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ANPP - TCC - Marielen - VERSAO FINAL PDF

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INSTITUTO DE ENSINO SUPERIOR DE GOIÁS - IESGO 
CURSO DE DIREITO 
 
 
 
 
 
 
MARIELEN OLIVEIRA GALLIETTA SILVA 
 
 
 
 
 
O ACORDO DE NÃO PERSECUÇÃO PENAL PREVISTO NO ART. 28-A DO 
CÓDIGO DE PROCESSO PENAL COMO UM DIREITO SUBJETIVO DO 
INVESTIGADO 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Formosa-GO 
2020 
 
 
 
 
 
INSTITUTO DE ENSINO SUPERIOR DE GOIÁS - IESGO 
CURSO DE DIREITO 
 
 
 
 
 
MARIELEN OLIVEIRA GALLIETTA SILVA 
 
 
 
 
O ACORDO DE NÃO PERSECUÇÃO PENAL PREVISTO NO ART. 28-A DO 
CÓDIGO DE PROCESSO PENAL COMO UM DIREITO SUBJETIVO DO 
INVESTIGADO 
 
Projeto apresentado como requisito parcial para 
a conclusão do curso de Direito na Instituição de 
Ensino Superior de Goiás – IESGO. 
Orientador: Professor João Ederson Gomes 
Cardoso 
 
 
 
 
 
Formosa-GO 
2020 
 
 
 
 
 
 
INSTITUTO DE ENSINO SUPERIOR DE GOIÁS – IESGO 
CURSO DE DIREITO 
 
 
MARIELEN OLIVEIRA GALLIETTA SILVA 
 
 
O ACORDO DE NÃO PERSECUÇÃO PENAL PREVISTO NO ART. 28-A DO 
CÓDIGO DE PROCESSO PENAL COMO UM DIREITO SUBJETIVO DO 
INVESTIGADO 
 
 
Monografia aprovada em ___ de _____________ de ___ para obtenção do título de 
bacharel em Direito. 
 
Banca Examinadora: 
 
____________________________________________ 
João Ederson Gomes Cardoso 
Orientador 
 
____________________________________________ 
Examinador(a) 1 
 
____________________________________________ 
Examinador(a) 2 
 
 
Formosa/GO, ___ de ______________ de ____. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Dedico este trabalho especialmente à minha família: 
mãe, irmãs e pai, os quais sempre acreditaram em 
mim e, principalmente a minha mãe, a qual desde 
minha alfabetização cobrou que sempre desse o 
meu melhor independentemente de toda as 
dificuldades pelas quais ela passou, sempre 
priorizou a educação de suas filhas. Dedico 
igualmente ao meu avô, o qual infelizmente não 
pôde me ver formando, mas sempre me incentivou 
e brilhava os olhos ao falar comigo sobre o curso 
de Direito. 
 
 
 
 
 
 
 
AGRADECIMENTOS 
 
Primeiramente, devo agradecer a Deus por sempre mostrar-me que o caminho que 
desejado não era o certo, fechando portas as quais não me fariam realizada como sou 
ao cursar Direito. Agradeço também a minha família, mãe, irmãs, pais, avós e tias que 
sempre me incentivaram e disseram do que era capaz. Ainda, as minhas amigas que 
sempre me disseram como poderia alcançaria o que quisesse por meio do esforço e 
da persistência. A minha amiga do Direito, afilhada de casamento, Luanda, sem a qual 
esse curso teria sido por demais solitário, sempre a levarei em minha vida e meu 
coração, somos irmãs. A minha também amiga do Direito Yngrid, a qual sempre me 
auxiliou nos trabalhos da faculdade, por estar mais avançada no curso, além de me 
dar conselhos e direções que sua experiência lhe ensinou, bem como abriu as portas 
à minha primeira oportunidade de estágio durante o curso, pela qual serei 
eternamente grata. Além disso, e não menos importante, ao meu orientador professor 
João Ederson, o qual sempre me incentivou durante o curso, além de me dar a luz em 
uma de suas aulas quanto ao tema por mim desenvolvido neste trabalho e por todas 
as dicas e disponibilidade em me ajudar Por fim, agradeço aos demais professores da 
IESGO, que não medem esforços para entregar o seu melhor aos alunos e que 
contribuíram para minha formação como pessoa e para que me apaixonasse pela 
ciência do Direito. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
“Os que acham que a morte é o maior de todos 
os males é porque não refletiram sobre os males 
que a injustiça pode causar”. 
 
Sócrates 
 
 
 
RESUMO 
 
O presente trabalho de conclusão de curso tem como intuito analisar o instituto do 
Acordo de Não Persecução Penal, novidade jurídica no ordenamento jurídico 
brasileiro, bem como explicar como ele é aplicado no caso concreto e, principalmente, 
como problemática nuclear do trabalho, explanar os motivos pelos quais entende-se 
que referido acordo nada mais é que direito subjetivo do investigado. Assim, para 
melhor reflexão acerca do tema, iniciou-se analisando a base principiológica do direito 
penal e processual penal brasileiro, dado o caráter principiológico da ciência criminal, 
além de como o acordo foi introduzido no ordenamento jurídico por meio da Resolução 
nº 181/2017 do Conselho Nacional do Ministério Público e posteriormente pelo Código 
de Processo Penal, tendo como escopo a busca pela solução consensual dos conflitos 
penais, bem como as raízes e conceituações doutrinárias de direito subjetivo e porque 
o Acordo de Não Persecução Penal é direito subjetivo, norma hibrida e pode ser 
aplicado aos processos em curso. 
 
 
 
 
Palavras-Chave: Acordo de Não Persecução Penal. Processo Penal. Direito 
Subjetivo. Princípio. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Sumário 
INTRODUÇÃO ........................................................................................................ 8 
 
1) PRINCIPIOLOGIA DO DIREITO PROCESSUAL PENAL .................................. 9 
1.1) Princípio da legalidade ................................................................................ 10 
1.2) Princípio da inércia ...................................................................................... 12 
1.3) Princípio da dignidade da pessoa humana ................................................. 13 
1.4) Princípio do devido processo legal .............................................................. 13 
1.5) Princípio da inafastabilidade da jurisdição e do juiz natural ........................ 14 
1.6) Princípio do promotor natural ...................................................................... 15 
1.7) Princípio da obrigatoriedade e da indisponibilidade da ação penal............. 16 
1.8) Princípio da presunção de inocência e in dubio pro reo .............................. 17 
1.9) Princípio do contraditório e da ampla defesa .............................................. 18 
1.10) Princípio da vedação às provas ilícitas ..................................................... 19 
1.11) Princípio da economia processual ............................................................. 19 
 
2) DO ACORDO DE NÃO PERSECUÇÃO PENAL PREVISTO NO ART. 28-A DO 
CÓDIGO DE PROCESSO PENAL ........................................................................ 22 
2.1) Do papel do Ministério Público .................................................................... 22 
2.2) Dos sistemas penais ................................................................................... 23 
2.3) Do plea bargaining/bargain ......................................................................... 23 
2.4) Da justiça restaurativa ................................................................................. 24 
2.5) Da introdução do Acordo de Não Persecução Penal no ordenamento 
jurídico brasileiro ................................................................................................ 25 
2.6) Do conceito, aplicabilidade e natureza jurídica do Acordo de Não 
Persecução Penal .............................................................................................. 26 
2.7) Das semelhanças entre o Acordo de Não Persecução Penal e os institutos 
da Transação Penal e da Suspensão Condicional do Processo ........................ 31 
2.8) Da aplicabilidade do Acordo de Não Persecução Penal nos crimes contra a 
Administração Pública ........................................................................................ 32 
2.9) Da imprescindibilidade da figura do defensor ............................................. 34 
 
3) DO ACORDO DE NÃO PERSECUÇÃO PENAL COMO DIREITO SUBJETIVO 
DO INVESTIGADO ................................................................................................37 
 
 
 
3.1) Conceito de direito subjetivo ....................................................................... 37 
3.2) Discussão quanto a natureza de direito subjetivo do Acordo de Não 
Persecução Penal .............................................................................................. 39 
3.3) Da natureza jurídica do art. 28-A do Código de Processo Penal ................ 45 
3.4) Do momento de oferecimento do Acordo de Não Persecução Penal ......... 47 
3.5) Estudo de caso quanto ao momento de aplicação do Acordo de Não 
Persecução Penal .............................................................................................. 50 
 
CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................. 52 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..................................................................... 55 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
8 
 
 
INTRODUÇÃO 
 
O Acordo de Não Persecução Penal foi introduzido no ordenamento jurídico, 
inicialmente, por meio da Resolução nº 181/2017, a qual previu o instituto no seu artigo 
18, e após, alterada pela Resolução nº 183/2018, tendo o Acordo sido aplicado na 
prática com embasamento na referida resolução a diversos processos no país. 
Posteriormente, com o intuito de afastar as alegações de inconstitucionalidade 
da Resolução, a qual possuía algumas Ações Diretas de Inconstitucionalidade em seu 
desfavor (como as ADI’s 5.793 de autoria da Ordem dos Advogados do Brasil e 5.790 
de autoria da Associação dos Magistrados Brasileiros), o Acordo foi legiferado por 
meio da Lei nº 13.964/2019, chamada de “pacote anticrime”, a qual entrou em vigor 
no dia 23 de janeiro de 2020 e inseriu o Acordo de Não Persecução Penal no Código 
de Processo Penal, o qual passou a prevê-lo no art. 28-A. 
Assim, o tema do presente trabalho de conclusão de curso gira entorno do 
Acordo de Não Persecução Penal, e busca sustentar que referido Acordo se trata de 
direito subjetivo do investigado, razão pela qual não só pode como deve ser oferecido 
ao indivíduo que dele possa se beneficiar, como também que pode ser aplicado em 
qualquer fase do processo, desde que não haja decisão com trânsito em julgado. 
Para explanar o assunto, buscou-se, no primeiro capítulo, por meio de 
pesquisa bibliográfica delimitar os principais princípios aplicáveis na esfera criminal 
processual e material, como os princípios da dignidade da pessoa humana, legalidade, 
do devido processo legal, do juiz natural, dentre outros, os quais legitimam a corrente 
que entende ser o Acordo de Não Persecução Penal direito subjetivo do investigado. 
Posteriormente, no segundo capítulo, passou-se a aclarar o instituto do 
Acordo de Não Persecução Penal, delimitando-se seu conceito, sua aplicabilidade e 
as hipóteses as quais não há que se falar em sua proposta. 
Por fim, examinou-se os principais conceitos de direito subjetivo criados ao 
longo do tempo, motivou-se o entendimento de que o Acordo de Não Persecução 
Penal se enquadra como direito subjetivo, delimitando, também, os momentos de seu 
oferecimento, sua natureza jurídica e por meio de estudo de caso, que girou entorno 
de uma audiência ocorrida na Vara Criminal de Planaltina/DF, o qual demonstrou-se 
que o Acordo pode ser aplicado nos processos em curso, mesmo que já tenha sido 
oferecida a peça acusatória. 
 
