau (Pycnoporus sanguineus) crescendo sobre o tronco de uma árvore morta. Sob condições favoráveis, o processo de decomposição do tronco pelo fungo é acelerado. 2. Liofilização é um processo de desidratação em que a água, em baixas condições de temperatura e pressão, é retirada dos alimentos por sublimação, ou seja, sem passar pelo estado líquido. Esse processo também é muito usado na indústria farma- cêutica. Crescimento das espécies de paramécios em recipientes separados. 100 80 60 40 20 0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 Tempo (dias) Número de indivíduos Paramecium caudatum Paramecium aurelia GRÁFICO 1 – PARAMÉCIOS EM RECIPIENTES DIFERENTES ■ O lugar dos decompositores Você deve estar se perguntando: Onde é que os decompositores se encaixam nessa história? Não se costuma representar os organis- mos decompositores em uma cadeia ou em uma teia alimentar, pois eles atuam sobre os restos de todos os níveis tróficos, liberando substâncias minerais, que depois serão reaproveitadas pelos produ- tores, além de água e gás carbônico para o ambiente. As condições que favorecem esse processo são: • Umidade: necessária para a multiplicação dos microrganismos; os esporos necessitam de água para germinar. • Calor: microrganismos multiplicam-se mais rapidamente em tem- peraturas mais elevadas. • Oxigênio: muitos microrganismos necessitam de gás oxigênio para sua respiração celular. Na ausência desse gás, eles passam a realizar a fermentação, cujos produtos (ácidos ou álcool), ao se acumularem, pre- judicam o metabolismo de suas células, diminuindo ou até interrompendo o pro- cesso de decomposição. Repare que, quando queremos preservar os alimentos da ação decompositora de bactérias e fungos, nós os submetemos a um ou mais dos seguintes tratamentos: retirada da água (por exemplo, nos alimentos liofilizados2 ou submetidos à salga), diminuição da temperatura (colocando-os na geladeira ou no freezer) ou colocação em ambientes anaeróbios (embalados a vácuo). H‡bitat e nicho ecol—gico O “lugar” em que um organismo vive, no ecossistema, é chamado de hábitat. Exemplificando, na lagoa, o hábitat de uma alga microscópica e de uma larva de inseto é a superfície da água; o de um determinado peixe são as águas próximas às margens, entre a vegetação; e o de uma bactéria decompositora é a lama do fundo. Cada organismo que vive na lagoa desempenha um papel no ecossistema, ou seja, tem um nicho ecológico. Na ideia de nicho ecológico estão incluídas informações sobre fatores como: o que o organismo come; onde, como e em que momento do dia isso ocorre; quais são seus inimigos naturais; a forma e a época do ano em que se reproduz. Por meio dessas informações, é possível definir a “atividade” da espécie no ecossistema. O nicho ecológico representa, assim, todas as condições físicas, químicas e biológicas necessárias a uma espécie para sua sobrevivência, crescimento e reprodução. Organismos de espécies diferentes podem ter o mesmo hábitat e ocupar nichos ecológicos completamen- te diferentes. As algas microscópicas e os microcrustáce- os vivem nas águas superficiais da lagoa; a alga, porém, atua como produtor, usando luz e sintetizando carboidra- tos, enquanto o microcrustáceo age como consumidor. Quando duas espécies ocupam o mesmo hábitat e exatamente o mesmo nicho ecológico, essas espécies competem, o que leva uma delas a desaparecer, ceden- do lugar à outra. Essa ideia é chamada de princípio de Gause, em homenagem ao biólogo russo Georgii Frantsevich Gause (1910-1986), que a formulou. Em uma de suas experiências, ele cultivou duas espé- cies de protozoário: Paramecium aurelia e Paramecium caudatum. Veja o gráfico 1. C O N C E IT O G R A F Conceitos fundamentais em Ecologia • CAPÍTULO 5 57 A R D E A /D IO M E D IA 02_UN2_CAP05_BIOLOGIA1-CSC_049a062.indd57 4/26/16 6:24 PM Quando criadas em