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LIVRO- Sociolinguística

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Indaial – 2019
SociolinguíStica
Prof.a Luana Ewald
Prof.a Danielle Vanessa Costa Sousa
2a Edição
Copyright © UNIASSELVI 2019
Elaboração:
Prof.ª Luana Ewald
Prof.ª Danielle Vanessa Costa Sousa
Revisão, Diagramação e Produção:
Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI
Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri 
UNIASSELVI – Indaial.
Impresso por:
EW94s
Ewald, Luana
Sociolinguística. / Luana Ewald; Danielle Vanessa Costa Sousa. – 
Indaial: UNIASSELVI, 2019.
180 p.; il.
 ISBN 978-85-515-0403-1
1. Sociolinguística. - Brasil. I. Sousa, Danielle Vanessa Costa. II. 
Centro Universitário Leonardo Da Vinci.
CDD 400
III
apreSentação
Caro acadêmico, este livro didático pretende oferecer uma porta de 
entrada para os estudos sociolinguísticos e sua contribuição para a educação 
básica brasileira. A sociolinguística é uma das áreas de conhecimento da 
linguística, cuja responsabilidade está ligada aos estudos da linguagem 
sob uma abordagem social. Ao pensarmos sobre o olhar que os estudos 
sociolinguísticos lançam para a língua, entramos em uma perspectiva que 
leva em conta aquilo que os falantes efetivamente usam em seu dia a dia e 
que, na maioria das vezes, está bastante distante da prescrição feita pelas 
gramáticas tradicionais. Esse distanciamento, no entanto, é natural.
Dada nossa tradição escolar, há uma tendência em se identificar 
o estudo da linguagem com o estudo tradicional da gramática, o que 
buscaremos desconstruir nesta disciplina a partir da explicação de fenômenos 
linguísticos, sejam eles decorrentes das línguas em contato, dos contextos de 
comunicação, da história das línguas e seus falantes etc.
Ao estudar linguística, você irá sempre se deparar com diferentes 
teorias que abordam o mesmo objeto de estudo central: a língua(gem). Essas 
teorias estão vinculadas às disciplinas da linguística, isto é, aos estudos 
sociolinguísticos, filológicos, estudos de gramaticalização, da linguística 
aplicada, dentre outros, que possuem métodos, concepções e formas distintas 
de tratar a linguagem. Na linguística, portanto, existe uma pluralidade 
teórica para trabalharmos com os vários fenômenos da língua. 
Na sociolinguística brasileira, procuramos desconstruir o mito de 
que as pessoas devem falar conforme prescreve a gramática normativa. 
Bagno, sociolinguista brasileiro, trata da variação em seus estudos da língua 
materna. Em vários de seus livros sobre variação linguística, o autor discute 
que falar conforme prescreve essa gramática é um feito impossível de se 
concretizar, pois a língua é dinâmica e está sempre se transformando a partir 
de questões sociais vivenciadas por seus falantes. E é justamente por isso que, 
ao tratarmos da fala, não podemos dizer que alguém fala certo ou errado, 
mas de forma adequada ou inadequada para determinada situação social. 
A partir desta apresentação, você já deve ter compreendido que a 
sociolinguística é uma área de estudos na nossa formação em Letras que 
se contrapõe às formas idealizadas e coercitivas de tratar os estudos da 
linguagem. Não pretendemos julgar uma forma linguística como melhor ou 
pior do que outra, como mais bonita ou feia, como mais correta ou errada; o 
que procuramos é compreender a língua em uso. 
Nossos estudos nesta disciplina devem contribuir com sua prática 
pedagógica a fim de que você se afaste de modelos de ensino que visem à 
mera aplicação de conhecimentos linguísticos em sala de aula legitimados 
IV
Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para 
você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há 
novidades em nosso material.
Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é 
o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um 
formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura. 
O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova 
diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também 
contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo.
Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente, 
apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilidade 
de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador. 
 
Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para 
apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto 
em questão. 
Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas 
institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa 
continuar seus estudos com um material de qualidade.
Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de 
Desempenho de Estudantes – ENADE. 
 
Bons estudos!
NOTA
pelo ensino tradicional da língua. O que pretendemos, na verdade, é que a 
disciplina de língua portuguesa permita ao aluno da educação básica refletir 
sobre seus conhecimentos linguísticos, sobre a norma-padrão da língua, 
sobre os textos que circulam socialmente e passe a utilizar a linguagem 
adequadamente na sociedade, legitimando sua própria variedade e tendo 
acesso às variedades prestigiadas do país.
Resumidamente, podemos dizer que a disciplina de sociolinguística 
está em diálogo com a linguística aplicada, a filologia, com as disciplinas 
voltadas aos estudos gramaticais, como morfologia e sintaxe sob a abordagem 
de usos sociais. Por meio desse diálogo, buscaremos compreender juntos o 
português falado no Brasil e o ensino de língua portuguesa na escola.
Prof.ª Luana Ewald
Prof.ª Danielle Vanessa Costa Sousa
V
VI
Olá, acadêmico! Iniciamos agora mais uma disciplina e com ela 
um novo conhecimento. 
Com o objetivo de enriquecer seu conhecimento, construímos, além do livro 
que está em suas mãos, uma rica trilha de aprendizagem, por meio dela você terá 
contato com o vídeo da disciplina, o objeto de aprendizagem, materiais complementares, 
entre outros, todos pensados e construídos na intenção de auxiliar seu crescimento.
Acesse o QR Code, que levará ao AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo.
Conte conosco, estaremos juntos nesta caminhada!
LEMBRETE
VII
UNIDADE 1 – INTRODUÇÃO AOS ESTUDOS SOCIOLINGUÍSTICOS 
E À SOCIOLINGUÍSTICA VARIACIONISTA ....................................................1
TÓPICO 1 – INTRODUÇÃO À SOCIOLINGUÍSTICA ................................................................3
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................3
2 A LINGUÍSTICA COMO CIÊNCIA DA LINGUAGEM HUMANA .......................................5
3 O SURGIMENTO DE UMA ABORDAGEM SOCIAL SOBRE A 
LINGUAGEM HUMANA .................................................................................................................7
4 SOCIOLINGUÍSTICA: A CONSTITUIÇÃO DE UMA NOVA ESCOLA DE 
PENSAMENTO NA LINGUÍSTICA...............................................................................................11
LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................14
RESUMO DO TÓPICO 1......................................................................................................................19
AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................21
TÓPICO 2 – RELAÇÕES ENTRE LÍNGUA E SOCIEDADE .........................................................25
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................25
2 CONCEITOS FUNDAMENTAIS: VARIAÇÃO E COMUNIDADE .........................................263 AS GRAMÁTICAS E A NOÇÃO DE ERRO .................................................................................31
4 VARIEDADE, VARIAÇÃO, VARIÁVEL, VARIANTE ................................................................36
RESUMO DO TÓPICO 2......................................................................................................................39
AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................41
TÓPICO 3 – ESTUDO SOCIOLINGUÍSTICO DO PORTUGUÊS BRASILEIRO ....................45
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................45
2 POR QUE TRATAR DE VARIAÇÃO LINGUÍSTICA PARA O CONTEXTO DE 
TRABALHO NA EDUCAÇÃO BÁSICA? ......................................................................................45
3 VARIAÇÕES LINGUÍSTICAS NO PORTUGUÊS BRASILEIRO ............................................47
RESUMO DO TÓPICO 3......................................................................................................................55
AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................57
UNIDADE 2 – ESTUDANDO AS VARIEDADES E OS CONTATOS LINGUÍSTICOS.........61
TÓPICO 1 – SOCIOLINGUÍSTICA VARIACIONISTA ................................................................63
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................63
2 PARA ENTENDER A VARIAÇÃO E A MUDANÇA LINGUÍSTICA ......................................64
2.1 ANALISANDO REGULARIDADES LINGUÍSTICAS: PRINCÍPIOS 
METODOLÓGICOS.......................................................................................................................68
2.2 AS DIMENSÕES SOCIAIS DA VARIAÇÃO LINGUÍSTICA: 
TRAÇOS DESCONTÍNUOS E GRADUAIS ...............................................................................74
LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................83
RESUMO DO TÓPICO 1......................................................................................................................86
AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................88
Sumário
VIII
TÓPICO 2 – ALTERNÂNCIAS DE LÍNGUAS, BILINGUISMO E 
ESTRATÉGIAS LINGUÍSTICAS ................................................................................95
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................95
2 ALTERNÂNCIA DE LÍNGUAS .......................................................................................................96
2.1 ALTERNÂNCIA DE LÍNGUAS E BILINGUISMO ..................................................................101
RESUMO DO TÓPICO 2......................................................................................................................103
AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................105
TÓPICO 3 – O MITO DO MONOLINGUISMO .............................................................................107
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................107
2 O MITO DO MONOLINGUISMO NO BRASIL .........................................................................107
2.1 UM BREVE PANORAMA HISTÓRICO SOBRE O MITO DO MONOLINGUISMO ..........109
2.2 IDEOLOGIAS LINGUÍSTICAS MONOLÍNGUES E LÍNGUA COMO 
PRÁTICA SOCIAL .........................................................................................................................113
RESUMO DO TÓPICO 3......................................................................................................................117
AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................118
UNIDADE 3 – CONTRIBUIÇÕES DA SOCIOLINGUÍSTICA PARA A EDUCAÇÃO ..........119
TÓPICO 1 – O TRATAMENTO DAS VARIEDADES NO ENSINO DE 
LÍNGUA PORTUGUESA ..............................................................................................121
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................121
2 A GRAMÁTICA NAS AULAS DE LÍNGUA PORTUGUESA ...................................................121
3 A VARIAÇÃO LINGUÍSTICA NOS LIVROS DIDÁTICOS DE LÍNGUA PORTUGUESA ......125
LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................131
RESUMO DO TÓPICO 1......................................................................................................................135
AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................136
TÓPICO 2 – AS LÍNGUAS EM CONTATO E OS COMPORTAMENTOS 
E ATITUDES COM RELAÇÃO ÀS LÍNGUAS E SEUS FALANTES ....................139
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................139
2 CONSIDERAÇÕES SOBRE AS LÍNGUAS EM CONTATO ......................................................139
3 ESTUDANDO A VARIEDADE LINGUÍSTICA: SOCIOLETO, ETNOLETO, 
CRONOLETO E IDIOLETO .............................................................................................................144
4 COMPORTAMENTOS E ATITUDES SOBRE AS LÍNGUAS E SEUS FALANTES: 
PRECONCEITO LINGUÍSTICO .....................................................................................................148
RESUMO DO TÓPICO 2......................................................................................................................153
AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................155
TÓPICO 3 – POLÍTICA E PLANIFICAÇÃO LINGUÍSTICA .......................................................159
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................159
2 A GESTÃO DO PLURILINGUISMO .............................................................................................159
3 POLÍTICAS E PLANEJAMENTO LINGUÍSTICO .....................................................................163
LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................167
RESUMO DO TÓPICO 3......................................................................................................................172
AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................173
REFERÊNCIAS .......................................................................................................................................175
1
UNIDADE 1
INTRODUÇÃO AOS ESTUDOS 
SOCIOLINGUÍSTICOS E À 
SOCIOLINGUÍSTICA VARIACIONISTA
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
PLANO DE ESTUDOS
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:
• compreender o lugar da sociolinguística nos estudos científicos da 
linguagem humana;
• conhecer o surgimento da abordagem social sobre a linguagem e o 
nascimento da sociolinguística como disciplina da linguística;
• reconhecer a existência de aspectos sociais na língua;
• identificar a metalinguagem própria da sociolinguística a partir dos conceitos 
de comunidades de fala, variedade, variação, variável e variante linguísticas;• refletir sobre algumas variantes do português brasileiro.
Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer da unidade, você 
encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado.
TÓPICO 1 – INTRODUÇÃO À SOCIOLINGUÍSTICA
TÓPICO 2 – RELAÇÕES ENTRE LÍNGUA E SOCIEDADE 
TÓPICO 3 – ESTUDO SOCIOLINGUÍSTICO DO PORTUGUÊS BRASILEIRO
Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos 
em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá 
melhor as informações.
CHAMADA
2
3
TÓPICO 1
UNIDADE 1
INTRODUÇÃO À SOCIOLINGUÍSTICA
1 INTRODUÇÃO
A sociolinguística é tratada, de maneira geral, como o ramo da linguística 
que estuda a língua(gem) a partir de suas relações com a sociedade. Você verá, ao 
longo deste tópico, como ocorreu a constituição desse campo científico de estudos. 
Neste livro, muitas vezes, você se deparará com o termo língua como palavra 
equivalente à linguagem. Isto porque estamos entendendo a linguagem como uma forma de 
comunicação, seja de modo verbal ou não verbal. A língua, na presente disciplina, é estudada 
no seu contexto de comunicação verbal. Por isso, usamos língua(gem) como um recurso 
para identificar o estudo da língua socialmente situado.
NOTA
É importante que procure compreender, desde o início de suas leituras, que 
o tratamento dado à língua portuguesa durante a sua formação em Letras será 
científico, e não meramente normativo. O tratamento normativo dado à língua 
portuguesa, muitas vezes, tem sido pautado em uma compreensão de estrutura 
pronta e pré-estabelecida, o que Faraco (2008) chama de “norma curta” ao 
contrapor com a expressão “norma culta”. Esse jogo de palavras ocorre para criticar 
o ensino de língua que prescreve, normatiza regras do “bom” uso do português 
sob um olhar purista utilizado muito mais para justificar preconceitos que causam 
constrangimentos às pessoas do que para explicar o funcionamento da língua em 
si. O tratamento científico dado ao estudo da língua, por sua vez, está associado à 
busca pela compreensão e reflexão do processo pelo qual uma língua varia, muda e 
se constitui. Para tratar com cientificidade a língua, precisamos, portanto:
[...] abandonar a ideia de que a língua é uma estrutura pronta, acabada, 
que não é suscetível a variar e a mudar. É necessário entender que a 
realidade das pessoas que usam a língua – os falantes – tem uma 
influência muito grande na maneira como elas falam e na maneira 
como avaliam a língua que usam e, especialmente, a língua usada pelos 
outros. [...] (COELHO; GÖRSKI; NUNES DE SOUZA, 2015, p. 12). 
UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO AOS ESTUDOS SOCIOLINGUÍSTICOS E À SOCIOLINGUÍSTICA VARIACIONISTA
4
Talvez seja difícil pensar no estudo da língua como ciência, dada a nossa 
tradição escolar pautada exclusivamente nas gramáticas normativas, que tendem 
a realizar apagamentos acerca da reflexão sobre fenômenos da fala e da própria 
escrita. Nesse sentido, tendemos a simplificar, em contexto escolar, o processo 
de compreender fenômenos da linguagem ao apenas prescrevermos de forma 
subjetiva regras da gramática tradicional.
Para tratar da cientificidade linguística, inclusive no campo dos estudos 
sintáticos, Mioto, Silva e Lopes (2018) problematizam o fato de termos facilidade 
em reconhecer a física ou a química como ciências, enquanto apresentamos certa 
resistência para atribuir o mesmo reconhecimento à sociologia ou à própria 
linguística. Os autores procuram, então, contextualizar a linguística como ciência, 
comparando-a com esses outros campos:
[...] o físico – ou qualquer outro pesquisador – precisa de um objeto de estudo, 
isto é, uma coisa para estudar. Uma teoria se justifica na relação que tem 
com o objeto de estudo que ela aborda. Mas observe que “alguma coisa” 
é muito vago como objeto e é necessário que se faça aí uma delimitação 
muito mais precisa (MIOTO; SILVA; LOPES, 2018, p. 9, grifo no original).
O objeto de estudo do físico corresponde a certos fenômenos naturais, tais 
como aqueles relacionados a condições climáticas (raios, trovões etc.) ou aqueles 
relacionados à conservação de energia, erosão, só para citar alguns exemplos. A 
linguística, de modo semelhante, também apresenta o seu objeto de estudos: a 
linguagem. 
Como é bastante vasta a “quantidade de termos que o fenômeno 
linguagem abarca [...]”, se torna “necessário restringir drasticamente o seu objeto 
de estudo” (MIOTO; SILVA; LOPES, 2018, p. 10), categorizando-o por escolas 
de pensamento ou disciplinas. A sociolinguística é uma dessas disciplinas que 
trata da variação e mudança linguísticas, da estratificação social das línguas, dos 
contatos linguísticos, enfim, da relação língua e sociedade, conforme mencionado 
anteriormente. Ao longo do seu curso de graduação, além da sociolinguística, 
você deve ter contato com outras disciplinas da linguística, como a morfologia, a 
sintaxe, a filologia, a linguística aplicada etc.
 
Vamos começar nossos estudos situando o campo de conhecimento 
denominado sociolinguística para compreendermos sua importância na 
formação do profissional de Letras, nos avanços científicos acerca da linguagem 
e na prática pedagógica brasileira. Para que possamos situar a sociolinguística, 
precisamos recapitular, ainda que brevemente, alguns aspectos da própria 
constituição da linguística enquanto ciência autônoma, especialmente a partir das 
contribuições de Saussure para a formação do que viemos a chamar de linguística 
moderna, perpassando pela contraposição elaborada por Meillet à linguística 
saussuriana e chegando aos principais nomes da formação do campo de estudos 
sociolinguísticos nos Estados Unidos, como é o caso de William Labov. Pronto 
para iniciar seu percurso científico da sociolinguística?
TÓPICO 1 | INTRODUÇÃO À SOCIOLINGUÍSTICA
5
2 A LINGUÍSTICA COMO CIÊNCIA DA LINGUAGEM HUMANA
Como você já deve ter visto em outras disciplinas voltadas aos estudos 
linguísticos em seu curso de graduação, a linguística, constituída como ciência 
autônoma, foi pautada essencialmente a partir das contribuições de Ferdinand 
de Saussure ([1916] 2006) publicadas postumamente em 1916 em “Curso de 
Linguística Geral”. Charles Bally e Albert Sechehaye, com base em suas anotações 
e nas anotações de Albert Riedlinger, realizadas ao longo de cursos ministrados 
por Saussure na Universidade de Genebra, editaram e publicaram “Curso de 
Linguística Geral”, obra que se tornou um marco para a linguística moderna e 
para a abordagem estruturalista da linguagem.
Conforme apresentamos na introdução deste tópico, toda ciência precisa 
de um objeto de estudo, isto é, um tema central que versa sua preocupação e que 
servirá de ponto de partida para elaboração de pesquisas. Para a linguística não é 
diferente! Seu objeto de estudo é a linguagem humana. Contudo, para lidar com 
esse objeto de estudo (a linguagem), há diferentes escolas de pensamento, como a 
linguística estruturalista originada a partir de Saussure, e a própria sociolinguística, 
que se constitui como conteúdo desta disciplina que você está cursando agora.
Na área da sociolinguística, estudamos a linguagem a partir de uma 
abordagem social, o que é muito diferente do que se fazia no estruturalismo 
de Saussure, quando ocorreu a autonomia científica da linguística, o qual 
desconsiderava os falantes e sua história. A problemática que é aqui levantada 
pela sociolinguística se volta ao fato de que “as línguas não existem sem as 
pessoas que as falam, e a história de uma língua é a história de seus falantes” 
(CALVET, 2002, p. 12).
