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É um fato indubitável que a maquinaria não é, em si, responsável
pela “liberação” dos operários dos meios de subsistência. Ela barateia
o produto e aumenta sua quantidade no ramo de que se apodera e
deixa inalteradas as massas de meios de subsistência produzidos em
outros ramos industriais. Tanto depois quanto antes de sua introdução,
a sociedade possui, por conseguinte, tantos ou mais meios de subsis-
tência para os trabalhadores deslocados, isso mesmo sem considerar
a enorme massa do produto anual que é desperdiçada por não-traba-
lhadores. E essa é a grande conclusão da apologética econômica! As
contradições e os antagonismos inseparáveis da utilização capitalista
da maquinaria não existem porque decorrem da própria maquinaria,
mas de sua utilização capitalista! Já que, portanto, considerada em
si, a maquinaria encurta o tempo de trabalho, enquanto utilizada como
capital aumenta a jornada de trabalho; em si, facilita o trabalho, uti-
lizada como capital aumenta sua intensidade; em si, é uma vitória do
homem sobre a força da Natureza, utilizada como capital submete o
homem por meio da força da Natureza; em si, aumenta a riqueza do
produtor, utilizada como capital o pauperiza etc. O economista burguês
declara simplesmente que a observação da maquinaria em si demonstra
com toda precisão que essas contradições palpáveis são mera aparência
da realidade comum, mas que nem sequer existem em si e, portanto,
também não existem na teoria. Ele se poupa, assim, à necessidade de
continuar quebrando a cabeça e, ainda por cima, imputa a seu adver-
sário a bobagem de combater não a utilização capitalista da maquinaria,
mas a própria maquinaria.
De forma alguma o economista burguês nega que surjam também
aí aborrecimentos temporários; mas onde existiria uma medalha sem
reverso! Para ele, é impossível outra utilização da maquinaria que não
seja a capitalista. A exploração do trabalhador pela máquina é, por
conseguinte, para ele, idêntica à exploração da máquina pelo traba-
lhador. Quem, portanto, revela o que realmente ocorre com a utilização
capitalista da maquinaria simplesmente não quer sua utilização, é um
adversário do progresso social!178 Igual ao raciocínio do célebre dego-
lador Bill Sikes:
“Senhores jurados! Sem dúvida, a garganta desse caixeiro-via-
jante foi cortada. Esse fato não é, porém, culpa minha, é culpa
da faca. Por causa de tais aborrecimentos temporários, devería-
mos nós eliminar a utilização da faca? Pensem uma vez! Que
MARX
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178 Um virtuose desse desmesurado cretinismo é, entre outros, MacCulloch. “Se é vantajoso”,
diz ele com a ingenuidade afetada de uma criança de 8 anos, “desenvolver mais e mais a
habilidade do trabalhador, de modo que ele seja capaz de produzir uma quantidade sempre
crescente de mercadorias com a mesma ou menor quantidade de trabalho, então deve ser
também vantajoso que recorra ao auxílio da maquinaria que lhe sirva de modo mais eficaz
para atingir esse resultado.” MACCULLOCH. Princ. of Pol. Econ. Londres, 1830. p. 182.

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