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COPYRIGHT © 2020 CENTRO UNIVERSITÁRIO REDENTOR. Todos os direitos reservados ao: Centro Universitário Redentor Todos os direitos reservados e protegidos pela Lei 9.610/98. Nenhuma parte deste livro, sem prévia autorização por escrito da detentora dos direitos, poderá ser reproduzida ou transmitida, sejam quais forem os meios empregados: eletrônicos, mecânicos, fotográficos, gravações ou quaisquer outros. Diretoria EaD Muriel Batista de Oliveira | Currículo lattes Gerência EaD Jamil Bussade Neto | Currículo lattes Design Instrucional EaD – Editoração Eletrônica e Diagramação Joelmir Vinhoza Canazaro | Currículo lattes Thiago Carneiro Ximenes | Currículo lattes Projeto Gráfico Jaqueline de Souza Ferreira Batista | Currículo lattes Catalogação na publicação: Rúbia Christina Lopes Ribeiro – CRB7 4479/RJ G184p Gama, Liliane Cunha. Prática pedagógica III [recurso eletrônico] / Liliane Cunha Gama / Design e editoração; Joelmir Vinhoza Canazaro ; Thiago Carneiro Ximenes ; Projeto gráfico Jaqueline de Souza Ferreira Batista ; Revisão ortográfica Eliane Azevedo. – Itaperuna : Instituto Begni Ltda. 2020. Modo de acesso: http://redentor.inf.br/ead ISBN: 978-65-87740-08-9 1. Prática de ensino I. Canazaro, Joelmir Vinhoza II. Ximenes, Thiago Carneiro III. Ferreira, Jaqueline de Souza Batista IV. Azevedo, Eliane V. Título. CDD 370 http://lattes.cnpq.br/0784758212451121 http://lattes.cnpq.br/9691962714951230 http://lattes.cnpq.br/1587184544277102 http://lattes.cnpq.br/2788987269916646 http://lattes.cnpq.br/1329871629272364 http://redentor.inf.br/ead Nome do professor Sobre a autora Liliane Cunha Gama Especialista em docência do Ensino Superior (Fundação São José) e Gestão Empreendedora da Educação pela UFF. Pedagoga do Departamento CASA do Centro Universitário Redentor de Itaperuna. Professora da UniRedentor desde 2019 do curso de Letras na modalidade EaD. Possui grande experiência como coordenadora pedagógica do Ensino Fundamental e EJA. Liliane Cunha Gama Apresentação Olá querido aluno (a), seja muito bem-vindo (a)! Na disciplina de Prática Pedagógica III iremos ampliar alguns conhecimentos e conceitos vivenciados nas práticas anteriores, bem como nos envolver com assuntos novos e pertinentes que muito irão contribuir com o nosso fazer em sala de aula e na vida. Nessas aulas veremos as perspectivas curriculares, a problemática curricular no campo da pesquisa e investigação, diferentes formas de organização curricular, políticas curriculares, parâmetros curriculares nacionais (PCN’s), pensamento curricular, pedagogia de projeto e desafios do professor nos aspectos relacionais na prática pedagógica. Iremos nos abastecer de valiosos conhecimentos e nos apropriar sobre o quando, o como, o para quê e o por quê as coisas acontecem na Educação e o quanto temos nas mãos a ferramenta da transformação. . . Bons estudos! Objetivos Este caderno de estudos tem como objetivos: ➢ Apresentar as perspectivas curriculares, a problemática curricular no campo da pesquisa e investigação, diferentes formas de organização curricular, políticas curriculares, parâmetros curriculares nacionais (PCN’s), pensamento curricular, pedagogia de projeto e desafios do professor nos aspectos relacionais na prática pedagógica bem como na abordagem delas. Sumário AULA 1 – PERSPECTIVAS CURRICULARES 1 INTRODUÇÃO .............................................................................................. 12 1.1 Considerações finais .................................................................................. 15 AULA 2 – A PROBLEMÁTICA CURRICULAR COMO CAMPO DE PESQUISA E INVESTIGAÇÃO 2 INTRODUÇÃO .............................................................................................. 19 2.1 Currículo e o estudante.............................................................................. 24 2.2 Considerações finais .................................................................................. 24 AULA 3 – DIFERENTES FORMAS DE ORGANIZAÇÃO CURRICULAR 3 INTRODUÇÃO .............................................................................................. 27 3.1 Constituição Brasileira de 1988 (CFB/88) .................................................. 29 3.1.1 Sobre A LDB n° 9394/96 .............................................................................. 29 3.2 Considerações finais .................................................................................. 33 AULA 4 – POLÍTICAS CURRICULARES DESENVOLVIDAS NA REALIDADE BRASILEIRA 4 INTRODUÇÃO .............................................................................................. 37 4.1 Parâmetros Curriculares Nacionais ........................................................... 39 4.2 Considerações finais .................................................................................. 40 AULA 5 – RELAÇÃO ENTRE PRODUÇÃO CURRICULAR, SABERES PROFISSIONAIS E FORMAÇÃO PROFISSIONAL 5 INTRODUÇÃO .............................................................................................. 43 5.1 Considerações finais .................................................................................. 49 AULA 6 – IMPLICAÇÕES ENTRE DIDÁTICA E CURRÍCULO 6 INTRODUÇÃO .............................................................................................. 53 6.1 Prática pedagógica ................................................................................... 53 6.2 Considerações finais .................................................................................. 58 AULA 7 – PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS 7 INTRODUÇÃO .............................................................................................. 63 7.1 Considerações finais .................................................................................. 67 AULA 8 – PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS 8 INTRODUÇÃO .............................................................................................. 70 8.1 Considerações finais .................................................................................. 75 AULA 9 – PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS 9 INTRODUÇÃO .............................................................................................. 79 9.1 Uma visão crítica sobre os PCNs ............................................................... 81 9.2 Temas transversais e ensino de inglês ...................................................... 82 9.3 Considerações finais .................................................................................. 83 AULA 10 – PENSAMENTO CURRICULAR 10 INTRODUÇÃO .............................................................................................. 86 10.1 Considerações finais .................................................................................. 93 AULA 11 – PEDAGOGIA DE PROJETOS 11 INTRODUÇÃO .............................................................................................. 97 AULA 12 – CONTINUAÇÃO PEDAGOGIA DE PROJETOS 12 INTRODUÇÃO ............................................................................................ 107 AULA 13 – CONTINUAÇÃO PEDAGOGIA DE PROJETOS 13 INTRODUÇÃO ............................................................................................ 118 13.1 Pedagogia de projetos como metodologia interativa ......................... 119 13.2 Considerações finais ................................................................................ 133 AULA 14 – DESAFIOS DO PROFESSOR NOS ASPECTOS RELACIONAIS DA PRÁTICA PEDAGÓGICA14 INTRODUÇÃO ............................................................................................ 137 14.1 A importância da mediação do professor ............................................. 139 14.2 Considerações finais ................................................................................ 142 AULA 15 – DESAFIOS DO PROFESSOR - ABORDAGEM DOS ASPECTOS RELACIONAIS DA PRÁTICA PEDAGÓGICA 15 INTRODUÇÃO ............................................................................................ 146 15.1 A participação da família........................................................................ 146 15.2 Família e o desenvolvimento do estudante ........................................... 147 15.3 Considerações finais ................................................................................ 152 AULA 16 – ESTABELECENDO RELAÇÕES DE RESPEITO E CONFIANÇA 16 INTRODUÇÃO ............................................................................................ 156 16.1 Considerações finais ................................................................................ 