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TCC 2021 FINALIZADO

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CENTRO UNIVERSITÁRIO SALESIANO DE SÃO PAULO UNISAL – CAMPUS LICEU
Kelly Alves dos Santos
ACÓRDÃO CONFIRMATÓRIO DE SENTENÇA PENAL CONDENATÓRIA COMO MARCO DE INTERRUPÇÃO PRESCRICIONAL
CAMPINAS
2021
Kelly Alves dos Santos
ACÓRDÃO CONFIRMATÓRIO DE SENTENÇA PENAL CONDENATÓRIA COMO MARCO DE INTERRUPÇÃO PRESCRICIONAL
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como exigência parcial para a obtenção do grau de Bacharel no curso de Direito no Centro Universitário Salesiano de São Paulo.
 Orientadora: Paula da Cunha Bozzi
CAMPINAS
2021
Kelly Alves dos Santos
ACÓRDÃO CONFIRMATÓRIO DE SENTENÇA PENAL CONDENATÓRIA COMO MARCO DE INTERRUPÇÃO PRESCRICIONAL
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como exigência parcial para a obtenção do grau de Bacharel no curso de Direito no Centro Universitário Salesiano de São Paulo.
Orientadora: Paula da Cunha Bozzi
Trabalho de Conclusão de Curso defendido e aprovado em pela comissão julgadora:
Prof.
(Centro Universitário Salesiano de São Paulo)
Prof.
(Centro Universitário Salesiano de São Paulo)
Dedico este trabalho a todos aqueles que de alguma forma contribuiram para o meu sucesso.
AGRADECIMENTOS
Agradeço primeiramente a Deus por ter proporcionado saúde е força para alcançar mais esta conquista. Agradeço a ele por minha vida, pela vida da minha família е amigos. Agradeço por permitir que tudo isso acontecesse no tempo certo.
Agradeço aos meus pais, pelo amor, incentivo е apoio incondicional. A minha mãe Irenilde, heroína que me apoiou, e incentivou nas horas difíceis, de desânimo е cansaço. Ao meu pai José que em todas as horas me deu o suporte necessário.
Obrigada minhas irmãs, que nos momentos de minha ausência dedicados aos estudos, sempre compreenderam e por vezes me esperaram para compartilhar momentos.
Agradeço em especial a meu noivo Marcos, por ter abraçado esta meta e ter travado lado a lado comigo esta batalha.
Agradecimento à Unisal pelo compromisso com o qual me recebeu, propiciando um ambiente de aprendizagem sadio e eficaz.
Agradecimento a todo corpo docente que com comprometimento e eficiência me conduziu até aqui, abrindo o horizonte de conhecimento e sonhos. 
Agradeço minha orientadora, Professora Paula da Cunha Bozzi, por partilhar seu conhecimento e oferecer com tanta doçura sua ajuda na elaboração deste trabalho.
Meus agradecimentos aos amigos que conheci na faculdade e que fizeram parte da minha formação е que vão continuar presentes em minha vida.
 	Gratidão a todos que direta ou indiretamente fizeram parte da minha formação, evolução e crescimento como ser humano.
RESUMO
O presente trabalho tem por objetivo um estudo sobre o acordão confirmatório de sentença penal condenatória, caracterizar, ou não, causa interruptiva do prazo prescricional. A polêmica surgiu, em função de uma alteração legislativa de 2007 sobre o artigo 117 do Código Penal, especificamente no inciso IV, que incluiu como causa interruptiva de prescrição o acórdão condenatório recorrível. Antes da alteração, o inciso IV considerava entre as causas interruptivas apenas “sentença condenatória recorrível”. Com a nova redação, a prescrição se interrompe “pela publicação da sentença ou acórdão condenatórios recorríveis”. Destarte, o presente estudo, através da metodologia de pesquisa bibliográfica, e da analise da jurisprudência, buscar-se-á, como correto instrumento de efetivação de direitos e garantias fundamentais, discorrer sobre o fenômeno da prescrição penal.
Palavras-chave: Prescrição. Causa interruptiva. Acordão confirmatório de sentença penal condenatória.
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO	7
2 O PODER DE PUNIR DO ESTADO	8
2.1 Limitação ao poder de punir do Estado	8
2.1.1 Principio da legalidade	9
2.1.2 Principio da razoável duração do processo	10
3 PRESCRIÇÃO PENAL	12
3.1 Histórico da prescrição penal	12
3.2 Conceito e Natureza Jurídica da prescrição penal	13
3.3 Fundamentos da prescrição	14
3.4 Modalidades da prescrição penal	14
3.5 Causas interruptivas da prescrição penal	17
4 O ENTEDIMENTO FIRMADO PELO STF NO TOCANTE À POSSIBILIDADE DE INTERRUPÇÃO DO PRAZO PRESCRICIONAL PELA PUBLICAÇÃO DE ACÓRDÃO CONFIRMATÓRIO DE CONDENAÇÃO	20
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS	24
REFERÊNCIAS	25
1 INTRODUÇÃO
	Muitos são os direitos conferidos ao acusado no Processo Penal, de modo que não pode o Estado manter a ameaça de um processo ou de uma sanção sobre o indivíduo ad eternum. Nessa perspectiva, o Estado deve prestar a tutela jurisdicional tempestiva, uma vez que o cidadão tem o direito não somente de buscar essa pretensão, mas também de tê-la efetivamente, assegurando a garantia da razoável duração do processo, estabelecido pela constituição no rol de direitos e garantias fundamentais (art. 5º, inciso LXXVIII). Assim, a proteção da liberdade, deve ser entendida como um bem jurídico de extrema relevância, sendo que a supressão ou mitigação somente pode se dar por meio do direito penal, após um devido processo legal, pois, devem ser respeitadas todas as garantias fundamentais concernentes ao indivíduo, funcionando como proteção ao arbítrio do poder punitivo estatal. 