9 
 
 
1) PRINCIPIOLOGIA DO DIREITO PROCESSUAL PENAL 
 
A priori convém mencionar que o Direito Penal é o ramo do direito pelo qual o 
Estado, regulado pelo regime democrático de direito, se utiliza para concretizar seu 
poder de punir, que foi conferido pelo contrato social, em que através das leis ele 
descreve os delitos, bem como as penas que serão aplicadas caso a caso. 
O Direito penal nada mais é que o meio de controle social, que visa prevenir, 
reprimir e punir a prática de delitos. Tal enunciado referencia-se ao princípio da 
necessidade do Direito Penal. 
Além disso, o Direito Penal visa à prevenção geral e especifica, sendo que a 
prevenção geral é aquela que refletirá em toda a sociedade, que ao visualizar que o 
cometimento de um crime gera sanções ao indivíduo que o praticou, o evita. O 
criminoso funcionaria como um “modelo” a não ser seguido pela sociedade. 
Já a prevenção específica é aquela pela qual o indivíduo que cometeu o crime, 
ao se ver sofrendo punições, seria “educado” a não reincidir na prática criminosa. 
Conforme Leciona Fernando Capez: 
Ultrapassada a fase da vingança privada e da autotutela como forma de 
justiçamento, o Estado passou a ser o detentor exclusivo do direito de punir. 
A punição do delinquente passou à esfera privativa do Estado. 
O direito de punir decorre do ordenamento legal e consiste no poder genérico 
e impessoal de punir qualquer pessoa culpável que venha a cometer um ilícito 
penal. Trata-se do “jus puniendi in abstracto”. 
No momento em que a infração é cometida, o direito abstrato de punir 
concretiza-se, individualizando-se na pessoa do transgressor. Surge o “jus 
puniendi in concreto”1. 
 
Por se tratar de um ramo tão sensível do direito, a Carta Magna prevê 
expressamente diversos princípios e garantias processuais penais, uma vez que o 
Estado em seu poder punitivo limita os bens e liberdades dos indivíduos, razão pela 
qual sua atuação vem limitada através desses princípios e garantias. 
A Constituição da República (CR) foi pródiga em estabelecer uma série de 
princípios do processo e, em especial, do processo penal. Esse corpo 
principiológico da CR representa o de modelo constitucional de processo 
brasileiro, podendo-se falar em um “devido processo constitucional”.2 
 
As leis penais surgem da necessidade de controle social, é o meio pelo qual 
o Estado se utiliza para, no caso concreto, punir o indivíduo que comete o ilícito. 
 
1 CAPEZ, Fernando. Curso de Processo Penal. 25ª ed. - São Paulo Saraiva Educação. 2018. p. 45. 
2 BADARÓ, Gustavo Henrique: Processo Penal. 6ª ed. rev., atual. e ampl. - São Paulo: Thomson 
Reuters Brasil. 2018. p. 41. 
10 
 
 
Dessa forma, faz-se necessária essa previsão prévia, o que dá ensejo ao 
brocardo tão conhecido e previsto no artigo 1º do Código Penal Brasileiro3: "nullum 
crimen nulla poena sine previa lege” ou, não há crime sem lei anterior que o defina, 
não há pena sem prévia cominação legal, sendo este, o consagrado princípio da 
legalidade, norteador da ciência criminal como um todo. 
 
1.1) Princípio da legalidade 
O princípio da legalidade, previsto no art. 1º do Código Penal dispõe que em se 
tratando de matéria criminal, sua legislação deve se dar por meio de lei em sentido 
estrito, ou seja, através de ato do poder legislativo. Dar margem de interpretação para 
referido princípio é assegurar a arbitrariedade, é afastar as amarras do poder estatal. 
Ademais, essa lei deve ser oriunda do poder legislativo da união, conforme previsto 
na Constituição Federal. 
(...) Pelo princípio da legalidade, a elaboração de normas incriminadoras é 
função exclusiva da lei, isto é, nenhum fato pode ser considerado como crime 
e nenhuma pena criminal pode ser aplicada sem que antes da ocorrência de 
desse fato exista uma lei definindo-o como crime e cominando-lhe a sanção 
correspondente.4 
 
O Processo penal, em razão disso, também deve ser legislado por meio de lei 
em sentido estrito, conforme prevê o artigo 22, inciso I, da Constituição Federal: 
“Compete privativamente à União legislar sobre: I – direito civil, comercial, penal, 
processual, eleitoral, agrário, marítimo, aeronáutico, espacial e do trabalho”5. 
A lei em sentido estrito é aquela de surge da elaboração do Poder Legislativo, 
ou seja, é preceito comum e obrigatório criado no âmbito da competência do referido 
poder. 
Vale mencionar que o processo penal é o ramo do direito que entabula a forma 
com que o direito penal será aplicado no caso concreto.É a unificação dos atos 
concatenados que dirigirão o processo fazendo que o estado possa aplicar seu poder 
de punir no caso concreto. 
O Processo Penal é o corpo de normas jurídicas com a finalidade de regular 
o modo, os meios e os órgãos encarregados de punir do Estado, realizando-
 
3BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Brasília, DF: Presidência da 
República. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>. Acesso 
em 08/11/2019. 
4 BITTENCOURT, Cesar Roberto: Código Penal Comentado. 10ª ed. São Paulo: Saraiva Educação. 
2019. p. 26. 
5 BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Brasília, DF: Presidência da 
República. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>. Acesso 
em 08/11/2019 
11 
 
 
se por intermédio do Poder Judiciário, constitucionalmente incumbido de 
aplicar a lei no caso concreto. É o ramo das ciências criminais cuja meta é 
permitir a aplicação de vários princípios constitucionais, consagradores de 
garantias humanas fundamentais, servindo de anteparo entre a pretensão 
punitiva estatal, advinda do Direito Penal, e a liberdade do acusado, direito 
individual.6 
 
Por se tratar de última ratio, o Direito Penal tem como alicerce a Constituição 
Federal, a garantidora de direitos fundamentais que asseguram que nenhum indivíduo 
será submetido ao Direito Penal sem respeito à dignidade da pessoa humana. O que 
também ocorre em relação ao Processo Penal, que por ser o meio pelo qual o Direito 
Penal será aplicado no caso concreto, deve plena e total obediência à Carta Magna 
Brasileira. 
Em razão disso, a Constituição Federal traz em seu bojo uma série de 
princípios, os quais norteiam a aplicação do Direito como um todo, uma vez que o 
Direito Brasileiro é eminentemente principiológico. 
Nas palavras de Paulo Bonavides apud REBOUÇAS: 
Princípio é, com efeito, toda norma jurídica, enquanto considerada como 
determinante de uma ou de muitas outras subordinadas, que a pressupõem, 
desenvolvendo e especificando ulteriormente o preceito em direções mais 
particulares (menos gerais), das quais determinam, e, portanto, resumem, 
potencialmente, o conteúdo: sejam, pois, estas, efetivamente postas, sejam, 
ao contrário, apenas dedutíveis do respectivo princípio geral que as contém. 
 
São os princípios constitucionais básicos orientadores da ciência processual 
criminal, sendo estes chamados de garantias processuais penais e servem de 
parâmetro na elaboração, aplicação e interpretação criminal. 
Também previstos em tratados internacionais, como no pacto de San José da 
Costa Rica, são as principais garantias processuais penais: submissão à jurisdição, 
separação entre juízo e acusação, presunção de inocência e o contraditório e ampla 
defesa. 
Nas lições dom ilustre professor Sérgio Rebouças, são elas: 
(i)Submissão a jurisdição (nulla poena, nulla culpa, sine judicium): juiz 
independente e imparcial, com predeterminação exclusivamente legal de sua 
competência (…) 
(ii) Separação entre juízo e acusação (nullum judicium sine accusatione): (…) 
ao garantirem o juiz imparcial à pessoa contra quem for formulada a acusação 
pena (…) 
(iii) Presunção, estado ou situação jurídica de inocência do imputado até e 
sob a condição da condenação definitiva (…). Liberdade como regra e prisão 
como exceção (…). Direito ao silêncio e à não autoincriminação (…). 
 
6 NUCCI, Guilherme de Sousa: Manual de Processo Penal e Execução Penal. 12ª ed. Rio de Janeiro: 
Forense, 2015, p. 27. 
12 
 
 
(iv) Contraditório e ampla defesa (…). Contraditório na vertente de 
conhecimento prévio e pormenorização da acusação (…).7 
 
Além dos já mencionados existem outros princípios e garantias processuais 
penais constitucionalmente previstos no ordenamento jurídico que servem como norte 
ao aplicador do Direito Penal. 
 
1.2) Princípio da inércia 
O princípio da Inércia (ne procedat iudex ex officio) previsto no artigo 129, 
inciso I, da Constituição Federal dispõe que a jurisdição é inerte, só atuando quando 
provocada pelas partes. Tem como escopo a busca pela imparcialidade do juiz, o qual 
somente atuará quando provocada a jurisdição. 
O motivo de ser é que o sistema penal aplicado no Brasil é o acusatório 
(triangular), onde se separam as funções de juiz, acusação e defesa de forma a 
garantir ao acusado um julgamento justo e equânime. Entretanto, o sistema é 
considerado por parcela da doutrina no Brasil como misto, uma vez que há 
características inquisitivas, como ocorre no caso do inquérito policial, que é 
eminentemente inquisitório, mitigando-se os princípios do contraditório e ampla defesa 
nessa fase pré-processual. 
 
