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Estudos sobre Grupos Operativos Intervenções em psicopedagogia institucional: diferentes perspectivas Responsável pelo Conteúdo: Prof. Ms. Paulo Eduardo Ribeiro Revisão Textual: Prof. Ms. Claudio Brites 5 Un id ad e Intervenções em psicopedagogia institucional: diferentes perspectivas O objetivo principal desta unidade é fazer com que você entenda, entre outras coisas, as diferentes perspectivas referentes às atuais intervenções em psicopedagogia. Nesta unidade, você começará a ter contato com as intervenções em psicopedagogia institucional e com suas diferentes perspectivas. Estudará também conceitos da psicopedagogia institucional, entendendo que a psicopedagogia institucional tem um papel crucial na ação preventiva. Verá também que a psicopedagogia é uma área do conhecimento que tem por objetivo proporcionar o diálogo entre as áreas da educação e da saúde, e que o objetivo do psicopedagogo é conduzir a criança ou adolescente, o adulto ou a instituição a reinserir-se, reciclar-se em uma escolaridade normal e saudável, de acordo com as possibilidades e interesses da sociedade que está inserida. Nesta unidade, trabalharemos os seguintes tópicos: • Intervenções em psicopedagogia institucional: diferentes perspectivas • Psicopedagogia institucional • A atuação do psicopedagogo • O psicopedagogo e a utilização de grupos • O coordenador de grupos de aprendizagem • As possibilidades de avaliação e intervenção dos grupos operativos na psicopedagogia Fonte: T hinkstock/G etty Im ages 6 Unidade: Intervenções em psicopedagogia institucional: diferentes perspectivas Iniciaremos essa unidade com uma breve reflexão sobre as intervenções em psicopedagogia institucional e suas diferentes perspectivas, pensando inicialmente se, após as três unidades anteriores, ficou claro para você o que é psicopedagogia, de que forma ela se apresenta no ambiente educacional e de que maneira ela pode realizar uma ação preventiva nos problemas de dificuldade encontrados no processo ensino-aprendizagem. Mas, antes de buscar respostas para esses questionamentos, convidamos você mais uma vez a assistir um vídeo extraído da internet intitulado Jogo de Areia Psicopedagógico, que conceitua de maneira simples o termo a ser estudado nesta unidade. Está disponível no link: https://www.youtube.com/watch?v=mQ-60COUNAM. Como dito, nesta última unidade da nossa disciplina, o que queremos mostrar para você são as intervenções em psicopedagogia institucional a partir de diferentes perspectivas, começando pelos conceitos de psicopedagogia, em especial os conceitos da psicopedagogia institucional. Num segundo momento, falaremos sobre a atuação do profissional em psicopedagogia, o psicopedagogo, bem como seus objetivos na condução da criança ou do adolescente, do adulto ou da instituição. Falaremos também um pouco sobre as dificuldades de aprendizagem, além dos obstáculos encontrados durante o processo de ensino-aprendizagem, o que se fará necessário para que posteriormente possamos falar dos processos de intervenções psicopedagógicas. Para fundamentar as intervenções citadas, e para finalizar os objetivos desta disciplina, falaremos um pouco sobre a utilização de grupos pelo psicopedagogo. Para isso, retomaremos alguns conceitos já vistos em unidades anteriores, além de ver pela primeira vez um papel de extrema importância: o do coordenador de grupos de aprendizagem. Por fim, veremos algumas possibilidades de avaliação e intervenção dos grupos operativos na psicopedagogia, comparando algumas diferenças entre os processos de avaliação e intervenção utilizados aqui no Brasil com os utilizados na Argentina. Depois de assistir ao vídeo, comece a se aprofundar no tema. Temos certeza de que, ao final dessa etapa, você conseguirá enxergar as diferentes perspectivas referentes às atuais intervenções em psicopedagogia com maior clareza. Mãos à obra! Contextualização https://www.youtube.com/watch%3Fv%3DmQ-60COUNAM 7 Intervenções em psicopedagogia institucional: diferentes perspectivas Na unidade passada, você começou a estudar a instituição pedagógica e o seu papel na sociedade disciplinar, além das particularidades do papel do professor, da equipe pedagógica e da equipe de direção. O objetivo principal era que você, ao final da unidade, fosse capaz, entre