162 Iconografia ANOTAÇÕES LEMBRETE EXEMPLO SAIBA MAIS ATENÇÃO ATIVIDADE VÍDEO PARA REFLEXÃO Perspectivas curriculares Aula 1 APRESENTAÇÃO DA AULA Caro(a) aluno(a), ao falarmos de currículo estamos tratando da escola, ou seja, da maneira como os conteúdos são dosados e sequenciados no processo pedagógico, portanto nessa aula proponho uma discussão sobre as principais abordagens sobre currículo. OBJETIVOS DA AULA Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja capaz de: ➢ Conhecer e analisar as principais abordagens referentes ao currículo. P á g i n a | 12 1 INTRODUÇÃO Entender o currículo e o seu papel imprescindível na educação atual tem sido uma necessidade urgente. Mas pensar e transformá-lo não é tarefa fácil! O currículo é um tema importante nas áreas de conhecimentos pedagógicos, principalmente, porque tem a função de estimular os professores a se abrirem a criticidade e reflexão. Partindo dessa premissa, o educador formará alunos críticos e reflexivos, preparados para atuarem de forma transformadora. Infelizmente, na prática não é o que ocorre. Ainda temos o ensino voltado ao modelo tradicional, onde a transmissão e assimilação do conhecimento é mais valorizada que a análise entre teoria e prática. Trabalhar a formação docente na perspectiva de estimulá-los a construir sua competência crítico-reflexiva é uma das fundamentações das teorias curriculares críticas e pós- crítica. O professor precisa sair do curso de formação de professores tendo a capacidade de construir e reconstruir a realidade através dos conhecimentos compartilhados e das experiências oferecidas na sala de aula, nos estágios, nas discussões e pesquisas. Conforme afirmam os autores Ball (1998, s.p), Lingard (2004, s.p), Lopes (2007; 2010; 2010, s.p) e Macedo (2010, s.p), “a teoria e a prática são elementos indissociavelmente presentes nos movimentos de sua configuração e que essa tessitura é sempre marcada por processos que incluem negociação, criação e recriação de sentidos e significados”. Ball, (1998), Lingard, (2004), Lopes, (2007, 2010, 2010) e Macedo, (2010). Logo, ao professor precisa ser oportunizado, a vivência da teoria e da prática para que ele, através da análise crítica, seja capaz de fazer suas reconstruções e dar sentido a aprendizagem. Muitas são as perspectivas para se conceber o currículo. Dessa forma, será apresentado sob as três maiores abordagens: a tradicional, Crítica e a Pós- Crítica. Na perspectiva tradicional, a visão entendida do currículo é de uma abordagem técnica, limitada a pensar e discutir, apenas, suas melhores maneiras de organização e sua aceitação de status quo. Sendo assim, os conhecimentos são apenas teorias neutras, científicas ou desinteressadas que objetivam a educação escolarizada para se formar trabalhadores especializados ou oferecer a população uma educação acadêmica. Silva, 2007, explica que essa teoria teve como principal representante, Bobbit, que pensava o currículo como uma escola de chão de fábrica. Segundo Silva,2007, p. 23), P á g i n a | 13 [...] de acordo com Bobbit, o sistema educacional deveria começar por estabelecer de forma precisa quais são seus objetivos. Esses objetivos, por sua vez deveriam se basear num exame daquelas habilidades necessárias para exercer com eficiência as ocupações profissionais da vida adulta. Sendo assim, os especialistas organizavam nas disciplinas uma lista de conteúdos que precisavam ser desenvolvidos de forma sequenciada e eficiente. Elas eram distribuídas para que os planejamentos fossem executados e o conteúdo assimilado. Essas ideias influenciaram o mundo todo. Nas perspectivas críticas e pós‐críticas, a abordagem do currículo passou a ser mais complexa, pois elas atuam no campo da subjetividade, ou seja, através dos valores éticas e morais. “O multiculturalismo mostra que o gradiente da desigualdade em matéria de educação e currículo é função de outras dinâmicas, como as de gênero, raça e sexualidade, por exemplo, que não podem ser reduzidas à dinâmica de classe”. (SILVA, 2007, p. 90). Dessa forma, o currículo multiculturalista se destaca atualmente, defendendo as ideias de respeito e convívio harmonioso, onde os interesses de identidade e poder se tornam cada vez mais evidente. Essas teorias são contrárias a teoria tradicional, argumentando que nenhuma teoria consegue ser neutra, científica ou desinteressada, porque as relações de poder existentes entre as conexões de saber, identidade e poder, a impedem. Esse foi o primeiro questionamento da teoria crítica. Enquanto às teorias críticas, pensam o currículo de maneira subjetiva, as teorias pós‐críticas não acreditam que exista um núcleo de subjetividade a ser libertado da alienação causada pelo capitalismo. Para ambas as teorias, poder e conhecimento não se opõem, mas são mutuamente dependentes, embora a teoria pós-crítica seja menos estruturalista. O currículo está enraizado nos processos de formação pelos quais nós nos tornamos o que somos. O currículo é uma questão de identidade e poder. E a questão do poder é justamente, o que as diferenciam e o que as tornam tão importantes. O currículo como parte integrante da escola, passa a exercer influência entre os sujeitos modificando a visão de mundo, as atitudes e decisões. Sendo assim, ele passou a ser visto como campo de estudos e pesquisas, surgindo várias teorias para explicá-lo. Ao pensar sobre um conceito para currículo, é preciso entender que ele precisará responder a questões cruciais do dia a dia. P á g i n a | 14 Então, o currículo é um referencial com propostas de conhecimento e práticas de ensino-aprendizagem, que organizam a trajetória escolar indicando os caminhos e as formas de trabalho. O currículo tem uma característica peculiar. É uma área impregnada de valores, ideologias, interesses, logo não tem neutralidade. Pelas teorias tradicionais, o currículo está relacionado a distribuição dos conteúdos nas disciplinas. Desde essa época, já é possível identificar o currículo atendendo a interesses e valores de uma elite que tinha a oportunidade e acesso ao conhecimento em detrimento a maioria do povo. O currículo sempre foi questionado e questionável. Mas é sabido que dentro da sala de aula o currículo é percebido por diferentes situações como afirma Goodlad (1979, s.p). a) um currículo formal – prescrito como desejável de forma normativa; b) um currículo operacional – que realmente ocorre e pode ser observado em sala de aula; c) um currículo percebido – queo professor diz estar desenvolvendo; d) um currículo experienciado – que é percebido pelos alunos e ao qual eles reagem. Essas percepções são genuínas e trazem a certeza de que o currículo realmente é uma questão de identidade e poder. Os primeiros estudos sobre currículo pareceram anos de 1920, nos Estados Unidos da América (EUA) e teve ATENÇÃO P á g i n a | 15 ligação com a industrialização. Segundo Silva (2007, s.p), “a ideia dessa época é que o currículo é visto como processo de racionalização de resultados educacionais, cuidadosa e rigorosamente especificados e medidos.” Conclui-se que o currículo foi pensado como um modelo institucional de racionalização, onde se mediam os resultados através de testes. 1.1 Considerações finais Mediante tudo que foi visto nessa aula, se percebe que o currículo não é neutro e que desempenha um papel político, logo, tem uma grande importância na organização da ação pedagógica. O professor precisa enxergar o currículo não apenas como grade de conteúdos, mas como um instrumento de facilitação e direcionamento onde análise, interpretação e reelaboração irá trazer subsídios para que na prática ele seja construído e reconstruído de acordo com as necessidades de mudança de rotas embasadas nas propostas estabelecidas e pensadas juntos com toda a equipe e comunidade escolar através do Projeto Político Pedagógico. A base das teorias críticas e pós –críticas, é a questão do poder, mantida por uma ideologia dominante onde pode haver espaço para a construção da autonomia. As teorias críticas têm como base as ideias de Marx e os estudos do campo da sociologia, filosofia e antropologia. Compreender essas teorias se faz necessário para se conhecer a história e desenvolver o senso crítico pautado nos interesses que vão sendo modificados a cada período de mudança. P á g i n a | 16 Em síntese: Quadro 1: Teoria de currículo. TRADICIONAL Ensino, aprendizagem, metodologia, avaliação, didática, organização, planejamento, objetivos. CRÍTICA Ideologia, reprodução cultural e sócia, poder, classe social, capitalismo, relações sociais de produção, conscientização, emancipação e libertação, currículo oculto e resistência. PÓS-CRÍTICA Identidade, alteridade, diferença, subjetividade, significação e discurso. Saber-poder, representação, cultura, gênero, raça, etnia, sexualidade, multiculturalismo. Fonte: a autora AULA 1 Exercícios 1) Segundo Silva (2007), inicialmente o currículo era visto como processo de racionalização de resultados educacionais, cuidadosa e rigorosamente especificados e medidos. Assinale a alternativa CORRETA que evidencia as principais teorias existentes sobre Currículo. (A) Tradicional, Sócio-interacionista e Construtivista. (B) Tradicional, Social dos conteúdos e Crítica. (C) Tradicional, Crítica e Pós- Crítica. (D) Tradicional, Tecnicista, Construtivista. (E) Tradicional, Crítica e Sócio- interacionista. 