	Ademais, o Estado-juiz tem um tempo fixo para exercer regularmente o Direito de punir (ius puniendi). A não observância dessa limitação temporal que encontra previsão no artigo 109 do Código Penal, e que tem como regra o máximo da pena prevista no preceito secundário da norma penal incriminadora (norma in abstrato), importará na extinção da punibilidade do acusado, posto que a prescrição é uma causa extintiva da punibilidade, nos termos do artigo 107 do Código Penal.
	Ante o exposto, através da metodologia de pesquisa bibliográfica, com analise pontual da jurisprudência, buscar-se-á, com a visão do processo penal, como correto instrumento de efetivação de direitos e garantias fundamentais, discorrer sobre o fenômeno da prescrição penal e seus efeitos. Divide-se em duas partes o presente trabalho: na primeira, em subtítulos dogmaticamente distribuídos, as principais características do instituto, tais como conceito, natureza jurídica, fundamentos, e causas interruptivas da prescrição.
	A segunda e última, será dedicado ao estudo da prescrição penal, acerca do recente posicionamento do STF, que de forma contrária aos escopos jurídicos próprios da noção de prescrição penal, como garantia do indivíduo a ter um processo de razoável duração, passou a entender que acórdão confirmatório de sentença penal condenatória interrompe o curso da prescrição penal (CP, art. 117, IV), de modo que amplia ilegitimamente o marco temporal estabelecido ao Estado para iniciar e concluir a persecução penal dentro das balizas constitucionais.
2 O PODER DE PUNIR DO ESTADO 
O direito penal, é um conjunto de normas e princípios, que tem como objetivo regular a proteção dos valores dos indivíduos e da sociedade, bem como limitar o direito de punir visando promover a paz social.
O direito de punir surgiu com o direito penal que, por sua vez, nasceu com a sociedade (ubi societas ibi jus). Atualmente o Estado exerce seu direito de punir através de três poderes: Legislativo, Executivo e Judiciário, sendo o direito de punir monopólio do Estado, detentor legitimo do jus puniendi. No entanto, este não é absoluto, existindo limites ao poder de punir estatal.
O direito de punir estatal está limitado quanto ao modo, pois deverá respeitar os direitos e garantias fundamentais. Assim, mesmo nos casos em que o legislador se encontre constitucionalmente autorizado a editar normas restritivas, permanecerá vinculado à salvaguarda do núcleo essencial dos direitos, liberdades e garantias do homem e do cidadão. Encontra limites quanto ao espaço, pois, em regra, aplica-se a lei penal brasileira aos fatos cometidos no território nacional. Além disso, em relação ao limite temporal, o direito de punir do Estado não é eterno, sendo o instituto da prescrição o exemplo, haja vista tratar-seda perda da pretensão punitiva ou executória em razão do decurso do tempo.
Outrossim, o jus puniendi pode ser visto de duas formas: direito abstrato e o direito concreto. O direito abstrato impõe um poder-dever para o Estado, no qual o cidadão precisa cumprir o mandamento que está descrito na norma penal, ou seja, a “contrário senso”, o cidadão tem o dever de não cometê-las, caso haja infração, o Estado passa a ter o direito concreto de punir o indivíduo. 
2.1 Limitação ao poder de punir do Estado
	Tendo em vista que o Estado detém o monopólio do direito de punir, e poderia se tornar autoritário, e extrapolar esse dever, há algumas limitações estabelecidas através de balizas normativas, formadas por postulados, princípios e regras, tais como a legalidade, a duração razoável do processo, e todos os demais direitos e garantias fundamentais como a dignidade da pessoa humana.
2.1.1 Principio da legalidade
O princípio da legalidade está consagrado na Constituição Federal em seu artigo 5º, II que prevê que: “Ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei”; e, ainda, no inciso XXXIX, o qual preceitua: “Não haverá crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem prévia cominação legal”. Mantendo seu grau de importância na defesa da liberdade, o Código Penal também estabelece em seu artigo 1º: “Não há crime sem lei anterior que o defina. Não há pena sem previa cominação legal”. Nessa acepção, pode-se dizer que, via de regra, é vedado a criação de leis penais que incidam sobre fatos anteriores a sua vigência. 
Para o doutrinador Guilherme de Souza Nucci: 
A legalidade em sentido estrito ou penal guarda identidade com a reserva legal, vale dizer, somente se pode considerar crime determinada conduta, caso exista previsão em lei. O mesmo se pode afirmar para a existência da pena (NUCCI, 2019, p.159).
Dessa forma, o princípio da legalidade impõe uma limitação na aplicação das sanções penais de acordo com a previa e expressa determinação legal, de modo que a punição do indivíduo precisa ser precedida por uma norma que a incrimine, impedindo que o poder punitivo estatal esteja baseado no livre arbítrio. Destarte, resta evidente que dentro de um Estado Democrático de Direito, o princípio da legalidade desempenha a função de garantir a liberdade do indivíduo frente ao poder estatal, uma vez que a partir do momento que alguém é punido pela pratica de um delito previamente descrito pela lei como uma conduta criminosa, a sociedade fica protegida contra o poder arbitrário do Estado-Juiz em seu direito à liberdade.
A lei deve definir de forma clara e precisa a conduta proibida, deve ser certa, específica, e que o destinatário da lei possa compreende-la. No entanto, caso não exista certeza a respeito do que dispõe o preceito legal, sendo possível duas interpretações, deve prevalecer a que beneficie o réu.
De acordo com Rogério Greco: 
[...] é terminantemente proibido, em virtude do princípio da legalidade, o recurso à analogia quando esta for utilizada de modo a prejudicar o agente, seja ampliando o rol de circunstâncias agravantes, seja ampliando o conteúdo dos tipos penais incriminadores, a fim de abranger hipóteses não previstas expressamente pelo legislador etc. (GRECO, 2017, p.123)
Portanto, a proibição da aplicação da analogia em desfavor do acusado, analogia “in malam partem”, também decorre do princípio da legalidade, e consiste em um método de suprir a lacuna da lei, aplicando uma disposição legal que regula casos semelhantes. Ocorre que a analogia não é totalmente extirpada da seara penalista, sendo cabível a sua modalidade denominada “in bonam partem”.