Você deve ter notado o uso dos verbos no pretérito acerca das ações da 
linguística estruturalista (como em “ocorreu a autonomia científica”; ou em “muito diferente 
do que se fazia na linguística estruturalista”). Isto se deve apenas ao fato de a autonomia da 
ciência em questão já ter se concretizado e ao fato de Saussure ter falecido (em 1913), o que 
implica o impedimento da continuidade de seus estudos de forma direta. Contudo, vale alertarque o estruturalismo ainda é uma abordagem importante na linguística e que continuou 
em aprimoramento científico mesmo com o surgimento de novas escolas de pensamento. 
Por entenderem que o estruturalismo não compreende a linguagem em sua completude, 
alguns linguistas passaram a adotar outras perspectivas de estudo, como a abordagem social 
da sociolinguística, a fim de responder a novas perguntas de pesquisa que surgiam sobre a 
linguagem com o passar dos anos. Para compreender melhor os estudos estruturais, que não 
se constituem como foco deste material didático, recomendamos a leitura do texto disponível 
on-line “Por que ainda ler Saussure?”, publicado no livro “Saussure: a invenção da linguística”: 
FIORIN, José Luiz; FLORES, Valdir do Nascimento e BARBISAN, Leci Borges (Orgs.). Saussure: a 
invenção da linguística. São Paulo: Contexto, 2013, 174 p. Disponível em:
<https://editoracontexto.com.br/downloads/dl/file/id/1523/saussure_a_invenc_o_da_
linguistica_apresentac_o.pdf>. Acesso em: 11 jan. 2018.
NOTA
UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO AOS ESTUDOS SOCIOLINGUÍSTICOS E À SOCIOLINGUÍSTICA VARIACIONISTA
6
FIGURA 1 – SAUSSURE: A INVENÇÃO DA LINGUÍSTICA
FONTE: <http://twixar.me/QcV1>. Acesso em: 15 maio 2019.
Quando você iniciou as disciplinas específicas do curso de Letras, viu que, 
dentro da linguística, o objeto de estudo adotado por Saussure ([1916] 2006) era a 
langue (língua) como estrutura homogênea, separada dos aspectos da parole (fala). 
Embora Saussure reconhecesse a língua como um fato social, seu objeto de estudo 
desconsiderava as relações entre a linguagem e a sociedade e estava definido na 
estrutura da língua, a partir das relações internas entre os elementos linguísticos. 
Conforme introduz Calvet (2002), sociolinguista francês, Saussure via a língua como 
a parte social da linguagem, isto é, como uma instituição social, mas desconsiderava 
fatores externos a ela (classe social do falante, escolaridade, região onde vive...) e a 
estudava apenas de forma interna, como um sistema fechado em si mesmo.
O estruturalismo na linguística foi construído, portanto, sobre a 
recusa em levar em consideração o que existe de social na língua, 
e se as teorias e as descrições derivadas desses princípios são 
evidentemente uma contribuição importante ao estudo geral das 
línguas, a sociolinguística [...] teve de tomar o sentido inverso dessas 
posições (CALVET, 2002, p. 12, grifos nossos).
Foi especialmente pela concepção de língua como um sistema fechado em 
si mesmo que linguistas começaram a se opor ao estruturalismo, impulsionando 
o surgimento, anos mais tarde, da sociolinguística como uma nova escola de 
pensamento sobre a linguagem.
Você verá, a partir do Tópico 2 desta unidade, que a sociolinguística é um campo 
científico responsável pelo estudo da língua levando em consideração tanto fatores externos 
a ela quanto internos. Isto quer dizer que, diferentemente do que Saussure fazia ao estudar o 
sistema da língua fechado em si mesmo, a sociolinguística procura compreender esse sistema 
a partir de fatores externos a ele, como a influência da vida social dos falantes na língua.
NOTA
TÓPICO 1 | INTRODUÇÃO À SOCIOLINGUÍSTICA
7
A partir da década de 1960, iniciou de forma mais significativa a complexa 
tarefa de problematizar as lacunas acerca da compreensão estruturalista da 
linguagem, dando margem à discussão sobre a diversidade linguística sob um 
viés social. Na corrente estruturalista, “insistia-se na organização dos fonemas 
de uma língua, em sua sintaxe”, enquanto que a sociolinguística passa a olhar 
para a língua em sua heterogeneidade, preocupando-se com a estratificação 
social das línguas e com a variação linguística, estudada, especialmente, a partir 
das classes sociais (CALVET, 2002, p. 12).
Você entende o que significa a estratificação social das línguas? Ao longo de 
suas aulas de sociologia, na educação básica, você já deve ter se deparado com a expressão 
“estratificação social”. Seu conceito implica considerar que podemos classificar as pessoas 
em grupos tomando como base suas condições socioeconômicas. Nesse contexto, Labov 
([1972] 2008), linguista estadunidense considerado um dos fundadores da sociolinguística, 
advoga que a língua só pode ser realizada e, por conseguinte, estudada, nesses grupos sociais 
de pessoas. A língua, pois, não existe fora da sociedade. Logo, através da língua, podemos 
observar o desenho da sociedade, de forma sempre fluida, nunca fixa.
IMPORTANT
E
Além da crítica levantada ao estruturalismo de Saussure, a sociolinguística, 
na mesma década (1960), passa também a criticar fortemente o gerativismo 
de Chomsky, cuja principal contribuição teórica reside nos estudos sobre 
gramaticalidade e agramaticalidade, sobre a linguagem como uma universalidade 
das regras de natureza inata humana (CALVET, 2002). Os sociolinguistas se 
opõem a determinadas perspectivas desses dois modelos teóricos (estruturalismo 
e gerativismo), especialmente por conta da separação que tais modelos fazem 
entre o estudo linguístico e as questões sociais dos falantes. No entanto, o que nos 
interessa, mais do que debater sobre as controvérsias das diferentes escolas de 
pensamento da linguística, é compreender o que significa estudar sociolinguística 
e qual a sua contribuição para a atuação do profissional de Letras em contexto 
escolar (o que veremos a partir dos próximos tópicos). 
3 O SURGIMENTO DE UMA ABORDAGEM SOCIAL SOBRE A 
LINGUAGEM HUMANA
Conforme apresenta Calvet (2002) em sua obra “Sociolinguística: uma 
introdução crítica”, as primeiras contribuições para o surgimento de um pensamento 
social sobre a linguagem datam logo após a publicação de o “Curso de Linguística 
Geral”, o que contribuiu para o desenvolvimento das duas correntes de modo 
independente: o estruturalismo e a sociolinguística.
UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO AOS ESTUDOS SOCIOLINGUÍSTICOS E À SOCIOLINGUÍSTICA VARIACIONISTA
8
O linguista francês Antoine Meillet (1866 – 1936), tido como um dos mais 
brilhantes alunos de Saussure (MARRA; MILANI, 2012), é considerado precursor 
nesse pensamento social sobre a linguagem. “Entre os anos de 1905 e 1906, 
pouco tempo antes de Saussure iniciar o Curso em Genebra, Meillet, enquanto 
contribuía com o jornal de Durkheim, definiu linguagem como um fato social 
[...]” (MARRA; MILANI, 2012, p. 69).
 
Embora Meillet e Saussure utilizem a definição de língua como um fato 
social, distanciam-se na forma como explicam esse fato. Na resenha que faz do 
livro “Curso de Linguística Geral”, Meillet já levantava uma importante crítica, 
afirmando que: “[...] ao separar a variação linguística das condições externas 
de que ela depende, Ferdinand de Saussure a priva de realidade; ele a reduz a 
uma abstração que é necessariamente inexplicável” (MEILLET, 1906 [1921] apud 
CALVET, 2002, p. 14, grifos nossos).
O que seriam as condições externas mencionadas por Meillet? Essas 
condições são aquelas vinculadas a fatores sociais, que dependem de seus falantes 
para serem realizadas na língua. São exemplos de condições externas à língua: a 
classe social do falante, o grupo social ao qual pertence, a situação comunicativa, 
dentre outros aspectos. O que Saussure fazia era exclusivamente analisar fatores 
internos da língua, como sua sintaxe e fonologia, excluindo as influências sociais 
que levam a mudanças nos fatores internos. 
Vamos a um exemplo para compreender o que são as condições externas 
e internas da língua no contexto brasileiro? Quando observamos a palavra 
“Pernambuco” falada em diferentes regiões do país, podemos perceber que será 
dita de formas diversas, a depender do falante. Ela pode ser pronunciada como 
PÉrnambucU, PÊrnambucU, PÊrnambucO, dentre outras possibilidades. Para 
estudar essas diferentes realizações da palavra Pernambuco, precisamos levar em 
consideração os fatores internos da língua, como a posição das vogais na sílaba e 
na palavra, sua tonicidade, bem como os fatores sociais, como a região do falante, 
o que se caracterizacomo um condicionador externo à língua.
 
Em outros exemplos, como “Você estuda na UNIASSELVI” e “Vós sois o 
Caminho, a Verdade e a Vida”, temos a variação dos usos dos pronomes “você” e 
“vós”, cujo significado coincide na língua portuguesa, mas pertencem a contextos 
sociais distintos (rua/trabalho/família versus religioso). Além do contexto, 
também podemos considerar a própria história do pronome “você” como um 
condicionador externo a essa realização, hoje utilizado como pronome pessoal 
por falantes do português brasileiro, mas ainda classificado como pronome de 
tratamento na gramática normativa. 
TÓPICO 1 | INTRODUÇÃO À SOCIOLINGUÍSTICA
9
A sentença “Vós sois o caminho” é uma construção frequentemente utilizada no 
meio religioso. Esse fragmento faz parte da música com o mesmo título da composição do Padre 
Vigne. Disponível em: <https://www.letras.mus.br/catolicas/1933500/>. Acesso em: 17 jan. 2019.
NOTA
Ficou mais fácil de compreender por que existe uma defesa para estudar 
a linguagem levando em consideração os seus fatores internos e externos? Mais 
adiante, ao longo da Unidade 2, retomaremos esses fatores para que possamos 
iniciar nossas próprias análises sociolinguísticas.