outras coisas, de entender as diferenças e particularidades de cada um desses papéis. Nesta quarta e última unidade, você começará a estudar como os grupos operativos podem intervir de maneira positiva e, dessa forma, auxiliar a psicopedagogia a alcançar resultados satisfatórios quando se pensa no processo ensino-aprendizagem no contexto institucional. Psicopedagogia: sf. Ramo da pedagogia voltado para a aplicação dos resultados da psicologia da aprendizagem a métodos e práticas pedagógicos; psicologia da educação. [F.: psic(o)- + pedagogia.] Iniciaremos nossa última unidade falando um pouco sobre a psicopedagogia institucional e do seu papel nas ações preventivas para bloquear as dificuldades que possam surgir no processo de ensino-aprendizagem. Para que isso seja possível, é fundamental a atuação do profissional responsável por essa ação, o psicopedagogo. As dificuldades de aprendizagem e as intervenções psicopedagógicas também serão discutidas nesta unidade, bem como a utilização de grupos, as possibilidades de avaliação e intervenção desses grupos como ferramentas para tentar resolver ou minimizar os problemas. Trataremos ainda do papel do coordenador de grupos de aprendizagem no sentido de facilitar e favorecer o trabalho da equipe. Creio que já temos diretrizes suficientes para iniciar nossa unidade final, então, vamos lá, começando com o primeiro tópico a ser estudado, que são os grupos operativos e suas possibilidades de intervenção na psicopedagogia. Psicopedagogia institucional Quando acontece no ambiente escolar – entre outros espaços que não o espaço clínico –, a psicopedagogia é chamada de psicopedagogia institucional, e seu objetivo é criar condições de prevenção relacionadas às dificuldades de aprendizagem, evitando assim o fracasso escolar (VERCELLI, 2012). Entendemos que a psicopedagogia institucional tem um papel crucial na ação preventiva, pois a criança e o adolescente que não são entendidos em suas dificuldades iniciais poderão bloquear a aprendizagem e possivelmente necessitarão de atendimento clínico (VERCELLI, 2012). 8 Unidade: Intervenções em psicopedagogia institucional: diferentes perspectivas Mas diante da definição apresentada pela autora, parece ser pertinente um questionamento: quem é o psicopedagogo institucional? Qual a sua função? Tentaremos esclarecer essa e outras dúvidas a seguir, mas, antes, que tal uma paradinha para assistir ao vídeo sugerido? Sugestão de vídeo: O papel do psicopedagogo (4:19 min) Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=TXi3lD3nhsM. Acessado em: dez. de 2014. A atuação do psicopedagogo Antes de iniciarmos nossas discussões sobre a atuação do psicopedagogo, acreditamos ser importante retomarmos algumas definições para efeito de nivelamento e fixação dos conceitos a serem discutidos. Vercelli (2012) nos auxilia nesse sentido quando apresenta a psicopedagogia como sendo uma área do conhecimento que tem por objetivo proporcionar o diálogo entre as áreas da educação e da saúde, além de ter como objetivo o estudo da aprendizagem humana. Para a autora, a psicopedagogia tem o objetivo de: [...] compreender os padrões evolutivos normais e patológicos do processo de aprendizagem, considerando a influência da família, da escola e da sociedade no desenvolvimento (VERCELLI, 2012). A autora prossegue informando que a psicopedagogia somente poderá realizar o seu trabalho se houver um processo estratégico que leve em conta primeiramente as características individuais de quem aprende, logo, o compromisso com a melhoria constante dos modelos de aprendizagem torna-se uma prática que deve ser adotada. Para Barni e Rodrigues(2010), autoras que também estudam o tema, a pergunta feita no tópico anterior – sobre quem é o psicopedagogo institucional e qual é a sua função – surge a partir de uma proposta de trabalho interdisciplinar. Você já ouviu falar em interdisciplinar ou interdisciplinaridade? Imagina o que significa? Consegue pensar em exemplos ou situações que remetam a interdisciplinaridade? https://www.youtube.com/watch%3Fv%3DTXi3lD3nhsM 9 Assim, as autoras afirmam que o objetivo do psicopedagogo é: [...] conduzir a criança ou adolescente, o adulto ou a instituição a reinserir-se, reciclar-se numa escolaridade normal e saudável, de acordo com as possibilidades e interesses da sociedade que está