Dessa forma, a aplicação da lei deve ser inflexível aos casos que possa haver prejuízo ao indivíduo, porém, essa inflexibilidade pode ser abrandada quando se refere a situações em que haja benefícios ao réu, posto que seu objetivo é o de proteger o réu em face do jus puniendi do Estado. O Estado ao exercer seu direito de punir, lida com os valores mais importantes do homem, de modo que para evitar a violação aos diretos fundamentais é necessário a observância dos direitos individuais.
Ademais, deve-se reconhecer a importância do princípio da legalidade no Direito Penal, visto que é a segurança máxima contra o Estado, assumindo juntamente com os demais princípios constitucionais, tais como do devido processo legal, da ampla defesa, do contraditório etc. a função de impedir que se instale a insegurança jurídica.
2.1.2 Principio da razoável duração do processo
	Uma das maiores preocupações do Estado moderno, no que se refere a função jurisdicional, é assegurar o acesso a uma ordem jurídica justa através da atuação do judiciário.
	Não se pode considerar justa, nessa linha de pensamento, simplesmente uma decisão que diga acertadamente o direito entre as partes; justa será uma decisão que diga acertadamente o direito entre as partes e que seja proferida dentro de um prazo razoável. Decisão correta tardia não é uma decisão justa. 
	Conforme dispõe o artigo 5º, inciso LXXVIII da Constituição Federal: “a todos, no âmbito judicial e administrativo, são assegurados a razoável duração do processo e os meios que garantam a celeridade de sua tramitação”.	A razoável duração do processo, entretanto, não pode ser vista exclusivamente como a adoção de medidas processuais para acelerar o processo. A celeridade processual, muitas vezes, não quer dizer que foi assegurado a parte o acesso a uma ordem jurídica justa. Esse equilíbrio da razoável duração do processo é algo complexo, isso porque se pode ter um processo célere, sem observar as garantias constitucionais do próprio processo, negando a uma parte envolvida direito procedimental que lhe seria licito. Assim, não se pode atropelar de forma desarrazoada atos processuais essenciais sem assegurar a todos um devido contraditório, um processo justo. E, portanto, não se pode mensurar o tempo que seria um processo de duração razoável. 
	Há situações em que o Poder Judiciário consegue decidir um processo sem ferir garantias constitucionais, de três a seis meses, por exemplo. Outras vezes, é possível que, dependendo da situação e da complexidade do caso, o processo dure mais de anos, ou seja, o que impacta negativamente no tempo do processo é o tempo morto em que o processo fica parado, e que deve ser combatido pelo Poder Judiciário.
	Assim, por mais complexa que seja a causa, é necessária uma atuação cognitiva do Magistrado dentro de um prazo razoável, a fim de se obter uma decisão justa, correta, e que carregue a aptidão para a efetivação do direito do cidadão, pois de nada adiantaria uma decisão justa que não tenha a sua viabilidade executiva. 
	Resta evidenciado que, o princípio da razoável duração do processo ao mesmo tempo que se impõe como um dever para o Estado-Juiz, é um direito assegurado ao cidadão.
3 PRESCRIÇÃO PENAL
	Nos subtópicos seguintes será analisado o instituto da prescrição penal: seus aspectos históricos, conceito, natureza jurídica, seus fundamentos, suas modalidades, bem como suas causas extintivas da punibilidade, nos termos do art. 107 do Código Penal.
3.1 Histórico da prescrição penal
	Historicamente, embora seja difícil determinar com precisão o momento histórico do surgimento da prescrição penal, tem-se que o instituto foi identificado primeiramente nas injunções romanas no século XVIII a.C., com a chamada “Lex Julia de Adulteriis” (lei de adultério)[footnoteRef:1], que vigorava na Roma antiga. Inicialmente fixava prazo prescricional de cinco anos para que o Estado pudesse perseguir e punir esse delito. Nessa época, a prescrição era vista como perdão atribuída aos crimes de menor gravidade. Os parâmetros para a liberação de um indivíduo, pelo decurso do tempo de cinco anos, foram ditados pelos costumes e cultura dos povos. [1: Trata-se da Lex Julia de Adulteriis (736 ou 737 A.C), sendo que a prescrição dos delitos nela sancionadas (adultério, estupro e lenocínio) ocorria, geralmente, em cinco anos. É aventada a hipótese de que o limite de cincoanos fora naturalmente preferido por ser este o tempo estabelecido para as festas lustrais, denotando que os romanos já associavam a prescrição à ideia de perdão, que as aparatosas cerimonias quinquenais da lustração simbolizavam. (FERRARI, 1998, p. 2)] 
	Com o passar do tempo o instituto da prescrição foi se incorporando, de modo que a prescrição da forma como hoje a conhecemos, adveio com a Revolução Francesa. As ideias de liberdade, igualdade e fraternidade, que inspirou o movimento revolucionário, demonstravam a necessidade de impor limites mais claros à atuação do poder estatal. Nesse sentido, a ideia que se tinha é que um criminoso não poderia ficar sujeito a responder por um crime durante toda a sua existência[footnoteRef:2]. [2: FARIA, Fernando Cesar de Oliveira e NUNES, Felipe Maia Broeto. O desacerto recente do STF e STJ sobre o tema de prescrição: acórdão confirmatório (não) interrompe prescrição?!. Disponível em: https://www.migalhas.com.br/depeso/313094/o-desacerto-recente-do-stf-e-stj-sobre-o-tema-de-prescricao--acordao-confirmatorio--nao--interrompe-prescricao. Acesso em: 20 abr. 2021.