Neste ponto de seus estudos sociolinguísticos, você já está se deparando com o 
termo variação linguística, que será aprofundado mais adiante no nosso material. Mas o que 
seria a variação linguística? Marcos Bagno (2007), autor de diversos livros de sociolinguística 
brasileira, explica a variação linguística a partir do conceito de heterogeneidade da língua. Em 
outras palavras, dizer que a língua varia implica admitir que existe um conjunto de realizações 
possíveis de uma língua, como a portuguesa. Anteriormente, vimos exemplos de variação 
linguística na palavra Pernambuco (que pode apresentar diferentes pronúncias, a depender da 
região do falante), bem como a escolha entre os pronomes vós e você (que depende de que 
século está situado o falante, ou de que contexto está falando, como o religioso ou familiar). 
Há vários outros exemplos de variação linguística que poderiam ser aqui explicitados, mas 
preferimos apresentá-los ao longo do nosso Livro de Estudos para explorá-los aos poucos.
IMPORTANT
E
Além de defender a necessidade de abordagem interna e externa da língua, 
Meillet também procurou estudar a linguagem tanto pelo tratamento sincrônico 
quanto diacrônico, distanciando-se mais uma vez de Saussure, que estudou a língua 
exclusivamente pela sincronia. Lembra-se da diferença entre sincronia e diacronia? 
Trata-se do estudo das características da língua durante um o recorte de período do 
tempo (sincronia) e o estudo da língua através do tempo (diacronia).
A linguística diacrônica, que é também chamada linguística histórica, 
analisa a linguagem e suas mutações durante um determinado 
período. Neste caso, explicita-se o período a ser considerado e o 
material linguístico a ser adotado na análise. A linguística sincrônica 
investiga as propriedades linguísticas de uma determinada língua em 
seu estágio evolutivo atual (SILVA, 2001, p. 16, grifos nossos).
UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO AOS ESTUDOS SOCIOLINGUÍSTICOS E À SOCIOLINGUÍSTICA VARIACIONISTA
10
DICAS
A sincronia e a diacronia são conceitos introduzidos à linguística especialmente 
a partir de Saussure. Para entender melhor estes e outros conceitos saussurianos, 
recomendamos que assista aos vídeos que compõem o Kit Pedagógico de Linguística 
Aplicada à Língua Portuguesa.
Além disso, há o vídeo “Bate-papo sobre: Saussure, cem anos de herança e recepções”, que 
apresenta uma entrevista realizada com Carlos Alberto Faraco e Marcio Alexandre Cruz. 
Vídeo disponível no canal de Youtube da Editora Parábola: https://www.youtube.com/
watch?v=Tj9gFyrLy-g.
Em suma, as principais oposições que Meillet levanta aos postulados 
estruturalistas de Saussure se colocam no foco exclusivo dado à abordagem 
interna, sincrônica e abstrata da língua. No quadro a seguir, você poderá conferir 
as principais contraposições que Meillet levantou à linguística saussuriana:
QUADRO 1 – OPOSIÇÕES SOBRE A ABORDAGEM DA LÍNGUA DE MEILLET A SAUSSURE
SAUSSURE MEILLET
ABORDAGEM 
INTERNA E 
EXTERNA
Opõe linguística interna e linguística 
externa (focando na interna); desenvolve 
uma linguística terminológica para 
embasar teoricamente essa ciência.
Associa l inguística interna e 
linguística externa; desenvolve uma 
linguística programática ao levar em 
conta o caráter social da língua. 
ABORDAGEM 
DA SINCRONIA 
E DIACRONIA
Distingue abordagem sincrônica de 
abordagem diacrônica (focando na 
sincrônica); distancia estrutura de 
história.
Une a abordagem sincrônica à 
diacrônica; busca explicar a estrutura 
da língua pela história.
LÍNGUA: 
ABSTRATA OU 
SOCIAL
Busca elaborar um modelo abstrato 
da língua, separando-a da fala e 
estudando exclusivamente sua forma.
Ao procurar explicar a estrutura 
da língua pela história, se vê em 
conflito entre o fato social e o sistema 
linguístico.
LÍNGUA COMO 
INSTITUIÇÃO 
SOCIAL
É somente em dada comunidade que 
a língua é social, pois não analisa as 
marcas sociais que o falante produz 
na língua. A instituição social é um 
princípio apenas geral, pois restringe-
se a uma linguística formal, à língua 
“em si mesma e por si mesma” 
(CALVET, 2002, p. 16).
O princípio de língua como um fato 
social é central. A “linguística é uma 
ciência social, e o único elemento 
variável ao qual se pode recorrer 
para dar conta da variação linguística 
é a mudança social” (MEILLET, 1965, 
p. 17 apud CALVET, 2002, p. 16).
FONTE: Adaptado de Calvet (2002)
A partir dos itens listados no Quadro 1, podemos entender que 
a apresentação da língua como fato social por Meillet é profundamente 
antisaussuriana. É neste tema central a Meillet que nasce uma oposição ao 
estruturalismo ao mesmo tempo que nasce a linguística moderna (CALVET, 2002). 
TÓPICO 1 | INTRODUÇÃO À SOCIOLINGUÍSTICA
11
Essa oposição permitiu a constituição, anos mais tarde, de uma nova disciplina 
na linguística (a sociolinguística), que, ao insistir nas funções sociais da língua, 
funda-se contraditória ao enfoque exclusivo dado à sua forma.
Vale considerarmos, contudo, que a sociolinguística moderna 
essencialmente se materializará nas pesquisas publicadas em língua inglesa. 
Dentre esses pesquisadores, podemos destacar Basil Bernstein (foi o primeiro 
a levar em consideração as produções linguísticas reais e a situação sociológica 
dos falantes de forma concomitante); William Bright (destacou-se pelo estudo 
dos fatores que condicionam a diversidade linguística, pelo estudo dos usos 
linguísticos e das crenças a respeito desses usos, das diferenças multidialetal, 
multilingual ou multissocietal); William Labov (constitui a sociolinguística 
variacionista ao pesquisar a fala dos negros americanos) (CALVET, 2002).
4 SOCIOLINGUÍSTICA: A CONSTITUIÇÃO DE UMA NOVA 
ESCOLA DE PENSAMENTO NA LINGUÍSTICA
A constituição da sociolinguística como uma nova escola de pensamento 
na linguística se dá diante do contexto apresentado desde a oposição de Meillet 
a Saussure até as publicações em língua inglesa, dentre as quais Labov, que se 
inspirou em Meillet, tem recebido grande destaque no campo variacionista. 
Embora Meillet represente um avanço para a linguística com relação 
à sua percepção de língua, estava longe de responder a exigências teóricas 
sociolinguísticas. A crítica aos estudos linguísticos no período de Meillet e Saussure 
se constitui, segundo Calvet (2002, p. 142), “na defesa, de um lado, de uma linguística 
que estude inicialmente “a língua em si mesma” e, de outro, de uma linguística que 
vá até o fim das implicações da definição da língua como fato social”.
De acordo com Calvet (2002), Meillet não soube perceber esse desafio 
nos estudos linguísticos, o qual sinalizava para a necessidade de “explicar todos 
os fatos das línguas (tanto sincrônicos como diacrônicos) em relação constante 
com a sociedade da qual essas línguas são o meio de expressão. Explicare 
não meramente descrever” (CALVET, 2002, p. 144, grifo no original). Para que 
possamos compreender essa realidade linguística, o porquê da variação e 
mudança linguística, das atitudes e ações sobre as línguas, precisamos encarar 
uma perspectiva social na linguística.
Nesse contexto, a literatura específica tende a afirmar que o termo 
sociolinguística alavancou a partir de um seminário organizado em 1964 na América 
do Norte. Essa sociolinguística, denominada norte-americana, tem como ponto 
de partida a linguística antropológica e se alinha intelectual e metodologicamente 
ao lado social da pesquisa (FISHMAN, 1991).
UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO AOS ESTUDOS SOCIOLINGUÍSTICOS E À SOCIOLINGUÍSTICA VARIACIONISTA
12
De 11 a 13 de maio de 1964, por iniciativa de William Bright, 25 
pesquisadores se reuniram em Los Angeles para uma conferência sobre 
a sociolinguística. 8 eram da UCLA, a universidade que organizava a 
conferência, 15 outros eram americanos e só 2 participantes vinham 
de outro país (a Iugoslávia), mas estavam temporariamente na UCLA. 
3 dentre eles apresentaram comunicações: Henry Hoenigswald, 
John Gumperz, Einer Haugen, Raven MacDavid Jr., William Labov, 
Dell Hymes, John Fisher, William Samarin, Paul Friederich, Andrée 
Sjoberg, José Pedro Rona, Gerald Kelley e Charles Ferguson. Os 
temas abordados eram variados: a etnologia da variação linguística 
(Gumperz), o planejamento linguístico (Haugen), a hipercorreção 
como fator de variação (Labov), as línguas veiculares (Samarin, Kelley), 
o desenvolvimento de sistemas de escrita (Sjoberg), a equação de 
situações sociolinguísticas dos Estados (Ferguson)... e os referenciais 
teóricos não eram menos variados (CALVET, 2002, p. 28-29).
Esses pesquisadores constituem um grupo de linguistas contemporâneos 
que rejeitam a abordagem associal dos estudos estruturalistas e também 
gerativistas. Dentre eles, como você pode notar, está o linguista William Labov, 
que foi impulsionador na sociolinguística variacionista, conforme já apontamos. 
Labov inovou os estudos sobre as línguas ao abordar fenômenos da variação 
e da mudança linguísticas. O livro Padrões Sociolinguísticos (LABOV, [1972] 2008) é bastante 
representativo quanto às metodologias de pesquisa na sociolinguística variacionista.