inserida (BARNI; RODRIGUES, 2010). Pelo menos aparentemente, fazer a intervenção sugerida parece não ser algo tão fácil, afinal de contas cada instituição possui sua proposta pedagógica, e esta particularidade precisa ser respeitada. Segundo Barni e Rodrigues (2010), as intervenções precisam antes de qualquer coisa respeitar os valores essenciais envolvidos, levando em conta, entre outras coisas, o local onde essa instituição escolar está. Para as autoras, é preciso que o psicopedagogo entenda seu papel no que diz respeito a ser o elo entre a escola e a sociedade, adotando uma postura voltada para a parceria, que pode ser feita de maneira eficiente a partir da realização de reuniões, feiras, grupos de estudo ou de outras formas de estabelecer essa ligação. Na visão de Fagali (1998), a ênfase do trabalho da psicopedagogia na atuação institucional está centrada na construção de conhecimentos que devem ser desenvolvidos com o pensamento voltado para a prevenção. Diversas são as frentes institucionais em que esse trabalho pode ser conduzido e realizado, sempre tendo em mente que o objetivo principal é evitar o desenvolvimento de possíveis problemas relacionados a aprendizagem, ou ainda de situações que de alguma maneira possam comprometer o processo educativo (FAGALI, 1998). Bossa (2007) propõe três níveis de intervenção psicopedagógica quando se pensa na atuação do psicopedagogo, vamos observar cada um deles separadamente: Primeiro nível No primeiro nível, a atuação do psicopedagogo se da junto aos processos educativos com o objetivo principal de evitar os possíveis problemas de aprendizagem. Essa ação acontece de fato a partir de uma proposta de trabalho que leve em consideração as questões didático-metodológicas, além da formação e da orientação dos professores envolvidos. Seria interessante ainda considerar um programa de aconselhamento aos pais; Segundo nível No segundo nível, os objetivos principais são, ao mesmo tempo, diminuir e tratar os problemas de aprendizagem diagnosticados e que de alguma forma já se encontram instalados. A ideia aqui é elaborar um diagnóstico que apresente a realidade institucional e, a partir dos resultados observados, torna-se possível elaborar planos de intervenção. Deve-se ainda considerar o plano do currículo e o trabalho dos docentes, pois dessa forma se reduz a possibilidade de novos problemas ou transtornos; 10 Unidade: Intervenções em psicopedagogia institucional: diferentes perspectivas Terceiro nível O objetivo nesse nível é a eliminação dos transtornos que por ventura já estejam instalados. Para efeito de prevenção, o ideal seria buscar formas de evitar que novos transtornos apareçam, sejam eles decorrentes dos problemas detectados ou ainda de novos problemas. Barni e Rodrigues (2010) lembram, no entanto, que no que concerne à intervenção, o papel do psicopedagogo vai muito além do diagnóstico psicopedagógico, sendo necessária uma leitura mais abrangente do todo. As autoras completam seu pensamento dizendo que essa leitura abrangente do todo se estabelece desde a construção ou reconstrução do projeto pedagógico até o momento de intervenção propriamente dita, porém, só há como fazer intervenções após um diagnóstico que apresente a real situação a ser enfrentada. Mas há uma fase anterior à intervenção, seja ela clínica ou institucional, que não deve de maneira nenhuma ser esquecida, que é a avaliação psicopedagógica, que de modo geral sempre precede uma queixa. Assim diante das diversas possibilidades de intervenção psicopedagógica, podemos constatar que no Brasil os recursos mais utilizados para a avaliação na instituição, têm sido as entrevistas, as observações, os inventários, as pesquisas, as dinâmicas grupais e em especial os jogos pedagógicos (PERES; OLIVEIRA, 2007). O aprender no mais amplo sentido da palavra deve ser um dos objetivos principais da intervenção pedagógica, e isso deve ser feito a partir da utilização de práticas educativas que estimulem e impulsionem o aprendizado, eliminando ou diminuindo as possíveis dificuldades que surgirem durante o processo ensino-aprendizagem. Dificuldades de aprendizagem e as intervenções psicopedagógicas Antes de iniciarmos as discussões sobre as dificuldades de aprendizagem e as intervenções psicopedagógicas, entendemos ser pertinente uma breve retomada de conceitos