2) As teorias críticas atacaram as perspectivas empíricas sobre o currículo tradicional. Suas bases estão na teoria crítica dos estudos sociológicos, filosóficos e antropológicos, tendo as ideias de Marx bastante marcantes. Elas surgiram com que finalidade? ATIVIDADE A problemática curricular como campo de pesquisa e investigação Aula 2 APRESENTAÇÃO DA AULA Caro(a) aluno(a), nessa aula há a pretensão de fazer você refletir sobre o currículo por meio de competências e habilidades, dando mais sentido a aprendizagem. OBJETIVOS DA AULA Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja capaz de: ➢ Conhecer, entender e aplicar o currículo através de competências; reconhecer sua importância no processo de aprendizagem. P á g i n a | 19 2 INTRODUÇÃO Com intuito de resgatar o interesse do discente pela aprendizagem, faz-se necessário verifica-se a necessidade da adoção de metodologias significativas. Dessa forma, o currículo se apresenta como ferramenta fundamental, sendo este um referencial com propostas de conhecimento e práticas de ensino-aprendizagem, que organizam a trajetória escolar apontando os caminhos e as formas de trabalho. O currículo tem uma característica peculiar. É uma área impregnada de valores, ideologias, interesses, logo não tem neutralidade. O conceito de currículo ultrapassa a ideia de mera distribuição de disciplinas, sua funcionalidade abarca todos os elementos relativos à escola. O professor deve ter a ideia de que é necessário se desprender do currículo tradicional, que se limita apenas a conteúdos, buscando assim, uma educação participativa, incentivadora, transformadora. O currículo desenvolvido através de situações-problema é um recurso metodológico que tem como ponto de partida o desenvolvimento de habilidades e competências e, sendo assim, não fica reduzido a mera transmissão de conteúdo específicos. Dessa forma, é possível abordar os mais diversos temas fazendo relações com o cotidiano. Na área de ciências humanas, por exemplo, pode-se observar que ensinar história, geografia, ensino religioso, filosofia e sociologia de uma forma puramente técnica, onde são transmitidos conceitos, datas e significados, desenvolve no estudante apenas a habilidade de memorização e possivelmente, o seu interesse pelo aprendizado fica limitado pela pouca aplicabilidade percebida no que lhe é ensinado. Um currículo por competências não possui um único método necessariamente estabelecido, porém alguns passos são adotados nas diversas áreas do conhecimento para esse fim. P á g i n a | 20 Em um CURRICULO POR COMPETÊNCIA, A metodologia empregada sugere que os assuntos trabalhados estejam atrelados ao cotidiano do estudante, tornando-os significativos, a fim de despertar o interesse deste pela aprendizagem A apropriação progressiva de habilidades voltada ao desenvolvimento de competências vem ganhando força no meio educacional brasileiro, o que pode ser comprovado pelas provas de avaliação de larga escala como Avaliação Nacional da Alfabetização (ANA), Avaliação Nacional do Rendimento (Prova Brasil) e Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM), todas adotantes dessa metodologia. Educar por competências tem a finalidade de fazer com que o estudante aperfeiçoe habilidades por meio da resolução de diferentes situações-problema. Entretanto, deve-se ressaltar que um componente curricular não de desenvolve sozinho, devendo estar agrupado a outros componentes com o mesmo fim. Dessa maneira propõe-se o currículo por projetos interdisciplinares ou sequências didáticas. • Metodologia de Projetos Interdisciplinares – características e funcionalidades. Função: A Metodologia de Projetos Interdisciplinares tem a função de organizar os diferentes conhecimentos a partir de um diálogo pluridisciplinar (na área) e interdisciplinar (entre as áreas). Tal metodologia é caracterizada como: • Complexa; • Abrangente; • Sistêmica. ATENÇÃO P á g i n a | 21 Objetivos: • Construção de competências e habilidades a partir de uma situação- problema mais restrita, sendo a pesquisa uma ferramenta fundamental. Tem a duração de um trimestre, no mínimo. • O trabalho desenvolvido por sequências didáticas deve gerar produções individuais ou coletivas e sugere mudanças no cotidiano escolar, como: reorganização dos espaços, tempos, planejamento por áreas do conhecimento, alinhamento do planejamento de professores e avaliação das produções. (ALVES et al., 2015, p.14). - Passo a passo: • Sequência didática Abrange todo o processo de desenvolvimento da aprendizagem. Tem início a partir da escolhade um fato social relevante para o caso ou a criação de um contexto fictício relacionado. Em seguida, os diferentes componentes curriculares da área do conhecimento analisam e problematizam a lista de conteúdos referentes às habilidades abordadas pela sequência. • O método Culmina na apresentação do produto elaborado pelos estudantes, de forma individual ou coletiva. Tendo como propostas: - Que a situação-problema parta de situações reais e concretas, sendo um desafio para o estudante com o cuidado de não ultrapassar seu conhecimento prévio; - Constituir um problema aberto que permita a construção de hipóteses e conjecturas; - Propor obstáculos e barreiras que levem o estudante à construção do conhecimento; - Promover a busca de soluções, considerando o movimento de tentativa e erro por parte do estudante; - Impulsionar o debate científico, em que as estratégias e os recursos empregados sejam debatidos e levados a soluções dos problemas; - Estimular a aprendizagem através de conflitos sociocognitivos potenciais e validar a situação-problema a partir do trajeto desenvolvido pelos P á g i n a | 22 estudantes e das avaliações do processo feitas por eles. (ALVES et al., 2015, p. 21). A metodologia a partir de situações-problema, faz com que o estudante deixe de ser do mero ouvinte e passe a ser protagonista da aprendizagem. A Base Nacional Comum Curricular “considera a necessidade de o/a estudante desenvolver competência relativa à abstração, tendo em vista que ele/a deverá estabelecer ou apreender relações que são válidas em diferentes contextos”. (BRASIL, 2015, p.140). Funcionamento das competências com a mobilização e a articulação de saberes: Figura 1: Competências com a articulação e mobilização e saberes. Fonte: https://blog.abmes.org.br/educar-com-base-em-valores-como-dever-da-escola-e- da-familia/ ATENÇÃO https://blog.abmes.org.br/educar-com-base-em-valores-como-dever-da-escola-e-da-familia/ https://blog.abmes.org.br/educar-com-base-em-valores-como-dever-da-escola-e-da-familia/ P á g i n a | 23 O processo educativo é um fenômeno complexo, cabendo a todo educador seu domínio. A junção desses “saberes” deve integrar o processo de formação, sendo eles: - O saber atitudinal Compreende o domínio dos comportamentos e vivências consideradas adequadas ao trabalho educativo. Abrange atitudes e posturas inerentes ao papel atribuído ao educador, tais como disciplina, pontualidade, coerência, clareza, justiça e equidade, diálogo, respeito às pessoas dos educandos, atenção às suas dificuldades etc. Trata-se de competências que se prendem à identidade e conformam a personalidade do educador, mas que são objeto de formação tanto por processos espontâneos como deliberados e sistemáticos. - O saber crítico-contextual Constitui o saber relativo à compreensão das condições sócio históricas que determinam a tarefa educativa. Entende-se que os educandos devam ser preparados para integrar a vida da sociedade em que estão inseridos de modo a desempenhar nela determinados papéis de forma ativa e, o quanto possível, inovadora. Almeja-se que o educador saiba compreender o movimento da sociedade identificando suas características básicas e as tendências de sua transformação de modo a detectar as necessidades presentes e futuras a serem atendidas pelo processo educativo sob sua responsabilidade. A formação do educador envolverá, pois, a exigência de compreensão do contexto a partir do qual e para o qual se desenvolve o trabalho educativo. - Os saberes específicos São os saberes correspondentes às disciplinas em que se recorta o conhecimento socialmente produzido e que integram os currículos escolares. Trata- se dos conhecimentos advindos das ciências da natureza, das ciências humanas, das artes ou das técnicas. - O saber pedagógico Nesse contexto estão inseridos os conhecimentos produzidos pelas ciências da educação e sintetizados nas teorias educacionais visando a articular os fundamentos da educação com as orientações que se imprimem ao trabalho educativo. Em verdade esse tipo de saber fornece a base de construção da perspectiva especificamente educativa a partir da qual se define a identidade do educador P á g i n a | 24 como um profissional distinto dos demais profissionais, estejam eles ligados ou não ao campo educacional. - O saber didático-curricular Abarca os conhecimentos relativos às formas de organização e realização da atividade educativa no âmbito da relação educador-educando. Não se limita apenas a procedimentos técnico-metodológicos, aborda também a dinâmica do trabalho pedagógico enquanto uma estrutura articulada de agentes, conteúdos, instrumentos e procedimentos que se movimentam no espaço e tempo pedagógicos visando atingir objetivos intencionalmente formulados. 2.1 Currículo e o estudante O estudante é o sujeito principal do currículo. A abordagem metodológica deve estar baseada em seu cotidiano. O aluno deve estar apto a assumir o papel de agente transformador da realidade, fazendo questionamentos e buscando solucionar as diferentes situações que o meio social e comunitário lhe coloca. Os estudantes devem, a partir da análise da aprendizagem desenvolvida a partir de situações problema realçar a relação entre os elementos para sua resolução. 2.2 Considerações finais A principal finalidade do currículo é, sem margem de dúvida, atender as necessidades do aluno. No currículo devem estar incluídos todos os saberes que serão ensinados, não se limitando apenas a teoria, devendo incluir os aspectos humanos e sociais, como comportamentos e valores que devem ser repassados aos estudantes. O currículo engloba à seleção, sequência e dosagem de conteúdos da cultura humana acumulada a serem desenvolvidos, em situações de ensino, como também de aprendizagem. AULA 2 Exercícios 1) Sob que perspectiva são ofertadas, no Brasil, as avaliações de larga escala como: Avaliação Nacional da Alfabetização (ANA), Avaliação Nacional do Rendimento (Prova Brasil) e Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM)? 