] 
	No Brasil, a prescrição da ação penal foi adotada em 1830 no Código Penal, já quanto a prescrição da condenação, foi adotada no Código Penal a partir de 1890, e desde então, o instituto foi amplamente aceito. No entanto, há locais que não foi aceita, como por exemplo, a legislação inglesa, que por sua vez não prevê a prescrição da condenação, o que, na legislação brasileira, configura a prescrição da pretensão executória[footnoteRef:3]. [3: FARIA, Fernando Cesar de Oliveira e NUNES, Felipe Maia Broeto. O desacerto recente do STF e STJ sobre o tema de prescrição: acórdão confirmatório (não) interrompe prescrição?!. Disponível em: https://www.migalhas.com.br/depeso/313094/o-desacerto-recente-do-stf-e-stj-sobre-o-tema-de-prescricao--acordao-confirmatorio--nao--interrompe-prescricao. Acesso em: 20 abr. 2021.
] 
3.2 Conceito e Natureza Jurídica da prescrição penal 
A prescrição pode ser definida como a perda do direito de punir do Estado em virtude de um lapso temporal, bem como uma garantia individual de todo cidadão regulamentada pela Constituição Federal, que o protege contra o exercício arbitrário do poder de punir do Estado. 
Trata-se de uma garantia fundamental, direito de não ser processado, julgado ou executado, depois de um certo lapso temporal previsto para se extinguir a punibilidade.
Ao abordar o instituto, Guilherme de Souza Nucci o conceitua como sendo:
A perda do direito de punir do Estado pelo não exercício em determinado lapso de tempo. Não há mais interesse estatal na repressão do crime, tendo em vista o decurso do tempo e porque o infrator não reincide, readaptando-se à vida social (NUCCI, 2019, p.1297). 
A prescrição penal não se confunde com a prescrição civil, isso porque a prescrição civil protege outros bens jurídicos. Uma das principais distinções é que na prescrição o penal o Estado perde o direito punir, isto é, a prescrição atinge tanto a perseguição quanto o próprio direito. Enquanto que, 	na prescrição civil, perde-se o direito de ação, ou seja, não se extingue o direito, pois, apenas prescrevem a pretensão, de modo que violado o direito, nasce para o seu titular a pretensão que é extinta com a prescrição.
Perante o exposto, é importante saber se a prescrição penal é instituto de direito material ou processual. Existem controvérsias, pois, alguns defendem que, as normas que regulam a prescrição são de direito substantivo ou de natureza processual. Para os que sustentam que a prescrição é instituto de direito processual, entendem que ela suspende ou impede o desenrolar do processo. Já para os que defendem que a prescrição possui natureza penal, eles acreditam que ela tem fundamento na essência e no fim da pena, extinguindo o poder de punir do Estado. Prevalece a corrente que utiliza a prescrição como um instituto de direito penal, mas com reflexos no direito processual.
A análise acerca da natureza jurídica de determinado instituto resume-se na verificação de qual setor esse instituto se enquadra. Nesse aspecto, a lei é clara em inserir a prescrição penal no rol de causas extintivas de punibilidade, o que certifica a percepção material do instituto, com previsão no Código Penal em seu artigo 107. 
Ademais, a prescrição penal é um direito fundamental, que veda a perpetuidade em matéria penal. Assim, a ideia acerca da natureza jurídica do instituto da prescrição é a de direito humano individual e fundamental.
Por fim, a prescrição penal reveste-se de norma com caráter público, devendo ser declarada de ofício pelo juiz, a requerimento do Ministério Público, ou pela parte interessada, de modo que, ocorrendo a prescrição, o juiz não poderá analisar o mérito, devendo pronunciá-la, de plano, em qualquer fase do processo, nos termos do art. 61 do Código de Processo Penal.
3.3 Fundamentos da prescrição 
	Cezar Roberto Bitencourt (BITENCOURT, 2012, p.1942), arrola os fundamentos que, politicamente, embasam a legitimidade do instituto, dentre os quais se destacam que o decurso do tempo leva (I) ao esquecimento do fato; para o autor, o longo período de tempo sem que o criminoso seja punido, ocasiona o enfraquecimento ao aludido reclamo, que por sua vez acarreta a perda do interesse para fazer valer a pretensão punitiva; (II) a recuperação do criminoso; o longo lapso temporal sem que o indivíduo tenha voltado a delinquir indica que ele foi capaz de se readaptar socialmente que, aliás, é a finalidade essencial da pena (III) o Estado deve arcar com sua inércia; o estado não pode impor que o agente fique submetido ad eternum, ao direito de punição, sob pena de insegurança jurídica incompatível com o atual modelo de Estado Democrático de Direito, adotado pelo Brasil; e por fim, (IV) ao enfraquecimento do suporte probatório; provas que seriam necessárias para a elucidação do delito.
3.4 Modalidades da prescrição penal 
	Duas são as espécies de prescrição penal: pretensão punitiva e pretensão executória. A prescrição da pretensão punitiva se subdivide em três modalidades: prescrição da pretensão punitiva propriamente dita ou prescrição da ação penal, prescrição retroativa, e prescrição superveniente (intercorrente ou subsequente). E a prescrição da pretensão executória. Essa modalidade existe isoladamente, ou seja, não se divide em espécies. 
	Antes de abordar sobre as modalidades da prescrição, analisar-se-á os efeitos resultantes de seu reconhecimento. Assim, a primeira consequência, conforme já exposto no trabalho, é a extinção da punibilidade do agente. Além disso, tal modalidade de prescrição tem o poder de apagar todos os efeitos da sentença condenatória, principais ou secundários, penais ou extrapenais (CAPEZ, 2018, p. 845). 
	Por seu turno, assinala Rogério Greco que:
“o réu do processo no qual foi reconhecida a prescrição da pretensão punitiva ainda continuará a gozar do status de primário e não poderá ser maculado os seus antecedentes penais, ou seja, será como se não tivesse praticado a infração penal” (GRECO, 2017, p. 888).