sobre o que é a aprendizagem. É possível encontrar na literatura disponível diversos autores e, consequentemente, diversas definições para aprendizagem, no entanto, utilizaremos aqui a definição de Porto (2009): [...] se trata de uma mudança de comportamento e aqui precisamos entender comportamento no sentido mais amplo que esta palavra possa dar. O termo, portanto, não se aplica só as ditas aprendizagens escolares. Aprendizagem é fenômeno do dia a dia que ocorre desde o início da vida. A aprendizagem é um processo fundamental, pois todo indivíduo aprende e, por meio deste aprendizado, desenvolve comportamentos que possibilitam viver. Todas as atividades e as realizações humanas exibem os resultados de aprendizagem (PORTO, 2009, p. 41). 11 Sugestão de filme: A Psicologia Educacional e Escolar em São Paulo: construção de um Novo Homem (46:02 min). Os primeiros professores concebiam que as dificuldades de aprendizagem eram só do aluno, portanto, a escola e a sociedade eram isentas de culpa. Depois, o aluno deixou de ser problema e a responsabilidade recaiu na escola. Até que professor e escola passaram a ser vistos como parte de um todo, a sociedade, esta sim, a principal responsável pelo não aprendizado dos alunos. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=Dar86zYdCnc Acessado em: jan. de 2015. Não se deve esquecer, porém, como salienta Serra (2004), que cada pessoa tem seus próprios meios de aprender e consequentemente construir seu próprio conhecimento. Outro ponto importante em relação à aprendizagem e que também não pode ficar em segundo plano é o fato de que ela acontece quando o indivíduo adquire o conhecimento pertinente, que até então ele não conhecia, e pelo fato de parecer possível afirmar que a aprendizagem é um processo importante na vida dos seres humanos. Por conta disso, cada vez mais as escolas têm investido em técnicas que criem condições para que isso aconteça (NASCIMENTO, 2010). De acordo com Sampaio (2009), os problemas e/ou distúrbios de aprendizagem podem acontecer devido a diversos fatores, como por exemplo, os fatores orgânicos (saúde física, problemas neurológicos ou de alimentação inadequada), fatores psicológicos (inibição, ansiedade, angústia, sentimento de rejeição), fatores ambientais (grau de estímulo recebido enquanto criança, educação familiar), entre outros. Mas os obstáculos encontrados no processo de aprendizagem podem também ser divididos em três diferentes tipos, conforme aponta Visca (1991), observe: Obstáculos epistêmicos: esse tipo de obstáculo comum no processo de aprendizagem diz respeito ao fato de que ninguém pode aprender acima do nível de estrutura cognitiva que possui. Está diretamente relacionado com uma estrutura cognitiva defasada, quando observada em relação a idade cronológica do indivíduo; Cognitivo: a. 1. Ref. à cognição, capacidade de aquisição de conhecimento, ou ao conhecimento: desenvolvimentocognitivo humano. 2. Ref. à função e ao processo mental do tratamento das informações (percepção, memória, raciocínio, etc.). 3. Psi. Ref. aos processos da mente envolvidos na percepção, na representação, no pensamento, nas associações e lembranças, na solução de problemas, etc. [F.: Do lat. cognitus + -ivo.] https://www.youtube.com/watch%3Fv%3DDar86zYdCnc 12 Unidade: Intervenções em psicopedagogia institucional: diferentes perspectivas Obstáculos epistemofílicos: basicamente associado à falta de amor que o indivíduo tem pelo conhecimento; Obstáculos funcionais: referem-se ao conjunto de obstáculos que podem estar associados a causas emocionais ou a causas estruturais, dependendo do momento em que aparecerem (VISCA, 1991). Weiss (2003), no entanto, relaciona ainda alguns aspectos que, segundo ele, ajudam a construir uma visão plena do indivíduo, observe: Aspectos orgânicos: são aqueles que de alguma forma estão ligados à construção biofisiológica do indivíduo – por exemplo, a afasia ou a disfasia, aspectos que podem (ou não) causar algum tipo de problema de leitura; Aspectos cognoscitivos: são os aspectos relacionados com o desenvolvimento de estruturas que incluem a memória, atenção, antecipação, entre outras; Aspectos emocionais: esses aspectos estão diretamente atrelados às relações afetivas e suas conexões com a construção do conhecimento; Aspectos sociais: nesse tipo de aspecto sugerido