2) Qual a ferramenta fundamental na metodologia de projetos interdisciplinar? Assinale a alternativa CORRETA. (A) Avaliação (B) Pesquisa (C) Controle (D) Planejamento (E) Estratégia ATIVIDADE Diferentes formas de organização curricular Aula 3 APRESENTAÇÃO DA AULA Caro(a) aluno(a), nessa aula te convido a uma reflexão acerca das diferentes formas de organização curricular. OBJETIVOS DA AULA Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja capaz de: ➢ Conhecer a origem do currículo; ➢ Entender as diferentes formas de organização curricular. 3 INTRODUÇÃO Para melhor entender a estrutura e as formas de organização curricular, é relevante compreender a evolução do pensamento pedagógico brasileiro e a influência deste na ação docente. Para tanto, é imperativo analisarmos a história e a origem do currículo e os desdobramentos atuais. Segundo Moreira e Silva (1997, p. 28), “o currículo é um terreno de produção e de política cultural, no qual os materiais existentes funcionam como matéria prima de criação e recriação e, sobretudo, de contestação e transgressão”. O currículo escolar tem atuação direta ou indireta na formação e desenvolvimento do aluno. Portanto, é fácil entender que a ideologia, cultura e poder nele configurados são determinantes no resultado educacional que se produzirá. Estudos realizados sobre currículo a partir das décadas 1960 a 1970 destacam a existência de vários níveis de Currículo: formal, real e oculto. Esses níveis servem para distinguir quanto o aluno aprendeu ou deixou de aprender. O CurrículoFormal refere-se ao currículo estabelecido pelos sistemas de ensino, é expresso em diretrizes curriculares, objetivos e conteúdo das áreas ou disciplina de estudo. Este é o que traz prescrita institucionalmente os conjuntos de diretrizes como os Parâmetros Curriculares Nacionais. O Currículo Real- é o currículo que acontece dentro da sala de aula com professores e alunos a cada dia em decorrência de um projeto pedagógico e dos planos de ensino. O Currículo Oculto - é o termo usado para denominar as influências que afetam a aprendizagem dos alunos e o trabalho dos professores. O currículo oculto representa tudo o que os alunos aprendem diariamente em meio às várias práticas, atitudes, comportamentos, gestos, percepções, que vigoram no meio social e escolar. O currículo está oculto por que ele não aparece no planejamento do professor Para melhor entendimento do currículo no processo educacional, faz-se necessário contextualizá-lo, tendo como parâmetro o pensamento pedagógico brasileiro. • Legislações pertinentes no decorrer da história e os principais desdobramentos históricos relativos ao Currículo. • Lei 5.692/71 (Lei de Diretrizes e Bases do Ensino de 1° e 2° Graus – priorizando a profissionalização no 2° Grau) divulgada em meio à euforia do governo Médici e do “milagre brasileiro”. Através delas cumpria-se um duplo objetivo: a formação acadêmica e a formação profissional. Essa política educacional (treinar para o trabalho) não ameaçava a estrutura social vigente. Ela era interessante para a fase de desenvolvimento capitalista, que almejava por um dirigente que atendesse aos avanços tecnológicos. As concepções de conhecimento presentes no interior das políticas curriculares refletiam o caráter racionalista e compartimentalizado do conhecimento. Segundo Silva (1990), neste período, “a tendência tecnicista encontra receptividade na visão do currículo como ciência natural”, influenciada pela Teoria de Administração Científica de F. W. Taylor (1985), que, através dos estudos de Bobbit (1912), Charters e Snedden (1920), Counts (1923) desenvolveu uma proposta de modelo burocrático aplicável à teoria curricular (SILVA, NELLI 1990, p.8). Analisando que até o início da década de 80 o Brasil viveu um regime ditatorial iniciado com o Golpe Militar de 1964, e, que, só a partir de 1982 foi iniciado o processo de abertura política, podemos afirmar que o objetivo maior da sociedade civil era lutar pela democracia no país. No campo educacional os grandes seminários discutiam os principais problemas da educação brasileira que, na época atrela-se [...] ao fracasso da escola de primeiro grau no ensino das camadas mais carentes da nossa população. Em decorrência, a questão do currículo tornou-se alvo da atenção de nossas autoridades, pesquisadores e educadores. (MOREIRA, 1990, p. 162). Uma nova fase que o país começava a vivenciar provocou expressivas mudanças no campo da educação do currículo, “as influências de autores americanos diminuem e as de autores europeus aumenta”. (MOREIRA, 1990, p. 162). Porquanto, a década de 80 viveu um intenso processo de luta e resistência que corroboraram para o fortalecimento da democracia do Brasil. Denominada, a partir de 1985, a fase da Nova República tinha o propósito visível de unir forças para restaurar a institucionalização democrática do país. Nessa nova fase, o campo educacional trava luta intensa não só com o objetivo de democratizar o país, mas de devolver a liberdade de pensamento aos profissionais de educação que, além de se engajarem em associações científicas que trabalhavam em prol do fortalecimento da democracia do país, começaram a adotar perspectivas epistemológicas mais críticas em seus estudos investigativos sobre a educação, o currículo e outras questões em defesa da educação do povo. Mesmo diante de tantas reformas a educação pública no Brasil viveu um processo e crise em todos os seus níveis e graus. A partir da Constituinte se estabeleceu metas visando a melhoria da qualidade e da eficiência da educação pública, reivindicada, há muito, pela sociedade civil. Mais tarde parte destas reivindicações foram legitimadas com a promulgação da Constituição Brasileira de 1988 (CFB/88). 3.1 Constituição Brasileira de 1988 (CFB/88) A CFB/88 trouxe grandes avanços para o Campo Educacional e trouxe à sociedade civil maior entusiasmo para lutar por uma educação democrática e de qualidade para todos e todas. O objetivo maior da nova CFB/88 era a universalização da educação pública no Brasil. Assim, a educação é assumida como discurso pelos representantes da sociedade política em debates sobre: quais os caminhos a serem traçados para que a educação no Brasil se torne um direito para o povo? Apesar disso, só a partir das duas últimas décadas do século XX, mais intensamente na década de 90, que a educação pública no Brasil começou a ser novamente objeto de preocupação dos governos quando da promulgação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB 9394/96). 3.1.1 Sobre A LDB n° 9394/96 Sua implementação foi lenta e gradativa. Ao promulgada foi considerada a LDB do Governo e um dos mecanismos integradores do processo de privatização que estava se efetivando na sociedade, inclusive no âmbito da educação. Este acontecimento, provocou o redimensionamento das políticas públicas para o país e, de forma gradativa, contribuiu para a efetivação do processo de Reforma do Estado, e de redefinição das Políticas Educacionais no contexto da globalização. Mudanças relativas ao Currículo nesta fase: As percepções de currículo passam a ter como objetivo a construção de propostas curriculares centradas no desenvolvimento das competências cognitivas, motoras e comportamentais, exigências do novo estágio do capitalismo, a globalização da economia. Este novo estágio trouxe características inovadoras para o campo das políticas educacionais e curriculares. Passaram a adotar um modelo de educação, no qual o aprender a aprender passa a ser predominante. Significando que a educação, a escola e o currículo deveriam ser refletidos de forma mais aberta e flexível, não apenas como processos de reprodução do conhecimento, mas também como um importante espaço de produção do conhecimento. A implantação da LDB n° 9394/96 no Brasil, deu início a um processo de mudanças no âmbito das Políticas e das Práticas Curriculares da educação brasileira, em seus diversos níveis e graus. No que se refere à educação superior e, sobretudo ao currículo, enquanto espaço de construção do conhecimento, inúmeras questões começaram a se tornar cada vez mais polêmicas. Cenário de grandes debates em busca de uma maior equidade como forma de garantir condições mínimas para que os atores sociais pudessem gradativamente resgatar a sua cidadania. Justamente pelo caráter plural da educação, as políticas curriculares têm sido cada vez mais, alvo de reforma educativa do projeto neoliberal inferido às sociedades planetárias. Com isso, o campo das políticas educacionais tem absorvido fortes repercussões, de modo que, pensar sobre uma educação que responda aos anseios da maioria da população brasileira em tempo de globalização, é pensar uma educação não-reguladora e neutra, mas em constante processo de construção, situada no contexto no qual se insere. Os Parâmetros Curriculares Nacionais se apresentam como proposta, cabendo aos educadores o poder de adesão ou não, no entanto, são diluídos nos livros didáticos, considerados por muitos o “currículo oficial” da escola. E como forma de regulação do que é ensinado e aprendido na escola tem-se a avaliação institucional, no caso da educação básica, o Sistema de Avaliação da Educação Básica (SAEB) cumpre o papel. (MCNEIL, 2001). Com efeito, a evidência desse objetivo é bem pontuada em uma análise feitasobre a política educacional do Banco Mundial e seus fundamentos, pelo autor Coraggio (2003), 18 onde focaliza que o enfoque dirigido pelo BM às políticas educacionais tem uma matriz economicista. Segundo o mesmo