IMPORTANT
E
FIGURA 2 – PADRÕES SOCIOLINGUÍSTICOS
FONTE: <http://twixar.me/9MV1>. Acesso em: 15 maio 2019.
TÓPICO 1 | INTRODUÇÃO À SOCIOLINGUÍSTICA
13
O livro Padrões sociolinguísticos traz contribuições significativas para a 
teoria e metodologia na sociolinguística, especialmente ao entender que, nos 
estudos linguísticos, não devemos lidar com uma língua idealizada, mas com 
a língua representada na fala cotidiana. Isso permitiria à ciência explicar os 
fenômenos linguísticos por meio das teorias gramaticais, de modo que a teoria 
pudesse explicar os dados em análise (LABOV, [1972], 2008). O que acontecia 
na linguística estruturalista e gerativista, segundo Labov ([1972], 2008), era a 
produção de dados de análise e de teorias de forma conjunta, a fim de que esses 
dados se ajustassem à teoria gramatical.
Diante desse contexto, que parte de fatores sociais e linguísticos, estrutura-
se a proposta da teoria laboviana da variação e mudança linguísticas. Dentro dessa 
teoria, preocupamo-nos em estudar as variações linguísticas, suas estruturas e 
mudança/evolução no contexto social de dada comunidade de fala. Para isso, 
a sociolinguística dialoga com a linguística geral, a fim de explicar fenômenos 
morfológicos, sintáticos, semânticos e fonéticos acerca da variação linguística.
Você já deve ter notado, aqui, que para tratar da variação e mudança 
linguística, foi necessário romper com as dicotomias saussurianas para estudar 
a língua tanto pela sincronia quanto pela diacronia e unir os fatores externos 
aos internos da língua. No próximo tópico, veremos mais detalhadamente as 
relações entre língua e sociedade estudadas pela sociolinguística. Mas, antes de 
prosseguirmos, vejamos também, de forma sucinta, uma leitura complementar 
que poderá contribuir para sua compreensão sobre a sociolinguística, além de 
tópicos pontuais do que estudamos até o momento. Por fim, convidamos você a 
colocar em prática os conhecimentos construídos por meio de algumas atividades.
UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO AOS ESTUDOS SOCIOLINGUÍSTICOS E À SOCIOLINGUÍSTICA VARIACIONISTA
14
Na leitura complementar que apresentamos a você, acadêmico do curso 
de Letras, recortamos um trecho do capítulo “Sociolinguística”, escrito por Tânia 
Maria Alkmin, da coletânea “Introdução à linguística: domínios e fronteiras”. O texto 
a seguir pretende tornar acessível para leitores iniciantes as relevantes abordagens 
sobre o fenômeno linguístico como fenômeno sociocultural, fundamentalmente 
heterogêneo e em constante processo de mudança.
A partir da sua entrada nesse “terreno” dos estudos linguísticos, é 
importante que você adquira certa familiaridade com as questões mais gerais 
que se dedica a sociolinguística. A presente leitura complementar deve auxiliar a 
esclarecer seu entendimento sobre orientações teóricas que postulam o princípio 
da diversidade linguística, observando a relação entre linguagem e sociedade.
1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS
[...]
A relação entre linguagem e sociedade, reconhecida, mas nem sempre 
assumida como determinante, encontra-se diretamente ligada à questão da 
determinação do objeto de estudo da Linguística. Isto é, embora admita-se que a 
relação linguagem-sociedade seja evidente por si só, é possível privilegiar uma 
determinada óptica, e esta decisão repercute na visão que se tem do fenômeno 
linguístico, de sua natureza e caracterização. Nesse sentido, a Linguística do século 
XX teve um papel decisivo na questão da consideração da relação linguagem-
sociedade: é esta que se encarrega de excluir toda consideração de natureza social, 
histórica e cultural na observação, descrição, análise, e interpretação do fenômeno 
linguístico. Referimo-nos, aqui, à constituição da tradição estruturalista, iniciada 
por Saussure em seu Curso de Linguística Geral, em 1916. É Saussure quem define 
a língua, por oposição à fala, como o objeto central da Linguística. Na visão do 
autor, a língua é o sistema subjacente à atividade da fala, mais concretamente, é o 
sistema invariante que pode ser abstraído das múltiplas variações observáveis da 
fala. Da fala, se ocupará a Estilística, ou, mais amplamente, a Linguística Externa. 
A Linguística, propriamente dita, terá como tarefa descrever o sistema formal, a 
língua. Inaugura-se, assim, a chamada abordagem imanente da língua que, em 
termos saussurianos, significa “afastar tudo o que lhe seja estranho ao organismo, 
ao sistema” (SAUSSURE, 1981, p. 17) [...].
Saussure institucionaliza a distinção entre a Linguística Interna oposta a 
uma Linguística Externa. É essa dicotomia que dividirá, de maneira permanente, 
o campo dos estudos linguísticos contemporâneos, em que orientações formais 
se opõem a orientações contextuais, sendo que estas últimas se encontram 
fragmentadas sob o rótulo das muitas interdisciplinas: Sociolinguística, 
Etnolinguística, Psicolinguística etc.
A tradição de relacionar linguagem e sociedade, ou, mais precisamente, 
língua, cultura e sociedade, está inscrita na reflexão de vários autores do século 
XX. Integrados ou não à grande corrente estruturalista, que ocupou o centro da 
LEITURA COMPLEMENTAR
TÓPICO 1 | INTRODUÇÃO À SOCIOLINGUÍSTICA
15
cena teórica, particularmente, a partir dos anos 1930, encontramos linguistas 
cujas obras são referências obrigatórias, quando se trata a questão de pensar do 
social no campo dos estudos linguísticos. Não caberia, aqui, enumerar todos 
esses estudiosos, mas uma breve referência a alguns nomes, ligados ao contexto 
europeu, impõe-se: Antoine Meillet, Mikhail Bakhtin, Marcel Cohen, Émile 
Benveniste e Roman Jakobson. [...]
O esboço feito até aqui pode ser reduzido a uma afirmação muito simples: 
a questão da relação é óbvia e complexa ao mesmo tempo.Sabemos que é inegável, 
mas também, que a passagem do social ao linguístico – e do Linguístico ao social 
– não é feita com tranquilidade. Não há consenso sobre o modo de tratar e de 
explicar a questão da relação entre linguagem e sociedade: o fato é que o lugar 
reservado a essa consideração constitui um dos grandes “divisores de águas” no 
campo da reflexão da Linguística contemporânea.
2 A SOCIOLINGUÍSTICA: FIXAÇÃO DE UM CAMPO DE ESTUDOS
O termo Sociolinguística, relativo a uma área da Linguística, fixou-se em 
1964. Mais precisamente surgiu em um congresso, organizado por William Bright, 
na Universidade da Califórnia em Los Angeles (UCLA), do qual participaram 
vários estudiosos, que se constituíram, posteriormente, em referências clássicas 
na tradição dos estudos voltados para a questão da relação entre linguagem 
e sociedade: John Gumperz, Einar Haugen, William Labov, Dell Hymes, 
John Fischer, José Pedro Rona. Ao organizar e publicar, em 1996, os trabalhos 
apresentados ao referido congresso sob o título Sociolinguistics, Bright escreve o 
texto introdutório As dimensões da Sociolinguística, em que define e caracteriza 
a nova área de estudo. A proposta de Bright para a sociolinguística é a de que 
ela deve demonstrar a covariação sistemática das variações linguística e social. 
Ou seja, relacionar as variações linguísticas observáveis em uma comunidade às 
diferenciações existentes na estrutura social desta mesma sociedade. Segundo o 
referido autor, o objeto de estudo da Sociolinguística é a diversidade linguística. 
E, como que estabelecendo um roteiro para atividades de pesquisa a serem 
desenvolvidas na área da Sociolinguística, Bright, na mesma obra, identifica 
um conjunto de fatores socialmente definidos, com os quais se supõe que a 
diversidade linguística esteja relacionada como:
a) identidade social do emissor ou falante – relevante, por exemplo no estudo dos 
dialetos de classes sociais e das diferenças entre falas femininas e masculinas;
b) identidade social do receptor ou ouvinte – relevante, por exemplo, no estudo 
das formas de tratamento, da baby talk (fala utilizada por adultos para se 
dirigirem aos bebês);
c) o contexto social – relevante, por exemplo, no estudo das diferenças entre a 
forma e a função dos estilos formal e informal, existentes na grande maioria 
das línguas;
d) o julgamento social distinto que os falantes fazem do próprio comportamento 
linguístico e sobre o dos outros, isto é, as atitudes linguísticas. [...]
UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO AOS ESTUDOS SOCIOLINGUÍSTICOS E À SOCIOLINGUÍSTICA VARIACIONISTA
16
Os referidos autores observam, também, que a Sociolinguística se constitui 
e floresce no momento em que o formalismo, representado pela gramática de 
Chomsky, alcança enorme repercussão, em rota para o seu percurso vitorioso. 
Vemos assim, que, de um lado, a preocupação com as relações entre linguagem 
e sociedade tinha raízes históricas no contexto acadêmico norte-americano, 
e também que a oposição entre uma abordagem imanente da língua versus a 
consideração do contexto social é posta com grande vitalidade no campo dos 
estudos linguísticos. De fato, a constituição da Sociolinguística se fez, claramente, a 
partir da atividade de vários estudiosos e pesquisadores que deram continuidade 
à tradição, inaugurada no começo do século XX por F. Boas (1911) e seus discípulos 
mais conhecidos – Edward Sapir (1921) e Benjamin L. Whorf (1941): a chamada 
Antropologia Linguística. Nessa vertente, em que linguagem, cultura e sociedade 
são considerados fenômenos inseparáveis, linguistas e antropólogos trabalham 
lado a lado e, mesmo, de modo integrado. Nesse sentido, o que há de novo é a 
definição de uma área explicitamente voltada para o tratamento do fenômeno 
linguístico no contexto social no interior da Linguística, animada pela atuação 
de linguistas e, particularmente, de estudiosos formados em campos das ciências 
sociais. A Sociolinguística nasce marcada por uma origem interdisciplinar. É 
oportuno assinalar que o estabelecimento da Sociolinguística, em 1964, é percebido 
pela atuação de vários pesquisadores, que buscavam articular a linguagem com 
aspectos de ordem social e cultural.
