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Direito Natural e Direito Positivo Jusnaturalismo e Juspositivismo Direito Moderno tende a abandonar, paulatinamente, as explicações ligadas à moral e à religião, buscando situar o fenômeno jurídico em bases mais concretas. Havia desde buscas da prudência da natureza das coisas, afirmações de normas rígidas divinas até a procura por uma razão universal e constante que forneça as bases para o conteúdo do direito. Concordam todas pela negação, dissociando-se das perspectivas jusnaturalistas, mas variam quanto à afirmação propositiva do que seja a identificação do direito. Não há que se ver antagonismo nem se entusiasmar em excesso por uma ou outra posição, pois a experiência demonstra que, conforme as necessidades sociais, há que preponderar uma ou outra orientação. Nesse sentido, podemos apontar as escolas formalistas ou positivistas que sublimam a segurança jurídica e colocam a norma na berlinda, como centro gravitador do Direito. De outro lado, as escolas idealistas, de origem mais antiga, buscam permanentemente um ideal de justiça e moral dentro do ordenamento, bem como as chamadas escolas realistas, que buscam o progresso social. Nessa vertente, há pontos em comum como o fato de o direito emanar da natureza, de existirem princípios legais não escritos que se superpõem ao direito posto. Quanto ao positivismo, é mais difícil enquadrá-lo como uma doutrina única, pois há muitos autores que, embora denotem tendência por essa corrente, apresentam opiniões ecléticas que se inclinam também pelo idealismo, sob alguns aspectos. Pela forma mais extrema e primitiva dessa doutrina, o chamado positivismo jurídico, somente terão valor as regras do direito positivo. Reduzir-se o direito, apenas às normas positivas constitui evidentemente posição ultrapassada, absolutista, que sufraga a imposição e a política de força do Estado, que tanto serviu a alguns governantes no passado. Sob esse prisma do positivismo extremo, os abusos e as intolerâncias puderam, no passado remoto e próximo, ser justificados. O direito não pode ser reduzido unicamente a normas hierarquizadas pelo Estado, amesquinhando toda a grandeza do seu universo, que em síntese é o universo do Ser Humano. ponto crucial do tema sempre foi decidir e definir entre acatar as leis impostas pelos homens, porque não existiriam outras acima delas, ou entender, por oposto, que existem leis superiores àquelas procedentes da autoridade humana, do governante/Estado. Aquela que pode ser denominada idealista, rotulação convencional que congrega as doutrinas jusnaturalistas, as quais entendem que existe um direito superior e antecedente a toda lei positiva humana; qual abrange as inúmeras correntes cujos seguidores, de uma forma ou de outra, afirmam que o Direito emerge dos homens, é um produto da história, do Estado ou do meio social, não existindo outras leis que não as vigentes em determinado local e em determinada época. Esse direito representa exclusivamente a manifestação da sociedade ou do Estado, os quais impõem regras que devem ser coercitivamente seguidas. pressuposto do direito natural é outro, pois parte da existência do conceito de justo independentemente de qualquer lei ou imposição. No positivismo, exclui-se qualquer norma derivada da natureza, qualquer que seja seu entendimento, existindo somente o direito positivo. Para os sofistas, o direito natural tinha como base a natureza humana, em que deveriam se enfatizar a liberdade e a igualdade dos homens. Célebre é o texto de Cícero, em De republica, quando expõe que há um direito conforme a natureza do homem, presente como reta razão em todos os corações, que é igual em Roma e em Atenas, igual no passado, no presente e no futuro. Para Santo Tomás de Aquino, existe uma perfeita gradação entre três tipos fundamentais de leis: a lei eterna, razão divina que rege o universo e o comportamento humano; A lei humana, ainda que conduzida pelo governante ou pelo Estado, deve basear-se na razão, pois do contrário seria injusta. Não será lei se não visar ao bem comum, se não for executada por quem tenha competência e não for corretamente promulgada. Convém lembrar a esse respeito a tragédia de Sófocles, Antígona, que é um excelente símbolo para demonstramos a ideia da existência de um justo por natureza, que se contrapõe a um justo por lei. Essas não são as leis que fixaram para os homens e jamais pensei que tivesse defesas tão poderosas capazes de permitir a um mortal transgredir as leis não escritas, as inabaláveis leis divinas”. Em síntese, essa ideia, da escola tradicional do direito natural, prega que a justiça deve ser feita em cada caso concreto. leigo e racionalista, principalmente por influência dos novos credos protestantes apartados da Igreja cristã até então tradicional e una, toma posição em toda a ciência. princípio do justo desvincula-se da vontade divina e o homem pode, por si mesmo, aplicar o direito natural. Hugo Grócio, holandês e protestante, perante a quebra do Cristianismo e estando prestes o desmoronamento da sociedade medieval, procura um laço de união entre as várias nações, para superar a quebra da unidade da fé, encontrando então uma base jurídica no direito natural. o principal preceptor dessa corrente racionalista, colocando o direito natural sob o prisma do direito das gentes, ou seja, o direito internacional. Sustentou que, haveria princípios absolutos, fornecidos pela razão humana, que são evidentes e imutáveis, decorrentes dessa razão humana, desvinculando a ideia divina. partir do pensamento de Grócio, inicia-se a separação entre lei natural e lei eterna: a lei do direito natural começa a vagar sem direção precisa, não mais vinculada a uma origem divina. Essa concepção racional individualista do direito natural mantém em comum à clássica, tradicional ou escolástica a existência regras de dever-ser superiores ao Direito humano. A posição mais antiga é