autor, a análise feita pelo Banco sobre o sistema educacional público dos países em desenvolvimento, no tocante às questões que são próprias do campo da cultura e política, foi elaborada e respondida utilizando a análise da economia de mercado, baseada na economia política clássica. Segundo essa concepção, o Banco Mundial estabeleceu uma correlação entre sistema educativo e sistema de mercado. Como afirma o autor citado, essa correlação assenta o cotidiano escolar nas relações entre: “escola e empresa, entre pais e consumidores de serviços, entre relações pedagógicas e relações de insumo produto, entre aprendizagem e produto, esquecendo aspectos essenciais próprios da realidade educativa.” (CORAGGIO, 2003, p. 102). Para essa lógica adotada, a escola estaria sendo utilizada como mercado educativo; no qual transitam consumidores e fornecedores numa relação de compra e venda de serviços educacionais. A propósito, esta relação já foi denunciada por Freire (1998) quando se referiu à educação bancária. Em conformidade com este autor, esta educação insere as questões do ensino e da aprendizagem numa relação unilateral – do professor para o aluno – enquanto o conhecimento é um dado em si mesmo, para ser despejado em depósitos (cabeças humanas). O contraponto a essa educação, para o educador Paulo Freire, é uma educação pautada numa relação horizontal, construída a partir do diálogo entre educador-educando e educando - educador, e os conteúdos, os conhecimentos não possuem sentidos por si mesmos, eles fazem sentido à medida que os indivíduos se relacionam com eles, utilizando-os na resolução dos seus problemas cotidianos. Paulo Freire já nos apontava para a necessidade de uma Educação que nos ensinasse a pensar, não a obedecer. Figura 2: Por uma educação que nos ensine a pensar e não que nos ensine a só obedecer. Fonte: https://acasadevidro.com/2015/08/06/a-pedagogia-do-oprimido-de-paulo-freire- excertos/ Todas as questões antes expostas nos favorecem a compreensão de que as possibilidades a partir da análise de que as políticas educativas são elaboradas em um processo constante de negociação e interlocução, também, com as práticas desenvolvidas na e pela escola, para a re-interpretação e criação de políticas que façam sentido e significado a todos que se relacionam na produção de educação, de cultura e de novos seres humanos. As análises acerca da trajetória das políticas curriculares brasileiras no período de 1985 a 2006 evidenciaram alterações significativas, que foram iniciadas desde os fins da década de 80 quando da promulgação da Constituição Federal Brasileira (CFB) de 1988, que no seu artigo 210, § 1º e 2º, define assim a Base Comum Nacional da Organização Curricular. (ADRIÃO; OLIVEIRA, 2001). À determinação da Base Comum Nacional da Organização Curricular do Brasil seguiram-se outros desdobramentos que foram regulamentados com a https://acasadevidro.com/2015/08/06/a-pedagogia-do-oprimido-de-paulo-freire-excertos/ https://acasadevidro.com/2015/08/06/a-pedagogia-do-oprimido-de-paulo-freire-excertos/ promulgação da LDB n° 9394/9610 e que, definitivamente, oficializou as ações que já vinham sendo implantadas desde a promulgação da CFB de 1988. Assim, entende-se que a promulgação e a implantação da LDB n° 9394/96, deu uma nova organização curricular a todos os níveis e graus de ensino. Inúmeros mecanismos foram criados para adequá-los as exigências da ordem econômica mundial, ou seja, ao modelo de globalização econômica. Estes mecanismos têm a função de avaliar e regular o tipo de educação que se quer oferecer, a exemplo dos: Parâmetros Curriculares Nacionais - PCN, as Diretrizes Curriculares Nacionais, os Parâmetros em Ação, SAEB, ENADE, ENEM. Os Parâmetros Curriculares Nacionais que se constituem um desses mecanismos reguladores, inicialmente, surgiram como referenciais e ponto de partida na construção das políticas e das práticas curriculares para o trabalho docente, demonstrando na prática que não tinham nada de referenciais, mas de modelos prescritivos que, de forma imperiosa e gradativa, impunham um modelo curricular prescritivo, racionalista e centrado em estratégias, objetivos, metodologias, conteúdos e formas de avaliar. Este e outros mecanismos constitucionais e legais, segundo Moreira (1995), representaram/representam, ainda, para nós, “importantes instrumentos de controle e regulação, indispensáveis à estratégia mais ampla pela luta por hegemonia”, construindo meta-discursos que associam ineficiência e improdutividade à educação pública brasileira e, a eficiência e produtividade às escolas privadas. Atualmente as sociedades avançaram no que tange a compreensão das políticas curriculares como um mecanismo de hegemonia no contexto da globalização e, ao reanalisarem as estratégias de como redimensionar o poder presente no campo dessas políticas, apontam possibilidades que se articulam entre a regulação e a emancipação. A regulação se apresenta com uma face mais inflexível, uma vez que os diferentes mecanismos regulatórios estão presentes em todos os níveis tanto nacionais como internacionais. 3.2 Considerações finais O currículo abarca os aspectos básicos que envolvem os fundamentos filosóficos e sociopolíticos da educação até os marcos teóricos e referenciais técnicos e tecnológicos que o consolidam na sala de aula. Relaciona princípios e operacionalização, teoria e prática, planejamento e ação. Em síntese o currículo pode ser entendido como um conjunto de dados relacionados à aprendizagem escolar, organizados para guiar as atividades educativas, as formas de executá-las e suas finalidades. Normalmente, revela e busca concretizar as intenções dos sistemas educacionais e o plano cultural que eles personalizam como modelo adequado de escola defendido pela sociedade. AULA 3 Exercícios 1) Na década de 70 a educação foi colocada a serviço da classe empresarial, uma vez que, qualificando a força de trabalho, o processo educativo contribuía para o incremento da mais valia, reforçando assim as relações de exploração. A política educacional voltada para a segurança e desenvolvimento apoiou-se em quais leis e quais eram os seus objetivos? 2) A LDB, promulgada, provocou o redimensionamento das políticas públicas para o país e, de forma gradativa, contribuiu para a efetivação do processo de Reforma do Estado, e de redefinição das Políticas Educacionais no contexto da globalização. Quais foram os objetivos nessa nova concepção curricular? 3) Estudos realizados sobre currículo a partir das décadas 1960 a 1970 destacam a existência de vários níveis de Currículo, descreva-os: ATIVIDADE Políticas curriculares desenvolvidas na realidade brasileira Aula 4 APRESENTAÇÃO DA AULA Nessa aula vamos refletir sobre a importância das políticas curriculares desenvolvidas no Brasil e suas contribuições para os dias de hoje. OBJETIVOS DA AULA Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja capaz de: ➢ Conhecer e reconhecer a importância das políticas curriculares desenvolvidas no Brasil e suas contribuições para os dias de hoje. 4 INTRODUÇÃO A política curricular é constituída de propostas e práticas curriculares e como também as constitui, dessa forma, suas interrelações devem ser respeitadas. Trata-se de um processo de seleção e de produção de saberes, de visões de mundo, de habilidades, de valores, de símbolos e significados, portanto, de culturas capazde estabelecer formas de organizar o que é selecionado, tornando-o apto a ser ensinado. (LOPES, 1999). Ressalva-se que as políticas curriculares não se restringem somente a documentos escritos, elas abarcam processos de planejamento, vivenciados e reconstruídos em múltiplos espaços e por múltiplos sujeitos no corpo social da educação nas escolas também são produtoras de sentidos para as políticas curriculares. Baseando-se nas considerações de Ball (2001, s.p) a respeito das políticas para a educação secundária no Reino Unido, nos anos de 1990, entende-se que as políticas curriculares são processos de negociação complexos, nos quais "momentos" como a produção dos dispositivos legais, a produção dos documentos curriculares e o trabalho dos professores devem ser entendidos como associados. Os textos produzidos nesses "momentos", sejam eles registrados na forma escrita ou não, não são fechados nem têm sentidos fixos e claros. O autor defende a existência de três contextos políticos primários situados em um ciclo contínuo de políticas e podem ser definidos como: 1) Contexto de influência - onde geralmente as definições políticas são iniciadas e os discursos políticos são construídos; onde acontecem as disputas entre quem influencia a definição das finalidades sociais da educação e do que significa ser educado. Atuam nesse contexto as redes sociais dentro e em torno dos partidos políticos, do governo, do processo legislativo, das agências multilaterais, dos governos de outros países cujas políticas são referência para o país em questão; 2) Contexto de produção dos textos das definições políticas, o poder central propriamente dito, que mantém uma associação estreita com o primeiro contexto; 3) Contexto da prática, onde as definições curriculares são recriadas e reinterpretadas. Os efeitos das políticas curriculares no contexto da prática são, igualmente, condicionados por questões institucionais e disciplinares. (BALL; BOWE, 1992). As instituições e seus grupos disciplinares têm diferentes histórias, concepções pedagógicas e formas de organização, que produzem diferentes experiências e habilidades em responder, favoravelmente