Com efeito, é a partir da separação entre julgamento e acusação, como 
funções processuais cometidas a sujeitos distintos, que se conforma, antes 
de tudo, a integridade da jurisdição, à qual está inerentemente associada a 
nota da imparcialidade. A função de acusar de todo estranha à jurisdição. 
Para garantia da imparcialidade inerente à função jurisdicional, portanto, é 
que se exige a separação, em órgãos distintos, das funções de acusar e julgar. 
Além disso, impõe-se, como corolário desse fundamento, que o órgão 
jurisdicional só atue quando provocado pelo acusador (ne procedat judex ex 
officio).8 
 
Ao se aplicar o sistema acusatório no Brasil, busca-se ter a figura do juiz como 
alguém imparcial, uma vez que o indivíduo dotado de jurisdição não pode ter qualquer 
tipo de interferência. 
Garantir a jurisdição é assegurar, em última análise, a imparcialidade do 
órgão julgador. Tanto só é possível se o órgão incumbido da jurisdição for 
distinto daquele incumbido da função de acusar. A essência do modelo 
processual de tipo acusatório, assim, é imprescindível a realização da própria 
função jurisdicional. Sem imparcialidade não há jurisdição, e sim mero 
 
7REBOUÇAS, Sérgio. Curso de Direito Processual Penal. Salvador: Juspodivm. 2017, p. 84. 
8 REBOUÇAS, Sérgio. Curso de Direito Processual Penal. Salvador: Juspodivm. 2017, p. 53. 
13 
 
 
exercício de função administrativa no tratamento dos conflitos entre poder de 
punir e liberdade, como ocorre no modelo de tipo inquisitório.9 
 
 
1.3) Princípio da dignidade da pessoa humana 
Diante o exposto, é mister conceituar o princípio da dignidade da pessoa 
humana é o princípio basilar do ordenamento jurídico brasileiro, sendo fruto de uma 
sociedade que lutou por direitos e garantias diante de uma ditadura militar que 
perdurou longos anos no país. É um princípio de suma importância que visa 
resguardar um tratamento minimamente digno ao indivíduo, motivo pelo qual é 
norteador do Direito como um todo. 
A dignidade da pessoa humana preceitua que a pessoa sempre será vista 
como o fim e nunca como o meio. É o tratamento ideal que o indivíduo deve ter, nunca 
podendo perde-lo de vista. A pessoa é vista como sujeito de direitos 
independentemente de qualquer coisa. 
Referido princípio previsto no artigo 1º, III, da Constituição Federal e 
espalhado por outros artigos, bem como outras leis esparsas, sendo chamado, pela 
Carta Magna, de princípio fundamental, diante de sua grandiosa importância. 
Nada se pode tecer de justo e realisticamente isonômico que passe ao largo 
da dignidade humana, base sobre a qual todos os direitos e garantias 
individuais são erguidos e sustentados. Ademais, inexistiria razão de ser a 
tantos preceitos fundamentais não fosse o nítido suporte prestado à 
dignidade humana.10 
 
1.4) Princípio do devido processo legal 
Já o princípio ou garantia do devido processo legal está previsto no art. 5º, 
inciso LIV da Constituição Federal e dispõe: “ninguém será privado da liberdade ou 
de seus bens sem o devido processo legal”11. 
O referido princípio estabelecee direciona a ciência processual em sua 
integralidade, assegurando as demais garantias que dele derivam. 
Ainda, o devido processo legal busca estabelecer uma proporcionalidade ao 
poder público, de forma a evitar a arbitrariedade, limitando os poderes dos órgãos 
estatais frente à hipossuficiência dos indivíduos submetidos ao processo. Garante 
 
9 Idem. p. 100. 
10 NUCCI, Guilherme de Sousa: Manual de Processo Penal e Execução Penal. 12ª ed. Rio de Janeiro: 
Forense, 2015, pg. 33 
11 BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Brasília, DF: Presidência da 
República. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>. Acesso 
em 08/11/2019. 
14 
 
 
também, o acesso à justiça por aqueles que veem sua liberdade e bens ameaçados 
ou efetivamente sofrendo privação. 
O devido processo legal deita suas raízes no princípio da legalidade, 
garantindo ao indivíduo que somente seja processado e punido se houver lei 
penal anterior definindo determinada conduta como crime, cominando-lhe 
pena. Além disso, modernamente, representa a união de todos os princípios 
penais e processuais penais, indicativo da regularidade ímpar do processo 
criminal.12 
 
 
1.5) Princípio da inafastabilidade da jurisdição e do juiz natural 
Há ainda o princípio da inafastabilidade da jurisdição, o qual garante que as 
ameaças a direito ou lesões poderão ser analisadas pelo poder judiciário. No entanto: 
O princípio da inafastabilidade da jurisdição (CF, art. 5º, inc. XXXV) vem 
sofrendo reinterpretações de modo a ser realçar a importância dos métodos 
alternativos de solução consensual dos conflitos. Daí o “Estado promoverá, 
sempre que possível, a solução consensual dos conflitos” (art. 3º, §2º).13 
 
 
Além disso, tem-se o princípio do juiz natural, previsto no art. 5º, incisos 
XXXVII e LIII, da Carta Suprema, dispõe que não haverá processo sem uma 
autoridade judiciária competente para processar, julgar, condenar e penalizar o 
indivíduo. O juiz é investido de jurisdição mediante prévia realização de concurso de 
provas e títulos e cabe a ele a exercer quando provocado. 
Referida divisão é de suma importância para resguardar um julgamento por 
um órgão imparcial, de forma que o resultado seja equânime e justo. 
 
A Constituição não assegura, expressamente, o direito a um juiz imparcial. 
Mesmo assim, é inegável que a imparcialidade é conditio sine qua non de 
qualquer juiz, sendo, pois, uma garantia constitucional implícita. A palavra juiz 
não se compreende sem o qualificativo de imparcial. Não seria exagerado 
afirmar que um juiz parcial é uma contradição em termos. Aliás, a ideia de 
jurisdição está indissociavelmente ligada à de juiz imparcial, na medida em 
que, se o processo é um meio de heterocomposição de conflitos, é 
fundamental que o terceiro, no caso, o juiz, seja imparcial, isto é, não parte.14 
 
12 Idem. 
13 VASCONCELLOS, Rafael de Araújo Pereira: Processo Civil Aplicado. 1ª ed. Brasília/DF: Virtual 
Editora, 2019. P. 235. 
14 BADARÓ, Gustavo Henrique: Processo Penal. 6ª ed. rev., atual. e ampl. - São Paulo: Thomson 
Reuters Brasil. 2018. p. 48. 
15 
 
 
 
1.6) Princípio do promotor natural 
Ademais, derivado do princípio do juiz natural, parte da doutrina (Fernando 
Capez15, Ana Cristina Mendonça16) entende que surge o princípio do promotor natural, 
segundo o qual é estabelecida a prerrogativa do órgão acusador de processar. 
Esse princípio pode ser desdobrado nas seguintes vertentes: (i) proibição do 
promotor de exceção, ou promotor ad hoc, designado para atuação em caso 
específico, com base na pura discricionariedade; (ii) garantia do promotor 
competente, isto é, garantia do âmbito de atribuições de determinado órgão 
do Ministério Público, que não pode ser casuisticamente afastado pela 
intervenção de outro órgão.17 
 
Assim, o promotor é a figura que processa, buscando, lá na frente, uma 
condenação através do convencimento do juiz ou do tribunal do júri, não há que se 
falar em julgamento exercido por um promotor de justiça, isso demonstra que o 
Ministério Público, em que pese seja o guardião da lei e da Constituição Federal, é 
um órgão parcial, eis que tem a tarefa de denunciar e processar buscando a 
condenação. O papel do Promotor/Procurador de Justiça na justiça criminal é levar os 
casos de infrações criminais a serem julgados. 
Segundo o Nucci apud Gustavo Badaró: 
(...) se não tivesse o Ministério Público um interesse pessoal e antagônico ao 
do acusado, não teria sentido afirmar que ele tem o ônus da prova, pois este 
é decorrência do próprio interesse. Parte desinteressada não deveria ter ônus 
algum. Assim, ontologicamente, é o Ministério Público parte parcial. Sua 
caracterização como imparcial não tem outra finalidade senão “agregar uma 
maior credibilidade à tese acusatória – porque a acusação, de forma imparcial 
e desinteressada, concluiu pela culpa do acusado – em relação à posição 
defensiva – que postula a absolvição, porque sempre deverá defender o 
acusado, bradando por sua inocência, ainda que ele seja culpado”18. 
 
Ocorre que, com a promulgação da Constituição Federal de 1988 o Ministério 
Público passou a ter um papel muito mais amplo, cabendo a ele, nos termos do art. 
127, caput, da CF: “a defesa da ordem jurídica, do regime democrático e dos 
interesses sociais e individuais indisponíveis”19. 
 
15 CAPEZ, Fernando. Curso de Processo Penal. 25ª ed. - São Paulo Saraiva Educação. 2018. p. 45. 
16 MENDONÇA, Ana Cristina. Processo Penal: Coleção Resumos para Concursos. 3ª ed. Ver. e 
atual: Salvador: Juspodivm. p. 28. 
17 REBOUÇAS, Sérgio. Curso de Direito Processual Penal. Salvador: Juspodivm. 2017, p. 800 
18 NUCCI, Guilherme de Sousa: Manual de Processo Penal e Execução Penal. 12ª ed. Rio de Janeiro: 
Forense, 2015, pg. 496. 
19 BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Brasília, DF: Presidência da 
República. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>. Acesso 
em 08/11/2019. 
16 
 
 
No entanto, no exercício da atividade acusatória, é de se estranhar essa feição 
de órgão imparcial, que visa a defesa jurídica, uma vez que naquele exercício, o papel 
acusador do Parquet o torna parcial. 
 
1.7) Princípio da obrigatoriedade e da indisponibilidade da ação penal 
Em virtude do já mencionado, surge o princípio da obrigatoriedade da ação 
penal, que ensina que o membro do Ministério Público não tem discricionariedade em 
sua atuação, não há espaço para escolha como ocorre no caso da ação penal privada, 
em que o ofendido tem espaço para escolher se quer ver o indivíduo que cometeu o 
crime processado. 
Conforme ensina o professor Guilherme de Souza Nucci: 
Não há, como regra, no Brasil, o princípio da oportunidade no processo penal, 
que condicionaria o ajuizamento da ação penal ao critério discricionário do 
órgão acusatório – exceção feita à ação privada e à pública condicionada. 
Ressalte-se que, neste último caso, trata-se da incidência de ambos os 
princípios, ou seja, oportunidade para oferecimento da representação e 
obrigatoriedade quando o Ministério Público a obtém20. 
 