também menos ampla, pois admite apenas certos princípios absolutos e fundamentais para reger todo o Direito, enquanto a posição racionalista se baseia no uso ilimitado da razão, a qual pode ilustrar qualquer meandro do Direito, qualquer detalhe de convivência. direito natural, mormente aquele justificado pelos chamados contratualistas, teve em Rousseau seu principal mentor, autor de Do contrato social. Seu pensamento ensejou a justificação do arbítrio e da força, distanciando- se da história, dando margem ao surgimento da chamada escola histórica, com Savigny e outros seguidores, os quais investiram contra as abstrações do direito natural. Para ele o estado social é injusto porque acaba com a felicidade do estado primitivo do homem que vivia na natureza. O direito positivo que regula esse estado de coisas está em oposição ao direito natural, concebido por esse autor como uma liberdade natural absoluta. Rousseau busca uma solução e a encontra no retorno ao estado da natureza, uma modalidade de associação que possa defender o homem, mas que o permita livre como nos primórdios da civilização, um pacto social. Rousseau é considerado o último grande jusnaturalista de sua época, pois desenvolve suas ideias destacando a ordem natural das coisas. No entanto, ainda que essa não tivesse sido a intenção do autor, tal descrição contratualista do direito naturaldesemboca no positivismo e abriu caminho para o totalitarismo. Todo pensamento do direito natural, no entanto, teve o grande mérito de sublimar o conceito de justiça como centro gravitador do Direito. Todo esse posicionamento sofreu e continua a sofrer acerbas críticas, principalmente porque as escolas do direito natural teriam guindado à posição de verdadeiras regras de Direito princípios que são meros ideais. Por outro lado, ainda, os opositores da doutrina sustentam que seus postulados são por demais vagos para conceder certeza do Direito, o que impediria sua utilização para resolver os casos concretos. Bernardo Montejano expõe o dilema das duas posições: ou se busca na natureza das coisas, da qual participa o homem como animal racional, social e político, o fundamento da obrigatoriedade das normas, considerando-se o direito dentro de um enquadramento ético, ou se abandona a natureza das coisas, do homem e suas inclinações, optando-se pela normatividade fria, mantendo-se o culto a um formalismo estrutural e vazio, convertendo-se o direito em algo amoral ou imoral. Participa desse renascimento a filosofia dos valores, a axiologia, a qual, de certa forma, coloca a dignidade humana, por meio dessa valoração, como um dos pilares do Direito contemporâneo. Deve haver hoje uma preocupação em conciliar os princípios do direito natural com o direito positivo e com o momento histórico. Dentre as funções do direito natural, podemos destacar que o Direito Positivo deriva das leis naturais ou da natureza das coisas. Também na integração das normas, perante as lacunas das leis, o direito natural cumpre seu papel bem como no aparo das arestas das leis injustas ou desviadas do sentido ético. Os princípios e as declarações dos direitos do homem trazidos pela ONU são exemplos de positivação do jusnaturalismo em nível universal. ponto de partida do positivismo é, de fato, afirmar que direito é apenas aquele existente nas leis criadas pelo ser humano e postas pelo Estado. O positivismo nega a existência de regras fora do direito positivo, isto é, fora do direito imposto pelos homens. Observa Paulo Nader que o positivismo jurídico atingiu seu apogeu no início do século XIX e hoje se mostra em franca decadência: “surgiu em um período crítico da história do Direito Natural, durou enquanto foi novidade e entrou em declínio quando ficou conhecido em toda sua extensão e consequências”. Foi esse positivismo que permitiu, por exemplo, o período do Estado cruel do nazismo e todos os males que advieram com ele na Alemanha da época. Há também que se falar no neopositivismo, movimento que envolve pensadores do século XX, o qual acarretou um reflorescimento dessa corrente de pensamento. Muitos, no entanto, situam na obra de Immanuel Kant o divisor de águas entre a filosofia do direito natural e a escola do direito racional. É desse pensador a noção do imperativo categórico, fundamentando a prática moral não na pura experiência, mas numa norma aprioristicamente inerente à racionalidade humana universal. Os estudos passaram a ter como base o case method, isto é, procura- se extrair dos casos julgados a razão de decidir dos casos futuros, sem estratégias metafísicas. Seu pensamento decorre da natureza do direito anglo-saxão, com base no direito consuetudinário e nos precedentes judiciais. Críticas ao positivismo e o Neopositivismo Não podendo aceitar os valores como fundamento do direito, o positivismo foi levado a propor fundamento jurídico para o próprio Direito, ou seja, um conceito autônomo e unidimensional, tentando reduzi-lo à esfera normativa. Nos idos de 1929, sob uma nova perspectiva política, fundou-se o Círculo de Viena, cuja doutrina foi denominada neopositivista, com o propósito de reavaliar e revalorizar os pontos fundamentais do positivismo. Mais recentemente, tem- se observado que muitos seguidores do positivismo reconhecem a existência de valores superiores ao direito positivo. novo positivismo não é uma ideologia necessariamente conservadora a serviço da ordem estabelecida, pois procura entender os valores, ainda que não os reconheça como integrantes do fundamento do Direito. Norberto Bobbio, considerado um dos mais destacados representantes do neopositivismo, com posições que procuram compreender o direito natural, entende que o positivismo pode ser considerado como uma teoria geral do direito, um método científico e uma ideologia. O pensador considera-se positivista quanto à teoria geral e ao método e jusnaturalista quanto à ideologia.
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