ou não, às mudanças curriculares, reinterpretando-as. Quando políticas curriculares são entendidas como políticas culturais, ou seja, políticas que visam orientar determinados desenvolvimentos simbólicos, obter consenso para uma dada ordem e/ou para uma transformação social esperada é possível associar o conceito de hibridismo aos processos de recontextualização dessas políticas. No mundo globalizado, os processos de recontextualização são, acima de tudo, produtores de discursos híbridos. No passado, as trocas culturais por intermédio dos movimentos das pessoas e dos textos já existiam, gerando igualmente recontextualizações, inclusive nas políticas curriculares. Atualmente há distinções nesses processos. Os deslocamentos de territórios são acentuados e a aceleração das trocas é ampliada, complexificando os processos de recontextualização, tornando-os mais explícitos. O processo de recontextualização por hibridismo não significa, contudo, a possibilidade de que qualquer sentido possa ser atribuído aos textos das políticas curriculares. Segundo Ball (2001), um texto pode ser mais ou menos aberto a diversas possibilidades de interpretação. Textos trazem em si possibilidades e constrangimentos, contradições e espaços; contudo, a maior ou menor possibilidade de ressignificação de um texto em direção não prevista inicialmente depende das condições históricas do contexto de leitura. Entretanto não é sempre que há condições históricas para que se construa uma autonomia em relação aos textos do poder central para que seja possível realizar leituras em perspectivas diversas daquelas que os textos procuram direcionar. No que tange as concepções a serem desconstruídas ou construídas em novas bases, realça-se três, intensamente inter-relacionadas: a relação entre as definições políticas e a prática, os processos de avaliação e o currículo nacional. - Relações com a prática: É imperativo superar a concepção prescritiva das políticas curriculares, que tenta limitar a produção de sentidos dos saberes docentes gestados na prática cotidiana das salas de aula. É com esses currículos existentes, efetivamente praticados nas escolas, fruto da reinterpretação de orientações do contexto de influência e do contexto de produção das políticas, que as definições oficiais dialogam. Tal diálogo deve se direcionar a produção de múltiplos sentidos para as políticas curriculares, e não simplesmente limitar ou constranger as possibilidades de reinterpretação pelo contexto da prática. 4.1 Parâmetros Curriculares Nacionais Os Parâmetros Curriculares Nacionais, conhecidos também como PCN, é uma coleção de documentos que compõem a grade curricular de uma instituição educativa. Sua finalidade é servir de parâmetro para o trabalho docente, orientando as atividades realizadas na sala de aula. Vale realçar que cabe a cada instituição montar o seu Projeto Político Pedagógico, sua proposta pedagógica, adaptando esses conteúdos à realidade social da localidade onde está inserida. O PCN estabelece como objetivos do ensino escolar: Compreender a cidadania como Participação social e política, assim como exercício de direitos e deveres políticos, civis e sociais, adotando, no dia-a-dia, atitudes de solidariedade, cooperação e repúdio às injustiças, respeitando o outro e exigindo para si o mesmo respeito [...] desenvolver o conhecimento ajustado de si mesmo e o sentimento de confiança em suas capacidades afetiva, física, cognitiva, ética, estética, de inter-relação pessoal e de inserção social, para agir com perseverança na busca de conhecimento e no exercício da cidadania. (BRASIL, 1997, p. 69). Os parâmetros curriculares nacionais definem que os currículos e conteúdos não podem ser trabalhados somente como transmissão de conhecimentos, sendo assim, as práticas docentes devem encaminhar os alunos rumo à aprendizagem. Cabe a escola promover momentos de reflexão docente por meio de reuniões com todos os integrantes: direção, coordenação, orientação, psicopedagoga, psicóloga, professores, dentre outros profissionais, ligados à rotina da instituição e de sala de aula. Os PCN estão divididos buscando facilitar o trabalho da instituição, especialmente na elaboração do seu Projeto Político Pedagógico. São ao todo seis volumes que apresentam as áreas do conhecimento, sendo elas: língua portuguesa, matemática, ciências naturais, história, geografia, arte e educação física. Outros volumes contêm elementos que compõem os temas transversais. O primeiro vem explicando e justificando o motivo de se trabalhar com temas transversais, além de trazer uma abordagem sobre ética. No segundo volume diz respeito a pluralidade cultural e orientação sexual; e o terceiro volume disserta a respeito do meio ambiente e saúde. 4.2 Considerações finais Os PCNs assumiram um papel simbólico na reforma do governo passado, sendo os definidores de seus princípios gerais, junto às diretrizes curriculares. Atualmente, conceber os parâmetros como apenas uma proposta curricular dentre outras, retirar desses textos a marca de referência padrão, é primordial para a construção de novos sentidos para as políticas curriculares. Tal ação permitirá que outras propostas curriculares com princípios diversos, nos estados e municípios, e mesmo nas escolas, tenham maior espaço para produzir novos sentidos para as políticas curriculares, valorizando o currículo como espaço da pluralidade de saberes, de valores e de racionalidades. AULA 4 Exercícios 1) Ball (1992) defende a existência de três contextos políticos primários, cada um deles com diversas arenas deação, públicas e privadas. Esses contextos situam- se em um ciclo contínuo de políticas e podem ser genericamente definidos como? ATIVIDADE Relação entre produção curricular, saberes profissionais e formação profissional Aula 5 APRESENTAÇÃO DA AULA Nessa aula pretendemos discutir e entender como acontece o processo de formação do professor e os saberes necessários para que esse aconteça. OBJETIVOS DA AULA Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja capaz de: ➢ Entender como se dá a formação do professor; ➢ Conhecer as etapas da formação profissional. 5 INTRODUÇÃO Entender como acontece o processo de formação do professor sempre foi um desafio. Os saberes construídos por esse agente consolidam o fazer pedagógico de uma escola. Foi na década de 90 que as primeiras pesquisas sobre os saberes docentes iniciaram, influenciadas pelos estudos internacionais desenvolvidos desde o início da década de oitenta. Essa influência torna-se evidente, principalmente se tomarmos como base a forte tendência das pesquisas brasileiras em defenderem a centralidade da figura do professor e a importância de que se procure compreender a prática pedagógica a partir de toda complexidade que a envolve, tanto no que diz respeito à própria atividade de ensinar quanto ao fato de que os agentes dessa atividade são pessoas, com histórias, memórias, trajetórias, expectativas e experiências singulares. (NUNES, 2001; NUNES, 1999). Na obra intitulada Saberes Docentes e Formação Profissional Maurice Tardif discorre a respeito dos saberes docentes e a sua relação com a formação profissional dos professores e ainda com o próprio exercício da docência. Destaca, a partir de pesquisas realizadas com o propósito de compreender o que pensam os professores sobre os seus saberes, que o saber docente é um “saber plural, formado de diversos saberes provenientes das instituições de formação, da formação profissional, dos currículos e da prática cotidiana.” (NUNES, 1999, p. 54). Tardif (2004, s.p) destaca a existência de quatro tipos diferentes de saberes implicados na atividade docente: • os saberes da formação profissional (das ciências da educação e da ideologia pedagógica); • os saberes disciplinares; • os saberes curriculares; • os saberes experienciais. O quadro a seguir demonstra o que autor entende que seja cada um dos saberes citados: Quadro 2: Classificação dos saberes docentes. Fonte: TARDIF (2004, p. 63) Mesmo reconhecendo e desenvolvendo sua argumentação no sentido de afirmar que há diversos saberes relacionados ao fazer dos professores, Tardif chama a atenção para a posição de destaque ocupada pelos saberes experienciais em relação aos demais saberes dos professores. Essa posição de destaque se justifica principalmente pela relação de exterioridade que os professores mantêm com os demais saberes, pois não controlam sua produção e sua circulação. A relação de exterioridade mantida pelos professores em relação aos saberes curriculares, disciplinares e da formação pedagógica faz com que valorizem ainda mais os seus saberes experienciais visto que é sobre eles que os professores mantêm o controle, tanto no que diz respeito a sua produção quanto a sua legitimação. No exercício cotidiano de sua função os professores vivem situações concretas a partir das quais se faz necessário habilidade, capacidade de interpretação e improvisação, assim como segurança para decidir qual a melhor estratégia diante do evento apresentado. Cada situação não é exatamente igual à outra, mas guardam entre si certas proximidades que permitem ao professor, então, transformar algumas das suas estratégias de sucesso em alternativas prévias para a solução de episódios semelhantes, no sentido de desenvolver um habitus específico a sua profissão O saber profissional dos professores, segundo Tardif, é um amálgama de diferentes saberes, provenientes de fontes diversas, que são construídos, relacionados e mobilizados pelos professores de acordo com as exigências