Em 1963, Labov publica seu célebre trabalho sobre a comunidade da ilha 
de Martha’s Vineyard, no litoral de Massachusetts, em que sublinha o papel 
decisivo dos fatores sociais na explicação da variação linguística, isto é, da 
diversidade linguística observada. Nesse texto, o autor relaciona fatores como 
idade, sexo, ocupação, origem étnica e atitude ao comportamento linguístico manifesto 
dos vineyardenses, mais concretamente, à pronúncia de determinados fones do 
inglês. Logo, em 1964, Labov finaliza sua pesquisa sobre a estratificação social 
do inglês em New York, em que fixa um modelo de descrição e interpretação do 
fenômeno linguístico no contexto social de comunidades urbanas – conhecido 
como Sociolinguística Variacionista ou Teoria da Variação, de grande impacto na 
linguística contemporânea. [...]
Assim, o rótulo “Sociolinguística”, como foi possível observar, reuniu 
e agregou, no seu início, pesquisadores marcados pela formação acadêmica 
em diferentes campos do saber e marcados também pela preocupação com as 
implicações teóricas e práticas do fenômeno linguístico na sociedade norte-
americana. Surgem, assim, pesquisas voltadas paras as minorias linguísticas 
(imigrantes porto-riquenhos, poloneses, italianos etc.), e para a questão do 
insucesso escolar de crianças oriundas de grupos sociais desfavorecidos (negros e 
imigrantes, particularmente). Em suma, a realidade diversificada, tanto linguística 
como cultural dos Estados Unidos, torna-se um ponto de reflexão básico para um 
contingente significativo de estudiosos. A propósito, vale lembrar que, também em 
1964, houve um congresso em Bloomington, Indiana, em que linguistas e cientistas 
sociais debateram questões relativas às relações interdisciplinares, ao campo da 
dialetologia social, à escolarização de crianças provenientes de meio social pobre e de 
TÓPICO 1 | INTRODUÇÃO À SOCIOLINGUÍSTICA
17
origem estrangeira. Três obras referenciais foram organizadas a partir dos trabalhos 
apresentados nesse congresso: Ferguson (1965) Directions in Sociolinguistics: reporto 
on a interdisciplinar seminar, Lierberson (1966) (ed.) Explorations in Sociolinguistics, e 
Schuy (1964) (ed.) Social dialects and language learning.
3 A SOCIOLINGUÍSTICA: OBJETO, CONCEITOS, PRESSUPOSTOS
Pondo de maneira simples e direta, podemos dizer que o objeto da 
Sociolinguística é o estudo da língua falada, observada, descrita e analisada em seu 
contexto social, isto é, em situações reais de uso. Seu ponto de partida é a comunidade 
linguística, um conjunto de pessoas que interagem verbalmente e que compartilham 
um conjunto de normas com respeito aos usos linguísticos. Em outras palavras, 
uma comunidade de fala se caracteriza não pelo fato de se constituir por pessoas 
que falam do mesmo modo, mas por indivíduos que se relacionam, por meio de 
redes comunicativas diversas, e que orientam seu comportamento verbal por um 
mesmo conjunto de regras. Tomemos, como exemplo, o uso do modo imperativo 
em português. Para os falantes do português, o imperativo denota ordem, exortação, 
conselho, solicitação, segundo o significado do verbo e o tom de voz utilizado, 
como em: “Vai-te embora”; “Ouve este conselho!”; “Vem cá”; “Desce daí”. [...]
A depender do alcance e dos objetos de um trabalho de natureza 
Sociolinguística, podemos selecionar e descrever comunidades de fala como a 
cidade de New York e a cidade do Rio de Janeiro, de São Paulo, de Belém. Ou 
o povo ianomâmi, que vive no Estado do Amapá. Ou, ainda, as comunidades 
dos pescadores do litoral do Estado do Rio de Janeiro, da ilha de Marajó, dos 
estudantes de Direito, dos rappers etc.
Ao estudar qualquer comunidade linguística, a constatação mais imediata 
é a existência de diversidade ou da variação. Isto é, toda comunidade se caracteriza 
pelo emprego de diferentesmodos de falar. A essas diferentes maneiras de falar, a 
Sociolinguística reserva o nome de variedades linguísticas. O conjunto de variedades 
linguísticas utilizado por uma comunidade é chamado repertório verbal. Assim é que, 
a propósito da cidade de Bruxelas, na Bélgica – país caracterizado pelo bilinguismo 
francês-flamengo (variedade do holandês) – Fishman aponta:
Os funcionários administrativos do Governo, em Bruxelas, que são de 
origem flamenga, nem sempre falam holandês entre si, mesmo quando 
todos sabem holandês muito bem e igualmente bem. Não só há ocasiões 
em que falam francês entre si, em vez de holandês, como também há 
algumas ocasiões em que falam entre si o holandês standard enquanto 
em outras usam esta ou aquela variedade regional do holandês. De 
fato, alguns da mesma forma usam diferentes variedades de francês: 
uma variedade particularmente carregada de termos administrativos 
oficiais, outra correspondendo ao francês não técnico falado nos 
círculos de educação superior e refinados da Bélgica, e, ainda 
outra, que não é apenas um “francês mais coloquial”, mas o francês 
coloquial dos que são flamengos. Em suma, essas diversas variedades 
de holandês e de francês constituem o repertório linguístico de certos 
complexos sociais flamengos em Bruxelas (FISHMAN, 1974, p. 28).
UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO AOS ESTUDOS SOCIOLINGUÍSTICOS E À SOCIOLINGUÍSTICA VARIACIONISTA
18
Caso consideremos uma comunidade como a de Salvador, observaremos 
que o seu repertório linguístico se constitui de variedades linguísticas distintas, 
dado que os habitantes da cidade falam de modo diferente em função, por 
exemplo, de sua origem regional, de sua classe social, de suas ocupações, de sua 
escolaridade e também da situação em que se encontram. Assim é que um falante 
que pronuncia a palavra “doido” como [‘doijd3u] revela sua proveniência da 
região interiorana, assim como a pronúncia da palavra “cozinha” como [kú’zîǝ] 
indica, além da origem social, a sua pouca escolaridade. Um mesmo habitante 
de Salvador, segundo a situação em que se encontrar, poderá optar entre usar 
as expressões “Fiquei retado” ou “Fiquei aborrecido”, assim como entre “João 
convidou ele” ou “João o convidou”.
Qualquer língua, falada por qualquer comunidade, exibe sempre variações. 
Pode-se afirmar mesmo que nenhuma língua se apresenta como uma entidade 
homogênea. Isso significa dizer que qualquer língua é representada por um 
conjunto de variedades. Concretamente: o que chamamos de “língua portuguesa” 
engloba os diferentes modos de falar utilizados pelo conjunto de seus falantes do 
Brasil, em Portugal, em Angola, Moçambique, Cabo Verde, Timor etc.
Língua e variação são inseparáveis: a Sociolinguística encara a diversidade 
linguística não como um problema, mas como uma qualidade constitutiva do 
fenômeno linguístico. Nesse sentido, qualquer tentativa de buscar apreender 
apenas o invariável, o sistema subjacente – se valer de oposições como “língua 
e fala”, ou competência e performance – significa uma redução na compreensão do 
fenômeno linguístico. O aspecto formal e estruturado do fenômeno linguístico é 
apenas parte do fenômeno total.
FONTE: ALKMIN, Tânia Maria. Sociolinguística: parte 1. In: MUSSALIM, Fernanda; BENTES, Anna 
C. (Orgs.). Introdução à linguística: domínios e fronteiras. V. 1. São Paulo: Cortez, 2001, p. 21-47.
19
Neste tópico, você aprendeu que:
• A sociolinguística tem sido classificada como uma das áreas de conhecimento 
da própria linguística, ciência relativamente recente que é responsável pelo 
estudo da linguagem humana.
• As primeiras contribuições para o surgimento de um pensamento social sobre 
a linguagem datam logo após a publicação do “Curso de Linguística Geral”, o 
que contribuiu para o desenvolvimento das duas correntes – o estruturalismo 
e a sociolinguística – de modo independente.
• Saussure (corrente estruturalista) analisava exclusivamente os fatores internos 
da língua, como sua sintaxe e fonologia, excluindo as influências sociais que 
levam a variações e mudanças nos fatores internos da língua.
• Como disciplina da linguística, a sociolinguística surge em oposição às concepções 
sistêmicas e formalistas dadas à língua em correntes como a do estruturalismo de 
Saussure e do gerativismo de Chomsky. Meillet foi um dos primeiros linguistas 
a se contrapor à corrente estruturalista, embora tenham sido os estudiosos 
estadunidenses, apenas na década de 1960, que receberam maior destaque para 
formulação da nova escola de pensamento denominada sociolinguística.
• As condições externas à língua são aquelas vinculadas a fatores sociais, que 
dependem de seus falantes para serem realizadas. São exemplos de condições 
externas à língua a classe social do falante, o grupo social ao qual pertence, a 
situação comunicativa, dentre outros aspectos. 
• As principais diferenças entre os estudos de Meillet e de Saussure estão na 
abordagem interna e externa da língua, na abordagem sincrônica e diacrônica, 
no tratamento social dado à língua e não abstrato, ao tratamento heterogêneo 
e não homogêneo à língua como fato social.