	Observa-se que é benéfico ao réu o reconhecimento da prescrição em comento. Consequentemente, diante de um caso em ocorra a prescrição da pretensão punitiva, ou da prescrição da pretensão executória, considerando que esta não possui o poder de extinguir todos os efeitos penais da ação penal, o reconhecimento da prescrição da pretensão punitiva deve imperar, tendo em vista que é mais vantajosa ao réu.
	No que diz respeito as modalidades da prescrição da pretensão punitiva, mencionadas acima, tem-se que a prescrição da pretensão punitiva propriamente dita pode ser a primeira a acontecer no procedimento penal, sendo disciplinada pelo artigo 109, caput, do Código Penal, do qual dispõe que a prescrição, antes da ocorrência do trânsito em julgado da ação penal, regula-se pelo máximo da pena privativa de liberdade cominada ao crime. 
	Com efeito, a prescrição da ação penal pode ocorrer a qualquer momento antes do trânsito em julgado, dentre osmarcos interruptivos serem estudados no tópico subsequente. Assim, na hipótese de eventual pessoa ser denunciada pelo crime de furto com a causa de aumento de pena de um terço pela prática do delito durante o repouso noturno (artigo 155, caput, e §1º, do CP), tem-se que a pena aplicada pode chegar a 5 anos e 4 meses (1 ano e quatro meses, que equivale a um terço da reprimenda máxima de 4 anos, acrescida desta). Com base no máximo abstrato da pena, denota-se que a prescrição da pretensão punitiva propriamente dita ocorrerá após o decurso de 12 anos (artigo 109, inciso IV, do Códex Penal) entre as causas interruptivas. Ou seja, decorrido 12 anos entre a data da consumação do crime e o recebimento da peça acusatória, ou sucedido mais de 12 anos entre o recebimento da denúncia e a primeira decisão condenatória, ter-se-á como caracterizada a prescrição aventada.
 	A prescrição retroativa, por sua vez, é regulada pelo art. 110, §1º, do CP do qual estabelece que: “A prescrição, depois da sentença condenatória com trânsito em julgado para a acusação ou depois de improvido seu recurso, regula-se pela pena aplicada, não podendo, em nenhuma hipótese, ter por termo inicial data anterior à da denúncia ou queixa”. Evidencia-se, portanto, que a prescrição retroativa tem como fundamento a pena em concreto, sendo mais favorável ao agente, uma vez que não se considera o máximo da pena em abstrato. 
	Dessa forma, requer-se, pois, o trânsito em julgado para a acusação, visto que, embora pendente recurso da defesa, o réu não poderá ter a sua situação agravada em razão do princípio da non reformatio in pejus, assentado no artigo 617 do Código de Processo Penal. 
	No que se refere aos crimes em geral, deve-se verificar se houve a prescrição retroativa entre a data do recebimento da denúncia (primeira causa interruptiva) e a publicação da primeira decisão condenatória (GRECO, 2017, p. 894). No que tange aos crimes de competência do Tribunal do Júri, a prescrição retroativa pode ocorrer em três momentos: entre a publicação da sentença ou acórdão condenatório e a decisão confirmatória da pronúncia; entre a decisão confirmatória da pronúncia e a pronúncia; entre a pronúncia e o recebimento da denúncia ou queixa (MASSON, 2019, p. 1344). Ressalta-se que o período decorrido antes do oferecimento da denúncia ou queixa não pode ser utilizado no cálculo do prazo da prescrição retroativa, conforme vedação expressa constante no artigo 110, §1º, do CP.
	Por fim, a prescrição superveniente (intercorrente ou subsequente) ocorre entre a publicação da sentença condenatória recorrível e o seu trânsito em julgado para a defesa, o que justifica o fato de ser conhecida como prescrição superveniente, haja vista ser posterior ao decreto condenatório. Greco estabelece os seguintes requisitos para a aferição da prescrição intercorrente: 
[...] a) deve existir uma sentença ou acórdão condenatório recorrível, fixando uma determinada quantidade de pena, que será utilizada para efeitos de cálculo, de acordo com o art. 109 do Código Penal; b) deverá ter ocorrido o trânsito em julgado para a acusação (Ministério Público ou querelante); c) não pode ter ocorrido a prescrição retroativa, constada a partir da data do recebimento da denúncia, até a publicação da sentença ou acórdão condenatório recorrível; d) será calculada para frente, ou seja, a partir da sentença ou acórdão condenatório recorrível (GRECO, (2017, p. 895).
 
	Dessa forma, tal instituto é semelhante à prescrição retroativa, tendo em vista que utiliza a pena já imposta, sem a possibilidade de agravamento. Contudo, o período é diferente, na medida em que a prescrição retroativa utiliza o período anterior à sentença ou acórdão condenatório recorríveis para o seu cálculo. Já a prescrição superveniente, utiliza o período posterior a sentença condenatória. 
	A prescrição da pretensão executória de acordo com Capez: “é a perda do poder-dever de executar a sanção imposta, em face da inércia do Estado, durante determinado lapso” (CAPEZ, 2018, p. 863). Tal prescrição é regulada pela pena fixada na sentença condenatória, ou seja, o termo inicial da prescrição da pretensão executória começa a correr a partir do trânsito em julgado da sentença condenatória, para a acusação, ou a que revoga a suspensão condicional da pena ou o livramento condicional (art. 112, inciso I, do Código Penal), ou, ainda, do dia em que se interrompe a execução, salvo quando o tempo da interrupção deva computar-se na pena (ar. 112, inciso II, do Código Penal).
	Cabe observar, que sendo o infrator da norma penal taxado como reincidente na decisão condenatória, o prazo prescricional aumenta-se em um terço, conforme estabelece o artigo 110, caput, do CP. De modo que, o condenado reincidente poderá ter seus antecedentes valorados de modo negativo, haja vista a existência da primeira condenação extinta pela prescrição da pretensão executória.