pelo autor estão relacionadas as perspectivas onde se inserem a família e a escola; Aspectos pedagógicos: que são os fatores que podem de alguma forma interferir (de maneira positiva ou negativa) no processo e na própria aprendizagem. Alguns exemplos desses fatores são os tipos de avaliações, as metodologias de ensino, a organização, etc. (WEISS, 2003). Nascimento (2010) aponta para o fato de que durante muito tempo as causas de problemas de aprendizagem foram associadas principalmente aos aspectos orgânicos, mas que essa forma de ver e entender o problema começou a mudar a partir dos estudos que aconteceram principalmente na área da saúde mental. Para a autora, os aspectos orgânicos também podem ser fatores que levem o indivíduo a ter algum tipo de dificuldade de aprendizagem, porém não são fatores principais, encontrados na maioria dos casos. Na verdade, existem muitos outros aspectos que podem dificultar a aprendizagem do indivíduo, como explica Bossa (2000). Para a autora, o indivíduo pode não aprender, por exemplo, porque: • Para o indivíduo a escola não é importante, ou quando criança a família não conseguiu lhe mostrar essa importância; • Também é comum indivíduos em idade escolar pensarem que não precisarão estudar para serem bem sucedidos, pois também seus pais não precisaram; • Em alguns casos, o próprio profissional responsável pelo processo de aprendizagem, o professor, não gosta da profissão ou não está preparado, e isso pode refletir negativamente no processo ensino-aprendizagem, etc. Para a autora, existem diversos outros fatores que podem levar o indivíduo a ter dificuldade de aprendizagem, e por esse motivo as intervenções psicopedagógicas são tão importantes e necessárias; mas é como nos lembra Nascimento (2010): 13 O aprender requer desejo, considerando a energia necessária para um bom funcionamento cognitivo. Portanto cabe a escola despertar esse desejo nos alunos dando aprendizagem, significado e atribuindo a ela sua importância. Assim o professor deve eleger as melhores formas para que a aprendizagem seja significativa (NASCIMENTO, 2010). Talvez uma das melhores formas de aprendizagem sugerida pela autora esteja atrelada à utilização de grupos no processo ensino-aprendizagem, pois, como já foi amplamente discutido nas unidades anteriores, o ensinar e o aprender podem ser facilitados quando se tem mais de uma pessoa pensando e buscando alternativas e/ou soluções para um mesmo problema. O psicopedagogo e a utilização de grupos Sempre que pensamos na utilização de grupos para a execução de um trabalho, lembramos daqueles professores que costumam dizer: “Vocês professores da área de humanas sempre terão aulas garantidas para falar sobre o trabalho em equipe, pois as pessoas nunca aprenderão o real significado desse conceito”. É claro que não compactuamos com essa afirmação, mas uma coisa precisa ser dita: trabalhar com outras pessoas dentro de um grupo realmente não é algo fácil, mas é por muitas vezes necessário, como descreve Barbosa (2009): O espírito do grupo é este: transcender o individual, oportunizar a percepção e a vivência de todos como parte de um todo, como representantes desse todo e, ao mesmo tempo, como sujeitos. No entanto, para essa transcendência, faz-se necessário um percurso que não é suave, nem fácil, nem romântico. A vivência em grupo não é mágica, e sim exige muitas transformações e, portanto, muita dor (BARBOSA, 2009). Para a autora, o agrupamento de pessoas puro e simples não caracteriza a formação de um grupo. Como já foi abordado em outra unidade, para que aja o real conceito de grupo, todas as pessoas que fazem parte desse agrupamento devem, acima de tudo, terem os mesmos objetivos. Para Barbosa (2009), a psicopedagogia em grupo, no grupo e com o grupo tem como objetivo principal proporcionar aos indivíduos, chamados por ela de aprendizes, a possibilidade de aprender a pensar, a tecer, em grupo, transcendendo assim o coletivo em detrimento do conhecimento conjunto, de todos e para todos, ao invés do pensar individual. Assim, ainda segundo a autora, o aprender deixa de ser simplesmente o ato de todos fazerem a mesma coisa, do mesmo jeito e ao mesmo tempo, pois o grupo deve possuir, como já foi dito, uma tarefa e um objetivo comum, e todos devem contribuir com suas melhores competências, ou seja, com o que sabem fazer de melhor para a sua efetivação. 