• A sociolinguística alavancou com a sociolinguística norte-americana, a partir de 
um seminário organizado em 1964. Dentre os principais nomes da sociolinguística 
como uma nova escola de pensamento está William Labov (constitui a 
sociolinguística variacionista ao pesquisar a fala dos negros americanos).
RESUMO DO TÓPICO 1
20
• Os sociolinguistas contemporâneos entendem que para que possamos 
compreender a realidade linguística, o porquê da variação e mudança 
linguística, das atitudes e ações sobre as línguas, precisamos encarar uma 
perspectiva social na linguística.
• Para estudar as variações linguísticas, suas estruturas e mudança/evolução no 
contexto social de dada comunidade de fala, a sociolinguística dialoga com 
a linguística geral. Assim, é possível explicarmos fenômenos morfológicos, 
sintáticos, semânticos e fonéticos acerca da variação linguística.
21
1 A partir de suas leituras sobre a sociolinguística, você deve ter percebido que 
ela se constitui como um campo científico do estudo da língua, associado à 
própria linguística. Para auxiliar na sua apropriação de conhecimento acerca 
dessa disciplina, montamos para você um roteiro de leitura, com o qual você 
poderá registrar suas inferências a partir das seguintes perguntas:
a) Por que houve a necessidade de iniciar uma nova escola de pensamento para os 
estudos linguísticos se o estruturalismo já marcava a linguística como ciência? 
b) Quando e onde passamos a chamar os estudos que relacionam a sociedade e 
a linguística como sociolinguística?
c) Qual é o pressuposto básico da sociolinguística?
d) Qual o objeto de estudos da sociolinguística?
e) Quem é reconhecido como o principal fundador da sociolinguística 
variacionista?
f) O que você entende por heterogeneidade e variação linguística?
2 Ao longo deste tópico você viu que a sociolinguística é uma escola de 
pensamento da linguística. A sociolinguística surgiu, assim, para dar conta 
do aspecto social que constitui o uso da língua. Nesse sentido, essa disciplina 
procura responder às perguntas sobre a língua que outras correntes de 
estudo (como o estruturalismo e o gerativismo) não pretenderam responder. 
Tendo isto em vista, assinale V para a(s) sentença(s) verdadeira(s) e F para 
a(s) falsa(s):
( ) O estruturalismo, assim como a sociolinguística, entende que a língua é 
uma instituição social e, por isso, a estuda inserida em um contexto de uso.
( ) A sociolinguística procura explicar fenômenos de variação e mudança 
linguísticas a partir de estudos situados com falantes da língua, já que eles 
a influenciam cultural e historicamente.
( ) A sociolinguística tem caráter interdisciplinar, tendo em vista que dialoga 
com a linguística geral para explicar fenômenos morfológicos, sintáticos, 
semânticos e fonéticos acerca da variação linguística.
( ) Por meio dos estudos sociolinguísticos, podemos justificar oporquê de 
algumas pessoas tenderem a falar mais corretamente que outras, como é o 
caso da fala de professores com relação a de seus alunos.
Agora, assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:
a) ( ) F – V – V – F.
b) ( ) V – V – F – V.
c) ( ) V – V – V – F.
d) ( ) F – V – V – V.
e) ( ) V – F – V – F.
AUTOATIVIDADE
22
3 Leia o fragmento do texto a seguir a respeito da linguística moderna saussuriana: 
A Linguística, iniciada a partir do Curso, leva em conta os princípios 
saussurianos de que a língua “é um sistema que conhece apenas sua própria 
ordem” (cl g: 31); “é um sistema do qual todas as partes podem e devem ser 
consideradas em sua solidariedade sincrônica” (cl g: 102); “é uma forma e não 
uma substância” (cl g: 141) e de que a Linguística “tem por único e verdadeiro 
objeto a língua considerada em si mesma e por si mesma” (cl g: 271).
FONTE: FIORIN, José Luiz; FLORES, Valdir do Nascimento e BARBISAN, Leci Borges. (Orgs.). 
Saussure: a invenção da Linguística. São Paulo: Contexto, 2013.174 p.
Assinale a alternativa CORRETA em relação às ideias apresentadas no fragmento 
do texto e à concepção de estudos sociolinguísticos apresentados neste tópico:
a) ( ) Saussure foi o primeiro linguista a valorizar os estudos sociolinguísticos 
ao reconhecer a língua como fato social.
b) ( ) O objeto de estudo da linguística estruturalista centrou-se na estrutura 
da língua a partir dos fatores externos a ela.
c) ( ) O estruturalismo estuda a língua em si mesma e por si mesma, o que é 
fortemente criticado pelos sociolinguistas.
d) ( ) Os estudos sociolinguísticos priorizam o estudo do sistema linguístico 
fechado em si mesmo.
e) ( ) Os estudos saussurianos ainda carecem de cientificidade porque 
deixaram de contemplar a dimensão social da linguagem.
4 Para os sociolinguistas, os modelos estruturalistas e gerativistas de estudo 
são problemáticos porque desconsideram as influências externas à língua, 
como questões históricas, culturais, sociais, ideológicas, entre outras. 
Escreva um parágrafo crítico a respeito dos modelos problematizados pela 
sociolinguística, defendendo a necessidade de relacionar a língua com 
questões históricas, culturais, sociais, ideológicas dos seus falantes.
5 Neste tópico, você viu que Meillet foi um dos primeiros linguistas a se contrapor 
à corrente estruturalista, embora tenham sido os estudiosos estadunidenses, 
apenas na década de 1960, que receberam maior destaque para formulação da 
nova escola de pensamento denominada sociolinguística. Sobre os principais 
pressupostos da sociolinguística, analise as proposições a seguir:
I- Os fatores internos (estrutura) e fatores externos (história e mudanças 
sociais) da língua são levados em consideração para explicação da variação 
e mudança linguísticas.
II- São exemplos de condições externas à língua a classe social do falante, o 
grupo social ao qual pertence, a situação comunicativa, a idade, o gênero.
III- Assim como Saussure, Meillet aborda a língua sincrônica e diacronicamente, 
a fim de contemplar as influências históricas e atuais na sua estrutura.
É CORRETO o que se afirma em:
23
a) ( ) I e II.
b) ( ) I, II e III.
c) ( ) II, apenas.
d) ( ) II e III.
e) ( ) I e III.
6 Ao longo deste tópico, você se deparou, principalmente, com a reflexão de 
três estudiosos da língua: Saussure, Meillet e Labov. Disserte, sucintamente, 
o que aprendeu sobre eles.
24
25
TÓPICO 2
RELAÇÕES ENTRE LÍNGUA E SOCIEDADE
UNIDADE 1
1 INTRODUÇÃO
Como falante da língua portuguesa, você já deve ter observado quantas 
pessoas, falantes dessa mesma língua, possuem um “sotaque” diferente do seu 
(como no exemplo da pronúncia da palavra Pernambuco, mencionada no tópico 
anterior). Você também já deve ter percebido que há várias pessoas que fazem 
seleções de “palavras diferentes” que você para descrever um mesmo fenômeno 
ou objeto (como é o caso da escolha entre as palavras biscoito e bolacha), ou ainda, 
que construam “frases cujas formas sejam diferentes” das suas (como em “eu não 
falei”, “eu não falei não”, “falei não”...). 
Essas diferenças nas formas de falar, como veremos neste tópico, 
são denominadas pela sociolinguística como variações linguísticas, e estão 
relacionadas a diversos fatores: origem geográfica do falante, sua idade, gênero, 
entre outros. Reconhecer esses fatores, contudo, não quer dizer que admitamos 
algum tipo de condicionamento da fala com a região de nascimento do falante, 
ou com sua classe social etc. O que estamos admitindo, aqui, é o fato de que os 
falantes adquirem formas de falar a língua em convívio com outros falantes de 
dada região, grupo social etc. 
A reflexão sobre essas diferentes realizações em uma mesma língua é 
estudada pela sociolinguística a partir da relação entre a língua e a sociedade, 
conforme já viemos conversando desde o Tópico 1 desta primeira unidade. 
No Tópico 2, passaremos a estudar alguns conceitos essenciais para falarmos 
acerca da diversidade linguística, isto é, acerca das diversas possibilidades que 
temos para pronunciar as palavras da nossa língua, para escolher as palavras 
para descrever um mesmo objeto ou fenômeno e para realizar as construções 
sentenciais da língua. Vamos começar, então, a falar de variação linguística, e, 
por conseguinte, de variedade, variável e variante, de comunidade linguística, 
de normas da língua, que se vinculam a conceitos de gramáticas, bem como do 
entendimento de língua como um sistema heterogêneo. Pronto para iniciar?
UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO AOS ESTUDOS SOCIOLINGUÍSTICOS E À SOCIOLINGUÍSTICA VARIACIONISTA
26
2 CONCEITOS FUNDAMENTAIS: VARIAÇÃO E COMUNIDADE
Como vimos na introdução deste tópico, é natural, como falantes de uma 
língua, a portuguesa, observarmos o jeito que cada um tem de falar. Essa observação 
normalmente se dá pelo âmbito geográfico, no qual tendemos a destacar os vários 
sotaques que as pessoas revelam; uns mais “cantados”, outros com pronúncias 
mais “aligeiradas”, outros, ainda, mais “chiados”, só para citar alguns exemplos. 
Pela fala, tendemos a determinar a região de um falante, a reconhecer, inclusive, se 
sua nacionalidade é a mesma ou não é a mesma que a nossa. 
Como afirma Silva (2001, p. 11), faz parte do “conhecimento comum” das 
pessoas “falar sobre” a linguagem e discutir aspectos relacionados às propriedades 
das línguas que conhece[m]. [...] Contudo, há um ramo da ciência cujo objeto 
de estudo é a linguagem”. Esse ramo, conforme já introduzido no Tópico 1, é 
a linguística, responsável por “determinar os princípios e as características 
que regulam as estruturas das línguas” (SILVA, 2001, p. 11). A sociolinguística, 
como uma das disciplinas da linguística, entende que uma língua não pode ser 
compreendida puramente pelo seu escopo linguístico, pois precisamos da relação 
língua e sociedade para explicarmos diversos fenômenos linguísticos.
