Prévia do material em texto
Na série "Insatiable", a antes gorda personagem principal, interpretada por Debby Ryan, tem sua vida "melhorada" por ter quebrado a mandíbula e sido obrigada a comer menos, perdendo peso. Assim, com o objetivo de lutar contra a gordofobia, o média-metragem acaba por ir na direção oposta, igualando o emagrecimento a uma existência utópica e propagando concepções errôneas e prejudiciais à saúde de como chegar à magreza. Infelizmente, não muito diferente é a sociedade brasileira, que, devido a estereótipos e à cultura do consumismo, também incita a aversão ao corpo gordo. Primeiramente, o pensamento estigmatizado da população de que uma pessoa acima do peso ideal necessariamente o é porque não tem disciplina, responsabilidade ou autocontrole é uma das mais importantes e preocupantes razões da repulsão a ela no Brasil. Segundo um estudo canadense, a falta de atividade física não é a principal causa do sobrepeso, uma vez que foi demonstrado que meninas obesas se exercitam mais que as com peso ideal. Além disso, segundo o vice-presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica Fábio Viegas, o aumento de peso está muitas vezes relacionado a "efeitos biológicos, metabólicos e genéticos", desmentindo a falsa ideia popular de que a pessoa obesa não se importa com sua saúde ou é relaxada. Desse modo, o preconceito aos gordos - também chamado de "gordofobia" - é completamente sustentado por falácias mal intencionadas e sem evidências científicas. Ademais, a cultura do consumo também é responsável pela aversão a indivíduos gordos entre os brasileiros. Conforme a obra "Modernidade Líquida", escrita pelo filósofo polonês Zygmunt Bauman, o mercado capitalista criou uma falsa ideia que orienta o consumidor moderno a buscar atingir a aptidão - ou "fitness" - em vez da saúde, inserindo-o na procura incessante da satisfação de tendências momentâneas que só o desgastam. Nesse viés, compreende-se que o capitalismo condena os corpos acima do peso, pois, por representarem, de acordo com a Organização da Saúde, quase 30% da população mundial, ele mobiliza muitas pessoas a quererem perder peso e, consequentemente, a gerar lucro. Dessarte, a gordofobia, por ser incentivada pelo capitalismo, influencia grande parte da população a também ser preconceituosa. Nessa perspectiva, é imprescindível a tomada de medidas que erradiquem esse cenário discriminatório no país. Sob essa óptica, cabe ao Governo Federal, por meio da formulação de novas políticas de inclusão e em parceria com canais da televisão aberta, instituir uma porcentagem mínima de presença de pessoas gordas nos conteúdos televisivos - lógica parecida com a do sistema de cotas na área da educação -, mostrando aos telespectadores que o corpo acima do peso ideal é normal e deve ser normalizado. Ainda, o Ministério da Educação deve incentivar palestras educacionais que realmente expliquem o que leva uma pessoa a ser gorda. Feito isso, a população acima do peso será respeitada e ideologias distorcidas, como as representadas por Debby Ryan, serão desconstruídas.