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CONCEITO E DIAGNÓSTICO DE MORTE Morte: Conceitos básicos É um processo e não um momento! As definições de diagnóstico são historicamente modificadas: o Até meados da década de 1960: ausência de circulação e respiração. o Após 1967: funções encefálicas passaram a ser consideradas. Elementos diagnósticos básicos: o Ausência de circulação; o Ausência de respiração; o Acidificação dos líquidos tissulares; o Ausência de funções encefálicas. Fenômeno de Lázaro Definição: retorno espontâneo da circulação após parada de manobras de reanimação. O nome é por causa da figura de Lazaro, na bíblia Não se sabe porque ocorre, acredita-se correlação com VPP – ao retirar, aumenta retorno venoso (geralmente 10 minutos depois da interrupção). Não se faz diagnóstico de morte com menos de 15 minutos após interrupção das manobras. NÃO fazer diagnóstico logo após interrupção das manobras. Outros lázaros na medicina: Sinal de Lázaro: reflexos espinais em pacientes com morte encefálica – é diferente de fenômeno de Lázaro. Aqui está tudo vivo. Sinal de Lazaro é um confirmador de morte encefálica! (IMPORTANTE) Síndrome de Lázaro: Recuperação inesperada de uma criança após doença grave. Complexo de Lázaro: Alterações psicológicas após situações de doença grave, quase morte ou após PCR. Premonição de Lázaro: Melhora inesperada em pacientes terminais. Efeito de Lázaro: Sobrevivência de uma determinada espécie após extinções em massa. Observação: Como o diagnóstico é feito do ponto de vista ético? Adaptar parte dos princípios para o diagnóstico de morte em geral – usar protege o médico na questão técnica! Resolução CFM nº2. 173/2017 (dezembro/2017) – normatiza diagnóstico de morte encefálica Art. 1º Os procedimentos para determinação de morte encefálica (ME) devem ser iniciados em todos os pacientes que apresentem coma não perceptivo*, ausência de reatividade supraespinhal** e apneia persistente***, e que atendam a todos os seguintes pré-requisitos: *Coma não perceptivo: Escala de coma de Glasgow = 3 **Ausência de atividade supraespinhal: sinal de Lazaro é movimento relacionado a medula espinhal. Reflexo cremastérico é espinhal. Não pode ter fasciculação! Se tremer a pálpebra/lacrimejou = mostra de atividade supraespinal (tronco encefálico tá vivo!) ***Apneia persistente: apneia persistindo ao longo do tempo. O gasping não é considerado uma apneia! ATENÇÃO: Não usar o termo “morte cerebral”. +4 critérios: a) Presença de lesão encefálica de causa conhecida, irreversível e capaz de causar morte encefálica; E se lesão encefálica de causa desconhecida e não se sabe se é irreversível? A morte não foi com critério do protocolo, é uma morte clínica/cardiorrespiratória! b) Ausência de fatores tratáveis que possam confundir o diagnóstico de morte encefálica; Destaca-se dois fatores: Hipotermia e intoxicação com fármacos depressores do SNC c) Tratamento e observação em hospital pelo período mínimo de seis horas. Quando a causa primária do quadro for encefalopatia hipóxico-isquêmica, esse período de tratamento e observação deverá ser de, no mínimo, 24 horas; Quando a causa primária do quadro for encefalopatia. HD: morte encefálica * Situação típica de doador de órgãos: Jovem, acidente automobilístico com TCE ou tiro em face! A morte dos vários órgãos ocorre em momentos distintos, devido à susceptibilidade de hipóxia de cada órgão. Quando falamos de hora da morte, seria quando pelo menos o encéfalo morreu. - Nenhuma função dos pares de nervos cranianos, ausência de fasciculações porque é um comando do moto-neurônio do nervo facial. - Nenhum movimento respiratório, nem que seja respiração de gasping. Nesse caso, a morte é somente encefálica, com manutenção dos neurônios distais e da medula, os moto-neurônios disparam de forma anômala, levando a reflexos espinais. Com movimentos de flexão dos membros. Geralmente ocorre com intubação endotraqueal errônea, a insuflação exagerada compromete o retorno venoso e ao retirar a intubação o retorno venoso, retorna. Narcolepsia --> não é considerado diagnóstico diferencial de morte encefálica, pois ocorrem funções determinadas pelo encéfalo, como sonolência diurna, paralisia do sono, alucinações no estágio inicial (hipnogógicas) e no estágio final do sono (hipnopômpicas), sono REM durante a vigília, cataplexia (diante de um estimulo positivo ocorre paralisia). Principal causa de morte encefálica no nosso meio. E HIPÓXIA d) Temperatura corporal (esofagiana, vesical ou retal) superior a 35°C, saturação arterial de oxigênio acima de 94% e pressão arterial sistólica maior ou igual a 100 mmHg ou pressão arterial média maior ou