3.5 Causas interruptivas da prescrição penal
As causas interruptivas da prescrição implicam o recomeço da contagem do prazo, desprezando o tempo já decorrido. No caso de continuação do cumprimento de pena, há uma exceção à regra geral, uma vez que a prescrição deverá ser regulada pelo tempo restante da pena (artigo 117, parágrafo segundo).
O artigo 117 do Código Penal prevê, taxativamente, as causas interruptivas da prescrição penal.
Eis o que o referido dispositivo dispõe:
Art. 117 - O curso da prescrição interrompe-se:
I - pelo recebimento da denúncia ou da queixa;
II - pela pronúncia;
III - pela decisão confirmatória da pronúncia;
IV - pela publicação da sentença ou acórdão condenatórios recorríveis;
V - pelo início ou continuação do cumprimento da pena;
VI - pela reincidência
O inciso I trata do recebimento da denúncia, isto é, a data do despacho do juiz que recebe a peça inicial da acusação, denúncia ou queixa-crime, que contará como marco interruptivo. Além disso, Rogério Greco explica que: 
A data do despacho de recebimento vale tanto para os juízes monocráticos como para os feitos de competência dos tribunais, onde a prescrição será interrompida na data do despacho de recebimento da denúncia ou da queixa proferido pelo relator do processo (GRECO, 2017, p. 907).
Os incisos II e III tratam do procedimento dos processos de competência do Tribunal do Júri. Quanto à pronúncia, a data que marcará a interrupção será a da sua publicação em cartório (BITENCOURT, 2012, p. 1999).
O terceiro inciso, por sua vez, trata da decisão confirmatória da pronúncia e também a que pronuncia o réu em razão de recurso.
O inciso IV, é possível subdividir em dois, para melhor compreensão da matéria.
Primeiramente, trata-se da sentença condenatória recorrível. Sendo que seu marco ocorre na data de sua publicação nas mãos do escrivão, ou seja, a partir da lavratura do respectivo termo, com fulcro no artigo 389 do Código de Processo Penal. Cumpre mencionar, que a sentença anulada, não é causa interruptiva, e sim um ato juridicamente inexistente, uma vez que não gera efeitos.
Por fim, a segunda parte trata do acórdão condenatório recorrível. A doutrina se divide a respeito da caracterização do marco interruptivo nesta hipótese. De um lado, defende-se que apenas entende-se como acórdão condenatório aquele que reforma sentença absolutória, já de outro, tanto o acórdão condenatório que reformar sentença absolutória, quanto o que confirmar a sentença condenatória são considerados causas de interrupção. Bittencourt se filia a primeira corrente e Greco a segunda.
O quinto inciso do artigo em comento, dispõe sobre o início da prisão do agente para cumprir a pena, e a continuação do cumprimento da sentença, causas específicas da prescrição da pretensão executória. Cezar Roberto Bitencourt aduz: “com a continuação da prisão, interrompida pela fuga, ou decorrente de revogação do livramento condicional, interrompe-se a prescrição” (BITENCOURT, 2012, p. 2005). 
O último inciso trata da reincidência. Doutrina e jurisprudência divergem quanto ao momento da interrupção. Segundo uma corrente, o marco interruptivo só podeser considerado com a sentença condenatória da que reconhece a prática do ilícito. De acordo com a outra, minoritária, se dá a interrupção na data do novo crime.
A reincidência também tem como efeito aumentar o prazo prescricional. Por mais que parte da doutrina entenda que só se aplica esse acréscimo na prescrição da pretensão executória, surgiram alguns julgados admitindo o aumento também na prescrição da pretensão punitiva intercorrente. 
4 O ENTEDIMENTO FIRMADO PELO STF NO TOCANTE À POSSIBILIDADE DE INTERRUPÇÃO DO PRAZO PRESCRICIONAL PELA PUBLICAÇÃO DE ACÓRDÃO CONFIRMATÓRIO DE CONDENAÇÃO 
Conforme trabalhado nos tópicos anteriores, a prescrição não é um mecanismo viabilizador da impunidade, e sim uma garantia constitucional, uma vez que constitui um direito fundamental da pessoa humana de ser julgada em tempo razoável (CRFB, art. 5º, LXXVIII), o que por sua vez impede a imposição de medidas segregativas ad aeternum. Além disso, trata-se, também, de um dever estatal de agir dentro dos prazos positivados com observância ao devido processo legal, para que possa penar alguém.
Por conseguinte, se o Estado deixa de exercer o jus puniendi em conformidade com o lapso temporal previamente fixado, perde o direito-dever de punir aquele que praticou a infração, sendo uma espécie de punição, ou deslegitimação da imposição da pena, em decorrência da demora na persecutio criminis.
Nessa perspectiva, transcorrido o lapso temporal estabelecido no art. 109, do Código Penal, sem incidir alguma causa interruptiva da prescrição, conforme art. 117, do mesmo diploma, extingue-se o processo, sem resolução de mérito, nos termos do art.107, IV, do CP, devendo o magistrado declarar a extinção da punibilidade.
A prescrição penal é matéria de ordem pública, destarte não se destina a favorecer o agente ou o condenado, mas existe em face dos interesses da sociedade e deve ser reconhecida de ofício em qualquer fase do inquérito policial ou mesmo da ação penal
Embora, o artigo 117, do Código Penal, estabeleça diversas causas que interrompem o prazo prescricional, para fins do tema delimitado no presente trabalho, importará examinar o artigo 117, IV, do citado diploma normativo, o qual estabelece a interrupção da prescrição em face da publicação da sentença e do acórdão condenatórios recorríveis. 