14 Unidade: Intervenções em psicopedagogia institucional: diferentes perspectivas A Psicopedagogia no âmbito grupal pode ser realizada: diretamente com grupos de aprendizes, no espaço da clínica ou da escola; junto aos educadores, como instrumento de formação contínua; como instrumento de formação de coordenadores de grupos; ou ainda na formação de psicopedagogos para a participação de equipes profissionais (BARBOSA, 2009). Para a autora, uma maneira eficiente de o psicopedagogo dar início à modalidade de aprendizagem em grupo e, a partir daí, passar a utilizá-la em locais ou em situações onde o individualismo prevalece ou é mais facilmente evidenciado, é adotar uma postura grupal, ou como a própria autora denomina, “lançar sementes de grupalidade”. Isso pode ser feito a partir de ações extremamente simples. O simples fato de conhecer e chamar as pessoas pelo nome tem se mostrado um exercício eficiente, ainda que embrionário, na formação de um grupo (BARBOSA, 2009). O conhecimento e o reconhecimento, num conjunto de pessoas, fazem com que o comprometimento apareça e envolva as pessoas em direção a uma tarefa comum (BARBOSA, 2009). A autora prossegue seu pensamento dizendo que provocar as pessoas para a ação grupal, coletiva, é possível, importante e pode significar, entre outras coisas, um avanço nas relações humanas; mas para que isso seja possível é preciso formação pessoal. Se os grupos de aprendizagem forem compostos, por exemplo, apenas por professores ou por indivíduos interessados na formação em Teoria e Técnicas de Grupos Operativos, sugere-se agrupar as pessoas a partir de algumas características, por exemplo: pessoas interessadas pelo mesmo tema (homogeneidade), mas com formações e experiências diferentes (heterogeneidade). Esse tipo de ação tende a enriquecer o grupo (BARBOSA, 2009). Caso o grupo em questão seja composto por pessoas que possuam a mesma formação ou profissão, a autora sugere que o critério de heterogeneidade que deve ser adotado nesses casos é o da idade de seus participantes, pois, de acordo com sua visão, pessoas com idades diferentes podem apresentar experiências diferentespor terem acontecido em tempos e espaços igualmente diferentes, possibilitando um momento maior de aprendizagem em grupo. Não podemos esquecer também a importância do coordenador de grupos de aprendizagem – por exemplo, se pensarmos na aprendizagem da leitura dos sinais que um determinado grupo emite, bem como na compreensão do que se lê e da intervenção a partir do que é lido, a tarefa do coordenador de grupos de aprendizagem se torna evidente. O coordenador de grupos de aprendizagem O coordenador do grupo, como foi definido por Pichon-Rivière (1988), tem a possibilidade de observar diferentes visões relacionadas ao grupo de trabalho; porém, segundo Barbosa (2009), a mais difícil e talvez a mais eficiente seja a possibilidade de sair do centro e, com isso, poder 15 acreditar que o grupo seja capaz de realizar a tarefa proposta a partir das contribuições que cada membro for capaz de trazer para o coletivo. De modo geral, o coordenador terá como função primordial, favorecer o trabalho do grupo, tendo em vista os objetivos constituintes do mesmo. Questões operacionais, como o cumprimento do contrato inicial e regras estabelecidas pelo próprio grupo em andamento, bem como “lembrar” o grupo os motivos que reuniu os participantes, são atribuições do coordenador, que poderá contar com a ajuda de auxiliar (es) nesta função (CARNIEL, 2008). Em outras palavras, o coordenador tem a responsabilidade de ordenar e de pensar junto sempre que for necessário, ou seja, ordenar e pensar junto que, na verdade, é “co-ordenar”. Já o “co-pensar” está diretamente ligado às ações realizadas por intermédio das intervenções propriamente ditas (BARBOSA, 2009). As possibilidades de avaliação e intervenção dos grupos operativos na psicopedagogia Todos os sintomas percebidos e registrados em uma queixa, a priori, originam-se das observações desencadeadas na própria instituição (BARBOSA, 2001). Mas, tanto as avaliações quanto as intervenções são diferentes, dependendo do país de que estivermos falando – na Argentina, por exemplo, a prática utilizada pelo psicopedagogo, tanto na intervenção clínica quanto na institucional, é a utilização