recipientes diferentes, porém nas mesmas condições, a população do Paramecium aurelia crescia mais depressa do que a população do Paramecium caudatum. Isso indicava maior eficiência na utilização do alimento. Observe, agora, o gráfico 2 ao lado. Quando as duas espécies eram cultivadas juntas, o Paramecium aurelia crescia muito mais depressa do que o Paramecium caudatum, que, assim, logo desaparecia. ■ Nicho: mais amplo ou mais restrito De modo geral, pode-se dizer que existem duas estratégias diferentes quanto ao modo como se dá a exploração do ambiente por uma espécie, isto é, o seu nicho ecológico. Algumas espécies, ditas generalistas, apresentam nichos mais amplos, o que lhes confere maior chance de sobrevivência perante as mudanças que ocorrem no ambiente. Outras, as espécies especialistas, apresentam nichos mais estreitos, isto é, utilizam de forma estrita um determinado recurso. Há vantagens e desvantagens em cada uma dessas estratégias. A especialização implica menor competição com outras espécies; por outro lado, a generalização per- mite maior flexibilidade quanto às possibilidades de alimentação, abrigo, entre outras. Pelas mãos da espécie humana, voluntária ou involuntariamente, muitas espécies de animais e de plantas se dispersaram pelo globo, principalmente nos últimos qui- nhentos anos (a partir das Grandes Navegações). Nesse caso, deram-se melhor as espécies generalistas, capazes de explorar novos territórios e descobrir novas fontes de alimento para onde quer que fossem levadas. É o caso dos ratos, dos pardais, dos pombos, de certas espécies de formigas e de alguns tipos de gramíneas. Muitas das espécies especialistas, por sua vez, tendem a desaparecer atualmente, pois não con- seguem sobreviver às mudanças ambientais provocadas pelo ser humano. Número de indivíduos 100 80 60 40 20 0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 Tempo (dias) Paramecium aurelia Paramecium caudatum GRÁFICO 2 – PARAMÉCIOS NO MESMO RECIPIENTE Dicionário de termos ecológicos A Ecologia, dentro das Ciências Biológicas, é um campo multidisciplinar, pois envolve conhecimentos da Física e da Química do ambiente, da Geografia, quando se discutem as características dos diversos biomas, da Matemática, quando se calcula a produtividade de um determinado ecossistema, entre outras áreas do conhecimento. Trata-se de uma área relativamente nova; alguns dos termos usados podem ainda não estar totalmente consoli- dados, ou são utilizados com um significado diferente por diversos ecólogos. Veja outros exemplos nas seções Mais aprofundamento das páginas 96 e 97. A proposta, aqui, é fazer com que você forme um grupo com os seus colegas e colaborem na confecção de um dicio- nário de termos ecológicos. Cada um dos grupos poderá se encarregar, por exemplo, de um dos capítulos da unidade, escolhendo os termos específicos da Ecologia que aparecem nele. A definição desses termos poderá ser feita com base no próprio texto do capítulo; será útil, no entanto, para cada termo escolhido, verificar seu significado também em outras fontes, por exemplo, em outros livros de Biologia, em dicionários ou até em fontes confiáveis na internet. As eventuais dúvidas poderão ser esclarecidas pelo professor e debatidas com a turma. O resultado final poderá ser publicado como um dicionário clássico, em ordem alfabética, porém sob a forma de um blog. Pensem, ainda, na possibilidade de enriquecer o dicionário, ilustrando alguns dos verbetes com exemplos de imagens que podem ser obtidas do livro ou na internet. O professor vai orientar a turma a respeito da divisão de grupos e de como proceder na realização do trabalho. LEITURA E LETRAMENTO Comentários e sugestões para a atividade estão nas Orientações Didáticas, ao final deste volume. NÃO ESCREVA NO LIVRO Espécies de paramécios competem por recursos quando cultivadas juntas. CO