Dessa forma, o Ministério Público, em regra, tem quatro opções: caso a 
investigação esteja concluída, e suficientemente instruída de forma a basear a ação 
penal com os indícios de autoria e materialidade bem delimitados, ele oferecerá a 
denúncia, caso contrário, caso não haja elementos suficientes, ele pode requisitar 
diligências, arquivar o processo ou propor o Acordo de Não Persecução Penal. 
Por consequência do raciocínio acima consignado, temos que os princípios 
da obrigatoriedade e da indisponibilidade da ação penal norteiam a atuação do 
“Parquet”. 
O princípio da obrigatoriedade exige que, estando presentes as condições 
essenciais da ação penal, especialmentea justa causa, o Ministério Público não pode 
deixar de oferecer denúncia21. 
Rebouças ensina que: “o princípio da indisponibilidade, por sua vez, supõe a 
impossibilidade de desistência da ação penal, uma vez já exercida. É o comando 
expresso do art. 42 do CPP”.22 
Nas palavras de Lopes: “Como consequência, o fundamento da legitimidade 
da jurisdição e da independência do Poder Judiciário está no reconhecimento da sua 
 
20 NUCCI, Guilherme de Sousa: Manual de Processo Penal e Execução Penal. 12ª ed. Rio de Janeiro: 
Forense, 2015, pg. 54. 
21 REBOUÇAS, Sérgio. Curso de Direito Processual Penal. Salvador: Juspodivm. 2017, p. 248. 
22 Idem, p. 249. 
17 
 
 
função de garantidor dos direitos fundamentais inseridos ou resultantes da 
Constituição”23. 
No entanto o que se vê hoje é a mitigação dos princípios da obrigatoriedade 
e da indisponibilidade: 
A flexibilização do princípio da obrigatoriedade, ou, ainda mais radicalmente, 
a instituição do princípio da oportunidade da ação penal pública entre nós, 
desde que, observada a recomendação de Roxin, o Ministério Público 
estabelecesse uma política de persecução penal, daria melhores condições 
para a instituição priorizar a atividade na punição dos fatos que causam maior 
lesividade social e ao mesmo tempo propiciaria o alívio das pautas judiciárias 
em favor da otimização orçamentária, como propõe conhecido princípio de 
direito administrativo. 24 
 
1.8) Princípio da presunção de inocência e in dubio pro reo 
Conforme já dito, a Constituição Federal de 1988 veio quebrar um período de 
perseguição política, de diminuição das liberdades, de crueldade, de tortura, enfim, a 
Carta Magna foi um marco histórico, de vitória do povo brasileiro, em que se deu um 
basta na Ditadura Militar. 
Em razão disso, além da dignidade da pessoa humana, temos o princípio da 
presunção de inocência, segundo o qual: “ninguém será considerado culpado até o 
trânsito em julgado da sentença penal condenatória” (art. 5º, LVII, da Constituição 
Federal)25. 
Referido princípio traduz que o indivíduo será considerado inocente até o 
trânsito em julgado da decisão em que foi condenado, de forma que em todo o 
desenrolar do processo deverá ser tratado dignamente, assegurando-lhe tratamento 
digno e meios para provar sua inocência. 
Além da presunção de inocência há o princípio do in dubio pro reo, o qual 
prevê que em caso de dúvida quanto à aplicação da norma no caso concreto, deve o 
aplicador do direito interpretar a norma em favor do réu. 
Segundo Aury Lopes Jr. o princípio da presunção de inocência: 
Na dimensão interna, é um dever de tratamento imposto – inicialmente – ao 
juiz, determinando que a carga da prova seja inteiramente do acusador (pois, 
se o réu é inocente, não precisa provar nada) e que a dúvida conduza 
inexoravelmente à absolvição (in dubio pro reo); ainda na dimensão interna, 
implica severas restrições ao (ab)uso das prisões cautelares [...]. Enfim, na 
 
23 LOPES, Aury Jr. Direito Processual Penal. 15ª ed. São Paulo: Saraiva Educação. 2018. p. 57. 
24 SANCHES, Rogério Cunha e outros (Coord.), Acordo de Não Persecução Penal: Resolução 
181/2017 do CNMP, com alterações feitas pela Res. 183/2018. Salvador: Editora Juspodivm. 2018. 2d. 
p.182. 
25 BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Brasília, DF: Presidência da 
República. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>. Acesso 
em 08/11/2019. 
18 
 
 
dimensão interna, a presunção de inocência impõe regras de tratamento e 
regras de julgamento para o juiz26. 
 
Aqui não se tem espaço para conjecturas, não se tem espaço para 
imaginações, é a última ratio, o que está em jogo são os bens e a liberdade do 
indivíduo, razão pela qual o princípio da presunção de inocência é de extrema 
importância. 
Nenhuma acusação penal se presume provada. Não compete, ao réu, 
demonstrar a sua inocência. Cabe, ao contrário, ao Ministério Público, 
comprovar, de forma inequívoca, para além de qualquer dúvida razoável, a 
culpabilidade do acusado. Já não mais prevalece, em nosso sistema de 
direito positivo, a regra, que, em dado momento histórico do processo político 
brasileiro (Estado Novo), criou, para o réu, com a falta de pudor que 
caracteriza os regimes autoritários, a obrigação de o acusado provar a sua 
própria inocência. (Passagem do julgamento do HC 88.875/AM, de 
07/12/2010, DJe-051 12-03-2012)27. 
 
1.9) Princípio do contraditório e da ampla defesa 
Além dos já mencionados, temos o princípio do contraditório, 
constitucionalmente garantido através do art. 5º, inciso LV, da Constituição Federal, o 
qual garante o acesso às informações constantes nos autos ao réu, de forma que ele 
possa contraditar os argumentos e provas aduzidos pela acusação. 
Diante do referido princípio, o juiz tem a possibilidade de formar sua convicção, 
uma vez que as partes poderão tanto produzir as provas, como confrontá-las, por meio 
de argumentos fáticos e probatórios. Cada uma das partes terá sua oportunidade de 
manifestação concedida. 
Tal princípio é de suma importância e corolário ao princípio da presunção de 
inocência, uma vez que também tem o escopo de garantir que o indivíduo possa 
contrariar as provas produzidas pela acusação. 
Por outro lado, para que haja efetivo contraditório, é necessário que as partes 
se contraponham em igualdade de condições, não se permitindo que uma, 
de qualquer modo, se sobreponha à outra. Na busca de igualdade substancial, 
faz-se imprescindível a concessão de algumas prerrogativas ao acusado, 
frente ao acusador público, este tendencialmente apto a prevalecer em forças, 
sobretudo por ter o controle da persecução do Estado.28 
 
 
26 LOPES, Aury Jr. Direito Processual Penal. 15ª ed. São Paulo: Saraiva Educação. 2018. P. 96/97. 
27 MENDONÇA, Ana Cristina. Processo Penal: Coleção Resumos para Concursos. 3ª ed. Ver. e 
atual: Salvador: Juspodivm. p. 32. 
28 REBOUÇAS, Sérgio. Curso de Direito Processual Penal. Salvador: Juspodivm. 2017. p. 94. 
19 
 
 
Ademais, tem-se o princípio da ampla defesa, o qual possibilita ao indivíduo 
que possa se defender de forma ampla, fazendo com que possa se utilizar da 
autodefesa e da defesa técnica. 
A autodefesa pressupõe que o acusado pode a todo o momento se manifestar 
aduzindo sua inocência, acompanhar e refutar as provas que forem produzidas nos 
autos. Já a defesa técnica prevê que o indivíduo ao ser processado ou julgado deve 
ser acompanhado de um defensor. 
 
1.10) Princípio da vedação às provas ilícitas 
Oriundo do direito norte americano, temos o princípio da vedação às provas 
ilícitas ou ilegítimas, o qual garante que não se pode juntar aos autos provas obtidas 
por meios ilícitos, ou seja, que confrontem o direito material, como o interrogatório sob 
tortura, bem como a vedação as provas ilegítimas, que são aquelas que confrontam o 
direito processual. 
De acordo com Gustavo Badaró: 
A Constituição, ao assegurar a inadmissibilidade processual da prova ilícita, 
estabeleceu uma “ponte” entre os dois planos, do direito material e do direito 
processual. A “inadmissibilidade” é uma “sanção” processual, para uma 
violação de uma regra material. Com isso, uma violação de regra material 
(por exemplo, violação de correspondência) passou a ter, além de uma 
sanção material (a pena pelo crime de violação de correspondência), também 
uma sanção processual. Em suma, as provas ilícitas, atualmente, são 
sancionadas tanto no plano material, com pena pelo delito correspondente, 
como no campo processual, com a inadmissibilidade de tal prova.29 
 
Interessante mencionar que o direito admite a produção de provas por meios 
ilícitos pelo acusado quando for o único meio de prova de inocência pelo réu, deixando 
transparente que, no nosso ordenamento jurídico, a presunçãode inocência, o 
contraditório e a ampla defesa são princípios máximos, que não devem ser afastados 
do réu. 
 