de sua atividade profissional. Segundo o autor, todos esses critérios em conjunto e problematizar principalmente as relações existentes entre eles para, somente dessa forma, produzir um modelo válido de compreensão e análise para os saberes dos professores. No sentido, de propor esse modelo de análise, o autor expõe o seguinte quadro: Quadro 3: Proposta de classificação dos saberes docentes considerando as especificidades de sua origem, aquisição e incorporação à prática profissional dos professores. Fonte: TARDIF (2004, p. 63) Nesse quadro observa-se que foram contemplados todos saberes julgados serem usados pelos professores em sua atividade profissional, estes interferem diretamente na configuração Observa-se que o autor procurou contemplar todos aqueles saberes que julga serem efetivamente utilizados pelos professores na sua atividade profissional e que, por sua vez, interferem diretamente no jeito das suas formas de fazer. Analisa-se referência aos saberes que seriam caracterizados por contribuírem na formulação das concepções dos docentes a respeito de sua atividade profissional, como: os saberes da formação profissional, os saberes da experiência e os seus saberes pessoais; e ainda referência aos saberes que poderiam ser caracterizados como instrumentais (meios concretos de realização), como por exemplo, os saberes referentes ao manuseio de ferramentas concretas de trabalho (livros, apostilas, fichas, programas de computador etc.). (RIOS, 2010). É primordial que o docente conheça os diferentes tipos de saberes. Cabe aos docentes analisar outras circunstâncias que fazem parte do seu dia a dia na sala de aula, como: • Conhecimento da disciplina de formação, • Relação do aluno diante do saber, • Relação professor aluno e a aprendizagem reflexiva Nesse sentido, analisa-se que as fontes obtenção de saberes dos docentes estão atrelados com suas experiencias e a conhecimentos adquiridos em sua vida pessoal como também em todo seu percurso escolar. Sendo, no entanto, determinantes também na construção de sua identidade profissional, justificando, assim, a característica temporal dos saberes dos professores. Cabe ainda ressaltar que a maneira de integração dos saberes à prática profissional dos docentes, grande parte das vezes, acontece por processos de socialização, tanto pelas experiências de socialização pré-profissional, quanto pela socialização profissional. As relações que estabelecidas ao longo de sua vida do professor, na sua família, na escola e em outros espaços de convivência social, como também a interação estabelecida com alunos e colegas, interferem nas decisões a respeito de suas ações. Os saberes profissionais, para Tardif, têm, portanto, origens diversas e só podem ser compreendidos se considerados em todos os seus aspectos. (TARDIF ,2004). Sobre o tema Gauthier (2006) tem o mesmo entendimento de Tardif, quando esclarece que é muito mais pertinente conceber o ensino como a mobilização de vários saberes que formam uma espécie de reservatório no qual o professor se abastece para responder a exigências específicas de sua situação concreta de ensino (p. 28). O autor destaca que, de acordo com o senso comum, para ensinar basta conhecer o conteúdo, ter talento, bom senso, seguir a intuição, ter experiência e cultura. Como essas premissas poderiam ser aplicadas a qualquer outra profissão e nenhuma delas consegue abranger a complexidade que envolve a ação de um professor, à docência seria, a partir dessa perspectiva, um “ofício sem saberes.” (p. 25). Gauthier et al. (2006, p. 27) afirma que: Assim como as ideias preconcebidas de um ofício sem saberes, denunciadas anteriormente,bloqueavam a constituição de um saber pedagógico, do mesmo modo essa versão universitária científica e reducionista dos saberes negava a complexidade do real do ensino e impedia o surgimento de um saber profissional. É como se, fugindo de um mal para cair num outro, tivéssemos passado de um ofício sem saberes a saberes sem um ofício capaz de colocá-los em prática, saberes esses que podem ser pertinentes em si mesmos, mas que nunca são reexaminados à luz do contexto real e complexo de sala de aula. De um “ofício sem saberes” ou “saberes sem ofício” em direção a um “ofício feito de saberes”, essa é a posição de Gauthier et al. (2006, s.p) quando destacam a característica plural do saber docente. Porquanto, autor apresenta uma classificação para os saberes docentes em semelhante àquela apontada por Tardif (2004), acrescentando entretanto, elementos importantes para a defesa de sua tese central, referente à existência de um saber efetivamente específico à classe profissional dos professores, que é o saber da ação pedagógica, resultado da relação de complementação estabelecida entre os demais saberes do professor, que o direcionam a decidir por esta ou aquela ação em cada caso específico de sala de aula. Os saberes que fazem parte do reservatório de saberes dos professores: Quadro 4: O reservatório de saberes. Fonte: GAUTHIER et al., (2006, p. 29) Os saberes disciplinares - são aqueles saberes produzidos pelos pesquisadores e cientistas envolvidos com atividades de pesquisa nas diferentes áreas de conhecimento. Os professores têm como uma das suas funções principais extrair desses saberes aquilo que é importante ser ensinado. O que diferencia o professor de qualquer outro leigo que entende e se interessa pelo assunto objeto do seu ensino é o fato de conhecer profundamente a matéria a ser ensinada, sua estrutura, sua construção histórica bem como os métodos, técnicas, analogias ou metáforas que melhor se aplicam ao seu ensino. Os saberes curriculares - são os conhecimentos a respeito dos programas escolares. Em relação aos programas escolares. Apesar dos professores não exercerem influência sobre a criação dos programas escolares, o conhecimento a respeito deles também faz parte dos seus saberes. Os programas são implementados, posteriormente, por meio de diretrizes oficiais e, ainda, pelos livros e materiais didáticos produzidos tendo como base essas diretrizes. Reside nesse aspecto a necessidade dos professores terem um conhecimento mínimo a respeito dos programas de ensino. Os saberes das Ciências da Educação – constituem o conjunto de saberes produzidos a respeito da escola, sua organização, seu funcionamento e, ainda, a respeito da própria profissão docente. Esses saberes são adquiridos pelos professores ao longo de sua formação profissional e são, também, os que os diferenciam de qualquer outra pessoa que saiba apenas o que é uma escola. O professor deve conhecer profundamente a instituição escolar. Os saberes da tradição pedagógica- são os saberes que cada professor possui a respeito da escola, do professor, dos alunos, dos processos de aprender e ensinar, etc. Essas representações foram construídas, segundo argumentação dos autores, em etapas anteriores ao ingresso na carreira, ou seja, antes mesmo de o professor decidir ser professor e ingressar num curso de formação inicial. Os saberes experienciais - correspondem aos conhecimentos construídos pelos professores em um processo individual de aprendizagem da profissão. A forma como Gauthier et al., (2006) se refere ao saber experiencial dos professores é bem específica, no sentido de trazer novos elementos para a reflexão a respeito da importância da experiência prática na constituição dos professores. Os saberes da ação pedagógica - seriam assim, os saberes experienciais dos professores a partir do momento em que se tornam públicos e são validados por meio de pesquisas realizadas tendo como cenário empírico a sala de aula que possibilita a construção de uma teoria da pedagogia. Os saberes da ação pedagógica, bases de uma pretensa Teoria de Pedagogia, portanto, seriam o resultado da relação de complementação estabelecida entre os saberes disciplinares (sobre a matéria a ser ensinada), os saberes curriculares (sobre o programa de ensino), os saberes das ciências da educação (resultado do processo de formação inicial dos professores), os saberes da tradição pedagógica (elementos do ser professor provenientes de uma representação específica de escola e de atividade docente, relacionada com sua vivência de aluno) e os saberes experienciais (resultado das experiências do cotidiano e da interpretação subjetiva de sua validade). Seria esse saber, de acordo com os autores, que direcionaria o professor a decidir por esta ou aquela ação em cada caso específico de sala de aula. A grande questão em relação aos saberes da ação pedagógica é que são saberes que têm origem na relação entre todos os saberes que o professor utiliza na atividade de ensinar e que ficam guardados, escondidos, condenados a serem uma espécie de segredo dividido só entre aqueles que compartilham da mesma atividade. O processo que resulta no escamoteamento dos conhecimentos que os professores produzem a partir de sua ação é facilitado, também, pela própria organização da escola. 5.1 Considerações finais Formação de professores é um termo amplo, que podendo se referir tanto à formação básica quanto à formação complementar ou continuada. A formação básica de professores é um processo obrigatório para que esse profissional esteja habilitado a dar aulas. O professor deve desenvolver habilidades cognitivas, sociais e emocionais para que considere e programe respostas criativas às demandas do dia a dia. Cabe a escola estimular a formação continuada desses profissionais. Sugere- se que seja feito um levantamento daquilo que precisa ser melhorado, seguido de uma análise de prioridades. A propositura de palestras, seminários, debates, congressos e cursos são opções pertinentes que a escola pode promover para aperfeiçoar as habilidades dos educadores. AULA 5 Exercícios 1) Diante de tudo que estudamos construa um paralelo sobre os saberes docentes evidenciados nas concepções de Tardif e Clermont (2011). Use os quadros como apoio. 