Conforme mencionado, o acórdão condenatório como marco interruptivo do prazo prescricional é tema que vem sendo discutido pelos operadores do Direito à medida que surgem casos concretos que aguardam por soluções nesse sentido
A polêmica surgiu, em função de uma alteração legislativa de 2007 sobre o artigo em comento, especificamente no inciso IV, que incluiu como causa interruptiva de prescrição o acórdão condenatório recorrível. Antes da alteração, o inciso IV considerava entre as causas interruptivas apenas “sentença condenatória recorrível”. Com a nova redação, a prescrição se interrompe “pela publicação da sentença ou acórdão condenatórios recorríveis”. 
Havia posicionamento, da 2ª turma do STF, consolidado no sentido de que a confirmação da condenação não era causa interruptiva, mas a 1ª turma vinha se posicionando, principalmente nos últimos tempos, apoiada por uma posição do Alexandre de Moraes, no seguinte sentido, vejamos:
EMENTA: AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO. PRESCRIÇÃO DA PRETENSÃO PUNITIVA. ACÓRDÃO CONFIRMATÓRIO DE SENTENÇA CONDENATÓRIA. INTERRUPÇÃO DO PRAZO PRESCRICIONAL. POSSIBILIDADE. AUSÊNCIA DE INÉRCIA DO ESTADO. RESPEITO AO DEVIDO PROCESSO LEGAL. 1. A prescrição é, como se sabe, o perecimento da pretensão punitiva ou da pretensão executória pela inércia do próprio Estado. No art. 117 do Código Penal que deve ser interpretado de forma sistemática todas as causas interruptivas da prescrição demonstram, em cada inciso, que o Estado não está inerte. 2. Não obstante a posição de parte da doutrina, o Código Penal não faz distinção entre acórdão condenatório inicial e acórdão condenatório confirmatório da decisão. Não há, sistematicamente, justificativa para tratamentos díspares. 3. A ideia de prescrição está vinculada à inércia estatal e o que existe na confirmação da condenação é a atuação do Tribunal. Consequentemente, se o Estado não está inerte, há necessidade de se interromper a prescrição para o cumprimento do devido processo legal. 4. Agravo regimental a que se nega provimento
Finalmente, chegou ao plenário por meio de um Habeas Corpus, e o STF, no dia 27 de abril de 2020, ao julgar o HC 176.473/RR, de relatoria do Ministro Alexandre de Moraes, acabou impondo o posicionamento no sentido de que o acordão confirmatório de sentença penal condenatória, é causa interruptiva da prescrição, vejamos:
EMENTA: HABEAS CORPUS. ALEGADA PRESCRIÇÃO DA PRETENSÃO PUNITIVA. INOCORRÊNCIA. INTERRUPÇÃO DA PRESCRIÇÃO PELO ACÓRDÃO CONFIRMATÓRIO DE SENTENÇA CONDENATÓRIA. 1. A prescrição é o perecimento da pretensão punitiva ou da pretensão executória pela inércia do próprio Estado; prendendo-se à noção de perda do direito de punir por sua negligencia, ineficiência ou incompetência em determinado lapso de tempo. 2. O Código Penal não faz distinção entre acórdão condenatório inicial ou confirmatório da decisão para fins de interrupção da prescrição. O acórdão que confirma a sentença condenatória, justamente por revelar pleno exercício da jurisdição penal, é marco interruptivo do prazo prescricional, nos termos do art. 117, IV, do Código Penal. 3. Habeas Corpus indeferido, com a seguinte TESE: Nos termos do inciso IV do artigo 117 do Código Penal, o Acórdão condenatório sempre interrompe a prescrição, inclusive quando confirmatório da sentença de 1º grau, seja mantendo, reduzindo ou aumentando a pena anteriormente imposta. (HC 176473, Relator(a): ALEXANDRE DE MORAES, Tribunal Pleno, julgado em 27/04/2020, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-224 DIVULG 09-09-2020 PUBLIC 10-09-2020).
	Nessa mesma linha de entendimento, Cezar R. Bitencourt dispõe:
Para uma corrente, à qual nos filiamos, acórdão condenatório é aquele que reforma uma decisão absolutória anterior, condenando efetivamente o acusado; para a outra, que consideramos uma posição reacionária, é condenatório tanto aquele acórdão que reforma decisão absolutória anterior como o que confirma condenação precedente, entendimento sustentado, entre outros, por Rogério Greco (BITENCOURT, 2012, p. 2002). 
Em divergência ao posicionamento explanado, Rogério Greco nos ensina que:
Por acórdão condenatório recorrível, podemos entender aquele confirmatório da sentença condenatória de primeiro grau ou o que condenou, pela primeira vez, o acusado (seja em grau de recurso ou mesmo como competência originária do Tribunal). Como a Lei nº 11.596, de 29 de novembro de 2007, ao dar nova redação ao inciso IV do art. 117 do Código Penal, não fez qualquer distinção, vários acórdãos sucessivos, desde que recorríveis, podem interromper a prescrição. (GRECO, 2017, p. 914).
Não obstante, atendo-se ao alcance normativo do dispositivo em comento, o entendimento adotado pelo STF, é totalmente equivocado, uma vez que deturpa a finalidade do instituto da prescrição que é de proteger o indivíduo de processos infindáveis e morosos. 
Independentemente da pobreza de fundamentação teórica da decisão, da qual fez uma interpretação sistemática, aduzindo que o Código Penal não faz distinção entre acórdão condenatório inicial e acórdão condenatório confirmatório da decisão. É imprescindível diferenciar acordão condenatório de acordão confirmatório de sentença penal condenatória. Enquanto aquela reforma a sentença absolutória de primeira instância, para condenar o absolvido, este apenas confirma a condenação já proferida no juízo de primeiro grau. Por conseguinte, pressupõe-se que, para haver condenação em sede de acórdão, é necessária uma sentença penal absolutória em primeiro grau.
Com efeito, não carece grande esforço interpretativo para perceber que a redação "acórdão condenatório" foi criada, pelo legislador, justamente para abarcar aqueles casos em que, em primeiro grau, o réué absolvido e há apelação por parte do Ministério Público. 