1.11) Princípio da economia processual 
Já o princípio da economia processual é aquele que garante que a tutela 
jurisdicional será concedida de forma tempestiva, célere e eficaz e, em se tratando do 
ramo criminal, principalmente, o réu não poderá ficar preso cautelarmente, por 
 
29 BADARÓ, Gustavo Henrique: Processo Penal. 6ª ed. rev., atual. e ampl. - São Paulo: Thomson 
Reuters Brasil. 2018. p. 41. 
20 
 
 
exemplo, por conta de morosidades advindas da prestação jurisdicional malfeita e mal 
regrada. 
Outro aspecto é que uma Vara Criminal consegue realizar, no máximo, 90 
audiências de instrução por mês, ou seja, três a cinco audiências por dia útil, 
logo é necessárias medidas de política criminal que desafoguem e 
racionalizem o sistema punitivo, uma vez que o número de prescrições em 
alguns casos tem superado o de condenações.30 
 
Assim o objeto do presente artigo, qual seja, o Acordo de Não Persecução 
Penal, surge da necessidade de se adotar formas alternativas de solução dos conflitos 
penais, de forma a desafogar o judiciário: 
Tem por escopo a agilização, efetividade e proteção dos direitos 
fundamentais dos investigados, das vítimas e das prerrogativas dos 
advogados, superando um paradigma de investigação cartorial, 
burocratizada, centralizada e sigilosa e, por outro lado, busca reduzir a carga 
desumana de processos que se acumulam nas varas criminais do país e que 
tanto desperdício de recursos, prejuízo e atraso causam no oferecimento de 
Justiça às pessoas, de alguma forma, envolvidas em fatos criminais. 31 
 
Da análise de todo o exposto, vê-se a importância de seguir essa orientação 
principiológica trazida no ordenamento jurídico brasileiro, a fim de ter a eficiência da 
aplicação penal e, acima de tudo, que o respeito aos direitos e garantias do indivíduo 
investigado é de suma importância, sem perder de vista o compromisso de buscar 
sempre a justa aplicação do direito penal. 
Vimos ao decorrer deste capítulo a essência do processo penal e de sua 
principiologia, em que se pode concluir, a partir de sua leitura analítica, que o processo 
penal tem como fito assegurar a correta aplicação da lei penal. 
Acima de tudo, é mister consignar que respeitar os princípios acima 
mencionados é garantir que o indivíduo tenha um processo justo e equânime, com 
garantias, de forma a evitar a arbitrariedade da aplicação do poder estatal. 
Diante disso, a legalidade, a dignidade da pessoa humana e a presunção de 
inocência, além dos demais princípios explicitados no decorrer deste capítulo, são 
norteadores imprescindíveis do processo criminal. 
 
30 SANCHES, Rogério Cunha e outros (Coord.), Acordo de Não Persecução Penal: Resolução 
181/2017 do CNMP, com alterações feitas pela Res. 183/2018. Salvador: Editora Juspodivm. 2018. 2d. 
p.175. 
31 SANCHES, Rogério Cunha e outros (Coord.), Acordo de Não Persecução Penal: Resolução 
181/2017 do CNMP, com alterações feitas pela Res. 183/2018. Salvador: Editora Juspodivm. 2018. 2d. 
p.155. 
21 
 
 
A partir do exposto, no próximo capitulo passaremos a analisar o que é o acordo 
de não persecução penal previsto inicialmente na Resolução nº 181/2017 32 e 
posteriormente positivado no art. 28-A do Código de Processo Penal, bem como ele 
vem sendo aplicada no Brasil. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
32 Conselho Nacional do Ministério Público. Resolução nº 181, de 07 de agosto de 2017. 2017. 
Disponível em: http://www.cnmp.mp.br/portal/images/Resolucoes/Rosolução.181.pdf. Acesso em> 10. 
Out. 2019. 
22 
 
 
 
 
2) DO ACORDO DE NÃO PERSECUÇÃO PENAL PREVISTO NO ART. 28-A DO 
CÓDIGO DE PROCESSO PENAL 
 
2.1) Do papel do Ministério Público 
Inicialmente, cumpre destacar que a Carta Magna de 1988 trouxe um novo 
feitio ao Ministério Público, sendo este não somente um órgão acusador, mas também 
responsável pela fiscalização quanto à devida aplicação do ordenamento jurídico, 
defensor da democracia e garantidor dos direitos difusos, coletivos e individuais 
homogêneos. 
Nesse aspecto, a Carta Magna de 1988 fez a clara opção política por um 
sistema jurídico de garantias aplicáveis ao acusado em um processo criminal, 
alicerçado no princípio da presunção de inocência. Ainda, em seu artigo 129, 
I, estabeleceu a titularidade da ação penal de iniciativa pública ao Ministério 
Público, característica intrínseca e principal de um modelo acusatório. 33 
 
Assim, a ótica de um órgão interessado tão somente em punir já não se 
aplica mais à realidade brasileira, nesse sentido: 
O Ministério Público ganhou um grande relevo no sistema constitucional que 
adveio da Carta de 1988; assumiu um novo perfil e adquiriu elevado status 
constitucional. Daí MAZZILI conceituar o Ministério Público como “órgão do 
Estado (não do governo), dotado de especiais garantias, ao qual a 
Constituição e as leis cometem algumas funções ativas ou interventivas, em 
juízo ou fora dele, para a defesa de interesses da coletividade, principalmente 
os indisponíveis e os de larga abrangência nacional.34 
 
Dessa forma, como agente garantidor, incumbe ao Ministério Público, em 
face do previsto no art. 28 do Código de Processo Penal, frente ao preenchimento dos 
requisitos do art. 28-A do referido diploma, ofertar o Acordo de Não Persecução Penal 
ao investigado, por se tratar de solução mais vantajosa em contraponto à possibilidade 
de o investigado se ver processado em futura ação penal. 
 
O Ministério Público brasileiro é, assim, um promotor de política criminal do 
Estado. Não é mero espectador, não é autômato da lei penal. Na condição de 
agente político do Estado, tem o dever de discernir a presença, ou não, do 
interesse público na persecução criminal em juízo, ou se, diante da franquia 
do art.129, inciso I, da Constituição, combinado com o art. 28 do CPP, deixará 
 
33 JOSÉ, Claudio Longroiva Pereira e Bruno Girade Parise. Segurança e Justiça: O Acordo de Não 
Persecução Penal e Sua Compatibilidade Com o Sistema Acusatório. Revista Científica Opinión 
Jurídica, v. 19, n. 38, p. 115-135, Janeiro-Junho 2020. 
34 SANCHES, Rogério Cunha e outros (Coord.), Acordo de Não Persecução Penal: Resolução 
181/2017 do CNMP, com alterações feitas pela Res. 183/2018. Salvador: Editora Juspodivm. 2018. 2d. 
p.287. 
23 
 
 
de proceder à ação penal, para encaminhar a causa penal a soluções 
alternativas, não judicializando a pretensão punitiva35. 
2.2) Dos sistemas penais 
Como forma de resposta estatal à pratica de infrações penais existem os 
sistemas penais dissuasório clássico, ressocializador e, aqui, destaca-se o 
consensuado, o qual: 
(...) tem o propósito de trazer à Justiça Criminal modelos de acordo e 
conciliação que visem a reparação de danos e à satisfação das expectativas 
sociais por justiça. Pode ser dividido em (1) modelo pacificador ou 
restaurativo, voltado à solução do conflito entre o autor e o crime e a vítima 
(reparação dos danos) e (2) modelo de justiça negociada (plea bargain), em 
que o agente, admitindo a culpa, negocia com o órgão acusador detalhes 
como a quantidade da pena, a forma de cumprimento, a perda de bens e 
também a reparação de danos.36 
 
Infere-se a partir da citação acima que o sistema consensuado busca a 
desburocratização da resposta estatal às infrações penais, como forma de 
desafogamento do judiciário, uma vez que a determinadas infrações basta-se a 
imposição de certas medidas a fim de se evitar a instauração do processo criminal. 
 
2.3) Do plea bargaining/bargain 
Além disso, o sistema consensuado tem como exemplo o Plea bargaining 
ou plea bargain, o qual trata-se de: 
Acordo entabuladoentre a acusação e o réu, por meio do qual este confessa 
voluntariamente a prática de uma infração penal (guilty plea) ou deixa de 
contestá-la (plea of nolo contendere), em troca de um benefício oferecido pelo 
promotor, como o reconhecimento de um crime menos grave, a retirada de 
uma ou mais infrações imputadas ou a recomendação ao magistrado para a 
aplicação de uma sanção menos severa, evitando-se o processo37. 
 
Dessa forma, conclui-se que o Acordo de Não Persecução Penal se 
assemelha ao plea bargain, o qual surgiu nos Estados Unidos, apoiando-se no 
common law, nesse sentido: 
Foi somente após a Guerra Civil americana que os casos de plea bargaining 
começaram a aparecer nos relatórios das cortes de apelação. No primeiro 
caso, surgido em Tenessee em 1865, o acusado confessou duas acusações 
de jogo ilegal. Em troca, o promotor retirou outras oito acusações 
semelhantes. 38 
 
35 Idem, p. 287-288. 
36 SANCHES, Rogério Cunha e outros (Coord.), Acordo de Não Persecução Penal: Resolução 
181/2017 do CNMP, com alterações feitas pela Res. 183/2018. Salvador: Editora Juspodivm. 2018. 2d. 
p.123. 
37 Idem, p. 227. 
38 SANCHES, Rogério Cunha e outros (Coord.), Acordo de Não Persecução Penal: Resolução 
181/2017 do CNMP, com alterações feitas pela Res. 183/2018. Salvador: Editora Juspodivm. 2018. 2d. 
p.226. 
24 
 
 
 
Insta ressaltar que a semelhança entre o Acordo de Não Persecução Penal 
e o plea bargain reside no fato de que em ambos o investigado irá confessar o delito 
e a ele será proposto referido acordo, em que ao cumprir determinadas condições, 
evita-se a persecução penal e soluciona-se a lide de forma consensual. 
Nesta quadra, destaca-se o instrumento do acordo na seara criminal, 
podendo ser compreendido, em apertada síntese, como o ajuste obrigacional 
celebrado entre o órgão de acusação e o indiciado/acusado (assistido por 
advogado), assumindo este sua culpa/responsabilidade, aceitando cumprir, 
desde logo, sanção penal reduzida e/ou minorada nos seus efeitos, benesse 
concedida em troca de informações úteis ao esclarecimento do delito, 
renunciado ao processo criminal.39 
 
 
2.4) Da justiça restaurativa 
Referido acordo baseia-se na Justiça Restaurativa, a qual consiste em um 
avanço de política criminal em consonância com a evolução mundial do direito penal 
consensuado. 
A Justiça Restaurativa é uma forma de autocomposição. Desenvolveu-se nos 
países que adotam o modelo common law, mais afeitos à aplicação do 
princípio da oportunidade (prosecutorial discretion). No Brasil, tem 
encontrado algum espaço. Em 2014, o CNJ aprovou o protocolo de 
Cooperação Interinstitucional para Difusão da Justiça Restaurativa, que 
dispõe sobre a promoção dos princípios e práticas de Justiça Restaurativa 
como estratégia de solução autocompositiva e pacificação de situações de 
conflitos, aplicável também a infrações penais, mediante a cura de vítimas, 
acusados e suas comunidades.40 
 