2) Discorra a respeito do papel da escola no que diz respeito ao estímulo na formação de professores. ATIVIDADE Implicações entre didática e currículo Aula 6 APRESENTAÇÃO DA AULA Caro(a) aluno(a), nessa aula apresento os conceitos sobre Didática e currículo, bem como suas interferências e influências na prática pedagógica. OBJETIVOS DA AULA Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja capaz de: ➢ Conhecer a origem e conceito de didática e currículo; ➢ Entender a diferença entre os conceitos e como eles interferem na prática pedagógica. 6 INTRODUÇÃO Nos dias atuais faz-se necessário destacar a importância que há na reflexão entre currículo e didática, uma vez que não há como dissociar ambas principalmente quando se refere às práticas pedagógicas em meio à era da contemporaneidade. É necessário compreender que a aula é objeto de estudo da didática e que a aula não começa na sala, mas no momento que se reflete sobre o seu planejamento e organização. Em virtude do fato de a didática ser exatamente o campo de estudos dedicado a refletir sobre os “melhores” modos de aprender-ensinar e de como fazê- lo, o currículo seria o campo de estudos que se dedica a pensar o que ensinar, selecionar e organizar conteúdos de ensino. Sendo assim, a associação automática entre as escolhas sobre o que ensinar e o como fazê-lo criam uma zona deconforto para pensar e falar sobre as relações entre um e outro campo. O campo da didática já há muito tempo não pode ser identificado apenas com a busca de bons métodos do ensino. Assumiu um perfil mais crítico, voltado para a compreensão ampliada e aprofundada das escolhas e dos seus significados políticos, sociais e epistemológicos, saindo do campo da mera técnica de ensino. Por sua vez, o campo do Currículo, a partir do diálogo com as teorias sociais críticas dos anos 1970 e 1980 e da emergência do pensamento pós-crítico dos anos 1990 e seus desdobramentos no século XXI vem produzindo inúmeras abordagens que extrapolam em muito as questões clássicas colocadas pelas teorias tradicionais ou mesmo por outras perspectivas que associam de modo imediato currículo com ação pedagógica. Nos dias de hoje, o campo se caracteriza mais pelas novas epistemologias e discursos teóricos do que por qualquer vínculo imediatista com o fazer pedagógico concreto. 6.1 Prática pedagógica A respeito da prática pedagógica que se realiza na sala de aula, vale dizer que não existe de forma autônoma e independente; porquanto elas se encontram entrelaçadas entre si e com outras práticas. Para melhor compreensão, faz-se necessário situá-las no currículo escolar, e, para tal, é preciso analisar o currículo escolar como um processo que se constitui dentro e fora da sala de aula, como também dentro e fora do sistema de ensino. Importa explanar, entretanto, que o currículo escolar é produto da interação permanente de diversas esferas de influência, como: sociais, políticas, econômicas, históricas, sociológicas, administrativas, tecnológicas, entre outras, agindo cada uma de sua forma, com maior e/ou menor interferência na construção do currículo pretendido. O docente lida constantemente com novas e imprevistas circunstâncias que exigem dele múltiplos conhecimentos, incluindo-se o bom senso. Na sala de aula, a docente lida, diariamente com situações imprevisíveis. Na prática, os docentes utilizam esquemas simplificadores da ação, as tarefas, que buscam estruturar a prática docente. Essas tarefas, como esquemas simplificadores, são elementos reguladores, filtram as inovações e/ou são elas próprias inovadoras, ao se apresentarem como formas inovadoras de trabalhar certos conhecimentos. Os saberes escolares (propostos pelo currículo escolar) e formas de trabalhar os mesmos (tarefas/atividades), em sua maioria, determinam as aprendizagens na prática. As tarefas propostas pelo docente, de acordo com sua natureza, proporcionam ao aluno a memorização, a compreensão, a criação de rotinas ou procedimentos, a formação de opinião e a descoberta de conhecimentos escolares. Por que as tarefas são ferramentas importantes? As tarefas proporcionam ao aluno benefícios indispensáveis para seu melhor desempenho como: • Criação de rotinas; • Memorização; • Confiabilidade de aprendizado sobre o conteúdo; • Formação crítica • A Didática A Didática é considerada como sinônimo de métodos e técnicas de ensino e a escola como uma instituição que “repassa” o conhecimento. PARA REFLEXÃO No Brasil, a Didática, como uma disciplina de caráter instrumental, preocupada apenas em como fazer, foi questionada no meio educacional, nas últimas quatro décadas, inclusive por alguns educadores que defendiam até sua extinção como disciplina no curso de pedagogia e nos cursos de licenciatura e sua “inutilidade” ao defenderem a ideia de que “ninguém educa ninguém”. Na verdade, muitas interpretações equivocadas foram decorrentes, talvez, do viés de interpretação da ideia defendida por Paulo Freire de que “ninguém educa ninguém, como tampouco ninguém se educa a si mesmo: os homens se educam em comunhão, mediatizados pelo mundo" (FREIRE, 1978, p. 79), algo bem diferente ao atentarmos para a complementação da frase que para muitos, parava no meio do caminho. Na superação da fase de contestação da Didática, que alguns estudiosos da área como Martins e Candau se referem “à busca de sua identidade”, a Didática passa a assumir o status de uma área de conhecimento, apresentando como objeto de estudo próprio, o processo de ensino e suas relações. O que é possível perceber no avanço da discussão sobre a concepção e o objeto da Didática é que, dependendo das circunstâncias e dos momentos históricos, pode ser considerada a ciência do ensino; a arte do ensino; uma teoria da instrução; uma teoria da formação ou mesmo uma tecnologia para dar Didática e Prática de Ensino: diálogos sobre a Escola, a Formação de Professores e a Sociedade suporte metodológico às disciplinas curriculares. De alguma forma, esteve sempre ligada às questões postas pelos processos de ensino. (FUSARI; FRANCO, 2010, p. 7). Ainda na atualidade, a Didática se encontra “em questão”. Muitas discussões ocorrem em relação ao seu campo conceitual, à ressignificação do papel do ensino, da aprendizagem, da escola e dos professores para o enfrentamento das demandas contemporâneas. Refletir acerca das confluências e divergências do campo de estudo de cada uma das áreas, como também a respeito das subjetividades da experiência pessoal e cultural que envolve o Currículo e a Didática e estabelecer as relações entre os campos do currículo e da didática necessário se faz considerar o contexto histórico. Para isso, é importante começar lembrando que a partir das últimas duas décadas do século e milênio passados, temos vivido um rápido e espetacular avanço tecnológico na história. (VEIGA; QUIXADÁ VIANA, 2010). Se, por um lado, a evolução da ciência trouxe benefícios incontestáveis à humanidade, por outro lado, é possível constatar “o uso pernicioso que o homem faz da sua capacidade criadora, provocando danos irreparáveis à humanidade, à sociedade, a si mesmo e ao planeta.” (VEIGA; QUIXADÁ VIANA, 2010, p.14). Mas, não foi apenas o avanço tecnológico o responsável pelas profundas transformações que veem acontecendo desde então em escala mundial. O impacto da crise de acumulação do capital que tem início nos anos de 1970, identificada por Mészáros (1995, s.p) como “crise de acumulação do capital”, passou a exigir novas formas de reorganização das sociedades em escala mundial. O Brasil, como país devedor, passou a direcionar suas reformas em função de tais exigências. Nesse contexto, houve o crescimento acelerado do que ficou conhecido como terceiro setor, ou terceira via, e da iniciativa privada na educação, amparado por uma reforma educacional que contemplou uma concepção de gestão, de escola e de currículo afinadas com a política do Estado mínimo, com o objetivo de formar um novo “tipo de trabalhador”. Tal demanda aponta para uma formação aligeirada, retomando com mais vigor o tratamento do conhecimento do modo técnico instrumental de um fazer acrítico e alienado. Nesse sentido, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDB n. 9394/96, ainda em vigor, promoveu várias mudanças no sistema educacional afinadas com a agenda neoliberal, no sentido de o professor ser preparado para atender às novas demandas do mercado, pautadas em uma nova Didática e Prática de Ensino: diálogos sobre a Escola, a Formação de Professores e a Sociedade concepção de currículo, de avaliação e de gestão para formar com competência o aluno para o mundo do trabalho. No Brasil, o campo do Currículo voltava- se predominantemente para as questões relacionadas à seleção e a organização do conhecimento escolar, enquanto o campo da Didática priorizava o ensino como seu objeto de estudo. Em relação às divergências entre Didática e Currículo Libâneo (2002, s.p) destaca: • Descrença dos teóricos críticos do Currículo quanto à importância dos conteúdos escolares. Com o foco na análise das relações entre conhecimento e poder, o saber escolar e a ideologia, o currículo oculto,
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