N CE IT O G RA F UNIDADE 2 • ECOLOGIA: A VIDA EM UM NêVEL MAIS AMPLO585858 02_UN2_CAP05_BIOLOGIA1-CSC_049a062.indd 58 4/26/16 6:24 PM História do conceito de ecossistema O termo ecossistema é empregado hoje normalmente nos textos de ecologia ou de biogeografia, nos livros didáticos e nos artigos de divulgação, ao ponto de estar presente, desde o final dos anos 1960 e princípio dos anos 1970, nos dicionários e nas enciclopédias. [...] A tal respeito, é interessante comparar duas edições do Petit Larousse [um dicionário da língua francesa]: em 1977, se define ecossistema como o conjunto de “condições físicas, químicas ou biológicas das quais depende a vida de uma espécie animal ou vegetal, ou que depende de sua vida”, o que é, no mínimo, discutível, e reduz o termo ecossistema a não ser mais do que um inútil substituto das palavras meio e meio ambiente; em contra- partida, em 1982, se define ecossistema como o “conjunto dos seres vivos de um mesmo meio e dos elementos não vivos com que estão vitalmente relacionados”. [...] Longe de ser unicamente uma palavra trazida pela moda do ecologismo [em referência ao movimento social vinculado à defesa do meio ambiente], o ecossistema é, antes de mais nada, um conceito científico; e, enquanto tal, suscetível de receber uma definição mais precisa e “técnica” que as citadas anteriormente. Para o geógrafo, trata-se de “uma parte do espaço terrestre, emerso ou aquático, que apresenta um caráter homogêneo do ponto de vista topográfico, microclimático, botânico, zoológico, higrológico, geoquí- mico”. Para o biólogo, é “o conjunto de todos os organismos de um meio defi- nido e de suas relações e interações com o meio”. Em qualquer caso, trata-se de uma unidade ecológica que compreende os elementos físicos e os seres vivos e em cuja definição intervêm outras noções, como a de homogeneidade ou a de interação. Ainda que talvez não seja a noção central da ecologia científica, o conceito de ecossistema está, no míni- mo, profundamente inserido na rede de conceitos, teorias e hipóteses dessa disciplina e de outras próximas a ela. A descrição de sua genealogia remonta muito atrás na história da Biologia, da Geografia e da confluência de ambas, e, em consequência, a antes do apa- recimento da palavra ecossistema. De fato, em 1935 o botânico inglês Arthur George Tansley, em um artigo da revista norte-americana Ecology, lançou o termo ecossistema. [...] Quanto ao termo ecologia, do grego oikos (casa), usa-se com relativa frequência nos meios científicos a partir dos anos 1890. O criador do termo ecologia foi o naturalista alemão Haeckel [...]. Segundo ele, a ecologia corresponde à “ciência da organização, dos costumes e das rela- ções mútuas externas dos organismos”, mas não parece haver se dado conta da necessidade de uma metodologia própria para essa nova ciência [...]. A introdução desse termo assinala, simplesmente, a importância da aproxima- ção darwiniana e da renovação que esta traz às ciências da natureza, uma vez que a “luta pela vida” permite explicar a adaptação dos organismos a seu meio ambiente. • Departamento de Ecologia do Instituto de Biologia da USP Disponível em: <http://ecologia.ib.usp.br>. Acesso em: mar. 2016. RECURSOS NA WEB LEITURA CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO Ernst Haeckel (1834-1919) foi um zoólogo alemão que ajudou na divulgação das ideias de Darwin. Além disso, cunhou o termo ecologia. Retrato em óleo sobre tela de Arthur George Tansley (1871-1955), botânico inglês que em 1935 lançou o termo ecossistema. Conceitos fundamentais em Ecologia • CAPÍTULO 5 59 W IL FR ID G A B R IE L D E G LE H N . 1 9 4 0 . N A TI O N A L P O R TR A IT G A LL E R Y E V E R E TT C O LL EC TI O N /L A TI N S TO C K 02_UN2_CAP05_BIOLOGIA1-CSC_049a062.indd 59 4/26/16 6:24 PM
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