A justiça negociada está atrelada à ideia de eficiência (viés economicista), 
de modo que as ações desenvolvidas devem ser eficientes, para com isso chegarmos 
ao melhor resultado41. 
Desde 1995 revolucionou-se o sistema de persecução criminal. Antes do 
conflito, do embate e do entrechoque de opiniões e teses é possível a conciliação 
entre as partes, permite-se que de evitem as agruras do processo penal (...).42 
A ONU – Organização das Nações Unidas – prevê em suas Normas e 
Princípios das Nações Unidas sobre Prevenção ao Crime e Justiça Criminal: 
De acordo com lei nacional, os promotores devem dar a devida consideração 
à desistência de processos, descontinuando procedimentos condicional ou 
incondicionalmente, ou desviando casos do sistema de justiça formal, com 
total respeito pelos direitos do(s) suspeito(s) e da(s) vítima(s). Para esse fim, 
 
39 Idem, p. 124. 
40 Idem, p. 299-300. 
41LOPES, Aury Jr., Direito Processual Penal. São Paulo: Saraiva. 2016. 13ed. p. 418. 
42 SANCHES, Rogério Cunha e outros (Coord.), Acordo de Não Persecução Penal: Resolução 
181/2017 do CNMP, com alterações feitas pela Res. 183/2018. Salvador: Editora Juspodivm. 2018. 2d. 
p.290. 
25 
 
 
os Estados devem explorar totalmente a possibilidade de adotar planos 
alternativos, não apenas para aliviar o peso excessivo sobre os tribunais, mas 
também para evitar a estigmatização da detenção pré-julgamento, 
indiciamento e condenação, e também os possíveis efeitos adversos do 
encarceramento43. 
 
 
2.5) Da introdução do Acordo de Não Persecução Penal no ordenamento jurídico 
brasileiro 
O Acordo de Não Persecução Penal veio como mais uma mitigação do 
princípio da indisponibilidade e da obrigatoriedade da ação penal, os quais já haviam 
o sido pelos institutos da transação penal e da suspensão condicional do processo, 
ambos previsto na Lei 9.099/95. 
Há que se concluir que, no atual cenário, frear a autonomia do Ministério 
Público frente as ações penais, obrigar a instauração de um processo penal, nada 
mais é que uma involução em comparação aos demais países desenvolvidos, o que 
buscam, há tempos, formas de se frear a instauração de processos criminais, com 
formas de solução criminal consensuada. 
Importante destacar que a mitigação do princípio da obrigatoriedade da ação 
e penal não é novidade em nosso ordenamento jurídico, haja vista a 
existência de institutos como a transação penal, suspensão condicional do 
processo e não oferecimento de denúncia em razão de acordo de 
colaboração premiada. Da mesma forma, não se trata de novidade em nível 
mundial. Nesse tom, países como Estados Unidos da América, Bolívia e 
Alemanha possuem institutos semelhantes com finalidade de se evitar a 
promoção da ação penal em prol da solução mais adequada para o caso, 
tanto do ponto de vista do autor do crime, quanto de sua vítima.44 
 
Diante disso, o Brasil não teve como escapar de inserir um sistema de 
acordo penal extrajudicial, como forma de desafogar o judiciário, que muitas vezes se 
vê abarrotado de processos os quais, diante da alta quantidade de processos e baixa 
de servidores e membros, veem-se fulminados pela prescrição, o que denota, que 
todo o trabalho com esses processos acaba indo por água abaixo. 
Como a resposta estatal que vem sendo utilizada para conter essa taxa 
descontrolada de delinquência está pautada no encarceramento de pessoa 
que cometeram infrações penais com potencialidades lesivas tão díspares, o 
sistema prisional brasileiro se encontra saturado. 
Segundo o levantamento feito pelo Conselho Nacional de Justiça (2018, p. 
31), existem no Brasil 602.217 pessoas privadas de liberdade, quarto maior 
índice do mundo, atrás apenas dos Estados Unidos, China e Rússia, 
 
43 JOSÉ, Heron de Santana Godilho e Marcel Bittencourt Silva. Acordo de Não-Persecução Penal e 
Discricionariedade Mitigada na Ação Penal Pública. Revista de Criminologias e Políticas Criminais, 
Belém, v. 05, n. 02, p. 99-120, jul/dez 2019. 
44 SANCHES, Rogério Cunha e outros (Coord.), Acordo de Não Persecução Penal: Resolução 
181/2017 do CNMP, com alterações feitas pela Res. 183/2018. Salvador: Editora Juspodivm. 2018. 2d. 
p.80-81. 
26 
 
 
distribuídas em um sistema prisional que disponibiliza 416.234 vagas (CNJ, 
2014, p. 1)45. 
 
A conclusão pela imprescindibilidade da implementação de um sistema 
penal de acordo é tão amplamente aceita na doutrina brasileira e mundial, que existem 
alguns autores, como ROSA e LOPES JUNIOR apud SANCHES, que chegaram a 
afirmar que somente: 
Os juristas desatualizados insistem em excluir os institutos da Justiça 
Negociada do ambiente processual brasileiro, lutando por manter a ilha 
moderna do processo penal e o fetiche pela decisão penal de mérito como o 
único mecanismo de descoberta e de produção de sanções estatais. 46 
 
Cumpre ressaltar que o Acordo de Não Persecução Penal inicialmentefoi 
implantado por meio da Resolução nº 181/2017, de autoria do Conselho Nacional do 
Ministério Público e, recentemente, mais precisamente em 24 de dezembro de 2019 
foi introduzida no Código de Processo Penal através do Pacote Anticrime (Lei nº 
13.964/19). Referido pacote veio, de uma vez por todas, a quebrar o grande 
questionamento sobre a constitucionalidade do instituto, cessando a discussão acerca 
do princípio da legalidade e a competência legislativa da União para editar normas 
Processuais Penais. 
Destaca-se aqui, que o intuito do presente trabalho de conclusão de curso 
não é analisar a constitucionalidade do Acordo de Não Persecução Penal, uma vez 
que tal questionamento parece-nos ultrapassado diante da legalização da norma que 
o previa, uma vez que atualmente referido acordo está legalmente previsto no art. 28-
A do Código de Processo Penal. 
 
2.6) Do conceito, aplicabilidade e natureza jurídica do Acordo de Não Persecução 
Penal 
Em relação ao Acordo de Não Persecução Penal o ilustre professor Renato 
Brasileiro de Lima ensina: 
(...) cuida-se de negócio jurídico de natureza extrajudicial, necessariamente 
homologado pelo juízo competente, celebrado entre o Ministério Público e o 
autor do fato delituoso – devidamente assistido por seu defensor -, que 
confessa formal e circunstanciadamente a prática do delito, sujeitando-se ao 
cumprimento de certas condições não privativas de liberdade, em troca do 
 
45 JOSÉ, Heron de Santana Godilho e Marcel Bittencourt Silva. Acordo de Não-Persecução Penal e 
Discricionariedade Mitigada na Ação Penal Pública. Revista de Criminologias e Políticas Criminais, 
Belém, v. 05, n. 02, p. 99-120, jul/dez 2019. 
46 SANCHES, Rogério Cunha e outros (Coord.), Acordo de Não Persecução Penal: Resolução 
181/2017 do CNMP, com alterações feitas pela Res. 183/2018. Salvador: Editora Juspodivm. 2018. 2d. 
p.21. 
27 
 
 
compromisso do Parquet de promover o arquivamento do feito, caso a avença 
seja integralmente cumprida. 47 
 
Quanto ao referido instituto o artigo 28-A do Código de Processo Penal 
dispõe que: 
Art. 28-A. Não sendo caso de arquivamento e tendo o investigado confessado 
formal e circunstancialmente a prática de infração penal sem violência ou 
grave ameaça e com pena mínima inferior a 4 (quatro) anos, o Ministério 
Público poderá propor acordo de não persecução penal, desde que 
necessário e suficiente para reprovação e prevenção do crime, mediante as 
seguintes condições ajustadas cumulativa e alternativamente:48 
 
Destaca-se, aqui, que referido artigo prevê o impedimento à aplicação do 
ANPP quando se tratar de crime que envolva violência ou grave ameaça. 
Ocorre que, a violência pode ser própria, através do uso da força ou 
imprópria, quando é utilizado outro meio para redução da resistência da vítima. O art. 
28-A deixa a entender que tratando-se de violência, independentemente do tipo, não 
é aplicável o instituto do ANPP. 
No entanto, há quem entenda que pode haver exceções, vejamos: 
(...) É o que ocorre no caso do agente que subtrai bens de um edifício e, 
posteriormente, ministra sonífero na água do porteiro do local, que não sofre 
nenhum dano à sua saúde, para evadir-se com sucesso em posse dos 
objetos do crime. Como se vê, não se trata de roubo impróprio (por ausência 
de previsão do emprego de violência imprópria como elementar de tal delito), 
mas de furto consumado, hipótese em que, em tese, mesmo com a prática 
de violência imprópria, excepcionalmente, seria admissível a realização do 
acordo de não persecução penal.49 
 
Assim, o ANPP (Acordo de Não Persecução Penal) nada mais é que um 
negócio jurídico realizado entre o Ministério Público e o investigado, quando não for 
caso de arquivamento e o investigado confessar formal e circunstanciadamente a 
prática delitiva, este passa a ter direito ao cumprimento de determinadas condições 
elaboradas pelo Parquet em troca de não se ver processado em uma futura ação penal. 
Inicialmente, é necessário observar que o propósito do acordo de não-
persecução penal é conferir ao acusado um procedimento alternativo que 
impeça a deflagração de um processo judicial e, por consequência, traga a 
não aplicação de pena privativa de liberdade como principal reflexo na esfera 
individual do autor do delito.50 
 