Ademais, é totalmente infundada a premissa de que a prescrição está vinculada à inércia estatal e o que existe na confirmação da condenação é a atuação do Tribunal. Consequentemente, se o Estado não está inerte, há necessidade de se interromper a prescrição.
	É evidente que a prescrição está vinculada à inercia estatal, assim como também o é que, em um recurso, por meio do qual não se instaura uma nova relação processual mantendo-se o mero prosseguimento da relação processual já existente, isso porque não se condena duas vezes, de modo que a pretensão acusatória é julgada procedente apenas uma vez. Se a procedência se der em primeiro grau, havendo apelo do réu, pode o Tribunal reformá-la para absolvê-lo, quando, então, o acórdão, por ser absolutório, não interromperá o curso prescricional.
Entrementes, se há improcedência da pretensão em instância primeira, e o órgão oficial da acusação recorrer para ver reformada a decisão absolutória, aí sim será possível ter-se acordão penal condenatório interruptivo da prescrição, pois que este é o momento primeiro em que a pretensão acusatória é julgada procedente, pelo Tribunal, através do recurso, que não dá vida a nova relação jurídica, senão que mantem existente no mundo jurídico a relação processual inicial, iniciada com o recebimento da exordial de acusação. 
Ademais, ainda que a ideia de que a prescrição esteja vinculada à inércia estatal, deve-se ter claro que o art. 117, IV, do CP, foi interpretado erroneamente, haja vista que o STF, baseado em princípios recursais próprios do direito processual civil, considerado, pois, analogia in malam partem.
Nesse contexto, o entendimento atual do STF apresenta-se de forma equivocada, sendo a qual a prescrição deve ter como base, tão somente, a inércia estatal, que não fica demonstrada no acórdão confirmatório de sentença penal condenatória, isso porque só estaria reforçando a atividade do Poder Judiciário. Assim, é imprescindível a distinção entre acórdão que condena de outro que confirma uma condenação preexistente.
Dessa forma, conclui-se que a prescrição deve ser vista como instrumento de efetivação da celeridade processual, haja vista que impõe ao Estado o dever de agir dentro dos prazos estabelecidos, assegurando ao cidadão a garantia da razoável duração do processo, estabelecido pela constituição no rol de direitos e garantias fundamentais (art. 5º, inciso LXXVIII).
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
	Diante da problemática apresentada, sobre acordão confirmatório de sentença penal como marco de interrupção prescricional, pode-se constatar que o atual entendimento do STF, apresenta-se de forma equivocada, segundo a qual a prescrição deve ter como base apenas e tão somente a inércia estatal, que não fica demonstrada no acórdão penal confirmatório de sentença penal condenatória. Isso porque, não se trata, a prescrição, de mecanismo viabilizador da impunidade, cujo objetivo seria o estorvo da marcha processual, prejudicando a celeridade processual e a efetividade do processo, e sim o oposto. O instituto, deve ser visto como instrumento de efetivação da celeridade processual, tendo em vista que impõe ao Estado o dever de agir.
	Outrossim, o entendimento do STF parece correto sob a perspectiva lógica, no entanto, encontra obstáculo intransponível: a lei. O código penal é claro ao estabelecer as balizas temporais. E a legalidade é a ancora do sistema, da segurança jurídica. Dessa forma, por mais grave que seja a conduta do agente, sua punição será sempre os previstos na lei. Nesse ponto de vista, a prescrição não poderia ser diferente, sendo inadmissível a analogia, a extensão dos efeitos legais para além dos contornos literais, muito menos a interpretação contrária ao sentido expresso dos dispositivos. 
	Ademais, é evidente a utilização de analogia in malam partem, uma vez que o STF, baseou-se em princípios recursais próprios do direito processual civil (efeito substitutivo), quando da interpretação do art. 117, IV, do CP. Além disso, no processo penal, é impossível existirem duas condenações. Assim, a interposição de recurso não inaugura nova relação jurídico-processual, de modo que, o acordão que confirma a sentença condenatória, tem caráter meramente declaratório. 
	Concluiu-se, portanto, que o acórdão somente será condenatório quando impuser a reforma de uma sentença absolutória, hipótese na qual interromperá, validamente, o curso da prescrição, tal como preconiza o art. 117, IV, do CP.
Dessa forma, de acordo com os argumentos expendidos, faz-se necessário a readequação do entendimento acerca do artigo 117 do Código Penal, especificamente no inciso IV.
25
REFERÊNCIAS
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BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de Direito Penal: parte geral 1. 17ª ed. São Paulo: Saraiva, 2012.
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BRASIL. Código Penal (1940). Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del2848compilado.htm> Acesso em: 20 set. 2020.
BRASIL. LEI Nº 11.596, DE 29 DE NOVEMBRO DE 2007. Disponivel em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2007/Lei/L11596.htm. Acesso em 07 mai. 2021
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FARIA, Fernando Cesar de Oliveira e NUNES, Felipe Maia Broeto. O desacerto recente do STF e STJ sobre o tema de prescrição: acórdão confirmatório (não) interrompe prescrição?!. Disponível em: https://www.migalhas.com.br/depeso/313094/o-desacerto-recente-do-stf-e-stj-sobre-o-tema-de-prescricao--acordao-confirmatorio--nao--interrompe-prescricao. Acesso em: 20 abr. 2021.
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FERRARI, Eduardo Reale. Prescrição da Ação Penal: suas causas suspensivas e interruptivas. São Paulo: Saraiva, 1998.
Greco, Rogério. Curso de Direito Penal: parte geral, volume I – 19. ed. Niterói, RJ: Impetus, 2017.
MASSON, Cleber. Direito penal: parte geral (arts. 1º a 120) – vol. 1. 13ed. Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: MÉTODO, 2019.
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NUCCI, Guilherme de Souza. Curso de Direito Penal: parte geral: arts. 1º a 120 do Código Penal. Vol.1. 3ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 2019.
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