igual a 65mmHg para adultos, ou conforme a tabela a seguir para menores de 16 anos: *Isso supõe instabilidade hemodinâmica, que pode estar interferindo com as funções encefálicas. Tem que estabilizar o paciente, para reavaliação. Art. 2º É obrigatória a realização mínima dos seguintes procedimentos para determinação da morte encefálica: a) Dois exames clínicos que confirmem coma não perceptivo e ausência de função do tronco encefálico; *Não é só Glasgow, é também ausência de função do tronco encefálico! b) Teste de apneia que confirme ausência de movimentos respiratórios após estimulação máxima dos centros respiratórios; Teste de apneia – PCO2 medida ≥55, se disponível c) Exame complementar que comprove ausência de atividade encefálica. Geralmente é eletroencefalograma (mais barato e mais fácil de interpretação – estará isoelétrico) Art. 3º O exame clínico deve demonstrar de forma inequívoca a existência das seguintes condições: a) Coma não perceptivo; b) Ausência de reatividade supraespinhal manifestada pela ausência dos reflexos fotomotor, córneo-palpebral, oculocefálico, vestíbulo-calórico e de tosse. Reflexo fotomotor: lanterna no olho e espera por um tempo! NENHUMA RESPOSTA o Direto = no olho ipsilateral, consensual = no olho contralateral Obs.: Jogou luz e escorreu lágrima: está vivo (mesmo que por um tempo) Córneo palpebral: cuidado para não lesar a córnea = não sabe se tá vivo; pode interferir no transplante *Doação de córnea: até 6h após morte (é o único órgão retirado no IML – com autorização da família) **Toque leve com cotonete na periferia da córnea! Oculocefálico: virar a cabeça da pessoa, de um lado para o outro – espera que os olhos acompanhem a cabeça (completamente passivo) = NENHUMA RESPOSTA Vestibulo calórico: necessita SF aquecido ou resfriado, resfriado (a 20 a 25o é mais comum) – coloca- se no meato acústico externo, teria, se vivo, nistagmo contralateral. Tosse: tem que estar entubado = movimentar tubo, alcançando até a carina da traqueia. § 1º Serão realizados dois exames clínicos, cada um deles por um médico diferente, especificamente capacitado a realizar esses procedimentos para a determinação de morte encefálica. § 2º Serão considerados especificamente capacitados médicos com no mínimo um ano de experiência no atendimento de pacientes em coma e que tenham acompanhado ou realizado pelo menos dez determinações de ME ou curso de capacitação para determinação em ME, conforme anexo III desta Resolução. Obs.: Médico especificamente capacitado: 1 ano de treinamento + um número mínimo de diagnósticos de morte encefálica § 3º Um dos médicos especificamente capacitados deverá ser especialista em uma das seguintes especialidades: medicina intensiva, medicina intensiva pediátrica, neurologia, neurologia pediátrica, neurocirurgia ou medicina de emergência. Na indisponibilidade de qualquer um dos especialistas anteriormente citados, o procedimento deverá ser concluído por outro médico especificamente capacitado. Tem que demonstrar a ausência de perfusão, ausência de atividade metabólica e ausência de atividade elétrica. durante 10 minutos sem a ventilação mecânica. Lembrando que a hipotermia é diagnóstico diferencial de ME, por promoverdiminuição da PA e redução da respiração à apneia. O princípio da estimulação calórica é que labirintos normais tendem a resposta calórica simétrica e mensurável dentro de uma faixa de normalidade previamente conhecida. A assimetria de resposta estaria relacionada a doenças atuais ou pregressas. A ausência ou redução da resposta indicaria deficiência de função vestibular periférica. Nesse contexto, a interpretação da prova calórica deve considerar a análise comparativa de um lado em relação ao outro e a análise dos valores absolutos. § 4º Em crianças com menos de 2 (dois) anos o intervalo mínimo de tempo entre os dois exames clínicos variará conforme a faixa etária: dos sete dias completos (recém-nato a termo) até dois meses incompletos será de 24 horas; de dois a 24 meses incompletos será de doze horas. Acima de 2 (dois) anos de idade o intervalo mínimo será de 1 (uma) hora. Art. 4º O teste de apneia deverá ser realizado uma única vez por um dos médicos responsáveis pelo exame clínico e deverá comprovar ausência de movimentos respiratórios na presença de hipercapnia (PaCO2 superior a 55mmHg). Parágrafo único. Nas situações clínicas que cursam com ausência de movimentos respiratórios de causas extracranianas ou farmacológicas é vedada a realização do teste de apneia, até a reversão da situação. *Teste de apneia = deixar o ventilador desligado por cerca de 15 minutos Art. 5º O exame complementar deve comprovar de forma inequívoca