47 LIMA, Renato Brasileiro de. Manual de Processo Penal: volume único. 7ª ed. Ver- ampl. E atual. 
Salvador: Ed. Juspodivm. 2019. p. 200. 
48 BRASIL. Código de Processo Penal. Brasília, DF: Presidência da República. Disponível em: < 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del3689compilado.htm>. Acesso em 04/04/2020. 
49 SANCHES, Rogério Cunha e outros (Coord.), Acordo de Não Persecução Penal: Resolução 
181/2017 do CNMP, com alterações feitas pela Res. 183/2018. Salvador: Editora Juspodivm. 2018. 2d. 
p. 153. 
50 Idem, p.60. 
28 
 
 
 
Entre as possíveis condições previstas nos incisos I, II, III e IV do art. 28-A 
do CPP, destacam-se: reparar o dado ou restituir a coisa a vítima, renunciar a bens e 
direitos, prestar serviços à comunidade, pagar prestação pecuniária ou cumprir outra 
condição indicada pelo Ministério Público. 
Também se promove uma antecipação da perda dos bens provenientes do 
crime, pois para a celebração do acordo de não persecução penal, a pessoa 
deve renunciar voluntariamente a bens e direitos indicados pelo Ministério 
Público como instrumentos, produto ou proveito do crime. 51 
 
Essas condições necessariamente deverão ser não privativas de liberdade, 
versando sobre prestações claramente disponíveis.52 
Em relação à confissão formal e circunstanciada cumpre destacar que o 
investigado deve ser: 
(...) Formalmente advertido quanto ao direito de não produzir provas contra 
si mesmo e não seja constrangido a celebrar o acordo, parece não haver nenhuma 
incompatibilidade entre esta primeira obrigação do investigado e o direito ao silêncio.53 
No entanto, quanto a confissão, entende-se que não é possível usá-la como 
prova no futuro, tendo em vista os seguintes aspectos: 
Primeiro, porque ela foi realizada extrajudicialmente e, por isso, é equivalente 
à confissão realizada na esfera policial. Aplicável, portanto, a regra do art. 
155, caput, do CPP. 
Segundo, porque a confissão não foi colhida sob as regras de uma ação penal 
regular, ou seja, de acordo com os princípios constitucionais do devido 
processo legal, do contraditório e da ampla defesa (art. 5º, LIV e LV, da 
CF/1988).54 
 
 
 
Ainda, segundo LENIESKY APUD SANCHES: 
Terceiro, porque apesar de o ANPP exigir a confissão, “não há 
reconhecimento expresso de culpa pelo investigado. Há, se tanto, uma 
 
51 TASSE, Adel El. O Acordo de Não Persecução Penal: Possibilidade Vinculada à Observância da 
Constituição Federal. 2020, Disponivel em < https://www.migalhas.com.br/depeso/318960/o-acordo-
de-nao-persecucao-penal-possibilidade-vinculada-a-observancia-da-constituicao-federal>. Acesso em: 
25 abr. 2020. 
52 LIMA, Renato Brasileiro de. Manual de Processo Penal: volume único. 7ª ed. Ver- ampl. E atual. 
Salvador: Ed. Juspodivm. 2019. p. 207. 
53 Idem, p. 207. 
54 LENIESKY, Fabiano. O descumprimento do acordo de não persecução penal e a (in)validade 
da confissão como prova no processo penal. 2020. Disponível em< 
https://fleniesky.jusbrasil.com.br/artigos/825701144/o-descumprimento-do-acordo-de-nao-persecucao-
penal-e-a-in-validade-da-confissao-como-prova-no-processo-penal?ref=feed> Acesso em: 19. Mai. 
2020. 
29 
 
 
admissão implícita de culpa, de índole puramente moral, sem repercussão 
jurídica. A culpa, para ser efetivadamente reconhecida, demanda o devido 
processo legal”.55 
 
Em contraponto, quando oferecido o Acordo de Não Persecução Penal em 
sede de ação penal em curso, durante a audiência de instrução e julgamento, não há 
que se falar em confissão com a mesmasistemática da oferecida na fase inquisitória, 
uma vez que na audiência de instrução e julgamento o juiz estará presente e o réu 
estará em pleno gozo de seus direitos penais fundamentais, como a ampla defesa, o 
contraditório e o direito a ser julgado por um juiz dotado de jurisdição. Sendo assim, 
eventual descumprimento do acordo acarretará o uso dessa confissão como prova. 
Quanto à dicção aberta do termo “outras condições indicadas pelo 
Ministério Público”, é necessário frisar que tais condições devem ser compatíveis e 
respeitar o caráter de que não se trata de pena, o intuito aqui é que referidas condições 
servem para demonstrar autodisciplina e ressocializar o investigado. 
O CPP, no §2º, do referido artigo, dispõe ainda que o acordo não será 
cabível caso seja aplicável a transação penal, o acusado tenha sido beneficiado nos 
05 (cinco) anos com os institutos da transação ou do sursis (previstos na Lei nº 
9.099/95). 
Quanto ao procedimento: 
Preenchidas tais condições, o representante do Ministério Público designará 
audiência em seu gabinete ou sede da Promotoria para as tratativas iniciais 
sobre discussão de que condições serão aplicadas. (...) Depois disso haverá 
uma audiência perante o juiz (...) que, após averiguar a presença da 
legalidade e voluntariedade do acordo, homologa-o. Haverá ainda uma 
terceira audiência perante o Juízo das Execuções para decidir sobre o local 
e outros assuntos referente ao cumprimento das condições.56 
 
Caso conclua como insuficientes ou abusivas as cláusulas do acordo, o juiz 
ordenará que retorne ao Parquet para reformular as condições ou ainda, pode o 
magistrado recusar a homologação oportunidade em que o Ministério Público o 
receberá os autos para análise de complemento das investigações ou para oferecer 
denúncia. 
 
55 LENIESKY, Fabiano. O descumprimento do acordo de não persecução penal e a (in)validade 
da confissão como prova no processo penal. 2020. Disponível em< 
https://fleniesky.jusbrasil.com.br/artigos/825701144/o-descumprimento-do-acordo-de-nao-persecucao-
penal-e-a-in-validade-da-confissao-como-prova-no-processo-penal?ref=feed> Acesso em: 19. Mai. 
2020. 
56LOPES, Aury Jr. e Higyna Josita. Questões Polêmicas do Acordo de Não Persecução Penal. 2020, 
Disponivel em <https://www.conjur.com.br/2020-mar-06/limite-penal-questoes-polemicas-acordo-nao-
persecucao-penal#_ftn3>. Acesso em: 16 abr. 2020 
30 
 
 
O ANPP será cumprido pelo investigado no Juízo das Execuções e caso o 
investigado não cumpra com as condições o Ministério Público comunicará ao juízo a 
rescisão para posterior oferecimento de denúncia. 
Aqui, merece apontamento de que as condições do ANPP não têm 
natureza de pena, no entanto, o legislador optou por promover à sua execução no 
Juízo das Execuções, o que pode denotar a busca pela fiscalização imparcial da 
jurisdição. No entanto, a doutrina tem criticado tal escolha. 
(...) Nesse ponto merece crítica, pois, o ANPP jamais poderia ser executado 
na Vara de Execução Criminal, tendo em vista que em tal vara se executa tão 
somente a pena e não medidas despenalizadora. É tão errado colocar o 
ANPP na Vara de Execução Criminal, quanto seria colocar na Vara de 
Execução Criminal, cumprimento de transação penal e suspensão 
condicional do processo.57 
 
Da não homologação do Acordo de Não Persecução Penal, prevê o artigo 
581, XXV, do Código de Processo Penal será cabível Recurso em Sentido Estrito. 
Cumpre salutar que o art. 116, IV, do Código Penal prevê que enquanto não 
cumprido ou rescindido o Acordo de Não Persecução Penal antes do transito em 
julgado da sentença penal, fica impedida a ocorrência da prescrição. 
Aqui, em sede de acordo de não persecução penal, é necessário ressaltar, 
que o intuito do legislador não é dar a sensação de impunidade ao indivíduo que 
cometeu o crime, mas sim em vista da primazia dos princípios da eficiência e da 
celeridade, buscar uma forma de punir o infrator antes que, em virtude da imensa 
carga de processos existentes no judiciário, a pratica delitiva se veja fulminada pelo 
instituto da prescrição ou haja a perda das provas lastreadas nos autos pelo decurso 
do tempo. 
Nesse sentido: 
Desse modo, percebe-se que o instrumento em estudo não cuida de benefício 
sem consequências para o infrator. Trata-se de acordo com estipulação de 
deveres rígidos à parte autora do crime. Se por um lado ela se vê livre de 
uma pena privativa de liberdade, por outro é obrigada a cumprir uma série de 
exigências postas pelo ordenamento jurídico como forma de demonstrar sua 
capacidade de se reintegrar à sociedade.58 
Por fim, ressalta-se o previsto no §14 do art. 28-A do Código de Processo 
Penal: 
 
57 MOREIRA, Leopoldo Gomes. O Acordo de Não Persecução Penal com o Advento da Lei 
13.964/19, 2020. Disponível em< https://www.migalhas.com.br/depeso/321444/o-acordo-de-nao-
persecucao-penal-com-o-advento-da-lei-13964-19>. Acesso em: 04 abril. 2020. 
58 Idem p.63. 
31 
 
 
§ 14. No caso de recusa, por parte do Ministério Público, em propor o acordo 
de não persecução penal, o investigado poderá requerer a remessa dos autos 
a órgão superior, na forma do art. 28 deste Código59. 
 