de diversos testes que são instrumentos para avaliar o aluno, porém, o ponto de referencia utilizado para o atendimento em qualquer circunstância se baseia fundamentalmente na família e na escola (PERES; OLIVEIRA, 2007). Você sabia que, de modo geral, na Argentina as propostas de intervenção têm inicio a partir de entrevistas que podem ser tanto estruturadas como semiestruturadas com os pais ou com familiares, e também com os professores ou com os coordenadores da escola, além do próprio aluno? (PERES; OLIVEIRA, 2007). Peres e Oliveira (2007) explicam porque o processo na Argentina funciona dessa forma. As autoras dizem que as entrevistas com os pais visam a conhecer o histórico de vida do aluno e, nesse caso, os pais constituem peça fundamental no entendimento das relações que se encontram entre essas histórias. Com relação às entrevistas realizadas com os docentes, as autoras informam que o seu objetivo é colher informações sobre o processo de ensino-aprendizagem, colher maiores informações sobre a proposta da instituição, sua metodologia, avaliação, sobre o material didático disponível e utilizado e, principalmente, entender como funcionam as relações professor x alunos e entre os alunos. 16 Unidade: Intervenções em psicopedagogia institucional: diferentes perspectivas Já a entrevista inicial com o próprio aluno tem por objetivo, entre outras coisas, poder levantar hipóteses sobre os comportamentos, relacionamentos, interesses e até sobre as possibilidades de se manter em silêncio em face de questões mais polêmicas, ou as quais os alunos simplesmente, por algum motivo, não querem responder (PERES; OLIVEIRA, 2007). As autoras informam ainda que o psicopedagogo argentino também faz uso de alguns instrumentos específicos de avaliação, que possibilitarão nortear as possíveis propostas de intervenções psicopedagógicas, por exemplo: testes de inteligência; provas de nível de pensamento, também conhecidas como piagetianas; avaliação do nível pedagógico; avaliação perceptomotora; testes projetivos; testes psicomotores entre outros. Quando observamos os diferentes tipos de recursos disponíveis e utilizados na Argentina em comparação com a realidade psicopedagógica disponível no Brasil, é possível perceber que ainda há muito a avançar por aqui. Peres e Oliveira (2007) apontam para o que talvez possa ser considerada a maior diferença relacionada à avaliação e intervenção pedagógica entre os dois países: a formação do psicopedagogo. Para as autoras, os cursos de formação para psicopedagogos na Argentina são montados com disciplinas comuns nos dois primeiros anos dos cursos de psicologia e psicopedagogia. Outro diferencial apontado pelas autoras é o fato de que os currículos dos cursos de psicopedagogia disponibilizam uma carga horária bastante significativa – no que diz respeito a disciplinas técnicas de diagnóstico psicopedagógico, diagnóstico psicopedagógico institucional, intervenção psicopedagógica em instituições escolares, entre outras disciplinas. Isto, dentre outros fatores, favorece a possibilidade da liberação do o uso de testes tanto para os psicólogos como para os psicopedagogos argentinos, além de propiciar uma melhor possibilidade de preparação para o exercício profissional (PERES; OLIVEIRA, 2007). As autoras completam seu raciocínio informando que aqui no Brasil os testes psicológicos, de inteligência, projetivos, entre outros, utilizados para avaliação só podem ser realizados por psicólogos. No Brasil não é permitido ao psicopedagogo recorrer a muitos dos instrumentos que são de uso do psicólogo. O psicopedagogo, que não tem formação em psicologia, quando a situação requer, solicita ao psicólogo ou, dependendo do caso, a outros profissionais (neurologistas, fonoaudiólogos, psiquiatras), habilitados e de sua confiança, as informações necessárias para completar o seu diagnóstico (BOSSA, 2007). Sugestão de leitura: Avaliação Psicopedagógica da Aprendizagem - Psicologia e Psicopedagogia. Editora Casa do Psicólogo. Ano: 2013 Obra de natureza didática, com aspectos que envolvem psicologia, sociologia e psicopedagogia. Uma compreensão atual dos fatores intervenientes no processo de aprender, que possibilitam as formas de interação da pessoa no mundo. 