Quando duas pessoas falantes de uma mesma língua se encontram e 
passam a interagir linguisticamente, certamente se dá uma interação 
ampla em que cada uma das pessoas envolvidas passa a criar uma 
imagem de outra pessoa. Podemos identificar se a pessoa é falante 
nativo daquela língua. Um falante nativo é um indivíduo que 
aprendeu aquela língua desde criança e a tem como língua materna 
ou primeira língua. Caso classifiquemos o falante como sendo nativo, 
podemos afirmar se tal pessoa partilha da mesma variante regional 
daquela língua. Não precisamos nem mesmo ver um falante para 
determinar a sua idade ou sexo, e talvez seu grau de educação. Isto 
pode ser facilmente atestado quando atendemos a um telefonema. 
Podemos também precisar se o falante é estrangeiro que tem a língua 
em questão como segunda língua. Na grande maioria dos casos, 
falantes de uma segunda língua têm características de sua língua 
materna transpostas para a língua aprendida posteriormente. Tem-se, 
portanto, o “sotaque de estrangeiro” com características particulares 
de línguas específicas (como “sotaque” de americano,de japonês, 
alemão, italiano etc.) (SILVA, 2001, p. 11, grifos nossos).
Quando observamos as características linguísticas dos falantes de uma 
dada língua, procuramos compreendê-las dentro de uma comunidade de fala. 
“Uma comunidade de fala consiste de um grupo de falantes que compartilham de 
um conjunto específico de princípios subjacentes ao comportamento linguístico” 
(SILVA, 2001, p. 12, grifos nossos). No livro Padrões Sociolinguísticos, Labov 
([1972] 2008) conceitua a comunidade de fala a partir das atitudes dos falantes 
em relação à língua e às gramáticas que esses falantes compartilham. No entanto, 
vale considerarmos que esse conceito continua em debate e aperfeiçoamento nas 
discussões científicas. Guy (2001), por exemplo, faz uma reelaboração e define 
comunidade de fala como sendo um grupo de falantes que: 
TÓPICO 2 | RELAÇÕES ENTRE LÍNGUA E SOCIEDADE
27
1- compartilham traços linguísticos que são diferentes dos de outros grupos;
2- têm uma frequência alta de comunicação entre si;
3- apresentam as mesmas normas e atitudes em relação ao uso da língua. 
Diante do que vimos até o momento, é possível entender que o estudo da 
sociolinguística se preocupa com a comunidade de fala e não com um sistema 
específico de um ou outro indivíduo apenas. Para saber mais sobre o conceito 
de comunidade de fala, retome a seção “A sociolinguística: objeto, conceitos, 
pressupostos” da leitura complementar do Tópico 1 desta unidade.
Sempre que estudarmos a língua, partindo da sua relação com a sociedade, 
precisamos reconhecer a comunidade de fala a ser analisada. Em outras palavras, 
todo fenômeno linguístico a ser discutido precisa estar situado socialmente. 
Tanto no contexto de ensino superior quanto no contexto de educação básica, 
defendemos a importância do estudo da língua de forma situada, a fim de que 
fenômenos linguísticos possam ser compreendidos através de usos linguísticos 
concretos. Nesse sentido, você, professor de língua portuguesa em formação, 
precisa se despir de certos preconceitos acerca de falas marginalizadas para 
procurar compreendê-las, entender o porquê de serem realizadas e assim tratá-las 
com cientificidade. Para entender melhor, vejamos a situação expressa na imagem 
a seguir, que submete a zoologia (ramo da biologia responsável pelo estudo dos 
animais) às prescrições formais que comumente ocorrem com a língua:
FIGURA 3 - A ZOOLOGIA X A LINGUÍSTICA
FONTE: <https://i1.wp.com/starkeycomics.com/wp-content/uploads/2019/04/Prescriptive-
Zoology.jpg?fit=1199%2C1400&ssl=1>. Acesso em: 24 abr. 2019 (tradução nossa)
Na verdade, você não está no 
meu livro de animais, portanto 
você não é um animal de verdade.
Subespécies? Apenas um tigre 
que não sabe ser um tigre 
adequado! Tão preguiçoso.
Isso é um erro. Sua espécie 
deve ter apenas 9 faixas. 
Eduque-se.
Pare de evoluir!
UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO AOS ESTUDOS SOCIOLINGUÍSTICOS E À SOCIOLINGUÍSTICA VARIACIONISTA
28
Como a língua é dinâmica, é perfeitamente natural que nela ocorram 
mudanças com o tempo, o que implica admitir variações nos usos cotidianos 
de cada falante, de acordo com sua intenção discursiva e com a comunidade 
de fala à qual pertence. Em contexto escolar, há uma tendência de naturalizar o 
apagamento da variação da língua, embora em outros campos científicos, como 
o da biologia, essa naturalização de apagamento da diversidade das espécies não 
tende a ocorrer com a mesma frequência.
Na imagem que você acaba de ver, é possível observar, de uma forma 
bem-humorada, como seria antiético se na zoologia houvesse uma certa 
seleção dos animais considerados cabíveis de estudo, ou se os animais fossem 
submetidos ao que está prescrito nos manuais do zoólogo, ao invés de estudados 
e descritos na forma que são encontrados. Pareceu bastante absurdo, não é 
mesmo!? Infelizmente, como vimos, essa realidade prescritiva não costuma soar 
tão absurda ou antiética quando tratamos, de modo geral, da língua.
Quando estamos nos dirigindo ao estudo da língua, especialmente em 
contexto escolar, costumamos nos deparar com situações como no quadrinho um: 
“Na verdade, você não está no meu livro de animais, portanto, você não é um animal 
de verdade”. Nesse caso, quando há uma variação linguística que não está presente na 
gramática normativa, tendemos a ignorar essa variação, tratando-a como inexistente 
na língua. Quanto ao quadrinho dois (Subespécies? Apenas um tigre que não sabe 
ser um tigre adequado! Tão preguiçoso), identificamos que há uma tendência, na 
língua, de dizermos que as pessoas que não falam conforme a norma-padrão são 
preguiçosas, e não damos atenção à nova forma da língua, digna de ser estudada 
para que seja possível compreendermos como e por que ela acontece. 
No quadro três, entra a relação de erro: “Isso é um erro. Sua espécie deve ter 
apenas nove faixas. Eduque-se”. É comum que subjuguemos como simplesmente 
erro uma forma inovadora da língua, que se afasta da norma-padrão, e não 
busquemos compreendê-la como regularidade dentro dos aspectos linguísticos 
e extralinguísticos. Diante de tudo isso, veja o absurdo que seria pedir para a 
língua parar de “evoluir”, ou melhor, parar de mudar, assim como ocorreu no 
quadrinho quatro com uma espécie animal.
A partir do exposto, precisamos problematizar que, para uma variação 
existir, ela não precisa ser dicionarizada ou prescrita pela gramática normativa, 
basta estar em uso por uma comunidade de fala. Nesse sentido, é preciso que 
trabalhemos com a educação linguística em contexto escolar, validando as 
diferenças como constitutivas da língua, e rompendo com a tradição de classificar 
como erro tudo o que se afasta do padrão.
Com a disciplina de sociolinguística na graduação em Letras, procuramos 
romper com certos estigmas da língua para compreender que qualquer forma 
linguística em português, utilizada por comunidades de fala prestigiadas 
socialmente ou não, constitui o que convencionamos chamar de língua portuguesa 
e, por isso mesmo, não pode ser excluída dos estudos da língua.
TÓPICO 2 | RELAÇÕES ENTRE LÍNGUA E SOCIEDADE
29
Diante do que ora fora apresentado a você, acadêmico, já é possível 
compreender que o conhecimento sobre uma língua não se limita às classificações 
normativistas de orações e palavras, pois estas são apenas elementos de estudos, 
mas não a língua em si. Para estudar uma língua, portanto, precisamos considerar 
seus elementos extralinguísticos, que consistem nos aspectos históricos, sociais, 
situacionais. Nesse sentido, a língua é sempre tratada, na sociolinguística, de 
forma heterogênea, o que implica a existência de variação linguística.
A variação linguística, como já discutimos anteriormente, refere-se às diferenças 
que uma mesma língua pode apresentar em diferentes planos (histórico, comunicativo, 
estilístico, regional, social, contextual). Em outras palavras, a variação linguística pode ser 
compreendida como o processo pelo qual duas formas, com um mesmo valor de significado, 
podem ocorrer em um mesmo contexto (COELHO; GÖRSKI; NUNES DE SOUZA, 2015). 
Dizemos, portanto, que as diferenças de uso da língua provêm de diferentes variações, que 
podem ser: diastráticas (ou sociais), diatópicas (ou geográficas), diacrônicas (ou temporais), 
diafásicas (ou contextuais) e diamésicas (ou de modalidade escrita/falada). A seguir, 
acompanhe exemplos de cada uma dessas variações.
IMPORTANT
E
a) Variação diacrônica: refere-se às mudanças na forma da língua ao longo da 
história. Para exemplificar a notória mudança da língua portuguesa ao longo 
do tempo, Bagno (2007) apresenta um trecho da Carta de Pero Vaz de Caminha, 
considerada entre diferentes estudiosos como a primeira produção literária 
brasileira, datada de 1º de maio de 1500:
Easy segujmos nosso caminho per este mar delomgo ataa terça feira 
doitauas de pascoa que foram xxj dias dabril que topamos alguus 
synaaesde terá seemdo da dita jlha segundo os pilotos deziam obra de 
bjc lx ou lxx legoas . os quaaes herã muita camtidade deruas

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