Quanto à natureza jurídica do Acordo de Não Persecução Penal entende-
se que se trata de acordo penal extrajudicial que depende de homologação judicial60. 
Sem dúvida, a concepção que também inclui considerações de oportunidade 
e consenso no exercício da ação penal pública tem ganho espaço aos poucos 
no sistema jurídico brasileiro, a partir da Constituição Federal de 1988, que, 
além de conferir independência funcional ao Ministério Público, permitiu a 
instituição do procedimento sumaríssimo, com transação penal.61 
 
Quanto a natureza jurídica das medidas impostas ao investigado, há 
intenso debate doutrinário: 
A presença da pena tem por pressuposto a manifestação do jus puniendi 
estatal e este só se concretiza por meio da jurisdicionalidade, isto é, por meio 
da manifestação jurisdicional a ser construída após provocação da parte que 
se vale do lídimo exercício do direito de ação judiciária. No entanto, ainda que 
as medidas descritas no acordo de não persecução penal guardem similitude 
ou identidade com espécies de penas restritivas de direitos, não se trata de 
sanção penal imposta como reconhecimento do crime.62 
 
2.7) Das semelhanças entre o Acordo de Não Persecução Penal e os institutos da 
Transação Penal e da Suspensão Condicional do Processo 
Dessa forma, a partir da reflexão acima, entende-se que o Acordo de Não 
Persecução surgiu no ordenamento jurídico brasileiro tomando como paradigma a 
Suspensão Condicional do Processo e a Transação Penal, as quais vem previstas na 
Lei nº 9.099/95 e são formas de mitigação dos princípios da indisponibilidade e 
obrigatoriedade da ação penal. 
A transação penal é medida despenalizadora de efeito penal e processual 
penal, através da qual aplica-se ao autor do fato uma pena alternativa, não privativa 
de liberdade, em momento anterior ao recebimento da denúncia.63 
Quanto à natureza jurídica do cumprimento da transação penal: 
 
59 BRASIL. Código de Processo Penal. Brasília, DF: Presidência da República. Disponível em: < 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del3689compilado.htm>. Acesso em 04/04/2020. 
60 LIMA, Renato Brasileiro. Manual de Processo Penal. 7ª ed. Rev. Ampl. e Atual. Salvador: Ed. 
Juspodivm. 2019. P. 200. 
61 Idem, p. 286. 
62 Idem, p. 112 
63 MENDONÇA, Ana Cristina. Processo Penal: Coleção Resumos para Concursos. 3ª ed. Ver. E 
atual: Salvador: Juspodivm. 2018. P. 250. 
32 
 
 
A verificação concreta e exata do cumprimento ou do descumprimento do 
acordo, efetivando-se no primeiro caso a extinção da punibilidade e, no segundo, a 
oportunidade da persecução penal em Juízo64. 
Já a suspensão condicional doprocesso é cabível, a princípio, nos crimes em 
que a pena mínima cominada for igual ou inferior a um ano, sendo ou não da 
competência dos Juizados Especiais Criminais, desde que presentes os 
requisitos previstos nos arts. 77 e 78 do Código Penal e que o acusado não 
esteja sendo processando ou não tenha sido condenado por outro crime. 65 
 
Decorrido o período de prova sem que o acusado tenha dado causa à 
revogação do benefício, deve o juiz declarar extinta a punibilidade, mediante sentença 
terminativa de mérito.66 
Assim, verifica-se que o Acordo de Não Persecução Penal assemelha-se, 
e muito, aos institutos da transação penal e da suspensão condicional do processo, 
uma vez que em todos findo o período de prova e cumpridas todas as condições, o 
juiz declarará extinta a punibilidade do agente. 
 
2.8) Da aplicabilidade do Acordo de Não Persecução Penal nos crimes contra a 
Administração Pública 
Ainda, o Código de Processo Penal prevê expressamente que não será 
cabível o ANPP no caso de crime praticado no âmbito da violência doméstica ou 
familiar contra a mulher, ou praticados contra mulher por questões de gênero, 
conforme IV, §2º do art. 28-A. 
Uma grande interrogação sobre o ANPP paira sobre sua aplicabilidade nos 
crimes contra a administração pública, em razão de seu impacto nos dias de hoje, em 
razão das práticas criminosas decorrentes da corrupção enraizada no país. Referidos 
crimes, são de suma relevância em razão do impacto que recai sobre a sociedade 
como um todo. 
Some-se a isso uma considerável e significativa verdadeira “cruzada 
midiática”, normalmente identificada como “combate à corrupção” ou “luta 
contra a corrupção”, que leva a uma atuação ainda mais recrudescidas das 
instâncias de controle, com que identificaríamos como pontos culminantes as 
chamadas grandes operações policiais e grandes julgamentos, além da 
proposição demagógica e moralista demais projetos de lei repressivo (...). 67 
 
 
64 REBOUÇAS, Sérgio. Curso de Direito Processual Penal. Salvador: Juspodivm. 2017, p. 1.107. 
65 Idem, p. 251-252. 
66 LIMA, Renato Brasileiro de. Manual de Processo Penal: volume único. 7ª ed. Ver- ampl. E atual. 
Salvador: Ed. Juspodivm. 2019. p. 1534. 
67 SOUZA, Luciano Anderson de Souza. Crimes contra a administração pública [livro eletrônico]. 2ª. 
ed. São Paulo: Thomson Reuters Brasil, 2019. P. 9. 
33 
 
 
A tônica repressiva assumiu, assim, diuturno protagonismo na pouta 
sociopolítica brasileira, dando azo a um peculiar “populismo punitivo”, o qual 
parece ter identificado a corrupção como a grande responsável pelas mazelas 
sociais do país.68 
 
 
O §2º, IV, do art. 28-A do Código de Processo Penal ao trazer somente a 
vedação em crimes que envolvam violência doméstica ou contra a mulher por 
questões de gênero, restou silente quanto a sua aplicação nos crimes contra a 
administração pública. 
Não está totalmente consolidado o entendimento sobre referida temática, 
em razão da inovação do ANPP ser muito recente. No entanto, não se vê razão para 
não aplicação do referido instituto, uma vez que os crimes contra a administração 
pública preenchem o requisito da aplicação de pena mínima inferior a 04 anos. 
Ademais, uma das condições possíveis de serem cumpridas em sede de ANPP é o 
pagamento de prestação pecuniária, que se coaduna com a busca pelo ressarcimento 
ao erário prevista nos crimes funcionais. 
Esse amplo alcance, todavia, não pode levar a destutela da administração 
pública, situação possível no caso de as condições fixadas no acordo serem 
insuficientes para aquela proteção. Em casos de elevada gravidade do fato, 
grande extensão do dano causado, ou significativo proveito patrimonial obtido 
pelo agente (...) podem ser ajustadas condições suplementares desde que 
proporcionais e compatíveis com a infração penal aparentemente praticada69. 
 
Nesse sentido: 
De todo modo, independentemente de sua aprovação, vigora no país o 
Acordo de Não Persecução Penal (...) que não impede a celebração desse 
ajuste nos casos de delitos praticados contra a administração[2]. Em razão 
disso, e considerando o patamar de pena mínima inferior a 4 anos (...), 
verifica-se o cabimento do acordo em praticamente todos os crimes 
funcionais previstos na legislação penal brasil.70 
 
Destaca-se, novamente, que o cumprimento total do ANPP gera a extinção 
da punibilidade do investigado, a qual será decretada pelo Juízo competente. 
Quanto ao descumprimento das condições assumidas pelo investigado, 
prevê o §10, do art. 28-A, do CPP que o Ministério Público comunicará o ocorrido ao 
Juízo para que proceda à rescisão e posterior oferecimento de denúncia pelo Parquet. 
Essa denúncia a ser oferecida pelo Ministério Público poderá trazer, como 
suporte probatório, inclusive a confissão formal e circunstanciada do 
 
68 Idem, p. 12. 
69 SANCHES, Rogério Cunha e outros (Coord.), Acordo de Não Persecução Penal: Resolução 
181/2017 do CNMP, com alterações feitas pela Res. 183/2018. Salvador: Editora Juspodivm. 2018. 2d. 
p.166 
70 SOUZA, Luciano Anderson de Souza. Crimes contra a administração pública [livro eletrônico]. 2ª. 
ed. São Paulo: Thomson Reuters Brasil, 2019. P. 15. 
https://www.conjur.com.br/2019-dez-12/opiniao-acordo-nao-persecucao-penal-crimes-funcionais#_ftn2
34 
 
 
investigado por ocasião da celebração do acordo. Ora, se o próprio 
investigado deu ensejo à rescisão do acordo, deixando de adimplir as 
obrigações convencionadas, é de todo evidente que não se poderá desprezar 
os elementos de informação por ele fornecidos.71 
 
2.9) Da imprescindibilidade da figura do defensor 
Aqui destaca-se a suma importância de o investigado estar acompanhado 
de advogado no momento da confissão, uma vez que eventual prova produzida por 
ele nesse momento, poderá e será utilizada em seu desfavor. Sempre, por óbvio, 
respeitando-se, conforme art. 197 do CPP, que a confissão por si só não pode ensejar 
condenação. 
Embora o acordo possa aparentar simples avença entre a acusação e a 
defesa, parece-nos absurda a ideia de que o advogado, como ocorre no plea 
bargaining tenha que orientar seu cliente a “fechar o acordo” às escuras, sem 
que tenha acesso aos elementos de prova que – e se – justificariam uma 
acusação tradicional. 
É igualmente imprescindível que o acusado tenha plena noção de que, 
optando pela declaração de culpa, estará abdicando do direito a um 
julgamento regular, nele incluídos o direito à prova e a contradição da prova 
(...) a não autoincriminação e a um julgamento perante um juiz imparcial.72 
 
Dessa forma, em razão do papel da confissão na aplicação do Acordo de 
Não Persecução Penal é necessário que a defesa técnica seja feita da melhor forma 
possível. 
Nessa mesma medida, é óbvio que a defesa deverá ser efetiva, uma vez 
que defesa técnica irreal, falha, omissa, leniente equivale a ausência de defesa, sendo 
causa de nulidade do processo. 73 
Assim, os acordos de não-persecução penal não podem ser propostos, 
negociados, formalizados, nem executados sem a intervenção de advogado ou 
defensor público atuando em favor do investigado, em todas as etapas do 
procedimento. 74 
No entanto, há quem defenda que a confissão firmada pelo investigado não 
poderá ser usada como prova em eventual processo, uma vez que tem natureza 
exclusivamente moral e não jurídica. 
 
71 LIMA, Renato Brasileiro de. Manual de Processo Penal: volume único. 7ª ed. Ver- ampl. E atual. 
Salvador: Ed. Juspodivm. 2019. p. 209. 
72 SANCHES, Rogério Cunha e outros (Coord.), Acordo de Não Persecução Penal: Resolução 
181/2017 do CNMP, com alterações feitas pela Res. 183/2018. Salvador: Editora Juspodivm. 2018. 2d. 
p.354. 
73 SANCHES, Rogério Cunha. Pacote anticrime – Lei n. 13.964/2019: Comentários às alterações do 
CP, CPP e LEP. Salvador: Editora Juspodivm, 2020. P. 324. 
74 Idem,

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