17 Mas as intervenções de grupos operativos podem acontecer também no mundo corporativo, como mostra Carniel (2008) em seus estudos sobre avaliações e intervenções em grupos operativos. A autora apresenta um exemplo prático de intervenção grupal também no âmbito organizacional, a constituição de um grupo para a seleção de um candidato para uma determinada posição (vaga) aberta por uma empresa em relação aos outros que também participam do processo de seleção. Para a autora, os resultados obtidos deverão ser analisados a partir de intervenções do coordenador do grupo, com o objetivo principal de trazer à tona as características que estejam mais alinhadas às especificações do cargo cuja vaga deverá ser ocupada. Através de atividades grupais, os chamados exercícios de dinâmica de grupos ou reflexões sobre temas específicos, são avaliados os integrantes em suas mais diversas manifestações: verbais, corporais, afetivas, inter-relacionais (CARNIEL, 2008). Para a autora, uma maneira de realizar esse tipo de trabalho é a utilização de grupos focais, que, como o próprio nome indica, tem seu foco em determinados aspectos, de acordo com as necessidades de quem propõem sua formação. Os grupos focais, quando pensados para atender uma necessidade clínica, podem, por exemplo, atuar com o foco voltado para queixas específicas, que podem desde o início ser trazidas por seus integrantes. Já no contexto educacional, os grupos focais também podem ser utilizados tanto para a discussão quanto para a reflexão de temas que, de alguma forma, sejam de interessede um determinado universo de pessoas, além de poderem ser utilizados também nos trabalhos voltados para a orientação, por exemplo, de escolhas profissionais (CARNIEL, 2008). Enfim, após quatro unidades abordando questões referentes à utilização de grupos operativos para que fosse possível ampliar sua visão a respeito do processo de ensino-aprendizagem, cremos que seja possível finalizar dizendo que, além das diversas vantagens percebidas durante todas as unidades estudadas, é possível também incluir como vantagem desses grupos a otimização do tempo, o que nos dias de hoje parece ser fundamental para alcançarmos bons resultados – sejam eles organizacionais, pessoais ou educacionais. 18 Unidade: Intervenções em psicopedagogia institucional: diferentes perspectivas Considerações Finais Nesta unidade, você começou a entender que: • Os grupos operativos podem intervir de maneira positiva e, dessa forma, auxiliar a psicopedagogia a alcançar resultados; • Quando acontece no ambiente escolar, a psicopedagogia é chamada de psicopedagogia institucional; • A psicopedagogia institucional tem um papel crucial na ação preventiva; • A psicopedagogia é uma área do conhecimento que tem por objetivo proporcionar o diálogo entre as áreas da educação e da saúde; • É preciso que o psicopedagogo entenda seu papel no que diz respeito a ser o elo entre a escola e a sociedade; • Bossa (2007) propõe três níveis de intervenção psicopedagógica quando se pensa na atuação do psicopedagogo: 1. No primeiro nível, a atuação do psicopedagogo se dá junto aos processos educativos; 2. No segundo nível, os objetivos principais são, ao mesmo tempo, diminuir e tratar dos problemas de aprendizagem diagnosticados; 3. No terceiro nível, o objetivo é a eliminação dos transtornos que por ventura já estejam instalados; • É possível encontrar na literatura disponível diversos autores e consequentemente diversas definições para a aprendizagem; • Cada pessoa tem seus próprios meios de aprender; • Os problemas e/ou distúrbios de aprendizagem podem acontecer devido a diversos fatores; • O aprender requer desejo, considerando a energia necessária para um bom funcionamento cognitivo; • O agrupamento de pessoas puro e simples não caracteriza a formação de um grupo; • O conhecimento e o reconhecimento, num conjunto de pessoas, fazem com que o comprometimento apareça; • O coordenador tem a responsabilidade de ordenar e de pensar junto sempre que for necessário; • As intervenções são diferentes dependendo do país sobre o qual estivermos falando; • No Brasil, não é permitido ao psicopedagogo recorrer a muitos dos instrumentos que são de uso do psicólogo; • No contexto educacional, os grupos focais também podem ser utilizados tanto para a discussão quanto para a reflexão de diferentes temas. 19 Referências BARBOSA, L. 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