uma das condições: a) Ausência de perfusão sanguínea encefálica ou b) Ausência de atividade metabólica encefálica ou c) Ausência de atividade elétrica encefálica. § 1º A escolha do exame complementar levará em consideração situação clínica e disponibilidades locais. Pelo menos um exame complementar deve ser realizado (pode ter mais) § 2º Na realização do exame complementar escolhido deverá ser utilizada a metodologia específica para determinação de morte encefálica. § 3º O laudo do exame complementar deverá ser elaborado e assinado por médico especialista no método em situações de morte encefálica. Observações: Com menos de 7 dias de vida não existe diagnóstico de morte encefálico – É um SN muito imaturo! Acima de 2 anos já tem mais maturidade encefálica. Quanto tempo dura o diagnóstico? No mínimo 7 horas! Art. 6º Na presença de alterações morfológicas ou orgânicas, congênitas ou adquiridas, que impossibilitam a avaliação bilateral dos reflexos fotomotor, córneo-palpebral, oculocefálico ou vestíbulo-calórico, sendo possível o exame em um dos lados e constatada ausência de reflexos do lado sem alterações morfológicas, orgânicas, congênitas ou adquiridas, dar-se-á prosseguimento às demais etapas para determinação de morte encefálica. Parágrafo único. A causa dessa impossibilidade deverá ser fundamentada no prontuário. Art. 8º O médico assistente do paciente ou seu substituto deverá esclarecer aos familiares do paciente sobre o processo de diagnóstico de ME e os resultados de cada etapa, registrando no prontuário do paciente essas comunicações. Observação: Não fala na resolução, mas é lei federal que a família tem direito de ter um médico de confiança acompanhando todo o trâmite – esse médico é um auditor. Art. 9º Os médicos que determinaram o diagnóstico de ME ou médicos assistentes ou seus substitutos deverão preencher a DECLARAÇÃO DE ÓBITO definindo como data e hora da morte aquela que corresponde ao momento da conclusão do último procedimento para determinação da ME. - Se não morte por causa externa (maioria) ou suspeita! Parágrafo único. Nos casos de morte por causas externas a DECLARAÇÃO DE ÓBITO será de responsabilidade do médico legista, que deverá receber o relatório de encaminhamento médico e uma cópia do TERMO DE DECLARAÇÃO DE MORTE ENCEFÁLICA. Atenção: O horário da morte é o horário que o diagnóstico de morte foi concluído! A determinação da morte encefálica em RN antes de 7 dias não pode ser realizado, até mesmo pois não há um padrão neurológico. Termo de declaração de morte encefálica Tem que ter o nome da pessoa = desconhecidos não podem doar! Resolução CFM nº1826/2007 Art. 1º: é legal* e ética a suspensão dos procedimentos de suportes terapêuticos quando determinada a morte encefálica em não-doador de órgãos, tecidos e partes do corpo humano para fins de transplante, nos termos do disposto na Resolução CFM nº 1.480, de 21 de agosto de 1997, na forma da Lei nº 9.434, de 4 de fevereiro de 1997. § 1º O cumprimento da decisão mencionada no caput deve ser precedida de comunicação e esclarecimento sobre a morte encefálica aos familiares do paciente ou seu representante legal, fundamentada e registrada no prontuário. § 2º Cabe ao médico assistente ou seu substituto o cumprimento do caput deste artigo e seu parágrafo 1º. *Houve grande questionamento relacionado ao termo “legal” nesse artigo, uma vez que a resolução do CRM não é uma lei! No entanto, nesse uso específico, foi considerado lícito. Ou seja, é licito e ético a interrupção das medidas de suporte em paciente não doador de órgãos após comunicar (não questionar) à família! Atenção aos termos: ORTOTANÁSIA Morte no tempo certo pela doença. EUTANÁSIA Antecipação da morte, ativa ou passivamente. Quem mata na eutanásia não é a doença, mas uma ação ou omissão DISTANÁSIA Obsessão terapêutica – usar tudo disponível, sem benefício algum = prolongar inutilmente a vida. É uma contraindicação ética! Observação: Crimes dolosos contra a vida – tribunal do júri (quem fala se é culpado ou inocente não é o juiz – ele só conduz. O veredito é dado por 7 pessoas da comunidade) 1. Homicídio 2. Auxiliar suicídio 3. Infanticídio 4. Aborto Em situação que a doença não tem mais possibilidade terapêutica o medico tem autonomia para não realizar eventuais procedimentos que posterguem o quadro. É uma indicação ética, desde que a doença não tenha um tratamento efetivo, nesse caso a autonomia é do paciente, exceto em casos de instabilidade, hemodinâmica, respiratória ou neurológica. Lembrar que no Brasil, não existe suicídio assistido. Gestante; ajudantes que auxiliaram no aborto ou a realização do aborto contra a vontade da gestante.